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O ANÚNCIO DE APOSENTADORIA DO PARATLETA DANIEL DIAS: UMA ANÁLISE DOS COMENTÁRIOS NA REDE SOCIAL INSTAGRAM

THE RETIREMENT ANNOUNCEMENT OF PARATLETA DANIEL DIAS: AN ANALYSIS OF COMMENTS ON INSTAGRAM SOCIAL NETWORK

EL ANUNCIO DE RETIRO DEL PARATLETA DANIEL DIAS: UN ANÁLISIS DE LOS COMENTARIOS EN LA RED SOCIAL INSTAGRAM

Resumo

Em 2021, o paratleta brasileiro de natação Daniel Dias anunciou sua aposentadoria para o final dos Jogos Paralímpicos de Tóquio em sua página da rede social Instagram, o que gerou inúmeras reações de sujeitos sociais que utilizam essa rede. Diante de tamanha repercussão, tivemos por objetivo analisar os sentidos produzidos pelos comentários após o anúncio da aposentadoria de Daniel, utilizando a técnica de análise de discurso para depurar nossos dados. Como resultados, percebemos quatro indicadores no teor dos enunciados: 1) reconhecimento: reconhecem em Daniel toda sua trajetória de vida pessoal e/ou atlética, enaltecendo seu engajamento nas práticas esportivas; 2) inspiração: demonstram admiração pela sua história; 3) emoções: expressam sentimentos saudosos, de amor e gratidão ao paratleta; e 4) fé e prosperidade: agradecem pela sua postura e exemplo de vida dentro e fora das piscinas, desejando bençãos e palavras de proteção, além de parabenizá-lo pela retidão moral e ética de sua trajetória. Percebe-se, por fim, sua condecoração como ídolo brasileiro e exemplo a ser seguido para um percurso de sucesso.

Palavras-chave:
Esportes para Pessoas com Deficiência; Natação; Redes sociais; Instagram.

Abstract

In 2021, Brazilian swimming Paralympian Daniel Dias announced his retirement for the final of the Tokyo Paralympic Games on his Instagram social network page, which generated countless reactions from social subjects that use this page. Given such repercussions, we aimed to analyze the meanings produced by comments users after the announcement of his retirement, using the discourse analysis technique to debug our data. As a result, we noticed four indicators in the statements: 1- recognition: they recognize in Daniel his entire personal and/or athletic life trajectory, praising his commitment to sports practices; 2- inspiration: they show admiration for his trajectory; 3- emotions: express nostalgic feelings of love and gratitude to the athlete; and 4- faith e prosperity: thank him for his attitude and example of life inside and outside the pools, wishing him blessings and words of protection, besides congratulating him for the moral and ethical rectitude of his trajectory. It’s noticed, lastly, a distinction as a Brazilian idol and an example for a successful path of life.

Keywords:
Sports for Persons with Disabilities; Swimming; Social network; Instagram.

Resumen

En 2021, el paratleta brasileño de natación Daniel Dias anunció su retiro para la final de los Juegos Paralímpicos de Tokio en su página de la red social Instagram, lo que generó innumerables reacciones de sujetos sociales que utilizan esta red. Ante tal repercusión, nos propusimos analizar los sentidos producidos por los comentarios posteriores al anuncio del retiro de Daniel, utilizando la técnica de análisis de discurso para depurar nuestros datos. Como resultados, percibimos cuatro indicadores en el contenido de los enunciados: 1- reconocimiento: reconocen en Daniel toda su trayectoria de vida personal y/o deportiva, exaltando su compromiso con las prácticas deportivas; 2- inspiración: muestran admiración por su historia; 3- emociones: expresan sentimientos nostálgicos, de amor y gratitud hacia el atleta; y 4- fe y prosperidad: agradecen por su actitud y ejemplo de vida dentro y fuera de las piscinas, deseando bendiciones y palabras de protección, además de felicitarlo por la rectitud moral y ética de su trayectoria. Se percibe, finalmente, su condecoración como ídolo brasileño y ejemplo a ser seguido para un camino exitoso.

Palabras clave:
Deportes para personas con discapacidad; Natación; Redes sociales; Instagram.

1 INTRODUÇÃO

O atleta paraolímpico1 1 Ao longo do trabalho utilizaremos o termo paraolímpico de acordo com as normas gramaticais da língua portuguesa, uma vez que, é incorreto omitir a letra inicial do sufixo na junção de duas palavras. O termo “paralímpico” aparecerá quando for citação direta de documentos, textos e/ou quando nos referirmos aos Jogos. brasileiro e multicampeão na natação Daniel Dias nasceu em 24 de maio de 1988, em Campinas/SP, com 37 semanas de gestação, pesando 1,970 kg e com 41 centímetros, apresentando uma má-formação congênita nos membros superiores e na perna direita. Aos três anos de idade, o atleta passou por uma cirurgia visando à utilização de uma prótese. Mesmo com muitas dificuldades de adaptação, começou a andar. Dentre as mais variadas conquistas de Daniel no esporte, estão 33 medalhas de ouro em Jogos Parapan-americanos e 40 medalhas em Mundiais, sendo 31 de ouro. Nos Jogos Paralímpicos (JP) do Rio de Janeiro em 2016, Daniel Dias se tornou o maior medalhista da natação em paraolimpíadas ao conquistar sua 24ª medalha, sendo 14 delas de ouro. O nadador brasileiro ainda conquistou por três vezes o Troféu Laureus2 2 O prêmio é concedido todos os anos aos melhores esportistas durante o ano anterior da premiação. (ANDRADE, 2021ANDRADE, Gustavo. Daniel Dias: biografia, medalhas e recordes na natação. Esportelândia. [online]. 2021.).

Tabela 1
Quadro geral das conquistas de Daniel Dias nas principais competições do mundo

Além da natação, o atleta possui o Instituto Daniel Dias, que atende 30 atletas da iniciação ao alto rendimento da natação paraolímpica3 3 Informações retiradas do site do Instituto Daniel Dias. Disponível em: https://institutodanieldias.org.br/o-instituto-daniel-dias. . Em suas redes sociais o nadador atualmente conta com 78 mil seguidores no Facebook, 9 mil no Twitter e 74,6 mil no Instagram4 4 Informações consultadas no dia 9 de julho de 2021. , e foi através de um vídeo de nove minutos e quarenta e quatro segundos, publicado no dia 12 de janeiro de 2021 em seu perfil do Instagram (@danieldias88), que o nadador paraolímpico anunciou a sua aposentadoria “das piscinas” após os Jogos de Tóquio 2020. No vídeo, intitulado “Queridos amigos, hoje tenho um anúncio importante para vocês”, Daniel afirma que o ano de 2021 será a sua última temporada como atleta profissional.

Em seu discurso e visivelmente emocionado, o atleta relembra o início da sua carreira e faz agradecimentos a Deus, aos seus pais, esposa, filhos, equipe de profissionais, patrocinadores, instituições, governo federal e a todos que contribuíram ao longo de sua carreira esportiva. Em entrevista para o jornal O Globo, o nadador conta que já vinha pensando na decisão desde 2018 e que teve o apoio familiar. Como justificativa, o atleta mencionou que pretende “viver outro ciclo da vida” que corresponde a estar mais próximo dos filhos, “dar voz aos atletas”5 5 KNOPLOCH, Carol. Depois de Tóquio... Disponível em: https://oglobo.globo.com/esportes/depois-de-toquio-daniel-dias-quer-ser-influencer-digital-chegar-ao-comite-paralimpico-internacional-1-24848542. Acesso em 10 ago. 2022. e divulgar a sua marca. Esses ideais convergem com os demais estudos sobre aposentadorias de atletas que, ao terminarem sua carreira esportiva, dedicam-se mais à família, ao lazer e ao desenvolvimento de projetos sociais6 6 Nakata (2014) aponta que os projetos sociais esportivos funcionam como uma porta de entrada para praticantes de esportes poderem se profissionalizar, o que justifica muitas vezes esse forte engajamento de atletas em vias de se aposentar com a criação/manutenção/apoio de projetos sociais esportivos. Para mais informações, recomendamos a leitura da autora. voltados principalmente ao esporte (NAKATA, 2014NAKATA, Lina Eiko. A transição de carreira do ex-atleta de alto rendimento. 2014. 227f. Tese (Doutorado em Administração) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.).

A partir dessa publicação, vários internautas, seguidores, patrocinadores e atletas (que entendemos aqui como sujeitos sociais7 7 O uso da expressão encontra amparo em Bourdieu (2007), que entende os sujeitos como produtores ativos de uma realidade material e simbólica a partir de um jogo de ideias de valores, importância e significados múltiplos em constante reformulação. Ao longo do texto ampliaremos essa ideia com base no autor. ) demonstraram diferentes sentimentos pelo nadador por meio de comentários e interações com o post. Diante do exposto, o problema de investigação desta pesquisa é: quais os significados produzidos pelos sujeitos sociais após o anúncio de aposentadoria do atleta Daniel Dias? Nesse caminho, o objetivo é analisar os sentidos produzidos pelos comentários após o anúncio da aposentadoria do atleta paraolímpico, através da análise dos comentários deixados em suas postagens na página do Instagram.

Vale lembrar que a literatura tem estudado as diferentes formas de discursos que são veiculados nos meios de comunicação sobre os atletas com deficiência, como também o esporte paraolímpico. Entre os estudos, já foram identificadas narrativas em que são tratados como super-heróis (HARDIN; HARDIN, 2004HARDIN, Marie Myers; HARDIN, Brent. The ‘supercrip’ in sport media: wheelchair athletes discuss hegemony’s disabled hero. SOSOL: Sociology of Sport Online, v. 7, n. 1, p. 1-14, 2004. Disponível em: https://www.cabdirect.org/cabdirect/abstract/20053024129 . Acesso em: 16 ago. 2022.
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; GONÇALVES; ALBINO; VAZ, 2009GONÇALVES, Gisele Carreirão; ALBINO, Beatriz Staimbach; VAZ, Alexandre Fernandez. O herói esportivo deficiente: aspectos do discurso em mídia impressa sobre o Parapan-Americano/2007. In: PIRES, Giovani de Lorenzi. Observando o Pan Rio/2007 na mídia. Florianópolis: Tribo da Ilha, 2009.; SILVA; HOWE, 2012; TYNEDAL; WOLBRING, 2013TYNEDAL, Jeremy; WOLBRING, Gregor. Paralympics and its athletes through the lens of the New York Times. Sports, v. 1, n. 1, p. 13-36, 2013. DOI: https://doi.org/10.3390/sports1010013
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; HILGEMBERG, 2014HILGEMBERG, Tatiane. Do coitadinho ao super-herói: representação social dos atletas paraolímpicos na mídia brasileira e portuguesa. C-Legenda, n. 30, p. 48-58, 2014. Disponível em: https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/36954/21529. Acesso em: 16 ago. 2022.
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; MARQUES, 2016MARQUES, Renato Francisco Rodrigues. A contribuição dos Jogos Paralímpicos para a pro­moção da inclusão social: o discurso midiático como um obstáculo. Revista USP, n. 108, p. 87-96, jan./mar. 2016. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i108p87-96
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; POFFO et al., 2017POFFO, Bianca Natália et al. Mídia e jogos paralímpicos no Brasil: investigando estigmas na cobertura jornalística da Folha de S. Paulo. Movimento, v. 23, n. 4, p.1353-1366, out./dez. 2017. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.67945
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; OLIVEIRA; POFFO; SOUZA, 2018OLIVEIRA, Amanda Paola Velasco de; POFFO, Bianca Natália; SOUZA, Doralice Lange de. "É melhor ser super-herói do que ser a vítima": um estudo sobre a percepção de atletas e ex-atletas com deficiência visual sobre a cobertura midiática. Movimento, v. 24, n. 4, p. 1179-1190, 2018. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.84237
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). Em outros trabalhos, identificam-se discursos que vitimizam os atletas pelas suas deficiências e histórias de vida (PAPPOUS et al., 2009PAPPOUS, Athanasios S. et al. La representación mediática del deporte adaptado a la discapacidad en los medios de comunicación. Ágora para la EF y el Deporte, n. 9, p. 31-42, 2009. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/2900313.pdf Acesso em: 16 ago. 2022.
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; DE LÉSÉLEUC; PAPPOUS; MARCELLINI, 2009DE LÉSÉLEUC, Eric; PAPPOUS, Athanasios S.; MARCELLINI, Anne. La cobertura mediática de las mujeres deportistas con discapacidad: análisis de la prensa diaria de cuatro países europeos durante los Juegos Paralímpicos de Sidney 2000. Apunts, Educación Física y Deportes, v. 97, n. 3, p. 80-88, jul./set. 2009. Disponível em: https://revista-apunts.com/wp-content/uploads/2020/11/097_080-088_es.pdf. Acesso em: 16 ago. 2022.
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; 2010DE LÉSÉLEUC, Eric; PAPPOUS, Athanasios S.; MARCELLINI, Anne. The media coverage of female athletes with disability: analysis of the daily press of four european countries during the 2000 Sidney Paralympic Games. European Journal for Sport and Society, v. 7, n. 3-4, p. 283-296, 2010. DOI: https://doi.org/10.1080/16138171.2010.11687863
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; TYNEDAL; WOLBRING, 2013TYNEDAL, Jeremy; WOLBRING, Gregor. Paralympics and its athletes through the lens of the New York Times. Sports, v. 1, n. 1, p. 13-36, 2013. DOI: https://doi.org/10.3390/sports1010013
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; HILGEMBERG, 2014HILGEMBERG, Tatiane. Do coitadinho ao super-herói: representação social dos atletas paraolímpicos na mídia brasileira e portuguesa. C-Legenda, n. 30, p. 48-58, 2014. Disponível em: https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/36954/21529. Acesso em: 16 ago. 2022.
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; POFFO et al., 2017POFFO, Bianca Natália et al. Mídia e jogos paralímpicos no Brasil: investigando estigmas na cobertura jornalística da Folha de S. Paulo. Movimento, v. 23, n. 4, p.1353-1366, out./dez. 2017. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.67945
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).

Há também estudos que apontam uma narrativa em que os atletas são representados como crianças, denominada de infantilização, ou que tratam de assuntos triviais que fogem da performance esportiva do atleta, destacando sua vida pessoal, seu estilo de vida e outros fatores (DUNCAN, 2006DUNCAN, Margaret Carlisle. Gender warriors in sport: women and the media. In: RANEY, Arthur A.; BRYANT, Jennings (ed.). Handbook of Sports and Media. London: Routledge, 2006. p. 247-269.; DE LÉSÉLEUC; PAPPOUS; MARCELLINI, 2010DE LÉSÉLEUC, Eric; PAPPOUS, Athanasios S.; MARCELLINI, Anne. The media coverage of female athletes with disability: analysis of the daily press of four european countries during the 2000 Sidney Paralympic Games. European Journal for Sport and Society, v. 7, n. 3-4, p. 283-296, 2010. DOI: https://doi.org/10.1080/16138171.2010.11687863
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; POFFO et al., 2017POFFO, Bianca Natália et al. Mídia e jogos paralímpicos no Brasil: investigando estigmas na cobertura jornalística da Folha de S. Paulo. Movimento, v. 23, n. 4, p.1353-1366, out./dez. 2017. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.67945
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). Outro campo de investigação sobre o esporte paraolímpico e mídia se dá através de análises das imagens que são veiculadas sobre os atletas paraolímpicos. Estes estudos (PAPPOUS et al., 2007PAPPOUS, Athanasios S. et al. La visibilidad de la deportista paralímpica en la prensa escrita española. Revista de Ciencias del Ejercicio, v. 3, n. 2, p. 12-32, 2007. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/291137555_La_visibilidad_de_la_deportista_paralimpica_en_la_prensa_espanola. Acesso em 16 ago. 2022.
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, 2009PAPPOUS, Athanasios S. et al. La representación mediática del deporte adaptado a la discapacidad en los medios de comunicación. Ágora para la EF y el Deporte, n. 9, p. 31-42, 2009. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/2900313.pdf Acesso em: 16 ago. 2022.
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; SANTOS; FERMINO, 2016SANTOS, Silvan Menezes dos; FERMINO, Antonio Luis. A identidade esportiva dos atletas com deficiência: um estudo da cobertura fotográfica no Instagram do Comitê Paralímpico Brasileiro. Cadernos de Educação, Tecnologia e Sociedade, v. 9, n. 3, p. 319-336, 2016. Disponível em: https://brajets.com/v3/index.php/brajets/article/view/358 Acesso em: 29 out. 2022.
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; SANTOS et al., 2018aSANTOS, Silvan Menezes dos et al. Esportividade, melancolia, nacionalismo e deficiência: a cobertura fotográfica dos Jogos Paralímpicos pelas lentes da Folha de São Paulo (1992-2016). Motrivivência, v. 30, n. 56, p. 76-99, nov. 2018a. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2018v30n56p76
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) têm apresentado a identificação ou não de uma invisibilidade da deficiência, imagens que ressaltam um tom melancólico, nacionalista, que destacam a simbiose do corpo e tecnologia, a espetacularização da deficiência e características do campo esportivo (vestuário, atletas nos espaços ou não de realização de provas, expressões corporais, entre outros).

Nesses estudos, os autores têm se preocupado em compreender se os discursos produzidos pelos meios de comunicação reproduzem ou não estigmas sociais em relação à pessoa e/ou ao atleta com deficiência. Bourdieu (2007BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007., p. 441) exemplifica que a lógica do estigma por vezes se sobressai às outras releituras de dada identidade ou grupo social, como se fosse impossível dissociar a condição de estigmatizado da própria individualidade/coletividade da categoria em si:

A lógica do estigma lembra que a identidade social é o pretexto de uma luta em que a réplica do indivíduo ou grupo estigmatizado e, de forma mais geral, de qualquer sujeito social, enquanto é um objeto potencial de categorização, à percepção parcial que o confina em uma de suas propriedades é possível apenas ao enfatizar, para se definir, a melhor de suas propriedades e, de forma mais geral, ao lutar para impor o sistema de classificação mais favorável a suas propriedades ou, ainda, para fornecer ao sistema de classificação dominante o conteúdo mais adequado para valorizar o que ele tem e é.

Nesse sentido, é possível encontrar pesquisas (MARQUES et al., 2014MARQUES, Renato Francisco Rodrigues et al. A abordagem midiática sobre o esporte paralímpico: o ponto de vista de atletas brasileiros. Movimento, v. 20, n. 3, p. 989-1015, jul./set. 2014. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.41955
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; 2015MARQUES, Renato Francisco Rodrigues et al. A abordagem mediática sobre o desporto paralímpico: perspectivas de atletas portugueses. Motricidade, v. 11, n. 3, p. 123-147, 2015. DOI: http://dx.doi.org/10.6063/motricidade.4704
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; OLIVEIRA; POFFO; SOUZA, 2018OLIVEIRA, Amanda Paola Velasco de; POFFO, Bianca Natália; SOUZA, Doralice Lange de. "É melhor ser super-herói do que ser a vítima": um estudo sobre a percepção de atletas e ex-atletas com deficiência visual sobre a cobertura midiática. Movimento, v. 24, n. 4, p. 1179-1190, 2018. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.84237
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) que se propuseram a ouvir atletas e ex-atletas a respeito do modo como são representados pelos meios de comunicação. Nestes trabalhos, os autores não identificaram um consenso acerca desses discursos, uma vez que parte dos entrevistados entende a narrativa do supercrip (paratleta como super-herói) como positiva devido à visibilidade midiática que recebem. Por outro lado, parte dos entrevistados entende que essa forma de discurso contribui para a perpetuação de estigmas e o desvalorizam enquanto atletas de alto rendimento. Outros estudos (FERMINO et al., 2018FERMINO, Antonio Luis et al. Os Jogos Paralímpicos Rio/2016 na convergência digital: o discurso midiático-esportivo, como identidades culturais e o sentimento paraolímpico. In: PEREIRA, Rogério Santos; FIAMONCINI, Luciana; PIRES, Giovani De Lorenzi (org.). Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio/2016: mídias em convergência (?). Florianópolis: LaboMídia/UFSC, Centro da Rede CEDES/SC e Tribo da Ilha, 2018. p. 161-218.; SANTOS et al., 2018bSANTOS, Silvan Menezes dos et al. “Twittando” sobre os Jogos Paraolímpicos Rio/2016: uma análise do sentimento paralímpico sob o ponto de vista de internautas. Brazilian Journal of Education, Technology and Society (BRAJETS) - Especial Section, “Disability, Education, Technology and Sport”, v. 11, n. 1, p. 117-135, jan./mar. 2018b. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/240471/5.pdf?sequence=1 Acesso em: 29 out. 2022.
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) se propuseram a compreender os discursos produzidos pelos usuários de rede social Twitter. Em ambas as pesquisas, os autores identificaram que os discursos produzidos pelos usuários apresentam elementos característicos do discurso midiático, como, por exemplo, o agendamento esportivo, informações gerais sobre os JP, atletas e modalidades; características de identidades culturais, como manifestações políticas, nacionalismo e regionalidades; e de sentimento paraolímpico em que os autores destacaram a emoção, estigmas, capacidades e habilidades, além da discussão entre a perspectiva de inclusão e segregação.

Diante desse contexto, temos claro que os estudos acerca do esporte paraolímpico e mídia estão avançando e proporcionando diferentes olhares e interpretações sobre o modo de compreensão deste fenômeno esportivo. Destarte, nos pautaremos nas obras do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1986BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1986.; 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1989.; 2007) para problematizar como a noção de habitus interfere/influencia o capital social de determinados sujeitos, deflagrando um sistema de classificações constituídas por atos parciais e interesseiros de dado grupo ou comunidade (BOURDIEU, 2007BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007.).

Bourdieu (2007BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007., p. 447) explica que não existe uma realidade concreta de mundo, mas sim um conjunto de intersubjetividades em comum que formulam o que se entende como realidade: “as representações que os agentes formam a seu respeito e que fazem a ‘realidade’ inteira de um mundo social concebido ‘como representação e vontade’”. A partir disso, tomamos os internautas como agentes sociais que, para Bourdieu (2007BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007., p. 13), “distinguem-se pelas distinções que eles operam entre o belo e o feio, o distinto e o vulgar; por seu intermédio, exprime-se ou traduz-se a posição desses sujeitos nas classificações subjetivas”. A afirmação exemplifica que sujeitos sociais têm papel de destaque na representação do mundo social que os compreende a partir de propriedades materiais e simbólicas às quais atribuem valor.

Entender o que representa o esporte paraolímpico, o paratleta Daniel, suas conquistas nas piscinas e seu modo de viver fora do esporte a partir do discurso dos agentes sociais pode contribuir para elucidar que tipo de realidade está sendo construído no/a partir do universo do esporte paraolímpico, bem como as leituras sociais que se fazem sobre corpos com deficiência que se aventuram em atividades de provação e/ou com evidência mundial.

2 METODOLOGIA

Para este estudo, propusemos uma abordagem qualitativa dos dados a partir da análise de discurso, uma vez que esta perspectiva implica compreender de maneira atenta o que está sendo dito (GILL, 2007GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin William; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto imagem, imagem e som: um manual prático. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2007.). A partir disso, e atentos em compreender os significados produzidos pelo público sobre o anúncio de Daniel Dias é que optamos por analisar os comentários realizados pelos internautas no perfil do atleta na rede social Instagram. Optamos por essa rede, especificamente, pois foi através dela que Daniel informou que iria disparar seu vídeo informando sobre a aposentadoria, dias antes. Além disso, o número de usuários dessa rede social é consideravelmente grande, bem como a interação do paratleta com seus seguidores. Também, a página é aberta a não seguidores, diferentemente de outros perfis, como o do Facebook, mais privativo. Cientes disso, acreditamos que a investigação através do Instagram foi a forma mais potente de elucidar o engajamento, a repercussão e o teor dos comentários sobre o fato narrado por Daniel e, para tanto, dividimos nossa pesquisa em três etapas: coleta de dados, identificação e análise.

A coleta ocorreu entre os dias 22 de janeiro e 5 de fevereiro de 2021. Realizamos capturas de telas de todos os comentários das publicações do Instagram de Daniel dos dias 11 a 13 de janeiro de 2021, referentes ao dia anterior, dia da postagem do anúncio de aposentadoria, e do dia seguinte, respectivamente. Optamos por iniciar no dia anterior à divulgação oficial de aposentadoria porque o paratleta poderia postar alguma informação referente ao anúncio que seria feito, o que já teria mobilizado engajamento de seus seguidores e demais usuários da rede. Esta característica observacional de dados nos possibilitou compreender se houve ou não, por parte de Daniel, alguma característica de agendamento da notícia e o impacto e repercussão da notícia sobre os internautas logo após a publicação do vídeo.

Ao todo foram coletados 471 comentários, distribuídos em três postagens (Tabela 2). Desses, foram excluídos 74 comentários a partir dos seguintes critérios: 1) contendo apenas marcações de páginas, pessoas, empresas; 2) interações apenas com emojis8 8 Entendemos que os emojis também se constituem como um discurso, já que expressam uma linguagem de imagens que simula reações de quem a enuncia. Todavia, para este momento, optamos metodologicamente por retirá-los da análise e nos concentrarmos no discurso escrito dos internautas. ; 3) comentários fora de contexto, como, por exemplo, propagandas; 4) comentários duplicados; e 5) respostas de Daniel Dias.

Tabela 2
Distribuição do total de comentários

Após a realização da primeira etapa metodológica, iniciamos o processo de identificação dos dados. Para tal, organizamos os dados em uma planilha de Excel, separando os comentários por dia de publicação. Esse processo permitiu identificarmos alguns elementos categorizadores nos discursos produzidos pelos internautas, uma vez que existem diferenças e consistências entre os comentários (GILL, 2007GILL, Rosalind. Análise de discurso. In: BAUER, Martin William; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto imagem, imagem e som: um manual prático. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2007.). Após a leitura atenta dos discursos selecionados, elencamos quatro categorias de reflexão sobre eles, sendo elas:

  • - Reconhecimento: nesta categoria, englobam-se os comentários que apresentaram formas de reconhecer a trajetória profissional e/ou pessoal de Daniel Dias durante todo seu processo de evolução e dificuldades enfrentadas. Ainda, aqueles que denotavam um sentido de enaltecer, tais como maior, gigante etc., foram incluídos nessa classificação.

  • - Inspiração: aqui reunimos os comentários de fãs, amigos, admiradores, entre outros que se orgulham, inspiram-se e admiram a história de vida, conquistas e carreira de Daniel Dias

  • - Emoções: classificamos para esse grupo todos os comentários que expressavam algum tipo de emoção relacionada à vida do atleta, tais como gratidão pelo belo exemplo de dedicação ao esporte, agradecimento por diversas conquistas, dentre elas representar tão bem o Brasil e, ainda, aqueles que expressavam comoção e saudosismo.

  • - Fé e Prosperidade: agrupamos aqui os comentários que apresentavam alguma relação com a fé, como as bênçãos oferecidas à vida de Daniel Dias, sua carreira e sua família, ou alguma manifestação de crença, além daquelas que desejavam felicitações e faziam projeções para os JP de Tóquio.

Tabela 3
Indicadores e quantidade de comentários

Embora tenhamos classificado os comentários, enfatizamos que esse exercício foi apenas uma forma de facilitar nossa leitura e interpretação dos discursos apresentados, dado que esses indicadores são muito próximos e por vezes apresentam elementos em comum. Não encontramos nenhum comentário negativo, de demérito ou desvalia do atleta, blindando-o de qualquer crítica nesse ínterim.

Por último, cabe explicitar os contornos éticos da pesquisa com base em Elm (2008)ELM, Malin Sveningsson. How do various notions of privacy influence decisions in qualitative internet research? In: MARKHAM, Annette N.; BAYM, Nancy K. (org.). Internet inquiry: conversations about method. Los Angeles: Sage, 2008. p. 69-87.. No capítulo How do various notions of privacy influence decisions in qualitative internet research?, a autora aponta os conflitos éticos que irrompem no cenário da cibercultura, sendo o principal deles aquele relativo à noção de público e privado, isto é, o que pode ou não ser divulgado. Elm (2008)ELM, Malin Sveningsson. How do various notions of privacy influence decisions in qualitative internet research? In: MARKHAM, Annette N.; BAYM, Nancy K. (org.). Internet inquiry: conversations about method. Los Angeles: Sage, 2008. p. 69-87. explica que o cenário da tela virtual pode ser dividido em quatro eixos, a saber: 1) público: que está aberto e disponível a todos, e qualquer pessoa com acesso à internet pode acessar essas informações; 2) semipúblico: está acessível à maior parte do público, necessitando de uma autorização prévia e/ou cadastro/registro na plataforma. A maior parte das redes sociais se enquadra neste aspecto; 3) semiprivado: acessível a poucas pessoas. Requer autorização prévia e/ou cadastro/registro na plataforma, além de ser membro interno da entidade que criou e/ou gerencia a plataforma; e 4) privado: fechado ou indisponível para a maior parte das pessoas, de acesso restrito ao criador ou gerenciador que autoriza/convida membros para entrada no ambiente (ELM, 2008ELM, Malin Sveningsson. How do various notions of privacy influence decisions in qualitative internet research? In: MARKHAM, Annette N.; BAYM, Nancy K. (org.). Internet inquiry: conversations about method. Los Angeles: Sage, 2008. p. 69-87.).

A autora reconhece que esses ambientes e estratificações são conflitantes e questionáveis, porém vê de forma mais branda a divulgação de informações do primeiro eixo, nominado de público. Ao transportarmos essa noção para nosso universo de pesquisa, identificamos que a página no Instagram de Daniel é pública, isto é, qualquer pessoa com acesso à internet pode acessá-la e encontrar as informações que obtivemos.

Daí irrompe a questão apontada por Elm (2008ELM, Malin Sveningsson. How do various notions of privacy influence decisions in qualitative internet research? In: MARKHAM, Annette N.; BAYM, Nancy K. (org.). Internet inquiry: conversations about method. Los Angeles: Sage, 2008. p. 69-87., p. 76, tradução nossa9 9 Texto original: Researchers may instead focus on a slightly different question about their ethical path: Is the environment public enough for us to study it without getting informed consent? Of the four different positions listed above, the first one is clearly public enough to study without informed consent. Hence, we can study individuals’ and organizations’ web sites, online newspapers, and web shops without informing the users (although it may of course still be considered good manners to do so). ): “o ambiente é público o suficiente para que possamos estudá-lo sem obter consentimento informado?”. A partir dessa reflexão, a autora continua:

Das quatro posições diferentes listadas acima, a primeira é claramente pública o suficiente para estudar sem consentimento informado. Assim, podemos estudar sites de indivíduos e organizações, jornais online e lojas virtuais sem informar os usuários (embora, é claro, ainda possa ser considerado uma boa maneira fazê-lo).

Cientes de que o material não reproduz discurso de ódio e não incita a violência, pelo contrário, reconhece, admira, abençoa e felicita Daniel pelos feitos na carreira, acreditamos não haver nenhum conflito em publicizar os comentários com a identificação de seus usuários, já que, como mencionado, e com base em Elm (2008)ELM, Malin Sveningsson. How do various notions of privacy influence decisions in qualitative internet research? In: MARKHAM, Annette N.; BAYM, Nancy K. (org.). Internet inquiry: conversations about method. Los Angeles: Sage, 2008. p. 69-87., tais dados se configuram como públicos e de fácil acesso a qualquer usuário conectado à internet, não oferecendo quaisquer outros riscos aos autores dos discursos para além da exposição já promovida por eles mesmos na postagem.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 RECONHECIMENTO

Na categoria de reconhecimento, percebemos que nos comentários exacerbou-se o capital social conferido ao atleta em reconhecê-lo como ídolo nacional. Bourdieu (2007)BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007. explica que o capital se materializa a partir da conquista do objeto simbólico de valor, que aqui se traduz em medalhas e troféus conquistados pelo paratleta como representante do Brasil. Os escritos produzidos pelos seguidores do atleta reconheceram em Daniel uma potência esportiva brasileira e mundial a partir de seu desempenho histórico, como, por exemplo, na Figura 1, “obrigado por tudo que fez no esporte paraolímpico e pelo Brasil”; e Figura 2, “orgulho para o esporte mundial”.

Figura 1

Figura 2

Além de o reconhecerem como atleta nacional e mundial, os comentários dos usuários carregavam uma narrativa de reconhecimento de quem muito se dedicou para colher os resultados que o nadador obteve em toda sua trajetória, como, por exemplo, na Figura 3, em que a usuária comenta que “Sua trajetória foi um sucesso incrível”, reconhecendo-o como uma pessoa de boa índole ao afirmar que o atleta é “exemplo de pessoa”.

Figura 3

O reconhecimento sobre Daniel Dias expresso nos comentários denotam a ideia de ídolo, em que o atleta se torna símbolo a ser adorado por uma nação, povo, grupo. Esta personificação de um atleta à ideia de ídolo no campo da Educação Física e mídia tem sido compreendida como uma estratégia de construção de identidades que perpassa pela criação de vínculos entre o atleta e o público, através de uma relação de mercadorização do esporte (MEZZAROBA; PIRES, 2010MEZZAROBA, Cristiano; PIRES, Giovani de Lorenzi. O agendamento midiático-esportivo: considerações a partir dos Jogos Pan-Americanos Rio/2007. Logos, v. 17, n. 2, p. 124-136, set. 2010. DOI: https://doi.org/10.12957/logos.2010.864
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; SILVEIRA et al., 2015SILVEIRA, Juliano et al. A conquista de Arthur Zanetti e as estratégias da mídia esportiva: um exercício com a teoria do enquadramento. In: PIRES, Giovani de Lorenzi. LISBÔA, Mariana Mendonça. Quem será mais Brasil em Londres/2012?: enquadramentos no telejornalismo esportivo dos Jogos Olímpicos. Florianópolis, Tribo da Ilha, 2015. p. 73-90.). Percebe-se também uma característica processual em que para tornar-se um ídolo é necessário carisma, engajamento no trabalho, conduta moral e conquistas (CAVALCANTI; CAPRARO, 2013CAVALCANTI, Everton de Albuquerque; CAPRARO, André Mendes. A mídia e o ídolo Ronaldo: analisando as matérias da folha online (2002-2009). Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 35, n. 3, p. 741-755, jul./set. 2013. DOI: https://doi.org/10.1590/S0101-32892013000300015
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).

Especificamente na literatura sobre o esporte paraolímpico, este conceito pode ser visto como um meio de identificação que está intricado a diferentes fatores. Entre os já elencados pela literatura estão os discursos nacionalistas (BRUCE, 2014BRUCE, Toni. Us and them: the influence of discourses of nationalism on media coverage of the Paralympics. Disability & Society, v. 29, n. 9, p. 1443-1459, 2014. DOI: https://doi.org/10.1080/09687599.2013.816624
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; SANTOS et al., 2018aSANTOS, Silvan Menezes dos et al. Esportividade, melancolia, nacionalismo e deficiência: a cobertura fotográfica dos Jogos Paralímpicos pelas lentes da Folha de São Paulo (1992-2016). Motrivivência, v. 30, n. 56, p. 76-99, nov. 2018a. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2018v30n56p76
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; FERMINO et al., 2018FERMINO, Antonio Luis et al. Os Jogos Paralímpicos Rio/2016 na convergência digital: o discurso midiático-esportivo, como identidades culturais e o sentimento paraolímpico. In: PEREIRA, Rogério Santos; FIAMONCINI, Luciana; PIRES, Giovani De Lorenzi (org.). Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio/2016: mídias em convergência (?). Florianópolis: LaboMídia/UFSC, Centro da Rede CEDES/SC e Tribo da Ilha, 2018. p. 161-218.), significado que perpassa a partir das histórias e imagens que são construídas sobre a nação que implicam entre o presente e seu passado (HALL, 2006HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.). Esta característica também pode ser vista a partir da ideia de representante (GOFFMAN, 2015GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.; VELASCO et al., 2018VELASCO, Amanda Paola et al. Yes, I can: a representação das pessoas com deficiência no videoclipe "We’re the Superhumans" do Channel 4. Motrivivência, v. 30, n. 55, p. 34-57, jul. 2018.). Ou seja, aquele que é nativo de um grupo - e neste caso, das pessoas com deficiência - que se tornou um exemplo e que é digno de “recompensas públicas”, como diria Goffman (2015)GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015..

3.2 INSPIRAÇÃO

No que tange ao aspecto da inspiração, os comentários produzidos pelos usuários do Instagram relacionavam o atleta a um exemplo a ser seguido, considerando seus feitos no esporte, história e estilo de vida. Na Figura 4, lê-se “Parabéns por inspirar tantas pessoas com exemplos e atitudes [...] sua conduta e por ter escrito uma história que enche a todos de orgulho”; na Figura 5, “Tu não é só um grande atleta, tu é [e] sempre será um gigante, que nos inspirou e nos ensinou muito [...] obrigado pelos bons exemplos dentro e fora da piscina”.

Figura 4

Figura 5

A atribuição desse significado de “exemplo a ser seguido” não só parte do reconhecimento dado ao atleta no campo esportivo como também fora dele. Isto porque o atleta “[...] tem de ser capaz de assumir as condutas adequadas e esperadas de um atleta daquele nível [...] Ele tem de ser capaz de se superar para poder mostrar aos outros que eles também poderão conseguir as mesmas façanhas” (SOUSA, 2014SOUSA, Ana Isabel Castro Almeida. A experiência vivida de atletas paraolímpicos: narrativas do desporto paralímpico português. 2014. 593f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências do Desporto, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Porto, 2014., p. 465).

Semelhante aos comentários anteriores, o exemplo trazido na Figura 6 destaca não só a trajetória do atleta, como também ressalta que Daniel é uma inspiração para as pessoas com deficiência quando o usuário afirma que “você é um exemplo de motivação para nós deficientes físicos”.

Figura 6

Como já apontado pela literatura (SOUSA, 2014SOUSA, Ana Isabel Castro Almeida. A experiência vivida de atletas paraolímpicos: narrativas do desporto paralímpico português. 2014. 593f. Tese (Doutorado) - Curso de Ciências do Desporto, Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Porto, 2014.), esta identificação de um atleta paraolímpico como símbolo de inspiração pode contribuir para que outras pessoas e atletas com deficiência sintam-se influenciados a seguirem seus caminhos e alcançarem um status semelhante de reconhecimento. Ainda nesse sentido, o trabalho de Souza, Marques e Fermino (2020)SOUZA, Doralice Lange de; MARQUES, Augusto Moreira; FERMINO, Antonio Luis. Jogos Paralímpicos: a experiência com "o outro" através das telas. Journal of Physical Education, v. 31, n. 1, p. 1-9, ago. 2020. DOI: https://doi.org/10.4025/jphyseduc.v31i1.3170
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aponta que o contato direto - de convivência cotidianamente com uma pessoa ou atleta com deficiência - ou o contato indireto - como nosso caso, virtual - pode servir como um meio para a diminuição de preconceitos. Ou seja, é importante compreender aqui que junto ao conceito de inspiração está atrelado o reconhecimento das potencialidades do outro. Além disso, cabe mencionar que Daniel em seu vídeo afirma que deseja inspirar as pessoas:

[...] estou à frente do Instituto Daniel Dias e quero me dedicar ainda mais para transformar vidas através dessa ferramenta linda e faço as minhas palestras, clínicas de natação, e vejo que essa maneira, é uma maneira que eu posso ajudar o próximo, posso ajudar a inspirar as pessoas e fazer a diferença na vida do próximo. (DIÁRIO DE TRANSCRIÇÃO, 2021)

Apesar desses exemplos apresentados aqui, seja pelos dados coletados, do relato de Daniel, como também da literatura, é importante mencionar que, para alguns autores (HARDIN; HARDIN, 2004HARDIN, Marie Myers; HARDIN, Brent. The ‘supercrip’ in sport media: wheelchair athletes discuss hegemony’s disabled hero. SOSOL: Sociology of Sport Online, v. 7, n. 1, p. 1-14, 2004. Disponível em: https://www.cabdirect.org/cabdirect/abstract/20053024129 . Acesso em: 16 ago. 2022.
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; HOWE; JONES, 2006HOWE, P. David; JONES, Carwyn. Classification of disabled athletes: (Dis)empowering the paralympic practice community. Sociology of Sport Journal, v. 23, n. 1, p. 29-46, 2006. DOI: https://doi.org/10.1123/ssj.23.1.29
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; SILVA; HOWE, 2012; POFFO et al., 2017POFFO, Bianca Natália et al. Mídia e jogos paralímpicos no Brasil: investigando estigmas na cobertura jornalística da Folha de S. Paulo. Movimento, v. 23, n. 4, p.1353-1366, out./dez. 2017. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.67945
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), essa narrativa de “inspiração” deve ser vista de maneira cuidadosa a fim de evitar possíveis construções identitárias sobre os atletas paraolímpicos e pessoas com deficiência estereotipadas. Isto porque, a ideia de inspiração está amplamente atrelada ao conceito de supercrip ou super-herói, como tem sido traduzido na literatura nacional. De acordo com Silva e Howe (2012SILVA, Carla Filomena; HOWE, P. David. The (in)validity of supercrip representation of paralympian athletes. Journal of Sport and Social Issues, v. 36, n. 2, p. 174-194, jan. 2012. DOI: https://doi.org/10.1177/0193723511433865
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, tradução nossa), “as narrativas supercrip podem ser consideradas uma expressão da expectativa de baixo nível da sociedade sobre as pessoas com deficiência, o que, em última análise, perpetua a compreensão de sua existência como um ‘problema’”10 10 Texto original: “supercrip narratives can be considered to be an expression of society’s low-level expectation placed upon people with disability, which ultimately perpetuates the understanding of their existence as a problem”. (p. 175). Afirmam ainda que os discursos sobre deficiência alcançam uma característica de “súper” pois, partem da ideia de que as pessoas podem realizar uma atividade, como no caso de um esporte, “apesar” de sua deficiência11 11 É importante mencionar que a literatura tem utilizado o conceito de capacitismo e/ou ableism. Para uma leitura detalhada sugerimos as leituras de Wolbring (2008) e Coakley (2009). .

3.3 EMOÇÕES

Amplificando essas sensações, adentramos no terceiro indicador, “emoções”, em que pudemos perceber que o reconhecimento e a admiração pelo trabalho do atleta, especialmente por representar o Brasil, exacerbou o ideal nacionalista de uma identidade e de um grupo, como, por exemplo, no comentário apresentado na Figura 7, em que o usuário agradece Daniel Dias pela “alegria”, “empenho”, “amor” ao esporte e complementa “[...] e patriotismo que teve ao levar nossa bandeira brasileira ao mundo todo”. A noção de um grupo unido por um ideal, neste caso o patriotismo ao Brasil, fez com que vários internautas também apresentassem escritos tomados por emoções afetivas e/ou de paixão pelo atleta, tais como choro, alegria e afeto, por exemplo (Figura 8). Pelo histórico vitorioso, o atleta já possui e reverbera (também sob a ótica emocional) significativo capital social no seio esportivo:

Figura 7

Figura 8

Santos et al. (2018b)SANTOS, Silvan Menezes dos et al. “Twittando” sobre os Jogos Paraolímpicos Rio/2016: uma análise do sentimento paralímpico sob o ponto de vista de internautas. Brazilian Journal of Education, Technology and Society (BRAJETS) - Especial Section, “Disability, Education, Technology and Sport”, v. 11, n. 1, p. 117-135, jan./mar. 2018b. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/240471/5.pdf?sequence=1 Acesso em: 29 out. 2022.
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, com base no trabalho de Pires (2002)PIRES, Giovani de Lorenzi. A educação física e o discurso midiático: abordagem crítico-emancipatória. Ijuí: UNIJUÍ, 2002. e Betti (2001)BETTI, Mauro. Esporte na mídia ou esporte da mídia? Motrivivência, n. 17, p 1-3, 2001., afirmam que a compreensão do aspecto emotivo sobre o esporte corresponde a uma característica histórica do discurso esportivo. Isto porque os aspectos simbólicos afetivos presentes nas narrativas, como a dramatização da notícia, a ideia de superação, a trilha sonora, os enquadramentos selecionados, entre outros elementos, fazem parte do espetáculo esportivo.

A lógica do capital social opera para que as representações emotivas sobre Daniel ilustrem elementos importantes e valorizados pela sociedade brasileira de modo geral. Para Bourdieu (1986BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1986.; 1989BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1989.; 2007), a maneira como nos colocamos no mundo guia-se pela lógica do pertencimento social. Sendo assim, o sujeito, em sua individualidade, torna-se coletivo ao socializar-se, deflagrando uma relação intrínseca sobre representações coletivas importantes que são materializadas através de sua ação enquanto sujeito único. Essa noção é importante por subsidiar o conceito de habitus, que se traduz na disposição das práticas corporais coletivas dentro de um contexto social que tenha relevância, sentido e significado para dada comunidade. A partir do habitus, o sujeito então constrói seu próprio capital, que reconhece e confere legitimidade para suas ações e posturas no meio em está inserido.

Esse capital reverbera e se transforma do corpo para o social. Conforme explica Bourdieu (1986)BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1986., as valorações sociais materializadas através de representações físicas, sendo os atletas um meio do campo esportivo para essa materialização, contribuem para ditar regras de conduta e comportamento. Por isso, podemos perceber vários aspectos sobre emoções e, a seguir, sobre a fé e desejo de prosperidade das pessoas em relação a Daniel pois, a partir desse habitus, se materializou seu próprio status, de grande valia e estima nos comentários.

3.4 FÉ E PROSPERIDADE

A relação entre esporte e religião tem sido discutida na literatura no intuito de entender sobre a reza que acontece nos vestiário antes dos jogos, denominada de “fechamento” (PETROGNANI, 2019PETROGNANI, Claude. Religião e futebol no Brasil: análise do "fechamento". Civitas - Revista de Ciências Sociais, v. 19, n. 1. p. 247-260, jan./abr. 2019. DOI: https://doi.org/10.15448/1984-7289.2019.1.27424
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), sobre o papel do esporte midiatizado na constituição da identidade de Atletas de Cristo/ADC (ZÜGE, 2020ZÜGE, João Guilherme. Religião e esporte midiatizado: o caso de Atletas de Cristo no Brasil (1994-1998). Epígrafe, v. 8, n. 8, p. 173-196, 2020. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2318-8855.v8i8p174-197
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), na compreensão histórica dos ADC (AGUIAR, 2011AGUIAR, Reinaldo Olécio. Deus é mais: a supremacia da fé evangélica na ótica dos atletas de cristo. Revista Brasileira de História das Religiões, v. 3, n. 9, p. 229-252, jan. 2011.), a relação esporte e religião na formação de sujeitos (SILVA, 2019SILVA, José Carlos da. Religião e esporte: contextualizando igreja, missão e sociedade. Unitas - Revista Eletrônica de Teologia e Ciências das Religiões, v. 7, n. 1, p. 63-85, mai. 2019. Disponível em: https://revista.fuv.edu.br/index.php/unitas/article/view/929 Acesso em: 29 out. 2022.
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), a importância da religião no cotidiano de jogadores de futebol brasileiros que vivem no exterior (RIAL, 2012RIAL, Carmen. Banal religiosity: Brazilian athletes as new missionaries of the neo-Pentecostal diaspora. Vibrant: Virtual Brazilian Anthropology, v. 9, n. 2, p. 128-159, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S1809-43412012000200005
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), ou a relação entre esporte, religião e empreendedorismo (SALUSTIANO, 2016SALUSTIANO, Anna Maria. Esporte e empreendedorismo na Bola de Neve Church. In: COMUNICON 2016, 6., 2016, São Paulo. Anais [...]. PPGCOM ESPM, 2016. p. 1-15. Disponível em: http://anais-comunicon2016.espm.br/GTs/GTPOS/GT1/GT01-ANNA_LIMA.pdf. Acesso em: 10 ago. 2022.
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). Para além da literatura, ao acompanharmos uma competição pelos diferentes meios de comunicação, é comum nos depararmos com símbolos religiosos estampados em camisetas, faixas, objetos, estatuetas em miniaturas de personalidades sacras, ou nas comemorações de atletas e público que remetem agradecimentos a uma divindade, além de gestos específicos, como, por exemplo, “sinal da cruz” na entrada em “campo”, demonstrando que em diferentes momentos, expressões e significados de fé e religiosidade são observados no mundo esportivo.

No nosso caso especificamente, esse aspecto também foi observado em 131 comentários coletados, como também no vídeo de despedida de Daniel Dias. Neste, o atleta agradece a Deus pela sua trajetória no esporte, por considerar que o saber nadar é parte de um dom divino, pelo apoio familiar e ao desejar bênçãos ao seu público:

[...] se eu fosse escrever tudo que eu conquistei [...] eu jamais ia colocar nas palavras e dentro dessa carta, se eu fosse ler essa carta hoje, não seria tão perfeito como foi. Eu só tenho que agradecer, agradecer a Deus e agradecer a natação.

Eu agradeço a Deus, pelo dom que me deu é, eu até digo que quando eu comecei a nadar com dezesseis anos, ali eu descobri o dom que Deus tinha me dado, e estou apenas lapidando isso até hoje [...]

[...] agradecer a meus pais pelo apoio [...] Quando eu quis fazer a natação, eu tive o apoio cento e dez por cento de vocês. Eu sou muito grato a Deus pela vida de vocês.

[...] que Deus possa abençoar a vida de cada um de vocês [...] (DIÁRIO DE TRANSCRIÇÃO, 2021).

Entre os comentários realizados pelos usuários, é possível identificarmos mensagens que desejam bênçãos ao atleta, como apresentado nas figuras 9 e 10, ou como na Figura 11 que, além da benção, define novamente o atleta como um exemplo a ser seguido.

Figura 9

Figura 10

Figura 11

Outros comentários, além de darem bênçãos e agradecerem o atleta pelas suas conquistas, o parabenizavam, desejavam vitórias em sua participação nos JP de Tóquio e em sua próxima jornada após se aposentar dos esportes aquáticos, como exemplificado nas figuras 12, 13, 14 e 15.

Figura 12

Figura 13

Figura 14

Figura 15

A população brasileira apresenta religiosidades múltiplas, mas que se aproximam pelo caráter de bem comum e atitudes de moral e ética que contribuem para se atingir essa aspiração. Ao observarem e compreenderem a trajetória de Daniel, os internautas estabelecem aproximações da trajetória de vida do atleta frente às adversidades pessoais que ele encontrou em seu caminho pessoal e profissional e tomam essas representações como genuínas e legitimadoras do caminho de fé e retidão moral do corpo e espírito para com determinada prática (no caso dele, a natação). Assim, não fica difícil perceber como muitos dos comentários agraciam Daniel com palavras de fé, crenças e/ou bênçãos, já que sua trajetória “impecável” o consagrou a este estado de ídolo pelo seu próprio capital social, o que o tornaria merecedor de graças e prosperidade. O reconhecimento de Daniel como exemplo e ídolo do esporte paraolímpico brasileiro circunscreve em seu corpo não apenas sua história, mas também relatos de vida do povo brasileiro que, mesmo diante várias dificuldades, consegue subvertê-las em suas práticas sociais através da potência da resiliência, aspecto que criou o elemento de identidade dos fãs e internautas para com Daniel. Possivelmente por se visualizarem no atleta, percebem que seus ideais de vida, incluindo aí os aspectos morais e éticos do corpo e espírito, confirmam o legado da luta, conquista e perseverança como elementos de uma trajetória de vida de sucesso.

Nessa representação valorizada, podemos destacar um esquema de poder simbólico oriundo da representação da história de Daniel que é acionado para recomendar os passos para esses momentos de prosperidade, no que Bourdieu (1989)BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 1989. reconhece como um elemento de dominação simbólica frente às atitudes da população em conexão com a submissão social a esta perspectiva. Como discutimos, o estilo de vida de determinação e exemplo para os outros constituem-se pelo habitus atlético e se torna um capital social coletivo a ser almejado. Daniel seria, portanto, merecedor de bons resultados nos Jogos de Tóquio e em suas futuras ações pós-aposentadoria, que tornaram e se tornariam um legado de exemplo, superação e representação nacional, elementos identificados nos comentários classificados como “prosperidade”.

Em linhas gerais, é importante perceber que a trajetória do atleta até o anúncio de sua aposentadoria é legítima e importante para os internautas, mas não deveria ser o único elemento a consagrá-lo ou ilustrar os próximos passos para paratletas brasileiros.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao procurarmos analisar os sentidos produzidos pelos sujeitos sociais após o anúncio da aposentadoria de Daniel Dias, percebemos que os significados produzidos pelo público: 1) reconhecem em Daniel toda sua trajetória de vida pessoal e/ou atlética, enaltecendo seu engajamento nas práticas esportivas; 2) demonstram admiração pela sua história; 3) expressam sentimentos saudosos, de amor e gratidão ao paratleta; e 4) agradecem-no pela sua postura e exemplo de vida dentro e fora das piscinas, desejando bençãos e palavras de proteção, além de parabenizá-lo pela retidão moral e ética de sua trajetória. Em linhas gerais, condecoram-no como ídolo brasileiro e exemplo a ser seguido para um percurso de sucesso.

Fica evidente como o entendimento dos agentes sociais contribui para a constituição de uma realidade diversa, que caminha desde o reconhecimento e admiração para com o paratleta até a tempestuosa “virtude” de Daniel em ser “duplamente vencedor”, já que em alguns momentos percebem-se falas que condicionam um discurso voltado às ideias de um supercrip, isto é, que venceu não apenas a competição atlética, mas também a deficiência física, que o colocaria num lugar de destaque versus uma sub-representação social.

Além desses significados aqui encontrados a partir dos discursos analisados em tela, há outras possibilidades de interpretação, como, por exemplo, o impacto da aposentadoria na vida do atleta, uma vez que o término de uma atividade exercida durante longos anos pode ser definida como algo complexo (NAKATA, 2014NAKATA, Lina Eiko. A transição de carreira do ex-atleta de alto rendimento. 2014. 227f. Tese (Doutorado em Administração) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.). Isto porque existem diferentes fatores - sociais, pessoais, físicos e econômicos - que correspondem à atividade que vinha sendo praticada e que a partir de um determinado momento será interrompida. Por fim, torna-se importante a necessidade de realização de outros estudos que explorem o campo do esporte paraolímpico considerando a análise da opinião do público/internauta para que se possa ampliar os sentidos atribuídos ao universo de valores que se fazem sobre essas competições e as representações de paratletas junto às sociedades atuais.

  • 1
    Ao longo do trabalho utilizaremos o termo paraolímpico de acordo com as normas gramaticais da língua portuguesa, uma vez que, é incorreto omitir a letra inicial do sufixo na junção de duas palavras. O termo “paralímpico” aparecerá quando for citação direta de documentos, textos e/ou quando nos referirmos aos Jogos.
  • 2
    O prêmio é concedido todos os anos aos melhores esportistas durante o ano anterior da premiação.
  • 3
    Informações retiradas do site do Instituto Daniel Dias. Disponível em: https://institutodanieldias.org.br/o-instituto-daniel-dias.
  • 4
    Informações consultadas no dia 9 de julho de 2021.
  • 5
  • 6
    Nakata (2014)NAKATA, Lina Eiko. A transição de carreira do ex-atleta de alto rendimento. 2014. 227f. Tese (Doutorado em Administração) - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. aponta que os projetos sociais esportivos funcionam como uma porta de entrada para praticantes de esportes poderem se profissionalizar, o que justifica muitas vezes esse forte engajamento de atletas em vias de se aposentar com a criação/manutenção/apoio de projetos sociais esportivos. Para mais informações, recomendamos a leitura da autora.
  • 7
    O uso da expressão encontra amparo em Bourdieu (2007)BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp, 2007., que entende os sujeitos como produtores ativos de uma realidade material e simbólica a partir de um jogo de ideias de valores, importância e significados múltiplos em constante reformulação. Ao longo do texto ampliaremos essa ideia com base no autor.
  • 8
    Entendemos que os emojis também se constituem como um discurso, já que expressam uma linguagem de imagens que simula reações de quem a enuncia. Todavia, para este momento, optamos metodologicamente por retirá-los da análise e nos concentrarmos no discurso escrito dos internautas.
  • 9
    Texto original: Researchers may instead focus on a slightly different question about their ethical path: Is the environment public enough for us to study it without getting informed consent? Of the four different positions listed above, the first one is clearly public enough to study without informed consent. Hence, we can study individuals’ and organizations’ web sites, online newspapers, and web shops without informing the users (although it may of course still be considered good manners to do so).
  • 10
    Texto original: “supercrip narratives can be considered to be an expression of society’s low-level expectation placed upon people with disability, which ultimately perpetuates the understanding of their existence as a problem”.
  • 11
    É importante mencionar que a literatura tem utilizado o conceito de capacitismo e/ou ableism. Para uma leitura detalhada sugerimos as leituras de Wolbring (2008)WOLBRING, Gregor. The politics of ableism. Development, v. 51, n. 2, p. 252-258, jun. 2008. DOI: https://doi.org/10.1057/dev.2008.17
    https://doi.org/10.1057/dev.2008.17...
    e Coakley (2009)COAKLEY, Jay. Age and ability: barriers to participation and inclusion? In: Sports in Society: issues and controversies. 11. ed. New York: Mc Graw Hill Education, 2009. p. 302-349..

TRANSCRIÇÕES

DIÁRIO DE TRANSCRIÇÕES. Transcrição do vídeo de aposentadoria de Daniel Dias postado em sua página do Instagram. 2021.

  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado sem o apoio de fontes financiadoras.

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga*, Elisandro Schultz Wittizorecki*, Mauro Myskiw*, Raquel da Silveira*

*Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Fev 2023
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    25 Ago 2021
  • Aceito
    26 Out 2022
  • Publicado
    30 Nov 2022
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