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O pai que não é o patrão: vivências de sujeitos terceirizados no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul

Resumos

A redução da oferta de empregos e o capitalismo flexível vêm ensejando a prática de diferentes vínculos trabalhistas, tais como a terceirização, os contratos com cooperativas e os contratos temporários. É objetivo deste trabalho investigar como um grupo de terceirizados, prestadores de serviços gerais no Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP), vivencia o prazer e o sofrimento no trabalho, em especial em relação à sua condição trabalhista. Os dados obtidos nas vinte entrevistas realizadas com esta finalidade foram analisados pelo método de análise de conteúdo, e apontaram para cinco categorias: o pai que não é o patrão e o patrão que não é o pai; a precarização do emprego e a redução dos postos de trabalho; as defesas contra o sofrimento; quando as defesas falham; o sentimento de inferioridade e a identidade negada; sonhar é preciso. Conclui-se que os terceirizados vivenciam sofrimento psíquico decorrente da precarização trabalhista. Além disto, o estudo identificou vínculos tênues entre as empresas de terceirização e os terceirizados, cujas necessidades são parcialmente supridas pelo próprio MP.


The decline in job opportunities and the flexible capitalism result in the emergence of different work relations, such as outsourcing, contracts with cooperatives and temporary contracts. The goal of this paper is to investigate how a group of outsourced employees working as general servants in the Public Ministry of Rio Grande do Sul (PM) experience pleasure and suffering at work, particulary in relation to their work condition. Data collected in the twenty interviews carried out were analyzed through the content analysis method. Five categories were pointed out: the father who is not the boss and the boss who is not the father; job insecurity and the decrease in job postings; defences against suffering; when defences fail: the feeling of inferiority and the identity denied; one has to dream. The conclusion is that outsourced employees experience psychical suffering as a consequence of job insecurity. Moreover, the study identified weak links between outsourcing companies and outsourced employees, whose needs are partly met by the MP itself.


ARTIGOS

O pai que não é o patrão: vivências de sujeitos terceirizados no Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul

Silvia Generali da Costa

Profª UFRGS

RESUMO

A redução da oferta de empregos e o capitalismo flexível vêm ensejando a prática de diferentes vínculos trabalhistas, tais como a terceirização, os contratos com cooperativas e os contratos temporários. É objetivo deste trabalho investigar como um grupo de terceirizados, prestadores de serviços gerais no Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP), vivencia o prazer e o sofrimento no trabalho, em especial em relação à sua condição trabalhista. Os dados obtidos nas vinte entrevistas realizadas com esta finalidade foram analisados pelo método de análise de conteúdo, e apontaram para cinco categorias: o pai que não é o patrão e o patrão que não é o pai; a precarização do emprego e a redução dos postos de trabalho; as defesas contra o sofrimento; quando as defesas falham; o sentimento de inferioridade e a identidade negada; sonhar é preciso. Conclui-se que os terceirizados vivenciam sofrimento psíquico decorrente da precarização trabalhista. Além disto, o estudo identificou vínculos tênues entre as empresas de terceirização e os terceirizados, cujas necessidades são parcialmente supridas pelo próprio MP.

ABSTRACT

The decline in job opportunities and the flexible capitalism result in the emergence of different work relations, such as outsourcing, contracts with cooperatives and temporary contracts. The goal of this paper is to investigate how a group of outsourced employees working as general servants in the Public Ministry of Rio Grande do Sul (PM) experience pleasure and suffering at work, particulary in relation to their work condition. Data collected in the twenty interviews carried out were analyzed through the content analysis method. Five categories were pointed out: the father who is not the boss and the boss who is not the father; job insecurity and the decrease in job postings; defences against suffering; when defences fail: the feeling of inferiority and the identity denied; one has to dream. The conclusion is that outsourced employees experience psychical suffering as a consequence of job insecurity. Moreover, the study identified weak links between outsourcing companies and outsourced employees, whose needs are partly met by the MP itself.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Out 2014
  • Data do Fascículo
    Set 2007
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