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Tratamento das lesões de aorta nos traumatismos vasculares fechados

Management of aortic lesions in blunt chest trauma

EDITORIAL

Tratamento das lesões de aorta nos traumatismos vasculares fechados

Management of aortic lesions in blunt chest trauma

Arno von Ristow

Cirurgião vascular. Professor associado, Curso de Pós-Graduação em Cirurgia Vascular, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Diretor e chefe do Departamento de Cirurgia Vascular e Endovascular, CENTERVASC. Presidente da Sociedade Latino-Americana de Cirurgia Endovascular (CELA)

Neste número do Jornal Vascular Brasileiro, é apresentado um artigo sobre o tratamento das lesões de aorta nos traumatismos vasculares fechados, de autoria de Mioto Neto et al.1 A opção do método endovascular, apresentado como forma eficiente de tratamento dessa grave e muito freqüentemente letal conseqüência das contusões torácicas - a ruptura traumática da aorta (RTA) - faz dele o trabalho pioneiro em nosso meio.

Cerca de 90% dos pacientes com RTA falecem dentro de 24 horas, se não tratados de forma definitiva. Dos que chegam com vida ao hospital, 30% falecem dentro das primeiras 6 horas, se uma terapêutica efetiva não for aplicada. Esses dados são contundentes: o diagnóstico deve ser rápido e preciso, e o tratamento, expedito24.

Os autores ressaltam o fator mais importante para o sucesso do tratamento da RTA: alto índice de suspeição por parte dos médicos que atuam em emergências! A apresentação de paciente traumatizado com possível lesão por desaceleração súbita deve alertar ao médico do primeiro atendimento e aos médicos dos Serviços de Pronto-Socorro para essa possibilidade. Uma simples radiografia de tórax, evidenciando alargamento do mediastino, sugere a presença de RTA; a confirmação é obtida com a angiotomografia computadorizada.

A lesão aórtica deve ser reparada o mais rápido possível! Embora as técnicas de cirurgia aórtica direta tenham evoluído de forma considerável nas últimas décadas, muitos pacientes com ruptura traumática da aorta são maus candidatos a uma abordagem direta, pela presença constante de múltiplas lesões associadas, dificultando essa abordagem e elevando a morbidade - sobretudo a paraplegia - a níveis elevados e com mortalidade sempre superior a 15%5.

O método endoluminal apresenta-se como uma forma efetiva para o tratamento da RTA: a abordagem é em local remoto - femoral ou ilíaca -, dispensa toracotomia, pode ser realizada com heparinização mínima, logo revertida, ou até sem anticoagulação, e os eventuais problemas oriundos da oclusão da artéria subclávia esquerda certamente serão resolvidos, em breve futuro, com próteses ramificadas. As endopróteses utilizadas geralmente são curtas, de 10 a 15 cm, fazendo com que a taxa de paraplegia seja mínima. Nossa experiência pessoal com seis casos de RTA confirma as conclusões dos autores.

As endopróteses adequadas para o tratamento endovascular existem, inclusive com competente fabricação nacional. Persiste o problema da escassa disponibilidade dos dispositivos para uso emergencial, a ser solucionado pelos administradores da saúde pública e privada - os autores chamam a atenção para a ocorrência de 900 a 1.200 óbitos com lesões aórticas entre os 6.404 óbitos relacionados a acidentes automobilísticos ocorridos no município de São Paulo no ano de 2002.

Congratulamos os autores por apresentarem esse tema de forma pioneira e esclarecedora, e oxalá sejam muitos os colegas que tenham sua perspicácia clínica despertada para o diagnóstico dessa mortal, mas curável lesão aórtica.

Referências

1. Mioto Neto B, Aun R, Estenssoro AEV, Puech-Leão P. Tratamento das lesões de aorta nos traumatismos torácicos fechados. J Vasc Br 2005;4:217-26.

2. Fabian TC, Richardson JD, Croce MA, et al. Prospective study of blunt injury: multicenter trial of the American Association for Surgery of Trauma. J Trauma. 1997;42:37483.

3. Kodolitsch YV, Baumgart D, Eggebrecht H, et al. Das akute Aortensyndrom. Dtsch Arztebl. 2003:100-326.

4. Rousseau H, Dambrim C, Cron C, et al. Rupture of the aortic istmus: how do I do it and what are the pitfalls? In: Becquemin JP, Loissance D, Watelet J. Controversies and updates in vascular and cardiovascular surgery. Torino: Minerva Medica; 2003. p. 316.

5. Kouchoukos NT, Dougenis D. Surgery of the thoracic aorta. N Engl J Med. 1997;336:1876-88.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Abr 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2005
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