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Valores de referência para a avaliação de membros superiores: estamos diante de uma luz no fim do túnel?

Embora se saiba sobre as alterações sistêmicas causadas pela DPOC, chama a atenção as alterações na mecânica respiratória, a presença constante da dispneia e, portanto, a limitação ao exercício.11 Baarends EM, Schols AM, Slebos DJ, Mostert R, Janssen PP, Wouters EF. Metabolic and ventilatory response pattern to arm elevation in patients with COPD and healthy age-matched subjects. Eur Respir J. 1995;8(8):1345-51. https://doi.org/10.1183/09031936.95.08081345
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,22 McKeough ZJ, Alison JA, Bye PT. Arm exercise capacity and dyspnea ratings in subjects with chronic obstructive pulmonary disease. J Cardiopulm Rehabil. 2003;23(3):218-25. https://doi.org/10.1097/00008483-200305000-00010
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Porém, por muito tempo, a atenção terapêutica teve como foco principal os membros inferiores.22 McKeough ZJ, Alison JA, Bye PT. Arm exercise capacity and dyspnea ratings in subjects with chronic obstructive pulmonary disease. J Cardiopulm Rehabil. 2003;23(3):218-25. https://doi.org/10.1097/00008483-200305000-00010
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,33 Hamilton AL, Killian KJ, Summers E, Jones NL. Symptom intensity and subjective limitation to exercise in patients with cardiorespiratory disorders. Chest. 1996;110(5):1255-63. https://doi.org/10.1378/chest.110.5.1255
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Mesmo considerando que os membros inferiores tenham um impacto no exercício e em atividades elementares como o caminhar, as atividades para membros superiores, principalmente as que promovem elevação acima dos ombros de maneira não sustentada, promovem aumento da demanda metabólica e maior atividade de músculos como o esternocleidomastoideo.44 Dolmage TE, Maestro L, Avendano MA, Goldstein RS. The ventilatory response to arm elevation of patients with chronic obstructive pulmonary disease. Chest. 1993;104(4):1097-100. https://doi.org/10.1378/chest.104.4.1097
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,55 Miranda EF, Malaguti C, Corso SD. Peripheral muscle dysfunction in COPD: lower limbs versus upper limbs. J Bras Pneumol. 2011;37(3):380-8. https://doi.org/10.1590/S1806-37132011000300016
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Este fato pode culminar em assincronia toracoabdominal, assim como em assincronia do diafragma e de seus acessórios, prejudicando a ventilação.44 Dolmage TE, Maestro L, Avendano MA, Goldstein RS. The ventilatory response to arm elevation of patients with chronic obstructive pulmonary disease. Chest. 1993;104(4):1097-100. https://doi.org/10.1378/chest.104.4.1097
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5 Miranda EF, Malaguti C, Corso SD. Peripheral muscle dysfunction in COPD: lower limbs versus upper limbs. J Bras Pneumol. 2011;37(3):380-8. https://doi.org/10.1590/S1806-37132011000300016
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6 Celli BR, Rassulo J, Make BJ. Dyssynchronous breathing during arm but not leg exercise in patients with chronic airflow obstruction. N Engl J Med. 1986;314(23):1485-90. https://doi.org/10.1056/NEJM198606053142305
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-77 Lima VP, Iamonti VC, Velloso M, Janaudis-Ferreira T. Physiological Responses to Arm Activity in Individuals With Chronic Obstructive Pulmonary Disease Compared With Healthy Controls: A SYSTEMATIC REVIEW. J Cardiopulm Rehabil Prev. 2016;36(6):402-412. https://doi.org/10.1097/HCR.0000000000000190
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Quando se trata de pacientes com DPOC, especialmente em relação às atividades não sustentadas de membros superiores, essa assincronia tende a ficar ainda mais evidente, podendo os pacientes apresentar frequentemente hiperinsuflação dinâmica e dispneia durante o exercício.66 Celli BR, Rassulo J, Make BJ. Dyssynchronous breathing during arm but not leg exercise in patients with chronic airflow obstruction. N Engl J Med. 1986;314(23):1485-90. https://doi.org/10.1056/NEJM198606053142305
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7 Lima VP, Iamonti VC, Velloso M, Janaudis-Ferreira T. Physiological Responses to Arm Activity in Individuals With Chronic Obstructive Pulmonary Disease Compared With Healthy Controls: A SYSTEMATIC REVIEW. J Cardiopulm Rehabil Prev. 2016;36(6):402-412. https://doi.org/10.1097/HCR.0000000000000190
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-88 Robles P, Araujo T, Brooks D, Zabjek K, Janaudis-Ferreira T, Marzolini S, et al. Does limb partitioning and positioning affect acute cardiorespiratory responses during strength exercises in patients with COPD? Respirology. 2017;22(7):1336-1342. https://doi.org/10.1111/resp.13056
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Embora, no caso de membros inferiores, as atividades possam ser mensuradas mais objetivamente utilizando-se acelerômetros posicionados nos quadris ou nas pernas, a informação sobre o quanto e como de fato os pacientes movimentam os membros superiores ainda é considerada uma informação limitada.88 Robles P, Araujo T, Brooks D, Zabjek K, Janaudis-Ferreira T, Marzolini S, et al. Does limb partitioning and positioning affect acute cardiorespiratory responses during strength exercises in patients with COPD? Respirology. 2017;22(7):1336-1342. https://doi.org/10.1111/resp.13056
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,99 Frykholm E, Lima VP, Janaudis-Ferreira T, Nyberg A. Physiological responses to arm versus leg activity in patients with chronic obstructive pulmonary disease: a systematic review protocol. BMJ Open. 2018;8(2):e019942. https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-019942
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Desde uma importante revisão sistemática com 41 estudos conduzida por Janaudis-Ferreira et al.,1010 Janaudis-Ferreira T, Beauchamp MK, Goldstein RS, Brooks D. How should we measure arm exercise capacity in patients with COPD? A systematic review. Chest. 2012;141(1):111-120. https://doi.org/10.1378/chest.11-0475
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já se recomendavam alguns testes para mensuração da endurance e da capacidade funcional em relação a exercícios não sustentados para membros superiores, como, por exemplo, o unsupported upper limb exercise test (teste de exercício não sustentado para membros superiores) e o teste de argolas de seis minutos (TA6).1111 Zhan S, Cerny FJ, Gibbons WJ, Mador MJ, Wu WY. Development of an unsupported arm exercise test in patients with chronic obstructive pulmonary disease. J Cardiopulm Rehabil. 2006;26(3):180-7; discussion 188-90. https://doi.org/10.1097/00008483-200605000-00013
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O TA6 foi descrito por Zhan et al.1111 Zhan S, Cerny FJ, Gibbons WJ, Mador MJ, Wu WY. Development of an unsupported arm exercise test in patients with chronic obstructive pulmonary disease. J Cardiopulm Rehabil. 2006;26(3):180-7; discussion 188-90. https://doi.org/10.1097/00008483-200605000-00013
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trata-se de um teste bastante simples, de baixo custo, que simula bem as atividades de vida diária, durante o qual o paciente deve manusear 20 argolas (10 para cada braço) transportando-as de pinos de madeira em posição inferior para pinos em posição superior e, ao término de todas as argolas, faz-se a movimentação reversa. O resultado do teste é expresso em número de argolas que o paciente consegue mover em seis minutos.

Uma vez que já fora validado1111 Zhan S, Cerny FJ, Gibbons WJ, Mador MJ, Wu WY. Development of an unsupported arm exercise test in patients with chronic obstructive pulmonary disease. J Cardiopulm Rehabil. 2006;26(3):180-7; discussion 188-90. https://doi.org/10.1097/00008483-200605000-00013
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e considerado reprodutível em sujeitos saudáveis,1212 Lima VP, Velloso M, Almeida FD, Carmona B, Ribeiro-Samora GA, Janaudis-Ferreira T. Test-retest reliability of the unsupported upper-limb exercise test (UULEX) and 6-min peg board ring test (6PBRT) in healthy adult individuals. Physiother Theory Pract. 2018 Jan 19:1-7. [Epub ahead of print] https://doi.org/10.1080/09593985.2018.1425786
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tornou-se necessário e interessante, do ponto de vista da prática clínica e também da pesquisa, conhecer valores de referência para o TA6.

Indo nessa direção, Lima et al.,1313 Lima VP, Almeida FD, Janaudis-Ferreira T, Carmona B, Ribeiro-Samora GA, Velloso M. Reference values for the six-minute pegboard and ring test in healthy adults in Brazil. J Bras Pneumol. 2018;44(3):190-4.) num estudo muito elegante e bem delineado com 104 sujeitos saudáveis, realizaram o TA6 a fim de se estabelecer, de forma inédita, valores de referência para uma população saudável. O estudo apresenta boa distribuição de sujeitos por cada década de faixa etária (de 30 a maiores que 80 anos) e com adequada proporção entre homens e mulheres, o que faz com que a equação proposta tenha boa validade externa, podendo ser generalizada para qualquer sexo e faixa etária. Embora o estudo tenha levado em consideração o comprimento dos braços, circunferências de braço e de antebraço, assim como o nível de atividade física, somente a idade parece ter influenciado os resultados obtidos no TA6.

Fadiga e dispneia são frequentemente observadas na execução de atividades não sustentadas de membros superiores por pacientes com DPOC, limitando-os quanto às atividades de vida diária. Com o fato de o treinamento dos membros superiores ter sido tão bem incorporado por programas de reabilitação pulmonar,1414 McKeough ZJ, Velloso M, Lima VP, Alison JA. Upper limb exercise training for COPD. Cochrane Database Syst Rev. 2016;11:CD011434. https://doi.org/10.1002/14651858.CD011434.pub2
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conhecer valores que nos norteiem sobre a real funcionalidade e endurance dos mesmos se mostra muito importante e promissor.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    May-Jun 2018
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