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Do fumo ao fluxo turístico - construções rurais como signo da oferta turística no Sul do Brasil

From tobacco to tourist flow - rural buildings as a sign of the tourist offer in the South of Brazil

Del tabaco al fujo turístico - edificios rurales como señal de la oferta turística en el Sur de Brasil

Resumo:

O meio rural está passando por grandes mudanças, uma delas seria o abandono da fumicultura como parte do processo sócio-histórico-econômico de regiões catarinenses. Áreas menores ou periféricas foram tragadas pela modernidade e urbanização, contribuindo, neste processo, com seus melhores ativos: terras, recursos naturais e humanos. A fumicultura vem diminuindo, com a busca pela qualidade de vida moderna, o que gerou modificação no mercado e o encerramento de fábricas de cigarros. Em Santa Catarina, muitos resquícios dessa história vêm sendo reconvertidos para uso turístico, caso das estufas utilizadas para a secagem das folhas do tabaco, edificadas em tjolos maciços e com uma arquitetura peculiar. Esse patrimônio industrial remanescente é o foco da pesquisa, que, a partir do mapeamento e das incursões em campo, com entrevistas diretas, identificou exemplares revitalizados para o uso turístico, dando nova vida e novo fluxo aos espaços onde outrora a planta era cultivada. A pesquisa exploratória, de caráter qualitativo, baseou-se em análise bibliográfica, pesquisa de campo e emprego de entrevistas, e tais métodos se revelaram aptos à validação do seguinte pressuposto: externalidades territoriais, como as estufas de fumo, representam novas possibilidades para um espaço rural redescoberto, como se ressurgissem das cinzas. As respostas foram analisadas a partir da análise de conteúdo, gerando categorias que apresentaram novas possibilidades para o uso de edificações que estão sendo - ou possam vir a ser - revitalizadas para finalidades turísticas, contando a história dos tempos áureos da fumicultura catarinense.

Palavras-chave:
meio rural; turismo; patrimônio agrícola; estufas de fumo

Abstract:

The rural environment is undergoing major changes, one of which would be the abandonment of tobacco farming as part of the socio-historical-economic process of Santa Catarina regions. Smaller or peripheral areas were swallowed by modernity and urbanization, contributing in this process with their best assets: land, natural and human resources. Tobacco farming has been decreasing, with the search for modern quality of life, which has generated changes in the market and the closure of cigarette factories. In Santa Catarina, many remnants of this history have been reconverted for tourist use, such as the barns used for drying tobacco leaves, built in solid bricks and with a peculiar architecture. This remaining industrial heritage is the focus of the research, which, based on mapping and field incursions, with direct interviews, identified revitalized specimens for tourist use, giving new life and a new flow to the spaces where the plant was once cultivated. The exploratory research, of a qualitative nature, was based on bibliographic analysis, field research and the use of interviews, and such methods proved to be able to validate the following assumption: territorial externalities, such as tobacco drying barns, represent new possibilites for a rural space rediscovered, as if rising from the ashes. The answers were analyzed based on content analysis, generating categories that presented new possibilites for the use of buildings that are being – or may be – revitalized for tourist purposes, telling the story of the heyday of tobacco farming in Santa Catarina.

Keywords:
rural environment; tourism; agricultural heritage; tobacco drying barns

Resumen:

El medio rural está pasando por grandes cambios, uno de los cuales sería el abandono del cultivo del tabaco como parte del proceso socio-histórico-económico de las regiones catarinenses. Las áreas más pequeñas o periféricas fueron engullidas por la modernidad y la urbanización, aportando en este proceso sus mejores activos: terras, recursos naturales y humanos. El cultivo del tabaco ha ido disminuyendo, con la búsqueda de una calidad de vida moderna, lo que ha generado cambios en el mercado y el cierre de fábricas de cigarrillos. En Santa Catarina, muchos vestigios de esta historia han sido reconvertidos para uso turístico, como los hornos utilizados para el secado de hojas de tabaco, construidos en ladrillos macizos y con una arquitectura peculiar. Este patrimonio industrial remanente es el foco de la investigación, que, a partir de mapeos e incursiones de campo, con entrevistas directas, identificó ejemplares revitalizados para uso turístico, dando nueva vida y nuevo fujo a los espacios donde una vez se cultivó la planta. La investigación exploratoria, de carácter cualitativo, se basó en el análisis bibliográfico, la investigación de campo y el uso de entrevistas, métodos que demostraron poder validar el siguiente supuesto: las externalidades territoriales, como los secaderos de tabaco, representan nuevas posibilidades para un espacio rural redescubierto, como si resurgiera de las cenizas. Las respuestas fueron analizadas a partir del análisis de contenido, generando categorías que presentaron nuevas posibilidades para el uso de edificios que están siendo – o pueden ser – revitalizados para fines turísticos, contando la historia del apogeo del cultivo del tabaco en Santa Catarina.

Palabras clave:
medio rural; turismo; patrimonio agrícola; secaderos de tabaco

1 INTRODUÇÃO

Investigar sobre o patrimônio cultural material de Santa Catarina e suas relações com o turismo cultural é uma tarefa que há tempos vem sendo desenvolvida por este grupo de pesquisa. Averiguações realizadas que envolveram as cidades de Laguna, Itajaí, São Francisco do Sul, no Brasil, e Lisboa, em Portugal, atçaram o desejo de estudar outras áreas relativas ao patrimônio material edificado, como as estufas que foram revitalizadas para uso turístico em Santa Catarina.

As estufas para secagem do fumo contam a história da economia do Brasil no período colonial, tanto que a sua planta e o café compunham o brasão nacional do período colonial (KENICKE, 2018KENICKE, Giordann Palla. Aspectos geográficos da organização dos sistemas de produção: a experiência dos fumicultores do alto vale do rio tjucas. 2018. 54 f. Trabalho de conclusão de Curso (Bacharel em Geografia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufisc.br/handle/123456789/184951. Acesso em: 3 fev. 2020.
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).

Foi na segunda metade do século XIX, estimulada pela Lei Áurea, que a produção do fumo se concentrou prevalentemente nos três estados do sul do país. O estado de Santa Catarina, na década de 1960, era um grande produtor de tabaco, por este fato tem muitas construções destinadas à secagem das folhas desta planta, as estufas de fumo. A fumicultura continua sendo uma das atividades mais importantes para muitas famílias de agricultores, e as estufas são presença marcante na paisagem rural, embora muitas propriedades tenham sido abandonadas devido ao redirecionamento das vocações agrícolas para outras formas de cultivo, fato que resultou no abandono de um importante número destas edificações (DIONÍSIO, 2016DIONÍSIO, Ana Carolina. Memórias de trabalho, veneno e fumaça. Uma análise histórica sobre os impactos socioambientais da produção integrada de tabaco no Alto Vale do Rio Tijucas (SC, 1970–2000). 2016. 256f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufisc.br/xmlui/handle/123456789/168111. Acesso em: 6 fev. 2020.
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).

A economia do fumo do Planalto Norte Catarinense, principalmente Mafra e Itaiópolis, impactou o desenvolvimento histórico, social e, principalmente, econômico desta região (PIETROVSKI; MILANI, 2017PIETROVSKI, Carla.; MILANI, Maria Luiza. A inserção da fumicultura no processo sócio-histórico-econômico de Itaiópolis: interferência cultural e impacto social. Geographia Opportuno Tempore, Londrina, v. 3, n. 2, p. 84–95, 2017.). No período da segunda guerra, os agricultores da região do Alto Vale do Rio Tijucas concentraram sua produção em outros cultivos, fazendo com que o fumo desaparecesse das estatísticas oficiais durante a década de 1950, sendo reintroduzido nas décadas seguintes, graças à técnica de secagem em estufas abastecidas à lenha, insumo abundante nas ricas forestas do referido vale (SANTOS, 1993SANTOS, Nelvio Paulo Dutra. Trentinos em Santa Catarina. A evolução econômica de Nova Trento 1875-1960. 1993. 232 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1993. Disponível em: https://repositorio.ufisc.br/handle/123456789/112117. Acesso em: 22 fev. 2020
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).

A arquitetura do meio rural, representada por construções simples, são tão relevantes quanto a dos grandes casarões, pois testemunham a história da sociedade de tempos passados, registram a memória e a identidade daquele povo, caracterizam-se como signos de pertencimento (SCUDELLA, 2017SCUDELLA, Giannantonio. Architettura rurale e paesaggio: profili giuridici in Italia e nella Regione Veneto. 2017. 88 f. Dissertação (Mestrado em Scienze Forestali e Ambientali) – Università degli Studi di Padova, Padova, 2017. Disponível em: http://tesi.cab.unipd.it/62030/1/Scudella%2C_giannantonio.pdf. Acesso em: 29 set. 2022.
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; BRANDUINI, 2011BRANDUINI, Paola. Il ruolo dell’architetura rurale nella valorizzazione del paesaggio (agricolo periurbano). Istituto di Ingegneria Agraria, Università degli studi di Milano, p. 1–4, 2011. [Paysmed]. Disponível em: http://www.paysmed.net/upl_open_upload/allegato-17-1.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020.
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).

No entanto, a fragilidade destes objetos arquitetônicos é significativa, quando analisados à luz das funções por eles exercidas e da necessidade de mudança, podendo levá-los a obsolescência, devido à necessidade de atualização gerada pela evolução das técnicas e tecnologias; e condenálos ao abandono e à deterioração, pois poucos são os olhares das políticas preservacionistas voltados para este tipo de edificação.

É de ciência do meio patrimonial que a manutenção de bens materiais está diretamente relacionada à obtenção de renda, à reinvenção de usos que os tornem economicamente viáveis. Sendo assim, o desenvolvimento do turismo cultural tem contribuído sobremaneira com esta causa, oferecendo oportunidades para a instalação de equipamentos de apoio ao turismo (AYUGA; GARCÍA, 2007AYUGA, Francisco.; GARCÍA, Ana. Isabel. Reuse of abandoned buildings and the rural landscape: the situation in Spain. American Society of Agricultural and Biological Engineers, Beltsville, v. 50, n. 4, p. 1383-94, 2007. DOI: http://dx.doi.org/10.13031/2013.23627
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; ZITO, 1987ZITO, Vicenzo. Possibilità di riuso e valorizzazione del patrimonio edilizio rurale. In: CONFERENCIA NACIONAL – L’ARCHITETURA RURALE NELLE TRASFORMAZIONI DEL TERRITOTIO IN ITALIA, Bari, 1987. Anais [...]. Bari: Convegno Nazionale, 1987. p. 1–13. Disponível em: http://eprints.bice.rm.cnr.it/5621/1/Zito_Possibilita_riuso_patrimonio_rurale.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.
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).

Desta forma, o turismo tem contribuído para a reinvenção e o reúso dessas estruturas obsoletas ou que se encontram em estado de abandono, fato que motivou este estudo, a partir do seguinte questionamento: as velhas estufas de fumo, esparsas no território catarinense, caracterizam-se como atributos do turismo local?

Esta pesquisa foi desenvolvida a partir dos preceitos qualitativos, de caráter exploratório e descritivo. O percurso metodológico priorizou trabalhos com ênfase no trinômio: desenvolvimento do meio rural, ressignificação do patrimônio edificado e turismo em meio rural, nos idiomas português e italiano, publicados, prevalentemente, no período compreendido entre os anos 2000 e 2020. Foram consultados livros e websites de instituições públicas, Organizações Não Governamentais (ONGs) e periódicos. A pesquisa de campo foi realizada por meio de entrevistas, com os proprietários das estufas revitalizadas para finalidades turísticas, nas principais regiões fumicultoras do estado de Santa Catarina, e as respostas foram analisadas a partir da análise de conteúdo.

O objetivo principal foi revelar, para o turismo do sul do Brasil, um importante símbolo da arquitetura rural, modesto e, às vezes, despercebido, mas carregado de significados e potencialidades; e, assim, chamar atenção para as múltiplas possibilidades de uso desses elementos, tão marcantes na paisagem rural; e inspirar os gestores públicos a criarem políticas públicas para a preservação/recuperação desses bens materiais.

Pressupõe-se que o patrimônio edificado, quando utilizado para o turismo, reconfigura seu entorno, antes bucólico e depreciativo, e revitaliza-se por meio dos usuários do turismo, gerando novas energias ao espaço.

Pretende-se que os resultados obtidos estimulem o desenvolvimento de outros estudos que objetivem disseminar informações sobre a herança cultural brasileira, aproximando as pessoas às suas origens, fato que possibilita a compreensão e a reelaboração do cotidiano das comunidades, contribui para a difusão de culturas e para uma melhor compreensão intercultural patrimonial. Esta integração entre sociedades também amplia o entendimento do conceito de patrimônio e de turismo cultural, despertando olhares para as oportunidades que estavam sendo perdidas.

A produção de novos conhecimentos relativos à história da sociedade catarinense, ilustrada com suas peculiaridades materiais culturais locais, é um episódio que confere autenticidade e a transforma em um produto cobiçado por investidores de diversas áreas.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O meio rural

O mundo rural tradicional se caracteriza historicamente por um grupo familiar com comportamentos e valores próprios, que pratica a agricultura para produzir alimentos em um espaço cuja morfologia remete à conquista do equilíbrio entre as ações humanas e o ambiente natural (FERRÃO, 2000FERRÃO, João. Relações entre mundo rural e mundo urbano: evolução histórica, situação actual e pistas para o futuro. EURE, Santiago, v. 26, n. 78, p. 123–30, 2000.)(Ferrão, 2000FERRÃO, João. Relações entre mundo rural e mundo urbano: evolução histórica, situação actual e pistas para o futuro. EURE, Santiago, v. 26, n. 78, p. 123–30, 2000.). Para o autor, este mundo rico de valores, simbolismos e outrora detentor da centralidade econômica passa a perder estas condições com o advento das sociedades urbano-industriais. Com esta nova conformação, o meio rural passa a ser visto como arcaico e atrasado, enquanto o urbano é tido como moderno e associado ao progresso. Das funções de até então, produzir alimento e servir de refúgio em épocas de crise, o meio rural tornase também fornecedor de mão de obra barata e não especializada para as atividades na cidade.

Esta nova realidade, dada pelo êxodo dos jovens e o envelhecimento dos que restam, leva ao descolamento e à perda dos valores tradicionais, a terra perde o seu valor como herança e patrimônio para as gerações futuras, favorecendo o abandono ou convertendo-se em recurso imobiliário (PEIXOTO, 2002PEIXOTO, Paulo. Os meios rurais e a descoberta do património. [Comunicação apresentada na atividade “Conversas à volta das estrelas”, Faculdade de Economia], Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais, 2002. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/11046. Acesso em: 2 nov. 2020.
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)(Peixoto, 2002PEIXOTO, Paulo. Os meios rurais e a descoberta do património. [Comunicação apresentada na atividade “Conversas à volta das estrelas”, Faculdade de Economia], Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais, 2002. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/11046. Acesso em: 2 nov. 2020.
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). Ora, o meio rural mudou e sofreu mudanças comportamentais, estreitou relações com o mundo urbano, atividades não agrícolas foram geradas, desencadeou-se um interesse pelas novas ruralidades, a busca por uma vida melhor, um mundo com mais harmonia e virtudes (CARVALHO; CHÁVEZ, 2018CARVALHO, Alissandra Nazaré; CHÁVEZ, Eros Salinas. Turismo e hospitalidade no espaço rural : Brasil e Cuba. Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, Caxias do Sul, v. 10, n. 1, p. 59–66, 2018. Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/4735/473557640004/473557640004.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020.
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)(Carvalho & Chávez, 2018CARVALHO, Alissandra Nazaré; CHÁVEZ, Eros Salinas. Turismo e hospitalidade no espaço rural : Brasil e Cuba. Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, Caxias do Sul, v. 10, n. 1, p. 59–66, 2018. Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/4735/473557640004/473557640004.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020.
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).

A partir do último quarto do século XX, o mundo rural deixa de ser visto como exclusivamente agrícola e com a função única de produzir alimentos (SCHNEIDER, 2006SCHNEIDER, Sergio. Turismo em Comunidades Rurais: inclusão social por meio de atividades não-agrícolas. In: MINISTÉRIO DO TURISMO (Ed.). Diálogos do Turismo: uma viagem de inclusão. Brasília, DF: Ministério do Turismo, 2006. p. 264–93.). A sua parte não agrícola é reinterpretada, segundo Ferrão (2000)FERRÃO, João. Relações entre mundo rural e mundo urbano: evolução histórica, situação actual e pistas para o futuro. EURE, Santiago, v. 26, n. 78, p. 123–30, 2000., buscando-se evidenciar e preservar a sua dimensão patrimonial, seja natural, seja histórica ou cultural, quer para atender as novas demandas, sendo estas relativas a um desenvolvimento sustentável, quer para distinguir-se da homogeneização imposta pela globalização. Para o autor, a melhoria do padrão de vida de segmentos da população patrocinou a atribuição de um valor econômico à paisagem, estimulando a prática do turismo e do lazer no campo.

Embora o turismo tenha provado uma grande evolução a partir dos anos 1960, prevalentemente na Europa e nos EUA, é a partir dos anos 1990 que este passa a compor a pauta de possibilidades para o desenvolvimento do meio rural (CANDIOTTO, 2010CANDIOTTO, Luciano Zanetti. Elementos para o debate acerca do conceito de turismo rural. Turismo em Análise, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 3-24, 2010. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rta/article/view/14203/16021. Acesso em: 2 fev. 2020.
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), quando, concomitantemente, o agricultor torna-se polivalente, o espaço rural diversifica suas atividades e é descoberto pelo mundo urbano e pelos operadores turísticos.

2.2 O patrimônio edificado

Para Choay (2011)CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2011. 283 p., o patrimônio histórico, em tempos passados, representado essencialmente por obras monumentais remanescentes da Antiguidade, teve seu conceito ampliado, popularizado, institucionalizado. Paiva (2015)PAIVA, Odair Cruz. Imigração, patrimônio cultural e turismo no Brasil. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 211–37, 2015. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/109639/108140. Acesso em: 23 nov. 2020.
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percebe o patrimônio de maneira multifacetada, relativizado ao seu contexto histórico, passível, portanto, de variadas formas de apreensão, e, então, seus significados ampliaram-se, fruto da incorporação de práticas de resgate e preservação de heranças do passado.

A carta de Veneza, texto final do II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos, realizado em 1964, dá-nos, em seu artigo 1º, uma definição precisa e abrangente do nosso objeto, qual seja:

A noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o síto urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, um significado cultural. (CONSELHO INTERNACIONAL DE MONUMENTOS E SÍTIOS [ICOMOS], 1995CONSELHO INTERNACIONAL DE MONUMENTOS E SÍTIOS [ICOMOS]. Carta de Veneza. In: INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL [IPHAN]. Cartas Patrimoniais. Brasília: IPHAN, 1995.).

No variado universo dos bens patrimonializados, destaca-se o grupo das edificações, pela sua estreita ligação com a vida das pessoas, conforme pondera Choay (2011)CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2011. 283 p., evidenciando aquelas de dimensões contidas, não monumentais, portanto, e que se encontram hoje recolhidas sob a denominação de arquitetura menor, caso das construções rurais.

Peixoto (2002)PEIXOTO, Paulo. Os meios rurais e a descoberta do património. [Comunicação apresentada na atividade “Conversas à volta das estrelas”, Faculdade de Economia], Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais, 2002. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/11046. Acesso em: 2 nov. 2020.
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nos relata que a ideia de patrimônio é percebida em um ritmo diferente no meio rural, mais lentamente, e acontece prevalentemente em três fases: a da construção, espontânea, ligada a questões práticas, de necessidade e utilidade; a da tomada de consciência, quando sua aplicação se distancia da função original; e, por fim, quando o patrimônio se torna o símbolo de uma identidade coletiva.

O tempo e as circunstâncias, no entanto, são implacáveis para com os edificios de interesse histórico, pondera Talamini (2014)TALAMINI, Josiane. Reabilitação de conjuntos históricos rurais através do turismo: o roteiro Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves/RS. 2014. 105 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/107530. Acesso em: 12 nov. 2019.
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, e o desuso e a falta de manutenção ameaçam a integridade de muitos deles. Obras de restauro demandam somas vultosas de recursos nem sempre disponíveis; logo, encontrar formas rentáveis de reúso torna-se imperativo, pois, além de obter-se renda com isso, o patrimônio justifica e viabiliza sua manutenção, “[...] contribui para manter íntegra a história e a cultura de um povo, interage com a população, que por sua vez passa a valorizar os bens patrimoniais e a entendê-lo como parte integrante da sua própria história” (TALAMINI, 2014, p. 16TALAMINI, Josiane. Reabilitação de conjuntos históricos rurais através do turismo: o roteiro Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves/RS. 2014. 105 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/107530. Acesso em: 12 nov. 2019.
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).

Carvalho (2003, p. 192)CARVALHO, Paulo. Património e (re) descoberta dos territórios rurais. Boletim Goiano de Geografia, Goiania, v. 23, n. 2, p. 173–96, 2003. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4785708. Acesso em: 2 fev. 2020.
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vê o patrimônio como parte “estruturante da memória, imagem e identidade dos territórios”, recurso que torna os lugares ricos, diversos e aptos ao desenvolvimento. Para ele, o viver com qualidade em um espaço geográfico qualificado e equilibrado gera bem-estar e autoestima, o que, por si só, justifica preservar e valorizar o patrimônio existente e o requalificar, para dar novo uso ou até restabelecer as próprias funções originais, tornando o resgate desses bens não somente viável, mas desejável. Muitos agricultores se sentem orgulhosos em apreciar e exibir suas construções, novas, recuperadas ou preservadas, assim como a paisagem por eles criada, mais até que os próprios visitantes, os quais, mesmo percebendo tamanha beleza, fazem-no com uma certa neutralidade (BRANDUINI, 2011BRANDUINI, Paola. Il ruolo dell’architetura rurale nella valorizzazione del paesaggio (agricolo periurbano). Istituto di Ingegneria Agraria, Università degli studi di Milano, p. 1–4, 2011. [Paysmed]. Disponível em: http://www.paysmed.net/upl_open_upload/allegato-17-1.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020.
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). Importa, então, o fazer perceber, aos visitantes urbanos, os sentidos da vida rural, seus usos e costumes, favorecendo para que se apoderem do espírito do lugar e contribuam para manter vivo e ativo esse patrimônio.

2.3 O turismo no meio rural

No meio rural, os mais visionários e persistentes adotaram o turismo como estratégia de resistência e desenvolvimento, logo, “tradição e património passaram a ser bens publicitados e vendidos, junto com a paisagem, o artesanato, a gastronomia e até o ambiente saudável e despoluído” (ALMEIDA, 2016, p. 3ALMEIDA, Maria Antonia Pires. O uso do património como estratégia de atração e combate ao despovoamento. In: MENESES, Marluci; RODRIGUES, José Delgado; COSTA, Dória (Ed.). Congresso Ibero-Americano: património, suas matérias e imatérias – livro de atas. Lisboa: LNEC, 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/10071/25290. Acesso em: 4 fev. 2020.
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). Estando o mundo rural sempre em evolução, o patrimônio funciona, neste caso, “como uma invenção cultural, uma forma de reanimar o presente através da atribuição de uma segunda vida a um passado inerte e supostamente longínquo” (PEIXOTO, 2002, p. 14PEIXOTO, Paulo. Os meios rurais e a descoberta do património. [Comunicação apresentada na atividade “Conversas à volta das estrelas”, Faculdade de Economia], Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais, 2002. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/11046. Acesso em: 2 nov. 2020.
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).

Corroborando, então, Branduini (2011)BRANDUINI, Paola. Il ruolo dell’architetura rurale nella valorizzazione del paesaggio (agricolo periurbano). Istituto di Ingegneria Agraria, Università degli studi di Milano, p. 1–4, 2011. [Paysmed]. Disponível em: http://www.paysmed.net/upl_open_upload/allegato-17-1.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020.
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observa que antigas construções já não mais solicitadas para suas funções originais vêm sendo remanejadas para novos usos, buscando-se dar complementariedade às atividades agrícolas, como o comércio de produtos da propriedade, agriturismo, hospedagem e outras. O turista é sensível aos vários modos de exposição dos produtos a ele ofertados quando longe de sua rotina, seja uma lembrança, seja uma refeição ou mesmo um meio de hospedagem.

Segundo Candiotito (2010)CANDIOTTO, Luciano Zanetti. Elementos para o debate acerca do conceito de turismo rural. Turismo em Análise, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 3-24, 2010. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/rta/article/view/14203/16021. Acesso em: 2 fev. 2020.
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, com a melhora das condições de vida advindas do desenvolvimento econômico no pós-guerra e da maior disponibilidade de recursos e tempo livre conquistados pelos trabalhadores, como jornadas de trabalho menores e férias, o turismo rural teve grande expansão e ganhou ulterior impulso a partir dos anos 1990, com o esgotamento do modelo de destinos turísticos de massa, por apresentar-se como alternativa menos intensiva, mais sustentável e vivenciada em espaço teoricamente mais preservado. Assim sendo, o turismo no espaço rural cria oportunidades para o desenvolvimento local, gerando vantagens e benefícios não só econômicos.

3 METODOLOGIA

A pesquisa exploratória, de caráter qualitativo, baseou-se em análise bibliográfica, pesquisa de campo, mapeamento dos objetos de estudo e emprego de entrevistas, e tais métodos revelaram-se aptos à validação do seguinte pressuposto: externalidades territoriais, como as estufas de fumo, representam novas possibilidades para um espaço rural redescoberto.

A pesquisa tem um caráter descritivo. Os estudos de natureza descritiva procuram descobrir as características de um fenômeno como tal, como objeto de estudo, uma situação específica, um grupo ou um indivíduo (RICHARDSON, 1999RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paullo: Atilas, 1999. 328 p.). Apresenta um caráter principalmente qualitativo, por meio das entrevistas pessoais com os proprietários, e parcialmente quantitativo, devido ao trabalhoso mapeamento dos principais fabricantes catarinenses, gerando um mapa com as principais estufas visitadas que estão localizadas no entorno desses produtores de fumo ou, até mesmo, ex-produtores.

A amostra utilizada neste estudo é composta pelos estabelecimentos turísticos instalados em estufas de fumo revitalizadas, localizadas nas duas maiores regiões produtoras de fumo de Santa Catarina: o Norte Catarinense e o Vale dos rios Itajaí e Tijucas, conforme a Figura 1 abaixo:

Figura 1
Mapa das regiões do Estado de Santa Catarina

O mapa abaixo, na Figura 2, elaborado pelos autores, a partir de um mapeamento realizado minuciosamente nessas regiões, pontua as principais cidades localizadas no entorno dos fabricantes de cigarros, que, consequentemente, apresentam um maior número de estufas remanescentes.

Figura 2
Mapa das principais cidades localizadas no entorno de fábricas de cigarro

Esta amostra é não probabilística intencional, a qual, segundo Almeida (1989, p. 87)ALMEIDA, Joaquim. Almeida. Pesquisa em extensão rural: um manual de metodologia. Brasília: ABEAS/MEC, 1989., “consiste em selecionar um grupo de elementos considerados tipicos, em função das variáveis estudadas”.

A pesquisa de campo para documentação fotográfica e aplicação das entrevistas foi realizada entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 2020, no Vale do Rio Tijucas, junto aos proprietários das estufas que foram ou vêm sendo revitalizadas para o turismo. Entre março e abril de 2021, foram feitas pesquisas de campo e entrevistas na região do Planalto Norte Catarinense, sendo que essas duas regiões foram definidas como recorte espacial, por apresentarem as maiores concentrações de plantações de fumo do estado, devido à sua localização geográfica muito próxima das fábricas de cigarros. O gráfico abaixo representa isso em números.

Gráfico 1
Porcentagem das safras de fumo nas regiões do Estado de Santa Catarina

As estufas pesquisadas foram as que não mais operam com a função original, tendo sido revitalizadas para uso turístico. Chamaram atenção os três casos de Nova Trento, cidade do Vale do Rio Tijucas, localizada próxima das fábricas de Brusque e de Blumenau, em que três estufas encontradas já haviam sofrido reestruturação e abrigam, atualmente, novas atividades, ganhando, assim, uma nova vida (CARVALHO; CHÁVEZ, 2018CARVALHO, Alissandra Nazaré; CHÁVEZ, Eros Salinas. Turismo e hospitalidade no espaço rural : Brasil e Cuba. Rosa dos Ventos Turismo e Hospitalidade, Caxias do Sul, v. 10, n. 1, p. 59–66, 2018. Disponível em: https://www.redalyc.org/jatsRepo/4735/473557640004/473557640004.pdf. Acesso em: 22 jun. 2020.
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; TALAMINI, 2014TALAMINI, Josiane. Reabilitação de conjuntos históricos rurais através do turismo: o roteiro Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves/RS. 2014. 105 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/107530. Acesso em: 12 nov. 2019.
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). Em uma delas, há um centro estético, uma loja de chocolates e uma casa de campo; uma outra está em obras, sua nova vida não foi revelada, mas terá destinação para o turismo, segundo seu proprietário; e a última encontra-se em fase de definições e projeto para tornar-se uma boutique de produtos tipicos locais. Mas o universo é amplo. Segundo o jornal local “O Trentino” (2019), o pequeno município conta ainda com cerca de 125 produtores de fumo, cada qual com sua estufa, e muitas outras ainda se encontram esparsas pelo território interiorano, embora abandonadas, na sua grande maioria.

Uma única questão foi submetida aos nossos protagonistas: por que resgatar, reestruturar, em suma, atribuir uma nova função às velhas estufas, diversa da sua original? Os dados obtidos por meio das entrevistas foram tratados e analisados à luz da técnica da análise de conteúdo, como proposto por Laurence Bardin (2011). Esta parte da individuação de códigos e construção de categorias temáticas dadas pela sua ocorrência e frequência nas narrativas dos respondentes possibilita descrever o conteúdo de mensagens e obter, assim, indicadores que permitam inferir deduções relativas à origem e às condições de produção dessas mesmas mensagens.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Das cinzas ao fluxo turístico, uma renovação zelosa

Os dados obtidos nas entrevistas foram interpretados aplicando o método de análises de conteúdo de (BARDIN, 2011), mais precisamente o da inferência, o qual nos permite interpretar a mensagem a partir dos significados que ela fornece. Permite, outrossim, auferir legitimidade ao enunciado, a partir de comparações e similitudes com outras de veracidade reconhecida, daí o imperativo de o pesquisador estabelecer uma comunicação com os fundamentos teóricos, objetivando dar suporte na busca de embasamento às análises, atribuindo significados à interpretação (SANTOS, 2012SANTOS, Fernanda Massaro dos. Análise de conteúdo: a visão de Laurence Bardin. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v. 6, n. 1, p. 383–87, 2012. DOI: https://doi.org/10.14244/%2519827199291
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).

Interessante destacar que, mesmo sabendo dos impactos negativos causados pelas condenações das práticas das empresas fumageiras, que sempre expuseram um cenário de exploração de terra, existe certa nostalgia, muitas vezes, romântica, no que diz respeito a esses exemplares do passado.

Das palavras dos entrevistados, parece emanar um compromisso, quase um apelo para a tutela dos signos, dos laços geracionais entre a estufa, a família, o grupo social, o lugar. Nota-se “uma inter-relação entre vivência-memória-rememoração-identidade” (TALAMINI, 2014, p. 91TALAMINI, Josiane. Reabilitação de conjuntos históricos rurais através do turismo: o roteiro Caminhos de Pedra em Bento Gonçalves/RS. 2014. 105 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/107530. Acesso em: 12 nov. 2019.
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), um importar-se com o pertencimento, com as raízes profundas no passado. No Norte Catarinense, na Casa Pienzo, os proprietários também demostraram interesse em revitalizar a estufa familiar existente em suas terras herdadas, para um uso turístico, neste caso, como apartamento de aluguel, que será também utilizado para eventos e para seus próprios hóspedes, amigos que moram em outros países.

Já uma das estufas de Nova Trento tem um tjolo no qual está escrito o nome de quem a construiu e o ano de sua construção: Bento R. 1975. A gleba onde ela se encontra sempre foi da família, desde a chegada dos imigrantes, em 1875. O pai do proprietário a herdou há alguns anos. A estufa está sendo requalificada, seu corpo principal será preservado, mas novas áreas estão sendo construídas para fins turísticos, numa forma de o proprietário manifestar sua consciência e responsabilidade na condição de guardião da história da família e dos símbolos daquele espaço, que, ao serem percebidos como patrimônio, desencadeiam a preocupação com a ação do tempo e com a possibilidade de perda (PEIXOTO, 2002PEIXOTO, Paulo. Os meios rurais e a descoberta do património. [Comunicação apresentada na atividade “Conversas à volta das estrelas”, Faculdade de Economia], Universidade de Coimbra, Centro de Estudos Sociais, 2002. Disponível em: https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/11046. Acesso em: 2 nov. 2020.
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). E, assim, preservando a história, a obra e os laços com a família, os proprietários desvelam o seu valor patrimonial (CHOAY, 2011CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2011. 283 p.), recompondo a paisagem majestosa, relatada orgulhosamente, nos modos descritos por Branduini (2011)BRANDUINI, Paola. Il ruolo dell’architetura rurale nella valorizzazione del paesaggio (agricolo periurbano). Istituto di Ingegneria Agraria, Università degli studi di Milano, p. 1–4, 2011. [Paysmed]. Disponível em: http://www.paysmed.net/upl_open_upload/allegato-17-1.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020.
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.

Muitos deles, visionários, percebem no fluxo turístico crescente uma oportunidade e modo de dar às estufas uma nova função, como pensa Almeida (2016)ALMEIDA, Maria Antonia Pires. O uso do património como estratégia de atração e combate ao despovoamento. In: MENESES, Marluci; RODRIGUES, José Delgado; COSTA, Dória (Ed.). Congresso Ibero-Americano: património, suas matérias e imatérias – livro de atas. Lisboa: LNEC, 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/10071/25290. Acesso em: 4 fev. 2020.
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, a fim de preservar sua qualidade, suas características e, principalmente, no seu caso, o valor econômico e o direito ao usufruto do terreno, limitado pelas novas regras municipais de uso do solo.

A antiga propriedade dos Corsi-Caset era o que se podia chamar de propriedade padrão, onde a família, por gerações, praticou a agricultura, produzindo alimento em harmonia com a natureza (FERRÃO, 2000FERRÃO, João. Relações entre mundo rural e mundo urbano: evolução histórica, situação actual e pistas para o futuro. EURE, Santiago, v. 26, n. 78, p. 123–30, 2000.). Hoje a casa alpina, no Monte Barão, constante do quadro que será apresentado logo abaixo, é o que resultou da revitalização da antiga estufa de fumo, destinando-se a um novo uso, como casa de campo e base para ações de conscientização ambiental.

Embora na prática não lhe tenham sido atribuídas novas funções de cunho produtivo ou visando ao ganho econômico em que se viabilizasse sua conservação (ZITO, 1987ZITO, Vicenzo. Possibilità di riuso e valorizzazione del patrimonio edilizio rurale. In: CONFERENCIA NACIONAL – L’ARCHITETURA RURALE NELLE TRASFORMAZIONI DEL TERRITOTIO IN ITALIA, Bari, 1987. Anais [...]. Bari: Convegno Nazionale, 1987. p. 1–13. Disponível em: http://eprints.bice.rm.cnr.it/5621/1/Zito_Possibilita_riuso_patrimonio_rurale.pdf. Acesso em: 10 set. 2021.
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), o resgate dela conseguiu, em tese, embutr-lhe muitas possibilidades de leitura, aplicáveis à prática de várias das modernas modalidades de turismo; de aventura, de experiência, rural, ecoturismo e outras.

As construções abordadas não resultam ser muito antigas, aliás, dos relatos, emerge que todas correspondem ao período mais intenso da atividade, justamente os anos relatados por Dionísio (2016)DIONÍSIO, Ana Carolina. Memórias de trabalho, veneno e fumaça. Uma análise histórica sobre os impactos socioambientais da produção integrada de tabaco no Alto Vale do Rio Tijucas (SC, 1970–2000). 2016. 256f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016. Disponível em: https://repositorio.ufisc.br/xmlui/handle/123456789/168111. Acesso em: 6 fev. 2020.
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, entre as décadas de 1970 e 1990. No quesito dimensões, seguiam um padrão preestabelecido, eram quadradas, com lados medindo cerca de 4,5 metros, altas entre 5 e 6 metros, com poucas variações, pois as tubulações metálicas que distribuíam o calor no seu interior já vinham prontas de fábrica, segundo um dos entrevistados. Eram simples nos seus traços, por serem na sua essência concebidas para serem úteis e funcionais (SCUDELLA, 2017SCUDELLA, Giannantonio. Architettura rurale e paesaggio: profili giuridici in Italia e nella Regione Veneto. 2017. 88 f. Dissertação (Mestrado em Scienze Forestali e Ambientali) – Università degli Studi di Padova, Padova, 2017. Disponível em: http://tesi.cab.unipd.it/62030/1/Scudella%2C_giannantonio.pdf. Acesso em: 29 set. 2022.
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), mas o esmero dedicado à sua execução era determinado pela qualidade e habilidade da mão de obra dos pedreiros da cidade, conhecida e reconhecida por construtores de todos os cantos de Santa Catarina (PIMENTA, 2018PIMENTA, Margareth Castro Afeche. Percursos históricos e paisagens culturais: o legado dos imigrantes em Santa Catarina. Revista Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 19, n. 67, p. 126–42, 2018. DOI: https://doi.org/10.14393/Hygeia196709
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) e decantada com orgulho pelo dono mais velho de uma das construções, ex-agricultor, depois pedreiro, quando afirma que ele mesmo a levantou e reformou; então, para ele, tem que valorizar.

Um investidor da região costuma adquirir estufas para aproveitar os tjolos, em torno de 9.000 peças de cada uma, em média, segundo seu depoimento, para reutilizá-las em edificações que constrói, em outro terreno, voltadas ao turismo rural e de aventuras.

Percebe-se, nas gerações atuais, que seus herdeiros legais, mas não mais dependentes da utilidade original desses fabricados, têm preocupação em preservá-los, tanto pelas manifestadas representações relativas à história e aos laços com a vida de seus familiares (CHOAY, 2011CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2011. 283 p.) quanto pela intenção de compartilhar, de permitira apropriação coletiva dos seus significados, que dizem respeito ao tempo, ao meio e à existência do próprio grupo social (BRANDUINI, 2011BRANDUINI, Paola. Il ruolo dell’architetura rurale nella valorizzazione del paesaggio (agricolo periurbano). Istituto di Ingegneria Agraria, Università degli studi di Milano, p. 1–4, 2011. [Paysmed]. Disponível em: http://www.paysmed.net/upl_open_upload/allegato-17-1.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020.
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).

Esses atributos revelam o caráter visionário e combativo de algumas lideranças dali que podem não dar conta de restituir ao mundo rural a centralidade econômica de outrora (FERRÃO, 2000FERRÃO, João. Relações entre mundo rural e mundo urbano: evolução histórica, situação actual e pistas para o futuro. EURE, Santiago, v. 26, n. 78, p. 123–30, 2000.), mas podem, quiçá, possibilitar a alavancagem de outros ativos, como a gastronomia e o artesanato, supõe Almeida (2016)ALMEIDA, Maria Antonia Pires. O uso do património como estratégia de atração e combate ao despovoamento. In: MENESES, Marluci; RODRIGUES, José Delgado; COSTA, Dória (Ed.). Congresso Ibero-Americano: património, suas matérias e imatérias – livro de atas. Lisboa: LNEC, 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/10071/25290. Acesso em: 4 fev. 2020.
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, dinamizando a economia, gerando oportunidades e recursos que viabilizem a preservação de todo o patrimonial local.

Todos percebem suas estufas como componentes de um conjunto maior, de um contexto histórico, social, cultural, paisagístico, patrimonial, mas há de se atentar na sua reabilitação, a fim de tutelar a originalidade e a coerência em relação ao seu meio (BRANDUINI, 2011BRANDUINI, Paola. Il ruolo dell’architetura rurale nella valorizzazione del paesaggio (agricolo periurbano). Istituto di Ingegneria Agraria, Università degli studi di Milano, p. 1–4, 2011. [Paysmed]. Disponível em: http://www.paysmed.net/upl_open_upload/allegato-17-1.pdf. Acesso em: 3 fev. 2020.
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). Estudos, estratégias, políticas públicas e outros mecanismos que estabeleçam critérios e estimulos para sua recuperação devem ser patrocinados, a fim de evitar que, no afã de dar-lhes significações, acabe-se por descaracterizá-las, comprometendo a interpretação da sua essência.

As palavras retradas dos depoimentos dos entrevistados demonstram o valor sentimental e até nostálgico dado ao patrimônio, conforme concluem os autores, que elaboraram, abaixo, uma nuvem de palavras, feita por meio dos relatos transcritos de proprietários das estufas, ao serem questionados sobre o porquê de revitalizar seu patrimônio.

Figura 3
Nuvem de palavras a partir dos depoimentos dos proprietários que revitalizaram suas estufas

Para melhor visualizar o texto, segue abaixo tabela categorial com as descrições das estufas mencionadas nesta pesquisa, localizadas nas principais regiões produtoras de fumo de Santa Catarina: Norte Catarinense e Vale do Rio Tijucas. Cabe ressaltar que foram selecionadas, para este artigo, apenas as que têm finalidades turísticas:

Tabela 1
Estufas (atualmente turísticas) da Região Norte Catarinense e do Vale do Rio Tijucas

Emerge deste estudo que as estufas de fumo nas regiões do Norte Catarinense e do Vale do Rio Tijucas têm um considerável potencial para a oferta turística local, pelos seus significados, sua presença marcante, seus aspectos construtivos. Ao nos relatar que sua construção “é diferente, né [...]”, seu proprietário entende enaltecer as suas características morfológicas, enquanto os laços afetivos aforam quando a herdeira de outra a associa às lembranças da infância com a família. Em outro caso, destaca-se o senso de oportunidade e alia-se a este a premência para se antecipar ao rigor do tempo: primeiro, restaurar para salvar, para, então, oportunamente, ver o que fazer. O bom senso, o respeito ao custo econômico e simbólico das coisas e a aversão ao desperdício movem os proprietários nessas empreitadas resgatadoras.

Ademais, as potencialidades turísticas vão além da percepção dos atributos e significados intrínsecos às estufas. O sentimento de pertencimento e a incorporação do espírito do lugar, pelos seus protagonistas, reais portadores dos valores simbólicos de seu grupo social (ALMEIDA, 2016ALMEIDA, Maria Antonia Pires. O uso do património como estratégia de atração e combate ao despovoamento. In: MENESES, Marluci; RODRIGUES, José Delgado; COSTA, Dória (Ed.). Congresso Ibero-Americano: património, suas matérias e imatérias – livro de atas. Lisboa: LNEC, 2016. Disponível em: http://hdl.handle.net/10071/25290. Acesso em: 4 fev. 2020.
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), qualifica-os tanto como guardiões da integridade fisica deste patrimônio edificado quanto como protagonistas na promoção do seu uso para o desenvolvimento local.

5 CONCLUSÃO

Perceber e evidenciar um valor histórico e atribuir um status patrimonial a um bem, mesmo que de dimensões contidas, de materiais singelos e simplicidade nos seus traços arquitetônicos e características construtivas, corresponde a um signo de êxito deste estudo.

O percurso metodológico adotado demonstrou-se satisfatório, permitindo encontrar correspondências entre os enunciados dos autores estudados e os fatos percebidos, tanto na visualização e interpretação dos objetos quanto nos relatos dos protagonistas abordados durante as entrevistas. Este trabalho pode também avolumar-se, agregando-se, em outro momento, um inventário das estufas remanescentes, permitindo-nos conhecer o seu número, seu estado de conservação, sua localização e eventual potencial futuro de cada uma como atrativo para o turismo, indo de encontro à principal limitação percebida no decorrer desta obra, qual seja, a escassa disponibilidade de dados históricos, estatisticos e literatura específica acerca do objeto abordado.

O caráter inovador desta pesquisa reside na produção de novos conteúdos aptos a preencher a lacuna na bibliografia que aborda esta categoria de edificações no contexto do patrimônio cultural edificado. Para a academia, pode representar um conjunto de informações suscetivel a enriquecer o debate e contribuir como base em futuras pesquisas acerca do tema.

Esta obra pode encontrar aplicação prática na outorga de valor patrimonial às referidas, gerar interesse pela sua preservação, habilitá-las como atrativos e, consequentemente, fornecer subsídios à proposição de rotas temáticas, ou puramente despertar interesse em outros agricultores/proprietários, induzindo-os a uma redescoberta, reinvenção e reintegração à paisagem rural e turística destes significativos elementos.

Dessa forma, identificando-se os principais polos de produção de fumo catarinenses, mapeando suas edificações remanescentes e aplicando entrevistas aos proprietários que direcionaram estas ao uso turístico, foi possível perceber que o valor histórico gera sentimentos de pertencimento, o que faz com que essas estufas, patrimônio cultural e industrial de tempos e de costumes remotos, juntamente com todo o seu legado, sejam preservadas. Paralelamente, a forma peculiar de sua arquitetura desperta o interesse e a curiosidade dos turistas, e essa demanda atribui um uso turístico às edificações.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    16 Dez 2022
  • Data do Fascículo
    Jul-Sep 2022

Histórico

  • Recebido
    25 Out 2021
  • Revisado
    01 Abr 2022
  • Aceito
    31 Maio 2022
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