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INTERAÇÃO FICTIVA EM DISCURSO DIRETO: COMO E POR QUE LÍDERES RELIGIOSOS CONVENCEM MULTIDÕES

Fictive Interaction in Direct Speech: How and Why Religious Leaders Persuade Crowds

Interacción fictiva en el discurso directo: cómo y por qué los líderes religiosos convencen a las multitudes

Resumo

Este artigo investiga por que os adeptos de certas religiões são, por vezes, tomados por uma sensação mística de que padres, pastores e líderes espíritas estão pregando direta e particularmente para seus “corações e mentes” durante missas, cultos e palestras. Sustenta-se que o uso da Interação Fictiva (IF), especificamente em Discurso Direto Fictivo (DDFic), tem papel crucial na tentativa de provocar essa sensação. Entende-se a IF como o fenômeno do uso do Frame de Conversa para estruturar pensamento, gramática e discurso (Pascual, 2014). De metodologia qualitativo-interpretativa e agregando aspectos cognitivos e interacionais, o trabalho resulta no achado de que a Interação Fictiva, como estratégia argumentativa, viabiliza deiticamente acesso a um espaço conceptual genérico, pronto para ser preenchido e instanciado pela audiência. Demonstra-se, ainda, como o DDFic oportuniza projeções dos fiéis em si mesmos e a consequente sensação de que o orador adivinha o que eles pensam/sentem.

Palavras-chave:
Cognição; Interação; Fictividade; Discurso Direto Fictivo; Argumentação

Abstract

This article investigates why adherents of certain religions are sometimes overcome by a mystical sensation that priests, pastors and spiritual leaders are preaching directly and particularly to their “hearts and minds” during masses, services and lectures? It is argued that the use of Fictive Interaction (IF), specifically in Fictive Direct Speech (FDS), plays a crucial role in trying to provoke this sensation. IF is understood as the phenomenon of using the Conversation Frame to structure thought, grammar and discourse (Pascual, 2014). From a qualitative-interpretative methodology and aggregating cognitive and interactional aspects, this work results in the finding that Fictive Interaction, as an argumentative strategy, deitically enables access to a generic conceptual space, ready to be filled and instantiated by the audience. It also demonstrates how FDS provides for projections of the believers in themselves and the consequent sense that the speaker guesses what they think/feel.

Keywords:
Interaction; Fictivity; Fictive Direct Speech; Argumentation

Resumen

Este artículo investiga por qué los seguidores de ciertas religiones a veces se sienten abrumados por la sensación mística de que sacerdotes, pastores y líderes espirituales están predicando directa y particularmente a sus “corazones y mentes” durante misas, servicios y conferencias. Se argumenta que el uso de Interacción Fictiva (IF), específicamente en Discurso Directo Fictivo (DDFic), juega un papel crucial al intentar provocar esta sensación. Se entiende por IF el fenómeno de utilizar el Marco de Conversación para estructurar el pensamiento, la gramática y el discurso (Pascual, 2014). Utilizando una metodología cualitativa-interpretativa y agregando aspectos cognitivos e interaccionales, el trabajo resulta en el hallazgo de que la Interacción Fictiva, como estrategia argumentativa, permite deícticamente el acceso a un espacio conceptual genérico, listo para ser llenado e instanciado por la audiencia. También se demuestra cómo el DDFic permite proyecciones de los fieles sobre sí mismos y la consiguiente sensación de que el hablante adivina lo que piensa/siente.

Palabras clave:
Cognición; Interacción; Ficción; Discurso Directo Fictivo; Argumentación

1 INTRODUÇÃO

Em texto seminal sobre fictividade1 1 A decisão por traduzir literalmente as palavras “fictivity” e “fictive” como “fictividade” e “fictivo(a)”, em vez de “ficção” e “ficcional”, visa a evitar a interpretação desses termos como necessariamente vinculados à ficção. “O termo ‘fictivo’ foi adotado por sua referência à capacidade imaginativa da cognição, não para sugerir (como talvez a palavra ‘fictício’ pudesse) que uma representação é, de alguma forma, objetivamente irreal” (Talmy, 2019, p. 196). No original: “And the term ‘fictive’ has been adopted for its reference to the imaginal capacity of cognition, not to suggest (as perhaps the word ‘fictiticious’ would) that a representation is somehow objectively unreal” (Talmy, 2000, p. 100). , Talmy (2000TALMY, L. Fictive Motion in Language and “Ception”. In: TALMY, Leonard. Toward a Cognitive Semantics: Concept Structuring Systems, Volume 1,The MIT Press, 2000, p. 99-175.) desfaz a distinção entre concepção e percepção propondo o termo “ception” (“cepção”) para abarcar um único domínio cognitivo contínuo, vinculado a parâmetros gradientes de palpabilidade visual. No estudo, o autor trata, especificamente, do movimento fictivo, que pode ser representado pelo clássico exemplo The fence goes/zigzags/descends from the plateau to the valley (A cerca vai/ziguezagueia/desce do planalto para o vale), em que o movimento da cerca representa apenas uma “cepção" do conceptualizador, não do objeto em si. Ao relacionar cognição visual e cognição linguística, Talmy (2000) explica que o termo “factivo” pode ser aplicado à representação visual e linguística mais palpável; e o termo “fictivo”, ao menos palpável. Assim, ele advoga que um indivíduo “vê” a representação factiva e apenas “percebe” a fictiva.

Podemos considerar, então, que há “cepções” menos palpáveis que podem ser sentidas de forma nem tão explícita, mas que, ainda sim, são sugeridas e passíveis de conceptualização. No plano discursivo, por exemplo, “cepções” mais ou menos palpáveis, mais ou menos fictivas, podem sutilmente ser evocadas pelas pistas de linguagem e invocadas pelos conceptualizadores.

Nesse sentido, este artigo questiona: por que os adeptos de certas religiões são, por vezes, tomados por uma sensação mística de que padres, pastores e líderes espíritas estão pregando direta e particularmente para seus “corações e mentes” durante missas, cultos e palestras? A resposta é encaminhada tendo em vista um objeto de análise pouco palpável em termos discursivos: o Discurso Direto Fictivo (DDFic).

Evidentemente, não temos a pretensão de desvelar a singularidade das projeções mentais e individuais de cada um dos fiéis, mas objetivamos, principalmente, sustentar a hipótese de que o uso da Interação Fictiva (IF), especificamente em DDFic, como estratégia linguístico-cognitiva adotada por líderes religiosos em contextos de pregação, tem papel crucial na tentativa de provocar tal sensação mística, como “cepção” fictiva, e persuadir multidões de fiéis para suas crenças. Amplamente falando, Pascual (2014PASCUAL, E. Fictive Interaction: The Conversation Frame in Thought, Language, and Discourse. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2014.) já atentara para o uso geral de IF como recurso argumentativo, fenômeno segundo o qual estruturas linguístico-cognitivas de conversa são utilizadas para estruturar o que não é uma conversa. No entanto, essa categoria de análise ainda não havia sido explorada, especificamente, no discurso religioso.

Para que se possa entender os desdobramentos da resposta às questões apresentadas, faz-se necessário um percurso que envolva pressupostos teóricos de caráter cognitivista e discursivo-interacional (Talmy, 2000TALMY, L. Fictive Motion in Language and “Ception”. In: TALMY, Leonard. Toward a Cognitive Semantics: Concept Structuring Systems, Volume 1,The MIT Press, 2000, p. 99-175.; Langacker, 2008LANGACKER, R. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. Oxford: Oxford UP, 2008.; Lakoff; Johnson, 1980/2002; Pascual, 2014PASCUAL, E. Fictive Interaction: The Conversation Frame in Thought, Language, and Discourse. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2014.; Goffman, 1979/2013; Schiffrin, 1987SCHIFFRIN,D. Background:whatisadiscourse? In: SCHIFFRIN, D. Discourse Markers. Cambridge: Cambridge UP, 1987. p.1-30.) e aspectos metodológicos de base qualitativa e interpretativa (Denzin; Lincoln, 2006DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. A disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. (Org.). Planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2006.p. 15-41.), até que se chegue à análise de três excertos referentes a pregações de renomados líderes religiosos brasileiros, representantes do catolicismo (Padre Fábio de Melo), do protestantismo (Pastor Silas Malafaia) e do espiritismo kardecista (Médium Divaldo Pereira Franco).

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

2.1 FICTIVIDADE

A fictividade se manifesta com o uso de expressões linguísticas que não estão vinculadas diretamente a seus referentes. Os usuários das línguas perspectivizam cenários que são avaliados como não verídicos para conseguir acesso mental a cenários admitidos como verídicos. De acordo com Talmy (2000TALMY, L. Fictive Motion in Language and “Ception”. In: TALMY, Leonard. Toward a Cognitive Semantics: Concept Structuring Systems, Volume 1,The MIT Press, 2000, p. 99-175.), o fenômeno se apresenta como um padrão cognitivo de representações discrepantes de um mesmo objeto - uma considerada mais verídica (factiva) e a outra menos verídica (fictiva). No caso deste artigo, o discurso é o objeto, sendo que o Discurso Direto Fictivo, aqui em relevo, é entendido como representação fictiva ou não genuína de sua contraparte canônica, o discurso direto (Rocha, 2020ROCHA, L. F. M. Discurso Reportado é problema; Interação Fictiva, solução: padrões discursivos e informacionais em corpus de fala espontânea do PB. Revista Lingüística (ALFAL), v. 36, n. 2, dezembro 2020.).

Por sua vez, Langacker (2008LANGACKER, R. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. Oxford: Oxford UP, 2008., p. 524) explica que a fictividade se expressa, entre outras formas, nos produtos de metáfora, como, por exemplo, em “O casamento está passando por uma fase de turbulências”. Na verdade, os estudos de Langacker (2008) e também de Talmy (2000TALMY, L. Fictive Motion in Language and “Ception”. In: TALMY, Leonard. Toward a Cognitive Semantics: Concept Structuring Systems, Volume 1,The MIT Press, 2000, p. 99-175.) harmonizam-se com a Teoria da Metáfora, de Lakoff e Johnson (1980/2002). Especificamente, Talmy (2000) considera que a discrepância da fictividade entre as representações se manifesta nos conceitos primordiais de domínio-fonte e domínio-alvo. Com base na metáfora conceptual “AMOR É VIAGEM” (Lakoff; Johnson, 1980/2002), é possível entender, por exemplo, o esquema defendido por Talmy (2000), em que “X é Y” (AMOR É VIAGEM) é fictivo, e “X não é Y” (AMOR NÃO É VIAGEM) é factivo. Na metáfora, o domínio-alvo “AMOR” é entendido factivamente, enquanto o domínio-fonte “VIAGEM” é compreendido fictivamente, menos verídico. A metáfora dependeria, então, do fato de que os interlocutores têm, em sua cognição, não só uma crença sobre o domínio-alvo contrária à sua representação cognitiva do que está sendo afirmado, mas também um entendimento da discrepância entre essas duas representações.

Como um dos casos de fictividade à parte dos produtos de metáfora, Langacker (2008LANGACKER, R. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. Oxford: Oxford UP, 2008.) apresenta a possibilidade de invocação fictiva de um cenário de ato de fala. Por exemplo: a proposição “Eu estarei lá”, em si, não tem status epistêmico, mas se tomada como promessa, evoca cenário fictivo. Como será explanado na próxima seção, Pascual (2002PASCUAL, E. Imaginary Trialogues: Conceptual Blending and Fictive Interaction in Criminal Courts. PhD dissertation, VrijeUniversiteit te Amsterdam, 2002. Disponível em: http://www.lotpublications.nl/publish/articles/000287/bookpart.pdf. Acesso em: 30 set. 2017.
http://www.lotpublications.nl/publish/ar...
) trata a invocação fictiva de um cenário de ato de fala como Interação Fictiva, termo cunhado por ela.

2.2 INTERAÇÃOFICTIVA

Pascual (2014PASCUAL, E. Fictive Interaction: The Conversation Frame in Thought, Language, and Discourse. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2014.) conceitua Interação Fictiva (IF) como o uso do Frame de Conversa (estrutura cognitiva sobre conhecimentos acerca do que é e como conversar) para organizar pensamento, gramática e discurso. De caráter intersubjetivo, a IF se manifesta em algumas instâncias linguísticas, nas quais se pode aplicar a fórmula fictiva “X é Y”, a saber: ironia (“Ah ele vai terminar a tese no prazo, sim, e eu vou ser eleito papa” (Pascual, 2014), em que uma afirmação significa o contrário do que se afirma; pergunta retórica (Quem realmente precisa de ufologia para viver?), que não almeja resposta; comando retórico (Fala sério, mãe! Eu não sou mais criança), que não deve ser necessariamente seguido; afirmação fictiva (Deus sabe o quanto eu sofri), em que se assevera algo não genuíno apenas para enfatizar argumentos; pedido retórico de desculpas (Me desculpe, mas não vou morrer por sua causa), que não configura pesar, mas recurso argumentativo.

De acordo com Pascual (2014PASCUAL, E. Fictive Interaction: The Conversation Frame in Thought, Language, and Discourse. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company, 2014.), as ocorrências de Interação Fictiva podem ser classificadas como: (a) intersentencial, como o padrão pergunta-resposta, em tópico, foco, construções relativas e condicionais; (b) sentencial, como afirmações, perguntas, comandos, pedidos de desculpas, cumprimentos e trocas de polidez; (c) intrassentencial, nos níveis clausal, sintagmático e lexical; (d) compostos nominais de discurso direto. Nesse sentido, estaríamos contemplando, neste artigo, o nível intersentencial, visto que o DDFic é, na maioria das vezes, composto por combinações frasais. Porém, como nosso foco diz respeito ao uso de enunciados de Discurso Direto Fictivo, evocam-se seus domínios pragmáticos, não apenas sintáticos e semânticos.

Rocha e Arantes (2016ROCHA, L.; ARANTES, P. Intonation of Fictive vs. Actual Direct Speech in a Brazilian Portuguese Corpus. In: PASCUAL, E.; SANDLER, S. (Eds.) The Conversation Frame: Forms and Functions of Fictive Interaction. Amsterdam: John Benjamins, 2016.) já haviam apontado tendências discursivas e melódicas envolvidas tanto na produção quanto na interpretação de usos factivos de autocitação (Eu falei: Joana, não vá agora!) e fictivos (Eu falei (pensei): meu Deus do céu! Que loucura!), o que comprovou o apoio pragmático da prosódia na distinção entre eles. De acordo com os autores, há também características contextuais circunvizinhas que endossam a leitura fictiva de certas autocitações integradas ao discurso, a saber: (a) monólogos, digressões e expressões subjetivas com conteúdo fortemente emocional; (b) cotexto epistêmico que precede a construção fictiva, com verbos a exemplo de “achar”, “pensar”, “desesperar”; (c) presença de vocativos retóricos e de interjeições utilizados para adicionar drama ao uso argumentativo; (d) manifestação de promessa, plano, avaliação e apreciação; (e) incongruência dêitica entre a cláusula encaixada e o material precedente.

Então, a fictividade do que se analisa, neste artigo, conta muito com o que a teia discursiva oferece em termos pragmáticos e interacionais. Como se entende que a IF é uma estratégia comunicativa voltada para a persuasão via enunciados que afirmam X para demonstrar Y, evidencia-se o interesse em também tratá-la no plano argumentativo. Por isso, este trabalho é de orientação cognitiva e discursivo-interacional, ao alinhavar pressupostos teóricos que se complementam para explicar o uso, por força do próprio objeto de pesquisa: o Discurso Direto Fictivo.

2.3 ASPECTOS DISCURSIVO-INTERACIONAIS

Para Langacker (2008LANGACKER, R. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. Oxford: Oxford UP, 2008., p. 457), o discurso é a base para a estrutura da linguagem e, portanto, essencial para a compreensão da gramática2 2 Texto original: “Discourse is in fact the very basis for language structure and is thus essential for understanding grammar” (Langacker, 2008, p. 457). . Essa afirmação encontra-se em seu tratado sobre Gramática Cognitiva, um dos modelos de gramática da Linguística Cognitiva, que, segundo o próprio autor, é intuitivamente natural, psicologicamente plausível e empiricamente viável3 3 Texto original: “This framework offers a comprehensive yet coherent view of language structure, with the further advantages (I would argue) of being intuitively natural, psychologically plausible, and empirically viable” (Langacker, 2008, p. 3). (Langacker, 2008, p. 3). Em um capítulo específico intitulado “Fronteiras”, Langacker trata do fenômeno da fictividade, que se manifesta, como já visto e com modos diversos, na invocação fictiva de um cenário de ato de fala, categoria esta que já vislumbra a dimensão do uso, da pragmática e da interação. Por isso, esta investigação, para além dos fundamentos cognitivistas, requisita três categorias de análise sob a ótica sociointeracional para também, analiticamente, tratar seus dados: as noções de footing e argumentação interacional.

Considerando a dinamicidade das interações, que exige, a cada momento, novas orientações discursivas, a primeira delas diz respeito ao conceito de footing, que, como conceitua Goffman (1979/2013, p. 107), abrange “[...] o alinhamento, a postura, a posição, a projeção do ‘eu’ de um participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o discurso em construção”. Quando uma mudança de footing ocorre interacionalmente, percebe-se um novo alinhamento, que o participante assume para si mesmo e também para os outros, expresso na forma pela qual se conduz a produção ou a recepção de uma elocução. Uma mudança de footing é outra maneira de tratar de uma mudança no enquadre dos eventos.

Referindo-se ao falante, Goffman (1979/2013) entende que segmentos relacionados à prosódia - a exemplo de timbre, ritmo e altura - podem ser percebidos, ainda que a troca de código, que é comum, não seja notada. O autor defende que, ligado ao conceito de footing, o formato de produção subdivide o falante em animador, autor e responsável ou principal. Animador refere-se ao falante como “a máquina de falar”, ao corpo que realiza a atividade acústica; autor, ao falante que é visto como agente, “dono do script”, aquele que escolhe as palavras e os sentimentos expressos; responsável ou principal, ao interlocutor com uma identidade social particular que se responsabiliza por sua posição e pelas opiniões e crenças que expressa.

Como o formato de produção dá relevo ao falante, outra categoria de análise se torna indispensável quando se estuda o discurso proferido por líderes religiosos: a argumentação interacional. Como um processo dinâmico e interativo, mediante o qual são negociadas posições expressas ou inferidas, ela é constituída de movimentos argumentativos (Schiffrin, 1987SCHIFFRIN,D. Background:whatisadiscourse? In: SCHIFFRIN, D. Discourse Markers. Cambridge: Cambridge UP, 1987. p.1-30.).

Os componentes da argumentação são arregimentados pela autora como: posição, ponto de vista a ser defendido pelo falante, sendo composta por uma ideia e pelo compromisso do falante em defendê-la - o que pode ser observado, por exemplo, pela postura e pela adesão, estendendo-se desde uma afirmação até à proteção ou intensificação do que é dito; a disputa refere-se a um desacordo em relação à posição ou à sustentação; o componente destinado a apoiar as posições em disputa é a sustentação do ponto de vista, em que se apresentam justificativas, explicações e evidências empíricas para induzir o falante a chegar a uma conclusão a respeito da aceitabilidade ou legitimidade da posição.

Essas ferramentas teóricas são importantes meios para que se possa, por fim, alinhavar a perspectiva cognitivo-interacional deste artigo, dado que o objeto em estudo tanto depende de constructos cognitivos quanto de sua flexibilização em termos de uso. A semântica e a sintaxe das construções de DDFic não são suficientes para que se dê conta do que há de fictivo nelas, visto dependerem de sua integração com o discurso para serem adequadamente interpretadas como tal. Para tanto, optou-se por recorrer ao uso, às interações e à empiria.

3 METODOLOGIA

De base qualitativa e interpretativa (Denzin e Lincoln, 2006DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. A disciplina e a prática da pesquisa qualitativa. In: DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. (Org.). Planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2006.p. 15-41.), este trabalho recorre a dados linguísticos reais de fala produzidos em eventos de pregação representativos das três religiões que mais agregam adeptos no Brasil. De acordo com informações do Censo (2010), divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os católicos romanos somam 64,6% da população, seguidos pelos evangélicos de diferentes subgrupos (22,2%) e pelos espíritas (2%). Com base nesses percentuais, selecionamos, na plataforma de publicação de vídeos Youtube, uma pregação de um líder renomado de cada uma dessas religiões para investigar a possibilidade do uso de Interação Fictiva em DDFic. Foram escolhidos vídeos com mensagens ministradas pelo padre católico Fábio deMelo, pelo pastor evangélico Silas Malafaia e pelo médium e palestrante espírita kardecista Divaldo Pereira Franco.

O sermão do padre foi publicado em 11 de dezembro de 2012 com o título “Padre Fábio de Melo_A Vitória que vence o mundo,a nossa Fé_Hosana Brasil 2012_1ª Parte”, com duração de 34min6s, no canal “Cristina Céu Lindo Céu”. Na data de acesso, dia 2 de julho de 2019, o vídeo tinha 66.437 visualizações.

De acordo com informações na descrição da publicação, padre Fábio de Melo teve o encontro com o público no dia 9 de dezembro de 2012, às 11h15, no Centro de Evangelização Dom João Hipólito de Moraes, em Cachoeira Paulista (SP). O trecho transcrito compreende o tempo entre 7min18s e 7min54s. O acesso ao vídeo pode ser feito por meio do seguinte endereço eletrônico: https://bit.ly/3QZsx9F.

Com 152.060 visualizações em 3 de agosto de 2019, o vídeo do pastor Silas Malafaia se intitula “Mensagem: Uma vida de prosperidade - Pr. Silas Malafaia”. Segundo descrição da postagem, a mensagem foi publicada em 11 de junho de 2012, pela Associação Vitória em Cristo (Avec), e tem a duração de 50min24s. O trecho transcrito para análise está entre 42min55s e 44min36s e pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico:https://bit.ly/46hufrs.

Já o vídeo do médium espírita kardecista, Divaldo Pereira Franco, foi publicado pelo canal “Bem Vindo” com o título de “Parte 01 de 06 - O amor como solução”. No entanto, no vídeo, que tem duração de 1h10min5s, o palestrante intitula a mensagem como “Dez técnicas para uma vida feliz”. A publicação foi feita no dia 7 de setembro de 2015, contando com 33.213 visualizações em 25 de setembro de 2019. O trecho transcrito para análise compreende do minuto 12min49s ao 13min54s. A mensagem completa pode ser acessada pelo seguinte endereço eletrônico: https://bit.ly/46f2JuK.

Os três fragmentos de pregação foram extraídos e transcritos pelos autores deste trabalho, girando em torno do destaque dado aos contextos discursivos de emergência de exemplares de Interação Fictiva, mais especificamente de Discurso Direto Fictivo. Neles, os oradores usam fictivamente o Frame de Conversa para estruturar seu discurso, remetendo-se a vozes genéricas e não genuínas (não reportadas, de fato), com o propósito de criar cenários possíveis em que podem tratar livremente de temas controversos. Assim, o recurso mostra-se potente em termos argumentativos, visto que licencia a projeção de vozes fictivas na subjetividade dos fiéis.

Vale destacar, ainda, que a mudança de footing está indicada nas transcrições com o símbolo “((MF))”, e outros comentários também estão entre parênteses duplos. Os trechos em DDFic foram transcritos em negrito.

4 ANÁLISE DE DADOS

4.1 PADRE FÁBIO DE MELO

Excerto 1
“Padre Fábio de Melo_A Vitória que vence o mundo,a nossa Fé _Hosana Brasil 2012_ 1ª Parte”4 4 Transcrição própria. Momento exato no vídeo: https://bit.ly/3QZsx9F.

Nas linhas iniciais, 139 e 140, do excerto 1, o padre Fábio de Melo afirma, com certa convicção, que, dentre os ouvintes conceptualmente ancorados no mesmo espaço e tempo que ele, há fiéis necessitando perdoar. Observa-se a dêixis da expressão “essa multidão aqui” (linha 139), que engaja o discurso às coordenadas espaçotemporais do aqui e agora da situação comunicativa, por meio do uso do pronome demonstrativo “essa” e do advérbio de lugar “aqui”.

Antes disso, o valor modal da expressão “Eu tenho certeza sem medo de errar” (linha 139) já instaurara um domínio epistêmico que favorece a emergência sequencial do fenômeno da intersubjetividade, inerente à Interação Fictiva. Favorece porque o comprometimento do enunciador com o que é afirmado, “tá cheio de gente precisando perdoar” (linha 140), é relativo a um conhecimento consoante suas experiências de padre habituado a escutar fiéis; e, assim, talvez para não ferir a ética religiosa, ele prefira acionar uma dimensão genérica de expressão verbal em IF para tratar do tema sobre a urgência em perdoar. Por isso, encena, sequencial e intersubjetivamente, um diálogo a fim de conceptualizar para a audiência um exemplo de impiedade, “conversando” com um interlocutor fictivo, o que, em princípio, não é eticamente comprometedor.

Nas linhas subsequentes, 141 a 143, Fábio de Melo promove, então, uma clara mudança de footing (MF) para sustentar seu argumento em prol do perdão. Exatamente no começo da linha 141, ele realinha dramaticamente a prosódia e a postura corporal, tornando evidente que o centro dêitico do discurso não mais se encontra no aqui e agora, mas em um espaço conceptual de fictividade que dá margem a uma disputa entre a voz fictiva e a voz do padre. A última fala do interlocutor não genuíno em IF é “o ano que vem” (linha 143). Logo em seguida, acontece outra mudança de footing, estabelecendo-se limites conceptuais entre vozes, o que determina uma perfeita coerência discursiva (Couper-Kuhlen, 1998) acerca de quem e o que enuncia.

No entanto, ambas as coordenadas espaçotemporais se comunicam para que o padre possa questionar o argumento do impiedoso fictivo. Ao apelar para os elementos intersubjetivos que compõem a Interação Fictiva, em discurso direto não genuíno (DDFic), Fábio de Melo lança mão de dêixis ancoradas a referentes genéricos e não a referentes instanciados ou específicos. Nas linhas 141 a 143, os pronomes “eu”, “meu”, “ela”, “me” aludem a entidades fictivas, potencialmente disponíveis para serem instanciadas por cada um dos ouvintes, que pode projetar em si as palavras do orador. Na arena discursivamente fictiva, o padre é apenas um alocutário. Contudo, no aqui e agora, Fábio de Melo se torna um oponente à impiedade.

A impressão dos fiéis da audiência de que o padre possa estar, particular e individualmente, falando para cada um deles, pode se consolidar à medida que esses fiéis, engajados atencionalmente no discurso, preenchem as dêixis de acordo com seu repertório subjetivo de pessoas e de situações imaginadas, fazendo-se valer, então, da interseção entre as coordenadas espaçotemporais distintas.

Assim, acionando o Frame de Conversa, em sua modalidade não factiva - pois se fosse factiva o padre estaria produzindo um discurso direto canônico -, Fábio de Melo produz as ilocuções fictivas entre as linhas 141 e 143, que supostamente correspondem ao que os ouvintes poderiam estar pensando ou exemplificam uma atitude de alguém que eles conheceriam e que não concorda em perdoar. Esse pensamento ou atitude é enquadrado pelo padre como conversa, evidenciando a ocorrência de IF em DDFic.

O alocutivo “padre Fábio”, na linha 141, também contribui fortemente para isso. Na mudança de footing, o padre se coloca como interlocutor de um fiel fictivo, manifestando para a audiência um debate interno, como se pensasse em voz alta. Ele, que estava animando a própria voz, passa a animar a de outrem, a fim de sustentar seu ponto de vista e manifestar posição contrária à do interlocutor fictivo. Sendo assim, Fábio de Melo atua direta e indiretamente para estabelecer identificação na audiência real, dirigindo-se, também, a impiedosos reais.

A voz fictiva encenada pelo padre não vê urgência em praticar o ato de perdão, preferindo deixar a ação para outro momento, a fim de que a pessoa que a magoou tenha tempo para perceber a mágoa que lhe fora causada. Na linha 144 (“Cuidado pode não haver o ano que vem”), Fábio de Melo parece fundir as coordenadas espaçotemporais do aqui e agora com aquelas vinculadas à mudança de footing. Arrematando a recomendação relacionada à urgência em perdoar, o padre endereça-a ao interlocutor fictivo e, sobretudo, a quem o escuta no aqui e agora. É possível perceber que Fábio de Melo usa a IF das linhas 141 a 143 para introduzir uma disputa, acrescentando um argumento contrário a sua posição, e para, posteriormente, rebatê-lo na linha 144, com a ilocução referida “Cuidado! Pode não haver o ano que vem”, esta já produzida em alinhamento prosódico com as linhas iniciais 139 e 140, sustentando seu ponto de vista.

Nesse momento, Fábio de Melo demonstra como a IF é discursivamente empregada para que se apresente uma solução ao problema que envolve uma disputa fictiva, como já verificou Rocha (2020ROCHA, L. F. M. Discurso Reportado é problema; Interação Fictiva, solução: padrões discursivos e informacionais em corpus de fala espontânea do PB. Revista Lingüística (ALFAL), v. 36, n. 2, dezembro 2020.). E a solução pode ser enquadrada como um alerta ou aconselhamento, com a finalidade de convencer o outro a mudar seu ponto de vista. No caso em análise, o padre tenta persuadir o ouvinte a ter urgência em perdoar. Em “Cuidado! Pode não haver o ano que vem”, ele sustenta que talvez não existam mais oportunidades de se efetivar o perdão. O padre promove um ato de fala de alerta, fictivamente construído para persuadir os interlocutores factivos em multidão. Para mitigá-lo, ele faz, nas linhas 145 e 146, uma brincadeira com a crença de que o mundo acabaria em 2012, obtendo risos da plateia, o que denota engajamento atencional por parte dos fiéis.

A Interação Fictiva em DDFic é, então, usada com o propósito comunicativo e argumentativo de criar identificação conceptual com a audiência, objetivando sua adesão emocional e espiritual para que condutas sejam modificadas. Com ela, Fábio de Melo exemplifica genericamente a contraposição do fiel impiedoso, teatralizando-a, com alinhamento de gesto e prosódia diferente daquele que usa habitualmente quando anima sua própria voz, sendo autor e responsável pelas crenças que transmite em seu sermão.

A sustentação pela via da fictividade não deve ser necessariamente relacionada a uma dimensão cognitiva de natureza ficcional, objetivamente irreal, mas a uma representação avaliada como menos verídica (turno fictivo de fala) para que se obtenha acesso à verídica, que, no caso, remete ao fato de os fiéis, usualmente, demorarem a perdoar. Na verdade, não se trata de um recurso exclusivo do padre, nem das práticas de pregação católica, como veremos nos próximos dois excertos.

4.2 PASTOR SILAS MALAFAIA

Excerto 2
“Mensagem: Uma vida de prosperidade - Pr. Silas Malafaia” Momento exato no vídeo: https://bit.ly/46hufrs.

Por sua vez, a posição sustentada pelo pastor Silas Malafaia, de orientação evangélica, integra uma mensagem em que ele defende que, para se ter uma vida de prosperidade, é necessário ser um ofertante fiel. O fragmento transcrito, no excerto 2, é de uma parte do sermão que o pastor nomeia de “considerações finais”. No trecho, Silas Malafaia cria um cenário de disputa entre ele e um interlocutor fictivo e genérico para explicar por que razão alguns fiéis são ricos mesmo abdicando de contribuir com dízimos e ofertas, práticas consideradas uma condição para a prosperidade.

É possível observar que a fictividade, mais uma vez, é acionada para tratar de um fenômeno ou situação efetivamente observado pelo orador na rotina doutrinária: no caso, o diálogo fictivo das linhas 519 a 527 diz respeito a uma “inadimplência” de quem deveria dar dízimo e oferta. Novamente, a fictividade não se confunde com ficção, sendo esta tomada, a princípio, como objetivamente irreal. Fictividade, por outro lado, é considerada uma potência cognitiva subjetivamente virtual, como sugere Langacker (1999LANGACKER, R. Virtual reality. Studies in the Linguistics Sciences, v. 29, n. 2, 1999.), por meio da qual se tem acesso ao que é avaliado como verídico. Portanto, não podemos afirmar, pelo menos nesse caso, que fictividade usa de ficção, por si, para direta ou indiretamente tratar da realidade concebida.

As condições de verdade são, aqui, consideradas condições cognitivas de verdade, cujos fundamentos advêm de observações empíricas. Assim, preferimos dizer que usamos de fictividade para tratar de algo avaliado cognitivamente com sendo verídico. Tratamos de algo cognitivamente avaliado como verídico (factivo), não necessariamente de realidade. Assim, a fictividade das palavras do pastor não existiria sem a factividade de sua concepção de que existem ricos que não contribuem com sua parte.

Nas coordenadas espaçotemporais da situação comunicativa, Malafaia faz uso de dois meios de comunicação, como o padre anteriormente: o oral direto e o oral intermediado pela transmissão por TV, dirigindo-se não só à multidão de fiéis que assiste presencialmente, mas também ao telespectador. A primeira é suscetível a intervenções imediatas, como se observará; e a segunda, não.

Nas linhas 515 a 518, o pastor evoca um domínio epistêmico de discurso que favorece a emergência sequencial da Interação Fictiva em discurso direto, sempre envolta por aspectos intersubjetivos. É domínio epistêmico porque ele lança mão, na linha 515, do verbo “sei”, cuja factividade faz pressupor a verdade da existência de fiéis duvidosos em relação ao tema “riqueza x prosperidade”.

Contudo, Malafaia complementa o verbo “sei” com a expressão “tem interrogação na mente e no coração de gente que tá aqui, que tá me assistindo pela TV”. Estar com “interrogação na mente e no coração” já aciona fictivamente o Frame de Conversa visto que a interrogação “?”, como metalinguagem, é usada para enquadrar a conceptualização da dúvida por parte dos fiéis. Metonimicamente, a “?” contribui para que o pastor estruture o pensamento/sentimento do fiel como fala, como se o pensamento/sentimento dele fosse metaforicamente fala (Rocha, 2018ROCHA, L. F. M. Interação Fictiva no C-ORAL-BRASIL: cognição, discurso e empiria. 2018. 129 f. Relatório (Estágio Pós-Doutoral) - Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2018.).

Isso cria condições linguístico-cognitivas favoráveis à abertura de um espaço conceptual para a IF em forma de Discurso Direto Fictivo. Na linha 518, essa abertura é promovida pela expressão “Alguém diz assim e tem gente aí na TV”, na qual “Alguém” e “tem gente aí na TV” remetem, genérica mas objetivamente, a um (tele)espetador indefinido, e o verbo “diz” não necessariamente se refere a um evento de fala, mas pode remontar a um pensar/sentir por parte da audiência presencial ou virtual. A genericidade acompanha o enquadre do pensamento/sentimento como interrogação. Por tudo isso, o domínio epistêmico precede a fictividade do discurso direto (cf. Rocha e Arantes, 2016ROCHA, L.; ARANTES, P. Intonation of Fictive vs. Actual Direct Speech in a Brazilian Portuguese Corpus. In: PASCUAL, E.; SANDLER, S. (Eds.) The Conversation Frame: Forms and Functions of Fictive Interaction. Amsterdam: John Benjamins, 2016.).

Na perspectiva de Malafaia, alguns ouvintes poderiam estar com uma “?” sobre o tema “riqueza versus prosperidade”; por isso ele não deixaria sua audiência em dúvida. Não é aleatória a escolha do molde de DDFic para dissolvê-la, pois a IF é propensa a ser utilizada como recurso para se apresentar uma solução (Rocha, 2020ROCHA, L. F. M. Discurso Reportado é problema; Interação Fictiva, solução: padrões discursivos e informacionais em corpus de fala espontânea do PB. Revista Lingüística (ALFAL), v. 36, n. 2, dezembro 2020.). Na sequência, o pastor faz uso de Interação Fictiva, pela primeira vez, alterando o footing, entre as linhas 519 e 521: “Pastor, o senhor não me leve a mal. Eu conheço muita gente rica que nunca deu oferta em lugar nenhum. Eu conheço gente dentro da igreja que não dá dízimo e oferta e é milionário. Me explica, pastor”.

Constata-se que o conjunto dessas ilocuções é iniciado e finalizado com o alocutivo “pastor”. Como ocorreu com Fábio de Melo, Malafaia, que estava animando a própria voz, passa a animar a voz do fiel fictivo que ele afirma estar com dúvidas; o pastor é também autor, pois escolhe as expressões, porém, não responsável, já que não assume a posição do interlocutor fictivo. Nesse primeiro momento, entre as linhas 519 e 521, o DDFic é usado para a colocação de um problema, o que seria típico do discurso reportado canônico (Rocha, 2020ROCHA, L. F. M. Discurso Reportado é problema; Interação Fictiva, solução: padrões discursivos e informacionais em corpus de fala espontânea do PB. Revista Lingüística (ALFAL), v. 36, n. 2, dezembro 2020.), mas, no segundo momento, não. Tão logo o problema é colocado, o pastor usa o DDFic a fim de propor a solução para o dilema entre riqueza e prosperidade, conforme linhas 522 a 529.

Após ter colocado o problema no âmbito da voz fictiva, entre as linhas 519 e 521, estabelecendo-a como posição de dúvida, Malafaia, novamente, muda o footing em retomada às coordenadas espaçotemporais do aqui e agora, pela via de recursos melódicos e dêiticos. Além de alterar a prosódia, logo após a pausa que sucede “Me explica, pastor” (linha 521), o pregador refere-se a alguém na plateia, que Malafaia reporta como sendo enunciador da expressão de assentimento “glória a Deus”, enquadrada pelo verbo “deu”, que faz as vezes de um verbo dicendi. É como se, na intervenção, o fiel, por estar engajado atencionalmente no discurso do pastor, estivesse se solidarizando com Malafaia na tarefa de expor a questão.

Após elogiar a atitude do fiel, considerando-a simpática, o pastor muda novamente o footing para adentrar mais uma vez o espaço conceptual do DDFic. Entre as linhas 522 e 524, Malafaia prossegue “conversando” com seu interlocutor fictivo para capturar estrategicamente o factivo. Assim, por meio da IF, instaura a disputa colocando em destaque um argumento contrário à sua posição de que, para ter prosperidade, é necessário ser um ofertante fiel, qual seja: a existência de pessoas que nunca deram oferta e são até bilionárias.

A partir da linha 522, o pastor faz, novamente, uso de DDFic para recolocar o problema: “Como é que pode, pastor? Gente milionária, gente bilionária e gente até dentro da igreja que nunca deu oferta em lugar nenhum. Eu conheço gente dentro da igreja que não dá dízimo e oferta e é rico”. Em seguida, na linha 524, responde o interlocutor fictivo a partir da pergunta retórica “Sabe qual é seu problema?”. Mais uma vez, a resposta ou a solução do problema é posta no âmbito de uma IF (Rocha, 2020ROCHA, L. F. M. Discurso Reportado é problema; Interação Fictiva, solução: padrões discursivos e informacionais em corpus de fala espontânea do PB. Revista Lingüística (ALFAL), v. 36, n. 2, dezembro 2020.). Malafaia rebate o argumento contrário inserido, explicando o conceito de prosperidade que adota.

Segundo o pastor, uma pessoa pode não ser próspera mesmo sendo rica e também ter prosperidade sem riqueza, já que é como ela vive com o que tem que define esse status. Assim, conforme Malafaia, confunde-se prosperidade com riqueza, sendo que esta última até mesmo “bandido, vagabundo, trampolineiro, gente que blasfema de Deus” (linhas 526 e 527) pode ter e não necessariamente ser próspero. Na sequência (linha 527), o pastor retorna para o alinhamento referente ao interlocutor fictivo: “Que isso, pastor?”. Malafaia confirma: “Pode”. Nesse momento, a mudança melódica promove a coerência discursiva entre interlocutores, e a audiência pode compreender quem diz o quê.

A estratégia de aproximação e persuasão de se colocar no lugar fictivo de um fiel comum para mudar as concepções acerca de riqueza e prosperidade da audiência como um todo é ainda endossada pelo modo como Malafaia se dirige ao interlocutor, usando a expressão “meu irmão”. Com a oitiva dessa expressão alocutiva, percebe-se que “meu irmão”, a princípio semanticamente vinculada ao sentido de irmão de crença, parece soar mais do que isso: como algo de uso cotidiano, próximo de gírias como “camarada”, “parceiro” ou “brother”, o que diminuiria a formalidade hierárquica entre autoridade religiosa e fiel.

Já nas linhas finais do excerto, 527 a 529, ainda em DDFic, o pastor cita para seu interlocutor fictivo, na presença dos factivos, um trecho bíblico que justificaria porque qualquer um pode ter riqueza, sustentando sua posição de que prosperidade e riqueza não estão em uma relação de interdependência. Malafaia afirma citar o versículo 16 do Salmo 115 da Bíblia para argumentar que “A Terra tá aí para ser conquistada por qualquer pessoa”.

4.3 MÉDIUM ESPÍRITA DIVALDO PEREIRA FRANCO

Excerto 3
“Divaldo Franco - Transtorno de Afetividade, Pessoas Corajosa.mp4” Momento exato no vídeo: https://bit.ly/46hufrs.

No excerto 3, entre as linhas 144 e 146, o médium Divaldo Pereira Franco usa de mudanças de footing para exemplificar e conceptualizar situações de expressão de afeto, dirigindo-se, em particular, aos que formam casais e sugerindo-lhes que segurem a mão um do outro, e declarem, verbalmente, amor dizendo “eu te amo”. Em contrapartida, a sugestão decorre do entendimento de que as pessoas não têm o hábito de se declararem amorosamente uns para os outros. Para sustentar posição a favor das declarações amorosas, com vistas a sensibilizar a plateia, apela para o bom humor metalinguístico, sugerindo que o casal se declare em português com a expressão em inglês “I love you” (linhas 144 e 145) e, em grego, com a expressão em francês “Je t’aime”(linha 145 e 146).

Após cada uma dessas frases serem, de propósito, classificadas erroneamente quanto à língua a que pertencem, ouvem-se risos da audiência, o que indicia o entendimento de que a sugestão dada através do imperativo “diga” não se trata necessariamente de um comando factivo, do tipo “cumpra-se”, que deve ser seguido ipsis litteris. Por outro lado, não se trata de um comando prototipicamente fictivo, aquele que não deve ser necessariamente seguido, como a expressão idiomática “fala sério”, em português, que não exige que o outro passe a falar seriamente, mas apenas compõe um argumento a ser defendido.

Como factividade e fictividade são gradientes, é possível situar os casos acima entre uma coisa e outra. Por isso, há mescla de domínios deôntico e epistêmico em “diga em português I Love you” e “diga em grego Je t’aime”, em que há um comando a ser seguido, porém não necessariamente em língua estrangeira. Isso é condizente com o fenômeno da intersubjetividade, inerente à Interação Fictiva. Ambas as mudanças de footing operam na projeção pessoal do médium ao animar a voz de um enunciador que se declara amorosamente. O palestrante é autor delas porque escolhe as palavras e os sentimentos expressos. Atua, por enquanto, como responsável, pois parece assumir, de certa forma, a posição, a opinião e a crença verbalizadas nas expressões ditas.

Em seguida, Divaldo ainda demonstra conhecimento de que algumas pessoas podem não se sentir confortáveis para expressar afetividade, como percebemos em “Mas diga alguma coisa, Quebre mesmo que não tenha jeito. Porque há pessoas que não têm jeito” (linhas 146 e 147). Na sequência, o médium usa de DDFic, alterando o footing ao produzir a ilocução “Ah, eu fico com vergonha” (linha 147). Divaldo anima uma voz fictiva, sendo seu autor, porém não é responsável pela posição defendida por ela. Inclusive, ele se contrapõe exatamente à timidez que impede a pessoa de manifestar amor verbalmente. Como o padre e o pastor, o palestrante espírita atribui o contra-argumento a um interlocutor fictivo em “Ah, eu fico com vergonha” (linha 147), contra quem instaura uma disputa, o que serve de exemplo para tentar mudar a conduta da audiência sobre o tema. Assim, Divaldo não se compromete eticamente, pois a dêixis de primeira pessoa do Discurso Direto Fictivo “Ah, eu fico com vergonha” é genérica e virtual.

A DDFic se configura, assim, como uma “janela” dêitica, pronta para ser mentalmente instanciada pelos ouvintes com base em mecanismos cognitivos de identificação. Se o ouvinte realiza essa projeção em si mesmo ou em alguém que conheça e tem pensamentos ou sentimentos próximos ao conteúdo do enunciado que usa do Frame de Conversa, como “Ah, eu fico com vergonha”, ele pode ter a sensação mística de que o palestrante sabe o que ele pensa e de que a autoridade religiosa está falando diretamente para ele. É como se o orador estivesse estruturando e publicizando pensamentos ou sentimentos dos que estão em silêncio na plateia apenas escutando.

O comportamento linguístico, reiterado, de falar pelos fiéis, obtendo deles identificação por projeção e possível adesão emocional, parece legitimar a eficácia da penetração dos discursos religiosos nos processos de persuasão. E a IF é crucial nesse sentido, pois, por meio de cenários fictivos de conversa, o líder religioso pode se posicionar, disputar e sustentar interacionalmente sua posição, sem que se comprometa moralmente por conta da criação de fábulas genéricas do cotidiano. Por isso, o recurso à dêixis fictiva, especificamente em DDFic, mostra-se como uma estratégia tão poderosa para convencimento.

Na continuação do excerto 3, Divaldo, usando de ironia, inicia uma abordagem sobre os frequentes conflitos de convivência que ele acredita afligir os presentes, como evidenciado no trecho “e se somos amigos e se temos uma diferença uns para com os outros, o que aliás é uma coisa muito rara” (linhas 148 e 149). Em geral, a ironia já é por si instância de fictividade, tendo em vista que a afirmação só pode ser compreendida como o contrário do que é expresso, o que revela o conflito de representações discrepantes de um mesmo objeto; no caso, as diferenças entre as pessoas são comuns, não são raras. Nesse sentido, o teor fictivo do discurso se incrementa.

Na sequência, o médium reitera o comando de expressão do amor, mas o faz propondo, para o intervalo da sessão, um DDFic entre as pessoas da plateia, fomentando o hábito de que elas se declarem amor também em outros cenários. Ele dá um exemplo na linha 150, utilizando a expressão “aproveitemos o intervalo e perguntemos assim” para abrir um espaço conceptual de fala em que se dá uma sugestão de treinamento em prol da expressão do amor. Nessa mesma linha, Divaldo inicia um longo trecho em DDFic: “Então, você entendeu aquela? Aquilo foi conosco. Tá tudo bem? Tá ótimo. Ah, graça sabe que você é bastante simpático, agora que eu notei. Ah, e você também. É que eu tinha uma birra com você. Sabe por quê? Porque me contaram uma coisa de você” (linhas 150 a 153).

Os pronomes dêiticos “aquela” e “aquilo” (linha 150) fazem referência a algum momento anterior da palestra em que os ouvintes acreditaram que o médium se dirigiu exclusivamente a eles, o que pode ser comprovado pelo emprego de “foi conosco”, nas linhas 150 e 151. Esse trecho confirma, mais uma vez, que Divaldo tem ciência de que alguns momentos da palestra podem gerar efeito de identificação no ouvinte. Se o conteúdo da ilocução do palestrante espírita tem relação com situações reais vividas pelo ouvinte, pode parecer que o orador esteja falando diretamente para ele.

Mais do que ter ciência, fica evidente que o efeito de identificação é desejado pelo palestrante para funcionar como uma estratégia capaz de contribuir para que o ouvinte seja persuadido a realizar atos perlocutórios, que, no caso do DDFic das linhas 150 a 153, é pôr fim à relação de inimizade. Ademais, esse DDFic se caracteriza como uma proposta de solução para os problemas da timidez e da “diferença de uns para com os outros”, ou seja, se os ouvintes replicam algo próximo ao diálogo fictivo, são capazes de romper a dificuldade de expressar afeto e resolver seus conflitos.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O cruzamento entre os excertos extraídos de pregações das três autoridades religiosas evidencia certas tendências discursivas que envolvem fictividade, intersubjetividade, argumentação e footing, em instâncias de Discurso Direto Fictivo como manifestações do fenômeno da Interação Fictiva. Por que e como a IF está integrada no discurso religioso, sendo ela uma representação concebida como menos verídica? Por que e como ela apresenta relevância em relação a componentes da argumentação: posição, disputa e sustentação? Por que e como as mudanças de footing contribuem para o estabelecimento de coerência discursiva? Enfim, por que o DDFic é uma estratégia comunicativa tão potente no discurso religioso em termos de persuasão?

As tentativas de resposta a essas questões já foram, de certa forma, delineadas ao longo da seção de análise, porém cabe ainda ressaltar que estratégias comunicativas como o DDFic podem não surtir efeitos de identificação sem a disposição e o engajamento subjetivos dos fiéis para a recepção dos discursos religiosos. Por outro lado, supõe-se que, quando eles se dirigem a uma missa, a um culto ou a uma palestra espírita, estejam se colocando à disposição para a escuta ativa das pregações. No entanto, isso parece não abrandar os esforços de oratória por parte dos que transmitem a mensagem nesses encontros. Espera-se que haja grande empenho argumentativo deles para o real convencimento dos fiéis acerca dos temas que são tratados nas sessões públicas, muitas vezes transmitidas pela TV ou pela internet.

Com a subjetividade dos fiéis, de alguma maneira, mais propensa a intervenções emocionais e espirituais, na presença real ou virtual de autoridades religiosas dotadas de notável expertise argumentativa, o processo de produção e interpretação dos sentidos pode se aprofundar a ponto de efetivamente contribuir para mudança de hábitos e costumes.

Nesse sentido, é importante observarmos os Discursos Diretos Fictivos produzidos pelos líderes religiosos, por meio dos quais são encenadas situações das mais cotidianas e populares, sem apelo a densas reflexões intelectuais. Como a moldura comunicativa prevê que o padre, o pastor e o palestrante espírita estejam discursando primordialmente em monólogo, o momento da ministração das mensagens, em grande parte das vezes, impele ao silêncio por parte da audiência e, ao mesmo tempo, exige grande empenho de oratória por parte da autoridade religiosa para que se mantenha o engajamento da plateia. Assim, os oradores empreendem continuamente grandes esforços linguísticos, prosódicos e gestuais para angariar e manter a atenção da plateia. Certamente, há inúmeros recursos de linguagem para se atender a esse propósito, porém o da Interação Fictiva, especialmente o Discurso Direto Fictivo, parece ganhar grande relevância em momentos-chave, visto que se apresenta como molde linguístico-conceptual no qual se mostra uma proposta de solução aos dilemas apresentados (Rocha, 2020ROCHA, L. F. M. Discurso Reportado é problema; Interação Fictiva, solução: padrões discursivos e informacionais em corpus de fala espontânea do PB. Revista Lingüística (ALFAL), v. 36, n. 2, dezembro 2020.).

Nesse sentido, o DDFic, representação concebida como menos verídica, instaura cenários não genuínos para que se possa tratar dos genuínos, sem que os pregadores se comprometam ética e moralmente, dado que recorrem a dimensões genéricas. Contudo, não é apenas o sentido de autopreservação que está em jogo. O DDFic é também usado para explicitar a disputa e a sustentação argumentativas.

No âmbito específico das mudanças de footing, em que as Interações Fictivas em DDFic emergem, os líderes religiosos apresentam na voz fictiva argumentos contrários aos seus. Por isso, a disputa argumentativa começa se tornar mais proeminente. Em boa parte das vezes, a voz fictiva é responsável pelos conteúdos a serem questionados, o que preserva a imagem do religioso, podendo ser usada, inclusive, para apresentar propostas de solução de conflito. E o que o orador diz e o que ele diz pelo interlocutor fictivo são muito bem delimitados por recurso à prosódia e, até mesmo, ao gesto, o que estabelece a coerência discursiva nas mudanças de footing.

Considera-se, por fim, que o achado mais relevante diz respeito ao fato de que o DDFic se apresenta como uma “janela” dêitica em um espaço conceptual de discurso, disponível para ser mentalmente instanciado pelos ouvintes a partir de mecanismos cognitivos de identificação e de disposições subjetivas. Como o ouvinte pode realizar projeções em si mesmo ou em alguém que conheça a partir das mensagens religiosas, ele pode ser tomado por uma sensação mística de que o orador “adivinha” o que ele pensa/sente e de que a autoridade religiosa está falando diretamente para ele e por ele.

O comportamento linguístico de o religioso falar pelos fiéis em Interações Fictivas de DDFic parece contribuir, fortemente, para promover a eficácia dos processos de persuasão nos discursos religiosos. Ao se colocar no lugar mental do outro, o padre, o pastor e o palestrante espírita acenam, momentaneamente, para uma diminuição de hierarquia de autoridade, humanizando-se. Por meio de cenários fictivos de conversa, no qual há grande suporte da dêixis genérica em espaço conceptual, eles disputam e sustentam, internacionalmente, sua posição.

Por fim, cabe destacar que os excertos analisados se aproximam muito dos propósitos comunicativos das fábulas, em que se narra o que é tido como se fosse um fato concreto cuja verdade moral se desvela fictivamente.

REFERÊNCIAS

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  • 1
    A decisão por traduzir literalmente as palavras “fictivity” e “fictive” como “fictividade” e “fictivo(a)”, em vez de “ficção” e “ficcional”, visa a evitar a interpretação desses termos como necessariamente vinculados à ficção. “O termo ‘fictivo’ foi adotado por sua referência à capacidade imaginativa da cognição, não para sugerir (como talvez a palavra ‘fictício’ pudesse) que uma representação é, de alguma forma, objetivamente irreal” (Talmy, 2019TALMY, L. Movimento fictivo na linguagem e “cepção”. Trad. de Sandra Aparecida Faria de Almeida et al. Veredas: Revista de Estudos Linguísticos, Juiz de Fora, v. 2, n. 23, p. 194-255, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/veredas/article/view/29555. Acesso em: 19 nov. 2023.
    https://periodicos.ufjf.br/index.php/ver...
    , p. 196). No original: “And the term ‘fictive’ has been adopted for its reference to the imaginal capacity of cognition, not to suggest (as perhaps the word ‘fictiticious’ would) that a representation is somehow objectively unreal” (Talmy, 2000, p. 100).
  • 2
    Texto original: “Discourse is in fact the very basis for language structure and is thus essential for understanding grammar” (Langacker, 2008LANGACKER, R. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. Oxford: Oxford UP, 2008., p. 457).
  • 3
    Texto original: “This framework offers a comprehensive yet coherent view of language structure, with the further advantages (I would argue) of being intuitively natural, psychologically plausible, and empirically viable” (Langacker, 2008LANGACKER, R. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. Oxford: Oxford UP, 2008., p. 3).
  • 4
    Transcrição própria.

Editado por

Editor de Seção:

Fábio José Rauen

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Fev 2024
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    09 Fev 2021
  • Aceito
    13 Nov 2023
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