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Tabagismo em trabalhadores da indústria no Brasil: associação com fatores sociodemográficos, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse

RESUMO

Objetivo:

Determinar a prevalência de tabagismo e sua associação com fatores sociodemográficos, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse em trabalhadores industriários no Brasil.

Métodos:

Inquérito nacional realizado em 24 capitais brasileiras através da aplicação de um questionário previamente testado. A variável de desfecho foi obtida através da pergunta: “Com relação ao fumo, qual a sua situação?”. Para determinar as associações, foram realizadas análises de regressão de Poisson com entrada de variáveis em blocos: nível 1 (idade e estado civil); nível 2 (escolaridade e renda familiar bruta); nível 3 (região geográfica) e nível 4 (consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse). Todas as análises foram estratificadas por sexo.

Resultados:

A amostra foi composta por 47.328 trabalhadores com 18 anos ou mais de idade, sendo 14.577 mulheres (30,8%). A prevalência de tabagismo foi de 13,0% (15,2% em homens e 7,9% em mulheres). Aumento da faixa etária, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse elevado associaram-se positivamente ao tabagismo. Estar casado, ter maior nível de escolaridade e residir na região nordeste do país (quando comparada com a região sul) estiveram associados com menores probabilidades de tabagismo.

Conclusões:

A prevalência de tabagismo variou entre os sexos, sendo maior entre os homens. O consumo de bebidas alcoólicas e o nível de estresse elevado favoreceram o uso do tabaco.

Descritores:
Tabagismo; Fumar tabaco; Trabalhadores; Adulto; Brasil

ABSTRACT

Objective:

To determine the prevalence of smoking, as well as its association with sociodemographic factors, alcohol consumption, and stress levels, among industrial workers in Brazil.

Methods:

This was a nationwide survey, conducted in 24 capitals in Brazil through the application of a pre-tested questionnaire. The response to the question “What is your smoking status?” was the outcome variable. To determine the associations, we performed Poisson regression analyses in which the inputs were blocks of variables: block 1 (age and marital status); block 2 (level of education and gross family income); block 3 (geographic region); and block 4 (alcohol consumption and stress level). All analyses were stratified by gender.

Results:

The sample consisted of 47,328 workers ≥ 18 years of age, of whom 14,577 (30.8%) were women. The prevalence of smoking was 13.0% (15.2% in men and 7.9% in women). Advancing age, alcohol consumption, and a high stress level were positively associated with smoking. A lower risk of smoking was associated with being married, having a higher level of education, and living in the northeastern region of the country (versus the southern region).

Conclusions:

The prevalence of smoking was greater in men than in women. Alcohol consumption and high stress levels appear to promote smoking.

Keywords:
Tobacco use disorder/epidemiology; Tobacco smoking; Occupational health; Industry; Brazil

INTRODUÇÃO

O tabagismo é um importante fator de risco para diversas morbidades e está associado ao surgimento precoce de doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, alguns tipos de câncer, acidente vascular cerebral e aumento de mortalidade.11 World Health Organization. The global burden of disease: 2004 update. Geneva: World Health Organization; 2004. Mesmo assim, mundialmente, 928 milhões de homens e 207 milhões de mulheres têm o hábito de fumar.22 World Health Organization. World health statistics 2014. Geneva: World Health Organization; 2014.

No Brasil, dados de um inquérito telefônico nacional mostraram uma diminuição na prevalência de fumantes com ≥ 18 anos de idade: de 15,6% no ano de 2006 para 10,8% em 2014.33 Malta DC, Stopa SR, Santos MAS, Andrade SSCA, Oliveira TP, Cristo EB, et al. Evolution of tobacco use indicators according to telephone surveys, 2006-2014. Cad Saude Publica. 2017;33Suppl 3(Suppl 3):e00134915. https://doi.org/10.1590/0102-311x00134915
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Em 2017, esses valores se aproximaram de 10%, sendo maior entre os homens (13,2%) que entre as mulheres (7,5%).44 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção de Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: o Ministério [cited 2018 Oct 16]. Vigitel Brasil 2017: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico; 2018. [Adobe Acrobat document, 132p.]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2017_vigilancia_fatores_riscos.pdf
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Por conseguinte, o hábito de fumar difere conforme fatores sociodemográficos, como o sexo e o status econômico.33 Malta DC, Stopa SR, Santos MAS, Andrade SSCA, Oliveira TP, Cristo EB, et al. Evolution of tobacco use indicators according to telephone surveys, 2006-2014. Cad Saude Publica. 2017;33Suppl 3(Suppl 3):e00134915. https://doi.org/10.1590/0102-311x00134915
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,55 Islami F, Torre LA, Jemal A. Global trends of lung cancer mortality and smoking prevalence. Transl Lung Cancer Res. 2015;4(4):327-38. Estudos têm apontado que homens44 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção de Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: o Ministério [cited 2018 Oct 16]. Vigitel Brasil 2017: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico; 2018. [Adobe Acrobat document, 132p.]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2017_vigilancia_fatores_riscos.pdf
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adultos, com menor renda familiar e menor escolaridade66 Agaku IT, King BA, Dube SR; Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Current cigarette smoking among adults - United States, 2005-2012. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2014;63(2):29-34. são mais propensos ao tabagismo. Ainda, determinadas condições de risco parecem ter relação direta com o uso de tabaco, como, por exemplo, o consumo de álcool e o nível de estresse.77 Gilbert DG, McClernon FJ, Gilbert BO. The psychology of the smoker. In: Bollinger CT, Fagerström KO, editors. The tobacco epidemic. Basel: Karger; 1997. https://doi.org/10.1159/000062070
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,88 Opaleye ES, Sanchez ZM, Moura YG, Galduróz JC, Locatelli DP, Noto AR. The Brazilian smoker: a survey in the largest cities of Brazil. Braz J Psychiatry. 2012;34(1):43-51. https://doi.org/10.1590/S1516-44462012000100009
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Apesar desses levantamentos, ainda é desconhecido se esses comportamentos da população geral se manifestam com o mesmo padrão entre os trabalhadores da indústria, pois sabe-se que as circunstâncias desse grupo social são determinadas por fatores sociais, econômicos e organizacionais, assim como por condições de trabalho e de vida, além de fatores de riscos ocupacionais específicos.99 Picaluga IF. Saúde e Trabalho. In: Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas. Saúde e Trabalho no Brasil. São Paulo: Vozes; 1983.

A vigilância desses diferentes fatores em paralelo ao monitoramento do uso do tabaco,33 Malta DC, Stopa SR, Santos MAS, Andrade SSCA, Oliveira TP, Cristo EB, et al. Evolution of tobacco use indicators according to telephone surveys, 2006-2014. Cad Saude Publica. 2017;33Suppl 3(Suppl 3):e00134915. https://doi.org/10.1590/0102-311x00134915
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,1010 Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) [homepage on the Internet]. Rio de Janeiro: INCA [cited 2018 Oct 16]. Prevalência de Tabagismo 2018. Available from: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/observatorio_controle_tabaco/site/home/dados_numeros/prevalencia-de-tabagismo
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,1111 Malta DC, Vieira ML, Szwarcwald CL, Caixeta R, Brito SM, Dos Reis AA dos, et al. Smoking Trends among Brazilian population - National Household Survey, 2008 and the National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2015;18 Suppl 2:45-56. https://doi.org/10.1590/1980-5497201500060005
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o conhecimento dos efeitos deletérios do hábito de fumar e o entendimento da importância da prevenção1212 Sardinha A, Oliva AD, D'Augustin J, Ribeiro F, Falcone EM. Intervenção cognitivo-comportamental com grupos para o abandono do cigarro. Rev Bras Ter Cogn. 2005;1(1):83-90.) podem potencializar a criação e implantação de políticas antitabagistas no ambiente de trabalho, como a Lei Antifumo de 2011.1313 LeiAntifumo [homepage on the Internet]. Brasília: Ministério da Saúde [cited 2018 Oct 6]. Brasil. Lei Antifumo no 12.546/2011. Available from: http://portalarquivos.saude.gov.br/campanhas/leiantifumo/index.html
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Essas ações visam a redução dos malefícios à saúde decorrentes do hábito de fumar e de suas consequências mais graves, como o surgimento de morbidades e a mortalidade precoce atribuíveis ao uso do tabaco.1414 Britton J. Death, disease, and tobacco Lancet. 2017;389(10082):1861-1862. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(17)30867-X
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Considerando que trabalhadores da indústria correspondem a uma classe específica de adultos trabalhadores brasileiros, os quais são submetidos a diferentes rotinas de trabalho, pretendeu-se avaliar se exposições ao consumo de bebidas alcoólicas e a situações de estresse se associam ao hábito de fumar. Assim, o presente estudo teve como objetivo verificar a prevalência de tabagismo em trabalhadores de indústrias no Brasil e sua associação com fatores sociodemográficos, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse.

MÉTODOS

O presente estudo faz parte de uma pesquisa nacional denominada “Estilo de Vida e Hábitos de Lazer de Trabalhadores da Indústria”,1515 Nahas MV, Barros M, Oliveira E, Aguiar F da S. Estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores das indústrias brasileiras: relatório geral. Brasília: SESI; 2009. realizada pelo Serviço Social da Indústria (SESI) em parceria com o Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina, entre 2006 e 2008, com a participação de 24 das 27 unidades federativas do Brasil. Trata-se de um estudo representativo dos trabalhadores brasileiros da indústria nas capitais brasileiras. Não participaram do inquérito em tempo hábil os estados do Rio de Janeiro, Piauí e Sergipe.

Em 2006, o Brasil contava com aproximadamente 5.293.000 trabalhadores na indústria.1616 Brasil. Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE) [homepage on the Internet]. Rio de Janeiro: IBGE; [cited 2018 Nov 7]. Pesquisa Industrial Anual 2006. Available from: https://biblioteca.ibge.gov.br/index.php/biblioteca-catalogo?view=detalhes&id=71719
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Para a pesquisa, cada departamento regional do SESI forneceu informações de cadastro e do número de trabalhadores de cada empresa da unidade federativa que representava. O tamanho da população foi fornecido por cada departamento regional, e, com esses dados, a amostra foi calculada, usando os seguintes parâmetros: prevalência estimada de 45% de inatividade física no lazer, obtida a partir de um inquérito realizado em Santa Catarina, que tinha como objetivo principal identificar a prevalência de inatividade física no lazer,1717 Barros MVG. Atividades físicas no lazer e outros comportamentos relacionados à saúde dos trabalhadores da indústria no Estado de Santa Catarina, Brasil [dissertation]. Florianópolis: Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina; 1999. erro amostral de 3 pontos percentuais e intervalo de confiança de 95%. Após o cálculo, o tamanho mínimo da amostra foi aumentado em 50% como estratégia para atenuar o efeito do delineamento amostral; em seguida, acresceu-se mais 20% ao tamanho da amostra em decorrência de possíveis perdas no processo de coleta.1515 Nahas MV, Barros M, Oliveira E, Aguiar F da S. Estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores das indústrias brasileiras: relatório geral. Brasília: SESI; 2009. A soma total das amostras em cada departamento regional resultou em 52.774 trabalhadores. O plano de amostragem foi executado separadamente em cada departamento regional em dois estágios: 1. recorreu-se à seleção aleatória de empresas, considerando a distribuição dos trabalhadores em empresas conforme o porte: pequeno (20-99 trabalhadores), médio (100-499) e grande (≥ 500), sendo selecionadas aleatoriamente 10-50% das empresas de pequeno, médio e grande porte, a depender do número de empresas existentes e do número requerido de trabalhadores para a composição da amostra; e 2. foram selecionados aleatoriamente (amostragem sistemática) os trabalhadores em cada uma das empresas sorteadas na fase anterior do processo amostral. Após a elaboração, o plano amostral foi encaminhado a cada departamento regional para realizar contato com as empresas e aplicar os questionários. As empresas que não permitiram a aplicação dos questionários foram substituídas por empresas do mesmo porte e, quando possível, do mesmo ramo. Para a substituição do trabalhador, por falta ou afastamento, procedeu-se à escolha do nome imediatamente posterior na relação de empregados fornecida pela empresa. Mais detalhes podem ser consultados em uma publicação anterior.1515 Nahas MV, Barros M, Oliveira E, Aguiar F da S. Estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores das indústrias brasileiras: relatório geral. Brasília: SESI; 2009.

Os dados do presente estudo foram levantados através de um questionário com 58 questões autorrelatadas.1717 Barros MVG. Atividades físicas no lazer e outros comportamentos relacionados à saúde dos trabalhadores da indústria no Estado de Santa Catarina, Brasil [dissertation]. Florianópolis: Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina; 1999. Validações de conteúdo e lógica foram realizadas. Valores de índices kappa e coeficientes de correlação intraclasse variaram de 0,40 a 0,79.1717 Barros MVG. Atividades físicas no lazer e outros comportamentos relacionados à saúde dos trabalhadores da indústria no Estado de Santa Catarina, Brasil [dissertation]. Florianópolis: Centro de Desportos, Universidade Federal de Santa Catarina; 1999. Para o presente estudo, foram utilizados 9 itens do questionário: consumo de tabaco (“Com relação ao fumo, qual a sua situação?”); consumo de álcool (“Quantas doses de bebidas alcoólicas você toma em uma semana normal?”); nível de estresse (“Como você classifica o nível de estresse em sua vida?”); região geográfica do departamento regional de trabalho; sexo; idade; estado civil (casado/morar com companheiro ou outros); nível de escolaridade; e renda familiar bruta. As formas de coleta e operacionalização das variáveis podem ser visualizadas no Quadro 1.

Quadro 1
Variáveis do estudo.

Utilizou-se a distribuição de frequência relativa para descrever as variáveis estudadas. Realizou-se a análise de regressão de Poisson, bruta e ajustada, para determinar a associação das variáveis perfil demográfico, perfil socioeconômico, consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse com o tabagismo. No modelo ajustado adotou-se o nível crítico de p ≤ 0,05 para a seleção das variáveis, com o intuito de controlar possíveis fatores de confusão.

A entrada das variáveis respeitou o conceito teórico de ordenação dos blocos segundo Dumith,1818 Dumith SC. Proposta de um modelo teórico para a adoção da prática de atividade física. Rev Bras Atividade Fisica Saude. 2008;13(2):52-82. seguindo a seguinte ordem: nível 1 (idade e estado civil); nível 2 (escolaridade e renda familiar bruta); nível 3 (região geográfica); e nível 4 (consumo de bebidas alcoólicas e nível de estresse). Nas análises ajustadas, as variáveis do nível subsequente foram controladas pelas variáveis dos níveis anteriores. Todas as análises foram estratificadas por sexo e adotou-se um nível de significância estatística de 5% (p < 0,05). Para as análises estatísticas foi usado o pacote estatístico Stata, versão 15 (StataCorp LP, College Station, TX, EUA)

O inquérito foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (Pareceres nos. 306/2005 e 009/2007). O SESI, entidade parceira na realização do inquérito, autorizou esta análise secundária de dados.

RESULTADOS

A amostra total foi composta por 47.328 industriários, e desses, 33.057 eram homens (69,2%). A prevalência de tabagismo entre os trabalhadores foi de 13,0% (15,2% em homens e 7,9% em mulheres; Tabela 1).

Tabela 1
Prevalências de tabagismo, segundo variáveis demográficas, socioeconômicas, consumo de álcool e nível de estresse em trabalhadores da indústria (N = 47.328). Brasil, 2006-2008.

Observaram-se maiores prevalências de tabagismo em homens com idade < 30 anos (38,6%), casados (61,8%), com ensino médio completo (37,0%), com renda familiar bruta mensal de R$ 601,00 a R$1.500,00 (39,7%), residentes na região norte do país (32,5%), que consumiam de 1 a 7 doses de bebidas alcoólicas por semana (47,6%) e que relataram estar raramente ou às vezes estressados (em 84,3%).

Após a análise ajustada, foi verificado que as variáveis idade, estado civil, escolaridade, renda familiar, região geográfica, consumo de álcool semanal e nível de estresse permaneceram associadas ao tabagismo (Tabela 2).

Tabela 2
Prevalências e razões de prevalência do tabagismo, segundo variáveis demográficas, variáveis socioeconômicas, consumo de álcool e níveis de estresse, em homens do setor industriário (N = 5.037). Brasil, 2006-2008.

Entre as mulheres, as maiores prevalências de tabagismo foram encontradas nas que tinham < 30 anos de idade (em 34,2%), estado civil “outro” (em 58,7%), com ensino médio completo (em 45,3%), renda familiar bruta mensal até R$ 600,00 (em 37,0%), residentes na região nordeste do país (em 24,7%), que não consumiam bebidas alcoólicas (em 54,9%) e que relataram estar raramente ou às vezes estressadas (em 74,4%). Após a análise ajustada, permaneceram associadas ao tabagismo: faixa etária (30-39 anos e ≥ 40 anos); estado civil (casado); escolaridade (ensino médio completo e ensino superior completo); região geográfica (nordeste e norte); consumo de álcool/semana (1-7 doses e ≥ 8 doses); e nível de estresse (quase sempre/sempre; Tabela 3).

Tabela 3
Prevalências e razões de prevalência do tabagismo, segundo variáveis demográficas, variáveis socioeconômicas, consumo de álcool e níveis de estresse, em mulheres do setor industriário (N = 1.126). Brasil, 2006-2008.

DISCUSSÃO

No presente estudo, 1 em cada 10 mulheres e 2 em cada 10 homens trabalhadores tinham o hábito de fumar. Os resultados das análises de associação apontaram que ter > 30 anos de idade, consumir bebidas alcoólicas e ter níveis de estresse aumentados relacionaram-se a maior prevalência de tabagismo em homens e mulheres, enquanto morar nas regiões sul ou norte foi relacionado somente em homens. Por outro lado, possuir um maior nível de escolaridade e estar casado foram relacionados a menor prevalência de tabagismo independentemente do sexo. Possuir uma renda familiar intermediária (R$ 601-R$ 1.500) e morar na região nordeste para os homens, e residir nas regiões nordeste ou norte para as mulheres foi relacionado a menor prevalência de tabagismo.

Entre 1990 e 2015, o hábito de fumar caiu consideravelmente na população brasileira, fato que pode ser atribuído às políticas de controle, regulação e prevençã.33 Malta DC, Stopa SR, Santos MAS, Andrade SSCA, Oliveira TP, Cristo EB, et al. Evolution of tobacco use indicators according to telephone surveys, 2006-2014. Cad Saude Publica. 2017;33Suppl 3(Suppl 3):e00134915. https://doi.org/10.1590/0102-311x00134915
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,1111 Malta DC, Vieira ML, Szwarcwald CL, Caixeta R, Brito SM, Dos Reis AA dos, et al. Smoking Trends among Brazilian population - National Household Survey, 2008 and the National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2015;18 Suppl 2:45-56. https://doi.org/10.1590/1980-5497201500060005
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Como exemplo, se destaca o Programa Nacional de Controle do Tabagismo, que tem por objetivo reduzir a prevalência de fumantes seguindo um modelo no qual ações de educação, comunicação e atenção à saúde, associadas a medidas legislativas e econômicas, se potencializam para prevenir a iniciação ao tabagismo, promover a cessação tabágica e proteger a população da exposição à fumaça ambiental do tabaco.1919 Instituto Nacional do Câncer [homepage on the Internet]. Rio de Janeiro: INCA; [updated 2016 Jul 28; cited 2018 Sep 4]. Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco; [about 18 screens]. Available from: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/observatorio_controle_tabaco/site/status_politica/a_politica_nacional
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O presente estudo mostrou que os homens fumam mais que as mulheres, corroborando a literatura, que aponta como possível explicação a adoção, por parte das mulheres, de hábitos de vida mais saudáveis, maiores cuidados e, consequentemente, escolhas mais positivas em relação à saúde.2020 Vitor IO, Brevidelli MM, Coutinho RMC. Prevalence of risk factors for nontransmissed chronic disease in nursing students: gender differences. J Health Sci Inst. 2014;32(4):390-5.,2121 Paes NL. Economic factors and gender differences in the prevalence of smoking among adults [Article in Portuguese]. Cienc Saude Colet. 2016;21(1):53-61. https://doi.org/10.1590/1413-81232015211.00162015
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A relação entre tabagismo e idade verificada entre os industriários parece ser semelhante ao que ocorre na população em geral.33 Malta DC, Stopa SR, Santos MAS, Andrade SSCA, Oliveira TP, Cristo EB, et al. Evolution of tobacco use indicators according to telephone surveys, 2006-2014. Cad Saude Publica. 2017;33Suppl 3(Suppl 3):e00134915. https://doi.org/10.1590/0102-311x00134915
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,1111 Malta DC, Vieira ML, Szwarcwald CL, Caixeta R, Brito SM, Dos Reis AA dos, et al. Smoking Trends among Brazilian population - National Household Survey, 2008 and the National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2015;18 Suppl 2:45-56. https://doi.org/10.1590/1980-5497201500060005
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Dados de um inquérito nacional de 201744 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção de Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: o Ministério [cited 2018 Oct 16]. Vigitel Brasil 2017: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico; 2018. [Adobe Acrobat document, 132p.]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2017_vigilancia_fatores_riscos.pdf
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apontaram uma maior prevalência de adultos fumantes na faixa etária de 45-54 anos (11,2%) em comparação a adultos com 18-24 anos (8,5%). Apesar de ser o período da vida onde surgem as primeiras experiências com o cigarro, os mais jovens fumam menos no Brasil, possível reflexo de campanhas e ações direcionadas aos não fumantes2222 Kuhnen M, Boing AF, Oliveira MC de, Longo GZ, Njaine K. Tabagismo e fatores associados em adultos: um estudo de base populacional. Rev Bras Epidemiol. 2009;12(4):615-626. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2009000400011
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e de políticas públicas intersetoriais, tais como o Programa Saúde na Escola e o Programa Saber Saúde, que abordam a prevenção dentro das escolas.2323 Falcão TJ, Costa Ido C. Smoking in a small city: an ethnographic study to serve as a base for the creation of a public health program. J Bras Pneumol. 2008;34(2):91-7. https://doi.org/10.1590/S1806-37132008000200005
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Além disso, a legislação brasileira atua visando reduzir o contato dos mais jovens com o tabaco, proibindo a venda de cigarros para os menores de 18 anos, propagandas desses produtos em veículos de comunicação e patrocínios em eventos esportivos e culturais.1919 Instituto Nacional do Câncer [homepage on the Internet]. Rio de Janeiro: INCA; [updated 2016 Jul 28; cited 2018 Sep 4]. Observatório da Política Nacional de Controle do Tabaco; [about 18 screens]. Available from: http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/observatorio_controle_tabaco/site/status_politica/a_politica_nacional
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Somado a isso, uma política tributária sobre produtos industrializados vem sendo aplicada sobre os maços de cigarro, originando uma alta nos valores finais de venda.2424 Brasil. Presidência da República. Secretaria-Geral. Subchefia para Assuntos Jurídicos [homepage on the Internet]. Brasília: a Presidência [cited 2018 Aug 19]. Decreto no. 8656, de 29 de janeiro de 2016; [about 4 screens]. Available from: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Decreto/D8656.htm
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Nossos resultados mostraram que o status conjugal esteve associado ao tabagismo, indicando uma proteção ao tabagismo para aqueles casados/com companheiro. Diferentes explicações para esse fato partem do pressuposto de que as relações conjugais parecem propiciar uma série de resultados com a aquisição de diferentes comportamentos de saúde, sendo que o maior suporte social recebido por sujeitos casados parece favorecer o abandono do hábito de fumar, enquanto aqueles sem companheiros têm maior tendência à solidão, menor suporte social e elevados níveis de estresse gerados por uma eventual separação, o que pode estimular o hábito de fumar.2525 Umberson D, Montez JK. Social relationships and health: a flashpoint for health policy. J Health Soc Behav. 2010;51 Suppl:S54-66. https://doi.org/10.1177/0022146510383501
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No presente estudo, o aumento da escolaridade fez diminuir as prevalências do uso do tabaco em ambos os sexos. Esse resultado corrobora o perfil da população brasileira; foi demonstrado que a proporção de fumantes diminui com o aumento dos anos de escolaridade tanto entre homens quanto entre mulheres.44 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos não Transmissíveis e Promoção de Saúde [homepage on the Internet]. Brasília: o Ministério [cited 2018 Oct 16]. Vigitel Brasil 2017: vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico; 2018. [Adobe Acrobat document, 132p.]. Available from: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/vigitel_brasil_2017_vigilancia_fatores_riscos.pdf
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Em estudos conduzidos em outros países, como Rússia2626 Perlman F, Bobak M, Gilmore A, McKee M. Trends in the prevalence of smoking in Russia during the transition to a market economy. Tob Control. 2007;16(5):299-305. https://doi.org/10.1136/tc.2006.019455
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) e Índia,2727 Gupta PC, Ray CS. Tobacco, education & health. Indian J Med Res. 2007;126(4):289-99. o comportamento entre variáveis de cunho educacional e o tabagismo foi semelhante. Nessa questão, destaca-se a importância de se entender os fatores que interferem na adoção de modos de vida saudáveis e o quanto as diversas ações de controle do tabagismo alcançam homens e mulheres de diferentes estratos sociais e níveis de escolaridade.2828 Malta DC, Cezário AC, Moura L, Morais Neto OL, Silva Júnior JB. A construção da vigilância e prevenção das doenças crônicas não transmissíveis no contexto do Sistema Único de Saúde. Epidemiol Serv Saude. 2006;15(3):47-65. https://doi.org/10.5123/S1679-49742006000300006
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Em nosso estudo, nenhuma categoria de renda familiar esteve relacionada com tabagismo em ambos os sexos. Independentemente disso, o impacto dos gastos em relação à renda geral parece distinto entre as faixas de renda, pois indivíduos com maior renda gastam proporcionalmente menos em produtos de tabaco, mas, ao mesmo tempo, dispõem de maior acessibilidade a recursos para a cessação do hábito de fumar.2929 Bazotti A, Finokiet M, Conti IL, França MT, Waquil PD. Smoking and poverty in Brazil: an analysis of the profile of the smoking population based on the 2008-09 Brazilian government Family Budget Survey. Cien Saude Colet. 2016;21(1):45-52. https://doi.org/10.1590/1413-81232015211.16802014
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Ao mapear o Brasil de acordo com as regiões geográficas, nota-se que, para ambos os sexos, os trabalhadores da região nordeste apresentaram menor probabilidade de fumar quando comparados aos da região sudeste do país. Ainda, entre as mulheres, a região norte também se destacou por apresentar menor probabilidade de tabagismo quando comparada à região sudeste do país. Um estudo com adultos brasileiros observou que a prevalência de fumo diário variou de 12,8% na região norte a 17,4% na região sul.3030 Barros AJ, Cascaes AM, Wehrmeister FC, Martínez-Mesa J, Menezes AM. Tobacco smoking in Brazil: regional inequalities and prevalence according to occupational characteristics [Article in Portuguese]. Cien Saude Colet. 2011;16(9):3707-16. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011001000008
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Esse achado pode, de certa forma, explicar a maior prevalência de tabagismo na região sul, pois dois dos três estados dessa região, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, são responsáveis por grande parte da produção nacional de fumo, o que pode estar influenciando o maior consumo de tabaco nessa região.3131 Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais-DESER [homepage on the Internet]. Curitiba: DESER; [updated 2003 Dec 19; cited 2018 Aug 19]. Cadeia produtiva do fumo. Revista Contexto Rural no. 4. Available from: http://www.deser.org.br/pub_read.asp?id=85
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Ainda, o maior consumo nessa região pode ser atribuído a aspectos culturais, como a forte influência de populações europeias migrantes e a proximidade de países como Argentina e Uruguai, que atingem prevalências de tabagismo próximas a 30%.1111 Malta DC, Vieira ML, Szwarcwald CL, Caixeta R, Brito SM, Dos Reis AA dos, et al. Smoking Trends among Brazilian population - National Household Survey, 2008 and the National Health Survey, 2013. Rev Bras Epidemiol. 2015;18 Suppl 2:45-56. https://doi.org/10.1590/1980-5497201500060005
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Da mesma forma, alguns estudos de prevalência coordenados pelo governo federal apresentam um maior número de fumantes também na região sul.1515 Nahas MV, Barros M, Oliveira E, Aguiar F da S. Estilo de vida e hábitos de lazer dos trabalhadores das indústrias brasileiras: relatório geral. Brasília: SESI; 2009.,3131 Departamento de Estudos Socioeconômicos Rurais-DESER [homepage on the Internet]. Curitiba: DESER; [updated 2003 Dec 19; cited 2018 Aug 19]. Cadeia produtiva do fumo. Revista Contexto Rural no. 4. Available from: http://www.deser.org.br/pub_read.asp?id=85
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32 Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis: Brasil, 15 capitais e Distrito Federal, 2002-2003. Rio de Janeiro: INCA; 2004.
-3333 Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [homepage on the Internet]. Rio de Janeiro: IBGE [cited 2018 Nov 7]. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2008. Available from: http://www.ibge.gov.br
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Quanto ao consumo de álcool, foi observado que o aumento gradativo no consumo de doses de bebidas alcoólicas também faz aumentar as prevalências de tabagismo. Esse achado é semelhante aos de outros estudos no Brasil, que associaram comportamentos de risco em adultos.88 Opaleye ES, Sanchez ZM, Moura YG, Galduróz JC, Locatelli DP, Noto AR. The Brazilian smoker: a survey in the largest cities of Brazil. Braz J Psychiatry. 2012;34(1):43-51. https://doi.org/10.1590/S1516-44462012000100009
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,3434 Guimarães VV, Florindo AA, Stopa SR, César CLG, Barros MBA, Carandina L, et al. Alcohol abuse and dependence in adults in the State of São Paulo, Brazil [Article in Portuguese]. Rev Bras Epidemiol. 2010;13(2):314-25. https://doi.org/10.1590/S1415-790X2010000200013
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Outro estudo monitorou a prevalência de características e comportamentos relacionados à saúde nos Estados Unidos, Guam, Porto Rico e Ilhas Virgens e observou-se que indivíduos fumantes eram mais propensos a consumirem álcool compulsivamente do que ex-fumantes ou não fumantes.3535 Strine TW, Okoro CA, Chapman DP, Balluz LS, Ford ES, Ajani UA, et al. Health-related quality of life and health risk behaviors among smokers. Am J Prev Med. 2005;28(2):182-7. https://doi.org/10.1016/j.amepre.2004.10.002
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Por conseguinte, o uso de álcool e nicotina em conjunto leva a uma maior vontade de consumir ambas as substâncias.3636 Piasecki TM, Jahng S, Wood PK, Robertson BM, Epler AJ, Cronk NJ, et al. The subjective effects of alcohol-tobacco co-use: an ecological momentary assessment investigation. J Abnorm Psychol. 2011;120(3):557-71. https://doi.org/10.1037/a0023033
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A natureza da relação entre nicotina e álcool sugere que a gravidade da dependência de uma droga poderia ser usada para a outra concomitantemente.3737 Kozlowski LT, Henningfield JE, Keenan RM, Lei H, Leigh G, Jelinek LC, et al. Patterns of alcohol, cigarette, and caffeine and other drug use in two drug abusing populations. J Subst Abuse Treat. 1993;10(2):171-9. https://doi.org/10.1016/0740-5472(93)90042-Z
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Segundo a Organização Mundial da Saúde, há uma tendência crescente, em âmbito mundial, de indivíduos usarem variadas substâncias psicoativas em conjunto e em diferentes momentos, gerando um aumento dos riscos à saúde.3838 WHO ASSIST Working Group. The Alcohol, Smoking and Substance Involvement Screening Test (ASSIST): development, reliability and feasibility. Addiction. 2002;97(9):1183-94. https://doi.org/10.1046/j.1360-0443.2002.00185.x
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Os achados do presente estudo apontaram que trabalhadores com níveis de estresse aumentados apresentaram uma maior prevalência de tabagismo em ambos os sexos. A associação bidirecional pode ocorrer, conforme levantado em outro estudo que, ao analisar bancários, observou uma probabilidade de estresse aumentada em 29% nos fumantes.3939 Koltermann AP, Koltermann ITAP, Tomasi E, Horta BL. Estresse ocupacional em trabalhadores bancários: prevalência e fatores associados. Saúde (Santa Maria). 2011;37(2):33-47. https://doi.org/10.5902/223658342856
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É plausível que essa relação possa ser suscitada a partir da pressão ocupacional sofrida em consequência da precarização do trabalho e do acúmulo de funções e responsabilidades que podem implicar em susceptibilidade ao estresse,4040 Costa FD, Teo CRPA, Almeida JS. Stress vulnerability and feeding: a study in the work context [Article in Portuguese]. Sci Med. 2015;25(2):ID20372. https://doi.org/10.15448/1980-6108.2015.2.20372
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potencializando o reforço ao consumo de tabaco.77 Gilbert DG, McClernon FJ, Gilbert BO. The psychology of the smoker. In: Bollinger CT, Fagerström KO, editors. The tobacco epidemic. Basel: Karger; 1997. https://doi.org/10.1159/000062070
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O estudo apresenta algumas limitações: i) os resultados são dependentes do critério usado para definir “tabagismo”, e as comparações devem considerar esse aspecto; ii) os dados representam os trabalhadores da indústria das capitais brasileiras, podendo não refletir a realidade de trabalhadores de outras localidades e em outros contextos de trabalho; iii) os dados representam um cenário entre os anos 2006 e 2008 e podem não retratar o panorama atual dos trabalhadores; e iv) a amostra foi calculada especificamente para a inclusão de trabalhadores adultos, não representando a população idosa.

Atualmente, o debate sobre a saúde do trabalhador deve considerar o quadro de transformações que estão em curso no mundo do trabalho, no sentido de melhorar o estilo de vida desses trabalhadores. Os resultados mostraram que o comportamento de variáveis como sexo, idade, escolaridade, consumo de álcool e nível de estresse entre os trabalhadores da indústria se assemelha ao encontrado na população de forma geral, indicando que o entendimento pode ser similar. Não obstante, mais estudos precisam ser encorajados, como levantamentos longitudinais, que permitam acompanhar o real impacto dessas e de outras variáveis em relação ao tabagismo nessa população, bem como estudos de intervenção que permitam testar ações favoráveis à mudança de comportamento.

Em síntese, o estudo revelou que 1 em cada 10 trabalhadores fuma, sendo esse hábito maior em homens e em trabalhadores com mais de 30 anos de idade. Ainda, o consumo de bebidas alcoólicas e níveis aumentados de estresse são fatores que potencializam o hábito de fumar.

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  • Apoio financeiro:

    Este estudo recebeu apoio financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) -Código de Financiamento 001 - e do Serviço Social da Indústria (SESI).
  • 2
    Trabalho realizado no Centro de Desportos, Núcleo de Pesquisa em Atividade Física e Saúde, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis (SC) Brasil.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jan 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    27 Fev 2019
  • Aceito
    20 Maio 2019
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