Open-access O bolsonarismo como fenômeno de opinião pública1

Bolsonarism as a phenomenon of public opinion

El bolsonarismo como fenómeno de opinión pública

Le bolsonarisme comme phénomène d’opinion publique

Resumos

Este artigo contribui para o debate sobre o bolsonarismo ao identificar, por meio da clusterização de dados de comportamento político, os principais perfis do eleitorado de Bolsonaro em 2022. A análise revela a existência de grupos de bolsonaristas com combinações distintas de valores morais, posições econômicas e preferências políticas, contrariando leituras que concebem o fenômeno como como um discurso reacionário ou conservador integrado e coerente. Ao mesmo tempo, nossos resultados também avançam em relação à sociologia interpretativa, que identifica múltiplos tipos de bolsonaristas, mas não distingue os perfis majoritários dos marginais. O trabalho pretende, assim, se somar aos estudos do comportamento político, ampliando-os ao identificar padrões inéditos de combinações de preferências entre os eleitores de Bolsonaro.

Palavras-chave
bolsonarismo; voto temático; eleições; comportamento político; Brasil


Abstract

This article contributes to the debate on the nature and functioning of Bolsonarism by clustering data on political behavior to identify the main profiles of Bolsonaro’s electorate in 2022. The analysis reveals the existence of groups of Bolsonaro supporters with distinct combinations of moral values, economic positions, and political preferences, challenging interpretations that conceive the phenomenon as an integrated and coherent reactionary or conservative discourse. At the same time, it also diverges from interpretive sociology, which identifies multiple types of Bolsonaro supporters but fails to distinguish majoritarian from marginal profiles. Thus, the purpose of this research is to contribute to the field of political behavior studies and expand it by identifying previously unexplored patterns of preference combinations among Bolsonaro voters.

Keywords
Bolsonarism; issue voting; elections; political behavior; Brazil

Resumen

Este artículo contribuye al debate sobre el bolsonarismo mediante la identificación de los perfiles más relevantes del electorado de Bolsonaro en 2022, a partir de una clusterización de datos de comportamiento político, enfocándose en la demanda y no en la oferta discursiva. El análisis revela la existencia de grupos de bolsonaristas con combinaciones distintas de valores morales, posiciones económicas y preferencias políticas, desafiando interpretaciones que conciben al fenómeno como un discurso reaccionario o conservador integrado y coherente. Al mismo tiempo, también se aleja de la sociología interpretativa que identifica múltiples tipos de bolsonaristas pero no distingue entre los perfiles mayoritarios y los marginales. Este trabajo busca contribuir a los estudios del comportamiento político, ampliándolos al identificar patrones inéditos de combinaciones de preferencias entre los votantes de Bolsonaro.

Palabras clave
bolsonarismo; voto temático; elecciones; comportamiento político; Brasil

Résumé

Cet article apporte une contribution au débat sur le bolsonarisme en analysant, à partir d’une classification par regroupement de données sur le comportement politique, l’hétérogénéité de l’électorat de Bolsonaro en 2022, en mettant l’accent sur la demande plutôt que sur l’offre discursive. L’analyse révèle l’existence de groupes de bolsonaristes présentant des combinaisons distinctes de valeurs morales, de positions économiques et de préférences politiques, remettant en question les lectures qui considèrent le phénomène comme un discours réactionnaire ou conservateur cohérent et intégré. En même temps, elle se distingue également de la sociologie interprétative, qui identifie plusieurs types de bolsonaristes sans différencier les profils majoritaires des profils marginaux. Ce travail vise ainsi à enrichir les études sur le comportement politique en identifiant des combinaisons inédites de préférences parmi les électeurs de Bolsonaro.

Mots-clés
bolsonarisme; vote thématique; élections; comportement politique; Brésil

Introdução3

O termo “bolsonarismo” integrou-se ao vocabulário político brasileiro, pelo menos, desde a eleição de 2018, quando o então deputado Jair Messias Bolsonaro surpreendeu todos os especialistas acadêmicos e publicistas ao vencer uma eleição presidencial sem contar com estrutura partidária de apoio, tampouco tempo no Horário da Propaganda Eleitoral Gratuita (HGPE), dois pilares do paradigma do sucesso eleitoral na Nova República até então. Há evidências abundantes do uso desse conceito na literatura acadêmica nacional (Nicolau, 2018; Da Silva, 2019; Cesarino, 2022; Rennó, 2022) e internacional (Lellis; Dutra, 2020; PECI, 2021; Queiroz; Bustamante; Meyer, 2021; Cowan, 2023). Uma análise ligeira dessa literatura internacional, mormente em língua inglesa, revela que vários de seus autores são brasileiros, que provavelmente adotaram o termo Bolsonarism como uma tradução direta de “bolsonarismo”, o que é uma escolha óbvia ainda que não diga muita coisa a respeito do objeto nomeado, além de sua associação à figura do político brasileiro.

Seja no Brasil ou no exterior, fato é que uma pletora de trabalhos sobre o bolsonarismo tem sido produzida nos últimos anos. E, como é praticamente inevitável acontecer quando um conceito se torna central para atividades humanas pautadas pela crítica e o debate, como é o caso da academia e da política, não há consenso sobre seu significado. Isto é, a pergunta “Afinal de contas, o que é o bolsonarismo?” é respondida diferentemente por diferentes autores.

Não tenho a pretensão neste artigo de resolver essa contenda, mas sim apontar tendências na literatura acadêmica sobre o tema e propor um caminho para sanar algumas de suas deficiências. Essa crítica à literatura não será feita de um ponto de vista abstrato, ideal, nem apenas pela identificação de inconsistências lógicas no discurso dos autores, mas contrastando suas concepções com resultados empíricos de pesquisa quantitativa sobre aquilo que se convencionou chamar de “comportamento político”. Meu objetivo aqui é contribuir para a explicação do bolsonarismo como fenômeno eleitoral, ou seja, como um processo de formação de preferências que redundam no voto. Isso não cancela o fato de que o bolsonarismo possa ser definido de outras maneiras, como veremos logo mais. Pelo contrário, oferece um ponto de vista a partir do qual é possível estabelecer diálogos com a literatura. Mais especificamente, tentarei identificar quais são os perfis de adesão a valores e políticas públicas dos grupos mais relevantes no eleitorado de Jair Bolsonaro.

Este artigo está dividido da seguinte maneira: primeiramente, apresento um mapeamento da literatura sobre o bolsonarismo em que identifico suas principais tendências e questões teóricas. Depois discuto a metodologia utilizada neste estudo, e, em seguida, analiso os resultados da análise de clusters dos eleitores bolsonaristas. Comento esses resultados à luz do debate teórico, e finalmente concluo sumarizando a contribuição feita e apontando para possíveis desenvolvimentos da pesquisa.

Mapeando o bolsonarismo

A fim de mapear o campo de estudos sobre o bolsonarismo e identificar as diferentes teorias ou formulações acerca desse fenômeno, fiz uma pesquisa bibliográfica com o auxílio do programa Publish or Perish4 utilizando como termo de busca a raiz “Bolsonar-” no campo de palavras-chave. Selecionamos os cinquenta textos com maior fator de impacto e que tratavam da compreensão do bolsonarismo – descartando falsos positivos –, e, em seguida, classificamos os textos selecionados de acordo com a maneira como definem seu objeto. As abordagens mais relevantes encontradas foram: bolsonarismo como discurso, bolsonarismo como fenômeno sociológico e bolsonarismo como fenômeno de opinião pública.

O esquema classificatório proposto utiliza como critério de distinção entre as correntes a maneira como o objeto de estudo, o bolsonarismo, é concebido, ou seja, sua ontologia. Trata-se de observar o fenômeno e se perguntar: que tipo de ser é esse? Muitos autores não se preocupam explicitamente com essa questão, ou tentam encaixar o bolsonarismo em teorias pré-estabelecidas, como o populismo, fascismo, totalitarismo, etc. Ambas as alternativas me parecem deficientes, pois a questão ontológica fundamental não é nada banal, assim como a tentativa de encaixe do objeto em categorias predefinidas, muitas vezes, perde-se na identificação de ajustes e desajustes entre o caso concreto e o modelo “teórico”, em prejuízo da qualidade da análise do primeiro.

A quantidade de autores estrangeiros e brasileiros que assumem de maneira automática, sem muita reflexão, ser Bolsonaro um populista é extensa demais para detalharmos aqui. Contudo, os poucos trabalhos que se dedicaram a testar a propriedade dessa imputação a partir da análise sistemática dos discursos de Bolsonaro tiveram dificuldade de confirmá-la (Tamaki, Fuks, 2020; Feres Júnior; Gagliardi, 2021). Entre as contribuições que assumem como dado tratar-se de um caso de populismo, várias abordam o bolsonarismo exclusivamente como fenômeno linguístico, circunscrevendo-o a uma modalidade de discurso, doutrina, ideologia ou retórica, e assumindo automaticamente se tratar de um caso clássico de populismo (Augsten; Amaral, 2019; Nunes, 2021; Baptista; Hauber; Orlandini, 2022).

Em seu ensaio sobre o bolsonarismo, Rodrigo Nunes o associa, de entrada, à gramática moral do populismo de direita, cujos elementos básicos são o “individualismo, o punitivismo e a valorização da lei e da ordem” (Nunes, 2021, p. 9). Ainda que o autor insista, corretamente a meu ver, que para entender o bolsonarismo é preciso levar em conta sua “infraestrutura organizacional – abrangendo igrejas, programas de rádio e TV, influenciadores do YouTube, grupos de WhatsApp, bots do Twitter etc”, sua análise é centrada mesmo nas “diferentes matrizes discursivas que se uniram na sua formação” e “as gramáticas comuns que garantiram a comunicação” (Nunes, 2022, p. 20).

Os autores dos capítulos do livro Linguagem da destruição: a democracia brasileira em crise, a despeito de evitarem explicitamente as armadilhas do conceito de populismo, ao se debruçarem sobre o bolsonarismo, também o concebem como um fenômeno linguístico (Starling; Lago; Bignotto, 2022). Um exemplo mais raro de abordagem discursiva encontra-se na contribuição de Mendonça e Caetano, que é focada no aspecto performático e visual da figura de Bolsonaro. Contudo, os autores acabam por reduzir o fenômeno comunicativo ao âmbito da linguagem, ou seja, gestos e estratégias de apresentação funcionam como símbolos prenhes de significado de uma linguagem visual (Mendonça; Caetano, 2021). Ademais, assumem de antemão que o ex-capitão é um exemplo de líder populista.

Os trabalhos que tratam o bolsonarismo como ideologia são uma variante do tipo mais amplo do “bolsonarismo como discurso”, como fica claro na seguinte passagem do livro O populismo reacionário:

Bolsonaro não é resultado apenas do discurso anticorrupção do lavajatismo, do golpismo dos saudosos dos porões da ditadura, do “bandeirantismo” neoliberal, da “nova direita” olavista e do novo “udenismo” dos movimentos de rua da classe média. Ele é a soma de todos os fatores ideológicos que tais discursos colocaram em marcha na última década (Cyril Lynch; Paschoeto Cassimiro, 2022, p. 175).

O esforço dos autores para definir Bolsonaro como um populista reacionário é dispendido em mapear uma ideologia supostamente coerente no plano do discurso, o bolsonarismo, definido por eles por uma característica semântica estrutural: a oposição a experiências históricas, valores e atores políticos democráticos.

A lista de trabalhos que adotam a concepção do bolsonarismo como discurso é grande, e a análise dela excederia os limites deste artigo. É importante sublinhar aqui, contudo, que todas essas contribuições têm uma característica comum: tratam do fenômeno pelo lado da oferta, ou, como se diz nos estudos da comunicação, da emissão. Em outras palavras, dedicam-se a analisar os discursos de Bolsonaro, quase sempre, de modo ensaístico, e tentam, a partir daí, explicar o bolsonarismo como uma ideologia propalada pelo político Jair Bolsonaro e seu grupo. Entretanto, tal abordagem fica muito aquém de explicar o sucesso eleitoral de Bolsonaro, que conquistou as preferências de mais de 50 milhões de pessoas nas últimas duas eleições presidenciais. Tomemos a citação de Lynch e Cassimiro acima. Do ponto de vista das preferências concretas dos eleitores de Bolsonaro, lavajatismo, golpismo, bandeirantismo, udenismo, todos esses ismos comprimidos em poucas linhas não passam de educated guesses acerca do objeto, o bolsonarismo, que é, assim, representado de maneira impressionista.

Mesmo expoentes da abordagem sociológica do bolsonarismo, como Esther Solano, que faz pesquisa empírica com bolsonaristas e, portanto, tem acesso a dados de demanda, por vezes cai na tentação de resumir o bolsonarismo a seu conteúdo linguístico: a “exaltação de um pensamento único e brutalizado” (Solano, 2019, p. 320). Em contribuição mais recente, a autora insiste nos mesmos pontos, ainda mais claramente:

Descontentes com a atuação do PT e o funcionamento do sistema político no seu conjunto, essas pessoas se sentiram representadas pela retórica antissistema, anticorrupção, anti-esquerdista, militar e patriótica, calcada na valorização da família, da ordem e dos bons costumes (Solano, 2021, p. 51).

Para além de uma coleção de discursos tratados como unidade, Solano reafirma a tese de que eles são estrategicamente articulados segundo a lógica da “política da inimizade”, expressão de clara inspiração schmittiana, mas que ela atribui a Achille Mbembe.

Segundo essa lógica, a culpa do mal-estar que sofremos no Brasil é do PT, do marxismo cultural, dos professores que doutrinam alunos, das feministas ou dos líderes LGBT, que desejam acabar com a ordem social tradicional, cristalizada na mistificação de um passado mais seguro, quando as hierarquias sociais eram bem determinadas e respeitadas por todos. É a “política da inimizade” (Mbeme (sic), 2018). (Solano, 2021, p. 54).

Os problemas dessa formulação são: primeiro, sugerir a existência de uma unidade semântica última do discurso bolsonarista; e, segundo, propor que a oposição dicotômica que organiza esse discurso pode, por si só, capturar as preferências das pessoas, isto é, como se emissão e recepção fossem a mesma coisa.

É importante deixar claro aqui que não estou negando a operação de discursos, retóricas e narrativas no âmbito do bolsonarismo, nem o uso estratégico da comunicação por parte de Bolsonaro e apoiadores. É sim possível identificar grandes temas do discurso bolsonarista. O problema é assumir que somos capazes de explicar a concatenação entre esses temas e o comportamento político de eleitores (a formação de suas preferências eleitorais, por exemplo) por meio do exame das lógicas internas dos discursos. Meu ponto é que a mobilização eleitoral de um contingente de mais de 50 milhões de pessoas, em 2018 e em 2022, não pode ser explicada pela lógica interna de concatenação dos discursos bolsonaristas.

Outra contribuição que fica sob o guarda-chuva das abordagens sociológicas é a de Isabela Oliveira Kalil (2018), que trata o bolsonarismo como uma coleção de identidades sociais. Em sua pesquisa, conduzida por meio da coleta de dados etnográficos em protestos e manifestações em Nova Iorque e São Paulo, entre 2011 e 2018, Kalil identificou 16 tipos de apoiadores, eleitores e potenciais eleitores de Bolsonaro, com base em marcadores de classe social, raça/etnia, identidade de gênero, religião, formas de engajamento e crenças. A despeito da riqueza dessa classificação, ficamos sem saber quais desses tipos seriam mais relevantes, ou mesmo se todos seriam igualmente representados no “movimento social” bolsonarista.

Mesmo um autor adepto da abordagem do bolsonarismo como fenômeno de opinião pública, como Lúcio Rennó, não escapa do reducionismo linguístico quando tenta definir categoricamente o bolsonarismo:

O bolsonarismo é um alinhamento ideológico de direita no Brasil, baseado nos posicionamentos políticos de seu líder, Jair Bolsonaro... Por meio de sua retórica crítica à esquerda e embasado em um projeto conservador, voltado para a defesa de princípios tradicionais, como família, pátria e propriedade, Bolsonaro atraiu o apoio de um conjunto de eleitores que compartilham seus ideais e ideias e que estavam profundamente insatisfeitos com os partidos que governaram o país nas últimas décadas, especialmente o Partido dos Trabalhadores (PT). (Rennó, 2022, p. 147).

A passagem dá grande importância ao “alinhamento ideológico”, que supostamente caracteriza o bolsonarismo, e a aspectos substantivos, semânticos, da retórica de Bolsonaro. Ademais, de maneira similar a Solano, Rennó declara que foi “por meio” de sua retórica, leia-se, discurso, que Bolsonaro logrou sucesso eleitoral. Ou seja, há também aqui uma confusão entre emissão e recepção, mesmo em um texto que é dedicado mormente ao estudo empírico quantitativo do comportamento político, isto é, da recepção dos discursos no processo de formação de preferências.

Este artigo se localiza, certamente, junto à abordagem que trata o bolsonarismo como fenômeno de opinião. Como tal, não está primariamente interessado em decifrar as razões pelas quais diferentes grupos sociais aderem com intensidades diferentes a Bolsonaro, nem como se estrutura um suposto movimento social bolsonarista. Tampouco pretende sintetizar a coerência do discurso bolsonarista, mas sim interpretar as características demográficas e orientações declaradas em relação a valores e políticas públicas dos brasileiros em sua interação com preferências por Bolsonaro, mormente de ordem eleitoral.

A maior parte dos trabalhos dessa abordagem utiliza modelos de regressão multivariada baseados em microdados de surveys quantitativos para identificar as variáveis mais relevantes por trás da preferência eleitoral por Bolsonaro. A partir da vitória do ex-capitão em 2018, uma sequência de trabalhos publicados foi expandindo o rol de variáveis explicativas para o fenômeno do bolsonarismo. Jairo Nicolau focou principalmente as variáveis sociodemográficas (Nicolau, 2020). Oswaldo Amaral confirmou a relevância das variáveis sociodemográficas identificadas por Nicolau e chamou atenção para a operação da variável da autoidentificação ideológica, que, no Brasil, até o advento do bolsonarismo, era considerada de baixa qualidade explicativa (Amaral, 2020). A contribuição de Guilherme Azzi Russo, Jairo Pimentel Junior e George Avelino (2022) confirma o apontamento de Amaral, ao mostrar, por meio de uma experiência feita em survey, que a informação sobre o posicionamento ideológico do então presidente Bolsonaro teve como efeitos o aumento do percentual dos respondentes que se posicionam na escala esquerda-direita e o reposicionamento deles mais à esquerda ou à direita. Por sua vez, Lúcio Rennó propôs acrescentar ao pacote de variáveis independentes a adesão a valores e políticas públicas (Rennó, 2020).

As regressões são ferramentas poderosas para a identificação de traços demográficos e ideológicos do bolsonarismo, mas não dão conta de como esses traços se combinam em diferentes grupos de eleitores. Por seu turno, a análise de clusters tem sido usada para esse fim, particularmente pela literatura internacional, com bons resultados. Alguns autores aplicaram essa técnica a partir da identificação partidária e ideológica dos eleitores (Franklin; Jackson, 1983; Green; Palmquist; Schickler, 2002; Evans; Tilley, 2017; Lachat, 2018), outros a partir de suas percepções acerca da economia (Hernández; Kriesi, 2016; Rico; Anduiza, 2019). Neste artigo, utilizo como variáveis de clusterização as orientações dos respondentes em relação a valores e políticas públicas. De maneira similar às regressões, a análise de clusters é capaz de qualificar a importância relativa de diferentes adesões a valores e identidades sociais que as contribuições das abordagens discursiva e sociológica não conseguem mensurar na composição da preferência por Bolsonaro. Ela também nos proporciona a identificação de diferentes perfis de apoiadores de Bolsonaro e as diferentes aderências de cada perfil a discursos comumente associados ao bolsonarismo, algo que nem a abordagem discursiva, nem a técnica da regressão, quando usada isoladamente, podem proporcionar.

Por fim, este artigo também tem por objetivo oferecer uma abordagem alternativa que aponte para a solução de alguns problemas fundamentais, particularmente o aparente paradoxo de se identificar o bolsonarismo com uma pletora de discursos/identidades sociais (antipetismo, defesa de valores conservadores, religião, neoliberalismo, antissistema, etc.) e, ao mesmo tempo, tomá-lo como uma unidade discursiva, seja ela semântica, sintática ou estratégica.

Metodologia

O método dominante utilizado pela abordagem do bolsonarismo como fenômeno discursivo é o hermenêutico-ensaístico. O termo hermenêutico é até dispensável, pois o labor acadêmico consiste sempre em interpretar seu objeto – não há alternativa para essa condição propriamente ontológica da função cognitiva humana (Gadamer, 1975). Já o termo ensaístico tem sérias consequências metodológicas, pois ele se aplica quando o autor arroga para si autoridade sobre a veracidade de sua interpretação, sem apresentar ao leitor evidências sistemáticas que a corroborem. Boa parte das contribuições citadas acima ou fazem interpretações genéricas, no nível do senso comum (exemplos: autoritário, homofóbico, conservador, etc.) sobre o bolsonarismo e suas vertentes discursivas dominantes, ou citam passagens de discursos de Bolsonaro de maneira anedótica – exceção feita ao artigo de Tamaki e Fuks (2020), que de fato apresenta uma análise sistemática de fontes textuais.

Mesmo os trabalhos que contêm tratamento estatístico de dados quantitativos, como o de Chaguri e Amaral (2023), aventuram-se a explicar a conexão entre o bolsonarismo como movimento e seu impacto discursivo, assunto que está fora do escopo dos dados empíricos por eles analisados.

Adotarei aqui outro caminho, que é o de tentar mostrar como dados acerca das preferências dos cidadãos em relação a valores e políticas públicas podem ser interpretados de modo a responder questões colocadas pela abordagem do bolsonarismo como discurso, mas ainda não resolvidas. Esse insight não é algo original de minha parte. Mesmo um teórico do estudo do pensamento político, como Michael Freeden (2013), reconhece que a análise efetiva das ideologias requer que os pesquisadores lancem mão de métodos de coleta sistemática de dados sobre as preferências e adesões valorativas das pessoas.

De acordo com John Leader Maynard, há quatro métodos primários de coleta desses dados pertinentes para o estudo das ideologias:

(i) inferência comportamental ‒ tirar conclusões sobre as ideologias dos indivíduos à luz das maneiras como eles se comportam; (ii) análise textual ‒ examinar ideias expressas em quaisquer formas de comunicação, incluindo obras não verbais, que existem independentemente do analista; (iii) inquérito ‒ a tentativa de solicitar diretamente ideias ou crenças de indivíduos por meio de questionamentos ‒ incluindo métodos qualitativos como entrevistas e métodos quantitativos como pesquisas; e (iv) métodos neurocientíficos ‒ o estudo dos processos neurológicos no cérebro de um indivíduo e no sistema nervoso mais amplo. (Maynard, 2017. p. 13).

Neste artigo adotamos o método que Maynard chamou de inquérito, ou seja, a obtenção de dados pela solicitação direta, por meio de questionários estruturados, do posicionamento de indivíduos acerca de suas ideias e crenças. Tais dados se prestam, após coleta, tratamento e análise, a inferências comportamentais. É preciso, contudo, um posicionamento a respeito de inferências sobre a psicologia do eleitorado, que se tornaram frequentes na literatura internacional sobre populismo (Jagers; Walgrave, 2007; Mudde, 2017) e também penetraram o âmbito dos estudos do bolsonarismo, nas suas mais diferentes vertentes (Cesarino, 2020; Mendonça; Caetano, 2021; Nunes; Traumann, 2024).

Na verdade, o debate acerca da racionalidade da escolha do eleitor, levado à frente pela literatura conhecida como issue voting, constitui uma das áreas mais estabelecidas da ciência política (Downs, 1957; Campbell et al., 1960; Key, 1966; Fiorina, 1981). Com a ascensão recente da extrema direita e do populismo nos Estados Unidos e no resto do mundo, reacendeu-se o interesse pelo estudo de como posições dos eleitores em temas como imigração, identidade nacional e autoritarismo influenciaram o crescimento e o sucesso eleitoral de políticos e partidos de extrema direita (Mudde; Kaltwasser, 2017; Eatwell; Goodwin, 2018; Rooduijn; Burgoon, 2018; Norris; Inglehart, 2019). É forte nessa literatura a tese de que a racionalidade do voto econômico está sendo suplantada por reações emocionais do eleitorado a temas candentes, não raro weaponized por influenciadores de extrema direita nas redes sociais. Há, no Brasil, inclusive, autores que pretendem ligar o sucesso eleitoral do bolsonarismo a um suposto crescimento da polarização afetiva (Fuks; Marques, 2020; Nunes; Traumann, 2024).

Este artigo não tem a pretensão de adentrar no debate sobre a racionalidade ou suposta emotividade da preferência por Bolsonaro. Os dados de survey que utilizaremos na análise não permitem que façamos inferências acerca desse assunto. Pretendemos, sim, contribuir para a abordagem que toma o bolsonarismo como fenômeno de opinião, de outro modo classificada na categoria mais ampla de estudo do comportamento político. A orientação em relação a issues é parte central da análise apresentada aqui, mas pretendemos interpretá-la de maneira sistemática sem assumir pressupostos ou mesmo testar hipóteses acerca da sua natureza racional ou emocional.

De fato, as contribuições da abordagem do bolsonarismo como fenômeno de opinião pública geralmente realizam análise estatística a partir de dados de surveys quantitativos, como pretendemos fazer aqui (Almeida; Guarnieri, 2020; Amaral, 2020; Rennó, 2020; Fuks; Ribeiro; Borba, 2021; Russo; Pimentel Junior; Avelino, 2022). As técnicas de regressão utilizadas de fato identificam a importância relativa de variáveis demográficas e ideológicas na preferência por Bolsonaro, mas não nos permitem compreender como diferentes preferências se combinam em diferentes grupos de eleitores/cidadãos.

Já a abordagem discursiva foca na emissão da mensagem, ou seja, seus trabalhos analisam os conteúdos e formas dos atos de fala de Bolsonaro e seguidores, sejam eles discursos de campanha ou mensagens nas redes sociais. Nesta análise pretendo focar no aspecto da recepção, isto é, nas preferências discursivas/ideológicas manifestas pelas pessoas, como é feito também nos trabalhos que tomam o bolsonarismo como um fenômeno de opinião pública. Essa estratégia me parece mais promissora, pois evita o risco de assumirmos que os discursos produzem efeitos por si só, como se tivessem um poder interno, quase mágico, de cativar as pessoas assim que são proferidos. Em outras palavras, tomamos explicitamente as respostas ao survey como discursos emitidos pelos entrevistados, assim como tomamos o ato de fala da resposta como uma forma de comportamento e como indício do comportamento eleitoral do respondente. Em vez de gastarmos tempo e energia para tentar determinar se Bolsonaro é fascista, populista, praticante da necropolítica etc., interessa-nos muito mais saber como aqueles que aceitam tê-lo como presidente adotam um rol de preferências em relação a valores e políticas públicas.

Esta análise toma como fonte de dados empíricos a base de dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) 2022, pesquisa de amostragem estatística nacional conduzida a cada quatro anos pelo CESOP5. Essa pesquisa foi escolhida por contar com uma bateria de perguntas sobre adesão a valores e políticas públicas bastante extensa. Elas pedem para a pessoa dizer se a favor ou contra os seguintes assuntos:

As respostas para essas perguntas foram padronizadas de maneira a tornar as variáveis dicotômicas, ou seja, somente com respostas contra e a favor. Como a lista original, apesar de extensa, não cobria explicitamente a identidade religiosa dos entrevistados, e a associação entre bolsonarismo e religião evangélica é lugar comum na literatura sobre o tema, recodificamos a variável “Religião” para a forma binária (RegEv), com os valores evangélico e não evangélico6. Também adicionei uma variável para dar conta do caráter autoritário dos participantes, outra associação lugar comum na literatura, produzida pela padronização da pergunta sobre a justificativa de um golpe de estado militar “diante de muita corrupção” (GolpC), que é entre as alternativas de situações hipotéticas de golpe militar, a que mais atraiu aderentes7.

A fim de obter um subconjunto de dados somente com respondentes bolsonaristas, utilizei como critério o voto em Bolsonaro no primeiro turno da eleição. Tal critério é mais adequado, pois, ainda que no pleito de 2022 o resultado do segundo turno tenha sido bastante similar ao do primeiro, é razoável assumir que alguns eleitores que votaram em Bolsonaro no segundo turno não são propriamente bolsonaristas. De qualquer maneira, também testei o mesmo modelo de clusterização para o subconjunto de dados daqueles que escolheram Bolsonaro no segundo turno, e os resultados foram muito similares.

Para identificar perfis homogêneos a partir das variáveis binárias (0/1), como é o caso aqui, empregamos o método Partitioning Around Medoids (PAM), utilizando a distância de Gower como medida de dissimilaridade. A escolha dessa distância deve-se ao fato de que Gower lida adequadamente com dados categóricos e binários, diferentemente da distância Euclidiana, que é mais apropriada para variáveis contínuas. Usado para agrupar as observações, o algoritmo PAM identifica “medoides”, ou seja, observações reais que minimizam a soma das distâncias em cada cluster, diferentemente do K-means que define “centróides” com base em média aritmética.

Utilizamos também o teste da largura de silhueta (silhouette width) para avaliar a coesão intra‐clusters e a separação inter‐clusters, calculada a partir da mesma distância Gower. A largura de silhueta média serve como parâmetro de “qualidade” do agrupamento; valores superiores a 0,25-0,30 costumam indicar clusters razoavelmente distintos, ao passo que valores abaixo de 0,15 sugerem sobreposição entre grupos.

A fim de examinarmos a aderência das variáveis a cada cluster produzimos uma tabela com a proporção de respondentes que responderam “1” dentro daquele grupo, delimitando cada perfil. Como explicamos acima, “1” em nossa codificação corresponde sempre à posição conservadora ou de direita em cada um dos assuntos.

Resultados

Antes de chegarmos à análise dos clusters, é prudente que verifiquemos se as variáveis escolhidas, de maneira intuitiva a partir das interpretações da literatura, são adequadas ao modelo. Para tal, uma das técnicas mais empregadas é a análise da matriz de correlação das variáveis com elas mesmas8.

O fato de não termos valores muito altos (de +/- 0,8 a 1,0) mostra que não há variáveis fortemente correlacionadas (positiva ou negativamente), o que indicaria redundância entre elas e, portanto, um problema teórico para a intepretação dos resultados. A dominância de correlações baixas corrobora nossa hipótese de grande diversidade nas preferências dos eleitores de Bolsonaro. O valor mais alto de correlação entre duas variáveis é 0,73 e se dá entre o posicionamento dos respondentes frente aos programas Bolsa Família (Bolsa) e Auxílio Brasil (AuxB), ambos voltados ao alívio da extrema pobreza. Como o primeiro é associado ao PT e a Lula e o segundo a Bolsonaro, faz sentido teórico manter as duas variáveis. Há também correlação moderada, de 0,68, entre o posicionamento em relação ao casamento de pessoas do mesmo sexo (CasG) e à adoção de criança por casais do mesmo sexo (AdoG), mas o coeficiente não é alto o suficiente para justificar exclusão de uma das variáveis.

Avancemos, então, para o procedimento da clusterização a fim de podermos ter uma compreensão mais abrangente dessas diferentes adesões/comportamentos. Como o Teste do Cotovelo para a determinação do número ideal de clusters (k) não se aplica a dados categóricos, optamos por ajustar o k a partir dos resultados do teste da largura da silhueta para diferentes valores de k. Os melhores resultados se dão quando k=3.

Para melhor ajuste da clusterização também optamos por retirar algumas variáveis da base de dados que obtiveram aderências similares a todos os clusters, ou seja, não contribuíram para sua diferenciação. São elas: a legalização do aborto (Abor), a descriminalização do uso de drogas (DesD), o ensino de religião nas escolas públicas (Deus) e a diminuição da maioridade penal (Maior). Obviamente que esse procedimento só foi feito por fazer sentido teórico, uma vez que as posições conservadoras em relação a essas medidas são francamente majoritárias não somente nos clusters bolsonaristas, mas também entre os eleitores de Lula: 75%, 77%, 74% e 63% desses pensam dessa maneira, respectivamente.

A separação dos clusters ficou bastante equilibrada, assim como a largura de suas silhuetas atingiu valores que garantem razoável separação entre eles, como mostra a Tabela 2 abaixo:

Tabela 2
Parâmetros de clusterização

De imediato, o algoritmo da função de clusterização conseguiu produzir uma divisão numericamente balanceada de clusters, com um coeficiente de variação de meros 3,14%9. A largura média da silhueta é uma medida de quão bem as observações de um dado cluster estão, em média, mais próximas umas das outras do que de outro cluster, ou seja, quanto maior o valor, mais coeso é o cluster. Assim, o Cluster 1 (Tamanho = 643; Largura média da silhueta = 0,36) é o mais bem definido e relativamente bem separado dos demais – a faixa entre 0,25-0,30 sugere um nível razoável de coesão interna. O Cluster 2 (Tamanho = 694; Largura média da silhueta = 0,17) é o menos definido entre os três, pois várias observações desse cluster devem estar bem próximas das fronteiras com outros clusters. Assim, há maior risco de sobreposição e ambiguidade. Por fim, o Cluster 3 (Tamanho = 664; Largura média da silhueta = 0,22) tem um nível intermediário de coesão, isto é, tem uma parte significativa de pontos razoavelmente coesos, mas também certa fração em fronteira, o que é de se esperar quando temos muitas variáveis de dados comportamentais.

Vejamos agora a proporção de valores de 1 (posições conservadoras) de cada variável em cada cluster, o que nos permitirá interpretar comparativamente seu perfil.

O Cluster 1, de longe o mais coeso e bem delimitado, é também bastante liberal nas questões pertinentes aos valores familiares e progressista em relação a políticas sociais e à intervenção do Estado na economia. É o cluster menos evangélico da amostra ‒ somente 15%, ou seja, bem abaixo da medida da população brasileira. A maior proporção de posições conservadoras no cluster se dá na questão sobre a proibição da venda de armas de fogo, e mesmo assim somente um terço dos respondentes do cluster rejeitam essa medida (35%); os outros dois terços querem a proibição. Isto é, mesmo no quesito mais intensamente conservadores, os respondentes desse cluster estão muito abaixo dos outros eleitores de Bolsonaro, que anotam respectivamente 75% e 69% de rejeição nos clusters 2 e 3. O que explicaria, então, a preferência eleitoral deles por Bolsonaro já no primeiro turno? Provavelmente um forte sentimento antipetista ou anti-Lula, que existe a despeito das preferências desses eleitores em relação a valores e políticas públicas. Se nos fosse permitido especular, tal antipetismo em estado puro deve ser em grande medida produto da Operação Lava Jato e o ânimo disseminado contra o PT ao longo de seu desenrolar, mas isso é assunto para outro momento.

Ainda que menos coeso, o Cluster 2 apresenta características interessantes. No geral, é muito mais parecido ao Cluster 3 do que ao Cluster 1, no que toca às proporções de adesão a valores conservadores, cinco delas acima do nível de 50%. Os respondentes classificados no Cluster 2 são bastante progressistas em relação às políticas sociais e aos direitos dos homossexuais, ao passo que têm uma posição intermediária no tema das privatizações, que assumimos ser um proxy da intervenção do Estado na economia. Seu forte conservadorismo ocorre nas variáveis relativas à segurança pública e ao militarismo, incluindo a propensão para apoiar golpes militares (75%) e a altíssima proporção relativa de apoio à pena de morte: 69%, ao passo que os Clusters 1 e 3 anotam 23% e 29%, respectivamente. Por fim, somente 18% dos respondentes classificados nesse cluster são evangélicos.

Já o Cluster 3 se destaca por seu alto grau de conservadorismo, com oito variáveis anotando acima de 50% de posições dessa natureza. Na liderança estão aquelas relativas aos direitos dos homossexuais, acima do nível de 89% e 81% de contrários ao casamento gay e à adoção por pais homossexuais, respectivamente, enquanto a proporção mais alta de contrários nos outros dois clusters atinge meros 22%, e se dá no caso do casamento gay no Cluster 2. São também fortemente favoráveis ao ensino militarizado, ainda que em nível menor que o Cluster 2. Porém, são igualmente golpistas, atingindo uma proporção de 3:1 de favoráveis a essa medida, praticamente idêntica à do Cluster 2. Lideram também no apoio à prisão de mulheres que praticaram o aborto, 62%, em comparação a 36% e 30% nos Clusters 2 e 1, respectivamente. Os respondentes desse cluster só são progressistas no que toca às políticas de transferência de renda (AuxB e Bolsa) – como os outros dois clusters –, moderadamente contrários às privatizações e bastante contrários à pena de morte. Por fim, são de longe o cluster mais evangélico, anotando 63%, ou seja, praticamente o dobro da proporção dos seguidores dessa religião na população brasileira em geral.

Em suma, de modo bastante sintético, nossa análise de clusters revelou que os eleitores de Bolsonaro no primeiro turno podem ser propriamente divididos em três grupos: um progressista em relação a valores e à economia, mas antipetista; um fortemente conservador em relação a questões de segurança, golpista e militarista, mas progressista no que toca às políticas sociais; e um ainda mais conservador em relação às questões de valores, também golpista e fortemente evangélico, mas favorável às políticas de alívio da pobreza.

É digno de nota o fato de as médias para o apoio ao Bolsa Família serem similares e bastante altas em todos os clusters, demonstrando que esse programa obtém apoio significativo mesmo de eleitores da extrema-direita. As posições dos clusters em relação às privatizações são similares entre si e bastante neutras. Esse resultado coloca em dúvida as interpretações que insistem no forte caráter neoliberal do bolsonarismo. Pelo menos do ponto de vista da demanda, ele está longe de ser forte, pois atingiu um máximo de 44%, no Cluster 2.

Uma mirada geral na Tabela 3 mostra que o cluster que mais se aproxima do bolsonarismo ideal (aquele que marcaria 1 para todas as questões) é o 3, o dos evangélicos moralmente conservadores, seguido do 2, o dos militaristas/lei e ordem, e do 1, cluster com nenhuma média fortemente conservadora, mas ainda assim formado exclusivamente por eleitores de Bolsonaro, no primeiro turno.

Tabela 3
Médias das variáveis por Cluster

Conclusões

Neste artigo utilizei a análise de clusters para identificar os principais grupos de eleitores de Jair Bolsonaro em 2022. Tal esforço foi concebido no âmbito do debate acadêmico acerca da natureza do bolsonarismo, que já acumula extensa literatura no Brasil e no exterior. Identifiquei três abordagens principais para o estudo do bolsonarismo. A primeira formada pelos trabalhos que tomam esse fenômeno como de natureza discursiva. Uma variante dessa abordagem é formada pelos trabalhos que definem o bolsonarismo como ideologia. Argumentei que essa classe de contribuições, a despeito de identificar vários componentes do discurso bolsonarista (defesa dos valores da família, autoritarismo, neoliberalismo, oposição aos direitos LGBT e de minorias etc.), explica de modo muito indireto e impreciso o fenômeno de opinião pública que é a preferência eleitoral por Bolsonaro. A primeira deficiência dessa abordagem se dá pelo foco quase exclusivo na emissão (oferta) da comunicação política, ou seja, nos discursos proferidos pelo próprio Bolsonaro e apoiadores mais próximos. Ora, a recepção (demanda) por parte do público não é algo que podemos simplesmente presumir como um espelho da emissão. Em segundo lugar, os trabalhos dessa vertente pecam pelo ensaísmo dominante, ou seja, a prática reiterada de se afirmar fatos sem prover evidências corroborativas de forma sistemática, com algumas meritórias exceções.

Ainda em relação à abordagem discursiva, pretendo ter mostrado que é bastante impreciso afirmar que o bolsonarismo seria “a soma de todos os fatores ideológicos [lavajatismo, golpismo, bandeirantismo neoliberal, udenismo etc.]” (Cyril Lynch; Paschoeto Cassimiro, 2022, p. 175), pois há grupos numerosos de bolsonaristas que não são particularmente adeptos do neoliberalismo ou mesmo do golpismo. Por fim, os trabalhos dessa vertente são incapazes de identificar as diversas combinações de preferências, e suas diferentes intensidades, que formam o eleitorado bolsonarista, coisa que conseguimos fazer neste artigo.

Os trabalhos que tomam o bolsonarismo como fenômeno sociológico, em geral, também não reconhecem claramente a diferença entre emissão e recepção de discursos, argumentos ou conteúdos. Na verdade, frequentemente estudam a recepção, utilizando métodos como grupos focais (Rocha; Solano, 2019) ou observação participante (Kalil, 2018), mas tiram conclusões sobre a emissão de maneira indistinta. Rocha e Solano reiteradamente se referem ao bolsonarismo como se ele tivesse uma unidade semântica subjacente, hipótese rejeitada pela análise de clusters, que mostra perfis bastante diversos de eleitores bolsonaristas já no primeiro turno, ou seja, entre aqueles que têm o voto em Bolsonaro como primeira opção. Ao invés da hipótese da unidade, Kalil abraça a da diversidade, identificando 16 tipos de bolsonaristas. Contudo, essa interpretação não consegue separar tendências majoritárias e minoritárias entre os seguidores do ex-capitão. Nossa análise faz isso, pois podemos ver claramente que, se há grupos significativos de bolsonaristas que defendem valores conservadores da família, há os que são liberais no âmbito dos valores e também aqueles que preferem medidas punitivistas na questão da segurança.

Por fim, a abordagem que mais se aproxima deste artigo, aquela que toma o bolsonarismo pela perspectiva do comportamento político/opinião, vem corretamente identificando as variáveis socioeconômicas e ideológicas que descrevem o fenômeno. Pretendi mostrar aqui que, partindo da identificação das variáveis relativas à adesão a valores e ao apoio a políticas públicas, é possível, por meio da análise de clusters, identificar grupos de eleitores/apoiadores com perfis distintos. Os resultados são bastante coerentes com aqueles obtidos por boa parte da literatura sobre o bolsonarismo como fenômeno de opinião e avançam em uma direção que foi ainda pouco explorada. Por exemplo, descobrimos que há um grupo de eleitores de Bolsonaro que é liberal em quase tudo, a não ser sua preferência eleitoral por Bolsonaro – seriam eles antipetistas puros? Também descobrimos que preferências conservadoras em relação à segurança pública e ao militarismo caracterizam um grupo de eleitores de Bolsonaro que é liberal em relação a valores e progressista no que toca às políticas sociais. Por outro lado, há um grupo importante de bolsonaristas ultraconservadores em quase todas as variáveis, que é também majoritariamente evangélico. Na verdade, a variável “evangélico” merece ser explorada com mais cuidado, testando possíveis subdivisões da categoria, mas isso deixaremos para uma futura contribuição.

É preciso deixar claro que este trabalho em momento algum pretendeu oferecer uma síntese entre oferta e demanda do fenômeno do bolsonarismo. Para tal, seria necessário um esforço bastante mais extenso. Limitei-me aqui a examinar aspectos da demanda dos eleitores de Bolsonaro, representados pelos respondentes de um survey de opinião, e, para tanto, estabeleci uma conversação com as literaturas sociológica e de comportamento político (opinião pública), que também tratam do fenômeno pelo aspecto da demanda.

O fato de encontrarmos dois perfis de eleitores bolsonaristas razoavelmente liberais em relação a valores e três perfis compostos por progressistas no que toca às políticas sociais concorda com a análise de Arretche e Araújo (2017), segundo a qual eleitores podem ser conservadores na dimensão dos costumes e progressistas na dimensão econômica, ou vice-versa, além de confirmar o dado de que há uma forte preferência entre os eleitores brasileiros em geral no que diz respeito à intervenção social do Estado (Arretche; Araújo, 2017).

Um observador cético poderia argumentar que confundo aqui os bolsonaristas com os eleitores de Bolsonaro, mas que esses dois grupos são diferentes: o primeiro formado por seguidores convictos e organizados e o segundo constituído por uma massa informe de brasileiros com título eleitoral que votam em Bolsonaro. Mas essa escolha é proposital, pois tomo o voto como elemento fundamental do apoio a Bolsonaro, elemento esse que lhe possibilitou ficar quatro anos à frente da Presidência da República. O movimento social, se existe como tal, é matéria para outro tipo de estudo e não pode explicar o fenômeno eleitoral. Ademais, parte da literatura da abordagem sociológica também não diferencia esses dois grupos, pois colhe dados sobre o bolsonarismo de conversas com pessoas comuns e não com militantes (Solano, 2021; Rocha; Solano, 2019).

O esforço feito aqui foi somente um primeiro passo. Novos estudos, feitos a partir de bases de dados mais representativas, com o emprego de outras técnicas de análise, devem lançar mais luz sobre esse assunto tão importante para o presente e o futuro da ciência política e da democracia brasileira.

Figura 1
Matriz de correlações de Pearson

Figura 2
Clusters dos respondentes que votaram em Bolsonaro no 1º turno (k=3)

Tabela 1
Variáveis

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  • 1
    A base de dados utilizada neste artigo pode ser acessada em: <https://www.cesop.unicamp.br/por/banco_de_dados/v/4680>. O script para replicação da análise está disponível no site do Cesop, na seção Revista Opinião Pública, na página deste artigo <https://www.cesop.unicamp.br/por/opiniao_publica/ >.
  • 3
    Este trabalho contou com o apoio da bolsa de produtividade - 308531/2022-1, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do auxílio do Edital Universal, 473239/2013-2 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Bolsa Cientista do Nosso Estado - E-26/200.962/2022 (269597), da FAPERJ.
  • 4
    O Publish or Perish é um programa de computador que recupera e analisa citações acadêmicas. Ele usa uma variedade de bases de dados (Google Acadêmico, Crossref, etc.) para obter as citações brutas para, em seguida, analisá-las, apresentando uma série de métricas que inclui número de artigos, citações totais e o índice h. Disponível em: <https://harzing.com/resources/publish-or-perish >. Acesso em: 20 maio 2024.
  • 5
    O Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) é um projeto de pesquisa conduzido pelo Centro de Estudos de Opinião Pública (CESOP), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), realizado regularmente, a cada quatro anos, desde 2002, no período imediatamente pós-eleitoral, cujo objetivo é investigar o comportamento eleitoral e as atitudes políticas dos brasileiros. A população alvo do estudo são os eleitores brasileiros aptos a votar nas eleições de 2022. A amostra foi probabilística e representativa, estratificada por regiões do Brasil para garantir uma cobertura ampla e representativa de diferentes grupos populacionais. O tamanho da amostra foi de 2.001 respondentes e a margem de erro estimada de aproximadamente 2%, para mais ou para menos. A coleta de dados foi realizada entre 19 de novembro e 4 de dezembro de 2022.
  • 6
    A pergunta original do questionário sobre religião é: “P51. Por favor, me indique qual dessas é a sua religião”, com um longo rol de alternativas, que foram recodificadas.
  • 7
    Para o autoritarismo a pergunta foi “P10.4 - Algumas pessoas dizem que em certas circunstâncias se justificaria que os militares tomassem o poder através de um golpe de estado. Na sua opinião, em quais das circunstâncias que eu vou mencionar se justificaria um golpe militar: diante de muita corrupção?”.
  • 8
    Para variáveis dicotômicas, a função cor() padrão do R calcula correlações de Pearson, o que, na prática, é o coeficiente phi (φ) ‒ porque as variáveis são binárias. É relativamente comum utilizar a correlação de Pearson com dados binários.
  • 9
    O Coeficiente de Variação (CV) é uma grandeza que expressa a proporção do desvio padrão em relação à média de uma distribuição. É uma medida de dispersão relativa, que indica o quanto o desvio padrão representa da média em termos percentuais. Ele é obtido pela divisão do desvio padrão pela média, multiplicada por 100, para expressar porcentagem.

Disponibilidade de dados

A base de dados utilizada neste artigo pode ser acessada em: <https://www.cesop.unicamp.br/por/banco_de_dados/v/4680>. O script para replicação da análise está disponível no site do Cesop, na seção Revista Opinião Pública, na página deste artigo <https://www.cesop.unicamp.br/por/opiniao_publica/ >.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Set 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    01 Dez 2023
  • Aceito
    24 Jun 2025
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