Por meio de uma reanálise da literatura sobre a "religião guarani", pretende-se indicar como e em que direções ela se transformou, desde o século XVI, recriando-se como a "religião guarani" contemporânea, tal qual a descreveu a etnologia do século XX. O pano de fundo dessa análise é a leitura crítica da noção de um "modo de ser guarani" fundado em uma religiosidade impermeável à mudança. Busca-se sugerir que o contato com o cristianismo missionário e a experiência colonial conduziram a uma crescente negação do canibalismo enquanto fundamento do poder xamânico e da reprodução social, processo aqui denominado "desjaguarificação". Esse processo conduziu a mudanças na noção de pessoa e permitiu o surgimento de um novo modo de conceber a relação com animais e divindades, fundado agora em uma categoria nativa de amor.
Canibalismo; Religião; Missões; Colonialismo; Tupi-Guarani