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Mortalidade hospitalar de recém-nascidos de muito baixo peso

CARTAS AO EDITOR

Foi com grande interesse que lemos o artigo sobre a mortalidade hospitalar de recém nascidos com peso inferior a 1500 g em Fortaleza (Brasil)1 e seu comentário editorial2. No artigo original, menciona-se que "várias iniciativas foram desenvolvidas para a formação de redes neonatais multicêntricas", como a do Sul-Sudeste do Brasil, a Vermont Oxford Network (VON) e a do NICHD e que "é interessante comparar com os dados da cidade de Montevidéu, já que é uma cidade latino-americana com uma população semelhante a Fortaleza". No editorial, os autores sugerem comparar os resultados de Fortaleza com os de outras UTIN brasileiras, especialmente a Rede Brasileira de Pesquisa Neonatal2.

Acreditamos que houve uma omissão ao não incluir o Grupo Colaborativo NEOCOSUR ( http://sistemas.med.puc.cl/Neocosur/neocosur.asp) cujo objetivo é coletar prospectivamente as características biodemográficas dos recém nascidos com peso inferior a 1500 g e de suas mães, e analisar a incidência das patologias neonatais de maior impacto, comparando, através dos anos, a tendência à mudança das práticas médicas.

Esta rede está formada por 16 Unidades Neonatais de cinco países sul-americanos (Argentina, Chile, Peru, Paraguai e Uruguai) e acumula, de 2000 a 2005, um total de 5.093 casos, sendo o índice de mortalidade intra-hospitalar de 26,6%, inferior à relatada em Fortaleza e Montevidéu. Tem publicações em revistas indexadas3, inclusive o Jornal de Pediatria4, bem como apresentações em diferentes reuniões científicas como a SPR e SLAIP. Além disso, explorou, dentro da população de RNMBP, a morbimortalidade dos pequenos para a idade gestacional (< percentil 10 para a idade gestacional) sendo que, conforme o editorial, "seu monitoramento permanente é um elemento chave para uma crescente redução da mortalidade neonatal"5.

Outra estratégia implementada a partir dos dados coletados pela NEOCOSUR foi o desenvolvimento de uma nova pontuação de risco de morte neonatal, superior em seu valor preditivo ao CRIB e NICHD, que é utilizada para a comparação da qualidade do atendimento entre centros (benchmarking), propondo assim recomendações, bem como uma variável de ajuste em outras pesquisas6.

Em total acordo com o proposto no editorial, acreditamos que, em nossa região, um fator transcendente na previsão da morbi-mortalidade destas crianças tão vulneráveis não é a disponibilidade de recursos tecnológicos, mas sim a aplicação de intervenções baseadas em evidência (como corticóides pré-natal - cobertura de NEOCOSUR 71%) e recursos humanos (fundamentalmente enfermeiros).

Os países em desenvolvimento da América Latina deveriam reunir esforços, como os empreendimentos brasileiros e do Grupo Colaborativo NEOCOSUR, para explorar e desenvolver estratégias originais que permitam uma importante redução da mortalidade neonatal, principal componente da mortalidade infantil.

Referências

1. Castro E, Leite A. Hospital mortality rates of infants with birth weight less than ore equal to 1,500 g in the northeast of Brazil. J Pediatr (Rio J). 2007;83:27-32.

2. Barros FC, Diaz-Rosello JL. The quality of care of very low birth weight babies in Brazil. J Pediatr (Rio J). 2007;83:5-6.

3. Grupo Colaborativo Neocosur. Very-low-birth-weight infant outcomes in 11 South American NICUs. J Perinatol. 2002;22:2-7.

4. Tapia JL, Agost D, Alegria A, Standen J, Escobar M, Grandi C, et al. Bronchopulmonary dysplasia: incidence, risk factors and resource utilization in a population of South American very low birth weight. J Pediatr (Rio J). 2006;82:15 -20.

5. Grandi C, Tapia JL, Marshall G, Grupo Colaborativo NEOCOSUR. Evaluación de la severidad, proporcionalidad y riesgo de muerte de recién nacidos de muy bajo peso con restricción del crecimiento fetal. Análisis multicéntrico sudamericano. J Pediatr (Rio J). 2005;81:198-204.

6. Marshall G, Tapia JL, D'Apremont I, Grandi C, Barros C, Alegria A, et al. A new score for predicting neonatal very low birth weight mortality risk in the NEOCOSUR South American Network. J Perinatol. 2005;25:577-82.

Carlos Grandi

MD, MS, PhD. Grupo Colaborativo NEOCOSUR.

Resposta dos Autores

Prezado Editor,

Foi muito estimulante perceber a leitura atenta de nosso artigo e a disposição para o intercâmbio de preocupações e idéias para reduzir a morbimortalidade perinatal por parte do Dr. Carlos Grandi, do Grupo Colaborativo NEOCOSUR.

Essa demonstração evidente da vitalidade da perinatologia em nossa região é muito alentadora e aponta para um patamar de mudanças que estão na ordem do dia: melhorar o padrão das práticas clínicas na região e obter impacto positivo na saúde de nossos recém-nascidos. Para tanto, uma das iniciativas é organizar serviços de saúde, vale dizer, unidades neonatais, em uma perspectiva de trabalho colaborativo, em rede, que supere o isolamento dos profissionais e os insira em processos de aprendizagem colaborativa que objetivem aumento de conhecimentos e mudanças das práticas profissionais.

Recentemente, a Área de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde e o Núcleo de Assistência, Ensino e Assistência da Infância César Victora (NEAPI) da Pediatria da Faculdade de Medicina/UFC firmaram convênio para operacionalizar a Rede Norte-Nordeste de Saúde Perinatal. Essa rede aglutinará cerca de 70 unidades neonatais nas duas regiões e coletará informações de aproximadamente 1.500 recém-nascidos a cada mês.

Uma proposta básica da rede é possibilitar aos profissionais desenvolver a cultura da inovação e avaliação da própria experiência mediante estratégias de educação permanente, tipo Círculo de Qualidade (www.renospe.org/novo).

Comparar nosso desempenho com condições ideais e refletir sobre o que acontece com a saúde dos recém-nascidos em países ou regiões com realidades próximas às nossas tem potencial inovador e poderá criar diversas oportunidades de cooperação com experiências similares na região.

A rede NEOCOSUR vem sendo acompanhada por nosso grupo desde meados de 2005 e, a partir de agora, tornam-se maduras as condições para um efetivo conhecimento e cooperação da experiência das regiões brasileiras menos desenvolvidas com nossos vizinhos.

Álvaro Jorge Madeiro Leite

Doutor. Professor adjunto, Departamento de Saúde Materno-Infantil, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, CE.

Eveline Campos Monteiro de Castro

Mestre, Faculdade de Medicina, UFC, Fortaleza, CE.

  • Mortalidade hospitalar de recém-nascidos de muito baixo peso

    Prezado Editor,
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Ago 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2007
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