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Celso Carlos de Campos Guerra

EDITORIAL

Celso Carlos de Campos Guerra

Faleceu, no dia 2 de fevereiro passado, aos 67 anos de idade, o Professor Celso Carlos de Campos Guerra, deixando esposa e quatro filhos, sendo dois médicos, um deles também hematologista. Ele trabalhou até o dia anterior atendendo seus pacientes no Centro de Hematologia de São Paulo.

Celso nasceu na cidade de Avaré, interior do estado de São Paulo, em 28 de janeiro de 1941. Filho e irmão de médicos, formou-se em Medicina pela Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em 1964, onde fez carreira universitária como auxiliar de ensino, professor assistente e professor adjunto da disciplina de Hematologia, do Departamento de Medicina. Concluiu o doutorado na EPM em 1970, a livre-docência em 1977, pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos, e a livre-docência pela UNIFESP em 1996. Lecionou também na Faculdade de Medicina do ABC (FMABC); foi chefe do Serviço da Hematologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE) até 1992 e presidiu o Conselho de Ensino da Secretaria Municipal de São Paulo de 1992 a 1995.

Nas atividades didática e científica, concentrou seus conhecimentos nas áreas de coagulação sangüínea e anemia ferropênica. Como professor demonstrava os traços marcantes de sua personalidade: simplicidade e humildade na forma como ensinava a todos, apesar de ser detentor de profundos conhecimentos em uma área médica tão complexa.

Sabia ensinar a todos os níveis de profissionais, fosse em congressos internacionais ou nacionais, em aulas para médicos, alunos de cursos de várias áreas da saúde ou, simplesmente, no convívio diário com colegas, familiares e amigos, sempre se adaptando ao nível de conhecimento dos que o assistiam.

Cumpriu com galhardia a missão didática, coroando-a com a publicação de um livro e contribuindo com mais de 30 capítulos em outros tantos, de autores diversos. Publicou, em revistas científicas, mais de cem artigos, apresentou mais de 150 trabalhos científicos nacionais e internacionais em congressos e proferiu mais de 500 palestras em jornadas, cursos e congressos.

Dedicou-se intensamente à valorização de sua especialidade, a Hematologia, participando, desde 1972, de comissões e outros órgãos da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (SBHH), a qual presidiu nos biênios 1979/1980 e 1998/1999.

Lançou e obteve sucesso em empreitadas memoráveis. Na primeira, conseguiu extinguir a remuneração da doação de sangue no país. Na segunda, cujo foco era a anemia ferropênica, mal que atinge pelo menos 30% da população brasileira, lançou a "Cruzada contra a anemia" e dedicou-se a inúmeras pesquisas científicas sobre esse tema, desmistificando conceitos sobre suas causas, terapêutica e prevenção.

O trabalho desenvolvido ante a SBHH engrandeceu a especialidade e foi voltado exclusivamente para atender os legítimos interesses da população, dos associados e dos médicos especialistas. Celso deixou a marca de sua personalidade nessa sociedade, seja pela criatividade, seja pelo inconformismo. Sua preocupação constante era transformar o conhecimento e a técnica em benefícios à comunidade. Em situações polêmicas dentro da sociedade, sempre demonstrou a retidão de seu caráter, reconhecida por todos os seus pares.

Celso também participou da vida associativa dos médicos de São Paulo. Foi diretor de defesa profissional e presidente nos biênios 1989/1991 e 1992/1993 da Associação Paulista de Medicina. Sua inconteste liderança, com base na ética, transparência e pureza de objetivos, foi sempre admirada por todos.

Manteve atividade privada em laboratório clínico e clínica hematológica, sua maior paixão (da qual nunca se afastou), iniciada em consultório junto com seu mestre, o Professor Marcelo Pio da Silva.

Criou o Serviço Paulista de Hematologia, que evoluiu para a fundação, em 1981, do Centro de Hematologia de São Paulo como entidade sem fins lucrativos, o qual dirigiu até o último dia de vida e onde conseguiu agregar dezenas de hematologistas e hemoterapeutas.

Celso dirigiu, por muitos anos, o laboratório clínico do Hospital Samaritano, em São Paulo; foi consultor em Hematologia Laboratorial na Beneficência Portuguesa de São Paulo e, desde a fundação do Centro de Hematologia de São Paulo, manteve atividade no laboratório.

Todos que conheceram Celso Carlos de Campos Guerra lamentam profundamente sua partida. Como médico, profissional e líder manteve intensa dedicação à família, que também soube reconhecer que os momentos a ela roubados foram dedicados às grandes causas. Seus amigos, alunos e companheiros de trabalho continuarão a render-lhe eterna admiração pelo modelo de vida que servirá para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele.

Luiz Gastão Rosenfeld

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Maio 2008
  • Data do Fascículo
    Fev 2008
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