Acessibilidade / Reportar erro

Responsabilidade social: a privatização do público

Social responsibility: the privatization of public

Resumos

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma via de discussão acerca da responsabilidade social, distinta daquelas que vão ao encontro dos interesses estratégicos das empresas. Optamos, aqui, em discutir as raízes do que se denomina responsabilidade social, assumindo um posicionamento questionador frente à atuação das empresas. O ponto de partida adotado é o princípio de que as empresas são geradoras de grande parte dos problemas da sociedade e agem concomitantes ao Estado em prol da manutenção da ordem vigente. O resultado dessa articulação é a existência de mediações de segunda ordem - originalmente contidas nas análises de Marx acerca da alienação do trabalhador -, a partir da responsabilidade social, com o uso de ações paliativas que velam a (des)ordem vigente. Como alternativa, recorre-se à autoconsciência presente nos estudos críticos, em que as mediações de segunda ordem seriam substituídas pelo reconhecimento da situação atual.

Estudos críticos organizacionais; Responsabilidade social; Marxismo; Estado; Sociedade


The objective of this work is to present a different way to discuss social responsibility as a way for companies' strategic interests. We discuss the roots of what social responsibility is called, assuming a questioning position towards the performance of companies. The starting point used is that companies are generating most of the problems in society and they act together with the State in favor of the maintenance of the status quo. The result of this joint is the existence of mediations of second order - originally contained in the analyses of Marx concerning the alienation of the worker - from social responsibility, with the use of palliative actions that maintain effective order. As an alternative, self-consciencness in critical studies is called for where the mediations of second order would be substituted by the recognition of the current situation.

Critical management studies; Social responsibility; Marxism; State; Society


ARTIGOS

Responsabilidade social: a privatização do público1 1 Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pelas bolsas, e à professora Ana Paula Paes de Paula pelas constantes inquietações.

Social responsibility: the privatization of public

Wescley XavierI; Carolina MaranhãoII

IDoutorando em Administração pelo Centro de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal de Minas Gerais – CEPEAD/UFMG. Endereço: Av. Antônio Carlos, 6627, sala 4093. Belo Horizonte/MG. CEP: 31270-901. E-mail: wescleyxavier@yahoo.com.br

IIDoutora em Administração pelo CEPEAD/UFMG. Professora do Centro Universitário UNA. E-mail: carola.maranhao@gmail.com

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma via de discussão acerca da responsabilidade social, distinta daquelas que vão ao encontro dos interesses estratégicos das empresas. Optamos, aqui, em discutir as raízes do que se denomina responsabilidade social, assumindo um posicionamento questionador frente à atuação das empresas. O ponto de partida adotado é o princípio de que as empresas são geradoras de grande parte dos problemas da sociedade e agem concomitantes ao Estado em prol da manutenção da ordem vigente. O resultado dessa articulação é a existência de mediações de segunda ordem – originalmente contidas nas análises de Marx acerca da alienação do trabalhador –, a partir da responsabilidade social, com o uso de ações paliativas que velam a (des)ordem vigente. Como alternativa, recorre-se à autoconsciência presente nos estudos críticos, em que as mediações de segunda ordem seriam substituídas pelo reconhecimento da situação atual.

Palavras-chave: Estudos críticos organizacionais. Responsabilidade social. Marxismo. Estado. Sociedade.

ABSTRACT

The objective of this work is to present a different way to discuss social responsibility as a way for companies' strategic interests. We discuss the roots of what social responsibility is called, assuming a questioning position towards the performance of companies. The starting point used is that companies are generating most of the problems in society and they act together with the State in favor of the maintenance of the status quo. The result of this joint is the existence of mediations of second order – originally contained in the analyses of Marx concerning the alienation of the worker – from social responsibility, with the use of palliative actions that maintain effective order. As an alternative, self-consciencness in critical studies is called for where the mediations of second order would be substituted by the recognition of the current situation.

Keywords: Critical management studies. Social responsibility. Marxism. State. Society.

Texto completo disponivel apenas em PDF.

Full text avaliable only in PDF

Referências

ADORNO, T. A filosofia muda o mundo ao manter-se como filosofia. Lua Nova, n. 60, p. .132-138, 2003. (Entrevista originalmente concedida à revista DER SPIEGEL [1969] )

_______; HORKHEIMER, M. A. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

AZAMBUJA, D. Teoria geral do estado. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2001.

BAHIA, R. J. B. Das luzes à desilusão: o conceito de indústria cultural em Adorno e Horkheimer. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG/FAFICH, Belo Horizonte, 1999.

BORGER, G. F. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese de Doutorado – Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo – FEA/USP, São Paulo, 2001.

BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. São Paulo: Papirus, 1996.

BOWEN, H. Social responsibilities of the businessman. New York: Harper & Row, 1953.

CARROLL, A. Corporate social responsibility: evolution of a definitional construct. Business and Society, n. 38, p. 268-295, 1999.

DUPAS, G. Atores e poderes na nova ordem global: assimetrias, instabilidades e imperativos de legitimação. São Paulo: UNESP, 2005.

ENRIQUEZ, E. Os desafios éticos nas organizações modernas. Revista de Admi

nistração de Empresas, São Paulo, v.37, n.2, p. 6-17, jan./abr., 1997. FARIA, A.; SAUERBRONN, F. F. A responsabilidade social é uma questão de estratégia? Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, 42(1), p. 07-33, jan./fev., 2008.

FARIA, J. H.; MENEGHETTI F. K. Discursos organizacionais. In: XXV ENCONTRO ANUAL DA ANPAD. Anais... Campinas: ANPAD, 2001.

FRIEDMAN, M. Capitalismo e liberdade. 2 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985.

FOUCAULT, M. Segurança, território e população. 26ª ed. Graal Editora, 2008.

GIROUX, H. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

GUILHOT, N. Financiers, philanthropers: vocation éthique et production du capital à Wall Street depuis 1970. Paris: Raison d'Agir, 2004.

KREITLON, M. A ética nas relações entre empresas e sociedade: fundamentos teóricos da responsabilidade social empresarial. In: XXVIII ENCONTRO ANUAL DA ANPAD. Anais... Curitiba: Anpad, 2004.

MARCUSE, H. A ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.

_______. Tecnologia, guerra e fascismo. São Paulo: UNESP, 1999.

MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.

_______. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.

_______. O capital: crítica de economia política. São Paulo: Nova Cultural, volume 1, livro 1, 1985.

MÉSZÁROS, I. A teoria da alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2006.

_______. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo:

Boitempo, 2002. MINISTÉRIO DA CULTURA. Lei Rouanet, 1991. Disponível em http://www2.cultura.gov.br/scripts/noticia.idc?codigo=1577. Acesso em 20/05/2007.

NOVAES, A. O elogio da política. Texto de Abertura do Ciclo "O Esquecimento da Política", Ministério da Cultura, Belo Horizonte, 2006. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/foruns_de_cultura/cultura_e_pensamento/2006/debates/ index.php?p=17329&more=1&c=1&pb=1. Acesso em: 30/08/2006

OLIVEIRA, F. Capitalismo e política: um paradoxo letal. In: ADAUTO, N. O esquecimento da política. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 283-296.

RIGAL, L. A escola crítico-democrática: uma matéria pendente no limiar do século XXI. In: IMBERÓN, Francisco (Org.). A educação no século XXI: os desafios do futuro imediato. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. p. 171-194.

SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M.; GOMES, F. G. et al. Compreendendo a natureza das políticas do estado capitalista. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.41, n. 5, p. 819-834, set./out., 2007.

SOARES, G. M. P. Responsabilidade social corporativa: por uma boa causa!? Revista de Administração de Empresas (RAE-eletrônica), São Paulo, v.3, n. 2, p. 1-15, jul./dez., 2004.

Artigo recebido em 04/11/2008. Artigo aprovado, na sua versão final, em 22/10/2009.

  • ADORNO, T. A filosofia muda o mundo ao manter-se como filosofia. Lua Nova, n. 60, p. .132-138, 2003. (Entrevista originalmente concedida à revista DER SPIEGEL [1969]
  • _______; HORKHEIMER, M. A. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
  • AZAMBUJA, D. Teoria geral do estado. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 2001.
  • BAHIA, R. J. B. Das luzes à desilusão: o conceito de indústria cultural em Adorno e Horkheimer. Dissertação (Mestrado em Filosofia) Universidade Federal de Minas Gerais UFMG/FAFICH, Belo Horizonte, 1999.
  • BORGER, G. F. Responsabilidade social: efeitos da atuação social na dinâmica empresarial. Tese de Doutorado Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo FEA/USP, São Paulo, 2001.
  • BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. São Paulo: Papirus, 1996.
  • BOWEN, H. Social responsibilities of the businessman. New York: Harper & Row, 1953.
  • CARROLL, A. Corporate social responsibility: evolution of a definitional construct. Business and Society, n. 38, p. 268-295, 1999.
  • DUPAS, G. Atores e poderes na nova ordem global: assimetrias, instabilidades e imperativos de legitimação. São Paulo: UNESP, 2005.
  • nistração de Empresas, São Paulo, v.37, n.2, p. 6-17, jan./abr., 1997. FARIA, A.; SAUERBRONN, F. F. A responsabilidade social é uma questão de estratégia? Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, 42(1), p. 07-33, jan./fev., 2008.
  • FARIA, J. H.; MENEGHETTI F. K. Discursos organizacionais. In: XXV ENCONTRO ANUAL DA ANPAD. Anais... Campinas: ANPAD, 2001.
  • FRIEDMAN, M. Capitalismo e liberdade. 2 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985.
  • FOUCAULT, M. Segurança, território e população. 26ª ed. Graal Editora, 2008.
  • GIROUX, H. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia da aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
  • GUILHOT, N. Financiers, philanthropers: vocation éthique et production du capital à Wall Street depuis 1970. Paris: Raison d'Agir, 2004.
  • KREITLON, M. A ética nas relações entre empresas e sociedade: fundamentos teóricos da responsabilidade social empresarial. In: XXVIII ENCONTRO ANUAL DA ANPAD. Anais... Curitiba: Anpad, 2004.
  • MARCUSE, H. A ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1979.
  • _______. Tecnologia, guerra e fascismo. São Paulo: UNESP, 1999.
  • MARX, K.; ENGELS, F. A Ideologia Alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
  • _______. Manuscritos Econômicos-Filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2004.
  • _______. O capital: crítica de economia política. São Paulo: Nova Cultural, volume 1, livro 1, 1985.
  • MÉSZÁROS, I. A teoria da alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2006.
  • Boitempo, 2002. MINISTÉRIO DA CULTURA. Lei Rouanet, 1991. Disponível em http://www2.cultura.gov.br/scripts/noticia.idc?codigo=1577 Acesso em 20/05/2007.
  • NOVAES, A. O elogio da política. Texto de Abertura do Ciclo "O Esquecimento da Política", Ministério da Cultura, Belo Horizonte, 2006. Disponível em: http://www.cultura.gov.br/foruns_de_cultura/cultura_e_pensamento/2006/debates/ index.php?p=17329&more=1&c=1&pb=1 Acesso em: 30/08/2006
  • OLIVEIRA, F. Capitalismo e política: um paradoxo letal. In: ADAUTO, N. O esquecimento da política. Rio de Janeiro: Agir, 2007. p. 283-296.
  • RIGAL, L. A escola crítico-democrática: uma matéria pendente no limiar do século XXI. In: IMBERÓN, Francisco (Org.). A educação no século XXI: os desafios do futuro imediato. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. p. 171-194.
  • SANTOS, R. S.; RIBEIRO, E. M.; GOMES, F. G. et al. Compreendendo a natureza das políticas do estado capitalista. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.41, n. 5, p. 819-834, set./out., 2007.
  • SOARES, G. M. P. Responsabilidade social corporativa: por uma boa causa!? Revista de Administração de Empresas (RAE-eletrônica), São Paulo, v.3, n. 2, p. 1-15, jul./dez., 2004.
  • 1
    Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pelas bolsas, e à professora Ana Paula Paes de Paula pelas constantes inquietações.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      05 Set 2014
    • Data do Fascículo
      Jun 2010

    Histórico

    • Recebido
      04 Nov 2008
    • Aceito
      22 Out 2009
    Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
    E-mail: revistaoes@ufba.br