Editorial
O artigo intitulado "A Ciência Perdida no Terceiro Mundo" publicado na Scientific American de agosto de 1995 causou enorme polêmica no meio científico internacional. Além de revelar o preconceito de muitos editores das consideradas revistas de primeira linha, o artigo mostrou as dificuldades de se indexar as revistas científicas do terceiro mundo aos bancos e às bases de dados internacionais.
No Brasil, o número de publicações ultrapassa de muito as nossas necessidades, sendo muito maior do que a pesquisa científica feita no País. Como muitas destas publicações não tem qualidade científica regional e muito menos internacional, não cabe ao governo o financiamento de sua publicação. Ninguém é ingênuo de achar que tudo que se publica tem qualidade, ou, no outro extremo, que a publicação de revistas científicas deve estar restrita aos países do primeiro mundo. A qualidade de uma revista depende da qualidade de seus artigos, de sua periodicidade e da forma como seus artigos estão disponíveis para consulta por toda a comunidade científica internacional. Graças à Sociedade Brasileira de Química, o Brasil, hoje, tem o Journal of the Brazilian Chemical Society que atende a todos estes requisitos e que ultrapassou a expectativa até dos mais céticos, daqueles que não acreditavam que se pudesse editar uma boa revista científica de Química no Brasil. O JBCS pode ser consultado na internet e seus artigos impressos na versão PDF, a periodicidade vem sendo mantida, e a revista vem sendo citada na literatura e muito elogiada pela comunidade científica internacional. No entanto, como editor, não posso deixar de expressar um certo temor sobre a manutenção da qualidade e da periodicidade da revista, que dependem basicamente da avaliação pelos pares e de recursos das agências financiadoras.
A qualidade vem sendo garantida pelos autores e sobretudo pelos revisores que, na sua quase totalidade, entendem a importância do papel da avaliação pelos pares na credibilidade e no avanço da ciência. No entanto, a periodicidade do JBCS está comprometida, porque muitos presidentes de agências esqueceram do tempo em que eram editores e tratam o Programa de Apoio a Publicações Científicas sem a prioridade que este merece, sem se dar conta de que o Brasil entraria para o seleto clube dos 20 países que contribuem com mais de 1% da ciência mundial se suas melhores revistas científicas estivessem indexadas ao SCI (Science Citation Index). A modernização e a eficiência das agências não se faz com discurso, faz-se sim com competência e com seriedade, e, porque não dizer, com recursos aplicados nos programas que fazem a diferença.
Angelo C. Pinto
Publication Dates
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Publication in this collection
12 Dec 2005 -
Date of issue
Apr 1998