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Editorial

EDITORIAL

Crises não-epilépticas psicogênicas (CNEP) são comuns. Qualquer profissional responsável pelo atendimento a pacientes portadores de " epilepsia" cedo ou tarde irá defrontar-se com este diagnóstico.

Seria provavelmente honesto sugerir aos nossos leitores alguma atenção: observe cuidadosamente seus próximos 100 pacientes atendidos sob a impressão diagnóstica de " epilepsia" . Doze serão portadores de crises não-epilépticas psicogênicas e destes possivelmente oito serão mulheres. Quatro indivíduos neste grupo apresentarão os dois diagnósticos (epilepsia e CNEP) coexistindo em uma complexa e desafiadora simbiose. Em sua maior parte não será fácil abordá-los e em muitos haverá dificuldades e frustração no tratamento. A psicopatologia envolvida será diversa e por vezes severa. Será tentador encaminhá-los a um psiquiatra, mas não recebam com surpresa a percepção de que poucos estarão realmente dispostos a tratá-los. Os que tentarem utilizarão instrumentos diagnósticos válidos para transtornos psiquiátricos sensu latu e descobrirão, particularmente nos casos em que o diagnóstico é compartilhado (novamente, epilepsia e CNEP) que há alterações comportamentais quase "específicas" de pessoas com epilepsia, possivelmente secundárias a disfunção de uma circuitaria comum e ainda pobremente compreendida.

Em decorrência da multiprofissional profusão de testes a que são submetidos estes pacientes, o estudo das crises psicogênicas constitui uma rara oportunidade de abordar o comportamento humano sob uma fascinante perspectiva, digamos, "neuropsicosociobiológica" .

Com esta premissa e contando a colaboração da Dra. Kette Valente, Co-Editora deste suplemento, intencionamos oferecer aos nossos leitores uma revisão propositalmente objetiva dos principais aspectos relacionados às CNEP, almejando principalmente difundir estes temas e, esperançosamente, cooptar mais interessados na matéria.

Finalmente, em uma nota pessoal, porém ainda de fundamento acadêmico relacionado a este suplemento, nosso reconhecimento ao Dr. John R. Gates, falecido precocemente e tido como iniciador (contemporâneo) do estudo das CNEP, na "era" da Vídeo-Eletrencefalograma. O mesmo reconhecimento foi oferecido durante a reunião do Grupo de Interesse Especial em Crises Não-Epilépticas Psicogênicas da Sociedade Americana de Epilepsia, em dezembro/2007, em alusão ao segundo ano de seu falecimento, completado no mês de setembro próximo-passado. Suas idéias, felizmente, não nos deixaram.

A todos, boa leitura.

Luciano De Paola

Editor

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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