Acessibilidade / Reportar erro

O estado atual do conhecimento sobre a exposição ambiental no organismo infantil durante os períodos sensíveis de desenvolvimento Como citar este artigo: Perlroth NH, Branco CW. Current knowledge of environmental exposure in children during the sensitive developmental periods. J Pediatr (Rio J). 2017;93:17-27.

Resumo:

Objetivo:

O presente estudo busca identificar as evidências científicas sobre os riscos e efeitos da exposição de contaminantes ambientais no organismo infantil durante os períodos sensíveis de seu desenvolvimento.

Fonte de dados:

As pesquisas foram feitas pelo banco de dados da Bireme, com os termos children's health, environmental exposure, health vulnerability, toxicity pathways e developmental disabilities nos sistemas Lilacs, Medline e SciELO.

Síntese de dados:

A criança difere do adulto por suas características singulares de ordem fisiológica, comportamental e do potencial de exposição a riscos frente às ameaças do ambiente. A exposição a agentes tóxicos é analisada por meio dos processos toxicocinéticos nos sistemas e órgãos durante as janelas sensíveis do desenvolvimento infantil. Os efeitos causados transparecem no aumento da prevalência de malformações congênitas, diarreia, asma, cânceres, distúrbios endócrinos e neurológicos, entre outros, com impactos negativos ao longo da vida adulta.

Conclusão:

Identificar as causas e compreender os mecanismos envolvidos na gênese desses agravos é um desafio que se impõe à ciência, visto que ainda há uma lacuna de conhecimento sobre a suscetibilidade infantil para muitos contaminantes ambientais. Políticas de prevenção e mais pesquisas em saúde ambiental infantil, que impulsionem o registro e a vigilância epidemiológica dos riscos ambientais à saúde da criança, devem ser uma prioridade contínua no campo da saúde pública.

PALAVRAS-CHAVE
Saúde infantil; Exposição ambiental; Vulnerabilidade; Vias de penetração da toxicidade; Deficiências do desenvolvimento

Abstract:

Objective:

This study aims to identify the scientific evidence on the risks and effects of exposure to environmental contaminants in children during sensitive developmental periods.

Data source:

The search was performed in the Bireme database, using the terms: children's health, environmental exposure, health vulnerability, toxicity pathways and developmental disabilities in the LILACS, MEDLINE and SciELO systems.

Data synthesis:

Children differ from adults in their unique physiological and behavioral characteristics and the potential exposure to risks caused by several threats in the environment. Exposure to toxic agents is analyzed through toxicokinetic processes in the several systems and organs during the sensitive phases of child development. The caused effects are reflected in the increased prevalence of congenital malformations, diarrhea, asthma, cancer, endocrine and neurological disorders, among others, with negative impacts throughout adult life.

Conclusion:

To identify the causes and understand the mechanisms involved in the genesis of these diseases is a challenge for science, as there is still a lack of knowledge on children's susceptibility to many environmental contaminants. Prevention policies and more research on child environmental health, improving the recording and surveillance of environmental risks to children's health, should be an ongoing priority in the public health field.

KEYWORDS
Children's health; Environmental exposure; Vulnerability; Pathways of toxicity penetration; Developmental disability

Introdução

Em 1946, a Organização Mundial da Saúde declarou em carta aberta aos seus membros que todas as crianças têm direito a um desenvolvimento saudável no qual possam viver harmoniosamente num ambiente variável11 WHO. Constitution of the World Health Organization. Copy of the original print version. Am J Public Health Nations Health. 1946;36:1315-1323. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1625885/pdf/amjphnation00639-0074.pdf [cited 13.01.15].
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles...
e, assim, num futuro próximo,atingir seu pleno potencial como cidadãos do mundo.22 WHO. Children's Health and the Environment - a global perspective. A resource guide for the health sector. Geneva: World Health organization; 2005. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43162/1/9241562927_eng.pdf [cited 12.07.15].
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
Numa visão mais ampla, podemos sugerir que esse conceito de ambiente inclua não só o mundo natural, mas também o contexto físico dentro do qual a criança interage com o seu mundo: o ambiente externo (ar, água, terra e seres vivos); a comunidade (o ambiente social, a escola e o bairro em que vive); e o ambiente domiciliar.33 David B. Introduction. In: Making a difference: indicators to improve children's environmental health. Geneva: World Health Organization; 2003. p. 1-2.

O interesse e o grau de conhecimento sobre distintos modos em que o ambiente pode influenciar a saúde infantil nos locais onde permanecem no seu dia a dia aumentaram de forma considerável nas últimas duas décadas.22 WHO. Children's Health and the Environment - a global perspective. A resource guide for the health sector. Geneva: World Health organization; 2005. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43162/1/9241562927_eng.pdf [cited 12.07.15].
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
Eles incluem não apenas a criança como ser biológico com um potencial genético, mas também a interação de uma multiplicidade de influências (físicas, químicas e biológicas) e de fatores (psicossociais, culturais e econômicos) que refletem de modo complexo na vida infantil.44 Brent RL, Weitzman M. The current state of knowledge about the effects, risks, and science of children's environmental exposures. Pediatrics. 2004;113:S1158-S1166.

5 The National Academies Press - NAP. Children's health, the nation's wealth: assessing and improving child health. National Research Council and Institute of Medicine. Washington, DC: The National Academies Press; 2004. p. 45-90.

6 Landrigan PG, Garg A. Children are not little adults. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment. A global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 3-16.
-77 Paris EB. La importancia de la salud ambiental y el alcance de las unidades de pediatría ambiental. Rev Med Chile. 2009;137:101-105.

As crianças constituem 26% da população mundial e estão entre os grupos mais vulneráveis a se expor a riscos ambientais, que se estimam em mais de 30% (31-40%) da carga global de doenças, principalmente nos menores de cinco anos.88 Prüss-Üstün A, Corvalán C. Preventing disease through healthy environments: towards an estimate of the environmental burden of disease. Geneva: World Health Organization; 2006.,99 WHO. Principles for evaluating health risks in children associated with exposure to chemical. Environmental Health Criteria Nº 237. Geneva: World Health Organization; 2006. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43604/1/924157237X_eng.pdf [cited 16.03.15].
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
A frente desse retrato perverso, do total estado de desequilíbrio entre a criança e seu ambiente, está uma população de 223 milhões de pequenos cidadãos que nas últimas duas décadas, morreram antes de completar cinco anos.1010 United Nations Children's Fund. Compromisso com a sobrevivência infantil: uma promessa. Relatório de progresso 2014. Resumo executivo. Brasil: UNICEF; 2014.

Ambientes insalubres, situações desfavoráveis ao acesso à água potável, destinação de dejetos (saneamento), renda familiar restrita, baixo nível de escolaridade dos pais e interrupção precoce do aleitamento materno podem contribuir para o adoecimento e a mortalidade infantis.1111 Ercumen A, Gruber JS, Colford JM. Water distribution system deficiencies and gastrointestinal illness: a systematic review and meta-analysis. Environ Health Perspect. 2014;122:651-660.,1212 Rodriguez L, Cervantes E, Ortiz R. Malnutrition and gastrointestinal and respiratory infections in children: a public health problem. Int J Environ Res Public Health. 2011;8:1174-1205. Ao redor do mundo, 10% de todas as doenças registradas na população infantil poderiam ser evitadas se os governos investissem mais em acesso à água, medidas de higiene das mãos e saneamento básico.1313 Prüss-Ustün A, Bartram J, Clasen T, Colford JM, Cumming O, Curtis V, et al. Burden of disease from inadequate water, sanitation and hygiene in low- and middle-income settings: a retrospective analysis of data from 145 countries. Trop Med Int Health. 2014;19:894-905.

Não podemos esquecer os mais de um milhão de menores que morrem anualmente em decorrência de doenças respiratórias agudas, 60% relacionadas a poluentes ambientais.1010 United Nations Children's Fund. Compromisso com a sobrevivência infantil: uma promessa. Relatório de progresso 2014. Resumo executivo. Brasil: UNICEF; 2014. Ecossistemas degradados, fumaça ambiental, poluição do ar e mudanças climáticas são os prováveis fatores que causam as alterações no estado de saúde dessa população.1414 Mello-da-Silva CA, Fruchtengarten L. Riscos químicos ambientais à saúde da criança. J Pediatr (Rio J). 2005;81:S205-S211.,1515 Quiroga D. La historia ambiental pediátrica. In: Manual de salud ambiental infantil. Chile: LOM Editores; 2009. p. 27---31. Os caminhos pelos quais esses agentes podem agir e atuar mutuamente nem sempre são claros, e muitas vezes são indiretos, mas suas consequências são consideradas um risco para a integridade das vias aéreas, por alterar o equilíbrio do aparelho respiratório, influenciar as interações entre o hospedeiro, patógeno e ambiente e aumentar a probabilidade de infecção nessa população.1616 du Prel JB, Puppe W, Grondahl B, Knuf M, Weigl JAI, Schaaff F, et al. Are meteorological parameters associated with acute respiratory tract infections? Clin Infect Dis. 2009;49:861-868.,1717 Martins AL, Trevisol FS. Internações hospitalares por pneumonia em crianças menores de cinco anos de idade em um hospital no Sul do Brasil. Revista da AMRIGS (Porto Alegre). 2013;57:304-308.

A depender de idade, sexo, região geográfica e status socioeconômico, crianças têm hábitos peculiares de comportamento. São dependentes das etapas de desenvolvimento marcadas por transformações físicas, psicossociais e cognitivas, do potencial de exposição a riscos e das percepções parentais quanto às aquisições de habilidades e competências frente às diversas ameaças físicas no ambiente domiciliar.1818 Promoting health and preventing illness.Hagan JF, Shaw JS, Duncan PM, editors. Bright futures: guidelines for health supervision of infants, children, and adolescents. 3rd ed. Pocket Guide. Elk Grove Village IL: American Academy of Pediatrics; 2008, xii.,1919 Waksman RD, Blank D, Gikas RM. Injúrias ou lesões não-intencionais "acidentes" na infância e na adolescência. São Paulo: MedicinaNet; 2010. Available from: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1783/injurias_ou_lesoes_nao_intencionais_%E2%80%9Cacidentes%E2%80%9D_na_infancia_e_na_adolescencia.htm [cited 14.06.15].
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/...
O mais problemático é que, enquanto baixos níveis de exposição infantil a muitos produtos químicos são inevitáveis, pouco se sabe sobre os riscos de tais exposições na morbidade, mortalidade e alterações sutis nessa população.44 Brent RL, Weitzman M. The current state of knowledge about the effects, risks, and science of children's environmental exposures. Pediatrics. 2004;113:S1158-S1166.,2020 California Childcare Health Program - CCHP. Environmental health. 1st ed. California Training Institute. University of California, San Francisco School of Nursing, Department of Family Health Care Nursing; 2006. Ressalta-se que esses produtos expostos no ambiente podem atuar sinergicamente, o que significa que o seu efeito combinado pode ser mais lesivo ao público infantil.

Baseados na premissa de que a população infantil reage ao ambiente de modo muito singular, avanços científicos têm fornecido hipóteses e até fortes argumentações sobre como hábitos de vida e o ambiente social em que uma criança está inserida podem alterar o funcionamento de seus genes. Medicamentos, pesticidas, poluentes do ar, produtos químicos, metais pesados, hormônios e produtos de nutrição, entre outros, são exemplos de elementos que podem implicar modificações de expressões gênicas que serão herdadas nas próximas gerações.2121 Smith MT, McHale CM, Wiemels JL, Zhang LP, Wiencke JK, Zheng SC, et al. Molecular biomarkers for the study of childhood leukemia. Toxicol Appl Pharmacol. 2005;206:237-245.,2222 Edwards TM, Myers JP. Environmental exposures and gene regulation in disease etiology. Environ Health Perspect. 2007;115:1264-1270.

Essa susceptibilidade está sempre centrada em agentes ou compostos específicos em cenários de exposição específicos, incluindo exposições intraútero,2323 Juberg DR. Introduction. In: Are children more vulnerable to environmental chemicals? Scientific and regulatory issues in perspective. New York: American Council on Science and Health; 2003. p. 11-6. que podem interferir durante períodos cruciais e sensíveis do crescimento e desenvolvimento infantil e ter um impacto negativo ao longo da vida e causar déficit estrutural e funcional, invalidez transitória ou permanente e até mesmo o óbito.2424 Hertzman C. The case for an early childhood developmental strategy. Isuma. 2000;1:11-18. Ela ocorre porque crianças não têm controle sobre os ambientes nos períodos pré-natal e pós-natal, inclusive a qualidade do ar que respiram, a água que bebem, a comida que comem2525 Wigle DT. Environmental threats to child health: overview. In: Child health and the environment. New York: Oxford University Press; 2003. p. 1-26. e a exposição a vetores transmissores de doenças.2626 Fiocruz. Pesquisa da Fiocruz Paraná confirma transmissão intra-uterina do zika vírus. Brasil: Fiocruz Paraná; 2016. Available from: http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/pesquisa-da-fiocruz-parana-confirma-transmissao-intra-uterina-do-zika-virus [cited 28.03.16].
http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/p...

Com relação à infecção por vetores, há o reconhecimento científico de que o Estado brasileiro, com epicentro na Região Nordeste, tem apresentado desde outubro de 2015 um claro excesso no número de casos de recém-nascidos que apresentam microcefalia e anomalias cerebrais graves,2727 PAHO, WHO. Epidemiological alert. Neurological syndrome, congenital malformations, and Zika virus infection. Implications of public health in the Americas. USA: Pan American Health Organization and World Health Organization; 2015. Available from: http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_docman&task=doc_view&Itemid=270&gid=32405&lang=en [cited 03.01.16].
http://www.paho.org/hq/index.php?option=...
,2828 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia - Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional - ESPIN. Versão 1.3. Brasília: Ministério da Saúde; 2016. cujo responsável comprovadamente é o zika vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, resultante de exposição materna durante os primeiros meses de gestação.2929 Costa F, Sarno M, Ricardo Khouri R, Freitas BP, Isadora Siqueira I, Ribeiro GS, et al. Emergence of congenital zika syndrome: viewpoint from the front lines. Ann Intern Med. 2016. Available from: http://annals.org/article.aspx?articleid=2498549 [cited 24.03.16].
http://annals.org/article.aspx?articleid...

30 European Centre for Disease Prevention and Control. Zika virus epidemic in the Americas: potential association with microcephaly and Guillain-Barré syndrome (first update). Stockholm: ECDC; 2016, 21 January 2016. Available from: http://ecdc.europa.eu/en/publications/Publications/rapid-risk-assessment-zika-virus-first-update-jan-2016.pdf [cited 24.03.16].
http://ecdc.europa.eu/en/publications/Pu...

31 Rasmussen SA, Jamieson DJ, Margaret A, Honein MA, Petersen LR. Zika virus and birth defects - reviewing the evidence for causality. Special report. N Engl J Med. 2016;:1-7.
-3232 WHO. WHO Director-General summarizes the outcome of the Emergency Committee regarding clusters of microcephaly and Guillain-Barré syndrome. Geneva: World Health Organization; 2016. Available from: http://who.int/mediacentre/news/statements/2016/emergency-committee-zika-microcephaly/en/ [cited 28.03.16].
http://who.int/mediacentre/news/statemen...
Por também transmitir a dengue e a chicungunha, a eliminação desse mosquito é considerada, desde fevereiro de 2016, pela Organização Mundial da Saúde, uma emergência internacional em saúde pública.3232 WHO. WHO Director-General summarizes the outcome of the Emergency Committee regarding clusters of microcephaly and Guillain-Barré syndrome. Geneva: World Health Organization; 2016. Available from: http://who.int/mediacentre/news/statements/2016/emergency-committee-zika-microcephaly/en/ [cited 28.03.16].
http://who.int/mediacentre/news/statemen...

Ainda durante a gestação, a exposição materna a agentes químicos resultantes de atividades industriais, agrícolas e de exploração mineral pode refletir no possível aumento da prevalência de prematuridade,3333 Winchester P, Proctor C, Ying J. County-level pesticide use and risk of shortened gestation and preterm birth. Acta Paediatr. 2016;105:e107-e115. cânceres hematopoiéticos,3434 Chen M, Chang CH, Tao L, Lu C. Residential exposure to pesticide during childhood and childhood cancers: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;136:719-729.,3535 Curvo HR, Pignati WA, Pignatti MG. Morbimortalidade por câncer infanto juvenil associada ao uso agrícola de agrotóxicos no Estado de Mato Grosso, Brasil. Cad Saúde Coletiva. 2013;21:10-17. malformações congênitas, asma, distúrbios endócrinos, neurológicos e comportamentais de seus filhos.3636 Grandjean P, Landrigan PJ. Neurobehavioural effects of developmental toxicity. Lancet Neurol. 2014;13:330-338.

37 Eskenazi B, Bradman A, Castorina R. Exposures of children to organophosphate pesticides and their potential adverse health effects. Environ Health Perspect. 1999;107:S409-S419.

38 Turner MC, Wigle DT, Krewski D. Residential pesticides and childhood leukemia: a systematic review and meta-analysis. Environ Health Perspect. 2010;118:33-41.
-3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533. Já os efeitos biológicos decorrentes da exposição materna a agentes físicos, como à radiação ionizante (dose acima de 250 mGy), podem levar a óbito intrauterino, malformações congênitas, distúrbios do crescimento fetal e efeitos carcinogênicos.4040 D'Ippolito G, Medeiros RB. Exames radiológicos na gestação. Radiol Bras. 2005;38:447-450.

Diante desses fatos, o objetivo desse artigo é explorar as evidências científicas sobre os impactos da exposição de contaminantes ambientais no organismo infantil durante os períodos sensíveis de seu desenvolvimento, com base em suas especiais características.

Características particulares das crianças

Porque cresce e se desenvolve, a população infantil é um grupo demográfico peculiar com relação à biologia, aos processos fisiológicos, metabólicos e de comportamento, processos esses complexos e multifacetados.88 Prüss-Üstün A, Corvalán C. Preventing disease through healthy environments: towards an estimate of the environmental burden of disease. Geneva: World Health Organization; 2006.,4141 Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Identifying critical windows of exposure for children's health. Environ Health Perspect. 2000;108:S451-S455. Desde a fase embrionária até o fim da adolescência, as crianças são frequentemente submetidas a fatores de risco intrínsecos (genéticos, metabólicos e hereditários, muitas vezes correlacionados) e extrínsecos ou ambientais (alimentação, condições socioeconômicas, geofísicas e de urbanização e a relação mãe-filho) que podem interferir negativamente nos processos dinâmicos de crescimento e desenvolvimento.4242 Aquino LA. Acompanhamento do crescimento normal. Revista de Pediatria SOPERJ. 2011;12:15-20.,4343 Romani SA, Lira PI. Fatores determinantes do crescimento infantil. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2004;4:15-23. O que determina a natureza e a gravidade dos efeitos desses fatores na saúde infantil é a ocorrência de exposições ambientais adversas nos diferentes estágios denominados de "janelas críticas de exposição" ou "janelas de vulnerabilidade"4444 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Why are children often especially susceptible to the adverse effects of environmental toxicants? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=3 [cited 13.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
ou "janelas de desenvolvimento",4545 WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
http://www.who.int/ceh/capacity/Children...
nos quais as funções de maturação, diferenciação e crescimento das células se encontram em ritmo diferenciado.

Desde a concepção, existe uma estreita relação entre o crescimento fetal e o ambiente, a ponto de, a partir de certo momento, esse crescimento ser limitado pelo espaço da cavidade uterina.4141 Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Identifying critical windows of exposure for children's health. Environ Health Perspect. 2000;108:S451-S455. Após nove meses de crescimento intrauterino, os órgãos e sistemas do corpo infantil se tornam relativamente maduros, o suficiente para que a adaptação à vida seja moderadamente segura.4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44. O crescimento físico e a maturação funcional do corpo vão continuar, podem variar de sistema para sistema, de órgão para órgão e de tecido para tecido, pois cada criança difere em estrutura e função de si mesma em qualquer idade.4545 WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
http://www.who.int/ceh/capacity/Children...
,4747 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Why do a child's age and developmental stage affect physiological susceptibility to toxic substances? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=7 [cited 12.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...

A título de exemplo desse ritmo diferenciado de crescimento infantil, estudos sugerem que no segundo mês de vida intraútero a cabeça fetal deva corresponder à metade do corpo, ao nascer passa a ser de 25% e na idade adulta corresponda a 10% da estrutura física total.4242 Aquino LA. Acompanhamento do crescimento normal. Revista de Pediatria SOPERJ. 2011;12:15-20.,4848 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Série Cadernos de Atenção Básica nº 11. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Brasília: Ministério da Saúde; 2002. Aos seis meses o cérebro deve atingir 50% do seu peso de adulto e aos três anos já atingiu aproximadamente 90% desse peso.3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533.,4545 WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
http://www.who.int/ceh/capacity/Children...
Em torno de 50% da estatura de um adulto são atingidos aos dois anos.4242 Aquino LA. Acompanhamento do crescimento normal. Revista de Pediatria SOPERJ. 2011;12:15-20.,4848 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Série Cadernos de Atenção Básica nº 11. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Brasília: Ministério da Saúde; 2002. Em contraste, 50% do peso do fígado, coração e dos rins de um adulto não é atingido até que a criança tenha cerca de nove anos. Os mesmos pontos no crescimento do músculo esquelético e do peso corporal total não são atingidos até próximo ao 11º ano de vida.4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44. Esses períodos do desenvolvimento infantil são especialmente sensíveis à exposição de determinados agentes biológicos, químicos e fatores físicos encontrados no meio ambiente.4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44.

Nos menores de cinco anos, a influência de fatores ambientais é muito mais importante do que a de fatores genéticos. Quanto mais jovem a criança, mais dependente e vulnerável é em relação ao ambiente que a cerca. E se esse ambiente não for adequado, surge a possibilidade de um fracasso em algum aspecto do desenvolvimento infantil.4242 Aquino LA. Acompanhamento do crescimento normal. Revista de Pediatria SOPERJ. 2011;12:15-20.,4949 Zick GSN. Os fatores ambientais no desenvolvimento infantil. Revista de Educação do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai - IDEAU. 2010. Available from: http://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/176_1.pdf [cited 23.01.15].
http://www.ideau.com.br/getulio/restrito...
Nesse contexto, o desenvolvimento embrionário que ocorre no interior do útero materno (ambiente) não estaria protegido de efeitos embriotóxicos de agentes nocivos ambientais.5050 Wilson JC. Current status of teratology. In: Wilson JC, Fraser FC, editors. General principles and mechanisms derived from animal studies. Handbook of teratology. General principles and etiology. Nova York: Plenum Press; 1977. p. 47-74. Como exemplo, a tragédia do uso da talidomida durante a gestação, a partir dos anos 1950, levou à especial atenção de pesquisadores sobre a ocorrência de efeitos teratogênicos do medicamento na higidez de fetos que lhes causou focomelia, com danos irreversíveis.55 The National Academies Press - NAP. Children's health, the nation's wealth: assessing and improving child health. National Research Council and Institute of Medicine. Washington, DC: The National Academies Press; 2004. p. 45-90. Em 2010, cientistas japoneses identificaram como a talidomida interfere na formação fetal. O medicamento se liga à proteína denominada cereblon (CRBN) e a inativa, o que provoca a malformação dos membros.5151 Ito T, Ando H, Suzuki T, Ogura T, Hotta K, Imamura Y, et al. Identification of a primary target of thalidomide teratogenicity. Science. 2010;327:1345-1350.

A precocidade e a persistência de situações adversas em sistemas ou órgãos da criança antes de sua maturação completa podem provocar sequelas transitórias ou permanentes na maturação física normal e, consequentemente, em sua saúde atual e futura.5252 Westwood M, Kramer MS, Munz D, Lovett JM, Watters GV. Growth and development of full-term nonasphyxiated small-for-gestational-age newborns: follow-up through adolescence. Pediatrics. 1983;71:376-382.

Vias de exposição à toxicantes ambientais nos sistemas e órgãos alvo durante estágios de desenvolvimento infantil

A contaminação ocorre por meio de uma via de exposição, conforme a figura 1, entre o agente no ambiente físico (in utero, leite materno, oral, parenteral) e o período do desenvolvimento na qual a criança foi exposta (fetal, neonatal, infância, puberal).5353 Alves C, Flores LC, Cerqueira TS, Toralles MB. Exposição ambiental a interferentes endócrinos com atividade estrogênica e sua associação com distúrbios puberais em crianças. Cad Saúde Pública. 2007;23:1005-1014. É de suma importância conhecer a magnitude da substância adversa, a duração e a frequência dessa exposição e a suscetibilidade individual da criança, além de levar em conta as vias de introdução do agente agressor.5454 Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Modulo III. Fundamentos de toxicologia. Fase 1 - Exposição; 2006. Available from: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/mIII.fase1.htm [cited 13.06.15].
http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia...
,5555 Stolf A, Dreifuss A, Vieira FL. Farmacocinética. In: III Curso de Verão em Farmacologia. Paraná: UFPR Biológicas; 2011. p. 3-22.

Figura 1
Adaptada de Ruppenthal104104 Ruppenthal JE. Toxicologia. Colégio Técnico Industrial de Santa Maria. UFSM. Rede e-Tec Brasil; 2013..

Aleitamento materno: forma ideal de nutrição infantil, tem sido a garantia da sobrevivência da espécie humana, fornece vantagens nutricionais, imunológicas, cognitivas, psicoafetivas, econômicas e sociais5656 Chaves RG, Lamounier JA, César CC. Medicamentos e amamentação: atualização e revisão aplicadas à clínica materno-infantil. Rev Paul Pediatr. 2007;25:276-288.,5757 Landrigan PJ, Sonawane B, Mattison D, McCally M, Garg A. Chemical contaminants in breast milk and their impacts on children's health: an overview. Environ Health Perspect. 2002;110:A313-A315. e diminui significativamente o risco de a criança desenvolver uma série de doenças. Influenciadas por fatores da nutriz, do lactente e/ou do toxicante, a lactação pode colocar em circulação no bebê uma série de substâncias tóxicas, como dioxinas, bifenilos policlorados (PCBs), mercúrio e pesticidas clorados,5858 Solomon GM, Weiss PM. Chemical contaminants in breast milk: time trends and regional variability. Environ Health Perspect. 2002;110:A339-A347. nicotina,5959 Primo CC, Ruela PB, Brotto LD, Garcia TR, Lima EF. Efeitos da nicotina materna na criança em amamentação. Rev Paul Pediatr. 2013;31:392-397. chumbo6060 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. How are newborns, infants, and toddlers exposed to and affected by toxicants? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=9 [cited 14.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
e medicamentos,6161 Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias. Ministério da Saúde, Secretaria da Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. 2nd ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014. entre outras. Enquanto na toxicocinética materna a razão leite materno/plasma para PCB é alta, varia de 4 a 10, para o mercúrio orgânico e inorgânico é de 0,9.6060 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. How are newborns, infants, and toddlers exposed to and affected by toxicants? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=9 [cited 14.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
A nicotina pode estar presente no leite materno com a mesma concentração plasmática maternal e sua meia-vida também é similar, com 60 a 90 minutos de eliminação em ambos.5959 Primo CC, Ruela PB, Brotto LD, Garcia TR, Lima EF. Efeitos da nicotina materna na criança em amamentação. Rev Paul Pediatr. 2013;31:392-397. Já o chumbo excretado pelo leite materno tem a concentração do metal nesse meio entre 10 a 30% da plumbemia materna, pois o chumbo não se concentra no leite por não ser lipofílico.6060 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. How are newborns, infants, and toddlers exposed to and affected by toxicants? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=9 [cited 14.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
A recomendação de suspender o aleitamento pela presença de químicos no leite materno não encontra respaldo na literatura, desde que o encontro dessas substâncias não ofereça toxicidade para o lactente.5353 Alves C, Flores LC, Cerqueira TS, Toralles MB. Exposição ambiental a interferentes endócrinos com atividade estrogênica e sua associação com distúrbios puberais em crianças. Cad Saúde Pública. 2007;23:1005-1014.

Sistema respiratório - Ao nascer, um bebê a termo tem cerca de 10 milhões de alvéolos, enquanto que aos oito anos a criança terá 300 milhões.6262 Pinkerton KE, Joad JP. The mammalian respiratory system and critical windows of exposures for children's health. Environ Health Perspect. 2000;108:S457-S462. O impacto do fumo passivo desde a fase intraútero pode levar o recém-nascido a redução de peso, de comprimento e de perímetro cefálico,6363 Zhang L, González-Chica DA, Cesar JA, Mendoza-Sassi RA, Beskow B, Larentis N, et al. Tabagismo materno durante a gestação e medidas antropométricas do recém-nascido: um estudo de base populacional no extremo sul do Brasil. Cad Saúde Pública. 2011;27:1768-1776. além do aumento na resistência de suas vias aéreas com uma redução de fluxo expiratório forçado em média de 20%.6464 Stocks J, Desateaux C. The effect of parental smoking on lung function and development during infancy. Respirology. 2003;8:266-285. A continuidade do fumo parental pós-natal pode gerar efeitos adversos no sistema imunológico contra patógenos e no crescimento e desenvolvimento pulmonar infantil e provocar um risco quatro vezes maior de sibilância durante o primeiro ano de vida.6464 Stocks J, Desateaux C. The effect of parental smoking on lung function and development during infancy. Respirology. 2003;8:266-285.

65 US Department of Health and Human Services. The health consequences of involuntary exposure to tobacco smoke: a report of the surgeon general. Atlanta: Centers for Disease Control and Prevention; 2006. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK44324 [cited 15.11.15].
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK443...
-6666 Schvartsman C, Farhat SC, Schvartsman S, Saldiva PH. Parental smoking patterns and their association with wheezing in children. Clinics. 2013;68:934-939.

A criança respira maior quantidade de ar do que o adulto em repouso, mesmo tendo o adulto maior capacidade pulmonar total, que corresponde a mais ou menos 6,5 litros, enquanto que numa criança essa capacidade é de cerca de dois litros.6262 Pinkerton KE, Joad JP. The mammalian respiratory system and critical windows of exposures for children's health. Environ Health Perspect. 2000;108:S457-S462. Com base no peso corporal, o volume de ar que passa através das vias respiratórias da criança em repouso é o dobro daquele nos adultos em condições semelhantes.66 Landrigan PG, Garg A. Children are not little adults. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment. A global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 3-16. Um lactente tem três vezes a ventilação por minuto (volume de ar movimentado pelos pulmões a cada minuto) do que um adulto e a criança aos seis anos tem o dobro desse volume.4545 WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
http://www.who.int/ceh/capacity/Children...

Como as crianças respiram mais ar e tendem a ser mais ativas fisicamente do que os adultos, a inalação de gases tóxicos pode comprometer sua função pulmonar6767 Castro HA, Cunha MF, Mendonça GA, Junger WL, Cunha-Cruz J, Leon AP. Effect of air pollution on lung function in schoolchildren in Rio de Janeiro, Brazil. Rev Saude Publica. 2009;43:26-34. ou exacerbar condições pré-existentes, elevar a incidência de infecções respiratórias agudas nessa população, expressa no aumento de internações hospitalares6868 Rosa AM, Ignotti E, Hacon Sde S, Castro HA. Analysis of hospitalizations for respiratory diseases in Tangará da Serra, Brazil. J Bras Pneumol. 2008;34:575-582. e absenteísmo escolar.6969 Abdulbari B, Madeeha K, Nigel JS. Impact of asthma and air pollution on school attendance of primary school children: are they at increased risk of school absenteeism? J Asthma. 2007;44:249-252. Essas substâncias incluem: materiais particulados em suspensão (pó, poeira, fumaça e aerossóis);7070 Riguera D, André PA, Zanetta DM. Poluição da queima de cana e sintomas respiratórios em escolares de Monte Aprazível, SP. Rev Saúde Pública. 2011;45:878-886. poluentes de grande preocupação para a saúde pública, como O3,7171 Jasinski R, Pereira LA, Braga AL. Poluição atmosférica e internações hospitalares por doenças respiratórias em crianças e adolescentes em Cubatão, São Paulo, Brasil, entre 1997 e 2004. Cad Saúde Pública. 2001;27:2242-2252. NO2,7272 Vieira SE, Stein RT, Ferraro AA, Pastro LD, Pedro SS, Lemos M, et al. Urban air pollutants are significant risk factors for asthma and pneumonia in children: the influence of location on the measurement of pollutants. Arch Broncopneumol. 2012;48:389-395. CO e SO2;7373 Ostro B, Roth L, Malig B, Mart M. The effects of fine particle components on respiratory hospital admissions in children. Environ Health Perspect. 2009;117:475-480. chumbo, mercúrio e compostos orgânicos voláteis;1414 Mello-da-Silva CA, Fruchtengarten L. Riscos químicos ambientais à saúde da criança. J Pediatr (Rio J). 2005;81:S205-S211. além de resíduos de queima de biomassa4545 WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
http://www.who.int/ceh/capacity/Children...
e da fumaça de cigarros.7474 Pereira ED, Torres L, Macêdo J, Medeiros MM. Efeitos do fumo ambiental no trato respiratório inferior de crianças com até 5 anos de idade-Ceará. Rev Saúde Pública. 2000;34:39-43.

75 Carvalho LM, Pereira ED. Morbidade respiratória em crianças fumantes passivas. J Pneumol. 2002;28:8-14.
-7676 Coelho SA, Rocha AS, Jong LC. Consequências do tabagismo passivo em crianças. Cienc Cuid Saúde. 2012;11:294-301.

Sistema endócrino-reprodutor - Desde a vida embrionária, eventos relacionados à formação, ao crescimento e ao desenvolvimento da criança necessitam de interações hormonais em tempos definidos.7777 Landrigan P, Garg A, Droller DB. Assessing the effects of endocrine disruptors in the National Children's Study. Environ Health Perspect. 2003;111:1678-1682.,7878 Pryor JL, Hughes C, Foster W, Hales BF, Robaire B. Critical windows of exposure for children's health: the reproductive system in animals and humans. Environ Health Perspect. 2000;108:S491-S503. Esses hormônios desempenham um papel fundamental na coordenação das múltiplas atividades celulares, por meio da regulação de funções biológicas, como as do eixo hipotalâmico-hipofisário, da tireoide e de órgãos sexuais, mantêm em homeostase o metabolismo, o equilíbrio hidroeletrolítico, o sono e o humor.7777 Landrigan P, Garg A, Droller DB. Assessing the effects of endocrine disruptors in the National Children's Study. Environ Health Perspect. 2003;111:1678-1682.,7979 Guimarães RM, Asmus CI, Coeli CM, Meyer A. Endocrine-reproductive system's critical windows: usage of physiological cycles to measure human organochlorine exposure biohazard. Cad Saúde Colet. 2009;17:375-390. No entanto, essas atividades podem sofrer impactos negativos quando susceptíveis a agentes de origem exógena ao organismo. Dentre esses agentes encontram-se substâncias conhecidas como desruptores ou interferentes endócrinos, também conhecidas como eco-hormônios, substâncias com atividade hormonal ou xerormônios.7777 Landrigan P, Garg A, Droller DB. Assessing the effects of endocrine disruptors in the National Children's Study. Environ Health Perspect. 2003;111:1678-1682.,7878 Pryor JL, Hughes C, Foster W, Hales BF, Robaire B. Critical windows of exposure for children's health: the reproductive system in animals and humans. Environ Health Perspect. 2000;108:S491-S503.,8080 Koifman S, Paumgartten FJ. O impacto dos desreguladores endócrinos ambientais sobre a saúde pública. Cad Saúde Pública. 2002;18:354-355.

Os desruptores endócrinos podem chegar ao ambiente, principalmente por meio de dejetos industriais e urbanos, escoamento agrícola e liberação de resíduos, a exposição infantil a esses toxicantes pode ocorrer por meio da ingestão de alimentos, pó e água, inalação de gases e partículas no ar e em contato com a pele.8181 WHO. Effects of human exposure to hormone-disrupting chemicals examined in landmark UN report. Geneva: World Health Organization; 2013. Available from: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2013/hormone_disrupting_20130219/e/ [cited 26.01.15].
http://www.who.int/mediacentre/news/rele...
Alguns são substâncias naturais, como estrogênios e fitoestrogênios, enquanto variedades sintéticas podem ser encontradas em pesticidas, alquilfenóis policlorados de bifenilas (PCB), bisfenol A, aditivos adicionados a alimentos, produtos de higiene pessoal e cosméticos.8282 Guimarães RM, Asmus CI. Por quê uma saúde ambiental infantil? Avaliação da vulnerabilidade de crianças a contaminantes ambientais. Pediatria (São Paulo). 2010;32:239-245.

Durante o período pré-natal, os desruptores endócrinos podem gerar consequências no desenvolvimento fetal com um risco maior de sensibilizar sua competência reprodutiva futura.7777 Landrigan P, Garg A, Droller DB. Assessing the effects of endocrine disruptors in the National Children's Study. Environ Health Perspect. 2003;111:1678-1682.,7878 Pryor JL, Hughes C, Foster W, Hales BF, Robaire B. Critical windows of exposure for children's health: the reproductive system in animals and humans. Environ Health Perspect. 2000;108:S491-S503. Essas substâncias agem por mimetismo à ação estrogênica ou antagonizam a ação androgênica, o que pode resultar em uma puberdade precoce,8383 Aksglaede L, Juul A, Andersson AM. The sensitivity of the child to sex steroids: possible impact of exogenous estrogens. Hum Reprod. 2006;12:341-349. além de gerar efeitos adversos sobre a diferenciação sexual, o desenvolvimento gonadal, a fecundidade e a fertilidade e sobre o comportamento sexual.7878 Pryor JL, Hughes C, Foster W, Hales BF, Robaire B. Critical windows of exposure for children's health: the reproductive system in animals and humans. Environ Health Perspect. 2000;108:S491-S503.,7979 Guimarães RM, Asmus CI, Coeli CM, Meyer A. Endocrine-reproductive system's critical windows: usage of physiological cycles to measure human organochlorine exposure biohazard. Cad Saúde Colet. 2009;17:375-390.,8484 Flores AV, Ribeiro JN, Neves AA, Queiroz EL. Organochlorine: a public health problem. Ambient Soc. 2004;7:111-124. Segundo Alves et al.,5353 Alves C, Flores LC, Cerqueira TS, Toralles MB. Exposição ambiental a interferentes endócrinos com atividade estrogênica e sua associação com distúrbios puberais em crianças. Cad Saúde Pública. 2007;23:1005-1014. a literatura sugere que a prematuridade sexual também pode estar relacionada com exposição acidental a cosméticos que contêm estrogênio ou extratos placentários, como xampu, condicionadores e cremes corporais, entre outros, o que produz aumento de mamas e impotência transitórias, com regressão do quadro após a suspensão do uso desses produtos.

Sistema nervoso - Desde o período da embriogênese o sistema nervoso continua a modelar sua estrutura não apenas no início, mas ao longo de todo o período de desenvolvimento infantil até o fim da adolescência, em resposta a eventos geneticamente programados e a influências ambientais, numa série de processos complexos que ocorrem em períodos específicos no tempo e no espaço.2525 Wigle DT. Environmental threats to child health: overview. In: Child health and the environment. New York: Oxford University Press; 2003. p. 1-26.,3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533.

Ao nascer, o cérebro de uma criança alcança 24% do seu peso de adulto. O peso do cérebro no dia do nascimento tem entre 300 e 330 g. Com um ano, a massa encefálica será triplicada, cresce em ritmo bem mais lento até os 1.500 g da fase adulta.3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533.,8585 Needlman RD. Crescimento e desenvolvimento. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, editors. Nelson, Tratado de pediatria. 17th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 25---71. A população de células nervosas se completa por volta dos dois anos, mas a mielinização total de tecido neuronal não estará concluída até os 18 anos.3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533. Como o cérebro é o principal órgão de estresse e adaptação, é ao mesmo tempo vulnerável e adaptável. Ele interpreta e regula reações comportamentais, neuroendócrinas, autonômicas e imunológicas.8585 Needlman RD. Crescimento e desenvolvimento. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, editors. Nelson, Tratado de pediatria. 17th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 25---71.

Períodos vulneráveis durante o desenvolvimento do sistema nervoso são sensíveis a insultos ambientais, pois são dependentes do surgimento temporal e regional de processos críticos do desenvolvimento, como proliferação, migração, diferenciação, sinaptogênese, mielinização e apoptose.3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533. Nesse sentido, um amplo leque de categorias de produtos químicos (benzeno, etanol, nicotina, metil-mercúrio, bifenil policloradas (PCBs), arsênico, chumbo, manganês, diclorodifeniltricloroetano, tetracloroetileno e inseticidas da classe dos organofosforados)3636 Grandjean P, Landrigan PJ. Neurobehavioural effects of developmental toxicity. Lancet Neurol. 2014;13:330-338. pode interferir em um ou mais desses processos e levar à neurotoxicidade desenvolvimental,3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533. seja por meio da ingestão de alimentos e líquidos contaminados, inalação de gases e em contato com a pele.8181 WHO. Effects of human exposure to hormone-disrupting chemicals examined in landmark UN report. Geneva: World Health Organization; 2013. Available from: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2013/hormone_disrupting_20130219/e/ [cited 26.01.15].
http://www.who.int/mediacentre/news/rele...
O resultado dessas interferências na ontogenia normal dos processos de desenvolvimento no sistema nervoso são crianças que poderão apresentar distúrbios clínicos, como déficit cognitivo, ADHD, retardo mental, autismo e paralisia cerebral, entre outros, que permanecerão por toda a vida.3636 Grandjean P, Landrigan PJ. Neurobehavioural effects of developmental toxicity. Lancet Neurol. 2014;13:330-338. O desenvolvimento e a maturação do sistema nervoso, a dose e a duração da exposição, além do estado nutricional da criança, influenciam essa toxicidade.8686 Soldin OP, Hanak B, Soldin SJ. Blood lead concentration in children: new range. Clin Chim Acta. 2003;327:109-113.

Além da exposição a substâncias químicas tóxicas, agentes biológicos também podem ter um efeito negativo no desenvolvimento do cérebro infantil. Como já foi dito, há uma associação entre a infecção pré-natal pelo vírus zika e casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso em fetos e recém-nascidos, denominada Congenital Zika Syndrome.2929 Costa F, Sarno M, Ricardo Khouri R, Freitas BP, Isadora Siqueira I, Ribeiro GS, et al. Emergence of congenital zika syndrome: viewpoint from the front lines. Ann Intern Med. 2016. Available from: http://annals.org/article.aspx?articleid=2498549 [cited 24.03.16].
http://annals.org/article.aspx?articleid...
Os fetos analisados em necropsias apresentaram alterações no cérebro, como hidropsia,8787 Mlakar J, Korva M, Tul N, Popović M, Poljšak-Prijatelj M, Mraz J. Zika virus associated with microcephaly. N Engl J Med. 2016;374:951-958.,8888 Sarno M, Sacramento GA, Khouri R, Rosário MS, Costa F, Archanjo G, et al. Zika virus infection and stillbirths: a case of hydrops fetalis, hydranencephaly and fetal demise. PLoS Negl Trop Dis. 2016;10:e0004517. hidrocefalia e calcificações distróficas multifocais no córtex,8787 Mlakar J, Korva M, Tul N, Popović M, Poljšak-Prijatelj M, Mraz J. Zika virus associated with microcephaly. N Engl J Med. 2016;374:951-958. calcificações intracranianas no parênquima periventricular e regiões do tálamo,8989 Kline MW, Schutze GE. What pediatricians and other clinicians should know about zika virus. JAMA Pediatr. 2016;170:309-310. degeneração celular e necrose.9090 Martines RB, Bhatnagar J, Keating MK, Silva-Flannery L, Muehlenbachs A, Gary J, et al. Notes from the field: evidence of Zika virus infection in brain and placental tissues from two congenitally infected newborns and two fetal losses: Brazil, 2015. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2016;65:159-160. Também foi confirmada a detecção de RNA viral e antígenos nos tecidos cerebrais pesquisados.8787 Mlakar J, Korva M, Tul N, Popović M, Poljšak-Prijatelj M, Mraz J. Zika virus associated with microcephaly. N Engl J Med. 2016;374:951-958.,9090 Martines RB, Bhatnagar J, Keating MK, Silva-Flannery L, Muehlenbachs A, Gary J, et al. Notes from the field: evidence of Zika virus infection in brain and placental tissues from two congenitally infected newborns and two fetal losses: Brazil, 2015. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2016;65:159-160. Ademais, estudo oftalmológico feito em lactentes com microcefalia causada pelo vírus demonstrou o risco ameaçador de deficiência na visão infantil, pela presença de lesão macular bilateral e perimaculares e anormalidades do nervo óptico.9191 de Paula Freitas B, de Oliveira Dias JR, Prazeres J, Sacramento GA, Ko AI, Maia M, et al. Ocular findings in infants with microcephaly associated with presumed zika virus congenital infection in Salvador, Brazil. JAMA Ophthalmol. 2016. E1-6. Available from: http://archopht.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=2491896 [cited 03.03.16].
http://archopht.jamanetwork.com/article....

Em certos casos, a vulnerabilidade da criança a neurotoxinas pode estar relacionada não só às fases de desenvolvimento neurológico, mas também à imaturidade ou falha de outras barreiras protetoras, como a hematoencefálica9292 Banks WA. Characteristics of compounds that cross the blood-brain barrier. BMC Neurol. 2009;9:S3.,9393 Rojas H, Ritter C, Pizzol FD. Mechanisms of dysfunction of the blood-brain barrier in critically ill patients: emphasis on the role of matrix metalloproteinases. Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23:222-227. e a placentária.5454 Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Modulo III. Fundamentos de toxicologia. Fase 1 - Exposição; 2006. Available from: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/mIII.fase1.htm [cited 13.06.15].
http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia...
,5555 Stolf A, Dreifuss A, Vieira FL. Farmacocinética. In: III Curso de Verão em Farmacologia. Paraná: UFPR Biológicas; 2011. p. 3-22.,9494 Silva AL. Interferentes endócrinos no meio ambiente: um estudo de caso em amostras de água in natura e efluente da estação de tratamento de esgotos da Região Metropolitana de São Paulo [dissertation]. USP: Programa de Pós-Graduação de Saúde Pública; 2009.

Barreira hematocefálica - Tem como função precípua manter um ambiente químico protegido e constante para o bom funcionamento do cérebro, além de protegê-lo de xenobióticos, bactérias, fungos, parasitas, vírus e reações autoimunes.4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44. Essa proteção deve-se a sua menor permeabilidade, tem mecanismos de exclusão que impedem a difusão de substâncias adversas polares de baixo peso molecular, como drogas, aditivos alimentares, pesticidas e metais, como níquel, cromo e mercúrio.5454 Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Modulo III. Fundamentos de toxicologia. Fase 1 - Exposição; 2006. Available from: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/mIII.fase1.htm [cited 13.06.15].
http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia...
,9393 Rojas H, Ritter C, Pizzol FD. Mechanisms of dysfunction of the blood-brain barrier in critically ill patients: emphasis on the role of matrix metalloproteinases. Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23:222-227. Essa barreira não está totalmente desenvolvida por ocasião do nascimento e essa seria uma das razões para a maior toxicidade de substâncias químicas em recém-nascidos.9393 Rojas H, Ritter C, Pizzol FD. Mechanisms of dysfunction of the blood-brain barrier in critically ill patients: emphasis on the role of matrix metalloproteinases. Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23:222-227. Um exemplo é a vulnerabilidade do cérebro neonatal a exposição da bilirrubina, que pode resultar numa encefalopatia (kernicterus) nas primeiras semanas de vida com dano neurológico irreversível. Enquanto concentrações de bilirrubina em 40 mg/dl não são toleradas em neonatos, parecem não causar quaisquer efeitos adversos em adultos.4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44.

Barreira placentária - Além de proteger o feto contra a passagem de substâncias nocivas provenientes do organismo materno, faz a troca de nutrientes vitais para o desenvolvimento fetal.4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44. Na verdade, a placenta não representa uma barreira protetora efetiva contra a entrada de substâncias estranhas na circulação, num período de extrema vulnerabilidade fetal. Embora existam alguns mecanismos de biotransformação (ou metabolização) que podem prevenir a passagem placentária dessas substâncias por meio de mecanismo de desativação, o que transforma o produto resultante menos tóxico do que o precursor,5454 Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Modulo III. Fundamentos de toxicologia. Fase 1 - Exposição; 2006. Available from: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/mIII.fase1.htm [cited 13.06.15].
http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia...
,5555 Stolf A, Dreifuss A, Vieira FL. Farmacocinética. In: III Curso de Verão em Farmacologia. Paraná: UFPR Biológicas; 2011. p. 3-22.,9494 Silva AL. Interferentes endócrinos no meio ambiente: um estudo de caso em amostras de água in natura e efluente da estação de tratamento de esgotos da Região Metropolitana de São Paulo [dissertation]. USP: Programa de Pós-Graduação de Saúde Pública; 2009. mais de 200 produtos químicos estranhos ao organismo foram detectados no sangue do cordão umbilical.3636 Grandjean P, Landrigan PJ. Neurobehavioural effects of developmental toxicity. Lancet Neurol. 2014;13:330-338.

Estudos recentes divulgaram que a placenta não está imune ao zika vírus. Um grupo de pesquisadores da Fiocruz2626 Fiocruz. Pesquisa da Fiocruz Paraná confirma transmissão intra-uterina do zika vírus. Brasil: Fiocruz Paraná; 2016. Available from: http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/pesquisa-da-fiocruz-parana-confirma-transmissao-intra-uterina-do-zika-virus [cited 28.03.16].
http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/p...
identificou vestígios do DNA do vírus no tecido placentário de uma gestante que teve a gravidez interrompida. O estudo revelou a imunopositividade em células de Hofbauer, presentes na placenta, que em grávidas deveriam funcionar como protetoras do feto. Os pesquisadores suspeitam que o vírus pode usar a capacidade migratória dessas células para alcançar os vasos fetais. Martines et al.9090 Martines RB, Bhatnagar J, Keating MK, Silva-Flannery L, Muehlenbachs A, Gary J, et al. Notes from the field: evidence of Zika virus infection in brain and placental tissues from two congenitally infected newborns and two fetal losses: Brazil, 2015. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2016;65:159-160. também revelaram em seu estudo a detecção de RNA viral do zika em tecido placentário de abortos precoces.

Exposição pré-natal a substâncias como nicotina, chumbo, gases anestésicos, monóxido de carbono, agentes antineoplásicos e solventes, entre outros, pode gerar efeitos negativos no desenvolvimento fetal5454 Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Modulo III. Fundamentos de toxicologia. Fase 1 - Exposição; 2006. Available from: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/mIII.fase1.htm [cited 13.06.15].
http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia...
,9494 Silva AL. Interferentes endócrinos no meio ambiente: um estudo de caso em amostras de água in natura e efluente da estação de tratamento de esgotos da Região Metropolitana de São Paulo [dissertation]. USP: Programa de Pós-Graduação de Saúde Pública; 2009. e produzir danos que não podem ser preditos até a observação de suas consequências na fase adulta.9595 Weiss B. Vulnerability of children and the developing brain to neurotoxic hazards. Environ Health Perspect. 2000;108:375-381. O metil mercúrio, ao atravessar a placenta, pode atingir facilmente níveis elevados no sangue do cordão umbilical e produzir uma variedade de anomalias congênitas, inclusive microcefalia, retardo mental e déficit motor.9696 Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050. Já o chumbo, além de passar a barreira encefálica e a placentária e ser secretado no leite materno, se distribui fácil e rapidamente por todos os tecidos. A toxicidade desse agente quando ingerido por lactentes e crianças pequenas pode ter uma taxa de absorção de 50%, com ações no sistema nervoso central e periférico.9797 Capitani EM. Metabolismo e toxicidade do chumbo na criança e no adulto. Medicina (Ribeirão Preto). 2009;42:278-286.

Como visto, efeitos de agentes tóxicos ambientais no complexo processo de desenvolvimento do sistema nervoso podem levar a um desenvolvimento neuropsicomotor anormal com déficits transitórios ou persistentes, com possíveis consequências mais insidiosas na vida adulta.3939 Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533.,4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44. O desenvolvimento, a maturação do sistema nervoso e dos mecanismos de desintoxicação, a dose, a duração da exposição e o estado nutricional da criança influenciam a toxicidade.8686 Soldin OP, Hanak B, Soldin SJ. Blood lead concentration in children: new range. Clin Chim Acta. 2003;327:109-113.

Metabolismo e digestão - O trato gastrointestinal (GI), como a pele e o sistema respiratório, está em constante interação com o ambiente. A depender da idade da criança, a função do trato GI como uma barreira de proteção é tão importante quanto as suas funções de digestão e absorção.9696 Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050. Crianças pequenas têm sua taxa metabólica mais acelerada e digerem sua refeição mais rapidamente do que os adultos. Ingerem mais água e alimentos por unidade de peso corporal.9898 Chaudhuri N, Fruchtengarten L. Where the child lives and plays: a resource manual for the health sector. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment: a global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 29-39 [chapter 3]. Available from: http://whqlibdoc.who.int/publications/2005/9241562927_eng.pdf [cited10.03.15].
http://whqlibdoc.who.int/publications/20...
Um recém-nascido consome uma quantidade muito maior de água (equivalente a 10% a 15% de peso de corpo) em comparação com um adulto (2% a 4% de peso corporal).9999 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. What are special considerations regarding toxic exposures to young and school-age children, as well as adolescents?; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=10 [cited 15.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
Bebês que se alimentam com fórmulas lácteas podem ter um consumo médio diário de 140 a 180 ml/kg/dia de água, o que equivaleria à ingestão, em média, de 35 latas (360 ml) de bebidas não alcoólicas para um adulto masculino médio.9999 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. What are special considerations regarding toxic exposures to young and school-age children, as well as adolescents?; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=10 [cited 15.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
O pré-escolar (um a cinco anos) ingere três a quatro vezes mais comida por quilo de peso corporal do que o adulto médio.9898 Chaudhuri N, Fruchtengarten L. Where the child lives and plays: a resource manual for the health sector. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment: a global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 29-39 [chapter 3]. Available from: http://whqlibdoc.who.int/publications/2005/9241562927_eng.pdf [cited10.03.15].
http://whqlibdoc.who.int/publications/20...

Os pequenos, por terem uma dieta pouco variada, com mais frutas e vegetais, têm maior chance de exposição a alimentos e líquidos contaminados.9696 Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050. Toxinas ambientais ingeridas por via oral podem ser modificadas no trato GI pelo pH gástrico, pelas enzimas digestivas ou mesmo por bactérias que vivem no intestino. Quando absorvidas através da pele ou por inalação (pela drenagem dos seios para a faringe e o esôfago), podem ser secretadas para o lúmen intestinal pelo sistema biliar e conduzir à toxicidade gastrointestinal.9696 Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050. Como o sistema digestório não é capaz de eliminar todas as toxinas facilmente, as crianças podem continuar expostas a esses agentes por um período mais prolongado.8282 Guimarães RM, Asmus CI. Por quê uma saúde ambiental infantil? Avaliação da vulnerabilidade de crianças a contaminantes ambientais. Pediatria (São Paulo). 2010;32:239-245.,100100 Miller MD, Marty MA, Arcus A, Brown J, Morry D, Sandy M. Differences between children and adults: implications for risks assessment at California EPA. Int J Toxicol. 2002;21:403-418. Transtornos comuns na infância, tais como constipação intestinal, também pode aumentar significativamente a absorção de toxinas pelo retardo do tempo do trânsito intestinal.9696 Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050.

Nesse contexto, podemos citar que o transporte de cálcio no organismo de recém-nascidos e lactentes é cerca de cinco vezes o da taxa em adultos.101101 The National Academies Press - NAP. Adverse health effects of exposure to lead. In: Measuring lead exposure in infants, children, and other sensitive populations. Washington, DC: The National Academy Press; 1993. p. 31-93. Se a dieta da criança for deficiente em ferro ou cálcio e ocorrer exposição ao chumbo, o intestino delgado ainda em desenvolvimento avidamente absorverá esse agente nocivo, que poderá competir com o cálcio para o transporte celular num ritmo elevado. Assim, a absorção do chumbo ingerido por crianças também poderá ser cinco vezes maior do que quando ingerido pelos adultos.9696 Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050.,101101 The National Academies Press - NAP. Adverse health effects of exposure to lead. In: Measuring lead exposure in infants, children, and other sensitive populations. Washington, DC: The National Academy Press; 1993. p. 31-93. Essas concentrações de chumbo no sangue de crianças, principalmente na primeira infância, podem também estar correlacionadas à ingestão de poeira com metal, devido às atividades de exploração oral nessa fase do desenvolvimento, a partir de fontes no interior da residência, bem como no solo contaminado.4444 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Why are children often especially susceptible to the adverse effects of environmental toxicants? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=3 [cited 13.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
,102102 Paustenbach K, Finley B, Long T. The critical role of house dust in understanding the hazards posed by contaminated soils. Int J Toxicol. 1997;16:339-362.

Exposições agudas a substância toxicas de absorção no trato GI às vezes são de difícil diagnóstico. Quadros de náuseas, vômitos, diarreia e hemorragia GI podem sugerir contaminação de etiologia infecciosa, por água não potável e alimentos contaminados por falta de higiene das mãos no preparo das refeições.1313 Prüss-Ustün A, Bartram J, Clasen T, Colford JM, Cumming O, Curtis V, et al. Burden of disease from inadequate water, sanitation and hygiene in low- and middle-income settings: a retrospective analysis of data from 145 countries. Trop Med Int Health. 2014;19:894-905. No entanto, se as crianças apresentarem, além desses sintomas, sinais que envolvam outros órgãos, como sonolência, deve-se levantar suspeitas de exposição a toxinas ambientais, especialmente os metais pesados, como níquel, cádmio, chumbo e mercúrio.9696 Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050. Na intoxicação por etanol, os limitados estoques de glicogênio no lactente e pré-escolar podem aumentar os riscos de hipoglicemia.103103 Bucaretchi F, Baracat EC. Acute toxic exposure in children: an overview. J Pediatr (Rio J). 2005;81:S212-S222.

Sistema excretor - Diferenças entre crianças e adultos, no que se refere à susceptibilidade a intoxicações, podem resultar da combinação da toxicocinética, da toxicodinâmica e de fatores de exposição.104104 Ruppenthal JE. Toxicologia. Colégio Técnico Industrial de Santa Maria. UFSM. Rede e-Tec Brasil; 2013. Os fatores cinéticos são especialmente importantes no período pós-natal, em grande parte como resultado da imaturidade do sistema excretor, seja pelas reduzidas metabolização enzimática e/ou excreção renal.105105 Ramos CL, Targa MB, Stein AT. Perfil das intoxicações na infância atendidas pelo Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS), Brasil. Cad Saúde Pública. 2005;21:1134-1141. Durante a vida fetal, os rins têm pouca função excretora graças à placenta, que também exerce essa função.106106 Altemani JM. Dimensões renais em recém-nascidos medidas pelo ultrassom: correlação com idade gestacional e peso [dissertation]. UNICAMP: Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas; 2001. O amadurecimento e a indução nefrogênica geralmente ocorrem a partir da 36ª semana de gestação.107107 Hoy WE, Ingelfinger JR, Hallan S, Hughson MD, Mott SA, Bertram JF. The early development of the kidney and implications for future health. J Dev Orig Health Dis. 2010;1:216-233. Nesse sentido, os bebês prematuros parecem estar particularmente em risco para doença renal muito tempo depois do nascimento, pois cada vez mais esses bebês sobrevivem e entre eles muitos nascidos bem antes de a nefrogênese estar completa. Dados indicam que no processo de tratamento de pré-termos em UTIs neonatais os menores recebem medicamentos muitas vezes nefrotóxicos, que produzem, como consequência, glomérulos maiores, mas em menor número.108108 Ingelfinger JR, Kalantar-Zadeh K, Schaefer F. In time: averting the legacy of kidney disease - focus on childhood. Rev Paul Pediatr. 2016;34:5-10.

A taxa de filtração glomerular de uma criança representa um terço da taxa encontrada no adulto, o que permite que substâncias químicas nocivas permaneçam por mais tempo no organismo infantil, dentre elas o chumbo e o mercúrio.4141 Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Identifying critical windows of exposure for children's health. Environ Health Perspect. 2000;108:S451-S455. Segundo Capitani,9797 Capitani EM. Metabolismo e toxicidade do chumbo na criança e no adulto. Medicina (Ribeirão Preto). 2009;42:278-286. as crianças têm uma taxa de retenção no processo de excreção do chumbo por volta de 30%, enquanto que nos adultos ela gira em torno de 1% a 4%. Esses metais pesados podem provocar uma inabilidade de os rins filtrarem resíduos, sais e líquidos do sangue, o que pode resultar numa perda da homeostase hidroeletrolítica e levar a um quadro de insuficiência renal aguda.109109 Vogt BA, Avner ED. Insuficiência renal. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, editors. Nelson, Tratado de pediatria, vol. 2, 17th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 1875-8.

Exposição dérmica - A pele é o órgão derivado do mesoderma e ectoderma embrionário mais extenso do corpo humano.110110 Noronha L, Medeiros F, Sepulcri RP, Fillus Neto J, Luiz Fernando Bleggi-Torres LF. Manual de dermatologia. Curitiba: PUCPR; 2000. O desenvolvimento e o crescimento da pele fetal são caracterizados por uma série de etapas sequenciais, estritamente controladas e que dependem de uma variedade de interações celulares que compõem o órgão. Sua presença é vital para as funções de proteção mecânica, termorregulação, imunovigilância e manutenção de uma barreira que impede a perda insensível de fluidos corporais.111111 Mancini AJ. Skin. Pediatrics. 2004;113:S1114-S1119.

Enquanto a permeabilidade da barreira epidérmica encontra-se ainda em desenvolvimento em bebês pré-termo, o que resulta em uma maior absorção percutânea das substâncias químicas,99 WHO. Principles for evaluating health risks in children associated with exposure to chemical. Environmental Health Criteria Nº 237. Geneva: World Health Organization; 2006. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43604/1/924157237X_eng.pdf [cited 16.03.15].
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665...
um recém-nascido a termo tem uma pele madura, com propriedades de barreira semelhantes às de crianças mais velhas e de adultos.112112 Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Windows of susceptibility to environmental exposures in children. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment. A global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 17-25. Os bebês têm uma área de superfície em relação ao volume três vezes maior do que dos adultos e nas crianças essa proporção é duas vezes maior por unidade de peso corporal quando comparada também com os adultos.4545 WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
http://www.who.int/ceh/capacity/Children...
,9999 Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. What are special considerations regarding toxic exposures to young and school-age children, as well as adolescents?; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=10 [cited 15.03.15].
http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?c...
Como são muito ativas, tendem a ter a pele com mais cortes, escoriações e erupções cutâneas, o que aumenta o seu potencial de absorção cutânea a toxicantes, como xenobióticos e a poeira contaminada com metais pesados.4545 WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
http://www.who.int/ceh/capacity/Children...
,111111 Mancini AJ. Skin. Pediatrics. 2004;113:S1114-S1119.,112112 Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Windows of susceptibility to environmental exposures in children. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment. A global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 17-25. O amoníaco concentrado pode produzir, em contato com a pele da criança, necrose dos tecidos e profundas queimaduras. Essas queimaduras, a depender do tamanho da área atingida, podem provocar secundariamente uma insuficiência renal aguda.109109 Vogt BA, Avner ED. Insuficiência renal. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, editors. Nelson, Tratado de pediatria, vol. 2, 17th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 1875-8.

Desenvolvimento comportamental - O desenvolvimento comportamental infantil pode incluir mudanças de sua maturação, a depender da relação que a criança tem com o ambiente. Esse desenvolvimento pode apresentar quatro aspectos inter-relacionados, como atividades motoras (grossa e fina); capacidade cognitiva; desenvolvimento emocional; e desenvolvimento social. Qualquer alteração em um desses domínios pode afetar o desenvolvimento de cada um dos outros três.4646 The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44.

As crianças pequenas são impotentes e indefesas. Com seus hábitos peculiares de comportamento vivem num mundo lúdico, sem temor a seu limiar de exposição a qualquer energia mecânica. Com sua extraordinária curiosidade se aproximam de objetos com fontes de energia térmica e elétrica, colocam na boca ou aspiram agentes que contém energia química,1919 Waksman RD, Blank D, Gikas RM. Injúrias ou lesões não-intencionais "acidentes" na infância e na adolescência. São Paulo: MedicinaNet; 2010. Available from: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1783/injurias_ou_lesoes_nao_intencionais_%E2%80%9Cacidentes%E2%80%9D_na_infancia_e_na_adolescencia.htm [cited 14.06.15].
http://www.medicinanet.com.br/conteudos/...
que acham em seu caminho, deixados ao seu alcance, o que contribui de modo efetivo para aumentar o número de relatos de casos de agravos consequentes a agentes químicos, físicos e biológicos, na grande maioria não intencionais, com resultados muitas vezes nefastos para toda a família.113113 Valenzuela PM, Matus MS, Araya GI, Paris E. Environmental pediatrics: an emerging issue. J Pediatr (Rio J). 2011;87:89-99.

Em síntese, gostaríamos de destacar:

  1. Crianças não são pequenos adultos. Diferem entre si com relação a fisiologia, metabolismo, crescimento, desenvolvimento e comportamento. Desde a fase in utero até o fim da adolescência o crescimento físico e a maturação funcional do seu corpo estão em ritmo diferente e continuado. A ocorrência de ameaças ambientais nessas fases sensíveis da vida infantil pode interferir negativamente nesses processos dinâmicos e causar danos irreversíveis.

  2. Ao redor do mundo, crianças estão expostas a contaminantes ambientais reconhecidos ou não, que silenciosamente deterioram a sua saúde, prejudicam suas realizações futuras, com consequências físicas, emocionais e sociais, além do ônus à família, à sociedade e ao Estado como um todo.

  3. Identificar as causas e compreender os mecanismos envolvidos na gênese do agravo ambiental em um paciente infantil é muito difícil e um desafio que se impõe à ciência. Dados epidemiológicos geralmente têm um olhar para exposições a contaminantes individuais em doses relativamente altas. Mas muitas situações no mundo real, como hábitos de vida, envolvem exposições em baixas doses a agentes únicos ou múltiplos de longo prazo. Com a exceção de alguns produtos químicos, existem relativamente poucos dados sobre os mecanismos envolvidos na gênese desses agravos no desenvolvimento de doenças infantis.

  4. A ocorrência desses agravos e seus determinantes na infância têm como fatores-chave a pobreza e a falta de acesso à informação sobre práticas inerentes de saúde. Os impactos produzidos na saúde infantil pela combinação de riscos clássicos (poluição ambiental domiciliar e água não potável) e riscos modernos (produtos químicos tóxicos, resíduos perigosos, poluição atmosférica e alterações climáticas) variam muito entre e dentro de países em desenvolvimento.

  5. Os direitos da criança por um ambiente seguro para crescer, se desenvolver, brincar e aprender são argumentos determinantes para o Estado definir estratégias efetivas para a promoção de ambientes saudáveis, que proteja a criança de eventos deletérios a sua saúde, que monitore essas tendências ao longo do tempo e promova intervenções onde é necessária maior atenção. Ações intra e intersetoriais articuladas, que promovam o registro e a vigilância epidemiológica dos riscos ambientais à saúde da criança, devem ser prioridade contínua no campo da saúde pública.

  6. As relações entre a pesquisa e a política raramente são diretas - da política que informa a pesquisa ou vice-versa. Pesquisa e política mais parecem funcionar como grupos paralelos, às vezes interligados por interesses, ocasionalmente alimentam-se uns dos outros. Discussões acadêmicas relevantes em diferentes campos do saber e um Estado atuante sobre as principais questões que afetam a vida das crianças são ações estratégicas para a sobrevivência das futuras gerações. Estudos sobre impactos econômicos, sociais e das relações da criança com o seu ambiente físico em diferentes campos do saber são fundamentais para a sobrevivência das futuras gerações.

  7. A saúde ambiental infantil precisa se tornar uma ciência adulta na academia e na sociedade.

  • Como citar este artigo: Perlroth NH, Branco CW. Current knowledge of environmental exposure in children during the sensitive developmental periods. J Pediatr (Rio J). 2017;93:17-27.

References

  • 1
    WHO. Constitution of the World Health Organization. Copy of the original print version. Am J Public Health Nations Health. 1946;36:1315-1323. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1625885/pdf/amjphnation00639-0074.pdf [cited 13.01.15].
    » http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1625885/pdf/amjphnation00639-0074.pdf
  • 2
    WHO. Children's Health and the Environment - a global perspective. A resource guide for the health sector. Geneva: World Health organization; 2005. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43162/1/9241562927_eng.pdf [cited 12.07.15].
    » http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43162/1/9241562927_eng.pdf
  • 3
    David B. Introduction. In: Making a difference: indicators to improve children's environmental health. Geneva: World Health Organization; 2003. p. 1-2.
  • 4
    Brent RL, Weitzman M. The current state of knowledge about the effects, risks, and science of children's environmental exposures. Pediatrics. 2004;113:S1158-S1166.
  • 5
    The National Academies Press - NAP. Children's health, the nation's wealth: assessing and improving child health. National Research Council and Institute of Medicine. Washington, DC: The National Academies Press; 2004. p. 45-90.
  • 6
    Landrigan PG, Garg A. Children are not little adults. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment. A global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 3-16.
  • 7
    Paris EB. La importancia de la salud ambiental y el alcance de las unidades de pediatría ambiental. Rev Med Chile. 2009;137:101-105.
  • 8
    Prüss-Üstün A, Corvalán C. Preventing disease through healthy environments: towards an estimate of the environmental burden of disease. Geneva: World Health Organization; 2006.
  • 9
    WHO. Principles for evaluating health risks in children associated with exposure to chemical. Environmental Health Criteria Nº 237. Geneva: World Health Organization; 2006. Available from: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43604/1/924157237X_eng.pdf [cited 16.03.15].
    » http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/43604/1/924157237X_eng.pdf
  • 10
    United Nations Children's Fund. Compromisso com a sobrevivência infantil: uma promessa. Relatório de progresso 2014. Resumo executivo. Brasil: UNICEF; 2014.
  • 11
    Ercumen A, Gruber JS, Colford JM. Water distribution system deficiencies and gastrointestinal illness: a systematic review and meta-analysis. Environ Health Perspect. 2014;122:651-660.
  • 12
    Rodriguez L, Cervantes E, Ortiz R. Malnutrition and gastrointestinal and respiratory infections in children: a public health problem. Int J Environ Res Public Health. 2011;8:1174-1205.
  • 13
    Prüss-Ustün A, Bartram J, Clasen T, Colford JM, Cumming O, Curtis V, et al. Burden of disease from inadequate water, sanitation and hygiene in low- and middle-income settings: a retrospective analysis of data from 145 countries. Trop Med Int Health. 2014;19:894-905.
  • 14
    Mello-da-Silva CA, Fruchtengarten L. Riscos químicos ambientais à saúde da criança. J Pediatr (Rio J). 2005;81:S205-S211.
  • 15
    Quiroga D. La historia ambiental pediátrica. In: Manual de salud ambiental infantil. Chile: LOM Editores; 2009. p. 27---31.
  • 16
    du Prel JB, Puppe W, Grondahl B, Knuf M, Weigl JAI, Schaaff F, et al. Are meteorological parameters associated with acute respiratory tract infections? Clin Infect Dis. 2009;49:861-868.
  • 17
    Martins AL, Trevisol FS. Internações hospitalares por pneumonia em crianças menores de cinco anos de idade em um hospital no Sul do Brasil. Revista da AMRIGS (Porto Alegre). 2013;57:304-308.
  • 18
    Promoting health and preventing illness.Hagan JF, Shaw JS, Duncan PM, editors. Bright futures: guidelines for health supervision of infants, children, and adolescents. 3rd ed. Pocket Guide. Elk Grove Village IL: American Academy of Pediatrics; 2008, xii.
  • 19
    Waksman RD, Blank D, Gikas RM. Injúrias ou lesões não-intencionais "acidentes" na infância e na adolescência. São Paulo: MedicinaNet; 2010. Available from: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1783/injurias_ou_lesoes_nao_intencionais_%E2%80%9Cacidentes%E2%80%9D_na_infancia_e_na_adolescencia.htm [cited 14.06.15].
    » http://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1783/injurias_ou_lesoes_nao_intencionais_%E2%80%9Cacidentes%E2%80%9D_na_infancia_e_na_adolescencia.htm
  • 20
    California Childcare Health Program - CCHP. Environmental health. 1st ed. California Training Institute. University of California, San Francisco School of Nursing, Department of Family Health Care Nursing; 2006.
  • 21
    Smith MT, McHale CM, Wiemels JL, Zhang LP, Wiencke JK, Zheng SC, et al. Molecular biomarkers for the study of childhood leukemia. Toxicol Appl Pharmacol. 2005;206:237-245.
  • 22
    Edwards TM, Myers JP. Environmental exposures and gene regulation in disease etiology. Environ Health Perspect. 2007;115:1264-1270.
  • 23
    Juberg DR. Introduction. In: Are children more vulnerable to environmental chemicals? Scientific and regulatory issues in perspective. New York: American Council on Science and Health; 2003. p. 11-6.
  • 24
    Hertzman C. The case for an early childhood developmental strategy. Isuma. 2000;1:11-18.
  • 25
    Wigle DT. Environmental threats to child health: overview. In: Child health and the environment. New York: Oxford University Press; 2003. p. 1-26.
  • 26
    Fiocruz. Pesquisa da Fiocruz Paraná confirma transmissão intra-uterina do zika vírus. Brasil: Fiocruz Paraná; 2016. Available from: http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/pesquisa-da-fiocruz-parana-confirma-transmissao-intra-uterina-do-zika-virus [cited 28.03.16].
    » http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/pesquisa-da-fiocruz-parana-confirma-transmissao-intra-uterina-do-zika-virus
  • 27
    PAHO, WHO. Epidemiological alert. Neurological syndrome, congenital malformations, and Zika virus infection. Implications of public health in the Americas. USA: Pan American Health Organization and World Health Organization; 2015. Available from: http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_docman&task=doc_view&Itemid=270&gid=32405&lang=en [cited 03.01.16].
    » http://www.paho.org/hq/index.php?option=com_docman&task=doc_view&Itemid=270&gid=32405&lang=en
  • 28
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia - Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional - ESPIN. Versão 1.3. Brasília: Ministério da Saúde; 2016.
  • 29
    Costa F, Sarno M, Ricardo Khouri R, Freitas BP, Isadora Siqueira I, Ribeiro GS, et al. Emergence of congenital zika syndrome: viewpoint from the front lines. Ann Intern Med. 2016. Available from: http://annals.org/article.aspx?articleid=2498549 [cited 24.03.16].
    » http://annals.org/article.aspx?articleid=2498549
  • 30
    European Centre for Disease Prevention and Control. Zika virus epidemic in the Americas: potential association with microcephaly and Guillain-Barré syndrome (first update). Stockholm: ECDC; 2016, 21 January 2016. Available from: http://ecdc.europa.eu/en/publications/Publications/rapid-risk-assessment-zika-virus-first-update-jan-2016.pdf [cited 24.03.16].
    » http://ecdc.europa.eu/en/publications/Publications/rapid-risk-assessment-zika-virus-first-update-jan-2016.pdf
  • 31
    Rasmussen SA, Jamieson DJ, Margaret A, Honein MA, Petersen LR. Zika virus and birth defects - reviewing the evidence for causality. Special report. N Engl J Med. 2016;:1-7.
  • 32
    WHO. WHO Director-General summarizes the outcome of the Emergency Committee regarding clusters of microcephaly and Guillain-Barré syndrome. Geneva: World Health Organization; 2016. Available from: http://who.int/mediacentre/news/statements/2016/emergency-committee-zika-microcephaly/en/ [cited 28.03.16].
    » http://who.int/mediacentre/news/statements/2016/emergency-committee-zika-microcephaly/en/
  • 33
    Winchester P, Proctor C, Ying J. County-level pesticide use and risk of shortened gestation and preterm birth. Acta Paediatr. 2016;105:e107-e115.
  • 34
    Chen M, Chang CH, Tao L, Lu C. Residential exposure to pesticide during childhood and childhood cancers: a meta-analysis. Pediatrics. 2015;136:719-729.
  • 35
    Curvo HR, Pignati WA, Pignatti MG. Morbimortalidade por câncer infanto juvenil associada ao uso agrícola de agrotóxicos no Estado de Mato Grosso, Brasil. Cad Saúde Coletiva. 2013;21:10-17.
  • 36
    Grandjean P, Landrigan PJ. Neurobehavioural effects of developmental toxicity. Lancet Neurol. 2014;13:330-338.
  • 37
    Eskenazi B, Bradman A, Castorina R. Exposures of children to organophosphate pesticides and their potential adverse health effects. Environ Health Perspect. 1999;107:S409-S419.
  • 38
    Turner MC, Wigle DT, Krewski D. Residential pesticides and childhood leukemia: a systematic review and meta-analysis. Environ Health Perspect. 2010;118:33-41.
  • 39
    Rice D, Barone S. Critical periods of vulnerability for the developing nervous system: evidence from humans and animal models. Environ Health Perspect. 2000;108:511-533.
  • 40
    D'Ippolito G, Medeiros RB. Exames radiológicos na gestação. Radiol Bras. 2005;38:447-450.
  • 41
    Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Identifying critical windows of exposure for children's health. Environ Health Perspect. 2000;108:S451-S455.
  • 42
    Aquino LA. Acompanhamento do crescimento normal. Revista de Pediatria SOPERJ. 2011;12:15-20.
  • 43
    Romani SA, Lira PI. Fatores determinantes do crescimento infantil. Rev Bras Saúde Mater Infant. 2004;4:15-23.
  • 44
    Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Why are children often especially susceptible to the adverse effects of environmental toxicants? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=3 [cited 13.03.15].
    » http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=3
  • 45
    WHO. Children's Health and the Environment. Children are not little adults. Geneva: World Health Organization; 2008. Available from: http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf [cited 12.01.15].
    » http://www.who.int/ceh/capacity/Children_are_not_little_adults.pdf
  • 46
    The National Academies Press - NAP. Special characteristics of children. In: Pesticides in the diets of infants and children. National Research Council (US) Committee on Pesticides in the Diets of Infants and Children. Washington, DC: The National Academies Press; 1993. p. 24-44.
  • 47
    Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Why do a child's age and developmental stage affect physiological susceptibility to toxic substances? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=7 [cited 12.03.15].
    » http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=7
  • 48
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil. Série Cadernos de Atenção Básica nº 11. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Brasília: Ministério da Saúde; 2002.
  • 49
    Zick GSN. Os fatores ambientais no desenvolvimento infantil. Revista de Educação do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Alto Uruguai - IDEAU. 2010. Available from: http://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/176_1.pdf [cited 23.01.15].
    » http://www.ideau.com.br/getulio/restrito/upload/revistasartigos/176_1.pdf
  • 50
    Wilson JC. Current status of teratology. In: Wilson JC, Fraser FC, editors. General principles and mechanisms derived from animal studies. Handbook of teratology. General principles and etiology. Nova York: Plenum Press; 1977. p. 47-74.
  • 51
    Ito T, Ando H, Suzuki T, Ogura T, Hotta K, Imamura Y, et al. Identification of a primary target of thalidomide teratogenicity. Science. 2010;327:1345-1350.
  • 52
    Westwood M, Kramer MS, Munz D, Lovett JM, Watters GV. Growth and development of full-term nonasphyxiated small-for-gestational-age newborns: follow-up through adolescence. Pediatrics. 1983;71:376-382.
  • 53
    Alves C, Flores LC, Cerqueira TS, Toralles MB. Exposição ambiental a interferentes endócrinos com atividade estrogênica e sua associação com distúrbios puberais em crianças. Cad Saúde Pública. 2007;23:1005-1014.
  • 54
    Agencia Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. Modulo III. Fundamentos de toxicologia. Fase 1 - Exposição; 2006. Available from: http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/mIII.fase1.htm [cited 13.06.15].
    » http://ltc-ead.nutes.ufrj.br/toxicologia/mIII.fase1.htm
  • 55
    Stolf A, Dreifuss A, Vieira FL. Farmacocinética. In: III Curso de Verão em Farmacologia. Paraná: UFPR Biológicas; 2011. p. 3-22.
  • 56
    Chaves RG, Lamounier JA, César CC. Medicamentos e amamentação: atualização e revisão aplicadas à clínica materno-infantil. Rev Paul Pediatr. 2007;25:276-288.
  • 57
    Landrigan PJ, Sonawane B, Mattison D, McCally M, Garg A. Chemical contaminants in breast milk and their impacts on children's health: an overview. Environ Health Perspect. 2002;110:A313-A315.
  • 58
    Solomon GM, Weiss PM. Chemical contaminants in breast milk: time trends and regional variability. Environ Health Perspect. 2002;110:A339-A347.
  • 59
    Primo CC, Ruela PB, Brotto LD, Garcia TR, Lima EF. Efeitos da nicotina materna na criança em amamentação. Rev Paul Pediatr. 2013;31:392-397.
  • 60
    Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. How are newborns, infants, and toddlers exposed to and affected by toxicants? In: Principles of pediatric environmental health; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=9 [cited 14.03.15].
    » http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=9
  • 61
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria da Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. Amamentação e uso de medicamentos e outras substâncias. Ministério da Saúde, Secretaria da Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. 2nd ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2014.
  • 62
    Pinkerton KE, Joad JP. The mammalian respiratory system and critical windows of exposures for children's health. Environ Health Perspect. 2000;108:S457-S462.
  • 63
    Zhang L, González-Chica DA, Cesar JA, Mendoza-Sassi RA, Beskow B, Larentis N, et al. Tabagismo materno durante a gestação e medidas antropométricas do recém-nascido: um estudo de base populacional no extremo sul do Brasil. Cad Saúde Pública. 2011;27:1768-1776.
  • 64
    Stocks J, Desateaux C. The effect of parental smoking on lung function and development during infancy. Respirology. 2003;8:266-285.
  • 65
    US Department of Health and Human Services. The health consequences of involuntary exposure to tobacco smoke: a report of the surgeon general. Atlanta: Centers for Disease Control and Prevention; 2006. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK44324 [cited 15.11.15].
    » http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK44324
  • 66
    Schvartsman C, Farhat SC, Schvartsman S, Saldiva PH. Parental smoking patterns and their association with wheezing in children. Clinics. 2013;68:934-939.
  • 67
    Castro HA, Cunha MF, Mendonça GA, Junger WL, Cunha-Cruz J, Leon AP. Effect of air pollution on lung function in schoolchildren in Rio de Janeiro, Brazil. Rev Saude Publica. 2009;43:26-34.
  • 68
    Rosa AM, Ignotti E, Hacon Sde S, Castro HA. Analysis of hospitalizations for respiratory diseases in Tangará da Serra, Brazil. J Bras Pneumol. 2008;34:575-582.
  • 69
    Abdulbari B, Madeeha K, Nigel JS. Impact of asthma and air pollution on school attendance of primary school children: are they at increased risk of school absenteeism? J Asthma. 2007;44:249-252.
  • 70
    Riguera D, André PA, Zanetta DM. Poluição da queima de cana e sintomas respiratórios em escolares de Monte Aprazível, SP. Rev Saúde Pública. 2011;45:878-886.
  • 71
    Jasinski R, Pereira LA, Braga AL. Poluição atmosférica e internações hospitalares por doenças respiratórias em crianças e adolescentes em Cubatão, São Paulo, Brasil, entre 1997 e 2004. Cad Saúde Pública. 2001;27:2242-2252.
  • 72
    Vieira SE, Stein RT, Ferraro AA, Pastro LD, Pedro SS, Lemos M, et al. Urban air pollutants are significant risk factors for asthma and pneumonia in children: the influence of location on the measurement of pollutants. Arch Broncopneumol. 2012;48:389-395.
  • 73
    Ostro B, Roth L, Malig B, Mart M. The effects of fine particle components on respiratory hospital admissions in children. Environ Health Perspect. 2009;117:475-480.
  • 74
    Pereira ED, Torres L, Macêdo J, Medeiros MM. Efeitos do fumo ambiental no trato respiratório inferior de crianças com até 5 anos de idade-Ceará. Rev Saúde Pública. 2000;34:39-43.
  • 75
    Carvalho LM, Pereira ED. Morbidade respiratória em crianças fumantes passivas. J Pneumol. 2002;28:8-14.
  • 76
    Coelho SA, Rocha AS, Jong LC. Consequências do tabagismo passivo em crianças. Cienc Cuid Saúde. 2012;11:294-301.
  • 77
    Landrigan P, Garg A, Droller DB. Assessing the effects of endocrine disruptors in the National Children's Study. Environ Health Perspect. 2003;111:1678-1682.
  • 78
    Pryor JL, Hughes C, Foster W, Hales BF, Robaire B. Critical windows of exposure for children's health: the reproductive system in animals and humans. Environ Health Perspect. 2000;108:S491-S503.
  • 79
    Guimarães RM, Asmus CI, Coeli CM, Meyer A. Endocrine-reproductive system's critical windows: usage of physiological cycles to measure human organochlorine exposure biohazard. Cad Saúde Colet. 2009;17:375-390.
  • 80
    Koifman S, Paumgartten FJ. O impacto dos desreguladores endócrinos ambientais sobre a saúde pública. Cad Saúde Pública. 2002;18:354-355.
  • 81
    WHO. Effects of human exposure to hormone-disrupting chemicals examined in landmark UN report. Geneva: World Health Organization; 2013. Available from: http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2013/hormone_disrupting_20130219/e/ [cited 26.01.15].
    » http://www.who.int/mediacentre/news/releases/2013/hormone_disrupting_20130219/e/
  • 82
    Guimarães RM, Asmus CI. Por quê uma saúde ambiental infantil? Avaliação da vulnerabilidade de crianças a contaminantes ambientais. Pediatria (São Paulo). 2010;32:239-245.
  • 83
    Aksglaede L, Juul A, Andersson AM. The sensitivity of the child to sex steroids: possible impact of exogenous estrogens. Hum Reprod. 2006;12:341-349.
  • 84
    Flores AV, Ribeiro JN, Neves AA, Queiroz EL. Organochlorine: a public health problem. Ambient Soc. 2004;7:111-124.
  • 85
    Needlman RD. Crescimento e desenvolvimento. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, editors. Nelson, Tratado de pediatria. 17th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 25---71.
  • 86
    Soldin OP, Hanak B, Soldin SJ. Blood lead concentration in children: new range. Clin Chim Acta. 2003;327:109-113.
  • 87
    Mlakar J, Korva M, Tul N, Popović M, Poljšak-Prijatelj M, Mraz J. Zika virus associated with microcephaly. N Engl J Med. 2016;374:951-958.
  • 88
    Sarno M, Sacramento GA, Khouri R, Rosário MS, Costa F, Archanjo G, et al. Zika virus infection and stillbirths: a case of hydrops fetalis, hydranencephaly and fetal demise. PLoS Negl Trop Dis. 2016;10:e0004517.
  • 89
    Kline MW, Schutze GE. What pediatricians and other clinicians should know about zika virus. JAMA Pediatr. 2016;170:309-310.
  • 90
    Martines RB, Bhatnagar J, Keating MK, Silva-Flannery L, Muehlenbachs A, Gary J, et al. Notes from the field: evidence of Zika virus infection in brain and placental tissues from two congenitally infected newborns and two fetal losses: Brazil, 2015. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2016;65:159-160.
  • 91
    de Paula Freitas B, de Oliveira Dias JR, Prazeres J, Sacramento GA, Ko AI, Maia M, et al. Ocular findings in infants with microcephaly associated with presumed zika virus congenital infection in Salvador, Brazil. JAMA Ophthalmol. 2016. E1-6. Available from: http://archopht.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=2491896 [cited 03.03.16].
    » http://archopht.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=2491896
  • 92
    Banks WA. Characteristics of compounds that cross the blood-brain barrier. BMC Neurol. 2009;9:S3.
  • 93
    Rojas H, Ritter C, Pizzol FD. Mechanisms of dysfunction of the blood-brain barrier in critically ill patients: emphasis on the role of matrix metalloproteinases. Rev Bras Ter Intensiva. 2011;23:222-227.
  • 94
    Silva AL. Interferentes endócrinos no meio ambiente: um estudo de caso em amostras de água in natura e efluente da estação de tratamento de esgotos da Região Metropolitana de São Paulo [dissertation]. USP: Programa de Pós-Graduação de Saúde Pública; 2009.
  • 95
    Weiss B. Vulnerability of children and the developing brain to neurotoxic hazards. Environ Health Perspect. 2000;108:375-381.
  • 96
    Sreedharan R, Mehta DI. Gastrointestinal tract. Pediatrics. 2004;113:1044-1050.
  • 97
    Capitani EM. Metabolismo e toxicidade do chumbo na criança e no adulto. Medicina (Ribeirão Preto). 2009;42:278-286.
  • 98
    Chaudhuri N, Fruchtengarten L. Where the child lives and plays: a resource manual for the health sector. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment: a global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 29-39 [chapter 3]. Available from: http://whqlibdoc.who.int/publications/2005/9241562927_eng.pdf [cited10.03.15].
    » http://whqlibdoc.who.int/publications/2005/9241562927_eng.pdf
  • 99
    Agency for Toxic Substances & Disease Registry - ATSDR. Principles of pediatric environmental health. What are special considerations regarding toxic exposures to young and school-age children, as well as adolescents?; 2012. Available from: http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=10 [cited 15.03.15].
    » http://www.atsdr.cdc.gov/csem/csem.asp?csem=27&po=10
  • 100
    Miller MD, Marty MA, Arcus A, Brown J, Morry D, Sandy M. Differences between children and adults: implications for risks assessment at California EPA. Int J Toxicol. 2002;21:403-418.
  • 101
    The National Academies Press - NAP. Adverse health effects of exposure to lead. In: Measuring lead exposure in infants, children, and other sensitive populations. Washington, DC: The National Academy Press; 1993. p. 31-93.
  • 102
    Paustenbach K, Finley B, Long T. The critical role of house dust in understanding the hazards posed by contaminated soils. Int J Toxicol. 1997;16:339-362.
  • 103
    Bucaretchi F, Baracat EC. Acute toxic exposure in children: an overview. J Pediatr (Rio J). 2005;81:S212-S222.
  • 104
    Ruppenthal JE. Toxicologia. Colégio Técnico Industrial de Santa Maria. UFSM. Rede e-Tec Brasil; 2013.
  • 105
    Ramos CL, Targa MB, Stein AT. Perfil das intoxicações na infância atendidas pelo Centro de Informação Toxicológica do Rio Grande do Sul (CIT/RS), Brasil. Cad Saúde Pública. 2005;21:1134-1141.
  • 106
    Altemani JM. Dimensões renais em recém-nascidos medidas pelo ultrassom: correlação com idade gestacional e peso [dissertation]. UNICAMP: Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas; 2001.
  • 107
    Hoy WE, Ingelfinger JR, Hallan S, Hughson MD, Mott SA, Bertram JF. The early development of the kidney and implications for future health. J Dev Orig Health Dis. 2010;1:216-233.
  • 108
    Ingelfinger JR, Kalantar-Zadeh K, Schaefer F. In time: averting the legacy of kidney disease - focus on childhood. Rev Paul Pediatr. 2016;34:5-10.
  • 109
    Vogt BA, Avner ED. Insuficiência renal. In: Behrman RE, Kliegman RM, Jenson HB, editors. Nelson, Tratado de pediatria, vol. 2, 17th ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. p. 1875-8.
  • 110
    Noronha L, Medeiros F, Sepulcri RP, Fillus Neto J, Luiz Fernando Bleggi-Torres LF. Manual de dermatologia. Curitiba: PUCPR; 2000.
  • 111
    Mancini AJ. Skin. Pediatrics. 2004;113:S1114-S1119.
  • 112
    Selevan SG, Kimmel CA, Mendola P. Windows of susceptibility to environmental exposures in children. In: Pronczuk-Garbino J, editor. Children's health and the environment. A global perspective. Geneva: World Health Organization; 2005. p. 17-25.
  • 113
    Valenzuela PM, Matus MS, Araya GI, Paris E. Environmental pediatrics: an emerging issue. J Pediatr (Rio J). 2011;87:89-99.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan/Feb 2017

Histórico

  • Recebido
    10 Jul 2016
  • Aceito
    19 Jul 2016
Sociedade Brasileira de Pediatria Av. Carlos Gomes, 328 cj. 304, 90480-000 Porto Alegre RS Brazil, Tel.: +55 51 3328-9520 - Porto Alegre - RS - Brazil
E-mail: jped@jped.com.br