Embora sejam morfologicamente semelhantes, os hemisférios cerebrais apresentam diferenças funcionais geneticamente determinadas. Ainda assim, anormalidades eletrencefalográficas focais deveriam ocorrer simetricamente numa população geral, embora a literatura tenha referido um predomínio à esquerda. Nosso objetivo é relatar o primeiro estudo latino-americano sobre uma grande série de EEGs, no intuito de observar se há lateralização de anormalidades focais. MÉTODO: Foram estudados retrospectivamente 10.408 EEGs, realizados de abril de 2001 a abril de 2010, os quais foram classificados de acordo com a presença de anormalidades focais específicas (descargas) e inespecíficas (ondas lentas focais). Os EEGs foram divididos de acordo com o gênero e a idade, e foram analisados achados clínicos associados. RESULTADOS: As descargas foram mais prevalentes no hemisfério cerebral esquerdo, no lobo temporal, observando-se uma lateralização mais forte entre os adultos. À direita, elas prevaleceram no lobo frontal. Ondas lentas focais prevaleceram também à esquerda e no lobo temporal, especialmente entre os adultos. Entre os que apresentaram ondas lentas à esquerda, observou-se maior prevalência entre as mulheres. Os homens prevaleceram entre os que apresentaram ondas lentas à direita. À esquerda, ondas lentas prevaleceram nos lobos temporal e parietal. À direita, nos lobos frontal e occipital. Epilepsia foi o achado clínico mais associado à presença de descargas em ambos os hemisférios cerebrais. Ondas lentas à direita foram mais associadas a epilepsia, enquanto que, à esquerda, elas foram mais associadas a cefaleia. CONCLUSÃO: Houve diferenças entre os hemisférios cerebrais quanto à lateralização das anormalidades focais, assim como entre os gêneros, faixas etárias analisadas e quadro clínico associado.
lateralização; eletrencefalograma; atividade epileptiforme; ondas lentas