Resumo
Em 1969, a 60km da então capital da República Soviética do Cazaquistão, Alma-Ata, arqueólogos encontraram, durante uma escavação numa estrutura funerária do tipo kurgan, um traje envolvendo um esqueleto datados dos séculos V ou IV a.C. Ricamente decorados com mais de 4.000 peças de ouro, os restos foram logo apelidados de Golden Man. Por acreditarem se tratar de um jovem príncipe de origem cita-saca, o achado logo se tornou um dos mais importantes símbolos da nacionalidade cazaque em construção a partir daquele momento. Pesquisas realizadas desde o final da década de 1990 sugerem, porém, que o “Homem Dourado” tenha sido, de fato, uma “Mulher Dourada”, o que tem gerado um debate com certo impacto sobre a reformulação das representações sobre a identidade nacional cazaque. Esboçaremos reflexões sobre a relação entre nation-building, gênero e o papel político da arqueologia/antropologia do ponto de vista de um antropólogo-turista que visitou o Cazaquistão em dezembro de 2017.
Palavras-chave:
Nation-building; Arqueologia/Antropologia; Gênero; Cazaquistão; Golden Man
Abstract
In 1969, 60 km from Alma-Ata, the capital of the Soviet Socialist Republic of Kazakhstan, archaeologists excavated a funerary structure of the kurgan type, an outfit enveloping a skeleton dating from the 5th or 4th century BC. Richly decorated with more than 4,000 pieces of gold, the remains were dubbed “Golden Man”. Believed to be a young Scythian-Saka prince, it soon became one of the most important symbols of a nascent Kazakh nationality. However, subsequent research carried out since the late 1990s, suggest that the “Golden Man” was in fact a “Golden Woman”. The ensuing debate has had an evident impact on the reformulation of the representations of Kazakh national identity. In this article, I will reflect on the relationship between nation-building, gender and the political role of archaeology/anthropology, from the standpoint of a Brazilian anthropologist-cum-tourist who visited Kazakhstan in December 2017.
Key words:
Nation-building; Archaeology/Anthropology; Gender; Kazakhstan; Golden Man
Resumen
En 1969, a unos 60 km de la entonces capital de la República Soviética de Kazajstán, Alma-Ata, durante una excavación en una estructura funeraria del tipo kurgan, arqueólogos encontraron a un traje envolviendo un esqueleto datado de los siglos V o IV a.E.C. Ricamente decorados con más de 4.000 piezas de oro, los restos fueron rápidamente apodados “Golden Man”. Por creer que se trataba de un joven príncipe de origen escita-saka, el hallazgo pronto se convirtió en uno de los símbolos más importantes de la nacionalidad kazaja en construcción a partir de aquel momento. Sin embargo, las investigaciones realizadas desde finales de la década de 1990 sugieren que el “Hombre Dorado” ha sido más bien una “Mujer Dorada”, lo que ha generado un debate con cierto impacto sobre la reformulación de las representaciones sobre la identidad nacional kazaja. Esbozamos reflexiones sobre la relación entre nation-building, género y el papel político de la arqueología / antropología desde el punto de vista de un antropólogo-turista que visitó Kazajstán en diciembre de 2017.
Palabras clave:
nation-building; arqueología/antropología; género
Apresentação
Em 1969, a 60km da então capital da República Soviética do Cazaquistão, Almaty, arqueólogos (homens) encontraram, durante uma escavação em uma estrutura funerária do tipo kurgan, um traje envolvendo um esqueleto datados dos séculos V ou IV a.C. Ricamente decorados com mais de 4.000 peças de ouro, os restos foram logo apelidados de “Homem Dourado” ou Golden Man. Por acreditarem se tratar de um jovem príncipe de origem cita-saca, o “Homem Dourado” logo se tornou um dos mais importantes símbolos da nacionalidade cazaque em (re)construção justamente a partir daquele momento. Com a independência do país, no início da década de 1990, o símbolo passou a figurar por toda parte como um “ícone da pátria, da prosperidade e do patrimônio” nacionais (ver nota de rodapé número 28): desde réplicas adornando monumentos e expostas em inúmeros museus, passando por moedasMOEDAS COMEMORATIVAS DO CAZAQUISTÃO: MOEDAS COMEMORATIVAS DO CAZAQUISTÃO: https://pt.ilovevaquero.com/hobbi/45321-pamyatnye-monety-kazahstana.html
. Acesso em 01/05/2018.
https://pt.ilovevaquero.com/hobbi/45321-...
e cédulas de tenge (divisa local), além de emblemas nacionais.
Pesquisas realizadas desde o final da década de 1990 e publicações das décadas seguintes sugerem que o “Homem Dourado” talvez tenha sido, em realidade, uma “Mulher Dourada”, o que tem gerado um interessante debate envolvendo governantes e políticos, gestores/as do patrimônio, agentes do turismo, arqueólogos/as, antropólogos/as e historiadores/as, com aparente impacto sobre a reformulação das representações sobre a identidade nacional cazaque. Trata-se aqui de esboçar algumas reflexões sobre a relação entre arqueologia/antropologia, gênero, nation-building e patrimônios a partir do ponto de vista de um antropólogo-turista que visitou o Cazaquistão em dezembro de 2017.1 1 Nossos agradecimentos a Igor Erick (PPGA/UFPA), Márcia Bezerra (PPGA/UFPA) e Denise Pahl Schaan (PPGA/UFPA, in memoriam) pelas dicas bibliográficas. Agradecimentos especiais ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Produtividade em Pesquisa. Dedicamos este texto a Jeannine Davis-Kimball, arqueóloga norte-americana falecida em 2017, e a Denise Pahl Schaan, arqueóloga brasileira falecida em 2018.
Antes do Cazaquistão
Na área que vai do norte da Índia até a tundra siberiana e da Mongólia até a atual Ucrânia - a Ásia Central2 2 Será usado aqui o termo Ásia Central proposto pelos sete volumes da coletânea History of Civilizations of Central Asia publicada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) entre 1992 e 2005 (Dani & Masson 2004; Harmatta 1994; Litvinsky & Zhang 1996; Asimov & Bosworth 1998; Asimov & Bosworth 2000; Adle & Baipakov 2003; Adle, Palat & Tabyshalieva 2005). - há nove ou dez milênios comunidades agrícolas coexistiam com grupos que viviam sobretudo de caça, pesca e coleta. O desenvolvimento de uma forma dinâmica de pastoralismo, associada em seguida ao nomadismo militar, marcados pelas consequências da introdução da metalurgia, aumentaram a mobilidade de consideráveis grupos populacionais, gerando o ambiente no qual os predecessores de diversos povos modernos surgiriam (Beckwith 2009BECKWITH, Christopher I. 2009. Empires of the Silk Road: a history of Central Eurasia from the Bronze Age to the Present. Princeton: Princeton University Press. ; Hanks 2010HANKS, Bryan. 2010. “Archaeology of Eurasian Steppes and Mongolia”. Annual Review of Anthropology, 39:469-485. ).
O segundo milênio a.C. foi um período marcado pela desintegração dos complexos urbanos da região e a estruturação de novos complexos nas áreas de maior predominância da agricultura, por um lado, e por outro, pelas transformações das sociedades dos primeiros pastores-caçadores em sociedades nômades com estruturas mais complexas (Chernykh 2008CHERNYKH, Evgeny. 2008. “The ‘Steppe Belt’ of Stockbreeding Cultures in Eurasia during the Early Metal Age”. Trabajos de Prehistoria, 65 (2):73-93.; Kohl 2002KOHL, Philip L. 2002. “Archaeological Transformations: crossing the pastoral/agricultural bridge”. Iranica Antiqua, 37:151-190.; Lamberg-Karlovsk 2013LAMBERG-KARLOVSKY, C. C. 2013. “The Oxus Civilization”. CuPAUAM - Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad Autónoma de Madrid, 39:21-63.). No início do primeiro milênio a.C., a zona de estepes era habitada por povos oriundos do norte da Pérsia, os citas (conhecidos pelos persas e indianos como sacas). Em meados do milênio, já haviam migrado para o oeste até o Mar Negro e para o leste até a China, tornando-se uma potência comercial, “[...] a primeira nação pastoril nômade historicamente conhecida [...]” (Beckwith 2009BECKWITH, Christopher I. 2009. Empires of the Silk Road: a history of Central Eurasia from the Bronze Age to the Present. Princeton: Princeton University Press. :58)3 3 Todos os trechos em língua estrangeira serão inseridos no corpo do texto traduzidos livremente por nós. No original: “[…] the first historical well-know pastoral nomadic nation [...]”. . A riqueza e o poder dos citas e seus contatos crescentes com outros povos levavam a invasões de territórios, o que foi arruinando o império e os citas foram se diluindo (Bashilov & Yablonsky 1995BASHILOV, Vladimir A. & YABLONSKI, Leonid T. 1995. “Introduction”. In: Jannine Davis-Kimball; Vladimir A. Bashilov & Leonid T. Yablonski (orgs.), Nomads of the Eurasian Steppes in the Early Iron Age. Berkely: Zinat Press. pp. xi-xv.; Harmatta 1994HARMATTA, János (org.). 1994. History of Civilizations of Central Asia. Volume II: The Development of Sedentary and Nomadic Civilizations - 700 B.C. to A.D. 250. Paris: Unesco Publishing . ; Lebedynsky 2001LEBEDYNSKY, Iaroslav. 2001. Les Scythes: la civilisation nomade des steppes - VIIe-IIIe siècles av. J.-C. Paris: Errance.). O “Homem Dourado” é tido por um cita, encontrado por arqueólogos/as em 1969 no âmbito de escavações relacionadas a projetos de salvamento soviéticos de milhares de estruturas funerárias em forma de montículos ou kurgans (Kohl 2007KOHL, Philip L. 2007. The Making of Bronze Age Eurasia. Cambridge: Cambridge university Press . ).
Entre o período em que viveu o “Homem Dourado” e os primeiros séculos da Era Cristã, a região desempenhava um papel de dimensões mundiais na circulação de pessoas, bens, ideias, religiões, enfim, de culturas. O comércio entre os diversos povos da região foi comumente chamado, em seguida, de Rota da Seda, amplamente descrito por europeus, chineses e indianos ao longo do tempo (Baipakov 2000BAIPAKOV, Karl. 2000. “The Silk Road across Central Asia”. In: Muhammad. S. Asimov & Clifford E. Bosworth (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume IV: The Age of Achievement - A.D. 750 to the end of the fifteenth century - Parte Two. Paris: Unesco Publishing . pp. 221-226.; Beckwith 2009BECKWITH, Christopher I. 2009. Empires of the Silk Road: a history of Central Eurasia from the Bronze Age to the Present. Princeton: Princeton University Press. ). Entre os séculos VIII e XVI, após a chegada do islamismo, diversos impérios nômades de guerreiros surgiram no coração da Ásia, representados por povos até então pouco conhecidos, como os mongóis e os túrquicos, que se impuseram à China, à Índia, à Ásia ocidental islâmica e à Europa central e oriental cristã, desestabilizando o equilíbrio dos séculos anteriores proporcionado pelo comércio da Rota da Seda. A constituição da Horda Dourada turco-mongol - a partir da fragmentação do Império Mongol de Gengis Khan - nas estepes da Ásia Central e seu espraiamento da Europa à China, em forma de canato (do líder, khan; uma forma de emirado), marcou a vida nos séculos XIII a XV no que é hoje o território do Cazaquistão (Bosworth 1998BOSWORTH, Clifford E. 1998. “Introduction”. In: Muhammad S. Asimov & Clifford E. Bosworth (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume IV: The Age of Achievement - A.D. 750 to the end of the fifteenth century - Parte One. Paris: Unesco Publishing . pp. 19-22.).
Transformações agudas aconteceram entre os séculos XV e XVI que teriam a ver com a expansão europeia pelos continentes americano, africano e asiático, como consequência do desenvolvimento dos chamados “impérios da pólvora” (Golden 2011GOLDEN, Peter B. 2011. “The Age of Gunpowder and the Crush of Empires”. In: GOLDEN, Peter B., Central Asia in World History. Oxford: Oxford University Press. pp. 105-121.; Hodgson 1977HODGSON, Marshall G. S. 1977. The Venture of Islam. Volume 3: The Gunpowder Empires and Modern Times. Chicago: The University of Chicago Press. ). O declínio do poderio militar nômade da Ásia Central estaria associado às mudanças tecnológicas na artilharia pesada que passou a ser usada com mais frequência nesse período e à intensificação das descobertas e/ou usos de novas rotas comerciais, dessa vez principalmente marítimas, ligando a Europa ao resto do mundo e acarretando uma reestruturação da Rota da Seda. O domínio europeu no comércio mundial e o desenvolvimento paulatino do capital internacional foram acompanhados de formas novas de colonização, escravidão e conquistas territoriais - fazendo despontar o “orientalismo” (Said 1990SAID, Edward W. 1990. Orientalismo. São Paulo: Companhia das Letras . ). Na Ásia Central, inicia-se o expansionismo russo, subjugando as estepes cazaques pouco povoadas entre os séculos XVIII e XIX e, a partir de 1850, as áreas mais densamente povoadas ao sul (Adle, Habib & Baipakov 2003ADLE, Chahryar; HABIB, Irfan & BAIPAKOV, Karl M. (orgs.). 2003. History of Civilizations of Central Asia. Volume V: Development in Contrast - from the sixteenth to the mid-nineteenth century. Paris: Unesco Publishing. ; Golden 2011) raiando o “orientalismo russo” e, mais tarde, o “orientalismo soviético” (Bustanov 2014BUSTANOV, Alfrid K. 2014. Soviet Orientalism and the Creation of Central Asian Nations. Londres / Nova York: Routledge. ).
Nesse contexto, como surge essa entidade territorial, nacional e étnica chamada Cazaquistão, habitada pelo povo cazaque? Cazaque é uma palavra de origem túrquica, cujo significado é emblemático do modo de vida nômade: uma pessoa ou grupo livre que se libertou de um clã. Segundo Olcott (1995OLCOTT, Martha B. 1995. The Kazakhs. Stanford: Hoover Institution Press. ), Dave (2007DAVE, Bhavna. 2007. Kazakhstan: Ethnicity, language and power. Londres /Nova York: Routledge . ) e Ubiria (2016UBIRIA, Grigol. 2016. Soviet Nation-Building in Central Asia: The making of the Kazakh and Uzbek nations. Londres /Nova York: Routledge . ), é consensual o fato de que “[...] o povo ou nação cazaque [...]” (Olcott 1995:3)4 4 No original: “[...] the Kazakh people or Kazakh nation [...]”. teria se formado na segunda metade do século XV, quando dois filhos de um khan mongol se insurgiram contra um khan uzbeque. A partir daí, desponta o Canato Cazaque que, unificado no século XVI, expande seu território ao incorporar outros clãs e tribos também de origem turco-mongol (Baipakov & Kumenov 2003BAIPAKOV, Karl & KUMEKOV, B. E. 2003. “The Kazakhs”. In: Chahryar Adle; Irfan Habib & Karl M. Baipakov (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume V: Development in Contrast - from the sixteenth to the mid-nineteenth century. Paris: Unesco Publishing . pp. 89-108. ). Para Baipakov e Kumenov (2003), esse é o momento da irrupção da “nacionalidade cazaque”. Segundo Olcott (1995), durante o canato de Qasim, considerado (não consensualmente) como o primeiro khan cazaque por ter conseguido centralizar o poder, “Foi possível pela primeira vez considerar os cazaques como um povo: eles eram uma força de aproximadamente um milhão, falavam uma mesma língua túrquica, praticavam um mesmo tipo de pecuária e compartilhavam a cultura e a forma de organização social [...]” (Olcott 1995:9).5 5 No original: “It was possible for the first time to consider the Kazakhs a people: they were approximately one million strong, spoke the same Turkish language, utilized the same type of livestock breeding, and shared a culture and a form of social organization. [...]”. O Canato Cazaque foi obrigado a aceitar a suserania da Rússia, no século XVIII, em razão da situação militar e política, dos impactos econômicos devastadores das guerras recentes, da fragmentação da aliança entre as hordas e do medo do poderio bélico da Rússia czarista em ampla expansão (Baipakov & Kumenov 2003; Olcott 1995).
A russificação, a colonização e a ocidentalização
A partir da segunda metade do século XVIII, a Rússia inicia a construção de obras de defesa nos vales de rios da região - o que proporcionou um gigantesco avanço territorial em direção à colonização do Cazaquistão - adquire vastas extensões de terras férteis, reduz as áreas de pastagem e, por conseguinte, interrompe repentinamente as migrações tradicionais, além de emitir uma série de decretos que restringiam a mobilidade dos cazaques (Baipakov & Kumenov 2003BAIPAKOV, Karl & KUMEKOV, B. E. 2003. “The Kazakhs”. In: Chahryar Adle; Irfan Habib & Karl M. Baipakov (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume V: Development in Contrast - from the sixteenth to the mid-nineteenth century. Paris: Unesco Publishing . pp. 89-108. ). Apesar da resistência, a incorporação do Cazaquistão à Rússia se completou com a ocupação definitiva do território por tropas russas em 1863-4, coincidindo, na Rússia, com a emancipação da servidão e a implementação de reformas objetivando o desenvolvimento de relações sociais capitalistas (Cohen 1996COHEN, Ariel. 1996. Russian Imperialism: development and crisis. Londres / Wesport: Praeger. ; Golden 2011GOLDEN, Peter B. 2011. “The Age of Gunpowder and the Crush of Empires”. In: GOLDEN, Peter B., Central Asia in World History. Oxford: Oxford University Press. pp. 105-121.; Nurpeis 2005NURPEIS, K. 2005. “Kazakhstan”. In: Chahryar Adle ; Madhavan K. Palat & Anara Tabyshalieva (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume VI: Towards the Contemporary Period - from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century. Paris: Unesco Publishing . pp. 247-262.).
A Rússia divide suas colônias em subunidades sempre governadas por oficiais russos e restringe o poder dos chefes locais e, paralelamente, empreende uma reforma social que considera todos os cazaques como camponeses, torna as terras propriedades do Estado Imperial, cria tributos elevados e, enfim, destitui as cortes tradicionais de justiça e institui as leis russas como universais (Nurpeis 2005NURPEIS, K. 2005. “Kazakhstan”. In: Chahryar Adle ; Madhavan K. Palat & Anara Tabyshalieva (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume VI: Towards the Contemporary Period - from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century. Paris: Unesco Publishing . pp. 247-262.). Com a transformação do Cazaquistão numa colônia, reforça-se o processo de reassentamento de camponeses dos domínios centrais do império em terras cazaques e incentiva-se a migração de técnicos e engenheiros russos e ucranianos para trabalhar nas cidades industriais (Cohen 1996COHEN, Ariel. 1996. Russian Imperialism: development and crisis. Londres / Wesport: Praeger. ). O desenvolvimento das indústrias metalúrgica e de mineração, de transformação agrícola e produção alimentícia, de extração de sal e de pesca, o incremento do comércio e do transporte e o surgimento de instituições financeiras e de crédito empregam e/ou fazem surgir uma classe operária local, geralmente formada por trabalhadores pouco qualificados, com salários mais baixos do que os trabalhadores russos mais qualificados ocupantes dos cargos de comando. Mulheres e crianças são amplamente empregados na indústria e na agricultura (Olcott 1995OLCOTT, Martha B. 1995. The Kazakhs. Stanford: Hoover Institution Press. ; Ubiria 2016UBIRIA, Grigol. 2016. Soviet Nation-Building in Central Asia: The making of the Kazakh and Uzbek nations. Londres /Nova York: Routledge . ). No âmbito da educação, três fenômenos chamam a atenção: a substituição das madraças muçulmanas por instituições escolares seculares, a obrigatoriedade do aprendizado da língua russa e a educação das mulheres (Allworth 1994ALLWORTH, Edward (org.). 1994. Central Asia: 130 years of Russian dominance, a historical overview. Durham / Londres: Duke University Press. ; Nurpeis 2005).
O Cazaquistão também se torna o lugar do exílio de centenas de opositores políticos. No início do século XX, sob a influência e com a participação desses personagens, criam-se círculos políticos, organizações diversas de ideologia social-democrata ou marxista e sindicatos. O “atraso” econômico e social do Cazaquistão alarma o segmento mais intelectualizado do povo e o leva à aspiração de criação de um Estado-nação (Nurpeis 2005NURPEIS, K. 2005. “Kazakhstan”. In: Chahryar Adle ; Madhavan K. Palat & Anara Tabyshalieva (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume VI: Towards the Contemporary Period - from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century. Paris: Unesco Publishing . pp. 247-262.). O fim do regime monárquico e a revolução burguesa de fevereiro de 1917 na Rússia são acolhidos com entusiasmo por esses críticos, mas a Revolução Bolchevique de outubro do mesmo ano gera incertezas. O novo poder russo instaurado reconstitui o Estado cazaque, agora sobre bases soviéticas: a agricultura é coletivizada; o nomadismo, combatido; a industrialização, acelerada e a classe operária local continua ocupando os postos menos prestigiosos, em detrimento dos altos, ocupados por russos, ucranianos e bielo-russos; intensifica-se a russificação cultural forçada da população, com a obrigatoriedade da língua russa nos estabelecimentos públicos; instala-se uma política demográfica de eslavização da população com o forte crescimento da proporção de russos, ucranianos, bielo-russos e alemães; banem-se os opositores etc. (Dadabaev & Komatsu 2017DADABAEV, Timur & KOMATSU, Hisao. 2017. Kazakhstan, Kyrgyzstan, and Uzbekistan: Life and politics during the Soviet Era. Nova York: Palgrave Macmillian. ; Dave 2007DAVE, Bhavna. 2007. Kazakhstan: Ethnicity, language and power. Londres /Nova York: Routledge . ; Sinnot 2003SINNOT, Peter. 2003. “Population Politics in Kazkakhstan”. Journal of International Affairs, 56 (2):103-115. ).
O projeto revolucionário soviético instiga a universalização de valores europeus, ainda que, em teoria, incentive a preservação das identidades étnicas, donde a criação das repúblicas soviéticas sobre bases étnicas (Dave 2007DAVE, Bhavna. 2007. Kazakhstan: Ethnicity, language and power. Londres /Nova York: Routledge . ). A resistência cazaque se faz sentir em diversas ocasiões: no início da década de 1980, a situação socioeconômica sombria que prevalece em praticamente toda a vasta União Soviética apressa a glasnost (no campo político-administrativo) e a perestroika (no campo econômico), num movimento de reformas promovido por Mikhail Gorbachev, último líder soviético (Ro’i 1992RO’I, Yaacov. 1992. “Nationalism in Central Asia in the Context of Glasnost and Perestroika”. In: Zvi Gitelman (org.), The Politics of Nationality and the Erosion of the USSR. Nova York: St. Martin’s Press. pp. 50-76.). A repressão a jovens manifestantes em 1986, acusada pelo poder central de ter sido “uma manifestação do nacionalismo cazaque”, segundo Nurpeis (2005NURPEIS, K. 2005. “Kazakhstan”. In: Chahryar Adle ; Madhavan K. Palat & Anara Tabyshalieva (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume VI: Towards the Contemporary Period - from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century. Paris: Unesco Publishing . pp. 247-262.:261), serve para desenvolver as circunstâncias segundo as quais “[...] a doutrina da soberania cedeu lugar cada vez mais ao conceito de etnicidade” (2005:261).6 6 No original: “[...] the doctrine of sovereignity increasingly began to give way to the concept of ethnicity”. Sob pressão popular, o primeiro-secretário do Partido Comunista da República Soviética do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, toma as rédeas do processo inevitável de independência - embora tente, num primeiro momento, primar somente por mais autonomia no âmbito de uma comunidade liderada pela Rússia. Em 1991, o Cazaquistão torna-se independente e Nazarbayev, seu primeiro e único presidente até os dias de hoje, reeleito diversas vezes (sempre com mais de 95% dos votos válidos). Mesmo com a independência, as relações com a Rússia continuam tensas, em razão das questões que devem ser resolvidas entre os dois países (como o imbroglio demográfico e étnico).
Cazaques ou cazaquitanos? Os dilemas da nacionalidade
Com a independência, há a necessidade de fortalecer marcadores identitários nacionais capazes de solucionar os problemas oriundos da eslavização demográfica e da russificação cultural forçadas da população, tanto durante o período colonial, como sob o jugo do regime soviético (Tishkov 1997TISHKOV, Valerii A. 1997. Ethnicity, Nationalism and Conflict in and after the Soviet Unioon: The mind aflame. Londres: Sage. ; Ubiria 2016UBIRIA, Grigol. 2016. Soviet Nation-Building in Central Asia: The making of the Kazakh and Uzbek nations. Londres /Nova York: Routledge . ). Na década de 1990, muitos eslavos deixam o Cazaquistão, sob pressões indiretas de uma nova elite nacionalista ou por medo da instabilidade futura; os russos que permanecem no país acabam por representar uma ameaça para os cazaques, levando o governo a adotar medidas de prevenção de conflitos; muitos russos ficam no Cazaquistão por se sentirem fortemente ligados ao país há algumas gerações, assim como muitos cazaques, sobretudo os urbanos, que se sentem próximos dos russos por terem tido uma educação soviética russa. Tudo isso gera um tecido social, agora fortemente baseado em princípios étnicos, bastante frágil, completado pelo ressurgimento da língua cazaque (e sua transformação em língua oficial), embora a língua e a educação técnica russas predominem nos negócios (Dave 2007DAVE, Bhavna. 2007. Kazakhstan: Ethnicity, language and power. Londres /Nova York: Routledge . ; Fedorenko 2012FEDORENKO, Vladimir. 2012. Central Asia: From ethnic to civic nationalism. Washington: Rethink Institute.).
O país embarca num programa de “cazaquização” que inclui a promoção: dos cazaques étnicos na burocracia estatal e a limitação da participação de russos em cargos públicos; do monitoramento rigoroso da oposição russa e o rígido controle sobre a imprensa russa; da relegação da língua russa ao segundo plano; da migração de cazaques pelo território do país, sobretudo para áreas de maioria russa, ao norte; e da imigração de cazaques que viviam no exterior, com incentivos financeiros e promessa de empregos para a sua instalação no país etc. Essa política já tem como consequência um forte aumento da proporção da população cazaque étnica (em razão de sua taxa de natalidade superior à russa), o incremento do uso da língua cazaque em detrimento do russo e um melhor controle da região de maioria russa, sobretudo após a construção da capital do país, Astana, nessa área (Kulsariyeva, Zhanerke & Madina 2015KULSARIYEVA, Antolkyn; ZHANERKE, Shaigozova & MADINA, Sultanova. 2015. “One Nation-Different Fates: Kazakhstan in pursuit of cultural identity”. The Asian Conference on Cultural Studies 2015 - Official Conference Proceedings. The International Academic Forum: https://iafor.org/
https://iafor.org/...
).
A elaboração da nacionalidade no Cazaquistão independente7 7 Há uma vastíssima bibliografia sobre nation-building (construção de nação), state-building (construção de Estado) e national-identity-building (construção de identidade nacional) no Cazaquistão, principalmente em língua inglesa, produzida por intelectuais cazaques, russos, turcos, irlandeses e norte-americanos, dentre os quais se destacam: Aitymbetov (2015), Akiner (1995), Ametbek (2017), Assyltayeva, Aldubasheva, Tolen, Assyltayeva & Alimzhanova (2012), Burkhanov (2017), Cummings (2006), Dave (2004; 2007), Esenova (2002), Fedorenko (2012), Galiev, Baisultanova, Yesserkepova, Dautbekova e Isayeva (2017), Kesici (2011), Kulsariyeva, Zhanerke e Madina (2015), Masanov, Karin e Oka (2002), Matuszkiewczi (2013), Melich e Adibayeva (2013), Ó Beacháin e Kevlihan (2011), Olcott (2010), Sersembayev (1999), Surucu (2002), Svanberg (1999), Schatz (2000) e Tauyekel, Zinakul, Gulzada, Kalambas e Begdauletova (2016), para citar somente alguns. se dá meticulosamente, partindo das forças políticas instaladas nos centros de poder, principalmente do próprio presidente Nazarbayev.8 8 O fato de essa construção ter sido meticulosamente calculada no Cazaquistão mostra o quão particular foi o processo por lá, bem diferente do processo de construção da nacionalidade brasileira. Para detalhes sobre a construção da nacionalidade brasileira, baseada, em nossa opinião, no apagamento das tensões étnico-raciais na origem da formação do país e na invenção de uma nacionalidade civil ou cívica unitária marcada por fortes contradições, ver Ramos (1993), Schwarcz (1993), Velho (2003) e Wanderley (2008). O dilema da nacionalidade passa pela opção entre uma nação étnica cazaque (“kazakh”) e uma nação cívica e/ou civil cazaquistana (“kazakhstani”), seguindo a distinção proposta por Smith (1991SMITH, Anthony D. 1991. National Identity. Londres: Penguin Books. ) entre civic-nation e ethno-nation... ou pela dosagem das duas, como preferiu o presidente Nazarbayev.
Entre os séculos XVIII e XIX, principalmente com as transformações acarretadas pelas Revoluções Francesa e Inglesa, o Estado-nação se tornou a unidade política que se difundiu com mais vigor pelo planeta, esteado na expansão do capitalismo (Smith 1991SMITH, Anthony D. 1991. National Identity. Londres: Penguin Books. ; Hobsbawn 1992HOBSBAWN, Eric. 1992. Nations and Nationalism Since 1870. Cambridge: Cambridge university Press . ). No Cazaquistão, esse modelo se associa ao modelo étnico de nação que enfatiza o pertencimento a uma comunidade histórica de origem e a uma “cultura nativa” - vinculada a uma forma de determinismo biológico ou genealógico. Nesse contexto, seguindo a proposta de Barth (2000BARTH, Fredrik. 2000. “Os Grupos Étnicos e suas Fronteiras”. In: BARTH, Fredrik, O Guru, O Iniciador e Outras Variações Antropológicas. Rio de Janeiro: Contra Capa. pp. 25-68. ), os cazaques, “povo étnico nativo”, sob o comando de um líder etnicamente identificado, Nazarbayev, promovem o contraste com um outro grupo, os não cazaques (sobretudo, eslavos), para serem tratados especificamente como cazaques, e não mais como “soviéticos”, criando e mantendo as fronteiras das diferenças. Seguindo a lógica de Wimmer (2008WIMMER, Andreas. 2008. “The Making and Unmaking of Ethnic Boundaries. A Multilevel Process Theory”. American Journal of Sociology, 113 (4):970-1022. ), com a independência, poderia ter havido uma tentativa de homogeneização da população no sentido de fazer com que os cazaques étnicos fossem aceitos como grupo dominante e os não cazaques, incluídos no novo grupo étnico dominante (à força), por expansão das fronteiras; ou, ao contrário, por contração das fronteiras, os cazaques étnicos poderiam ter excluído totalmente os não cazaques, declarando-os minorias nacionais (Kesici 2011KESICI, Özgecan. 2011. “The Dilemma in the Nation-Building Process: The Kazakh or Kazakhstani Nation?”. Journal on Ethnopolitics and Minority Issues in Europe, 10 (1):31-58. ), ambos os processos comuns na Ásia Central.
Segundo Smith (1991SMITH, Anthony D. 1991. National Identity. Londres: Penguin Books. ), no caso da criação de um “Estado-nação” ou civic-nation, busca-se expulsar os governantes estrangeiros através de um movimento anticolonial e, em seguida, reunir e integrar em uma nova comunidade política populações de origem étnicas díspares e criar um “território nacional” baseado em “nacionalismos de integração”; já no caso da criação de uma “etno-nação”, busca-se a secessão de uma unidade política maior e o estabelecimento de uma nova “etno-nação” e, em seguida, a expansão com a inclusão de parentes étnicos fora dos limites atuais da “etno-nação”, baseando-se em “nacionalismos irredentistas”. No Cazaquistão, parece ter-se dado de outra maneira, através do artifício da ambiguidade: por um lado, pela implantação de uma política de restauração da tradição cazaque / qazaqtyq - que estabeleceria um processo de etnicidade (Barth 2000BARTH, Fredrik. 2000. “Os Grupos Étnicos e suas Fronteiras”. In: BARTH, Fredrik, O Guru, O Iniciador e Outras Variações Antropológicas. Rio de Janeiro: Contra Capa. pp. 25-68. ) e de nacionalização étnica (Brubaker 1996BRUBAKER, Rogers. 1996. Nationanalism Reframed: nationhood and the national question in the New Europe. Cambridge: Cambridge university Press., 2011BRUBAKER, Rogers. 2011. “Nationalizing States Revisited: Projects and processes of nationalization in Post-Soviet States”. Ethnic and Racial Studies, 34 (1):1785-1814.); por outro lado, pela invenção de uma tradição (Hobsbawn 1984HOBSBAWN, Eric. 1984. “Introdução: A Invenção das Tradições”. In: Eric Hobsbawn & Terence Ranger (orgs.), A Invenção das Tradições. Rio de Janeiro: Paz e Terra. pp. 9-23. ) e a instauração de uma comunidade imaginada (Anderson 2008ANDERSON, Benedict. 2008. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia das Letras. ), a identidade cazaquistana / казахстанское (em russo) ou “kazakstandyktar” (em cazaque) que engloba não só os cazaques étnicos, mas também todos os não cazaques, num processo controverso e aparentemente contraditório conhecido como “cazaquização”, cujas características são instigadoras de infindáveis debates (Aitymbetov, Toktarov & Ormakhanova 2015AITYMBETOV, Nurken; TOKTAROV, Ermek & ORMAKHOVA, Yenlik. 2015. “Nation-Building in Kazakhstan: Kazakh and Kazakhstani Identities Controversy”. Bilig, 74 (74):1-20. ; Burkhanov 2017BURKHANOV, Aziz. 2017. “Kazakhstan’s National Identity-Building Policy: Soviet legacy, state efforts, and societal reactions”. Cornell International Law Journal, 50 (1):1-14.; Dave 2004DAVE, Bhavna. 2004. “Entitlement Through Numbers: Nationality and language categories in the first post-soviet census in Kazakhstan”. Nations & Nationalism, 10 (4):439-459. , 2007; Smith, Law, Wilson, Bohr & Allworth 1998).
O que foi exposto até aqui demonstra o caráter ambíguo da política nacional desde a independência, como sugerem Ó Bacháin e Kevlihan (2011), ambiguidade que vem paradoxalmente servindo para evitar que o Cazaquistão seja assolado por guerras civis, como as que se alastraram por praticamente todas as ex-Repúblicas Soviéticas no período pós-independência. A valorização da tradição cazaque atenua as tensões internas (inclusive, entre as três hordas formadoras do povo cazaque), enquanto a invenção da identidade cazaquistana previne as possíveis tensões entre cazaques étnicos e não cazaques e ajuda a manter ou a criar boas relações com os vizinhos maiores, como a Rússia, a China e a Índia, e com a Europa e com os Estados Unidos (Ametbek 2017AMETBEK, Din M. 2017. “Nazarbayev’s Remedy to the National Identity Crisis of Kazakhstan”. Mayis, 1 (1):60-86.; Cummings 2006CUMMINGS, Sally N. 2006. “Legitimation and Identification in Kazakhstan”. Nationalism & Ethnic Policy, 12 (2):177-204. ; Kulsariyeva, Zhanerke & Madina 2015KULSARIYEVA, Antolkyn; ZHANERKE, Shaigozova & MADINA, Sultanova. 2015. “One Nation-Different Fates: Kazakhstan in pursuit of cultural identity”. The Asian Conference on Cultural Studies 2015 - Official Conference Proceedings. The International Academic Forum: https://iafor.org/
https://iafor.org/...
; Schatz 2000SCHATZ, Edward A. D. 2000. “Framing Strategies and Non-Conflict in Multi-Ethnic Kazakhstan”. Nationalism and Ethnic Politics, 6 (2):71-94. ).
O processo de “cazaquização” se dá principalmente nos âmbitos demográfico, linguístico, jurídico (ou étnico-jurídico) e simbólico/cultural (Aitymbetov, Toktarov & Ormakhanova 2015AITYMBETOV, Nurken; TOKTAROV, Ermek & ORMAKHOVA, Yenlik. 2015. “Nation-Building in Kazakhstan: Kazakh and Kazakhstani Identities Controversy”. Bilig, 74 (74):1-20. ; Burkhanov 2017BURKHANOV, Aziz. 2017. “Kazakhstan’s National Identity-Building Policy: Soviet legacy, state efforts, and societal reactions”. Cornell International Law Journal, 50 (1):1-14.; Dave 2004DAVE, Bhavna. 2004. “Entitlement Through Numbers: Nationality and language categories in the first post-soviet census in Kazakhstan”. Nations & Nationalism, 10 (4):439-459. , 2007). No momento da independência, o Cazaquistão era habitado por pouco mais de 16 milhões de pessoas, das quais 44% de origem eslava (37,8% de russos), 45% de origem túrquica (39,7% de cazaques) e 10% alemães, coreanos, armênios, curdos, gregos etc. - as pessoas de origem europeia viviam em centros industriais e urbanos, sobretudo no norte do país, enquanto os cazaques eram em grande parte camponeses e viviam em áreas rurais (Saparbekova, Kocourková & Kučera 2015SAPARBEKOVA, Ainur; KOCOURKOVÁ, Jirina & KUČERA, Tomáš. 2015. “Sweeping Ethno-Demographic Changes in Kazakhstan During the 20th Century: A dramatic story of mass migration waves - Part II: International migration in Kazakhstan since 1991”. AUC Geographica, 50 (1):75-90. ). Assim, os líderes fundadores do Cazaquistão sabiam da dificuldade a ser enfrentada para se produzir uma identidade nacional com base na etnicidade ou na cultura cazaque.
Para Ametbek (2017AMETBEK, Din M. 2017. “Nazarbayev’s Remedy to the National Identity Crisis of Kazakhstan”. Mayis, 1 (1):60-86.), como a maior parte da elite cazaque tinha internalizado a cultura dominante soviética do passado, acabou aplicando uma política de continuidade estrutural com o modelo anterior, substituindo o “soviético” - em detrimento da diversidade étnica - pelo “cazaque” - em detrimento da identidade eslava - evitando, assim, maiores conflitos (Luong 2002LUONG, Pauline J. 2002. Institutional Change and Political Continuity in Post-Soviet Central Asia: Power, perceptions and pacts. Cambridge: Cambridge university Press . ; Burkhanov 2017BURKHANOV, Aziz. 2017. “Kazakhstan’s National Identity-Building Policy: Soviet legacy, state efforts, and societal reactions”. Cornell International Law Journal, 50 (1):1-14.). Em 1999, os cazaques já representavam 53,4% da população, enquanto os russos, 30,0%; em 2009, quando do último recenseamento geral, a proporção dos cazaques já era de 63,1%, enquanto a de russos, de 23%; a variação fortíssima se deve, em grande parte, aos processos migratórios e, em menor grau, às diferenças de taxas de natalidade e de fertilidade entre cazaques e não cazaques (Saparbekova, Kocourková & Kučera 2015SAPARBEKOVA, Ainur; KOCOURKOVÁ, Jirina & KUČERA, Tomáš. 2015. “Sweeping Ethno-Demographic Changes in Kazakhstan During the 20th Century: A dramatic story of mass migration waves - Part II: International migration in Kazakhstan since 1991”. AUC Geographica, 50 (1):75-90. ).
Ametbek (2107) mostra que o dilema da criação do Estado nacional está presente explicitamente na Declaração de Estado Soberano da República Socialista Soviética Cazaque, de 1990 (documento preparatório para a independência), na Lei Constitucional da República do Cazaquistão, de 1991 (data da independência), e nas duas Constituições, promulgadas em 1993 e 1995, respectivamente. O preâmbulo do primeiro documento deixa claro que é preciso criar condições iguais de vida para todos os cidadãos da República que compõem o povo do Cazaquistão, englobando, em ambos os casos, os não cazaques. Os nacionalistas cazaques, partindo do pressuposto de que o Cazaquistão é a “terra dos cazaques”9 9 Em língua túrquica, o sufixo “-istão” designa a terra de origem. Sendo assim, o Cazaquistão é a terra do povo cazaque, assim como o Uzbequistão é a terra do povo uzbeque. Curiosamente, durante o regime soviético, o Cazaquistão foi a única república a manter o sufixo, enquanto as outras repúblicas formadas por povos de origem túrquica ganharam nomes sem o sufixo, como a Uzbéquia. Com a independência, as repúblicas imediatamente se renomearam, inserindo o sufixo para reforçar a ideia de que se tratava do território e do Estado nacional de um povo e uma nação específicos (sempre por oposição aos russos colonizadores), como Uzbequistão. No Cazaquistão, o movimento foi inverso: houve uma tentativa de renomear o país sem o sufixo, com o intuito de torná-lo mais “inclusivo”, já que a população não cazaque era muito expressiva; no entanto, esse movimento não obteve êxito (Aitymbetov, Toktarov & Ormakhanova 2015). e que esse povo não tem outra terra senão essa, reivindica uma postura mais radical que considera a República como cazaque, e não do Cazaquistão, como aconteceu durante a discussão prévia à Constituição de 1995.
Em 1996, Nazarbayev afirma, em um livro de sua autoria citado por Ametbek (2107), que se está construindo um Estado multiétnico e que o presidente é responsável por todo o povo do Cazaquistão e pelas nacionalidades e grupos étnicos que o compõem. Define dois níveis em relação à identidade nacional do Cazaquistão: o primeiro relacionado à formação dos povos do Cazaquistão enquanto comunidade cívica/civil (territorial, no sentido de Smith, 1991SMITH, Anthony D. 1991. National Identity. Londres: Penguin Books. ) unida por valores políticos; o segundo relacionado à identidade nacional dos cazaques, frisando a importância do território como marcador da gênese étnica e da existência histórica dos cazaques. Essa dualidade, segundo Cummings (2006CUMMINGS, Sally N. 2006. “Legitimation and Identification in Kazakhstan”. Nationalism & Ethnic Policy, 12 (2):177-204. ), define o processo político de legitimação simultânea do internacionalismo e do nacionalismo étnico, embora, para o presidente, não haja de fato essa dualidade.
O preâmbulo à Constituição de 1995 parece dar ênfase à nação étnica cazaque, ao afirmar: “Nós, o povo do Cazaquistão, unidos por um destino histórico comum, criando um Estado na terra nativa cazaque, considerando-nos uma sociedade civil amante da paz, dedicada aos ideais da liberdade, da igualdade e da concórdia [...]”.10 10 No original: “We, the people of Kazakhstan, united by a common historic fate, creating a state on the indigenous Kazakh land, considering ourselves a peace-loving and civil society, dedicated to the ideals of freedom, equality and concord […]”. A Constituição de 1995 pode ser consultada on-line em http://www.constitution.kz/english/ e foi acessada entre os dias 30/04 e 05/05/2018. A versão encontra-se disponível em cazaque, russo e inglês. Ao mesmo tempo em que o preâmbulo cita o “povo do Cazaquistão”, incluindo cazaques étnicos e não cazaques, acrescenta, em relação à Constituição anterior (que tem um tom mais civil/cívico), um conceito de territorialidade etnicamente embasado, ao enunciar a “terra nativa cazaque” (dando um tom mais próximo à noção de etno-nação). Em 1996, no documento intitulado Sobre a Concepção da Formação da Identidade do Estado da República do Cazaquistão, Nazarbayev argumenta que cada Estado emerge com base numa comunidade étnica e que cada grupo étnico precisa de seu próprio Estado para a sua reprodução material e espiritual (Kesici 2011KESICI, Özgecan. 2011. “The Dilemma in the Nation-Building Process: The Kazakh or Kazakhstani Nation?”. Journal on Ethnopolitics and Minority Issues in Europe, 10 (1):31-58. ), reforçando o tom da Constituição.
Um outro documento é editado nesse momento, intitulado Conceito para o Estabelecimento de uma Consciência Histórica da República do Cazaquistão, no qual se advoga que os cazaques étnicos são os indígenas do território cazaque compreendido pelas fronteiras do Cazaquistão e que o Estado dos cazaques é a continuação dos impérios nômades e dos canatos que existiram no território do Cazaquistão desde a Antiguidade, incluindo-se aí uma genealogia que remonta à origem do povo cazaque, para além do século XV, até os citas e as tribos da Idade do Bronze (Diener 2002DIENER, Alexander C. 2002. “National Territory and the Reconstruction of History in Kazakhstan”. Eurasian Geography and Economics, 43 (8):632-650.; Smith, Law, Wilson, Bohr & Allworth 1998SMITH, Graham; LAW, Vivien; WILSON, Andrew; BOHR, Annette & ALLWORTH, Edward. 1998. Nation-Building in the Post-Soviet Borderlands: The politics of national identities. Cambridge: Cambridge university Press . ). Como veremos mais adiante, a arqueologia e a antropologia são responsáveis por essa continuidade histórica. É aqui que parece entrar em cena, novamente, o “Homem Dourado”. Assim, as minorias nacionais estão excluídas da história das origens do Estado cazaque, mas são mantidas dentro das fronteiras do Estado nacional civil/cívico do Cazaquistão, segundo Kesici (2011KESICI, Özgecan. 2011. “The Dilemma in the Nation-Building Process: The Kazakh or Kazakhstani Nation?”. Journal on Ethnopolitics and Minority Issues in Europe, 10 (1):31-58. ).
Em 1995, Nazarbayev cria a Assembleia do Povo do Cazaquistão. Trata-se de uma organização não governamental encabeçada pelo próprio presidente, que se torna, ao longo dos anos, um órgão consultivo com a função de estabelecer estratégias para lidar com a questão da identidade nacional e para promover relações cordiais entre os diversos povos que se encontram no território do Cazaquistão, baseada no princípio da igualdade, segundo Dave (2007DAVE, Bhavna. 2007. Kazakhstan: Ethnicity, language and power. Londres /Nova York: Routledge . ). Em 2007, através de uma emenda constitucional, o presidente “oficializa” a entidade e estipula que nove membros do equivalente local à Câmara dos Deputados devem ser escolhidos dentre os membros da Assembleia, demonstrando a importância que dá à implementação meticulosa de uma identidade nacional ora civil/cívica, ora étnica - sempre ambígua (Ó Beacháin & Kevlihan 2011Ó BEACHÁIN, Donnacha & KEVLIHAN, Rob. 2011. “State-Building, Identity and Nationalism in Kazakhstan: Some preliminar thoughts”. Working Papers in International Studies, 1: s/p.;Wheeler 2017WHEELER, Louise. 2017. A Linguistic Ethnographic Perspective on Kazakhstan’s Trinity of Languages. Tese de Doutorado em Filosofia, School of Education, University of Birmingham. ).
Um dos mais emblemáticos documentos oficiais relativos ao processo de nation-building cazaque data de 2010. Trata-se da Doutrina da União Nacional do Cazaquistão, produzida pelas autoridades governamentais e pela sociedade civil organizada através da Assembleia do Povo do Cazaquistão (mais de 800 associações étnicas e culturais), bem analisada por Ametbek (2017AMETBEK, Din M. 2017. “Nazarbayev’s Remedy to the National Identity Crisis of Kazakhstan”. Mayis, 1 (1):60-86.:76), que diz que “[a] principal ênfase da doutrina residia na criação de uma nação cazaquistana, tendo como referência os Estados Unidos e o Brasil, onde todos os grupos étnicos viviam sob uma identidade unificada, mas essa doutrina desagradou aos nacionalistas cazaques”.11 11 No original: “[w]hile the main emphasis of the doctrine was on the creation of the Kazakhstani nation, as reference were given USA and Brazil, where all ethnic groups live under one uniting identity, this doctrine disappointed Kazakh nationalists”. Para Nazarbayev e parte da intelligentsia política cazaque, nos Estados Unidos e no Brasil, a diversidade étnica estaria harmoniosamente subsumida na identidade nacional - o que é uma falácia (Ramos, 1993RAMOS, Alcida R. 1993. “Nações dentro da Nação: Um desencontro de ideologias”. Série Antropologia, 147. Brasília: UnB. ).
A Doutrina está baseada em todos os documentos oficiais citados acima e se compõe de quatro partes, intituladas “Provisões Gerais”, “Um País, Um Destino”, “Diferentes Origens, Oportunidades Iguais” e “Desenvolvimento do Espírito Nacional”, além das conclusões.12 12 A Doutrina pode ser consultada em inglês no link a seguir, em sua versão atual (modificada em relação à original): http://assembly.kz/en/national-unity-doctrine Para se ter alguma noção da maneira como a Doutrina foi discutida no país, ver: http://www.inform.kz/en/search?sword=national+unity+doctrine&x=0&y=0 e também: https://astanatimes.com/2013/05/the-importance-of-national-unity-citizenship-in-kazakhstan/ Segundo Ametbek (2017AMETBEK, Din M. 2017. “Nazarbayev’s Remedy to the National Identity Crisis of Kazakhstan”. Mayis, 1 (1):60-86.), a Doutrina é construída sobre a ideia da unidade nacional, cujo princípio diz respeito ao reconhecimento do destino comum de todos os cidadãos e da terra-mãe (motherland), o que faz do Cazaquistão não um país com uma identidade multiétnica ou multirreligiosa, mas com uma identidade nacional. Nesse país, todos os cidadãos são iguais, apesar de suas origens étnicas ou pertencimentos religiosos, o que, por exemplo, justificaria a lei que proíbe a formação de organizações políticas e partidos baseados em princípios étnicos ou religiosos (Ó Beachain & Kevlihan 2011).13 13 Até aqui, não demos destaque para a religiosidade como elemento constituinte da identidade nacional porque, no Cazaquistão, contrariamente ao que aconteceu em países vizinhos, como Uzbequistão, Tadjiquistão ou Turcomenistão, tem havido uma certa resistência, por parte do poder central, em valorizar a religiosidade, em particular o islamismo (religião das elites cazaques) e o cristianismo (religião do colonizador russo). Segundo Ó Beacháin & Kevlihan (2011:11): “A introdução tardia do Islã aos cazaques e 70 anos de comunismo tornaram os cazaques suspeitosos em relação ao fervor religioso” (no original: “The late introduction of Islam to Kazakhs and 70 years of communism have made the Kazakhs suspicious of religious fervor”). Segundo Akiner (1995), até o século XIX, a fé islâmica era popular entre povos sedentarizados dos oásis, enquanto os grupos nômades (cazaques e quirguizes, por exemplo) devotavam Tengri. No entanto, tem sido uma preocupação constante de Nazarbayev o controle da nova expansão do islamismo e, principalmente, de suas formas fundamentalistas, já que a oposição ao seu governo tem vindo sobretudo de líderes islâmicos - e, em menor grau, de monadistas que reivindicam a volta do culto a Tengri. Ver, sobre o islamismo no Cazaquistão e na região, Galina (2014), Olcott (2007) e Rashid (1994). Enfim, segundo a Doutrina, o que une de fato a nação é a base espiritual (e cultural) sobre a qual deve se assentar, ou seja, o espírito das “tradições”, do “patriotismo”, da “renovação”, da “competitividade” e da “vitória”, sendo uma das prioridades o desenvolvimento da língua oficial14 14 A língua é um dos grandes campos de disputa da construção da nacionalidade no Cazaquistão e do processo de “cazaquização”, como se pode ver em Aitymbetov, Toktarov e Ormakhanova (2015), Akanova (2017), Kennedy (2015), Ó Bacháin e Kevlihan (2011) e Wheeler (2017), dentre outros. (Ametbek 2017; Laruelle 2008LARUELLE, Marlène. 2008. “Neo-Eurasianism in Kazakhstan and Turkey”. In: LARUELLE, Marlène, Russian Eurasianism: An ideology of Empire. Washington / Baltimore: Woodrow Wilson Center Press / The John Hopkins University Press. pp. 171-201. , 2016LARUELLE, Marlène (org.). 2016. Kazakhstan in the Making: Legitimacy, symbols, and social changes. Londres: Lexington Books. ; Tutumlu 2016TUTUMLU, Assel. 2016. “The Rule by Law: Negotiating stability in Kazakhstan”. In: Marlène Laruelle (org.), Kazakhstan in the Making: Legitimacy, symbols, and social changes. Londres: Lexington Books . pp. 3-28. ).
Um dos discursos mais recentes proferidos por Nazarbayev, amplamente divulgado on-line, é intitulado Curso para o Futuro: Modernização da Identidade do Cazaquistão, de abril de 2017.15 15 O documento pode ser encontrado em http://www.akorda.kz/en/events/akorda_news/press_ conferences/course-towards-the-future-modernization-of-kazakhstans-identity O presidente reforça a necessidade de se reforçar a identidade nacional para o século XXI, baseando-se nos princípios ou nas noções de “competitividade”, “pragmatismo”, “preservação identitária”, “culto ao conhecimento”, “desenvolvimento evolucionário, e não revolucionário” (aqui, o presidente usa de um artifício retórico remetendo aos 100 anos da Revolução russa de 1917) e “abertura de espírito”. O tom do documento é, em alguns trechos, bastante severo, sobretudo quando acusa o regime soviético de ter sido responsável pela destituição da soberania cazaque, causado danos demográficos e ambientais irreparáveis e, sobretudo, por quase terem feito desaparecer a língua e a cultura cazaques.
Na segunda parte do documento, o presidente propõe uma agenda de projetos para os próximos anos, começando pela mudança do alfabeto da língua cazaque do cirílico para o latino até 2025; passando por um projeto para a valorização da “terra natal” para aguçar o patriotismo; e chegando ao incentivo à “competitividade das culturas” para implementar o projeto “Cultura Cazaque Moderna no Mundo Globalizado” e promoção da cultura cazaque. Percebe-se, mais uma vez, a tentativa de avigorar, através de políticas públicas, a identidade originária cazaque, pensando-a de forma global e associada às formas identitárias não cazaques. Tenta-se atender ainda às reivindicações de islamistas, assim como de nomadistas, sem deixar de ter como foco a modernização. Novamente, segundo Cummings (2006CUMMINGS, Sally N. 2006. “Legitimation and Identification in Kazakhstan”. Nationalism & Ethnic Policy, 12 (2):177-204. ), legitima-se simultaneamente o internacionalismo e o nacionalismo étnico, embora, para o presidente, continue não havendo discursivamente essa dualidade.
O Golden Man, a “cazaquização” e a política
De grande importância para a manutenção de um Estado nacional é a elaboração dos seus símbolos integradores - oficiais, cívicos ou informais/populares - tais como bandeiras, hinos e armas nacionais, mas também monumentos, estátuas, museus ou galerias e centros culturais, toponímia e nomeação, produção artística em geral, classificações e taxonomias populares etc. A cor da bandeira nacional do Cazaquistão,16 16 Ver em http://www.akorda.kz/en/state_symbols/kazakhstan_flag azul-turquesa, remete ao canato cazaque turco-mongol dos séculos XV a XIX, enquanto a águia representa o modo de vida nômade dos cazaques nas estepes. Contrariamente ao que acontece nas bandeiras de países vizinhos, esta não contém símbolos religiosos (ver, a este respeito, a nota de rodapé de número 13). As armas nacionais trazem um totem de inspiração cita (a mesma origem do “Homem Dourado”), de forma circular, contendo em seu centro a imagem da shanyrak, a estrutura em arco das tendas tradicionais (yurts) usadas pelos nômades originários (e ainda muito utilizada nos dias de hoje). O emblema, também de cores azul-turquesa e amarela, contém ainda dois tulpars, cavalos alados míticos, e uma estrela de cinco pontas.17 17 Ver em http://www.akorda.kz/en/state_symbols/kazakhstan_emblem O hino atual data de 2006 e substitui o primeiro hino, de 1992: o primeiro fazia referência à “língua materna” e era mais marcadamente étnico cazaque, ao passo que o atual (revisado pelo próprio Nazarbayev), inclui todos os grupos étnicos que aceitam o Cazaquistão como sua terra natal18 18 Pode-se ler a letra e ouvir a música do hino em http://www.akorda.kz/en/state_symbols/ kazakhstan_anthem (Aydingün 2008AYDINGÜN, Aysegül. 2008. “State Symbols and National Identity Construction in Kazakhstan”. In: Ildikó Bellér-Hann (org.), The Past as a Resource in the Turkics Speaking World. Würzburg: Ergon-Verl.).
Para Kesici (2011KESICI, Özgecan. 2011. “The Dilemma in the Nation-Building Process: The Kazakh or Kazakhstani Nation?”. Journal on Ethnopolitics and Minority Issues in Europe, 10 (1):31-58. :47), “[a] fundação simbólica dos países pós-imperialistas está muito bem ligada à apresentação ritual de seus novos símbolos do Estado. Os símbolos do Estado no Cazaquistão são representativos da base etnopolítica cazaque do Estado”19 19 No original: “The symbolic foundation of post-imperialist countries is very much linked to the ritual presentation of its new state symbols. The state symbols in Kazakhstan are representative of the Kazakh ethnopolitical basis of the state”. Além dos símbolos oficiais novos, cuidadosamente elaborados com a finalidade de criar a unidade e o patriotismo, cidades, aldeias e lugarejos foram renomeados, assim como vias púbicas, praças e parques, para dar visibilidade aos ideais etnonacionais e cívico-nacionais - tais como uma das principais vias de Almaty, que deixou de se chamar Avenida Lênin passando para Avenida Dostyk ou “Amizade” - amizade entre cazaques e não cazaques. Nomes de heróis russos ou soviéticos cederam lugar a personagens históricos ou míticos cazaques,20 20 O próprio presidente Nazarbayev virou um desses heróis, homenageado (ou homenageando-se) em diversas estátuas (no que Ó Beacháin e Kevlihan (2011) chamam de new statue-mania) espalhadas por todo o país (e no exterior) e monumentos. o que demonstra, para Burkhanov (2017BURKHANOV, Aziz. 2017. “Kazakhstan’s National Identity-Building Policy: Soviet legacy, state efforts, and societal reactions”. Cornell International Law Journal, 50 (1):1-14.:11),
[um] tipo compensatório e “vingativo” de processo de construção de nação no Cazaquistão moderno. Esses assuntos aparentemente pequenos - tais como o uso da linguagem e a toponímia - podem certamente afetar o sentimento de pertencimento em relação ao (e vice-versa, o sentimento de estar alienado do) Estado.21 21 No original: “[a] compensatory and “vengeful”type of nation-building process in modern Kazakhstan. These seemingly small matters - such as language use and toponymous - can and certainly impact citizens’ sense of belonging to (and vice-versa, the sense of being alienated from) a state”.
Foi assim que uma estátua de Lênin, situada no centro da praça principal da então capital do país, Almaty, foi substituída por uma estátua de ninguém menos do que o “Homem Dourado”, “[…] uma figura mítica que remonta à identidade cazaque tão longe quanto o século III a.C.” (Aydingün 2008AYDINGÜN, Aysegül. 2008. “State Symbols and National Identity Construction in Kazakhstan”. In: Ildikó Bellér-Hann (org.), The Past as a Resource in the Turkics Speaking World. Würzburg: Ergon-Verl.:140),22 22 No original: “[...] a mythical figure that roots Kazakhs identity as far back as the third century B.C.”. tornando-se o novo herói nacional (Melich & Adibayeva 2013MELICH, Jiri & ADIBAYEVA, Aigul. 2013. “Nation-Building and Cultural Policy in Kazakhstan”. European Scientific Journal, 2:265-279, dez. ) ou, por que não dizer, um verdadeiro lugar de memória por si próprio (Nora 1997NORA, Pierre (org.). 1997. Les Lieux de Mémoire - Tome I. Paris: Quarto/Gallimard. ).
Ma o que é o “Homem Dourado” e como adquiriu tal importância no processo de nation-building cazaque? Se o lugar de memória, segundo Nora (1997NORA, Pierre (org.). 1997. Les Lieux de Mémoire - Tome I. Paris: Quarto/Gallimard. ), é o conjunto de referências culturais, lugares, práticas e expressões originários de um passado em comum, podendo ser concreto (como monumentos e estátuas) ou imaterial (como línguas/linguagens e práticas tradicionais), o “Homem Dourado” parece ser, por excelência, um lugar de memória a serviço da construção da nacionalidade cazaque.
O governo cazaque mantém um site de divulgação da história do país23 23 O site se chama National Digital History: http://e-history.kz/en. Logo na página principal, uma frase de Nazarbayev dá o tom da importância do site para a consolidação da sua ideia de nação: “Precisamos olhar para o passado para compreender o presente e prever [programar?] o futuro” (no original: “We need to look into the past in order to understand the present and foresee the future”). O texto de Khabdulina sobre o “Homem Dourado” encontra-se disponível em: http://e-history.kz/en/books/library/read/1272 contendo diversos textos, dentre os quais um de Khabdulina, renomado arqueólogo cazaque que trabalhou com Akishev, o arqueólogo à frente das escavações do sítio onde foi encontrado o “Homem Dourado” entre o final da década de 1960 e o início da de 1970. Em seu texto, datado de 2014, Khabdulina afirma que pouco se sabe sobre a vida do jovem guerreiro cita, mas acrescenta que:
[...] a moderna “biografia” desse achado arqueológico único é cercada por inúmeras lendas. E todos os que o tocam criam sua própria história, a história da [sua] vida, [seus] feitos e realizações. Este é o destino de todas as descobertas significativas. Gradualmente, elas adquirem sua própria história, uma nova biografia e passam a viver em diferentes dimensões - como fenômeno científico, imagem artística, fato histórico, um achado único... (Khabdulina 2014:s/pKHABDULINA, M. K. “The Golden Man” of K. A. Akishev. Texto publicado on-line em um site oficial cazaque de divulgação da história nacional: Texto publicado on-line em um site oficial cazaque de divulgação da história nacional: http://e-history.kz/en/books/library/read/1272 (acessado pela primeira vez em fev. 2018).
http://e-history.kz/en/books/library/rea... ). 24 24 No original: “[...] the modern “biography” of this unique archaeological find is surrounded by numerous legends. And everybody who touches it creates his own history, the history of life, deeds and accomplhisements. This is the fate of all significant discoveries. Gradually, they get their own history, a new biography and begin to live in different dimensions - as scientific phenomenon, as an artistic image, as a historical fact, as a unique find...”.
A partir dessas palavras, pode-se pensar que a verdadeira história do “Homem Dourado” - e até mesmo o fato de que talvez tenha sido uma “Mulher Dourada” - não interessa tanto assim, mas sim, o fato de que sua história pode ganhar uma nova biografia em diferentes dimensões, inclusive como símbolo nacional! A afirmação de Khabdulina revela ou reforça o fato de que a arqueologia (e a fortiori a antropologia) pode(m) estar estreitamente vinculada(s) aos projetos de construções e/ou legitimações identitárias, em particular àqueles relacionados às formulações de concepções de nação ou nation-building,25 25 Ver a este respeito, Hodder (2011), Liebman e Rizvi (2008), McGuire (2008) e Shanks e Tilley (1988). sobretudo nos novos países e Estados nacionais em vias de consolidação desde as décadas de 1960 na África, e 1970 e 1980 na Oceania e na ex-Cortina de Ferro, além dos países já consolidados, como nas Américas da década de 1970 em diante.
Em 1969, Kimal Akishev foi o responsável por uma equipe de escavação de resgate que trabalharia num complexo funerário real (do tipo kurgan26 26 Para mais detalhes sobre os kurgans da região e da mesma época, ver Bashilov e Yablonski (1995), Davis-Kimball, Murphy, Koryakova e Yablonsky (2000), Kohl (2002) e Koryakova & Epimakhov (2007). ) localizado a 60km de Almaty, então capital do Cazaquistão soviético, numa área a ser impactada por projetos de modernização. Depois de escavar a metade de um montículo, foram encontrados ossos separados e bastante fragmentados e objetos quebrados, inclusive de ouro e prata. Akishev percebeu que se tratava de um sítio que havia sido saqueado repetidas vezes e as escavações foram interrompidas. Em 1970, as escavações foram retomadas na parte remanescente do montículo. Para a surpresa da equipe, foram encontrados restos de madeira de um outro túmulo. Em geral, cada montículo deveria conter somente um túmulo. Lá, a 15 metros ao sul do túmulo central, foi descoberto um outro que não tinha sido saqueado por ladrões, permanecendo intacto até os dias da escavação. Khabdulina esclarece que havia dezenas de montículos na área, variando de 4 a 15 metros de altura por 30 a 90 metros de diâmetro, feitos de cascalho e pedras maiores oriundas do rio Issyk, que dá nome à região e ao sítio.
Naquele túmulo intacto estava um esqueleto bastante danificado com seus prováveis pertences alinhados junto às paredes e inúmeras plaquinhas douradas ricamente esculpidas, joias e pequenas peças ornamentais espalhadas pela roupa, todas de ouro, pelo toucado e pelos calçados (mais de 4.000 peças), além de restos de tecido daquele que foi logo designado como um guerreiro cita - embora o estado de fragmentação dos ossos não permitisse ao bioantropólogo da equipe certificar o sexo/gênero do personagem. Mais que um guerreiro, seria um príncipe em razão da riqueza dos artefatos enterrados no mesmo kurgan.
Assim, o “Homem Dourado”, um príncipe e guerreiro representativo de uma “civilização” de origem persa que se desenvolveu no território do atual Cazaquistão, com uma língua escrita própria, podia ser escolhido como um heroico ancestral do “povo cazaque”, já que têm em comum o mesmo território... além do vigor militar e da riqueza da cultura material de um povo também nômade, faltando só constituir a continuidade histórica entre os citas antigos e os cazaques atuais.
A continuidade do “Homem Dourado” com a realidade atual do Cazaquistão é representada na Praça da República de Almaty, no entorno do monumento à independência: a estátua do “Homem Dourado” encontra-se no alto da coluna monumental, sobre um leopardo alado; na base da coluna, estátuas representam uma “típica” família nômade cazaque étnica e, atrás, um muro semicircular traz incrustradas esculturas de bronze em alto-relevo representando cenas da história do Cazaquistão desde o “Homem Dourado” até os dias de... Nazarbayev, criando mais ainda o efeito de unidade temporal linear e continuidade histórica. Na mesma praça, um memorial lembra as vítimas da polícia soviética que reprimiu violentamente a primeira manifestação contra o regime. A praça continha ainda, nos tempos de Almaty como capital, o Palácio Presidencial (hoje, residência presidencial na cidade) e o Poder Legislativo (hoje, órgãos administrativos e prefeitura), além do Museu Central do Estado (antigo Museu Nacional).
A continuidade histórica parece ter uma razão de ser: um dos arqueólogos da equipe que descobriu o “Homem Dourado”, Bekmukhanbet Nurmukhanbetov, morto em 2016, desenvolveu uma teoria sobre a possibilidade de os citas terem tido uma origem mongólica ou túrquica. A teoria agradava a Nazarbayev que, com a independência, proclamou o arqueólogo como o achador oficial do “Homem Dourado” e o tornou diretor da Reserva e Museu Histórico e Arqueológico de Issyk. Nurmukhanbetov fundou a Associação Altyn Adam (“Homem Dourado”, em cazaque) para promover ideias pan-túrquicas. Recentemente, o arqueólogo esteve envolvido numa pesquisa de antropologia genética que buscava verificar a possível origem túrquico-mongólica - ou cita - de Sidarta Gautama, o Buda, o que acabaria por revelar que o budismo estaria na base da nação cazaque mais do que o islamismo, o culto a Tengri ou o ateísmo soviético.27 27 Ver em http://e-history.kz/en/publications/view/1548 e http://ukrainianweek.com/History/60165 Nota-se aqui a importância da autoridade científica do laudo arqueológico/antropológico na definição de uma história oficial, ainda que a teoria pareça pouco (ou nada) comprovada (ou comprovável).
Num site de promoção do Cazaquistão,28 28 Ver em http://kazakhworld.com/the-golden-warrior-a-kazakh-icon-of-independence-prosperity-and-heritage/ um texto explica que o “Homem Dourado” se tornou, de fato, o “ícone da independência, da prosperidade e do patrimônio” do Cazaquistão, um amuleto que transfere o poder e a riqueza dos citas que o “Homem Dourado” representa para quem quer que toque em uma de suas representações estatuárias espalhadas pelo mundo. Segundo Khabdulina, arqueólogos viram-se, a partir do festejado achado do “Homem Dourado”, diante da “necessidade” de abrir o primeiro museu de arqueologia do Cazaquistão, o que foi logo aceito pelo poder central soviético, com a ideia de valorizar os museus arqueológicos e etnológicos desde que servissem unicamente para reforçar a União. Enquanto o museu não ficava pronto, os restos do “Homem Dourado” passaram por tratamentos que permitiram reconstituir totalmente o personagem, sobretudo suas roupas e adornos, reconstituição de autoria de Altynbekov e de Akishev. O personagem foi exposto ao público inicialmente na Academia de Ciências (hoje, Academia Nacional de Ciências) até a inauguração do Museu Central do Cazaquistão, onde ficou até a sua transferência para Astana, a nova capital do país, com a abertura do Museu Nacional do Cazaquistão na década de 2010. Réplicas foram produzidas pelo próprio Akishev para serem expostas no país e no exterior.29 29 Sobre as exposições pelo mundo afora, ver em http://kazakh-tv.kz/en/view/culture/page_192307_
Visitamos, em Almaty e em Astana, em dezembro de 2017, os três locais de exposição do “Homem Dourado”. O primeiro é o Museu de Arqueologia da Academia de Ciências, inaugurado por Kunaev na década de 1970, o mesmo líder do Partido Comunista do Cazaquistão que foi substituído por Gorbachev em 1986, gerando toda a revolta popular que desencadeou a queda do regime soviético. Um estudante de história que fazia as vezes de funcionário e guia nos levou até as salas empoeiradas onde se encontravam diversos artefatos oriundos das expedições arqueológicas, principalmente de resgate, realizadas entre as décadas de 1950 e 1970 por equipes de russos, cazaques, alemães e franceses. Uma sala era considerada pelo jovem estudante como a mais importante, por isso estava fechada à chave: a sala do ouro. No meio da sala, uma réplica do “Homem Dourado” e, em volta, uma série de cópias, muito bem elaboradas, de peças encontradas no sítio, assim como uma reconstituição do túmulo contendo os cavalos do príncipe e seus ricos adornos.30 30 Ver, em anexo, na imagem 1, a réplica do “Homem Dourado”.
O Museu Central do Cazaquistão, situado na praça cívica de Almaty, a Praça da República, foi construído em formato de yurt e inaugurado em 1985 para abrigar o herói histórico do Cazaquistão. Está dividido em diversos halls: o primeiro, dedicado à paleontologia e à arqueologia, onde são apresentados inúmeros artefatos que retraçam a história, através dos achados, de um milhão de anos até o Neolítico; o segundo, destinado à etnografia, expondo indumentárias étnicas, instrumentos tradicionais e representações dos modos de vida camponeses e nômades - os objetos são apresentados de acordo com o uso (instrumentos musicais numa vitrine, ferramentas de trabalho camponesas em outra etc.), além da apresentação por grupo étnico; no meio da sala, uma reconstituição de um yurt com todo o mobiliário e tapeçaria chama a atenção; o terceiro, retrata os povos que compõem o Cazaquistão, como russos, bielo-russos, ucranianos, alemães, iguchétios, curdos, uigures etc.; aqui também é exibida uma série de fotografias e documentos do período soviético, principalmente tratando das grandes guerras mundiais; e, enfim, o quarto, destinado a apresentar o “Cazaquistão moderno”, aquele de Nazarbayev. Uma réplica do “Homem Dourado” é exposta no saguão central, mas, em razão de uma Feira de Natal, pouco se notava a estátua. Toda uma enorme sala é dedicada à história do contexto no qual o personagem viveu, lembrando-nos de que esse era o museu construído exclusivamente para abrigá-lo.
Em Astana, a atual capital do país, construída nas proximidades de uma cidade industrial, o Museu Nacional encontra-se na perspectiva do eixo monumental formado pelo Parque Presidencial e a Praça da Independência, contendo a Mesquita Hazrat, o Palácio da Independência (um centro de convenções e galeria de arte), o Palácio da Paz e Reconciliação (um prédio em formato de pirâmide construído para sediar um encontro que congregou líderes de diversas religiões do mundo) e o Palácio da Criatividade (uma Universidade de artes) - no fundo, o Palácio Presidencial, imponente. Inaugurado em meados da década de 2010, o museu está dividido em mais de dez salas em diversos andares: uma sala de exposições temporárias leva à sala do ouro, aquela que abriga majestosamente o “Homem Dourado” original e diversos outros personagens e seus ouros;31 31 Ver, em anexo, na imagem 2, o “Homem Dourado” original. uma sala de achados arqueológicos diversos, com muitas reconstituições de sítios; uma segunda sala do ouro; uma sala de etnografia (aqui também com um yurt no centro); e, claro, uma sala dedicada ao Cazaquistão independente, contendo muitas imagens e objetos pessoais do presidente; enfim, há uma sala destinada a Astana e seu planejamento de desenvolvimento urbano futuro.
O “Homem Dourado” é a grande atração do Museu de Astana, assim como suas réplicas são as grandes atrações onde quer que ele se encontre (também no Museu da Casa do Primeiro Presidente, em Astana, um museu feito para louvar Nazarbayev). No Museu Nacional, diversos funcionários ao seu redor ficam atentos para que não seja fotografado, nem aproximado em excesso, menos ainda tocado: a apreciação pública do personagem tem características de verdadeira peregrinação. Afinal, esse é o mais importante símbolo nacional cazaque, que faz a nacionalidade remontar a tempos perdidos de um passado, senão mítico, mitificado - arqueologicamente, antropologicamente e, logo, politicamente. Seria assim também se o “Homem Dourado” fosse uma “Mulher Dourada”?
De “алтын адам” (Altin Adam) a “алтын әйел” (Altin Ayel)... ou simplesmente Golden Warrior
Entre a década de 1970 e os dias de hoje, intensificando-se após a independência, pesquisas arqueológicas vêm trazendo à tona um número considerável de “Homens Dourados” ou Altin Adam, em cazaque, encontrados em diversas regiões do país.32 32 Ver, por exemplo, em https://eurasianet.org/s/kazakh-archeologists-discover-ancient-scythian-sun-lord A arqueóloga Jeannine Davis-Kimball, da Universidade da Califórnia, conta em uma entrevista33 33 Disponível em http://www.pbs.org/wnet/secrets/amazon-warrior-women-interview-dr-jeannine-davis-kimball/1473/ que, na década de 1990, quando estudava a arte iraniana, deparou-se com cenas esculpidas em paredes de palácios da dinastia Aquemênida (reinante na Pérsia entre 559 e 330 a.C.) que retratavam grupos nômades pagando tributos aos reis. Ela percebeu que a indumentária dos nômades era extremamente sofisticada, com chapéus ou toucados longos, muitas joias e feições de abundância. Interessou-se por esses nômades. Logo se deu conta de que para encontrar indícios materiais desses povos teria que ir para as estepes onde eles teriam podido viver ricamente, entre a Rússia e o Cazaquistão. Foi quando decidiu empreender a escavação de um kurgan na fronteira entre os dois países (Davis-Kimball 2002DAVIS-KIMBALL, Jeannine. 2002. Warrior Women: An archaeologist’s search for history’s hidden heroines. Nova York: Warner Books. ). No final da década de 1990, depois de se ter encontrado com membros da equipe que havia descoberto o “Homem Dourado”, ter obtido deles a confirmação de que os ossos estavam demasiado danificados para permitir a identificação do sexo/gênero e ter visitado o sítio de Issyk, a arqueóloga começou a publicar os resultados de suas pesquisas, surpreendentes:
Embora tenha sido dito que o túmulo pertencia a um homem, o toucado lembrou aqueles usados pelas noivas cazaques nas cerimônias de casamentos tradicionais. Toucados de noivado cazaques, parte de um dote passado de geração a geração, também são decorados com placas ornamentais de ouro e prata feitos a partir da fundição de moedas. Os artefatos encontrados no sítio funerário de Issyk são tão similares aos encontrados em sítios funerários de mulheres guerreiras ou sacerdotisas em Pokrovka, na parte sul das estepes próximas aos Montes Urais [...], que não se pode deixar de especular que essa pessoa seja de fato uma jovem mulher. Três brincos adornados com turquesa e contas brancas de cornalina, talvez de um colar, sugerem joias mais elaboradas do que as que geralmente são associadas aos guerreiros homens sacas34 34 No original: “Although the burial was said to be of a man, the headdress reminded the Kazakh excavators of hats worn by brides in traditional wedding ceremonies. Kazakh bridal hats, part of a dowry passed from generation to generation, are also decorated with ornamental plaques of gold and silver cast from coins. Artifacts in the Issyk burial are so similar to those that we have found in burials of women warriors and priestesses at Pokrovka in the southern Ural steppe [...] that we cannot help speculating that this person was actually a young woman. Three earrings adorned with turquoise, and carnelian and white beads, perhaps from a necklace, suggest more elaborate jewelry than is usually associated with male Saka warriors”. (Davis-Kimball 1997:40DAVIS-KIMBALL, Jeannine. 1997. “Chieftain or Warrior Priestess?” Archaeology, 50 (5):40-41. ).
Em 1993, na Sibéria, a arqueóloga Natalia Polosmak, do Instituto de Arqueologia e Etnografia da Rússia, já havia encontrado a então chamada Ice Maiden (“Donzela de Gelo”), uma sacerdotisa cita-siberiana de 2.500 anos sepultada num kurgan junto a objetos bem parecidos com os que engalanavam o túmulo do (a partir de agora, suposto) “Homem Dourado” (Polomask et al. 1994POLOMASK, Natalya et al. 1994. “Mummy Unearthed from the Pastures of Heaven”. National Geographic, 186 (4):80-103. ).35 35 Ver em http://siberiantimes.com/science/casestudy/features/iconic-2500-year-old-siberian-princess-died-from-breast-cancer-reveals-unique-mri-scan/ Em 2002, Davis-Kimball publicou um livro que teve forte impacto entre intelectuais feministas,36 36 O livro de Davis-Kimball inspira, por exemplo, o livro de Mayor (2014) sobre mulheres guerreiras pelo mundo - ou amazonas - que contém um capítulo com o emblemático título de “Amazonistan: Central Asia”, sugerindo que a Ásia Central era uma terra de amazonas, assim como Davis-Kimball já o havia suscitado. no qual tratou mais detalhadamente de suas pesquisas sobre a proeminência das mulheres (e das guerreiras) em sociedades nômades da Ásia Central (Davis-Kimball 2002DAVIS-KIMBALL, Jeannine. 2002. Warrior Women: An archaeologist’s search for history’s hidden heroines. Nova York: Warner Books. ; Davis-Kimball & Littleton 1997DAVIS-KIMBALL, Jeannine & LITTLETON, Scott C. 1997. “Warrior Women of the Eurasian Steppes”. Archaeology, 50 (1):44-48.). 37 37 Davis-Kimball esteve à frente do Center for the Study of the Eurasian Nomads da Universidade da Califórnia. O site do Center contém interessantes artigos de autoria da arqueóloga e de outros pesquisadores: http://www.csen.org
Nos últimos anos, as pesquisas realizadas em território cazaque e nas estepes da Ásia Central têm revelado mais princesas guerreiras associadas aos citas (Guliaev 2003GULIAEV, V. 2003. “Amazons in Scythia: New finds at the Middle Don, Southern Russia”. World Archaeology, 35 (1):112-125. ).38 38 Ver, sobre as “princesas” ou “guerreiras”, em https://eurasianet.org/s/kazakhstan-archeologists-unearth-princess-of-the-scythians ; https://en.tengrinews.kz/science/Reconstruction-shows-how-ancient-Scythian-Princess-255482/ ; https://en.tengrinews.kz/science/Golden-Princess-burial-oldest-of-its-kind-in-Kazakhstan-253400/ ; https://en.tengrinews.kz/science/Kazakhstan-archaeologists-discover-Saka-princess-tomb-19862/ ; http://www.ancient-origins.net/news-general/reconstruction-golden-woman-ancient-scythian-princess-kazakhstan-001987 Parece que se está diante de uma real (e necessária) revisão da própria história dos achados arqueológicos na Ásia Central. Até a década de 1990, as poucas pesquisas arqueológicas no Cazaquistão - e também, em grande parte, etnográficas, etnológicas e antropológicas - muito inspiradas ainda por técnicas e interpretações soviéticas, tinham sido realizadas unicamente ou quase por homens, para fins de uso público por homens, geralmente políticos, reproduzindo uma realidade já bem estudada: os homens de ciência elaboraram um mundo de conhecimentos a serviço dos homens (Conkey & Gero 1997CONKEY, Margaret W. & GERO, Joan. 1997. “Programme to Practice: Gender and feminism in archaeology”. Annual Reviez of Anthropology, 26:411-437.; DuCros & Smith 1993Du CROS, Hilary & SMITH, Laurajane. 1993. Women in Archaeology. A feminist critique. Camberra: Department of Prehistory, Research School of Pacific Studies, Australian National University. ; Geller & Stockett 2006GELLER, Pamela L. & STOCKETT, Miranda K. (orgs.). 2006. Feminist Anthropology: Past, present, and future. Philadelphia: University of Pennsilvania Press. ; Gontijo & Schaan 2017GONTIJO, Fabiano & SCHAAN, Denise. 2017. “Sexualidade e Teoria Queer: Apontamentos para a arqueologia e para a antropologia brasileiras”. Revista de Arqueologia, 30 (2):51-70. ; Leonardo 1991LEONARDO, Micaela di (org.). 1991. Gender at the Crossroads of Knowledge: Feminist anthropology in the postmodern era. Berkeley: University of California. ; Nelson 2004NELSON, Sarah N. 2004. Gender in Archaeology: Analyzing power and prestige. Nova York: Altamira Press. ; Rubin 2017RUBIN, Gayle. 2017. Políticas do Sexo. São Paulo: Ubu Editora. ).
No Cazaquistão, o tímido ensino universitário de arqueologia se dá em departamentos de história, juntamente com o ensino de etnologia como complemento ao de arqueologia. Duas universidades do país aparecem entre as 400 melhores do mundo no ranqueamento realizado pela QS World University Ranking.39 39 Ver em https://www.topuniversities.com Essas universidades também são consideradas as melhores do país pelo ranqueamento feito pelo governo cazaque.40 40 Ver a este respeito o site oficial de avaliação das universidades, com os critérios usados em http://egov.kz/cms/en/articles/2Fbestuniinkz30 A Al-Farabi Kazakh National University, a maior e mais antiga do país (fundada em 1934), situada em Almaty, e a L. N. Gumilyov Eurasian National University, situada em Astana, apresentam programas de pesquisa e ensino de graduação e pós-graduação em arqueologia e etnologia bastante voltados para o engrandecimento das pesquisas sobre a identidade nacional.
No site do curso de arqueologia e etnologia de uma outra das mais bem ranqueadas universidades do país, Akhmet Yassawi University, lê-se, dentre os objetivos gerais do curso, a “[e]ducação no espírito do patriotismo da constituição do país, suas tradições, literatura, cultura e valores dos povos de língua túrquica [...]”.41 41 No original: “[e]ducation in the spirit of patriotism of the constitution of the country, traditions, literature, culture and values of Turkic-speaking people [...]”, em http://ayu.edu.kz/en/faculties/faculty-of-humanities/history-kaf/5b020800-arhelogy-etnology. Acesso em 08/05/2018. Reforça-se o argumento de que a autoridade científica da arqueologia/antropologia no país deve permanecer fiel aos interesses da história oficial, ainda mais em se tratando de um país em que o governo central influencia diretamente as diretrizes do ensino, como se percebe pela quantidade de documentos oficiais editados com esta finalidade ou até mesmo pelo número de mensagens do presidente, citações de frases suas ou fotos de seus feitos nos sites das universidades.
Não encontramos, nos jornais publicados em língua inglesa no Cazaquistão, matérias que apresentassem críticas bem fundamentadas à revisão proposta por Davis-Kimball ou ao fato de que o maior herói nacional, de repente, possa ter virado uma heroína; por não falarmos cazaque, nem russo, tampouco tivemos acesso à opinião pública sobre o tema.42 42 Devido ao que foi apresentado acima sobre a maneira como a identidade nacional foi constituída de modo a privilegiar a língua cazaque nos documentos oficiais e nas relações cotidianas, principalmente em pequenas cidades e no meio rural, e respeitar o uso quase que geral do russo nos meios de comunicação e no negócios urbanos, pode-se dizer que a língua inglesa se tornou uma alternativa meio que universal, incentivada pelo governo central, para a promoção de informações sobre as “coisas do Cazaquistão” não somente para fora, mas também para dentro do país. Note-se que as maiores universidades do país dispensam ensino parcialmente em inglês, de acordo com os cursos. Sendo assim, o fato de termos usado textos em inglês põe limites de pouco impacto sobre as nossas argumentações. Mas é perceptível a maneira como os textos em inglês passaram a preferir, nos últimos anos, Golden Warrior a Golden Man ou Golden Woman para designar o ou a personagem:43 43 Ver, por exemplo, Kesici (2011). warrior, em inglês, é um termo ambivalente que serve tanto para o masculino como para o feminino... assim como em cazaque a palavra equivalente a warrior, жауынгер (jawinger).
Também em cazaque, a palavra que serve para “homem” (do sexo masculino) é a mesma usada para designar uma “pessoa humana”, adam ou “адам”. Esta palavra também designa “homem” e “pessoa” em diversas línguas de origem túrquica, mas igualmente em persa, urdu e árabe. Ora, estaríamos aí, mais uma vez, diante de um novo exemplo da maneira como o país vem pensando a sua nacionalidade oficialmente, valorizando a ambiguidade, agora sob a forma da ambivalência linguística? Seria melhor, logo, deixar que o símbolo nacional por excelência continuasse a ser chamado de Altin Adam, identificando-o, assim, a uma pessoa qualquer ou a um homem - um símbolo masculino - mas nunca a uma mulher? Afinal, não se deve esquecer, como sugere Kudaibergenova (2016:225), que a identidade nacional cazaque se baseou em [...] símbolos de poder [...] representados por imagens masculinas [...]”.44 44 No original: “[...] symbols of power [...] represented by male images [...]”.
Nazarbayev vangloria, em seus textos doutrinários que citamos mais acima, as relações de gênero no Cazaquistão, mais simétricas do que nos países vizinhos da Ásia Central, nos quais o dogmatismo islâmico tem se radicalizado nos últimos anos e redefinido os papéis de gênero em detrimento das liberdades individuais das mulheres. As relações de gênero no Cazaquistão ainda em muito são pautadas pelas antigas doutrinas soviéticas voltadas para a transformação das mulheres e dos homens em trabalhadores, com pouca distinção de gênero (Edmondson 1992EDMONDSON, Linda (org.). 1992. Women and Society in Russia and the Soviet Union. Cambridge: Cambridge university Press . ; Fathi 2011FATHI, Habiba. 2011. “Female Mullahs, Healers, and Leaders of Central Asian Islam: Gendering the old and New religious roles in post-Communist societies”. In: Robert Canfield & Gabriele Rasuly-Paleczek (orgs.), Ethnicity, Authority, and Power in Central Asia: New games great and small. Londres: Routledge. pp. 174-195. ),45 45 Ver a este respeito, o Statistical Yearbook de 2013 e os dados publicados pela Unicef, disponíveis em: http://mics.unicef.org/files?job=W1siZiIsIjIwMTUvMDEvMjcvMDgvNTUvMTcvNDAzL01JQ1NfSW5mb2dyYXBoaWNzX0VuZy5wZGYiXV0&sha=f6997aecbe4f3696 embora perceba-se que a assimetria de gênero arrolada em padrões considerados como heteronormativos oriundos da sociedade rural “tradicional” tem consequências bastante nefastas, como se pode notar, por exemplo, através de uma história em quadrinhos que fez sucesso recentemente ao apresentar um herói no combate ao chamado “comportamento indecente” da mulher,46 46 Ver a este respeito as reportagens a seguir em https://eurasianet.org/s/kazakhstan-morality-mavens-monitoring-women ; https://medium.com/@UNDP/everyday-hero-defending-womens-rights-in-kazakhstan-201a191845ba e https://en.qantara.de/content/women-in-kazakhstan-progress-in-the-face-of-patriarchy-and-islam além de pesquisas realizadas sobre o assunto, denunciando as mazelas da dominação masculina47 47 A respeito das relações de gênero no Cazaquistão, assim como das formas de resistência, agência e ativismo, ver Cockerham, Hinote e Abbott (2006), Gulnar, Aiymgul e Gabit (2014), Snajdr (2005), Zellerer Vyortkin (2004) (Cleuziou & Direnberger 2016CLEUZIOU, Juliette & DIRENBERGER, Lucia. 2016. “Gender and Nation in Post-Soviet Central Asia: From national narratives to women’s practices”. Nationalities Papers, 44 (2):195-206.; Rani & Bonu 2009RANI, Manju & BONU, Sekhar. 2009. “Attitudes Toward Wife-Beating: A cross-cultural study in Asia”. Journal of Interpersonal Violence, 24 (8):1371-1397.). Oficialmente, o país talvez prefira de fato manter a ambiguidade também aqui para evitar a desestabilização da estrutura ideológica que mantém a ideia de que a nação cazaque é cazaquistana, voltada para os princípios da igualdade cidadã entre homens e mulheres; mas, ao mesmo tempo, ainda associada aos valores rurais e nômades, “tradicionais” (Megoran 1999MEGORAN, Nick. 1999. “Theorizing Gender, Ethnicity and the Nation-State in Central Asia”. Central Asia Survey, 18 (1):99-110. ; Snajdr 2007SNAJDR, Edward. 2007. “Ethnicizing the Subject: Domestic violence and the politics of primordialism in Kazakhstan”. The Journal of the Royal Anthropological Institute, 13 (3):603-620. ) - assim, reproduzir-se-ia uma espécie do que poderíamos propor em chamar aqui, por ora, de “hetero-etno-nacionalismo”... cívico!
Por mais que a “Mulher Dourada” pudesse ser pensada positivamente como uma guerreira, parece que a postura de silêncio oficial diante desta possibilidade denuncia o medo de que a aceitação de uma heroína guerreira tenha a potencialidade de fortalecer as demandas por políticas públicas por parte das mulheres e, quem sabe, de todos os sujeitos considerados ou tornados voluntariamente abjetos no Cazaquistão - aqueles que não são adam, ou seja, que não são “homens” e nem “pessoas”. A política nacional oficial cazaque parece preferir considerar mesmo o “Homem Dourado” como adam e, assim, preservar a ambiguidade - “homem” ou “pessoa”. Percebe-se nitidamente aqui a importância do papel social e político das pesquisas arqueológicas e antropológicas - e também bioantropológicas e de antropológica linguística - para apontar os arbitrários culturais sobre os quais se assentam as relações de poder instituidoras de regimes de verdade que negam, invisibilizam e silenciam algumas realidades históricas em prol de outras, em prol daquelas que serão assim içadas a símbolos nacionais, a Altin Adam.
Referências bibliográficas
- ADLE, Chahryar; HABIB, Irfan & BAIPAKOV, Karl M. (orgs.). 2003. History of Civilizations of Central Asia. Volume V: Development in Contrast - from the sixteenth to the mid-nineteenth century Paris: Unesco Publishing.
- ADLE, Chahryar; PALAT, Madhavan K. & TABYSHALIEVA, Anara (orgs.). 2005. History of Civilizations of Central Asia. Volume VI: Towards the Contemporary Period - from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century Paris: Unesco Publishing .
- AITYMBETOV, Nurken; TOKTAROV, Ermek & ORMAKHOVA, Yenlik. 2015. “Nation-Building in Kazakhstan: Kazakh and Kazakhstani Identities Controversy”. Bilig, 74 (74):1-20.
- AKANOVA, Gulnar. 2010. Language Ideologies of Kazkhstani Youth: The value of kazakh in the context of a changing linguistic marketplace Dissertação de Mestrado (Arts - Eurasian Studies), School of Humanities and Social Sciences, Nazarbayev University, Astana.
- AKINER, Shirin. 1995. The Formation of Kazakh Identity: From tribe to nation-state Londres: The Royal Institute for Foreign Affairs.
- ALLWORTH, Edward (org.). 1994. Central Asia: 130 years of Russian dominance, a historical overview Durham / Londres: Duke University Press.
- AMETBEK, Din M. 2017. “Nazarbayev’s Remedy to the National Identity Crisis of Kazakhstan”. Mayis, 1 (1):60-86.
- ANDERSON, Benedict. 2008. Comunidades Imaginadas: reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo São Paulo: Companhia das Letras.
- ASIMOV, Muhammad. S. & BOSWORTH, Clifford. E. (orgs.). 2000. History of Civilizations of Central Asia. Volume IV: The Age of Achievement - A.D. 750 to the end of the fifteenth century - Parte Two Paris: Unesco Publishing .
- ASSYLTAYEVA, Elnura; ALDUBASHEVA, Zhanar; TOLEN, Zhengisbek; ASSYLTAYEVA, Ziyakul & ALIMZHANOVA, Aliya. 2012. “Central Asia and Kazakhstan: in search of civic identity”. International Journal of Humanities and Social Sciences, 6 (8):2103-2106.
- AYDINGÜN, Aysegül. 2008. “State Symbols and National Identity Construction in Kazakhstan”. In: Ildikó Bellér-Hann (org.), The Past as a Resource in the Turkics Speaking World Würzburg: Ergon-Verl.
- BAIPAKOV, Karl. 2000. “The Silk Road across Central Asia”. In: Muhammad. S. Asimov & Clifford E. Bosworth (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume IV: The Age of Achievement - A.D. 750 to the end of the fifteenth century - Parte Two Paris: Unesco Publishing . pp. 221-226.
- BAIPAKOV, Karl & KUMEKOV, B. E. 2003. “The Kazakhs”. In: Chahryar Adle; Irfan Habib & Karl M. Baipakov (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume V: Development in Contrast - from the sixteenth to the mid-nineteenth century Paris: Unesco Publishing . pp. 89-108.
- BARTH, Fredrik. 2000. “Os Grupos Étnicos e suas Fronteiras”. In: BARTH, Fredrik, O Guru, O Iniciador e Outras Variações Antropológicas Rio de Janeiro: Contra Capa. pp. 25-68.
- BASHILOV, Vladimir A. & YABLONSKI, Leonid T. 1995. “Introduction”. In: Jannine Davis-Kimball; Vladimir A. Bashilov & Leonid T. Yablonski (orgs.), Nomads of the Eurasian Steppes in the Early Iron Age Berkely: Zinat Press. pp. xi-xv.
- BECKWITH, Christopher I. 2009. Empires of the Silk Road: a history of Central Eurasia from the Bronze Age to the Present Princeton: Princeton University Press.
- BOSWORTH, Clifford E. 1998. “Introduction”. In: Muhammad S. Asimov & Clifford E. Bosworth (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume IV: The Age of Achievement - A.D. 750 to the end of the fifteenth century - Parte One Paris: Unesco Publishing . pp. 19-22.
- BRUBAKER, Rogers. 1996. Nationanalism Reframed: nationhood and the national question in the New Europe Cambridge: Cambridge university Press.
- BRUBAKER, Rogers. 2011. “Nationalizing States Revisited: Projects and processes of nationalization in Post-Soviet States”. Ethnic and Racial Studies, 34 (1):1785-1814.
- BURKHANOV, Aziz. 2017. “Kazakhstan’s National Identity-Building Policy: Soviet legacy, state efforts, and societal reactions”. Cornell International Law Journal, 50 (1):1-14.
- BUSTANOV, Alfrid K. 2014. Soviet Orientalism and the Creation of Central Asian Nations Londres / Nova York: Routledge.
- CHERNYKH, Evgeny. 2008. “The ‘Steppe Belt’ of Stockbreeding Cultures in Eurasia during the Early Metal Age”. Trabajos de Prehistoria, 65 (2):73-93.
- CLEUZIOU, Juliette & DIRENBERGER, Lucia. 2016. “Gender and Nation in Post-Soviet Central Asia: From national narratives to women’s practices”. Nationalities Papers, 44 (2):195-206.
- COCKERHAM, William C.; HINOTE, Brian P. & ABBOTT, Pamela. 2006. “Psychological Distress, Gender, and Health Lifestyles in Belarus, Kazakhstan, Russia, and Ukraine”. Social Science and Medicine, 63:2381-2394.
- COHEN, Ariel. 1996. Russian Imperialism: development and crisis Londres / Wesport: Praeger.
- CONKEY, Margaret W. & GERO, Joan. 1997. “Programme to Practice: Gender and feminism in archaeology”. Annual Reviez of Anthropology, 26:411-437.
- CUMMINGS, Sally N. 2006. “Legitimation and Identification in Kazakhstan”. Nationalism & Ethnic Policy, 12 (2):177-204.
- DADABAEV, Timur & KOMATSU, Hisao. 2017. Kazakhstan, Kyrgyzstan, and Uzbekistan: Life and politics during the Soviet Era Nova York: Palgrave Macmillian.
- DANI, A. H., MASSON, V. M. 2004. “Introduction”. In: History of Civilizations of Central Asia. Volume I: The Dawn of Civilization - earliest times to 700 B.C. Paris: Unesco Publishing . pp. 19-27.
- DAVE, Bhavna. 2004. “Entitlement Through Numbers: Nationality and language categories in the first post-soviet census in Kazakhstan”. Nations & Nationalism, 10 (4):439-459.
- DAVE, Bhavna. 2007. Kazakhstan: Ethnicity, language and power Londres /Nova York: Routledge .
- DAVIS-KIMBALL, Jeannine. 1997. “Chieftain or Warrior Priestess?” Archaeology, 50 (5):40-41.
- DAVIS-KIMBALL, Jeannine. 2002. Warrior Women: An archaeologist’s search for history’s hidden heroines Nova York: Warner Books.
- DAVIS-KIMBALL, Jeannine & LITTLETON, Scott C. 1997. “Warrior Women of the Eurasian Steppes”. Archaeology, 50 (1):44-48.
- DAVIS-KIMBALL, Jeannine; MURPHY, Eileen M.; KORYAKOVA, Ludmila & YABLONSKY, Leonid T. (orgs.). 2000. Kurgans, Ritual Sites, and Settlements Eurasian Bronze and Iron Age 890 Oxford: Archeopress.
- DIENER, Alexander C. 2002. “National Territory and the Reconstruction of History in Kazakhstan”. Eurasian Geography and Economics, 43 (8):632-650.
- Du CROS, Hilary & SMITH, Laurajane. 1993. Women in Archaeology A feminist critique Camberra: Department of Prehistory, Research School of Pacific Studies, Australian National University.
- EDMONDSON, Linda (org.). 1992. Women and Society in Russia and the Soviet Union Cambridge: Cambridge university Press .
- ESENOVA, Saulesh. 2002. “Soviet Nationality, Identity, and Ethnicity in Central Asia: Historic narratives and Kazakh ethnic identity”. Muslim Minority Affairs, 22 (1):11-38.
- FATHI, Habiba. 2011. “Female Mullahs, Healers, and Leaders of Central Asian Islam: Gendering the old and New religious roles in post-Communist societies”. In: Robert Canfield & Gabriele Rasuly-Paleczek (orgs.), Ethnicity, Authority, and Power in Central Asia: New games great and small Londres: Routledge. pp. 174-195.
- FEDORENKO, Vladimir. 2012. Central Asia: From ethnic to civic nationalism Washington: Rethink Institute.
- GALIEV, Anuar; BAISULTANOVA, Kulipa; YESSERKEPOVA, Zhunar; DAUTBEKOVA, Marzhan & ISAYEVA, Aliya. 2017. “Mythologized History and Politics in Post-Soviet Kazakhstan and Kyrgyzstan”. Codrul Cosminului, XXIII (1):237-246.
- GALINA, Yemelianova. 2014. “Islam, National Identity and Politics in Contemporary Kazakhstan”. Asia Ethnicity [on-line]: 286-301.
- GELLER, Pamela L. & STOCKETT, Miranda K. (orgs.). 2006. Feminist Anthropology: Past, present, and future Philadelphia: University of Pennsilvania Press.
- GOLDEN, Peter B. 2011. “The Age of Gunpowder and the Crush of Empires”. In: GOLDEN, Peter B., Central Asia in World History Oxford: Oxford University Press. pp. 105-121.
- GONTIJO, Fabiano & SCHAAN, Denise. 2017. “Sexualidade e Teoria Queer: Apontamentos para a arqueologia e para a antropologia brasileiras”. Revista de Arqueologia, 30 (2):51-70.
- GULIAEV, V. 2003. “Amazons in Scythia: New finds at the Middle Don, Southern Russia”. World Archaeology, 35 (1):112-125.
- GULNAR, Andirzhanova; AIYMGUL, Tleuzhanova; ELIZAVETA, Li & GABIT, Dulatov. 2014. “Political and Legal Aspects of Gender Policy in the Modern World”. European Scientific Journal, 10 (7):210-217.
- HANKS, Bryan. 2010. “Archaeology of Eurasian Steppes and Mongolia”. Annual Review of Anthropology, 39:469-485.
- HARMATTA, János (org.). 1994. History of Civilizations of Central Asia. Volume II: The Development of Sedentary and Nomadic Civilizations - 700 B.C. to A.D. 250 Paris: Unesco Publishing .
- HOBSBAWN, Eric. 1984. “Introdução: A Invenção das Tradições”. In: Eric Hobsbawn & Terence Ranger (orgs.), A Invenção das Tradições Rio de Janeiro: Paz e Terra. pp. 9-23.
- HOBSBAWN, Eric. 1992. Nations and Nationalism Since 1870 Cambridge: Cambridge university Press .
- HODDER, Ian (org.). 2011. Archaeological Theory Today Cambridge: Polity Press.
- HODGSON, Marshall G. S. 1977. The Venture of Islam. Volume 3: The Gunpowder Empires and Modern Times Chicago: The University of Chicago Press.
- KENNEDY, Megan. 2015. “‘You Should Speak Kazaksha’: Scales and Super-Diversity”. Texas Linguistic Forum, Proceedings of the 23rd Symposium about Language and Society-Austin, 58: 61-70.
- KESICI, Özgecan. 2011. “The Dilemma in the Nation-Building Process: The Kazakh or Kazakhstani Nation?”. Journal on Ethnopolitics and Minority Issues in Europe, 10 (1):31-58.
- KOHL, Philip L. 2002. “Archaeological Transformations: crossing the pastoral/agricultural bridge”. Iranica Antiqua, 37:151-190.
- KOHL, Philip L. 2007. The Making of Bronze Age Eurasia Cambridge: Cambridge university Press .
- KORYAKOVA, Ludmila & EPIMAKHOV, Andrej V. 2007. The Urals and Western Siberia in the Bronze and Iron Ages Cambridge: Cambridge Univesity Press.
- KULSARIYEVA, Antolkyn; ZHANERKE, Shaigozova & MADINA, Sultanova. 2015. “One Nation-Different Fates: Kazakhstan in pursuit of cultural identity”. The Asian Conference on Cultural Studies 2015 - Official Conference Proceedings The International Academic Forum: https://iafor.org/
» https://iafor.org/ - LAMBERG-KARLOVSKY, C. C. 2013. “The Oxus Civilization”. CuPAUAM - Cuadernos de Prehistoria y Arqueología de la Universidad Autónoma de Madrid, 39:21-63.
- LARUELLE, Marlène. 2008. “Neo-Eurasianism in Kazakhstan and Turkey”. In: LARUELLE, Marlène, Russian Eurasianism: An ideology of Empire Washington / Baltimore: Woodrow Wilson Center Press / The John Hopkins University Press. pp. 171-201.
- LARUELLE, Marlène (org.). 2016. Kazakhstan in the Making: Legitimacy, symbols, and social changes Londres: Lexington Books.
- LEBEDYNSKY, Iaroslav. 2001. Les Scythes: la civilisation nomade des steppes - VIIe-IIIe siècles av. J.-C. Paris: Errance.
- LEONARDO, Micaela di (org.). 1991. Gender at the Crossroads of Knowledge: Feminist anthropology in the postmodern era Berkeley: University of California.
- LIEBMAN, Mathew & RIZVI, Uzma Z. (orgs.). 2008. Archaeology and the Postcolonial Critique Londres: Altamira Press / Rowman & Littlefiled Publishers.
- LITVINSKY, B. A. & ZHANG, Guang-da. 1996. “Historical Introduction”. In: B.A. Litvinsky; Guang-da Zhang & R. Shabani Samghabadi (orgs.), History of Civilzations of Central Asia - Volume III: The crossroads of civilzations, A.D. 250 to 750 Paris: Unesco Publishing . pp. 19-33.
- LUONG, Pauline J. 2002. Institutional Change and Political Continuity in Post-Soviet Central Asia: Power, perceptions and pacts Cambridge: Cambridge university Press .
- MASANOV, Nurbulat; KARIN, Erlan; CHEBOTAREV, Andrei & OKA, Natsuko. 2002. “The Nationalities question in Post-Soviet Kazakhstan”. Middle East Studies Series, 51 (dossiê).
- MATUSZKIEWCZI, Renata. 2013. “How to Develop in a Sustainable Way: some problems related do social cohesion in Kazakhstan”. Economic and Environmental Studies, 13 (2):199-213.
- MAYOR, Adrienne. 2014. The Amazons: Lives & legends of warrior women across the Ancient World Princeton: Princeton University Press .
- McGUIRE, Randall H. 2008. Archaeology as Political Action Berkeley: University of California Press.
- MEGORAN, Nick. 1999. “Theorizing Gender, Ethnicity and the Nation-State in Central Asia”. Central Asia Survey, 18 (1):99-110.
- MELICH, Jiri & ADIBAYEVA, Aigul. 2013. “Nation-Building and Cultural Policy in Kazakhstan”. European Scientific Journal, 2:265-279, dez.
- NELSON, Sarah N. 2004. Gender in Archaeology: Analyzing power and prestige Nova York: Altamira Press.
- NORA, Pierre (org.). 1997. Les Lieux de Mémoire - Tome I Paris: Quarto/Gallimard.
- NURPEIS, K. 2005. “Kazakhstan”. In: Chahryar Adle ; Madhavan K. Palat & Anara Tabyshalieva (orgs.), History of Civilizations of Central Asia. Volume VI: Towards the Contemporary Period - from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century Paris: Unesco Publishing . pp. 247-262.
- Ó BEACHÁIN, Donnacha & KEVLIHAN, Rob. 2011. “State-Building, Identity and Nationalism in Kazakhstan: Some preliminar thoughts”. Working Papers in International Studies, 1: s/p.
- OLCOTT, Martha B. 1995. The Kazakhs Stanford: Hoover Institution Press.
- OLCOTT, Martha B. 2007. “Roots of Radical Islam in Central Asia”. Carnegie Papers, 77:1-39.
- OLCOTT, Martha B. 2010. Kazakhstan: Unfulfilled promise Washington: Carnegie Endowment.
- POLOMASK, Natalya et al. 1994. “Mummy Unearthed from the Pastures of Heaven”. National Geographic, 186 (4):80-103.
- RAMOS, Alcida R. 1993. “Nações dentro da Nação: Um desencontro de ideologias”. Série Antropologia, 147. Brasília: UnB.
- RANI, Manju & BONU, Sekhar. 2009. “Attitudes Toward Wife-Beating: A cross-cultural study in Asia”. Journal of Interpersonal Violence, 24 (8):1371-1397.
- RASHID, Ahmed. 1994. The Resurgence of Central Asia: Islam or Nationalism? Londres: Zed Books / Oxford University Press.
- RO’I, Yaacov. 1992. “Nationalism in Central Asia in the Context of Glasnost and Perestroika”. In: Zvi Gitelman (org.), The Politics of Nationality and the Erosion of the USSR Nova York: St. Martin’s Press. pp. 50-76.
- RUBIN, Gayle. 2017. Políticas do Sexo São Paulo: Ubu Editora.
- SAID, Edward W. 1990. Orientalismo São Paulo: Companhia das Letras .
- SAPARBEKOVA, Ainur; KOCOURKOVÁ, Jirina & KUČERA, Tomáš. 2015. “Sweeping Ethno-Demographic Changes in Kazakhstan During the 20th Century: A dramatic story of mass migration waves - Part II: International migration in Kazakhstan since 1991”. AUC Geographica, 50 (1):75-90.
- SCHATZ, Edward A. D. 2000. “Framing Strategies and Non-Conflict in Multi-Ethnic Kazakhstan”. Nationalism and Ethnic Politics, 6 (2):71-94.
- SCHWARCZ, Lilian M. 1993. O Espetáculo das Raças: Cientistas, instituições e questão racial no Brasil - 1870-1930 São Paulo: Civilização Brasileira.
- SHANKS, Michael & TILLEY, Christopher. 1988. Social Theory and Archaeology Albuquerque: University of New Mexico Press.
- SINNOT, Peter. 2003. “Population Politics in Kazkakhstan”. Journal of International Affairs, 56 (2):103-115.
- SNAJDR, Edward. 2005. “Gender, Power, and the Performance of Justice: Muslim’s women response to domestic violence in Kazakhstan”. American Ethnologist, 32 (2):294-311.
- SNAJDR, Edward. 2007. “Ethnicizing the Subject: Domestic violence and the politics of primordialism in Kazakhstan”. The Journal of the Royal Anthropological Institute, 13 (3):603-620.
- SMITH, Anthony D. 1991. National Identity Londres: Penguin Books.
- SMITH, Graham; LAW, Vivien; WILSON, Andrew; BOHR, Annette & ALLWORTH, Edward. 1998. Nation-Building in the Post-Soviet Borderlands: The politics of national identities Cambridge: Cambridge university Press .
- SURUCU, Cengiz. 2002. “Modernity, Nationalism, Resistance: identity politics in post-soviet Kazakhstan”. Central Asia Survey, 21 (4):385-402.
- SVANBERG, Ingvar. 1999. “The Kazakh Nation”. In: SVANBERG, Ingvar (org.), Contemporary Kazaks Londres: Routledge , 1999. pp. 1-16.
- TAUYEKEL, Ospanov; ZINAKUL, Bissembayeva; GULZADA, Mukhamediyeva; KALAMBAS, Anassova & BEGDAULETOVA, Karlygash. 2016. “Formation of the Kazakh Identity”. The Social Sciences, 11 (8):1545-1551.
- TISHKOV, Valerii A. 1997. Ethnicity, Nationalism and Conflict in and after the Soviet Unioon: The mind aflame Londres: Sage.
- TUTUMLU, Assel. 2016. “The Rule by Law: Negotiating stability in Kazakhstan”. In: Marlène Laruelle (org.), Kazakhstan in the Making: Legitimacy, symbols, and social changes Londres: Lexington Books . pp. 3-28.
- UBIRIA, Grigol. 2016. Soviet Nation-Building in Central Asia: The making of the Kazakh and Uzbek nations Londres /Nova York: Routledge .
- WHEELER, Louise. 2017. A Linguistic Ethnographic Perspective on Kazakhstan’s Trinity of Languages Tese de Doutorado em Filosofia, School of Education, University of Birmingham.
- WIMMER, Andreas. 2008. “The Making and Unmaking of Ethnic Boundaries. A Multilevel Process Theory”. American Journal of Sociology, 113 (4):970-1022.
- ZELLERER, Evelyn & VYORTKIN, Dmitry. 2004. “Women’s Grassroots Struggles for Empowerment in the Republic of Kazakhstan”. Social Politics, 11 (3):439-464.
Sítios eletrônicos
- KHABDULINA, M. K. “The Golden Man” of K. A. Akishev. Texto publicado on-line em um site oficial cazaque de divulgação da história nacional: Texto publicado on-line em um site oficial cazaque de divulgação da história nacional: http://e-history.kz/en/books/library/read/1272 (acessado pela primeira vez em fev. 2018).
» http://e-history.kz/en/books/library/read/1272 - MOEDAS COMEMORATIVAS DO CAZAQUISTÃO: MOEDAS COMEMORATIVAS DO CAZAQUISTÃO: https://pt.ilovevaquero.com/hobbi/45321-pamyatnye-monety-kazahstana.html Acesso em 01/05/2018.
» https://pt.ilovevaquero.com/hobbi/45321-pamyatnye-monety-kazahstana.html
-
1
Nossos agradecimentos a Igor Erick (PPGA/UFPA), Márcia Bezerra (PPGA/UFPA) e Denise Pahl Schaan (PPGA/UFPA, in memoriam) pelas dicas bibliográficas. Agradecimentos especiais ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Produtividade em Pesquisa. Dedicamos este texto a Jeannine Davis-Kimball, arqueóloga norte-americana falecida em 2017, e a Denise Pahl Schaan, arqueóloga brasileira falecida em 2018.
-
2
Será usado aqui o termo Ásia Central proposto pelos sete volumes da coletânea History of Civilizations of Central Asia publicada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) entre 1992 e 2005 (Dani & Masson 2004DANI, A. H., MASSON, V. M. 2004. “Introduction”. In: History of Civilizations of Central Asia. Volume I: The Dawn of Civilization - earliest times to 700 B.C. Paris: Unesco Publishing . pp. 19-27. ; Harmatta 1994; Litvinsky & Zhang 1996LITVINSKY, B. A. & ZHANG, Guang-da. 1996. “Historical Introduction”. In: B.A. Litvinsky; Guang-da Zhang & R. Shabani Samghabadi (orgs.), History of Civilzations of Central Asia - Volume III: The crossroads of civilzations, A.D. 250 to 750. Paris: Unesco Publishing . pp. 19-33.; Asimov & Bosworth 1998; Asimov & Bosworth 2000ASIMOV, Muhammad. S. & BOSWORTH, Clifford. E. (orgs.). 2000. History of Civilizations of Central Asia. Volume IV: The Age of Achievement - A.D. 750 to the end of the fifteenth century - Parte Two. Paris: Unesco Publishing .; Adle & Baipakov 2003; Adle, Palat & Tabyshalieva 2005ADLE, Chahryar; PALAT, Madhavan K. & TABYSHALIEVA, Anara (orgs.). 2005. History of Civilizations of Central Asia. Volume VI: Towards the Contemporary Period - from the mid-nineteenth to the end of the twentieth century. Paris: Unesco Publishing . ).
-
3
Todos os trechos em língua estrangeira serão inseridos no corpo do texto traduzidos livremente por nós. No original: “[…] the first historical well-know pastoral nomadic nation [...]”.
-
4
No original: “[...] the Kazakh people or Kazakh nation [...]”.
-
5
No original: “It was possible for the first time to consider the Kazakhs a people: they were approximately one million strong, spoke the same Turkish language, utilized the same type of livestock breeding, and shared a culture and a form of social organization. [...]”.
-
6
No original: “[...] the doctrine of sovereignity increasingly began to give way to the concept of ethnicity”.
-
7
Há uma vastíssima bibliografia sobre nation-building (construção de nação), state-building (construção de Estado) e national-identity-building (construção de identidade nacional) no Cazaquistão, principalmente em língua inglesa, produzida por intelectuais cazaques, russos, turcos, irlandeses e norte-americanos, dentre os quais se destacam: Aitymbetov (2015), Akiner (1995AKINER, Shirin. 1995. The Formation of Kazakh Identity: From tribe to nation-state. Londres: The Royal Institute for Foreign Affairs. ), Ametbek (2017), Assyltayeva, Aldubasheva, Tolen, Assyltayeva & Alimzhanova (2012ASSYLTAYEVA, Elnura; ALDUBASHEVA, Zhanar; TOLEN, Zhengisbek; ASSYLTAYEVA, Ziyakul & ALIMZHANOVA, Aliya. 2012. “Central Asia and Kazakhstan: in search of civic identity”. International Journal of Humanities and Social Sciences, 6 (8):2103-2106. ), Burkhanov (2017), Cummings (2006), Dave (2004; 2007), Esenova (2002ESENOVA, Saulesh. 2002. “Soviet Nationality, Identity, and Ethnicity in Central Asia: Historic narratives and Kazakh ethnic identity”. Muslim Minority Affairs, 22 (1):11-38.), Fedorenko (2012), Galiev, Baisultanova, Yesserkepova, Dautbekova e Isayeva (2017GALIEV, Anuar; BAISULTANOVA, Kulipa; YESSERKEPOVA, Zhunar; DAUTBEKOVA, Marzhan & ISAYEVA, Aliya. 2017. “Mythologized History and Politics in Post-Soviet Kazakhstan and Kyrgyzstan”. Codrul Cosminului, XXIII (1):237-246. ), Kesici (2011), Kulsariyeva, Zhanerke e Madina (2015), Masanov, Karin e Oka (2002MASANOV, Nurbulat; KARIN, Erlan; CHEBOTAREV, Andrei & OKA, Natsuko. 2002. “The Nationalities question in Post-Soviet Kazakhstan”. Middle East Studies Series, 51 (dossiê).), Matuszkiewczi (2013MATUSZKIEWCZI, Renata. 2013. “How to Develop in a Sustainable Way: some problems related do social cohesion in Kazakhstan”. Economic and Environmental Studies, 13 (2):199-213. ), Melich e Adibayeva (2013), Ó Beacháin e Kevlihan (2011), Olcott (2010OLCOTT, Martha B. 2010. Kazakhstan: Unfulfilled promise. Washington: Carnegie Endowment. ), Sersembayev (1999), Surucu (2002SURUCU, Cengiz. 2002. “Modernity, Nationalism, Resistance: identity politics in post-soviet Kazakhstan”. Central Asia Survey, 21 (4):385-402. ), Svanberg (1999SVANBERG, Ingvar. 1999. “The Kazakh Nation”. In: SVANBERG, Ingvar (org.), Contemporary Kazaks. Londres: Routledge , 1999. pp. 1-16. ), Schatz (2000) e Tauyekel, Zinakul, Gulzada, Kalambas e Begdauletova (2016TAUYEKEL, Ospanov; ZINAKUL, Bissembayeva; GULZADA, Mukhamediyeva; KALAMBAS, Anassova & BEGDAULETOVA, Karlygash. 2016. “Formation of the Kazakh Identity”. The Social Sciences, 11 (8):1545-1551. ), para citar somente alguns.
-
8
O fato de essa construção ter sido meticulosamente calculada no Cazaquistão mostra o quão particular foi o processo por lá, bem diferente do processo de construção da nacionalidade brasileira. Para detalhes sobre a construção da nacionalidade brasileira, baseada, em nossa opinião, no apagamento das tensões étnico-raciais na origem da formação do país e na invenção de uma nacionalidade civil ou cívica unitária marcada por fortes contradições, ver Ramos (1993), Schwarcz (1993SCHWARCZ, Lilian M. 1993. O Espetáculo das Raças: Cientistas, instituições e questão racial no Brasil - 1870-1930. São Paulo: Civilização Brasileira. ), Velho (2003) e Wanderley (2008).
-
9
Em língua túrquica, o sufixo “-istão” designa a terra de origem. Sendo assim, o Cazaquistão é a terra do povo cazaque, assim como o Uzbequistão é a terra do povo uzbeque. Curiosamente, durante o regime soviético, o Cazaquistão foi a única república a manter o sufixo, enquanto as outras repúblicas formadas por povos de origem túrquica ganharam nomes sem o sufixo, como a Uzbéquia. Com a independência, as repúblicas imediatamente se renomearam, inserindo o sufixo para reforçar a ideia de que se tratava do território e do Estado nacional de um povo e uma nação específicos (sempre por oposição aos russos colonizadores), como Uzbequistão. No Cazaquistão, o movimento foi inverso: houve uma tentativa de renomear o país sem o sufixo, com o intuito de torná-lo mais “inclusivo”, já que a população não cazaque era muito expressiva; no entanto, esse movimento não obteve êxito (Aitymbetov, Toktarov & Ormakhanova 2015).
-
10
No original: “We, the people of Kazakhstan, united by a common historic fate, creating a state on the indigenous Kazakh land, considering ourselves a peace-loving and civil society, dedicated to the ideals of freedom, equality and concord […]”. A Constituição de 1995 pode ser consultada on-line em http://www.constitution.kz/english/ e foi acessada entre os dias 30/04 e 05/05/2018. A versão encontra-se disponível em cazaque, russo e inglês.
-
11
No original: “[w]hile the main emphasis of the doctrine was on the creation of the Kazakhstani nation, as reference were given USA and Brazil, where all ethnic groups live under one uniting identity, this doctrine disappointed Kazakh nationalists”.
-
12
A Doutrina pode ser consultada em inglês no link a seguir, em sua versão atual (modificada em relação à original): http://assembly.kz/en/national-unity-doctrine Para se ter alguma noção da maneira como a Doutrina foi discutida no país, ver: http://www.inform.kz/en/search?sword=national+unity+doctrine&x=0&y=0 e também: https://astanatimes.com/2013/05/the-importance-of-national-unity-citizenship-in-kazakhstan/
-
13
Até aqui, não demos destaque para a religiosidade como elemento constituinte da identidade nacional porque, no Cazaquistão, contrariamente ao que aconteceu em países vizinhos, como Uzbequistão, Tadjiquistão ou Turcomenistão, tem havido uma certa resistência, por parte do poder central, em valorizar a religiosidade, em particular o islamismo (religião das elites cazaques) e o cristianismo (religião do colonizador russo). Segundo Ó Beacháin & Kevlihan (2011:11): “A introdução tardia do Islã aos cazaques e 70 anos de comunismo tornaram os cazaques suspeitosos em relação ao fervor religioso” (no original: “The late introduction of Islam to Kazakhs and 70 years of communism have made the Kazakhs suspicious of religious fervor”). Segundo Akiner (1995), até o século XIX, a fé islâmica era popular entre povos sedentarizados dos oásis, enquanto os grupos nômades (cazaques e quirguizes, por exemplo) devotavam Tengri. No entanto, tem sido uma preocupação constante de Nazarbayev o controle da nova expansão do islamismo e, principalmente, de suas formas fundamentalistas, já que a oposição ao seu governo tem vindo sobretudo de líderes islâmicos - e, em menor grau, de monadistas que reivindicam a volta do culto a Tengri. Ver, sobre o islamismo no Cazaquistão e na região, Galina (2014GALINA, Yemelianova. 2014. “Islam, National Identity and Politics in Contemporary Kazakhstan”. Asia Ethnicity [on-line]: 286-301.), Olcott (2007OLCOTT, Martha B. 2007. “Roots of Radical Islam in Central Asia”. Carnegie Papers, 77:1-39. ) e Rashid (1994RASHID, Ahmed. 1994. The Resurgence of Central Asia: Islam or Nationalism? Londres: Zed Books / Oxford University Press. ).
-
14
A língua é um dos grandes campos de disputa da construção da nacionalidade no Cazaquistão e do processo de “cazaquização”, como se pode ver em Aitymbetov, Toktarov e Ormakhanova (2015), Akanova (2017AKANOVA, Gulnar. 2010. Language Ideologies of Kazkhstani Youth: The value of kazakh in the context of a changing linguistic marketplace. Dissertação de Mestrado (Arts - Eurasian Studies), School of Humanities and Social Sciences, Nazarbayev University, Astana.), Kennedy (2015KENNEDY, Megan. 2015. “‘You Should Speak Kazaksha’: Scales and Super-Diversity”. Texas Linguistic Forum, Proceedings of the 23rd Symposium about Language and Society-Austin, 58: 61-70. ), Ó Bacháin e Kevlihan (2011) e Wheeler (2017), dentre outros.
-
15
O documento pode ser encontrado em http://www.akorda.kz/en/events/akorda_news/press_ conferences/course-towards-the-future-modernization-of-kazakhstans-identity
-
16
Ver em http://www.akorda.kz/en/state_symbols/kazakhstan_flag
-
17
Ver em http://www.akorda.kz/en/state_symbols/kazakhstan_emblem
-
18
Pode-se ler a letra e ouvir a música do hino em http://www.akorda.kz/en/state_symbols/ kazakhstan_anthem
-
19
No original: “The symbolic foundation of post-imperialist countries is very much linked to the ritual presentation of its new state symbols. The state symbols in Kazakhstan are representative of the Kazakh ethnopolitical basis of the state”.
-
20
O próprio presidente Nazarbayev virou um desses heróis, homenageado (ou homenageando-se) em diversas estátuas (no que Ó Beacháin e Kevlihan (2011) chamam de new statue-mania) espalhadas por todo o país (e no exterior) e monumentos.
-
21
No original: “[a] compensatory and “vengeful”type of nation-building process in modern Kazakhstan. These seemingly small matters - such as language use and toponymous - can and certainly impact citizens’ sense of belonging to (and vice-versa, the sense of being alienated from) a state”.
-
22
No original: “[...] a mythical figure that roots Kazakhs identity as far back as the third century B.C.”.
-
23
O site se chama National Digital History: http://e-history.kz/en. Logo na página principal, uma frase de Nazarbayev dá o tom da importância do site para a consolidação da sua ideia de nação: “Precisamos olhar para o passado para compreender o presente e prever [programar?] o futuro” (no original: “We need to look into the past in order to understand the present and foresee the future”). O texto de Khabdulina sobre o “Homem Dourado” encontra-se disponível em: http://e-history.kz/en/books/library/read/1272
-
24
No original: “[...] the modern “biography” of this unique archaeological find is surrounded by numerous legends. And everybody who touches it creates his own history, the history of life, deeds and accomplhisements. This is the fate of all significant discoveries. Gradually, they get their own history, a new biography and begin to live in different dimensions - as scientific phenomenon, as an artistic image, as a historical fact, as a unique find...”.
-
25
Ver a este respeito, Hodder (2011HODDER, Ian (org.). 2011. Archaeological Theory Today. Cambridge: Polity Press.), Liebman e Rizvi (2008LIEBMAN, Mathew & RIZVI, Uzma Z. (orgs.). 2008. Archaeology and the Postcolonial Critique. Londres: Altamira Press / Rowman & Littlefiled Publishers. ), McGuire (2008McGUIRE, Randall H. 2008. Archaeology as Political Action. Berkeley: University of California Press.) e Shanks e Tilley (1988SHANKS, Michael & TILLEY, Christopher. 1988. Social Theory and Archaeology. Albuquerque: University of New Mexico Press.).
-
26
Para mais detalhes sobre os kurgans da região e da mesma época, ver Bashilov e Yablonski (1995), Davis-Kimball, Murphy, Koryakova e Yablonsky (2000DAVIS-KIMBALL, Jeannine; MURPHY, Eileen M.; KORYAKOVA, Ludmila & YABLONSKY, Leonid T. (orgs.). 2000. Kurgans, Ritual Sites, and Settlements Eurasian Bronze and Iron Age 890. Oxford: Archeopress. ), Kohl (2002) e Koryakova & Epimakhov (2007KORYAKOVA, Ludmila & EPIMAKHOV, Andrej V. 2007. The Urals and Western Siberia in the Bronze and Iron Ages. Cambridge: Cambridge Univesity Press. ).
-
27
Ver em http://e-history.kz/en/publications/view/1548 e http://ukrainianweek.com/History/60165
-
28
Ver em http://kazakhworld.com/the-golden-warrior-a-kazakh-icon-of-independence-prosperity-and-heritage/
-
29
Sobre as exposições pelo mundo afora, ver em http://kazakh-tv.kz/en/view/culture/page_192307_
-
30
Ver, em anexo, na imagem 1, a réplica do “Homem Dourado”.
-
31
Ver, em anexo, na imagem 2, o “Homem Dourado” original.
-
32
Ver, por exemplo, em https://eurasianet.org/s/kazakh-archeologists-discover-ancient-scythian-sun-lord
-
33
Disponível em http://www.pbs.org/wnet/secrets/amazon-warrior-women-interview-dr-jeannine-davis-kimball/1473/
-
34
No original: “Although the burial was said to be of a man, the headdress reminded the Kazakh excavators of hats worn by brides in traditional wedding ceremonies. Kazakh bridal hats, part of a dowry passed from generation to generation, are also decorated with ornamental plaques of gold and silver cast from coins. Artifacts in the Issyk burial are so similar to those that we have found in burials of women warriors and priestesses at Pokrovka in the southern Ural steppe [...] that we cannot help speculating that this person was actually a young woman. Three earrings adorned with turquoise, and carnelian and white beads, perhaps from a necklace, suggest more elaborate jewelry than is usually associated with male Saka warriors”.
-
35
Ver em http://siberiantimes.com/science/casestudy/features/iconic-2500-year-old-siberian-princess-died-from-breast-cancer-reveals-unique-mri-scan/
-
36
O livro de Davis-Kimball inspira, por exemplo, o livro de Mayor (2014MAYOR, Adrienne. 2014. The Amazons: Lives & legends of warrior women across the Ancient World. Princeton: Princeton University Press . ) sobre mulheres guerreiras pelo mundo - ou amazonas - que contém um capítulo com o emblemático título de “Amazonistan: Central Asia”, sugerindo que a Ásia Central era uma terra de amazonas, assim como Davis-Kimball já o havia suscitado.
-
37
Davis-Kimball esteve à frente do Center for the Study of the Eurasian Nomads da Universidade da Califórnia. O site do Center contém interessantes artigos de autoria da arqueóloga e de outros pesquisadores: http://www.csen.org
-
38
Ver, sobre as “princesas” ou “guerreiras”, em https://eurasianet.org/s/kazakhstan-archeologists-unearth-princess-of-the-scythians ; https://en.tengrinews.kz/science/Reconstruction-shows-how-ancient-Scythian-Princess-255482/ ; https://en.tengrinews.kz/science/Golden-Princess-burial-oldest-of-its-kind-in-Kazakhstan-253400/ ; https://en.tengrinews.kz/science/Kazakhstan-archaeologists-discover-Saka-princess-tomb-19862/ ; http://www.ancient-origins.net/news-general/reconstruction-golden-woman-ancient-scythian-princess-kazakhstan-001987
-
39
Ver em https://www.topuniversities.com
-
40
Ver a este respeito o site oficial de avaliação das universidades, com os critérios usados em http://egov.kz/cms/en/articles/2Fbestuniinkz30
-
41
No original: “[e]ducation in the spirit of patriotism of the constitution of the country, traditions, literature, culture and values of Turkic-speaking people [...]”, em http://ayu.edu.kz/en/faculties/faculty-of-humanities/history-kaf/5b020800-arhelogy-etnology. Acesso em 08/05/2018.
-
42
Devido ao que foi apresentado acima sobre a maneira como a identidade nacional foi constituída de modo a privilegiar a língua cazaque nos documentos oficiais e nas relações cotidianas, principalmente em pequenas cidades e no meio rural, e respeitar o uso quase que geral do russo nos meios de comunicação e no negócios urbanos, pode-se dizer que a língua inglesa se tornou uma alternativa meio que universal, incentivada pelo governo central, para a promoção de informações sobre as “coisas do Cazaquistão” não somente para fora, mas também para dentro do país. Note-se que as maiores universidades do país dispensam ensino parcialmente em inglês, de acordo com os cursos. Sendo assim, o fato de termos usado textos em inglês põe limites de pouco impacto sobre as nossas argumentações.
-
43
Ver, por exemplo, Kesici (2011).
-
44
No original: “[...] symbols of power [...] represented by male images [...]”.
-
45
Ver a este respeito, o Statistical Yearbook de 2013 e os dados publicados pela Unicef, disponíveis em: http://mics.unicef.org/files?job=W1siZiIsIjIwMTUvMDEvMjcvMDgvNTUvMTcvNDAzL01JQ1NfSW5mb2dyYXBoaWNzX0VuZy5wZGYiXV0&sha=f6997aecbe4f3696
-
46
Ver a este respeito as reportagens a seguir em https://eurasianet.org/s/kazakhstan-morality-mavens-monitoring-women ; https://medium.com/@UNDP/everyday-hero-defending-womens-rights-in-kazakhstan-201a191845ba e https://en.qantara.de/content/women-in-kazakhstan-progress-in-the-face-of-patriarchy-and-islam
-
47
A respeito das relações de gênero no Cazaquistão, assim como das formas de resistência, agência e ativismo, ver Cockerham, Hinote e Abbott (2006COCKERHAM, William C.; HINOTE, Brian P. & ABBOTT, Pamela. 2006. “Psychological Distress, Gender, and Health Lifestyles in Belarus, Kazakhstan, Russia, and Ukraine”. Social Science and Medicine, 63:2381-2394.), Gulnar, Aiymgul e Gabit (2014GULNAR, Andirzhanova; AIYMGUL, Tleuzhanova; ELIZAVETA, Li & GABIT, Dulatov. 2014. “Political and Legal Aspects of Gender Policy in the Modern World”. European Scientific Journal, 10 (7):210-217.), Snajdr (2005SNAJDR, Edward. 2005. “Gender, Power, and the Performance of Justice: Muslim’s women response to domestic violence in Kazakhstan”. American Ethnologist, 32 (2):294-311.), Zellerer Vyortkin (2004ZELLERER, Evelyn & VYORTKIN, Dmitry. 2004. “Women’s Grassroots Struggles for Empowerment in the Republic of Kazakhstan”. Social Politics, 11 (3):439-464.)
ANEXOS - IMAGENS
Réplica do “Homem Dourado” no Museu de Arqueologia da Academia de Ciências do Cazaquistão, Almaty
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Dez 2018
Histórico
-
Recebido
19 Maio 2018 -
Aceito
05 Nov 2018