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CONTRA OS SACERDOTES VERMELHOS: A CONFEDERAÇÃO ANTICOMUNISTA LATINO-AMERICANA (CAL) E A FORMAÇÃO DE UMA DIREITA RELIGIOSA (1972-1984)1 1 Agradeço a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo Auxílio à Pesquisa regular, que, sob o número de processo 2019/21266-5, tornou possível a escrita do presente artigo.

AGAINST THE RED PRIESTS: THE LATIN AMERICAN ANTICOMMUNIST CONFEDERATION (CAL) AND THE FORMATION OF A RELIGIOUS RIGHT (1972-1984)

Resumo

O presente artigo tem como objetivo analisar o discurso ideológico da Confederação Anticomunista Latino-americana - organização de extrema-direita que operou na região entre 1972 e 1984 -, abordando especificamente seu antagonismo à Teologia da Libertação e ao clero progressista. Para tanto, trabalharei com documentação primária depositada no acervo do Centro y Archivo Para la Defensa de los Derechos Humanos, do Museo de la Justicia del Paraguay. Com base em tais fontes, procurarei demonstrar como a CAL, capítulo latino-americano da Liga Mundial Anticomunista, forneceu um espaço de articulação continental de setores católicos extremistas, contrários as inovações do Concílio Vaticano II, para atacar seus inimigos progressistas no interior da Igreja. Mais do que isso, o discurso de denúncia da “infiltração comunista” nos meios religiosos serviu como ponto de articulação para a convergência entre religiosos e repressores, policiais e militares, associado a outros elementos discursivos, como a crítica aos direitos humanos, por exemplo. Desse modo, pretendo contribuir para os estudos sobre a conformação de redes transnacionais de direita, indicando como a CAL e a WACL contribuíram para a formação de uma direita religiosa internacional.

Palavras-chave:
Confederação Anticomunista Latino-americana; Extrema-direita; Catolicismo; Teologia da Libertação; América Latina

Abstract

This aticle discusses the political and ideological discours of the Latin American Anticommunist Confederation (CAL) - a far-right organization that operated in the region from 1972-1984 -, approaching specifically its antagonism to Liberation Theology and the progressive clergy. Based upon documental research with primary sources, deposited in the Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA), in the Museo de La Justicia, in Asunción (Paraguay), I seek to demonstrate how CAL, the regional chapter of the World Anticommunist League (WACL), furnished an space to gather extremist Catholics, contrary to the innovations promoted by the II. Vatican Council, against their progressive enemies inside the Church. Furthermore, the discourse that denounced the “communist infiltration” in the religious environment served as a articulation point between religious and repressors, police and military, associated with other discoursive elements, such as the critic of human rights, for example. In this way, I seek to contribute to the studies on the right-wing transnational networks, by indicating how CAL and WACL helped to form an international religious right.

Keywords:
Latin American Anticommunist Confederation; Far-Right; Catholicism; Liberation Theology; Latin America

Introdução

No dia 25 de janeiro de 1978, o mexicano Rafael Rodriguez, professor da Universidad Autónoma de Guadalajara (UAG) e secretário-geral da Confederación Anticomunista Latinoamericana (CAL), veiculava a seus membros uma carta-circular, a primeira daquele ano, com o seguinte assunto: “SE TRANSCRIBE GRAVE DENUNCIA DE ORGANIZACIONES ANTICOMUNISTAS DE BOLIVIA Y SE PIDE COOPERACION CON ELLOS.” (CAL, 1978aCAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1978a. Circular nº 001/25/01/1978. R001/78 00053F 1267. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA), de La Corte Suprema de Justicia del Paraguay. Museo de La Justicia: Asunción., p. 1). O documento citava um telegrama, enviado à secretaria geral da CAL pelo Dr. Alfredo Candia, presidente do capítulo boliviano da entidade, e pelo Engenheiro Julio Vera, secretário do clero diocesano, que acusava “organizações pró-marxistas”, com sede na Europa e nos EUA, de estarem promovendo “manifestações violentas”, “atos terroristas” e “greves de fome” dentro de recintos religiosos, encabeçadas pelo Arcebispo de La Paz, Monsenhor Manrique, e por “clérigos terceiro-mundistas”, como parte de uma conspiração para instaurar “um regime comunista” no “coração da América”, como havia tentado antes a guerrilha de Ernesto Che Guevara (CAL, 1978aCAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1978a. Circular nº 001/25/01/1978. R001/78 00053F 1267. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA), de La Corte Suprema de Justicia del Paraguay. Museo de La Justicia: Asunción., p. 1). Os signatários da nota pediam ainda a difusão de sua denúncia e a solidariedade de outras “organizações democráticas anticomunistas e nacionalistas”.

O autor da circular segue detalhando as acusações de seus pares bolivianos, tecendo considerações sobre o caráter estratégico do país sul-americano para o “comunismo internacional”, bem como assinalando o já citado Monsenhor Jorge Manrique, protetor de “sacerdotes vermelhos”, como sendo o instigador de uma greve de fome em nome da “anistia de agitadores”, sob a “bandeira demagógica” dos direitos humanos, cujo verdadeiro objetivo seria o de favorecer as organizações de esquerda nas eleições vindouras, já convocadas pelo governo:

A mensagem desses líderes anticomunistas expõe evidências de uma nova agressão comunista em larga escala contra a Bolívia, que é um dos países americanos que o comunismo internacional tenta conquistar com mais afinco há várias décadas, precisamente agora quando, de acordo com as disposições do governo, já em março, o povo se prepara para escolher livremente quem vai governá-lo.

Também fica claro, nesta denúncia, que a conspiração comunista se apoia em agitadores de outros continentes e no setor do clero católico protegido pelo Arcebispo de La Paz, Dom Jorge Manrique, que em anos anteriores se gabou de liderar um funeral de guerrilheiros comunistas e é amplamente conhecido pela proteção que concede aos padres estrangeiros, principalmente europeus, que são expulsos de outros países não por atuarem como padres, mas por serem ativistas da subversão vermelha. Neste caso específico, Dom Manrique promoveu uma greve de fome de mais de mil pessoas, iniciada no palácio do seu arcebispado por um grupo de mulheres, a ele ligadas, apoiadas por outros grupos em igrejas de várias cidades que tiveram de ser despejadas pela polícia. O objetivo da greve, alcançado no dia 18, foi a anistia de numerosos agitadores políticos que marxistas e católicos de esquerda estão precisando, em vista da campanha política que começou recentemente. Eles usaram em sua campanha a bandeira demagógica dos “direitos humanos”. (CAL, 1978aCAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1978a. Circular nº 001/25/01/1978. R001/78 00053F 1267. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA), de La Corte Suprema de Justicia del Paraguay. Museo de La Justicia: Asunción., pp. 1-2)2 2 Todas as citações em línguas estrangeiras foram livremente traduzidas pelo autor.

Diante do acima exposto, Rodríguez concluía seu informe apelando para os laços de solidariedade entre os anticomunistas latino-americanos, pedindo “encarecidamente” que os membros de sua organização adotassem as seguintes medidas:

  1. Divulgue entre os membros de sua organização e entidades amigas o texto desta circular para que haja conhecimento e conscientização da nova agressão marxista contra a Bolívia; desta vez com a participação aberta do clero “progressista”.

  2. Publicar ou fazer publicar nos meios de comunicação social ao seu alcance informações e artigos que façam eco a esta denúncia, sendo necessário exibir a impostura de D. Jorge Manrique e dos seus protegidos que nunca protestaram contra as centenas de soldados e civis assassinados pelos guerrilheiros comandados por “Che Guevara” e outros sequazes. (CAL, 1978aCAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1978a. Circular nº 001/25/01/1978. R001/78 00053F 1267. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA), de La Corte Suprema de Justicia del Paraguay. Museo de La Justicia: Asunción., p. 2)

O documento acima apresentado, veiculado pela principal rede de extrema-direita então em atuação no continente, vinculada, por sua vez, a uma rede de âmbito global - a World Anticommunist League (WACL) -, em uma conjuntura em que as ditaduras de segurança nacional latino-americanas, como a boliviana, começavam a enfrentar uma maior oposição, interna e externa, me parece um grande exemplo do modo como esses regimes e as forças civis e paramilitares a eles aliadas enfrentavam aquele que viam como um de seus inimigos mais formidáveis: o catolicismo de esquerda ou progressista, tanto entre os clérigos como entre os leigos, cuja principal expressão doutrinária era a chamada “Teologia da Libertação”, que ganhou ímpeto na esteira dos ventos de renovação que passaram a soprar na Igreja Católica a partir do Concílio Vaticano II, na década anterior. O presente artigo tem por objetivo justamente analisar o discurso ideológico da Confederação Anticomunista Latino-americana, que operou na região entre 1972 e 1984, abordando especificamente seu antagonismo à Teologia da Libertação e ao clero progressista.

Para tanto, trabalharei com documentação primária, constituída por discursos em eventos, informes e circulares internas da entidade, cujo acervo está depositado no Centro y Archivo Para la Defensa de los Derechos Humanos (CDyA), do Museo de la Justicia del Paraguay.3 3 Agradeço à diretora do CDyA, Sra. Rosa Mercedes Palau, e à toda sua equipe pela generosa acolhida em duas visitas ao arquivo, em outubro de 2021 e abril de 2022. Agradeço ainda a Vinicius Uchoa da Silva, Alma Monges e Urano Andrade pelo apoio no levantamento, coleta e digitalização acessível da documentação. Com base em tais fontes, procurarei demonstrar como a CAL, capítulo latino-americano da Liga Mundial Anticomunista (WACL), forneceu um espaço de articulação continental de setores católicos extremistas, contrários às inovações do Concílio Vaticano II, para atacar seus inimigos progressistas no interior da Igreja.

Mais do que isso, o discurso de denúncia da “infiltração comunista” nos meios eclesiásticos serviu como ponto de articulação para a convergência entre religiosos e as forças repressivas, policiais e militares, associado a outros elementos discursivos, como a Doutrina de Segurança Nacional (DSN), e a crítica à universalidade dos direitos humanos. Desse modo, pretendo contribuir para os estudos sobre a conformação de redes transnacionais de direita, abordando como a CAL e a WACL se constituíram em um dos espaços de formação de uma direita religiosa transnacional.

O texto que se segue é dividido em três momentos: na primeira seção, procurarei caracterizar as origens da CAL-WACL como rede de ativismo e propaganda transnacional da extrema-direita, com ênfase na atuação do catolicismo integrista em seu interior. Já na segunda seção explorarei, com base em documentos como o acima abordado, as características gerais do discurso ideológico da CAL contra o progressismo religioso, procurando evidenciar como este serviu para articular os interesses tanto de repressores nacionalistas como de cristãos conservadores no combate a um inimigo comum, apelando a diferentes fontes ideológicas. Por fim, nas considerações finais, indicarei como a CAL-WACL, enquanto rede transnacional de circulação de ideias e práticas políticas, forneceu um dos âmbitos de articulação de uma direita religiosa internacional, que voltou a marcar o cenário político da região nos últimos anos.

E CAL-WACL e o catolicismo integrista

Dentre as diferentes redes de militância anticomunista que existiram no período da Guerra Fria, uma em particular se destacou por seu caráter extremista: aquela conformada pela WACL, fundada originalmente em Taipé (Taiwan) em 1967, e a CAL, seu capítulo latino-americano, criada na Cidade do México em 1972, mantendo-se vinculada à WACL até 1984.4 4 A propósito, veja-se a circular nº. 0284, de 26 de março de 1984, que anunciava aos membros da organização sua separação formal da Liga Anticomunista mundial. Cf. CAL, 1984. Os antecedentes do surgimento da WACL datam do final da II Guerra Mundial, com a fundação do Bloco Antibolchevique de Nações (ABN) por ultranacionalistas ucranianos, croatas e romenos, dentre outras nacionalidades do leste europeu, que haviam colaborado com os nazistas durante o conflito (Anderson e Anderson, 1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company., p. 27; Abramovici, 2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130., p. 116; Lopez, 2014LÓPEZ, Fernando. 2014. The feathers of Cóndor: transnational State terrorism, exiles, and civilian anticommunism in South America. Sydney: The University of New South Wales., p. 325). Cerca de uma década mais tarde é criada a Liga Anticomunista dos Povos da Ásia (APACL), instituída sobretudo com o apoio dos governos de Taiwan e da Coreia do Sul, além da participação do Vietnã do Sul, da extrema-direita japonesa e da Igreja da Reunificação, do líder religioso coreano Reverendo Moon (Anderson e Anderson, 1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company., pp. 65-67; Abramovici, 2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130., pp. 116-117; Lopez, 2014LÓPEZ, Fernando. 2014. The feathers of Cóndor: transnational State terrorism, exiles, and civilian anticommunism in South America. Sydney: The University of New South Wales., pp. 323-324).5 5 No CDyA, pode-se encontrar um informe em espanhol, em nome do capítulo taiwanês da WACL, contando a história da APACL e da WACL (WACL, 1974). Anderson e Anderson, por seu turno, enfatizam que, dada a pobreza tanto da Coreia do Sul como de Taiwan em meados dos anos 1950, a APACL, e posteriormente a WACL, dificilmente teriam se estabelecido sem algum tipo de aporte estadunidense (Anderson e Anderson, 1986, p. 69).

Já o primeiro embrião do que viria a ser a CAL surgiria com o I Congresso Contra a Intervenção Soviética na América Latina, na Cidade do México, em 1954,6 6 O primeiro congresso anticomunista regional foi, em grande medida, destinado a atacar o governo reformista de Jacobo Arbenz na Guatemala, não por acaso deposto pelo golpe do Cel. Castillo Armas naquele mesmo ano, com o apoio decisivo dos EUA (Abramovici, 2014, pp. 118-119). por iniciativa da Frente Popular Anticomunista (FPA), liderada pelo mexicano Jorge Prieto Laurens, e pela Cruzada Brasileira Anticomunista (CBA), encabeçada pelo Almirante Carlos Pena Boto. 7 7 Para o perfil e a trajetória da CBA e de Pena Boto, cf. Motta, 2000, pp. 180-187. Esse primeiro congresso deu origem à Confederação Interamericana de Defesa do Continente (CIDC), que promoveria ainda mais três encontros: no Rio de Janeiro (1956), Lima (Peru, 1957) e Antígua (Guatemala, 1958) (Bohoslavsky e Broquetas, 2018BOHOSLAVSKY, Ernesto; BROQUETAS, Magdalena. 2018. Os congressos anticomunistas da América Latina (1954-1958): redes, sentidos e tensões na primeira guerra fria. In: BOHOSLAVSKY, Ernesto; MOTTA, Rodrigo Patto Sá; BOISARD, Stéphane (org.). Pensar As Direitas na América Latina. São Paulo: Alameda.; Cañón Voirín, 2017CAÑÓN VOIRÍN, Julio Lisandro. 2017. La Confederación Interamericana de Defensa del Continente (CIDC). Rúbrica Contemporánea, v. 6, n. 12, pp. 79-99. Disponível em: Disponível em: https://revistes.uab.cat/rubrica . Acesso em 25 out. 2021.
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). Segundo a bibliografia sobre esses primeiros encontros anticomunistas continentais, ainda pouco estudados, foi neles que se produziram os primeiros contatos com o ABN e a APACL, que, mais de uma década mais tarde, redundariam na criação da WACL e da CAL.

A rede constituída em torno do eixo CAL-WACL, sobre a qual já existe importante bibliografia internacional, além de alguma bibliografia brasileira,8 8 O Brasil participou da CAL-WACL por meio de um think-tank, a Sociedade de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais (SEPES), liderada pelo banqueiro Carlo Barbieri Filho, constituída por empresários e profissionais liberais, muitos formados pelo publicista católico ultraconservador Gustavo Corsão (Machado e Rezende, 2019). O capítulo brasileiro da CAL organizaria o II Congresso da entidade, ocorrido no Rio de Janeiro em 1975, sob a presidência de Barbieri Filho. Para a bibliografia nacional sobre a WACL e a CAL, cf. Machado, 2017; Machado e Rezende, 2019; e Ribeiro, 2018a, 2018b, 2019. se notabilizou por ser a única organização dedicada ao anticomunismo de âmbito propriamente global, que reunia os anticomunistas mais intransigentes e combativos (Abramovici, 2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130., p. 113). Assim, a WACL se distingue de redes anticomunistas internacionais anteriores, como o Congresso pela Liberdade da Cultura (CLC), bem mais plural do ponto de vista ideológico (Janello, 2014JANNELLO, Karina. 2014. Los intelectuales de la Guerra Fría: una cartografía latinoamericana. Políticas de La Memoria, 14, pp. 83-104. DOI: 10.47195/PM14
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; Ridenti, 2018RIDENTI, Marcelo. 2018. The Journal ‘Cadernos Brasileiros’ and The Congress for Cultural Freedom (1959-1970). Sociologia e Antropología, v. 8, n. 2, pp. 351-373. DOI: 10.1590/2238-38752016v821
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), por se circunscrever ao campo da extrema-direita propriamente dita. Além disso, no caso específico da América Latina, a CAL tem merecido atenção especial por ter sido um dos espaços de organização da chamada “Operação Condor”, que articulou os aparatos repressivos das ditaduras de segurança nacional sul-americanas nos anos 1970,9 9 Para uma abordagem sintética da história da “Operação Condor” e seu papel na internacionalização do terrorismo de Estado, cf. Braga, 2014. Já para um trabalho jornalístico pioneiro, com abundante informação sobre a “Condor”, cf. Callone, 2016, Por fim, para o papel da rede CAL-WACL na operação, cf. Lopez, 2014. bem como a cooperação destas com suas congêneres da América Central no início da década de 1980, incluindo não apenas militares e policiais, mas também aparatos civis-paramilitares (Lopez, 2014LÓPEZ, Fernando. 2014. The feathers of Cóndor: transnational State terrorism, exiles, and civilian anticommunism in South America. Sydney: The University of New South Wales.; Machado e Rezende, 2019MACHADO, Rodolfo Costa; REZENDE, Claudinei Cássio de. 2019. Aninhando o ovo do Condor: o “capítulo” brasileiro da Confederação Anticomunista Latinoamericana, cogestora das ditaduras de Segurança Nacional do Cone Sul (1971-1974). Semina, v. 18, n. 1, pp. 110-128. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/3s5vezt8 . Acesso em: 27 out. 2023.
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; Ribeiro, 2018aRIBEIRO, Marcos Vinicius. 2018a. A história da confederação anticomunista latinoamericana durante as ditaduras de segurança nacional (1972-1979). Tese de Doutorado em História. Marechal Cândido Rondon: UNIOESTE. Disponível em: Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/4151 . Acesso em: 27 out. 2023.
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; 2018bRIBEIRO, Marcos Vinicius. 2018b. A Liga Mundial Anticomunista e a Confederação Anticomunista Latinoamericana: um caso de cooperação anticomunista intercontinental na América Latina (1972-1977). Saeculum - Revista de História, n. 39, pp. 1-16.; Rostica, 2018ROSTICA, Julieta C. 2018. La Confederación Anticomunista Latinoamericana: las conexiones civiles y militares entre Guatemala y Argentina (1972-1980). Desafíos, v. 30, n. 1, pp. 309-347.; 2019).

A literatura disponível sobre a rede conformada pela CAL e a WACL, bem como a documentação por mim consultada, corroboram as afirmações feitas por parte da bibliografia sobre a Guerra Fria latino-americana (Manke, Březinová e Blecha, 2017MANKE, Albert; BŘEZINOVÁ, Kateřina; BLECHA, Laurin. 2017. Conceptual Readings Into the Cold War: Towards Transnational Approaches From the Perspective of Latin American Studies in Eastern and Western Europe. Estudos Históricos, v. 30, n. 60, pp. 203-218. DOI: 10.1590/S2178-14942017000100011
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; Marchesi, 2017MARCHESI, Aldo. 2017. Escribiendo La Guerra Fría Latinoamericana: entre el sur ‘local’ y el norte ‘global’. Estudos Históricos , v. 30, n. 60, pp. 187-202. DOI: 10.1590/S2178-14942017000100010
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) de que a circulação das ideias durante esse período histórico na América Latina era mais complexa do que muitas vezes se supôs, indo além das relações entre o subcontinente e os EUA, seguindo fluxos multidirecionais. Por um lado, a circulação do anticomunismo na região envolveu outros atores e conexões, como pode ser evidenciado pela vinculação entre a extrema-direita mexicana, agrupada na Federación Mexicana Anticomunista de Occidente (FEMACO), e o regime nacionalista de Taiwan, fundamental para a criação da CAL em inícios dos anos 1970 (López Macedonio, 2010LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2010. Historia de Una Colaboración Anticomunista Transnacional - Los Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara y el gobierno de Chang Kai-chek a principios de los años setenta. Contemporánea - historia y problemas del siglo XX, v. 1, n. 1, pp. 133-158. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/54f252ts . Acesso em: 27 out. 2023.
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, pp. 149-150), cabendo ainda destacar a vinculação entre a WACL e a Liga da Liberdade, organização europeia encabeçada pela ativista Suzane Labin, uma das mais influentes militantes anticomunistas durante a Guerra Fria (Dard, 2014DARD, Olivier. 2014. Suzane Labin: 50 years of anticommunist agitation. In. VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks . London: Palgrave Macmillan ., p. 194).10 10 O mesmo autor faz referência a um boletim, publicado por uma entidade a qual Labin seria vinculada, a Association de Études Politiques et Internacionales (AEPI) (Dard, 2014, p. 193). Em minha visita ao CDyA, creio ter encontrado a referida publicação, traduzida ao castelhano, sob o título de Boletín Este y Oeste, com números entre os anos de 1965 e 1977, cujas algumas partes sequer estão catalogadas.

Por outro lado, a extrema-direita latino-americana, representada nos regimes de segurança nacional da América do Sul e Central, tinha enraizamento em culturas políticas locais a ponto de, como se verá mais abaixo, diante da política de direitos humanos da administração de James Carter (1977-1981), ensaiar certa independência política dos EUA (Bohoslavsky, 2019BOHOSLAVSKY, Ernesto. 2019. El IV Congreso de La Confederación Anticomunista Latinoamericana (Buenos Aires, 1980). Almanaque Histórico Latino Americano, n. 23, pp. 164-184.; Rostica, 2019ROSTICA, Julieta C. 2019. El Antimperialismo de La Derecha: La Confederación Anticomunista Latinoamericana (1972-1980). XIII. Jornadas de Sociología. Facultade de Ciencias Sociales, Universidade de Buenos Aires. Buenos Aires. Dirección estable: Dirección estable: https://www.aacademica.org/000-023/297 . Acceso en: 4 out. 2021.
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).11 11 Como demonstra o trabalho jornalístico pioneiro de Scott e John Lee Anderson, as direitas sul e centro americanas também foram capazes de estabelecer, por meio da WACL, vínculos com a “new right” estadunidense, que reativou as boas relações hemisféricas durante a administração Reagan. Cf. Anderson e Anderson, 1986, p. 135.

Desse modo, para pensar a CAL-WACL como âmbito de produção e circulação do discurso anticomunista, adoto aqui como referência teórico-metodológica o conceito de circulação “transnacional”, ou de “transnacionalização” da circulação das ideias, que vem se tornando comum na literatura sobre as direitas na última década. Para tanto, emprego a seguinte definição desse conceito, fornecida na introdução de uma coletânea de estudos sobre as direitas em perspectiva transnacional:

Definimos o transnacionalismo como o fluxo e o padrão de relacionamentos através das fronteiras nacionais. Nosso uso do termo transnacionalismo denota aqueles movimentos, organizações, ideias ou redes que incluem, mas vão além da nação. Distinguimos o transnacional do global ou do internacional porque ambos os termos implicam o mundo inteiro, enquanto o transnacional sugere conexões entre forças de várias - talvez muitas - mas não necessariamente de todas as nações. Nosso uso do transnacionalismo reconhece a natureza muitas vezes dispersa e desigual das conexões entre povos, grupos, governos e redes. (Durham e Power, 2010DURHAM, Martin; POWER, Margaret. 2010. New Perspectives On The Transnational Right. New York: Palgrave Macmillan., p. 1)

Outra contribuição metodológica interessante proposta pelos organizadores da referida coletânea é a de que, ao contrário do que se costuma sustentar, e em conformidade com o acima exposto, os fluxos políticos e culturais transnacionais não fluiriam apenas do centro para a periferia, mas em múltiplas direções, o que poderia ser evidenciado pelo estudo das organizações transnacionais das direitas, com articulações com o sentido norte-sul, sul-sul e sul-norte (Durham e Power, 2010DURHAM, Martin; POWER, Margaret. 2010. New Perspectives On The Transnational Right. New York: Palgrave Macmillan., p. 3).

Uma outra vantagem da abordagem da “transnacionalidade” como proposta por Durham e Power é que ela cabe particularmente bem na própria lógica do anticomunismo no século XX, que, como assinalam os autores, tornou-se o principal móvel e ponto de unificação da maior parte das direitas no plano internacional, até mesmo pelo caráter internacionalista de seus inimigos: “No século XX, o maior inimigo de grande parte da direita tornou-se o comunismo, e a natureza internacional do movimento liderado por Lenin e seus sucessores tornou ainda mais premente a organização transnacional da direita” (Durham e Power, 2010, p. 2).

Contudo, em seguida os autores advertem que a organização transnacional não deixou de ser difícil para as direitas em decorrência da importância crucial que o nacionalismo seguiu tendo para grande parte desse campo político, e, em função disso, pelas discrepâncias de culturas políticas locais e desconfianças recíprocas. Assim sendo, o desafio teórico para quem se propõe a pensar as direitas - no caso desta pesquisa, a extrema-direita - em perspectiva transnacional está em flagrar as interseções e tensões entre os elementos nacionais e internacionais em sua constituição, considerando, inclusive, que a conformação da rede internacional, ao envolver mais certos atores locais do que outros, ilumina melhor quais os casos nacionais a serem priorizados.

Nesse sentido, no que diz respeito à conformação da CAL, cabe destacar a centralidade do ativismo anticomunista mexicano, uma vez que diferentes autores (Abramovici, 2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130.; Anderson e Anderson, 1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company.; Herran Ávila, 2015HERRAN ÁVILA, Luis Alberto. 2015. Las Guerrillas Blancas: anticomunismo transnacional e imaginarios de derechas en Argentina y México (1954-1972). Quinto Sol, v. 19, n. 1, pp. 1-26. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/2858ahac . Acesso em: 27 out. 2023.
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; Bohoslavsky e Broquetas, 2018BOHOSLAVSKY, Ernesto; BROQUETAS, Magdalena. 2018. Os congressos anticomunistas da América Latina (1954-1958): redes, sentidos e tensões na primeira guerra fria. In: BOHOSLAVSKY, Ernesto; MOTTA, Rodrigo Patto Sá; BOISARD, Stéphane (org.). Pensar As Direitas na América Latina. São Paulo: Alameda.; Lopez, 2014LÓPEZ, Fernando. 2014. The feathers of Cóndor: transnational State terrorism, exiles, and civilian anticommunism in South America. Sydney: The University of New South Wales.; López Macedonio, 2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
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; 2010LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2010. Historia de Una Colaboración Anticomunista Transnacional - Los Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara y el gobierno de Chang Kai-chek a principios de los años setenta. Contemporánea - historia y problemas del siglo XX, v. 1, n. 1, pp. 133-158. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/54f252ts . Acesso em: 27 out. 2023.
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; Ribeiro, 2018aRIBEIRO, Marcos Vinicius. 2018a. A história da confederação anticomunista latinoamericana durante as ditaduras de segurança nacional (1972-1979). Tese de Doutorado em História. Marechal Cândido Rondon: UNIOESTE. Disponível em: Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/4151 . Acesso em: 27 out. 2023.
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; 2018bRIBEIRO, Marcos Vinicius. 2018b. A Liga Mundial Anticomunista e a Confederação Anticomunista Latinoamericana: um caso de cooperação anticomunista intercontinental na América Latina (1972-1977). Saeculum - Revista de História, n. 39, pp. 1-16.) enfatizam o papel protagonista das direitas mexicanas na organização do anticomunismo latino-americano. Em primeiro lugar, a Frente Popular Anticomunista (FPA), de Jorge Prieto Laurens - que, como se viu acima, promoveu o primeiro congresso regional anticomunista em 1954 - e, em segundo lugar, com a também já referida FEMACO, fachada de atuação de uma sociedade secreta católica integrista, os Tecos, que, partindo de seu controle da Universidad Autónoma de Guadalajara (UAG), organizaram o congresso de fundação da CAL em 1972.

Para que se tenha uma ideia da importância dessa organização, o secretário-geral da CAL, o já citado Rafael Rodríguez,12 12 Segundo Pierre Abramovici (2014, p. 123), o primeiro presidente da CAL, Raymundo Guerrero, também era membro da FEMACO, que funcionaria como uma espécie de fachada para os Tecos. Para uma discussão mais aprofundada do assunto, cf. Herran Ávila, 2015; López Macedonio, 2006; 2010. citado logo no início deste artigo, era justamente integrante dos Tecos, no estado mexicano de Jalizco, desde meados dos anos 1930, como parte da resistência católica ao programa de educação pública secular, denominado à época como “educação socialista”,13 13 Tratou-se de uma emenda ao artigo 3º. da Constituição mexicana de 1917, que caracterizava a educação como necessariamente pública e laica, em uma tentativa do governo de Cárdenas de expropriar o monopólio cultural da Igreja Católica e forjar uma só solidariedade moral no país em torno do Estado, combatendo o fanatismo e as superstições associados à religiosidade tradicional (López Macedonio, 2006, p. 95). implementado pelo governo pós-revolucionário do Presidente Lázaro Cárdenas (1934-1940) (Herran Ávila, 2015HERRAN ÁVILA, Luis Alberto. 2015. Las Guerrillas Blancas: anticomunismo transnacional e imaginarios de derechas en Argentina y México (1954-1972). Quinto Sol, v. 19, n. 1, pp. 1-26. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/2858ahac . Acesso em: 27 out. 2023.
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, p. 13; López Macedonio, 2010LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2010. Historia de Una Colaboración Anticomunista Transnacional - Los Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara y el gobierno de Chang Kai-chek a principios de los años setenta. Contemporánea - historia y problemas del siglo XX, v. 1, n. 1, pp. 133-158. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/54f252ts . Acesso em: 27 out. 2023.
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, p. 136). Segundo a historiadora Mónica López Macedonio (2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
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, p. 93), a reação conservadora à democratização e à secularização do Estado e da sociedade, impulsionadas pela Revolução Mexicana (1910), alimentou no país uma precoce propaganda anticomunista que o singularizaria no panorama latino-americano. O principal baluarte dessa reação teria sido justamente a Igreja Católica, em especial por meio de uma série de revoltas populares contra o regime pós-revolucionário no final dos anos 1920, que ficaram conhecidas como “la cristeada”, ou ainda como “guerras cristeras”.

Após o fim do conflito, a Igreja procurou manter suas bases sociais mobilizadas por meio de uma organização semiclandestina, a Legión, organizada em termos tanto corporativos como regionais. Foi justamente o ramo local dessa rede que deu origem à Asociación Fraternal de Estudiantes de Jalizco, mais conhecida como “los Tecos”,14 14 O termo é diminutivo de “Tecolote”, espécie nativa de coruja. Agradeço à professora Nashieli Loera, do Departamento de Antropologia da Unicamp, pela tradução. no interior da UAG, fundada em 1935 como reação católica ao projeto de “educação socialista”, sob a orientação espiritual do jesuíta Joaquín Saenz Arriaga (López Macedonio, 2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
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, p. 96).15 15 Mais tarde, a organização também incorporaria as ideias do sacerdote e teólogo jesuíta argentino Julio Meinvielle (1905-1973), um dos principais representantes de um “fascismo cristianizado” na Argentina (Finchelstein, 2014, pp. 40-41). Fortemente antissemita, Meinvielle foi uma referência tanto para a extrema-direita em seu país, caso do Movimento Nacionalista Taquara, como também para os Tecos, que divulgavam suas obras (Anderson e Anderson, 1986, p. 89). Para as aproximações entre as extremas-direitas argentina e mexicana do pós-guerra, cf. Herran Ávila, 2015. Outro personagem que teve origem no combate do integrismo católico à Revolução e a seu legado foi o já mencionado Jorge Prieto Laurens, fundador, nos anos 1930, da Acción Católica de la Juventud Mexicana (ACJM), e, em 1949, da FPA. A respeito de suas ideias, é revelador o seguinte trecho de uma alocução sua que, apesar de longo, vale a pena ser citado:

Vivíamos, os velhos de hoje e os jovens de ontem, em tempos críticos, cheios de confusão e rodeados de ameaças sinistras. Antes e durante a revolução de 1910, os visionários da Igreja Católica no México, sacerdotes e leigos, embora fossem minoria, alertavam para a necessidade de dirigir a sociedade, de acordo com a Doutrina Social Cristã, brilhante e claramente definida pelo Papa dos trabalhadores e pobres, Leão XIII, na imortal encíclica “RERUM NOVARUM” […]. Lutávamos contra os liberais jacobinos e contra os positivistas de Augusto Comte, precursores dos novíssimos ateus comunistas de hoje e dos materialistas que seguem Sartre e Marcuse… Escolas superiores, universitárias, técnicas e normais; a imprensa e a grande maioria dos funcionários públicos foram influenciados pela maçonaria e por livre pensadores que apontavam suas baterias contra a Igreja Católica e contra aqueles de nós que sonhavam em implantar a justiça social cristã.

(López Macedonio, 2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
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, pp. 98-99)

Estas palavras, proferidas provavelmente já na década de 1960, em decorrência das referências a Jean-Paul Sartre e a Herbert Marcuse, dão conta não apenas da autoconsciência de pertencer a uma tradição longeva, mas também da linhagem de seus inimigos, que iriam dos “jacobinos”, “positivistas” e “maçons” do período da Revolução aos comunistas ateus do presente. Além disso, Laurens também expressa, de maneira exemplar, o programa do catolicismo integral como força com pretensão de orientar, intelectual e moralmente, a sociedade como um todo, contrapondo seu projeto de civilização cristã às forças seculares e materialistas que, levadas às últimas consequências, desembocariam necessariamente no comunismo, como negação total da Igreja e da ordem nela baseada.

Se no contexto dos anos 1930 e 1940 as forças católicas integristas se aproximavam, em graus variados, do fascismo, visto como opositor mais decidido do comunismo, no pós-guerra, derrotadas as forças nazifascistas, se voltariam aos EUA e ao discurso liberal como aliados e anteparos à expansão do comunismo (Cañón Voirín, 2017CAÑÓN VOIRÍN, Julio Lisandro. 2017. La Confederación Interamericana de Defensa del Continente (CIDC). Rúbrica Contemporánea, v. 6, n. 12, pp. 79-99. Disponível em: Disponível em: https://revistes.uab.cat/rubrica . Acesso em 25 out. 2021.
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). Assim, Herran Ávila (2015HERRAN ÁVILA, Luis Alberto. 2015. Las Guerrillas Blancas: anticomunismo transnacional e imaginarios de derechas en Argentina y México (1954-1972). Quinto Sol, v. 19, n. 1, pp. 1-26. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/2858ahac . Acesso em: 27 out. 2023.
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, p. 15) afirma que a UAG, por exemplo, passou a receber apoio do empresariado local, descontente com as políticas intervencionistas do Estado pós-revolucionário. Ainda, Anderson e Anderson (1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company., pp. 92-93) mostram como a universidade, controlada pelos Tecos, cresceu significativamente nos anos 1960, graças a fundos dos EUA, em função das alianças anticomunistas hemisféricas.

Contudo, aquela década traria duas novidades prementes para o anticomunismo regional. Em primeiro lugar, a Revolução Cubana (1959), ao conduzir à criação do primeiro Estado socialista do hemisfério, trouxe o inimigo até então longínquo para a vizinhança dos EUA e de seus sócios latino-americanos. Em segundo lugar, como ficou dito na introdução, o sopro renovador do Concílio Vaticano II estimulou a formação de uma importante esquerda católica na América Latina, com um corpo doutrinário próprio, a “Teologia da Libertação”, que acendeu o alarme para os setores tradicionalistas, tanto do clero como do laicato. Segundo López Macedonio (2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
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; 2010LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2010. Historia de Una Colaboración Anticomunista Transnacional - Los Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara y el gobierno de Chang Kai-chek a principios de los años setenta. Contemporánea - historia y problemas del siglo XX, v. 1, n. 1, pp. 133-158. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/54f252ts . Acesso em: 27 out. 2023.
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), teria sido essa percepção - de que agora o inimigo se havia infiltrado nas filas e na hierarquia da própria Igreja16 16 Contra o Concílio Vaticano II, os Tecos publicaram um livro apócrifo, atribuído a um fictício Maurice Piney, acusando a Igreja de estar infiltrada por judeus e comunistas que buscariam miná-la por dentro (Lopez, 2014). - que teria levado os Tecos, agrupados na FEMACO, a se aproximarem do anticomunismo asiático, em especial do regime nacionalista de Taiwan,17 17 Segundo López Macedonio (2006, 2010), os taiwaneses tinham sua própria agenda, empregando o anticomunismo para tentar reter aliados na América Latina, em um contexto marcado pelo ingresso formal da República Popular da China na Organização das Nações Unidas (ONU), em 1971, e seu reconhecimento crescente pelas potências capitalistas ocidentais. bem como a reforçarem seus vínculos com atores centro e sul-americanos, redundando na criação da CAL como capítulo latino-americano da WACL.

O discurso da CAL e a denúncia dos sacerdotes vermelhos

Primeiramente, cabe-me definir, ainda que de maneira breve, o uso que faço da categoria de “discurso ideológico”, que balizará a análise da documentação do movimento anticomunista latino-americano. Segundo o teórico político argentino Ernesto Laclau (1977LACLAU, Ernesto. 1977. Ideology and politics in marxist theory: capitalism, fascism and populism. London: New Left Review Books., p. 102), um discurso ideológico não se define pela coerência ou consistência lógica de seus postulados, mas pela capacidade de condensar interpelações discursivas heterogêneas, quando não contraditórias, em torno de um “ponto de articulação” que dá coesão ao discurso.18 18 Como se pode ver, recorro à obra de Laclau em sua fase inicial, ainda inscrita no interior da tradição marxista, e não à sua guinada pós-estruturalista posterior (Laclau e Mouffe, 1985). O faço não tanto por discrepâncias teórico-metodológicas com os autores, mas por julgar que os postulados sobre a relação ideologia-discurso contidos na primeira obra de Laclau são mais adequados ao objeto aqui tratado. Nesse sentido, como abordado em trabalho anterior (Kaysel, 2022KAYSEL, André. 2022. Deus, Pátria, Família e Propriedade: discurso e ideologia da Liga Mundial Anticomunista (WACL) e da Confedração Anticomunista Latino-americana (CAL) (1975-1979). In: REZENDE, Viviane de Melo (org.). Estudos do Discurso: relevância social, interseccionalidade e interdisciplinaridade. Campinas: Pontes Editores, pp. 145-169.), proponho que o anticomunismo cumpria para a extrema-direita justamente o papel atribuído por Laclau ao “ponto de articulação”, condensando interpelações díspares, como o apelo à fé religiosa, à soberania nacional ou ao direito de propriedade, em um campo discursivo comum.

Tal abordagem retoma os achados da bibliografia historiográfica já consolidada, que identifica no anticomunismo a confluência de distintas matrizes ideológicas, como catolicismo, nacionalismo e liberalismo (Motta, 2000MOTTA, Rodrigo Patto Sá. 2000. Em Guarda Contra O Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). Tese de Doutorado em História Social. São Paulo: FFLCH-USP.), ou liberalismo conservador, nacionalismo católico e autoritarismo militar (Bohoslavsky, 2016BOHOSLAVSKY, Ernesto. 2016. Organizaciones y prácticas anticomunistas en Brasil y Argentina (1945-1966). Estudos Ibero-Americanos, v. 42, n. 1, pp. 32-52. DOI: 10.15448/1980-864X.2016.1.21822
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). Mas, para dar conta do papel desempenhado pelo antagonismo à esquerda católica no interior desse campo, é preciso apelar a outra característica da relação entre ideologia e discurso. Segundo Laclau (1977LACLAU, Ernesto. 1977. Ideology and politics in marxist theory: capitalism, fascism and populism. London: New Left Review Books., pp. 99-100), em crítica desenvolvida à abordagem da ideologia fascista, proposta por Nicos Poulantzas (1978POULANTZAS, Nicos. 1978. Fascismo e Ditadura. São Paulo: Martins Fontes.), certos elementos discursivos, como o apelo às noções de “povo” e “nação”, não poderiam ser reduzidos a priori a uma posição ideológica de classe. Para o autor argentino, tais interpelações teriam diferentes conotações ideológicas a depender de como fossem articuladas no interior de determinadas formações discursivas. Dito de outro modo, seguindo a feliz proposição de Terry Eagleton, em sua obra sobre o conceito de ideologia,

a ideologia é antes um campo de significado complexo e conflitivo, no qual alguns temas estarão intimamente ligados à experiência de classes particulares, enquanto outros estarão ‘mais à deriva’, empurrados ora para um lado, ora para o outro na luta entre os poderes contendores. A ideologia é um domínio de contestação e negociação, em que há um tráfico intenso e constante: significados e valores são roubados, transformados, apropriados através das fronteiras de diferentes classes e grupos, cedidos, recuperados reinfletidos. (Eagleton, 2001EAGLETON, Terry. 2001. Ideologia. São Paulo: Editora Unesp: Boitempo., p. 96)

O que proponho aqui é que a maneira como a CAL utilizou-se de interpelações religiosas ilustra bem como tais interpelações, antes de serem em princípio pertencentes ao discurso da extrema-direita, são na realidade um objeto de disputa com seus inimigos da esquerda. Compare-se, por exemplo, a alocução, citada na seção anterior, de Jorge Prieto Laurens com a circular de Rafael Rodriguez de 1978, abordada logo na introdução. Enquanto no discurso do primeiro o cristianismo aparece como um monopólio dos conservadores, em oposição ao “laicismo” ou “ateísmo” de seus inimigos “jacobinos” ou “comunistas”, na carta do segundo o simples fato de denunciar a falsidade ou a “impostura” do Arcebispo de La Paz, ou dos “sacerdotes vermelhos”, supostamente sob sua proteção, é reveladora do deslocamento da interpelação religiosa, convertida agora em terreno de disputa com o campo discursivo inimigo.

Outros documentos da CAL deixam ainda mais patente essa necessidade de reivindicar para si o monopólio do cristianismo “verdadeiro”, ou autêntico, em função do terreno de fato perdido para os adversários no interior da própria Igreja. É o caso de uma alocução de Rafael Rodríguez, pronunciada por ocasião da abertura do III Congresso da entidade, ocorrido em Assunção (Paraguai), no ano anterior à emissão da circular sobre a Bolívia. Após imprecar contra a política de détente dos EUA e das potências ocidentais em relação à URSS e à China, que estaria sacrificando seus aliados na África, Ásia e no Sul da Europa à dominação marxista, o secretário-geral da CAL faz a seguinte referência à política do papado:

Outra amarga decepção vem de Roma. As evidências sobre o favorecimento das máximas autoridades da Igreja Católica à expansão do comunismo são avassaladoras, mas me limitarei a expor fatos ocorridos nestes dias, pois contra fatos não há argumentos. Acaba de passar o quadragésimo aniversário da encíclica “Quadragessimo anno”, na qual Pio XI descreveu o comunismo como “intrinsecamente perverso”, o que mereceu um comentário do jornal do Vaticano “L`Osservatore Romano” no sentido de que tal juízo papal segue vigente. Essas foram palavras; Mas quase simultaneamente a esta afirmação, a própria Santa Sé emitiu uma enérgica censura ao arcebispo de Diamantina, Brasil, o egrégio prelado Dom Geraldo de Proença Sigaud, por ter ousado acusar os bispos Pedro Casaldáliga e Tomás Baldoino, também brasileiros, de comunistas. Apesar do fato de que Sua Excelência apresentou provas irrefutáveis de sua afirmação. Resultado: os bispos comunistas e muitos outros que pensam e agem da mesma maneira continuam em suas sedes, como “pastores”, com todo o apoio pontifício. (Rodríguez, 1977RODRÍGUEZ, Rafael. 1977. Discurso en la Apertura Congreso de la C.A.L., 3., 1977, Asunción. Centro de Documentación y Archivo Para la Defensa de los Derechos Humanos (CDyA) de la Corte Suprema del Paraguay (Archivo del Terror, R0094F-0018/20.). Museo de La Justicia: Asunción ., p. 2)19 19 Aliás, em seus congressos, a entidade manteve uma comissão especial de combate à presença da esquerda no meio religioso, bem como uma “secretaria de defesa do clero” em seu Conselho Coordenador (cf. CAL, 1974). Segundo Pierre Abramovici (2014, pp. 114-115), a decisão de eliminar católicos de esquerda teria sido tomada justamente no III Congresso da CAL. Já para Fernando Lopez (2014, pp. 347-348), teria sido na reunião do Conselho Coordenador da entidade, que se seguiu ao referido congresso, que se encomendou a seus adeptos a elaboração de listas paralelas de clérigos “anticomunistas” e “comunistas”, estas últimas a serem repassadas aos órgãos responsáveis pelo combate à subversão.

A referência às acusações do Arcebispo de Diamantina, o ultraconservador D. Geraldo de Proença Sigaud, contra seus colegas, D. Pedro Casáldaliga e D. Tomás Baldoíno, expoentes conhecidos da “Teologia da Libertação”, mostra como o orador pretendia tomar um lado claro na disputa interna da Igreja pós-conciliar.20 20 Para o conflito entre os Tecos e a Igreja pós-conciliar, cf. López Macedonio, 2010, pp. 141-142. Já sobre a figura de D. Geraldo de Proença Sigaud e sua atuação como parte da minoria conservadora durante o Concílio Vaticano II, cf. Caldeira, 2015. Além disso, Rodríguez deixava claro que seu lado seria aquele mais fiel à doutrina da instituição, o que se evidencia pela evocação da encíclica Quadragessimo Anno, de nítido teor anticomunista.

Além disso, há alguns paralelos flagrantes com a circular, enviada pela secretaria geral quase um ano mais tarde. Em primeiro lugar, a acusação da falsidade ou embuste dos clérigos progressistas, apontados como “marxistas” - portanto, nessa linguagem, necessariamente “ateus” -, que se valeriam da sotaina e do púlpito para subverter as massas. Em segundo lugar, a cumplicidade, ativa ou passiva, das autoridades eclesiásticas, seja o Arcebispo ou mesmo o Papa, que, sabendo da infiltração, se recusariam a combatê-la, admoestariam seus denunciantes ou, em último caso, a promoveriam abertamente. Por fim, o caráter minoritário ou solitário daqueles, como o prelado brasileiro, ou os dois leigos bolivianos, que teriam a coragem de denunciar publicamente a subversão no interior da Igreja.

No fim e ao cabo, os dois documentos revelam uma mesma estrutura argumentativa, a das “teorias da conspiração”, ou da “paranoia”, tão usuais em documentos policiais ou de inteligência da Guerra Fria, nas quais o denunciante, sob o pretexto de “desmascarar” uma ação conspirativa, acaba por criar um cenário artificioso - o de uma instituição completamente tomada pelos “infiltrados” - que se evidenciaria por si mesmo, ao ponto de que aqueles que porventura o negassem seriam, quase automaticamente, parte da mesma conspiração.

Essa lógica fica ainda mais evidente em outro documento, intitulado “Reforma Rural y Ligas Agrarias”, datado de 1978, sem autoria atribuída, mas provavelmente redigido pelo paraguaio Antonio Campos Alunm, chefe da Dirección Nacional de Asuntos Técnicos (DINAT), um dos órgãos repressivos do regime de Stroessner.21 21 Campos Alum foi dirigente do capítulo paraguaio da CAL, um dos organizadores do III Congresso da CAL (1977) e do XII Congresso da WACL (1979), ambos ocorridos na capital paraguaia. O atual acervo do CDYA, originalmente sob sua responsabilidade, contém volumosa correspondência que trocou com outros dirigentes da CAL-WACL. O texto começa pela seguinte caracterização da expansão do comunismo na América Latina:

Quando o Kremlin programa a penetração doutrinária através do sistema guerrilheiro na América Latina, conquista primeiro Cuba em 1958; planeja imediatamente a entrada no Cone Sul, pelo Chile, então governado por um militar, o general Ibañez. Se apresentam pela primeira vez as eleições, como candidatos presidenciais Salvador Allende e o Doutor Frei, que são abertamente apoiados pelos camponeses, o primeiro se mostrando “populista” e o segundo como presidente do Partido Democrata Cristão. Formaram-se as Ligas agrárias do Chile, contingentes de jovens saíram em caravanas para viajar de norte a sul do país prometendo aos mineiros “ser absolutos proprietários de suas terras”. Ganharam um inesperado número de votos, sem ocupar a Presidência […]. Nas eleições seguintes, Frei (Partido Democrático Cristão) venceu, abrindo caminho para seu sucessor Salvador Allende. (CAL, 1978bCAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1978b. Reforma Rural y Ligas Agrarias. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA). Asunción., p. 1)

Note-se como o comunismo seria uma força necessariamente estrangeira, que penetraria a região a partir de um “plano de conquista”, pré-concebido desde o Kremlin. Desnecessário lembrar que a Revolução Cubana, cujo desenlace é erroneamente atribuído ao ano de 1958, não contou, em princípio, com nenhum auxílio soviético, sendo o então Partido Comunista da ilha inicialmente crítico à empreitada dos guerrilheiros comandados por Fidel Castro. A lógica da conspiração salta ainda mais à vista quando se analisa o Chile, segunda parada do “plano” dos soviéticos: o socialista (apresentado como “populista”) Allende e o democrata-cristão Frei, adversários nas eleições de 1958 e 1964, são apresentados como aliados, como duas expressões de uma mesma causa, que pretendia mobilizar os camponeses e os mineiros em prol da subversão comunista no país andino.

O documento continua analisando como essa mesma política subversiva teria penetrado a Argentina, por meio da associação entre clero progressista e movimentos guerrilheiros, tentando, a partir daí, alcançar o Paraguai:

Quase simultaneamente, como uma praga maligna, o plano leninista se espalha pela Argentina, um padre jesuíta começa a doutrinar grupos de “voluntários”, em sua maioria professoras que, precisando de trabalho, dão aulas e são enviadas ao interior, como professoras rurais por meio do programa que foi então chamado de ‘Ligas Rurais Cristãs’. A partir daí surgem as primeiras mulheres guerrilheiras, Tucumán, Santa Fé, Corrientes. Os comunistas chegaram a criar cerca de 200 escolas de treinamento de guerrilha, com campos de treinamento já em 1961; a essa altura apontavam também para a República do Paraguai, encontrando um governo ferreamente nacionalista, e diante da impossibilidade de conquistar a selva paraguaia, tentaram penetrar no país ocupando as margens do rio Paraná do lado argentino. O cérebro planificador desse plano ideológico-militar foi o advogado secretário-geral do Partido Comunista Paraguaio, Dr. Oscar Creydt, grande admirador de Mao Tse-Tung; Segundo o escritor chileno Lautaro Silva, referindo-se à coragem nacionalista do povo paraguaio: “não por acaso os paraguaios são os espartanos da América!” (CAL, 1978bCAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1978b. Reforma Rural y Ligas Agrarias. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA). Asunción., p. 1)

É quase inútil apontar as inconsistências e confusões históricas de passagens como esta: padres terceiro-mundistas, professoras rurais, treinamento guerrilheiro, maoísmo etc., todos parte de um mesmo plano de dominação continental. Descontando a manipulação dos dados para reforçar a ideia de um perigo iminente - algo comum em informes policiais dessa natureza -, o que quero destacar é o modo de pensar conspirativo, sempre atribuído ao inimigo, que alicerça a percepção do clero progressista e a parcela do laicato que o seguia como instrumentos da penetração soviética na América Latina.

Mas aqui há outro aspecto interessante a ser ressaltado: o emprego de interpelações discursivas nacionalistas - o “férreo nacionalismo” de Stroessner, os paraguaios como “os espartanos da América” -, que remetem não apenas a uma concepção conservadora da nação como um todo indivisível, mas à obsessão daí decorrente com a segurança nacional, a ser resguardada tanto contra as ameaças externas como as internas.22 22 Para um estudo clássico sobre os fundamentos e as consequências da doutrina de segurança nacional (DSN), não por acaso escrito por um padre vinculado à Teologia da Libertação, veja-se Comblin, 1978. Como é sabido, a doutrina de segurança nacional (DSN), lastreada nas doutrinas militares estadunidense, francesa e, talvez menos conhecida, asiática,23 23 Taiwan desenvolveu uma doutrina própria de “guerra não convencional”, que difundiu, por meio de programas de treinamento em suas escolas militares, a oficiais de países aliados, como o Paraguai e os regimes reacionários da América Central. Cf. Anderson e Anderson, 1986. foi uma das pedras angulares de sustentação ideológica das ditaduras latino-americanas deste período, entrelaçando tanto atores estatais como da sociedade civil (Ribeiro, 2019RIBEIRO, Marcos Vinicius. 2019. Anticomunismo e Inimigo Interno: uma avaliação da Doutrina de Segurança Nacional a partir de sujeitos e manuais da repressão durante as ditaduras do Conesul. Revista História: Debates E Tendências, v. 19, n. 3, pp. 384-401. DOI: 10.5335/hdtv.3n.19.9863
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). No coração da DSN estão as noções de “inimigo interno” e de “subversão”, esta última assim definida por um manual de guerra de contra insurgência do Exército argentino:

Entender-se-á como tal, a ação clandestina ou aberta, insidiosa ou violenta que visa a alteração ou destruição dos critérios morais e do modo de vida de um povo, com a finalidade de tomar o poder e a partir dele impor uma nova forma baseada em uma escala de valores diferente. (Ribeiro, 2019RIBEIRO, Marcos Vinicius. 2019. Anticomunismo e Inimigo Interno: uma avaliação da Doutrina de Segurança Nacional a partir de sujeitos e manuais da repressão durante as ditaduras do Conesul. Revista História: Debates E Tendências, v. 19, n. 3, pp. 384-401. DOI: 10.5335/hdtv.3n.19.9863
https://doi.org/10.5335/hdtv.3n.19.9863...
, p. 391)

Como se depreende do trecho acima, o conceito de “subversão” ia muito além de ações armadas diretamente dirigidas contra o Estado, pois envolviam qualquer ação que, do ponto de vista das forças de segurança, pudesse representar uma ameaça à “ordem vigente” e à sua “escala de valores”. Já para a definição do que constituiria o inimigo interno, vale a pena citar o manual de guerra de contra-insurgência do oficial francês Roger Trinquier, produzido à luz dos conflitos coloniais da Indochina e da Argélia em 1950 e 1960, e uma importante referência para a DSN na América Latina em 1960 e 1970:

Na guerra moderna, o inimigo não é tão fácil de identificar. Não há fronteira física separando os dois campos. A linha que marca a diferença entre amigo e inimigo pode ser encontrada muitas vezes no coração da nação, na mesma cidade em que se reside, no mesmo círculo de amigos em que se move, talvez dentro da própria família. É mais facilmente descoberto se quisermos determinar antecipadamente quem realmente são nossos adversários e quem devemos derrotar. (Ribeiro, 2019RIBEIRO, Marcos Vinicius. 2019. Anticomunismo e Inimigo Interno: uma avaliação da Doutrina de Segurança Nacional a partir de sujeitos e manuais da repressão durante as ditaduras do Conesul. Revista História: Debates E Tendências, v. 19, n. 3, pp. 384-401. DOI: 10.5335/hdtv.3n.19.9863
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, p. 394)

Dessa maneira, a guerra teria como “teatro de operações” potencialmente quaisquer esferas da vida social, nas quais “o inimigo” poderia se infiltrar, em especial escolas, universidades, igrejas e meios de comunicação, ambientes que tivessem por função moldar os valores nos quais se fundamentaria a ordem social a ser defendida. O que importa enfatizar aqui é que os representantes dos aparelhos de segurança policiais e militares das ditaduras de segurança nacional tinham sua agenda própria ao se engajarem em redes transnacionais de ativismo como a CAL-WACL, que coincidia com a dos católicos integristas ao considerar os setores progressistas da Igreja como uma ameaça - no caso à segurança nacional - a ser neutralizada, ou simplesmente eliminada. Retornando a Laclau (1977LACLAU, Ernesto. 1977. Ideology and politics in marxist theory: capitalism, fascism and populism. London: New Left Review Books.), percebe-se como o anticomunismo serviu de “ponto de articulação” entre as interpelações discursivas caras a diferentes grupos ou interesses, condensando um campo ideológico comum.

No interior desse discurso ideológico compartilhado, ganhou centralidade uma rejeição frontal de qualquer concepção universalista dos Direitos Humanos (DDHH), vista como propaganda, consciente ou inconsciente, do comunismo internacional, oferecendo como alternativa uma visão que limitava a vigência dos DDHH às fronteiras ideológicas próprias à Guerra Fria. Isso pode se notar claramente na seguinte alocução, proferida no III Congresso da CAL pelo militante estadunidense de extrema-direita, Roger Pearson,24 24 Sobre Pearson, que por três anos encabeçou o capítulo estadunidense da WACL, chegando a receber uma carta congratulatória de Ronald Reagan, Anderson e Anderson (1986, p. 108) afirmam tratar-se de personagem anfíbio: cultivando vínculos com setores mais mainstream da direita americana e com círculos supremacistas e neonazistas, na América do Norte e na Europa. então presidente do capítulo norte-americano da WACL:

A verdade é que os Estados Unidos ainda são uma grande democracia que não fala com unidade nem continuidade, pois compromete muitos grupos rivais com interesses e opiniões também rivais. Muitos americanos que vivem em liberdade estão determinados a que os Estados Unidos mantenham sua força e a usem contra o comunismo. Mas há outros que trabalham para evitar isso, e alguns dos últimos podem até ser agentes sinceros das forças comunistas. Por isso, muitos são os que procuram explorar o conceito de “direitos humanos” não para a libertação dos povos escravizados pelo comunismo mas, pelo contrário, para obter a liberdade dos terroristas comunistas, - que se encontram, com justiça, presos pelos seus crimes -, e como um meio de interromper os esforços patrióticos de governos anticomunistas para proteger seus povos desses assassinos marxistas. (Pearson, 1977PEARSON, Roger. 1977. Discurso en el Congreso de la C.A.L., 3., 1977, Asunción. Centro de Documentación y Archivo Para la Defensa de Los Derechos Humanos (CDyA) de la Corte Suprema del Paraguay (Archivo del Terror, R00145F-0968/70). Museo de La Justicia: Asunción ., p. 2)

Nestas linhas, claramente endereçadas à política de Direitos Humanos da administração de James Carter, que, como ficou dito na seção anterior, criou atritos entre o governo dos EUA e alguns de seus antigos clientes na América Latina, o anticomunista e neonazista estado-unidense nega toda a humanidade ao inimigo “comunista”, em consonância com as definições da DSN, acima expostas, o que o colocaria para fora da circunscrição dos DDHH e, portanto, o tornaria passível de eliminação. Assim, esse juízo coincide com os pressupostos até aqui examinados nas alocuções, tanto dos católicos integristas como dos representantes das forças repressivas: ao não fazer parte da nação, ou da Igreja, o comunista não faria parte da humanidade mesma, e, portanto, sendo inimigo em uma guerra sem quartel, não teria direitos a serem resguardados.

Considerações finais

Ao longo deste artigo, a análise empreendida do discurso ideológico da CAL-WACL aponta para a elasticidade semântica dos vocábulos “comunismo” e “comunista”, abarcando uma ampla gama de agentes que iriam muito além dos Partidos Comunistas (PCs) e dos regimes socialistas propriamente ditos. Tal abrangência poderia, em princípio, como propõe Pierre Abramovici, ser explicada pelo extremismo dos atores aqui enfocados, os quais, pressupondo que a “ameaça comunista” se manifestaria como “subversão” interna ao “mundo livre”, rejeitariam quaisquer movimentos que não partissem desse mesmo suposto, considerando todos como instrumentos da “infiltração comunista”, o que iria do movimento de países “não alinhados” a todas as variedades do movimento operário, passando pela “teologia da libertação” e pelo movimento ambientalista ou o estudantil (Abramovici, 2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130., p. 123). Além disso, caberia ainda ponderar que, mesmo sendo o comunismo e o anticomunismo mutuamente constitutivos, essa relação não seria necessariamente proporcional, muitas vezes os discursos e práticas anticomunistas assumindo um caráter preventivo e desproporcional à ameaça imaginada (Bohoslavsky, 2016BOHOSLAVSKY, Ernesto. 2016. Organizaciones y prácticas anticomunistas en Brasil y Argentina (1945-1966). Estudos Ibero-Americanos, v. 42, n. 1, pp. 32-52. DOI: 10.15448/1980-864X.2016.1.21822
https://doi.org/10.15448/1980-864X.2016....
, pp. 37-38).

De maneira complementar, o que procurei defender na seção anterior é que essa amplitude também se deveria ao papel discursivo do anticomunismo, que funcionaria como ponto de condensação do campo ideológico da extrema-direita, reunida na rede da CAL-WACL, que permitiria a articulação de elementos discursivos, díspares entre si, em torno de um inimigo comum, de limites necessariamente vagos e imprecisos. Aqui, além das referências a Laclau (1977LACLAU, Ernesto. 1977. Ideology and politics in marxist theory: capitalism, fascism and populism. London: New Left Review Books.), caberia também lembrar outro autor, próximo - diga-se de passagem - à sensibilidade ideológica dos atores analisados. Em seu clássico O Conceito do Político, o jurista e filósofo político alemão Carl Schmitt defendeu que a relação amigo/inimigo seria constitutiva não apenas do domínio próprio à política, mas também de qualquer comunidade ou coletividade em sentido político (Schmitt, 2014SCHMITT, Carl. 2014. El concepto de lo político. Madrid: Alianza Editorial.).

No caso específico do antagonismo entre a esquerda e a direita católicas, a percepção, em termos schmittianos, de uma “ameaça existencial” era exacerbada pelo fato - acima analisado à luz do aporte de Eagleton (2001EAGLETON, Terry. 2001. Ideologia. São Paulo: Editora Unesp: Boitempo.) - de que os primeiros disputavam com os últimos um terreno de significado comum: o da religião e dos valores cristãos. Isso implicou, como se pôde perceber pelos extratos da documentação aqui abordados, um reforço da fronteira de antagonismo, propiciada justamente pelo anticomunismo como ponto de articulação discursiva entre o integrismo católico e a doutrina de segurança nacional.

As consequências práticas desse amálgama ideológico são bem conhecidas na América Latina, e podem ser identificadas nos relatórios de comissões da verdade e de organizações de defesa dos DDHH em vários países da região: a prisão, o exílio, a tortura, o assassinato e a desaparição forçada de milhares de pessoas, entre elas um grande número de clérigos, missionários e leigos católicos, dentre os quais estão os casos do jesuíta espanhol radicado na Bolívia, Luís Espinal,25 25 Bolívia. Exumação do jesuíta Luis Espinal é suspensa - IHU. Cf.: https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/563830-exumacao-do-padre-luis-espinal-e-suspensa. É interessante sublinhar que o regime de García Mesa (1980-1982), responsável pela morte de Espinal, era vinculado à CAL, participando inclusive de seu IV Congresso, ocorrido em Buenos Aires em 1980 (Bohoslavsky, 2019). e do Arcebispo salvadorenho D. Oscar Romero26 26 Cabe notar que a CAL publicou um boletim, com matérias acusando os jesuítas de apoiarem a guerrilha salvadorenha, incluindo ainda uma cópia de uma carta da Federação Mundial da Juventude Livre (FMJL), sediada em Budapeste, com menções à morte de Romero, cf. (CAL, 1981). Recentemente, o Arcebispo Romero foi canonizado pelo Papa Francisco. Cf.: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2018-10/canonizacao-oscar-romero-figura-luminosa-pastor-america-latina.html , ambos assassinados em 1980, apenas dois dos exemplos mais conhecidos. Do ponto de vista de seus antagonistas ideológicos no campo religioso, que se acreditavam travando uma autêntica “cruzada” contra o “comunismo ateu”, mortes como as de Espinal ou Romero eram necessárias, visto que, na realidade, não seriam verdadeiros sacerdotes ou cristãos, mas meros “comunistas” que infiltrariam a Igreja para subvertê-la por dentro.

Houve, ainda, consequências mais duradouras, uma vez que a articulação entre o fundamentalismo cristão e o nacionalismo organicista, que encontrou na rede CAL-WACL um de seus espaços transnacionais de convergência, contribuiu para lançar as bases de uma direita religiosa, bem lastreada nas tradições políticas do subcontinente e com importantes conexões extrarregionais e mesmo interreligiosas.27 27 É bom lembrar, como apontado no início deste artigo, que a WACL, em seu ramo asiático, contava com a participação de outros atores religiosos, como a Igreja da Reunificação do Reverendo Moon. Contemporaneamente, em um cenário no qual a polarização político-ideológica retornou à região, são facilmente identificáveis expressões dessa direita religiosa, como a ex-Presidente da Bolívia, Jeanine Añez, hoje condenada por sua participação no golpe de Estado em 2019, irrompendo no palácio presidencial com uma bíblia nas mãos,28 28 Presidenta interina de Bolivia: La Biblia vuelve a Palacio. Cf.: https://cnnespanol.cnn.com/video/bolivia-presidenta-interina-jeanine-anez-congreso-biblia-evo-morales-perspectivas-mexico-cnnee/#:~:text=Jeanine%20%C3%81%C3%B1ez%2C%20quien%20hasta%20la,La%20Biblia%20vuelve%20a%20Palacio. ou o ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro em suas múltiplas expressões de anticomunismo e fundamentalismo religioso.29 29 Apesar da CNBB, Renovação Carismática Católica diz que adeptos apoiam Bolsonaro. Cf.: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/04/08/apesar-da-cnbb-renovacao-carismatica-catolica-diz-que-adeptos-apoiam-bolsonaro.htm

Assim, me parece forçoso reconhecer - como fez o jornalista estadunidense Vicent Bevins, em seu livro sobre os golpes de Estado e assassinatos em massa, apoiados pela CIA (Bevins, 2020BEVINS, Vincent. 2020. The Jakarta Method: Washington’s anticommunist crusade and the mass murder program that shaped our world. New York: Public Affairs.) - que o mundo em que vivemos ainda é, em grande medida, pautado por discursos e práticas políticas oriundas da Guerra Fria. Para contribuir na elucidação desses nexos históricos, o campo de pesquisas sobre a história transnacional das articulações das direitas vem dando contribuições relevantes, às quais o presente artigo, parte de uma pesquisa ainda em curso, pretendeu adicionar alguma contribuição original. Quem sabe ao compreender melhor o passado que ainda pesa sobre nós, possamos, finalmente, começar a deixá-lo para trás.

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  • 1
    Agradeço a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pelo Auxílio à Pesquisa regular, que, sob o número de processo 2019/21266-5, tornou possível a escrita do presente artigo.
  • 2
    Todas as citações em línguas estrangeiras foram livremente traduzidas pelo autor.
  • 3
    Agradeço à diretora do CDyA, Sra. Rosa Mercedes Palau, e à toda sua equipe pela generosa acolhida em duas visitas ao arquivo, em outubro de 2021 e abril de 2022. Agradeço ainda a Vinicius Uchoa da Silva, Alma Monges e Urano Andrade pelo apoio no levantamento, coleta e digitalização acessível da documentação.
  • 4
    A propósito, veja-se a circular nº. 0284, de 26 de março de 1984, que anunciava aos membros da organização sua separação formal da Liga Anticomunista mundial. Cf. CAL, 1984CAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1984. Circular nº 0284, 26/03/1984. R0019f00552/58. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA) de la Corte Suprema de Justicia del Paraguay. Asunción..
  • 5
    No CDyA, pode-se encontrar um informe em espanhol, em nome do capítulo taiwanês da WACL, contando a história da APACL e da WACL (WACL, 1974WACL - World Anticommunist League. 1974. El Desarrollo de La WACL y La APACL. 00010f-1841/44. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos de La Suprema Corte de Justicia del Paraguay.). Anderson e Anderson, por seu turno, enfatizam que, dada a pobreza tanto da Coreia do Sul como de Taiwan em meados dos anos 1950, a APACL, e posteriormente a WACL, dificilmente teriam se estabelecido sem algum tipo de aporte estadunidense (Anderson e Anderson, 1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company., p. 69).
  • 6
    O primeiro congresso anticomunista regional foi, em grande medida, destinado a atacar o governo reformista de Jacobo Arbenz na Guatemala, não por acaso deposto pelo golpe do Cel. Castillo Armas naquele mesmo ano, com o apoio decisivo dos EUA (Abramovici, 2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130., pp. 118-119).
  • 7
    Para o perfil e a trajetória da CBA e de Pena Boto, cf. Motta, 2000MOTTA, Rodrigo Patto Sá. 2000. Em Guarda Contra O Perigo Vermelho: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). Tese de Doutorado em História Social. São Paulo: FFLCH-USP., pp. 180-187.
  • 8
    O Brasil participou da CAL-WACL por meio de um think-tank, a Sociedade de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais (SEPES), liderada pelo banqueiro Carlo Barbieri Filho, constituída por empresários e profissionais liberais, muitos formados pelo publicista católico ultraconservador Gustavo Corsão (Machado e Rezende, 2019MACHADO, Rodolfo Costa; REZENDE, Claudinei Cássio de. 2019. Aninhando o ovo do Condor: o “capítulo” brasileiro da Confederação Anticomunista Latinoamericana, cogestora das ditaduras de Segurança Nacional do Cone Sul (1971-1974). Semina, v. 18, n. 1, pp. 110-128. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/3s5vezt8 . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/3s5vezt8...
    ). O capítulo brasileiro da CAL organizaria o II Congresso da entidade, ocorrido no Rio de Janeiro em 1975, sob a presidência de Barbieri Filho. Para a bibliografia nacional sobre a WACL e a CAL, cf. Machado, 2017MACHADO, Rodolfo Costa. 2017. Do genocídio nazista à escalada contrarrevolucionária da Guerra Fria: o Bloco Antibolchevique de Nações (ABN) e a Liga Mundial Anticomunista (WACL). Verenotio, v. 23, n. 2, pp. 323-357. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/2xw6bu2k . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/2xw6bu2k...
    ; Machado e Rezende, 2019MACHADO, Rodolfo Costa; REZENDE, Claudinei Cássio de. 2019. Aninhando o ovo do Condor: o “capítulo” brasileiro da Confederação Anticomunista Latinoamericana, cogestora das ditaduras de Segurança Nacional do Cone Sul (1971-1974). Semina, v. 18, n. 1, pp. 110-128. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/3s5vezt8 . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/3s5vezt8...
    ; e Ribeiro, 2018aRIBEIRO, Marcos Vinicius. 2018a. A história da confederação anticomunista latinoamericana durante as ditaduras de segurança nacional (1972-1979). Tese de Doutorado em História. Marechal Cândido Rondon: UNIOESTE. Disponível em: Disponível em: https://tede.unioeste.br/handle/tede/4151 . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tede.unioeste.br/handle/tede/415...
    , 2018bRIBEIRO, Marcos Vinicius. 2018b. A Liga Mundial Anticomunista e a Confederação Anticomunista Latinoamericana: um caso de cooperação anticomunista intercontinental na América Latina (1972-1977). Saeculum - Revista de História, n. 39, pp. 1-16., 2019RIBEIRO, Marcos Vinicius. 2019. Anticomunismo e Inimigo Interno: uma avaliação da Doutrina de Segurança Nacional a partir de sujeitos e manuais da repressão durante as ditaduras do Conesul. Revista História: Debates E Tendências, v. 19, n. 3, pp. 384-401. DOI: 10.5335/hdtv.3n.19.9863
    https://doi.org/10.5335/hdtv.3n.19.9863...
    .
  • 9
    Para uma abordagem sintética da história da “Operação Condor” e seu papel na internacionalização do terrorismo de Estado, cf. Braga, 2014BRAGA, Leonardo Marmontel. 2014. Operação Condor: a internacionalização do terror. Estudios Avanzados, n. 21, pp. 111-136. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/5n63c2jw . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/5n63c2jw...
    . Já para um trabalho jornalístico pioneiro, com abundante informação sobre a “Condor”, cf. Callone, 2016CALLONI, Stella. 2016. Operación Condor: pacto criminal. Caracas: Fundación Editorial El Perro y La Rana., Por fim, para o papel da rede CAL-WACL na operação, cf. Lopez, 2014LÓPEZ, Fernando. 2014. The feathers of Cóndor: transnational State terrorism, exiles, and civilian anticommunism in South America. Sydney: The University of New South Wales..
  • 10
    O mesmo autor faz referência a um boletim, publicado por uma entidade a qual Labin seria vinculada, a Association de Études Politiques et Internacionales (AEPI) (Dard, 2014DARD, Olivier. 2014. Suzane Labin: 50 years of anticommunist agitation. In. VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks . London: Palgrave Macmillan ., p. 193). Em minha visita ao CDyA, creio ter encontrado a referida publicação, traduzida ao castelhano, sob o título de Boletín Este y Oeste, com números entre os anos de 1965 e 1977, cujas algumas partes sequer estão catalogadas.
  • 11
    Como demonstra o trabalho jornalístico pioneiro de Scott e John Lee Anderson, as direitas sul e centro americanas também foram capazes de estabelecer, por meio da WACL, vínculos com a “new right” estadunidense, que reativou as boas relações hemisféricas durante a administração Reagan. Cf. Anderson e Anderson, 1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company., p. 135.
  • 12
    Segundo Pierre Abramovici (2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130., p. 123), o primeiro presidente da CAL, Raymundo Guerrero, também era membro da FEMACO, que funcionaria como uma espécie de fachada para os Tecos. Para uma discussão mais aprofundada do assunto, cf. Herran Ávila, 2015HERRAN ÁVILA, Luis Alberto. 2015. Las Guerrillas Blancas: anticomunismo transnacional e imaginarios de derechas en Argentina y México (1954-1972). Quinto Sol, v. 19, n. 1, pp. 1-26. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/2858ahac . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/2858ahac...
    ; López Macedonio, 2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
    https://doi.org/10.1080/13260219.2006.10...
    ; 2010LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2010. Historia de Una Colaboración Anticomunista Transnacional - Los Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara y el gobierno de Chang Kai-chek a principios de los años setenta. Contemporánea - historia y problemas del siglo XX, v. 1, n. 1, pp. 133-158. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/54f252ts . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/54f252ts...
    .
  • 13
    Tratou-se de uma emenda ao artigo 3º. da Constituição mexicana de 1917, que caracterizava a educação como necessariamente pública e laica, em uma tentativa do governo de Cárdenas de expropriar o monopólio cultural da Igreja Católica e forjar uma só solidariedade moral no país em torno do Estado, combatendo o fanatismo e as superstições associados à religiosidade tradicional (López Macedonio, 2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
    https://doi.org/10.1080/13260219.2006.10...
    , p. 95).
  • 14
    O termo é diminutivo de “Tecolote”, espécie nativa de coruja. Agradeço à professora Nashieli Loera, do Departamento de Antropologia da Unicamp, pela tradução.
  • 15
    Mais tarde, a organização também incorporaria as ideias do sacerdote e teólogo jesuíta argentino Julio Meinvielle (1905-1973), um dos principais representantes de um “fascismo cristianizado” na Argentina (Finchelstein, 2014FINCHELSTEIN, Federico. 2014. The Ideological Origins of The Dirty War: fascism, populism, antisemitism and dictatorship in 20th century Argentina. Oxford: Oxford University Press., pp. 40-41). Fortemente antissemita, Meinvielle foi uma referência tanto para a extrema-direita em seu país, caso do Movimento Nacionalista Taquara, como também para os Tecos, que divulgavam suas obras (Anderson e Anderson, 1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company., p. 89). Para as aproximações entre as extremas-direitas argentina e mexicana do pós-guerra, cf. Herran Ávila, 2015HERRAN ÁVILA, Luis Alberto. 2015. Las Guerrillas Blancas: anticomunismo transnacional e imaginarios de derechas en Argentina y México (1954-1972). Quinto Sol, v. 19, n. 1, pp. 1-26. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/2858ahac . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/2858ahac...
    .
  • 16
    Contra o Concílio Vaticano II, os Tecos publicaram um livro apócrifo, atribuído a um fictício Maurice Piney, acusando a Igreja de estar infiltrada por judeus e comunistas que buscariam miná-la por dentro (Lopez, 2014LÓPEZ, Fernando. 2014. The feathers of Cóndor: transnational State terrorism, exiles, and civilian anticommunism in South America. Sydney: The University of New South Wales.).
  • 17
    Segundo López Macedonio (2006LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2006. Una visita desesperada: La Liga Mundial Anticomunista en México. Journal of Iberian and Latin American Research, v. 12, n. 2, pp. 91-124. DOI: 10.1080/13260219.2006.10426859
    https://doi.org/10.1080/13260219.2006.10...
    , 2010LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2010. Historia de Una Colaboración Anticomunista Transnacional - Los Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara y el gobierno de Chang Kai-chek a principios de los años setenta. Contemporánea - historia y problemas del siglo XX, v. 1, n. 1, pp. 133-158. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/54f252ts . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/54f252ts...
    ), os taiwaneses tinham sua própria agenda, empregando o anticomunismo para tentar reter aliados na América Latina, em um contexto marcado pelo ingresso formal da República Popular da China na Organização das Nações Unidas (ONU), em 1971, e seu reconhecimento crescente pelas potências capitalistas ocidentais.
  • 18
    Como se pode ver, recorro à obra de Laclau em sua fase inicial, ainda inscrita no interior da tradição marxista, e não à sua guinada pós-estruturalista posterior (Laclau e Mouffe, 1985LACLAU, Ernesto; MOUFFE, Chantal. 1985. Hegemony and Socialist Strategy: for a radical democratic politics. London: Verso Books.). O faço não tanto por discrepâncias teórico-metodológicas com os autores, mas por julgar que os postulados sobre a relação ideologia-discurso contidos na primeira obra de Laclau são mais adequados ao objeto aqui tratado.
  • 19
    Aliás, em seus congressos, a entidade manteve uma comissão especial de combate à presença da esquerda no meio religioso, bem como uma “secretaria de defesa do clero” em seu Conselho Coordenador (cf. CAL, 1974CAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1974. Reunión del Consejo Coordinador de la CAL, del 9-12 de julio de 1974. Centro de Documentación y Archivo para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA) del La Corte Suprema de Justicia del Paraguay. Asunción.). Segundo Pierre Abramovici (2014ABRAMOVICI, Pierre. 2014. The World Anticommunist League: origins, structures and activities. In: VAN DONGEN, Luc; ROULIN, Stéphanie; SCOTT-SMITH, Giles (org.). Transnational Anticommunism and The Cold War: agents, activities and networks. London: Palgrave Macmillan, pp. 113-130., pp. 114-115), a decisão de eliminar católicos de esquerda teria sido tomada justamente no III Congresso da CAL. Já para Fernando Lopez (2014LÓPEZ, Fernando. 2014. The feathers of Cóndor: transnational State terrorism, exiles, and civilian anticommunism in South America. Sydney: The University of New South Wales., pp. 347-348), teria sido na reunião do Conselho Coordenador da entidade, que se seguiu ao referido congresso, que se encomendou a seus adeptos a elaboração de listas paralelas de clérigos “anticomunistas” e “comunistas”, estas últimas a serem repassadas aos órgãos responsáveis pelo combate à subversão.
  • 20
    Para o conflito entre os Tecos e a Igreja pós-conciliar, cf. López Macedonio, 2010LÓPEZ MACEDONIO, Mónica Naymich. 2010. Historia de Una Colaboración Anticomunista Transnacional - Los Tecos de la Universidad Autónoma de Guadalajara y el gobierno de Chang Kai-chek a principios de los años setenta. Contemporánea - historia y problemas del siglo XX, v. 1, n. 1, pp. 133-158. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/54f252ts . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/54f252ts...
    , pp. 141-142. Já sobre a figura de D. Geraldo de Proença Sigaud e sua atuação como parte da minoria conservadora durante o Concílio Vaticano II, cf. Caldeira, 2015CALDEIRA, Rodrigo Coppe. 2015. Católicos e anticomunistas: D. Geraldo de Proença Sigaud e a literatura anticomunista no Brasil. Revista del CESLA, n. 18, pp. 67-87. Disponível em: Disponível em: https://tinyurl.com/5n732vhj . Acesso em: 27 out. 2023.
    https://tinyurl.com/5n732vhj...
    .
  • 21
    Campos Alum foi dirigente do capítulo paraguaio da CAL, um dos organizadores do III Congresso da CAL (1977) e do XII Congresso da WACL (1979), ambos ocorridos na capital paraguaia. O atual acervo do CDYA, originalmente sob sua responsabilidade, contém volumosa correspondência que trocou com outros dirigentes da CAL-WACL.
  • 22
    Para um estudo clássico sobre os fundamentos e as consequências da doutrina de segurança nacional (DSN), não por acaso escrito por um padre vinculado à Teologia da Libertação, veja-se Comblin, 1978COMBLIN, Joseph. 1978. A Ideologia Da Segurança Nacional: O Poder Militar Na América Latina. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira..
  • 23
    Taiwan desenvolveu uma doutrina própria de “guerra não convencional”, que difundiu, por meio de programas de treinamento em suas escolas militares, a oficiais de países aliados, como o Paraguai e os regimes reacionários da América Central. Cf. Anderson e Anderson, 1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company..
  • 24
    Sobre Pearson, que por três anos encabeçou o capítulo estadunidense da WACL, chegando a receber uma carta congratulatória de Ronald Reagan, Anderson e Anderson (1986ANDERSON, Scott; ANDERSON, Jon Lee. 1986. Inside the league: the shocking exposé of how terrorists, Nazis and Latin American death squads infiltrated the World Anticommunist League. New York: Don, Mead and Company., p. 108) afirmam tratar-se de personagem anfíbio: cultivando vínculos com setores mais mainstream da direita americana e com círculos supremacistas e neonazistas, na América do Norte e na Europa.
  • 25
    Bolívia. Exumação do jesuíta Luis Espinal é suspensa - IHU. Cf.: https://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/563830-exumacao-do-padre-luis-espinal-e-suspensa. É interessante sublinhar que o regime de García Mesa (1980-1982), responsável pela morte de Espinal, era vinculado à CAL, participando inclusive de seu IV Congresso, ocorrido em Buenos Aires em 1980 (Bohoslavsky, 2019BOHOSLAVSKY, Ernesto. 2019. El IV Congreso de La Confederación Anticomunista Latinoamericana (Buenos Aires, 1980). Almanaque Histórico Latino Americano, n. 23, pp. 164-184.).
  • 26
    Cabe notar que a CAL publicou um boletim, com matérias acusando os jesuítas de apoiarem a guerrilha salvadorenha, incluindo ainda uma cópia de uma carta da Federação Mundial da Juventude Livre (FMJL), sediada em Budapeste, com menções à morte de Romero, cf. (CAL, 1981CAL - Confederación Anticomunista Latinoamericana. 1981. Documentos Sobre el Comunismo - publicación de la Confederación Anticomunista Latinoamericana. Año 1, n. 5, Guadalajara: CAL, 1981. 0010 SF 1993. Centro de Documentación y Archivo Para La Defensa de Los Derechos Humanos (CDYA) de la Suprema Corte de Justicia del Paraguay. Asunción.). Recentemente, o Arcebispo Romero foi canonizado pelo Papa Francisco. Cf.: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2018-10/canonizacao-oscar-romero-figura-luminosa-pastor-america-latina.html
  • 27
    É bom lembrar, como apontado no início deste artigo, que a WACL, em seu ramo asiático, contava com a participação de outros atores religiosos, como a Igreja da Reunificação do Reverendo Moon.
  • 28
  • 29

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    26 Jul 2022
  • Aceito
    15 Set 2023
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