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“LONGE, MAS JUNTOS”: EXPERIÊNCIAS VIVIDAS EM UM FESTIVAL DE GINÁSTICA PARA TODOS EM TEMPOS DE PANDEMIA

“APART, BUT TOGETHER”: LIVED EXPERIENCES ON A GYMNASTIC FOR ALL FESTIVAL DURING PANDEMIC TIMES

“LEJOS, PERO JUNTOS”: EXPERIENCIAS VIVIDAS DE UN FESTIVAL DE GIMNASIA PARA TODOS EN TIEMPOS DE PANDEMIA

Resumo

A pandemia de covid-19 vem instituindo mudanças em diferentes âmbitos da sociedade no mundo. No esporte, para além dos treinos rotineiros, uma importante esfera sofreu impactos neste período, a dos eventos. Pautado na teoria fenomenológica de Merleau-Ponty, o objetivo deste estudo foi descrever experiências vividas em um festival de Ginástica para Todos realizado de maneira remota. Aderimos à análise fenomenológica na triangulação de dados documentais, diários de campo e grupos focais com ginastas participantes que suscitaram em duas temáticas: a) “Distantes, mas juntos” e b) “O modus operandi da virtualidade”. Ainda que remoto, a percepção da experiência elencou sentimentos e sensações típicas do fazer-esportivo e sua estima aos eventos, como a atitude estética intrínseca à ginástica, busca de (auto) superação, reconhecimento e pertencimento social.

Palavras-chave:
Ginástica; Educação Física e Treinamento; Covid-19; Pesquisa Qualitativa.

Abstract

Covid-19 pandemic has brought changes in different spheres of the society around the world. In sport, besides the training routine, an important aspect was impacted during this period, sports events. Based on the phenomenological theory of Merleau-Ponty, the aim of this study was to describe lived experiences in a Gymnastics for All festival, held remotely. We adhere to the phenomenological analysis using triangulation of documentary data, field notes and focus groups within gymnasts that raised two themes: a) Apart, but together and b) Virtuality “modus operandi”. Although remote, the perception of the experience listed typical feelings and sensations of sports and the value of events, such as the aesthetic attitude, the search for (self) overcoming, recognition and social belonging.

Keywords:
Gymnastics; Physical Education and Training; Covid-19; Qualitative Research.

Resumen

La pandemia de covid-19 instituido cambios en diversos ámbitos de la sociedad en todo el mundo. En el deporte, más allá de los entrenamientos rutinarios, una importante esfera ha sufrido impactos en este periodo, la de los eventos. Basado en la teoría fenomenológica de Merleau-Ponty, el objetivo de este estudio es describir las experiencias vividas en un festival de Gimnasia para Todos realizado en forma remota. Adherimos al análisis fenomenológico en la triangulación de datos documentales, diarios de campo y grupos focales con gimnastas participantes alrededor de dos temas: a) “Distantes, pero juntos”; b) “El modus operandi de la virtualidad”. Aunque remota, la percepción de la experiencia recogía sentimientos y sensaciones típicas del quehacer deportivo y una valoración positiva de los eventos, así como la actitud estética intrínseca a la gimnasia,la búsqueda de la (auto) superación, el reconocimiento y la pertenencia social.

Palabras clave:
Gimnasia; Educación Física y Entrenamiento; Covid-19; Investigación Cualitativa.

1 INTRODUÇÃO

Os eventos na esfera do esporte aludem às práticas esportivas um outro patamar. Com diferentes cenários - festival, torneio, copa, competição (GETZ; PAGE, 2012GETZ, Donald; PAGE, Stephen. Event studies: theory, research and policy for planned events. London: Routledge, 2012.), os eventos esportivos têm sido alvo nas pesquisas sobre formação esportiva do atleta (CÔTÉ; STRACHAN; FRASER-THOMAS, 2008CÔTÉ, Jean; STRACHAN, Leisha; FRASER-THOMAS, Jessica. Participation, personal development, and performance through youth sport. In: HOLT, N. L. (ed) Positive youth development through sport. Londres: Routledge, 2008.), relações entre sociedade e sentimento de comunidade (WICHMANN, 2015WICHMANN, Angela. Participating in the World Gymnaestrada: an expression and experience of community. Leisure Studies, v. 36, n. 1, p. 21-38, 2015. DOI: 10.1080/02614367.2015.1052836
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; 2020WICHMANN, Angela. From everday life into the liminoid and back again. In: LAMOND, Ian R; MOSS, Jonathan. Liminality and critical event studies - borders, boundaries, and contestation. Palgrave Macmillian, 2020. DOI: 10.1007/978-3-030-40256-3
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), inferências da gestão e política (MASCARENHAS, 2016MASCARENHAS, Fernando. O orçamento do esporte: aspectos da atuação estatal de FHC à Dilma. Revista Brasileira Educação Física e Esporte, v. 30, n. 4, p. 963-980, out./dez., 2016. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1807-55092016000400963
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; MAZZEI et al., 2020MAZZEI, Leandro; COSTA, Laura Carraro; FERREIRA, Sofia Camanho; GAIO, Luiz Eduardo. Tradução e validação da escala “Orientation Toward a Sporting Event” (OSE) e sua utilização para a paralisação e segurança de eventos esportivos em meio a pandemia covid-19. Conexões, v. 18, p. 1-20, 2020. DOI: https://doi.org/10.20396/conex.v18i0.8659906.
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), dentre outros.

As experiências suscitadas por aquele que está presente no evento, independentemente de sua função (voluntário, gestor, atleta etc.), traz à tona reflexões que direcionam profissionais em eventos esportivos diversos (CHALIP et al., 2017CHALIP, Laurence; GREEN, B. Christine; TAKS, Marijke; MISENER, Laura. Creating sport participation from sport events: making it happen. International Journal of Sport Policy and Politics, v. 9, n. 2, p. 257-276, 2017. DOI: 10.1080/19406940.2016.1257496
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; GETZ; PAGE, 2012GETZ, Donald; PAGE, Stephen. Event studies: theory, research and policy for planned events. London: Routledge, 2012.; KAPLANIDOU; VOGT, 2010KAPLANIDOU, Kyriaki; VOGT, Christine. The meaning and measurement of a sport event experience among active sport tourists. Journal of Sport Management, v. 24, n. 5, p. 544-566, Sept., 2010. DOI:10.1123/JSM.24.5.544
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; CHALIP, 2006CHALIP, Laurence. Towards social leverage of sport events. Journal of Sport & Tourism, v. 11, n. 2, p. 109-127, 2006. DOI: 10.1080/14775080601155126
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). Dessa forma, sob a luz da fenomenologia, pesquisas têm evidenciado sutilezas da experiência vivida em diversos eventos (MOSS; WHALLEY; ELSMORE, 2020MOSS, Jonathan; WHALLEY, Peter A.; ELSMORE, Ian. Phenomenological psychology & descriptive experience sampling: a new approach to exploring music festival experience. Journal of Policy Research in Tourism, Leisure and Events, v. 12, n. 3, p. 382-400, 2020. DOI: 10.1080/19407963.2019.1702627
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; ZIAKAS; BOUKAS, 2014ZIAKAS, Vassilios; BOUKAS, Nikolaos. Post-event leverage and olympic legacy: a strategic framework for the development of sport and cultural tourism in post-Olympic Athens. Athens Journal of Sports, v.1, n. 2, p. 87-101, 2014. DOI:https://doi.org/10.30958/ajspo.1-2-2
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) que permitem reflexões pertinentes acerca de sua importância na área esportiva.

O conceito “esporte” vem sendo pauta de diversas discussões no âmbito acadêmico-científico e, ainda que alguns autores nacionais tenham o classificado por objetivos (competição ou participação, por exemplo) (BRACHT, 1996BRACHT, Valter. Educação física no 1o grau: conhecimento e especificidade. Revista Paulista de Educação Física, sup. 2, p.v23-28, 1996. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2594-5904.rpef.1996.139640.
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; TUBINO, 2003TUBINO, Manoel José Gomes. Metodologia científica do treinamento desportivo. Rio de Janeiro, Shape, 2003.), coadunamos com as dimensões propostas pela obra de Kunz (1994)KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: UNIJUÍ, 1994., que o defende por uma “não restrição conceitual”. O autor, que, entre outras bases, transita pela fenomenologia, recomenda que o entendimento do esporte necessita ser ampliado frente à incorporação do “se movimentar”, atitude que possibilitaria outras atividades serem vistas como parte desse fenômeno e, desta forma, oportunizaríamos uma democratização, tornando-o mais praticável e menos excludente.

Neste ínterim, defendemos a Ginástica para Todos (GPT) - prática desprovida de regulamentação gestual e essencialmente participativa - como parte do fenômeno esporte, tal qual Kunz (1994)KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: UNIJUÍ, 1994. arguiu. Acreditamos, portanto, que seu cerne está no fazer gímnico plural e agregador, em que o “se movimentar” baliza as escolhas de quem a adere. Portanto, qualificamos os festivais ginásticos, como “eventos esportivos”, considerando sua abrangência no que diz respeito às características acima mencionadas.

Acometidos pelo isolamento social, reflexo da pandemia da covid-19, nos questionamos: como são percebidas as experiências nos eventos esportivos como os festivais ginásticos, realizados de maneira remota?

Nos aportamos, então, aos preceitos da fenomenologia proposta por Merleau-Ponty, mais especificamente, em sua obra Fenomenologia da Percepção (2018). Por este olhar, entendemos que o corpo é a nossa forma de ser no mundo e é por ele que nos relacionamos e apreendemos significado às coisas, compondo uma interessante perspectiva reflexiva sobre esse mundo vivido.

Deste modo, o objetivo deste estudo foi identificar a percepção das experiências vividas por ginastas de diferentes grupos de Ginástica para Todos do Brasil participantes de um festival remoto, com base na fenomenologia Merleau-Pontyana (2018). Entendemos que estudos dessa natureza são fundamentais para o desenvolvimento dos festivais esportivos, que se constituem como valorosos espaços de aprendizagem. Entretanto, para compreendê-los, é importante evidenciar o sentido da experiência por quem os vivencia. O trabalho também é relevante para o registro histórico e reflexivo sobre a crise sanitária mundial pela qual estamos passando.

2 DO CAMINHAR FENOMENOLÓGICO

Na perspectiva remota, diferentes eventos ginásticos foram propostos no Brasil. Nos referimos - neste artigo - ao primeiro festival ginástico on-line, pautado na Ginástica para Todos, realizado em agosto de 2020. Intitulado IX Festival GYMNUSP, o evento foi transmitido pelo YouTube® e pela plataforma Zoom® e contabilizou a apresentação de 37 coreografias em que os ginastas deveriam estar em suas casas, e também elas deveriam ser compostas por edições de vídeos, atendendo às normativas de segurança e compactuando com a não aglomeração (CARBINATTO; EHRENBERG, 2020CARBINATTO, Michele Viviene; EHRENBERG, Mônica Caldas. Festival ginástico e isolamento social: retratos de um evento on-line. Curitiba: Bagai, 2020.).

Nossas ações partiram da pesquisa documental (MARCONI; LAKATOS, 2003MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.), em que reunimos os seguintes registros sobre o evento: a) comentários dos “chats” nas duas plataformas em que o evento foi transmitido (YouTube® e Zoom®); b) histórico das conversas do grupo gestor do evento em uma rede social (WhatsApp®), formado por nove especialistas; c) avaliação do evento por participantes e/ou espectadores (n=149); d) análise pormenorizada das coreografias, edições e programas, que nos auxiliaram no descritivo dos resultados; e e) uma obra acadêmico-científica (Festival Ginástico e Isolamento Social: Retratos de um evento on-line1 1 O livro, emblemático na área sobre festivais ginásticos e o modelo remoto, foi composto por 11 capítulos, nos quais professores, coordenadores e gestores de diferentes grupos que participaram do evento aqui estudado, relataram: o processo de construção/adaptação coreográfica; treinos, encontros e ensaios nesse novo formato on-line; anseios e aflições sobre a pandemia e isolamento social, dentre outros. Para além dos aspectos particulares do evento, focamos nossa atenção na análise dos discursos sobre a experiência esportiva em si (relatos/discursos) (CARBINATTO; EHRENBERG, 2020). ) sobre o evento, que tomamos como nosso corpus, pois elencou narrativas das experiências.

Como técnica de investigação, adotamos a observação participante e o grupo focal (GF) on-line.

A observação participante é realizada em contato direto, frequente e prolongado do investigador com os atores sociais, sendo o próprio investigador considerado também instrumento de pesquisa (CORREIA, 2009CORREIA, Maria da Conceição Batista. A observação participante enquanto técnica de investigação. Pensar em Enfermagem, v. 13, n. 2, 2009. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.26/23968. Acesso em: 14 maio 2021.
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). Neste caso, duas das autoras participaram ativamente na gestão do evento, incorporando a atitude observacional durante todo o processo (três meses). A intenção foi observar as interações entre a comissão organizadora (n=9) e os participantes (n= 586), a fim de identificar relatos dos ginastas e responsáveis de grupos sobre a experiência de participar em um evento esportivo remoto. Para tal, aderimos ao diário de campo, descrevendo situações de dúvidas, de sugestões e de feedbacks que chegavam ao comitê.

O grupo focal é uma técnica que pode ser feita de maneira remota ou presencial e perpassa a ideia de ser “apenas uma entrevista”; ele permite uma interação em grupo em que os participantes possam discutir e manifestar suas opiniões sobre determinado assunto (ABREU; BALDANZA; GONDIM, 2009ABREU, Nelsio Rodrigues de; BALDANZA, Renata Francisco; GONDIM, Sônia M. Guedes. Os grupos focais on-line: das reflexões conceituais à aplicação em ambiente virtual. JISTEM- Journal of Information Systems and Technology Management (Online), São Paulo, v. 6, n. 1, p. 5-24, 2009. DOI: https://doi.org/10.4301/S1807-17752009000100001.
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). Assim, optamos pelo encontro remoto, aderindo às orientações que dizem respeito ao distanciamento social, preferindo o Google Meet® como plataforma, que concedeu, além da possibilidade auditiva, a observação das expressões (as câmeras dos participantes ficaram abertas).

Como critério de escolha dos participantes do GF, optamos por ginastas de grupos em que as coordenadoras haviam contribuído com um ou mais capítulos do livro publicado sobre o evento e que fossem de diferentes regiões do Brasil. Assim, entramos em contato com quatro coordenadoras e, após uma contextualização do presente estudo, solicitamos para que elas nos indicassem até quatro membros de seus respectivos coletivos. Totalizamos um número de nove ginastas que aceitaram participar da pesquisa.

Dividimos os participantes em duas sessões, em concordância com a teoria que indica um número de quatro a dez pessoas por GF (GUEDES-GONDIM, 2003GUEDES-GONDIM, Sonia Maria. Grupos focais como técnica de investigação qualitativa: desafios metodológicos. Paidéia, v. 12, n. 24, p. 149-161, 2003. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-863X2002000300004.
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) e, para isso, nos baseamos nas disponibilidades oferecidas por eles. Os dois GFs foram gravados em dois computadores, com a autorização dos ginastas, que serão referidos aqui por pseudônimos (Quadro 1). Todos os participantes aceitaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), o qual foi aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa da Universidade de São Paulo com o número de protocolo 92331118.9.0000.5391.

Quadro 1
Participantes das duas sessões de grupo focal

O estopim dos dois GFs foi a seguinte pergunta: “Como foi, para vocês, participar do festival ginástico remoto IX Festival Gymnusp?”. Os participantes foram respondendo e interagindo. Durante esse processo novas questões foram sendo formuladas para esclarecimentos diversos. Observamos, na mesma medida, os comportamentos, as expressões, as emoções, as convergências ou divergências dos relatos.

Aderimos à análise fenomenológica como fundamento reflexivo do conteúdo reunido, o que significou a incorporação da redução fenomenológica (SOKOLOWSKI, 2014SOKOLOWSKI, Robert. Introdução à fenomenologia. 4. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2014.). Suspendemos nossos juízos prévios em uma atitude de contemplação daquilo que é comum ao nosso meio. Como pesquisadores, ginastas e gestores, observamos o processo com exercício do distanciamento do que é natural para cada mundo-próprio. Como reflete Nóbrega (2010NÓBREGA, Terezinha Petrúcia da. Uma fenomenologia do corpo. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2010., p. 38), “o método fenomenológico é, antes de tudo, a atitude de envolvimento com o mundo da experiência vivida, com o intuito de compreendê-la”. Desta forma, a aproximação pessoal com o fenômeno aqui estudado possibilitou uma maior profundidade na compilação descritiva.

Outrossim, a confiabilidade e a validade dos dados foram permeadas pela variedade de dados coletados - documentos, observação participantes e grupos focais - apresentados de forma triangulada (GIBBS, 2009GIBBS, Graham. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Bookman, 2009.) e peer checking quando na análise dos dados (realizada pela primeira e segunda autoria desse manuscrito) (GUNAWAN, 2015GUNAWAN, Joko. Ensuring trustworthiness in qualitative research. Belitung Nursing Journal, v. 1, n. 1, p. 10-11, Dec., 2015.).

Nossa atitude reflexiva perpassou as seguintes etapas: a) leitura detalhada dos documentos em questão; b) releitura com atenção à linguagem, criando notas de campo, incluindo comentários sobre frases específicas e a maneira como os participantes se expressavam; e c) leitura direcionando os discursos e situações destacadas, para as categorias temáticas que foram relacionadas aos conceitos fenomenológicos.

Duas temáticas emergiram para reflexão: a) Distantes, mas juntos; b) O modus operandi da virtualidade.

3 DESVELANDO O FENÔMENO

3.1 “DISTANTES, MAS JUNTOS

A pandemia alterou de forma drástica as relações conosco, com o outro e com o mundo. Mudamos a maneira de interagir com os nossos semelhantes e a maneira de expressar o movimento. Para muitos, a casa se tornou o ambiente possível para o desenvolvimento do trabalho, dos estudos e das práticas corporais restritas às particularidades de cada lar. As plataformas de comunicação, mesmo com suas restrições, revelaram-se primordiais. Pela tela, novas maneiras de conexão emergiram (MILLER, 2012MILLER, Vincent. A crisis of presence: on-line culture and being in the world. Space and Polity, v. 16, n. 3, p. 265-285, 2012. DOI: https://doi.org/10.1080/13562576.2012.733568
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; OSLER, 2020OSLER, Lucy. Feeling togetherness online: a phenomenological sketch of online communal. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 19, p. 569-588, 2020. DOI:10.1007/s11097-019-09627-4
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).

Logo, o fazer ginástico teve que ser ressignificado por seus praticantes. Antes dispostos em locais amplos, com diversos materiais, observamos ginastas voltados às “amarras” do corpo-espaço: atenção voltada às competências físicas, às sutilezas de posicionamentos, às energias da resistência e potência muscular, ao ginasticar pelo possível.

Ainda que limitante, o espaço propiciou a existência do ser-ginasta que não se deteve a uma causalidade linear de movimento e as premissas dualísticas de padrões (certo e errado). A dinâmica do movimentar-se pressupôs uma circularidade das relações entre o organismo e o meio no qual, em busca do fazer corporal, diversas demandas foram ressignificadas (NÓBREGA, 2010NÓBREGA, Terezinha Petrúcia da. Uma fenomenologia do corpo. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2010.).

Neste ínterim, grupos de Ginástica para Todos (GPT) revisitam suas sessões de aulas. Adeptos de uma concepção coletiva de fazer esportivo (MENEGALDO; BORTOLETO, 2020MENEGALDO, Fernanda Raffi; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho. Ginástica para todos e coletividade: nos meandros da literatura científica. Motrivivência, v. 32, n. 61, p. 1-17, jan./mar.,2020. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8042.2020e62007
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), se viram instigados pelo festival a criarem comunidades virtuais nas quais as pessoas pudessem assumir seus destinos coletivos (OSLER, 2020OSLER, Lucy. Feeling togetherness online: a phenomenological sketch of online communal. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 19, p. 569-588, 2020. DOI:10.1007/s11097-019-09627-4
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). Respostas do formulário de avaliação do evento mostraram que a realização de encontros práticos com discussões entre os integrantes (31,5%) ou a realização de bate-papo (33,6%) para uma prática mais flexível foram incentivadas pelo evento. Este dado foi corroborado no grupo focal por Salete: “Então realmente é assim: a gente se anima, porque não quer que o grupo morra, de jeito nenhum, porque a gente gosta de estar junto e de fazer o que a gente está fazendo!”.

Mesmo com a ausência do corpo físico, a busca pelo outro, pelo estar junto se fez presente. Ainda que Osler (2020)OSLER, Lucy. Feeling togetherness online: a phenomenological sketch of online communal. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 19, p. 569-588, 2020. DOI:10.1007/s11097-019-09627-4
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revele que as interações on-line são mediadas (e consideradas desencarnadas), enquanto as interações off-line (aquelas que acontecem fora do ambiente digital) são consideradas diretas (e incorporadas), entendemos que a comunicação remota(desencarnada) ajudou a manter um senso de união com pessoas que já se conheciam, uma vez os grupos participantes do evento e, sobretudo, os que participaram do grupo focal, mantinham suas práticas de ginástica anterior à pandemia.

Osler (2020)OSLER, Lucy. Feeling togetherness online: a phenomenological sketch of online communal. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 19, p. 569-588, 2020. DOI:10.1007/s11097-019-09627-4
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nomeia esse processo de “we-experience”. Este termo é usado para capturar uma experiência em que os indivíduos envolvidos compartilham de uma experiência juntos. Identificamos o interesse pelos encontros remotos que possibilitaram a organização e ensaios para a participação no IX Festival Gymnusp, ofertando momentos de união e prazer, superação de limites e barreiras

Então, acredito que foi uma experiência boa, porque acabou oportunizando juntar pessoas que não poderiam, que não tinham oportunidade para fazer alguma prática […] a ideia que surgiu de alguma forma, é um despertar para fazer alguma coisa, então isso meio que deu um ‘up’, animou a galera também! (Carlos - grupo focal).

Merleau-Ponty (2018)MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2018. nos traz a noção do corpo/sensações na apreensão de informações, abordando o conhecimento corporificado por meio do termo “encarnado”, ou seja, o corpo ainda se encontra encarnado, mesmo no aspecto digital, pois ele se faz necessário existir para interagir com o outro que não está “momentaneamente” presente, mas que também existe (em outro lugar), assim como eu. Quando fazemos login na internet, nosso corpo não se evapora, pois ele sente o digitar das teclas, se situando no mundo, como um corpo de sentimentos (OSLER, 2020OSLER, Lucy. Feeling togetherness online: a phenomenological sketch of online communal. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 19, p. 569-588, 2020. DOI:10.1007/s11097-019-09627-4
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).

Dessa nossa relação, construímos um conhecimento que será traduzido, sentido e corporificado por cada um:

[…] quando chegou aquele festival, a gente tem uma percepção de: Ah, vamos assistir mais alguma coisa que vai ser online, mas não foi! Porque a gente estava esperando ‘a gente’ aparecer, eu estava esperando ‘eu’! Eu sei que vou aparecer ali! Eu sei que vou estar alguma hora naquele vídeo! (Alberto - grupo focal).

A compreensão dos gestos se faz pela reciprocidade entre minha intencionalidade e a intencionalidade do outro corpo-outro, “tudo se passa como se a intenção do outro habitasse meu corpo ou como se minhas intenções habitassem o seu” (MERLEAU-PONTY, 2018MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2018., p. 251). O filósofo propõe que o gesto é o indicador dos pontos sensíveis do mundo e, neste movimento, quando confirmamos o caminho gestual do outro por mim, a comunicação é contemplada. E neste ponto nos questionamos: foi possível tal comunicação se tratando do plano remoto? As notas nos diários das observações participantes indicam que sim:

Nota de Campo - observadora participante 1: Começamos a receber os vídeos elaborados pelos grupos e a emoção começa a nos afetar. Choro engasgado. Olhos úmidos. Sorriso que parece não acabar. O grupo do WhatsApp da comissão organizadora estava em festa, recebemos mensagens das outras gestoras como: ‘as coreografias estão demais’; ‘Os grupos capricharam! Uma coreografia mais linda que a outra!’; ‘Está difícil parar de assistir!’ (26/07/2020).

Nota de Campo - observadora participante 2: Acompanhando o Chat, tanto da plataforma Zoom, quanto do Youtube, percebemos um público que está apreciando e assistindo o evento, com uma interação constante: ‘Parabéns, que coreografia linda!’; ‘Ual! Estou adorando essas coreografias!’ (01/08/2020).

Intrínseco ao vislumbre do corpo e do corpo-outro está o componente estético2 2 Esportes estéticos são aqueles em que o componente estético é analisado intrínseco ao movimento. Em contrapartida, os esportes propositivos apresentam o componente estético, mas dados quantitativos prevalecem na análise, como o cronômetro, os metros da distância, o número de cestas e gols (BEST, 1988; KUPFER, 1988). , conceito defendido por Best (1988)BEST, David. The aesthetic in sport. In: MORGAN, Willian J.; MEIER, Klaus V. Philosophic inquiry in sport. Champaign, Illinois: Human Kinetics, 1988. p. 477-493. e Kupfer (1988)KUPFER, Joseph. Sport - the body electric. In: MORGAN, Willian J.; MEIER, Klaus V. Philosophic inquiry in sport. Champaign, Illinois: Human Kinetics, 1988. p. 519-522. e notado na ginástica. Para Merleau-Ponty (2018)MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2018. “a expressão estética confere a existência em si àquilo que exprime, (…) arranca os próprios signos a pessoa do ator, as cores e a tela do pintor de sua existência empírica” (p. 248).

Parece que tal componente foi efetivo. Mesmo afastados fisicamente, por meio de seus mais singelos gestos, foi possível habitar a intencionalidade do outro pelas telas e as coreografias, como parte fundamental dessa participação e como representação da expressão estética, demonstrou aquilo de mais íntimo que cada grupo estava querendo exprimir.

No entanto, as experiências proporcionadas pelos encontros digitais não extinguiram a falta e a necessidade de se estar fisicamente com o outro. Mesmo que indicassem orgulho, diálogo, superação, valorizaram-se os pequenos processos criados no modo presencial de fazer ginástica:

Então, por experiência, já participei de outras edições. Antes da pandemia, antes do online, e assim, apesar de ser um uma coisa bem fria, não é?! Que é o eu acho, que a gente experimenta muito mais coisas quando a gente está mais junto literalmente! […], mas assim, com toda essa dificuldade a emoção é diferente! Não sei se pior, ou melhor, mas diferente! Essa é a ideia principal! Porque é frio basicamente! […] Então assim, achei bem válido, diferente... Assim, não falaria pior, eu acho muito forte, mas é bem diferente do que a gente está acostumado aí com a GPT, não é?! (Pedro - grupo focal).

Neste ponto, vale um destaque: como seres no mundo, somos relação e nossas ações são repletas de intencionalidades. Percepção e sentidos fluem e florescem pelo e no viver. A forma digital não nos faz robôs. Ainda que discursos convirjam para a frieza, há um sentir. Ainda que gélidos3 3 Argumentamos aqui uma limitação do trabalho: não termos insistido ao melhor entendimento da “frieza das telas”. Essa expressão foi recorrente nas narrativas da avaliação, diário de campo e entrevistas. Esboçamos a premissa da falta de toque, da troca de calor entre mãos e/ou partes do corpo. Também, do não olhar o outro diretamente. , os encontros remotos feitos pelos grupos nesse momento de pandemia proporcionaram uma “outra” forma de se conectar, possibilitando um acalento para um momento tão difícil.

E [...] acabou que deu uma vontade diferente de assistir! Não só que teria uma apresentação de uma tela, seria uma sensação de uma mesma apresentação sendo presencial! Que a gente estava olhando aqueles grupos, como também se fosse presencial! Pela tela deu para passar essa emoção! Não foi exatamente igual, mas deu para passar essa emoção! (Alberto - grupo focal).

Adveio também da sensação de união com o outro, como uma forma mais ampla de pertencimento a um coletivo. Essas relações estão baseadas nos fatos de que os indivíduos possuem o mesmo objetivo, conteúdo ou foco intencional; estarem mutuamente e reciprocamente cientes um do outro; suas experiências serem interdependentes; e cada indivíduo se sentir parte de um “nós” e saber que o outro também sente isso (OSLER, 2020OSLER, Lucy. Feeling togetherness online: a phenomenological sketch of online communal. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 19, p. 569-588, 2020. DOI:10.1007/s11097-019-09627-4
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): “[…] no final a gente teve uma alegria imensa pelo esforço, por fazer algo durante a pandemia e por poder botar para fora todo esse sentimento que a gente tinha!” (Alberto- grupo focal). “Eu fiquei bem emocionada porque foi um processo muito bonito que a gente fez […]” (Carolina - grupo focal).

Entre encontros e experiências corporais no plano real e no plano remoto, questões foram levantadas e discutidas entre pares. Podemos chamar de encontro os momentos em que não podemos tocar? As experiências corporais sem relação carnal são reais? Indícios narrativos indicam que sim:

E aí esse festival on-line, que reuniu gente de vários cantos do Brasil, eu fiquei tipo muito feliz! Claro que se fosse uma coisa presencial seria bem melhor, não é?! Aquele acolhimento [...], mas o acolhimento on-line de ter cada gente de uma ‘partezinha’, assim, do Brasil, mostrando um pouco da sua cultura, mostrando o amor pela ginástica, foi muito incrível e emocionante de assistir! (Amanda - grupo focal).

Foi um movimento de aceitar o “ser-remoto como possibilidade momentânea de um “ser-junto”, valorizando um novo modo de ser no mundo, e suavizar - na medida do possível - a falta do “ser-presente”: “É uma peça de quebra-cabeça que junta os sentimentos e são passados por todos os grupos!” (Amanda - grupo focal).

3.2 O MODUS OPERANDI DA VIRTUALIDADE

Emplacados pelo desafio do digital, foi necessário repensar os modelos de composição coreográfica que dessem conta do novo cenário: cada um na sua casa, com espaço limitado e se vendo por telas. De Norte a Sul do País, 31 grupos e 586 pessoas toparam essa nova aventura de se unir.

Eu tinha uma ideia de como fazer o movimento, mas quando você filma e vê, não é exatamente como eu quero me mostrar, como eu quero fazer esse movimento [...] (Silmara - grupo focal).

Nós fizemos exercícios. Fizemos algumas filmagens. Então a gente aprendeu a filmar, porque isso é desafiador, né? Para maioria foi bem desafiador essa questão técnica! (Isabela - grupo focal).

Para além do “fazer ginástica”, os participantes precisaram do “fazer remoto”. Para muitos, a tecnologia se tornou um novo aprender: como gravar? Onde apoiar o celular? Qual a melhor luz? Como enviar o vídeo? Para outros, foi a oportunidade do aprimoramento.

Mesmo com as adversidades, ousamos dizer que os grupos cumpriram com êxito o que lhes foi proposto ao longo da construção coreográfica e entregaram materiais que traduziam algumas características da GPT (CARBINATTO et al., 2020CARBINATTO, Michele Viviene, et al. Perfil dos protagonistas de um festival on-line e suas obras. In: CARBINATTO, Michele Viviene; EHRENBERG, Mônica Caldas. Festival ginástico e isolamento social: retratos de um evento on-line. Curitiba: Bagai, 2020.), como a diversidade de praticantes, o trabalho em grupo, a valorização cultural e a criatividade (TOLEDO; TSUKAMOTO; CARBINATTO, 2016TOLEDO, Eliana; TSUKAMOTO, Mariana Harumi Cruz; CARBINATTO, Michele Viviene. Fundamentos da ginástica para todos. In: NUNOMURA, Mirian. (org.). Fundamentos da ginástica. 2. ed. Jundiaí: Fontoura, 2016. p. 12-40.).

Identificamos que os movimentos gímnicos - principalmente os coletivos - precisaram ser adaptados em relação à distância geográfica e ao espaço concebido pelas telas. Como, por exemplo, o lançamento de um material. Este, dentro de um ginásio, é feito de um corpo ao outro. Nas coreografias do festival remoto, foi editado de uma tela a outra. O mesmo se fez com a sincronia. Se o ritmo e a contagem ditavam o movimento pareado nos palcos da vida, nas telas, o editor tinha a possibilidade tecnológica: atrasar ou acelerar algumas partes dos vídeos em busca do “fazer junto”.

É preciso relembrar que a GPT não possui alicerce em regulamentos gestuais e visa, essencialmente, à participação (BENTO-SOARES; SCHIAVON, 2020BENTO-SOARES, Daniela; SCHIAVON. Laurita Marconi. Gymnastics for all: different cultures, different perspectives. Science of Gymnastics Journal, v. 12, n. 1, p. 5-18, 2020. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/340066355. Acesso em: 14 maio 2021.
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). No Brasil, possui um especial espaço nos contextos formativos (AYOUB, 2013AYOUB, Eliana. Ginástica geral e educação física escolar. 3. ed. Campinas: Unicamp, 2013. v. 1, p. 144.; LOPES et al., 2015LOPES, Priscila; LEAL, Juliana; VALIENGO, Amanda; GONÇALVES, Edvânia; GOMES, Nayara; PESSOA, Taynara. Ginástica para todos e literatura: realidade, possibilidades e criação. Conexões, v. 13, n. esp., p. 127-146, maio, 2015. DOI:10.20396/conex.v13iEsp..8637581
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; OLIVEIRA; BARBOSA-RINALDI; PIZANI, 2020OLIVEIRA, Lucas Machado de; BARBOSA-RINALDI, Ieda Parra; PIZANI, Juliana. Produção de conhecimento sobre ginástica na escola: uma análise de artigos, teses e dissertações. Movimento, v. 26, 2020. DOI: https://doi.org/10.22456/1982-8918.95122
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; SANTOS et al., 2018SANTOS, Thyago Thacyano de Souza; NOBRE, Juliana Nogueira Pontes; NIQUINI, Claudia Mara; LOPES, Priscila. A Ginástica Para Todos nas aulas de educação física: um estudo de caso. Conexões, v. 16, n. 4, p. 450-467, out./dez., 2018. DOI: https://doi.org/10.20396/conex.v16i4.8653973.
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) e estudiosas trabalham na perspectiva de propostas pedagógicas que apuram premissas formadoras: cooperação, autonomia, coletividade, paciência, criatividade (GRANER; PAOLIELO; BORTOLETO, 2017GRANER, Larissa; PAOLIELLO, Elizabeth; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho. Grupo Ginástico Unicamp: potencializando as ações humanas. In: BORTOLETO, Marco Antonio Coelho; PAOLIELLO, Elizabeth. Ginástica para todos: um encontro com a coletividade. Campinas: Editora da Unicamp, 2017.; HENRIQUE, 2020HENRIQUE, Nayana. Aula centrada no aluno e aula centrada no professor: experiência na ginástica para todos. 2020. 102 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.; LOPES, 2020LOPES, Priscila. “A gente abre a mente de uma forma extraordinária”: potencialidades da pedagogia freiriana no desenvolvimento da Ginástica Para Todos. 2020. Tese (Doutorado em Educação Física) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2020.). Tais princípios permaneceram presentes nas trocas remotas.

Novas relações foram construídas, à medida que novos desafios e novas figuras apareciam durante a construção coreográfica: a sala assumiu o lugar do tablado, o editor assumiu o lugar do coreógrafo4 4 Na perspectiva da construção coletiva na prática da GPT, não há um “coreógrafo” (CARBINATTO, REIS-FURTADO, 2019), pois o processo colaborativo eleva o profissional a mediador do processo. No entanto, no plano on-line é interessante notar a curiosidade e surpresa pelos protagonistas das composições, os ginastas. Parece que o responsável pela edição dos vídeos assumiu um papel criativo que atendesse a expectativa do grupo, mas ainda assim, dependente dele, tradicionalmente, do “coreógrafo”. , o sofá da sala se tornou a arquibancada. As pessoas ainda davam suas opiniões e construíram coletivamente um novo formato de “ser e viver” a GPT.

A sensação é um misto, assim, de expectativa! Com experimentar um novo! […] E a visão, também, além da visão de quem fez parte da coreografia, quem fez parte do processo de construção, era ver também a visão de quem editou, não é?! Quem criou! Uma coisa que eu achei interessante demais, porque talvez a ideia que a gente tenha no processo pode ter sido superada pela visão que a pessoa, enquanto estava fazendo as edições! Então, achei muito interessante que assim, o processo manufaturado da atividade, sabe? Aquela atividade, assim, por exemplo, a gente gravou a cena separado, alguém teve a ideia de organizar dessa maneira, assim, e pôs um toque aí! Alguém teve a ideia de editar e colocar um toque, então, é bem diversificado esse misto de sensações! Acho que foi isso aí, mais ou menos isso! (Pedro- grupo focal).

É comum para quem vive a experiência do “se apresentar” ouvir relatos de nervosismo, ansiedade e euforia no momento prévio à apresentação presencial. Logo, a dúvida foi lançada: será que os sentimentos seriam os mesmos? Será que os participantes também estariam nervosos e apreensivos com as suas coreografias no momento de suas apresentações?

Em toda sua poesia filosófica, Merleau-Ponty (2018)MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2018. disserta sobre a “sensação” apontando que deveríamos procurá-la aquém de um conteúdo já qualificado. Desvendar sua versão pura é como viver “a experiência de um ‘choque’, indiferenciado, instantâneo e pontual” (MERLEAU-PONTY, 2018MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2018., p. 23). Desta forma, não teríamos outra forma de perceber senão, obter qualidade das coisas no mundo quando elas nos são dadas (MERLEAU-PONTY, 2018MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2018.). Neste sentido, o festival on-line, como uma nova forma de performance gímnica, também provocou novas sensações nos participantes, transbordando para além das barreiras do digital:

Foi mais ansiedade, mesmo... até a hora que a gente viu! Depois que passou, aí deu uma respirada, aquela relaxada, passa tudo tranquilo [...] até então, estava muito apreensivo?! Para ver tudo […] (Carlos- grupo focal).

A gente estava na expectativa de se ver, de ver como ficou, mas enquanto estávamos esperando, a gente via outras coreografias, outros grupos, com temas livre, abordando questões políticas, ambientais, culturais, trazendo cada coisinha importante que elas tiveram durante a pandemia! (Alberto- grupo focal).

Pontuamos também o modus do espetáculo, sobretudo, em relação ao espectador. As trocas com o público existiram, mas foram manifestadas de maneiras outras. A plateia, que comumente vibrava no calor do “ao vivo”, também se adaptou.

E […] acabou que deu uma vontade diferente de assistir! Não só que teria uma apresentação de uma tela, seria uma sensação de uma mesma apresentação sendo presencial! Que a gente estava olhando aqueles grupos, como também se fosse presencial! Pela tela deu para passar essa emoção! Não foi exatamente igual, mas deu para passar essa emoção! (Alberto- grupo focal).

Neste ponto, a relação corpo-outro-mundo, que entendemos como permanente em nossas experiências (MERLEAU-PONTY, 2018MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2018.), tomou uma outra proporção. O movimento gímnico apresentado não é afetado enquanto divulgado. O fazer ritmado não pode ser contagiado pelas palmas. As emoções que perpassam o “apresentar-se” não tocam mais a coreografia que já foi editada. O que afetou o corpo-ginasta durante a criação e a gravação do vídeo ali ficou registrado. A partir do momento que os vídeos foram enviados e o prazo estabelecido, as coreografias não sofreriam mais mudanças. Estaria a interação ginasta-público perdida?

Surpreendentemente não. A interação precisou ser ressignificada e as opções foram distintas: mensagens nos grupos de WhatsApp® (grupo de ginástica, família e amigos); comentários nos chats nas duas plataformas; abraços entre os companheiros de sofá; chamadas por vídeo; postagens nas redes sociais e telefonemas. O vibrar e o “vislumbrar-se” com as coreografias foram alterados:

[...] e o tempo todo recebendo mensagem do povo falando lá no grupo: - gente, agora tá tal pessoa lá! E foi incrível! Depois estava fazendo o tempo todo uma comparação, comparação não, mas estava falando o quanto estava bonito a apresentação do outro, e o que que estava acontecendo! [...] Assim, mas parecia coisa de copa do mundo, sabe? Com as pessoas fazendo um cronograma, contando como se fosse os comentaristas, bem isso, estava me sentindo na copa do mundo, que nós éramos pentacampeões quando o grupo apresentava! (Carolina- grupo focal).

Ainda que a interação com o público não pudesse modificar a experiência motora enquanto vivida, ela significou o fazer remoto. As mais variadas formas de crítica e prestígio por cada trabalho foram contempladas.

Comentários foram recolhidos durante (chats, ZoomÒ e YoutubeÒ e redes sociais WhatsAppÒ) e após evento (redes sociais WhatsAppÒ e formulário de avaliação do evento via GooogleFormsÒ). À medida que cada coreografia era apresentada, comentários festejavam as ações (Quadro 2).

Quadro 2
Mensagens recebidas pelo WhatsApp

Nós consideramos os festivais um campo de experiência básica na cultura do movimento. O evento festivo vive da sua “magia”, das emoções pessoais e da atmosfera coletiva (TRIGG, 2020TRIGG, Dylan. The role of atmosphere in shared emotion. Emotion, Space and Society, v. 35, 2020.DOI: https://doi.org/10.1016/j.emospa.2020.100658
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). Mesmo diante de um novo cenário e de desafios, um festival on-line pareceu cumprir o seu papel de manutenção e motivação de uma prática esportiva (Quadro 3).

Quadro 3
Mensagens recebidas em caixa de resposta aberta pelos organizadores do evento (Formulário de Avaliação)

4 RESSONÂNCIAS DA VIRTUALIDADE - O ESPERANÇAR FUTURO

O evento não se finda quando as luzes se apagam! Ou, neste caso, quando as telas são desligadas. Os ecos vagam pelo mundo, atingindo e ressonando com aqueles que viveram a experiência.

Ansiamos pelo momento em que nossos corpos transitarão livremente pelos espaços, construindo relações presenciais e encarnadas, moldando os rumos das nossas vidas. Os eventos remotos não surgem para substituir os presenciais, mas, em tempos tão ímpares, ações que fortalecessem grupos e equipes se fizeram necessárias. Não apenas para a manutenção da sensação de fazer parte e/ou estar junto, mas, sobretudo, movimentar-se!

Então queria dar os parabéns e que continue assim [...] de uma maneira mais esporádica! Que é interessante também ter, já que atinge muito mais do que (o nome de um evento), esse presencial! A gente consegue movimentar mais a GPT, assim, questão nacional e até internacional! (Pedro- grupo focal).

O festival desvelou que a internet permite a criação de novos tipos de comunidades, supera restrições geográficas e possibilita o encontro de pessoas que compartilham de interesses em comum (BENKLER, 2006BENKLER, Yochai. The wealth of networks: how social production transforms markets and freedom. London: Yale University Press, 2006.; OSLER, 2020OSLER, Lucy. Feeling togetherness online: a phenomenological sketch of online communal. Phenomenology and the Cognitive Sciences, v. 19, p. 569-588, 2020. DOI:10.1007/s11097-019-09627-4
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). Esperamos que as reflexões aqui incutidas ampliem discussões acerca das novas relações interpessoais na virtualidade, com destaque aos valores e aproximações que podem elencar.

  • 1
    O livro, emblemático na área sobre festivais ginásticos e o modelo remoto, foi composto por 11 capítulos, nos quais professores, coordenadores e gestores de diferentes grupos que participaram do evento aqui estudado, relataram: o processo de construção/adaptação coreográfica; treinos, encontros e ensaios nesse novo formato on-line; anseios e aflições sobre a pandemia e isolamento social, dentre outros. Para além dos aspectos particulares do evento, focamos nossa atenção na análise dos discursos sobre a experiência esportiva em si (relatos/discursos) (CARBINATTO; EHRENBERG, 2020CARBINATTO, Michele Viviene; EHRENBERG, Mônica Caldas. Festival ginástico e isolamento social: retratos de um evento on-line. Curitiba: Bagai, 2020.).
  • 2
    Esportes estéticos são aqueles em que o componente estético é analisado intrínseco ao movimento. Em contrapartida, os esportes propositivos apresentam o componente estético, mas dados quantitativos prevalecem na análise, como o cronômetro, os metros da distância, o número de cestas e gols (BEST, 1988BEST, David. The aesthetic in sport. In: MORGAN, Willian J.; MEIER, Klaus V. Philosophic inquiry in sport. Champaign, Illinois: Human Kinetics, 1988. p. 477-493.; KUPFER, 1988KUPFER, Joseph. Sport - the body electric. In: MORGAN, Willian J.; MEIER, Klaus V. Philosophic inquiry in sport. Champaign, Illinois: Human Kinetics, 1988. p. 519-522.).
  • 3
    Argumentamos aqui uma limitação do trabalho: não termos insistido ao melhor entendimento da “frieza das telas”. Essa expressão foi recorrente nas narrativas da avaliação, diário de campo e entrevistas. Esboçamos a premissa da falta de toque, da troca de calor entre mãos e/ou partes do corpo. Também, do não olhar o outro diretamente.
  • 4
    Na perspectiva da construção coletiva na prática da GPT, não há um “coreógrafo” (CARBINATTO, REIS-FURTADO, 2019CARBINATTO, Michele Viviene; REIS-FURTADO, Lorena Nabanete. Choreographic process in Gymnastics for all. Science of Gymnastics Journal, vol. 11, n. 3, p. 343-353, 2019. Disponível em https://www.fsp.uni-lj.si/en/research/scientific-magazines/science-of-gymnastics/previous-issues/2019102717182601/. Acesso em: 29 abr. 2022.
    https://www.fsp.uni-lj.si/en/research/sc...
    ), pois o processo colaborativo eleva o profissional a mediador do processo. No entanto, no plano on-line é interessante notar a curiosidade e surpresa pelos protagonistas das composições, os ginastas. Parece que o responsável pela edição dos vídeos assumiu um papel criativo que atendesse a expectativa do grupo, mas ainda assim, dependente dele, tradicionalmente, do “coreógrafo”.
  • FINANCIAMENTO
    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001. "This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Finance Code 001"

ÉTICA DE PESQUISA

A pesquisa passou pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de São Paulo com o número de protocolo 92331118.9.0000.5391.

RESPONSABILIDADE EDITORIAL

Alex Branco Fraga *, Elisandro Schultz Wittizorecki *, Mauro Myskiw *, Raquel da Silveira *

* Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança, Porto Alegre, RS, Brasil.

REFERÊNCIAS

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  • CARBINATTO, Michele Viviene; EHRENBERG, Mônica Caldas. Festival ginástico e isolamento social: retratos de um evento on-line. Curitiba: Bagai, 2020.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Nov 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    24 Nov 2021
  • Aceito
    05 Jan 2022
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