Acessibilidade / Reportar erro

Educação sistematizada: a morte lenta da cultura Parakanã

Systematized education: the slow death of the Parakanã culture

Resumos

O trabalho avaliou as interferências étnicoculturais ocasionadas pelo processo de Educação Sistematizada implantado nas aldeias Parakanã. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade e pelos órgãos envolvidos na Educação indígena e gestão da Aldeia, aos quais foi garantido o acesso aos seus resultados finais. Tratase de uma pesquisa qualitativa, baseada em documentos, entrevistas semiestruturadas com os índios idosos e questionários aplicados aos professores e índios jovens. Foram tomados registros fotográficos cotidianos das duas aldeias pesquisadas. Os dados obtidos indicam a morte lenta da cultura e dos saberes empíricos típicos da etnia, uma vez que o conteúdo programático aplicado no processo de Educação Sistematizada, planejado e executado por professores nãoindios, não os contempla. Constatouse a existência de contradições entre a percepção dos professores e dos índios acerca das tradições e atitudes típicas. Há flagrantes barreiras na comunicação entre eles, pois os professores não dominam o dialeto, e uma clara dicotomia entre os índios jovens e idosos sobre a importância da manutenção dos usos e costumes da etnia, atualmente praticados pelos índios idosos. Observouse o abandono dos adereços indígenas e a adoção do padrão de comportamento do homem civilizado, evidenciando o aculturamento daquele povo.

Educação sistematizada; Interferências étnicoculturais; Nação Parakanã; Saberes empíricos


This research investigates cultural interferences from the Systematized Educational Process implemented for the Parakanã People located in the Xingu area, west of the state of Para. This project was previously submitted to the University of Taubaté Ethics Committee and the Education Secretary of Belem do Pará Municipality, which has accessed its results. Methodological procedures were based on a qualitative approach supported by documental analysis, interviews and questionnaires. Furthermore, some ofthe most important cultural and religious events have been documented as a photographicdiary. The data collected underwent interpretive analysis. The chosen sample reflected 10% of the whole population living in the same location. Research findings reveal that the educational program does not consider the Parakanã People's culture. A dichotomy was noticed in the way teachers perceive the relevance of preserving Indian traditions and spontaneous attitudes. Moreover, there are strong communication barriers as teachers do not understand their dialect. Within the Indian group, there is a visible dichotomy between the youngest and the oldest ones about the maintenance of ethnic customs demonstrated by the abandonment of traditional clothing and adornments to adopt nonIndian behavioralstandards which reveals a process of ongoing cultural change.

Education; Ethnic interference; Parakanã Nation; Experienced knowledge


ARTIGOS

Educação sistematizada: a morte lenta da cultura Parakanã

Systematized education: the slow death of the Parakanã culture

Rosimar Miranda TeixeiraI; Isabel Cristina dos SantosII; Edson Aparecida de Araújo Querido OliveiraIII

IMestre pelo Programa de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté–UNITAU. Profa. do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Pará e da Universidade Estadual Vale do Acaraú – IDEPA/ UVA. Endereço: Rodovia Augusto Montenegro Conj. COHAB, Trav. SN 4 nº 230, GL – I, Nova Marambaia. Belém/PA. CEP: 66.623.278 . Email: rosimarm60@gmail.com

IIDoutora pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Profa. Assistente e Pesquisadora do Programa de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional da UNITAU. Email:isa.santos.sjc@gmail.com

IIIDoutor pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Prof. Assistente, Pesquisador e Coordenador Geral do Programa de Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional da UNITAU. Email:edson@unitau.br

RESUMO

O trabalho avaliou as interferências étnicoculturais ocasionadas pelo processo de Educação Sistematizada implantado nas aldeias Parakanã. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade e pelos órgãos envolvidos na Educação indígena e gestão da Aldeia, aos quais foi garantido o acesso aos seus resultados finais. Tratase de uma pesquisa qualitativa, baseada em documentos, entrevistas semiestruturadas com os índios idosos e questionários aplicados aos professores e índios jovens. Foram tomados registros fotográficos cotidianos das duas aldeias pesquisadas. Os dados obtidos indicam a morte lenta da cultura e dos saberes empíricos típicos da etnia, uma vez que o conteúdo programático aplicado no processo de Educação Sistematizada, planejado e executado por professores nãoindios, não os contempla. Constatouse a existência de contradições entre a percepção dos professores e dos índios acerca das tradições e atitudes típicas. Há flagrantes barreiras na comunicação entre eles, pois os professores não dominam o dialeto, e uma clara dicotomia entre os índios jovens e idosos sobre a importância da manutenção dos usos e costumes da etnia, atualmente praticados pelos índios idosos. Observouse o abandono dos adereços indígenas e a adoção do padrão de comportamento do homem civilizado, evidenciando o aculturamento daquele povo.

Palavras-chave: Educação sistematizada. Interferências étnicoculturais. Nação Parakanã. Saberes empíricos.

ABSTRACT

This research investigates cultural interferences from the Systematized Educational Process implemented for the Parakanã People located in the Xingu area, west of the state of Para. This project was previously submitted to the University of Taubaté Ethics Committee and the Education Secretary of Belem do Pará Municipality, which has accessed its results. Methodological procedures were based on a qualitative approach supported by documental analysis, interviews and questionnaires. Furthermore, some ofthe most important cultural and religious events have been documented as a photographicdiary. The data collected underwent interpretive analysis. The chosen sample reflected 10% of the whole population living in the same location. Research findings reveal that the educational program does not consider the Parakanã People's culture. A dichotomy was noticed in the way teachers perceive the relevance of preserving Indian traditions and spontaneous attitudes. Moreover, there are strong communication barriers as teachers do not understand their dialect. Within the Indian group, there is a visible dichotomy between the youngest and the oldest ones about the maintenance of ethnic customs demonstrated by the abandonment of traditional clothing and adornments to adopt nonIndian behavioralstandards which reveals a process of ongoing cultural change.

Key words: Education. Ethnic interference. Parakanã Nation. Experienced knowledge

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Referências

ALVES, Nilda; GARCIA, Regina L. A construção de conhecimento e o currículo dos cursos de formação de professores na vivência de um espaço. In: ALVES, N. (org). Formação de professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 2006. (Col.Questão da Nossa Época. v.1).

APPLE, Michael W. A política do conhecimento oficial: faz sentido a idéia de um currículo nacional? In: MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; DA SILVA, Tomaz Tadeu (orgs). Currículo cultura e sociedade. Tradução de Maria Ap. Baptista. São Paulo: Cortez, 2001.

ARANHA, Maria L. A. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Moderna, 2006.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa/Portugal: Edições 70 ltda., 1997.

BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Escolas Indígenas. Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SE, 1998.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CEB 3/99. Diário da União,Brasília, 17 de novembro de 1999, Seção 1, p.19.

BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Criação do Serviço de Proteção ao Índio. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/. Constituições Brasileiras. Acesso 19 set. 2007.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN. Lei Nº 9394/96. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm. Acesso em 19 de setembro de 2007.

BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Plano Decenal de Educação para Todos.Brasília: MEC, 1993 (versão acrescida 136 p. ).

CANDAU. Vera Maria. A didática em questão. Petrópolis. Ed. Vozes. SP: 1994.

CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas sociais. São Paulo: Cortez 2003.

DA SILVA, Aracy L.; GRUPIONI, Luiz D. Bebzi (orgs.) A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995.

FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Universidade fonte de conhecimento, de tecnologia e cultura. In: ALVES, Nilda, (org.). Formação de professores pensar e fazer. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. (Coleção Questões da nossa Época. V.1)

FAUSTO, Carlos. Povos indígenas do Brasil – ISA. Disponível em: http://www.socioambiental.org/pib/epi/parakana/parakana. Acesso em 30 de setembro, 2007.

FUNASA. Fundação Nacional de Assistência a Saúde. Censo Populacional. PóloAltamiraPa. 2006.

FUNAI Fundação Nacional do Índio. Portaria nº 2.364 do Ministério da Justiça de 29 de Dezembro de 2006.

GHIRALDELLI JR. História da educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.

GRUPIONI, Luiz Donizete. A política de educação escolar indígena. Outubro/ 2000. Povos indígenas no Brasil – ISA em 30/04/2007.

HILSDORF, M.L.S. História da educação brasileira: leitura. São Paulo: Pioneira, 2003.

LAKATOS, E. Mª, MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2005.

MACHADO, Cristina Gomes. Multiculturalismo: muito mais além da riqueza e da diferença. Rio de janeiro: DP&A, 2002.

MEIRA, Márcio. Fundação Nacional do Índio – Competências. Disponível em: http://www.funai.gov.br. Acesso em 16 de setembro de 2007.

MONTE, Nietta Lindenberg. E agora, cara pálida? Educação e povos indíginas, 500 anos depois. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, nº. 15, set./dez., p. 118133, 2000.

MOREIRA, A. F. B.; DA SILVA, Tomaz T. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: MOREIRA, A. F. B.; DA SILVA, T. T. (Orgs). Currículo, cultura e sociedade. Trad. In: 6Maria Ap. Baptista. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.

PIMENTA, Garrido Selma (Org). Saberes pedagógicos e atividade docente. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2000 (Saberes da Docência).

RAMOS, Alcida. Sociedade indígena. São Paulo: Ática, 1986. (Série Princípios).

RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. 5ª ed. PetropolisRJ: Vozes,1986.

SACRISTÁN, J. Gemem. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Tradução de Ernane da F. Rosa. 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000.

SANTOS, Milton. Por uma nova geografia: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2002. (Coleção Milton Santos).

TERENA, Marcos. Programa Raízes: povos indígenas no Pará. Belém, 2001.

THRURIE, M. G. O desenvolvimento profissional dos professores: novos paradigmas, novas práticas. In: PERRENOUD, Philippe et al. As competências para ensinar no século XXI. Trad. Cláudia Schilling e Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.

VEIGA, Juracilda; FERREIRA, M. B. R. (Org). Desafios atuais da educação escolar indígena. Campinas: ALB ; Brasília: Núcleo de Cultura e Educação Indígena, 2005.

Artigo recebido em 22/08/2008 Artigo aprovado, na sua versão final, em 01/07/2009

  • ALVES, Nilda; GARCIA, Regina L. A construção de conhecimento e o currículo dos cursos de formação de professores na vivência de um espaço. In: ALVES, N. (org). Formação de professores: pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 2006. (Col.Questão da Nossa Época. v.1).
  • APPLE, Michael W. A política do conhecimento oficial: faz sentido a idéia de um currículo nacional? In: MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; DA SILVA, Tomaz Tadeu (orgs). Currículo cultura e sociedade. Tradução de Maria Ap. Baptista. São Paulo: Cortez, 2001.
  • ARANHA, Maria L. A. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Moderna, 2006.
  • BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Tradução de Luiz Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa/Portugal: Edições 70 ltda., 1997.
  • BRASIL. Referencial Curricular Nacional para Escolas Indígenas. Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SE, 1998.
  • BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CEB 3/99. Diário da União,Brasília, 17 de novembro de 1999, Seção 1, p.19.
  • BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Criação do Serviço de Proteção ao Índio. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Constituições Brasileiras. Acesso 19 set. 2007.
  • BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDBEN. Lei Nº 9394/96. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm Acesso em 19 de setembro de 2007.
  • BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Plano Decenal de Educação para Todos.Brasília: MEC, 1993 (versão acrescida 136 p.
  • CANDAU. Vera Maria. A didática em questão. Petrópolis. Ed. Vozes. SP: 1994.
  • CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas sociais. São Paulo: Cortez 2003.
  • DA SILVA, Aracy L.; GRUPIONI, Luiz D. Bebzi (orgs.) A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília: MEC/MARI/UNESCO, 1995.
  • FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Universidade fonte de conhecimento, de tecnologia e cultura. In: ALVES, Nilda, (org.). Formação de professores pensar e fazer. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2006. (Coleção Questões da nossa Época. V.1)
  • FAUSTO, Carlos. Povos indígenas do Brasil ISA. Disponível em: http://www.socioambiental.org/pib/epi/parakana/parakana Acesso em 30 de setembro, 2007.
  • FUNASA. Fundação Nacional de Assistência a Saúde. Censo Populacional. PóloAltamiraPa. 2006.
  • FUNAI Fundação Nacional do Índio. Portaria nº 2.364 do Ministério da Justiça de 29 de Dezembro de 2006.
  • GHIRALDELLI JR. História da educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.
  • GRUPIONI, Luiz Donizete. A política de educação escolar indígena. Outubro/ 2000. Povos indígenas no Brasil ISA em 30/04/2007.
  • HILSDORF, M.L.S. História da educação brasileira: leitura. São Paulo: Pioneira, 2003.
  • LAKATOS, E. Mª, MARCONI, M. A. Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2005.
  • MACHADO, Cristina Gomes. Multiculturalismo: muito mais além da riqueza e da diferença. Rio de janeiro: DP&A, 2002.
  • MEIRA, Márcio. Fundação Nacional do Índio Competências. Disponível em: http://www.funai.gov.br Acesso em 16 de setembro de 2007.
  • MONTE, Nietta Lindenberg. E agora, cara pálida? Educação e povos indíginas, 500 anos depois. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, nº. 15, set./dez., p. 118133, 2000.
  • MOREIRA, A. F. B.; DA SILVA, Tomaz T. Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: MOREIRA, A. F. B.; DA SILVA, T. T. (Orgs). Currículo, cultura e sociedade. Trad. In: 6Maria Ap. Baptista. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
  • PIMENTA, Garrido Selma (Org). Saberes pedagógicos e atividade docente. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2000 (Saberes da Docência).
  • RAMOS, Alcida. Sociedade indígena. São Paulo: Ática, 1986. (Série Princípios).
  • RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. 5ª ed. PetropolisRJ: Vozes,1986.
  • SACRISTÁN, J. Gemem. O currículo: uma reflexão sobre a prática. Tradução de Ernane da F. Rosa. 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed, 2000.
  • SANTOS, Milton. Por uma nova geografia: da crítica da geografia a uma geografia crítica. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2002. (Coleção Milton Santos).
  • TERENA, Marcos. Programa Raízes: povos indígenas no Pará. Belém, 2001.
  • THRURIE, M. G. O desenvolvimento profissional dos professores: novos paradigmas, novas práticas. In: PERRENOUD, Philippe et al. As competências para ensinar no século XXI. Trad. Cláudia Schilling e Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.
  • VEIGA, Juracilda; FERREIRA, M. B. R. (Org). Desafios atuais da educação escolar indígena. Campinas: ALB ; Brasília: Núcleo de Cultura e Educação Indígena, 2005.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Set 2014
  • Data do Fascículo
    Set 2009

Histórico

  • Recebido
    22 Ago 2008
  • Aceito
    01 Jul 2009
Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia Av. Reitor Miguel Calmon, s/n 3o. sala 29, 41110-903 Salvador-BA Brasil, Tel.: (55 71) 3283-7344, Fax.:(55 71) 3283-7667 - Salvador - BA - Brazil
E-mail: revistaoes@ufba.br