Acessibilidade / Reportar erro

Controle da lagarta-da-soja com aplicações de seu vírus de poliedrose nuclear por vias aérea e terrestre

Control of the velvetbean caterpillar through air and land applications of its nuclear polyhedrosis virus

Resumos

De 1983 a 1988 foram conduzidos, na região de Dourados, MS, seis experimentos e três campos-piloto, objetivando controlar a lagarta Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818, com aplicações aérea e terrestre de seu vírus de poliedrose nuclear (VPN Ag). Cem lagartas equivalentes (LE) de VPN Ag associadas a óleo de soja, melaço de cana-de-açúcar e água, foram aplicadas com avião agrícola equipado com Micronair. Os preparados oleosos (5,5 e 5 L ha-1) e com melaço (10 L ha-1) controlaram 75-89% e 79-96% das lagartas, respectivamente. A suspensão aquosa de 3 L ha-1 foi ineficaz, porém as de 15, 20 e 25 L ha-1 controlaram de 81% a 90% das lagartas. Cinqüenta LE, aplicadas com avião agrícola (3 L ha-1) ou atomizador (15 L ha-1), foram ineficientes. Aplicações da mesma dose com pulverizador de barra (134 e 150 L ha-1) proporcionaram controle de 87% e 90%, respectivamente, e com avião (15, 20 e 25 L ha-1), entre 93% e 98%. Aplicações aéreas de 50 LE com óleo de soja (5 L ha-1) ou melaço (10 L ha-1) foram eficientes (86-88% e 99%, respectivamente). Aplicações aéreas de suspensões aquosas e formulado oleoso, em campos-piloto, confirmaram os resultados experimentais.

cultura de soja; Lepidoptera; Noctuidae; Anticarsia gemmatalis; óleo de soja; melaço de cana-de-açúcar; atomizador; Micronair


From 1983 to 1988 six experiments and three pilot fields were carried out at Dourados, Mato Grosso do Sul State, Brazil, aimed at controlling Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 (Lepidoptera: Noctuidae) larvae through air and land applications of its nuclear polyhedrosis virus (Ag NPV). One hundred larval equivalents (LE) of NPV were applied, with soybean oil, sugar cane molasses and water, with an Ipanema spraying plane equipped with Micronair nozzles. The oil (5.5 and 5 L ha-1) and molasses (10 L ha-1) preparations yielded 75-89% and 79-96% control, respectively. The use of aqueous formulation (3 L ha-1) didn't provide good control, but 15, 20 and 25 L ha-1 were effective (81-90%). Fifty LE applied by plane at 3 L ha-1 or by a tractor propelled atomizer (15 L ha-1) was inefficient. Fifty LE applied with a bar sprayer (134 and 150 L ha-1) provided 87-90% control. When applied by plane (15, 20 and 25 L ha-1) the control was 93-98%. Air applications of 50 LE using soybean oil (5 L ha-1) and sugar cane molasses (10 L ha-1) were efficient, providing 86-88% and 99% control, respectively. The results obtained from the pilot fields were similar to the ones obtained with the experiments.

soybean crop; Lepidoptera; Noctuidae; Anticarsia gemmatalis; soybean oil; sugar cane molasses; Micronair nozzles; tractor propelled atomizer


CONTROLE DA LAGARTA-DA-SOJA COM APLICAÇÕES DE SEU VÍRUS DE POLIEDROSE NUCLEAR POR VIAS AÉREA E TERRESTRE1 1 Aceito para publicação em 14 de maio de 1999. 2 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste (CPAO), Caixa Postal 661, CEP 79804-970 Dourados, MS. E-mail: sergio@cpao.embrapa.br 3 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo), Caixa Postal 231, CEP 86001-970 Londrina, PR. E-mail: gazzoni@cnpso.embrapa.br

SÉRGIO ARCE GOMEZ2 1 Aceito para publicação em 14 de maio de 1999. 2 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste (CPAO), Caixa Postal 661, CEP 79804-970 Dourados, MS. E-mail: sergio@cpao.embrapa.br 3 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo), Caixa Postal 231, CEP 86001-970 Londrina, PR. E-mail: gazzoni@cnpso.embrapa.br e DÉCIO LUIZ GAZZONI3 1 Aceito para publicação em 14 de maio de 1999. 2 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste (CPAO), Caixa Postal 661, CEP 79804-970 Dourados, MS. E-mail: sergio@cpao.embrapa.br 3 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo), Caixa Postal 231, CEP 86001-970 Londrina, PR. E-mail: gazzoni@cnpso.embrapa.br

RESUMO - De 1983 a 1988 foram conduzidos, na região de Dourados, MS, seis experimentos e três campos-piloto, objetivando controlar a lagarta Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818, com aplicações aérea e terrestre de seu vírus de poliedrose nuclear (VPN Ag). Cem lagartas equivalentes (LE) de VPN Ag associadas a óleo de soja, melaço de cana-de-açúcar e água, foram aplicadas com avião agrícola equipado com Micronair. Os preparados oleosos (5,5 e 5 L ha-1) e com melaço (10 L ha-1) controlaram 75-89% e 79-96% das lagartas, respectivamente. A suspensão aquosa de 3 L ha-1 foi ineficaz, porém as de 15, 20 e 25 L ha-1 controlaram de 81% a 90% das lagartas. Cinqüenta LE, aplicadas com avião agrícola (3 L ha-1) ou atomizador (15 L ha-1), foram ineficientes. Aplicações da mesma dose com pulverizador de barra (134 e 150 L ha-1) proporcionaram controle de 87% e 90%, respectivamente, e com avião (15, 20 e 25 L ha-1), entre 93% e 98%. Aplicações aéreas de 50 LE com óleo de soja (5 L ha-1) ou melaço (10 L ha-1) foram eficientes (86-88% e 99%, respectivamente). Aplicações aéreas de suspensões aquosas e formulado oleoso, em campos-piloto, confirmaram os resultados experimentais.

Termos para indexação: cultura de soja, Lepidoptera, Noctuidae, Anticarsia gemmatalis, óleo de soja, melaço de cana-de-açúcar, atomizador, Micronair.

CONTROL OF THE VELVETBEAN CATERPILLAR THROUGH AIR AND LAND APPLICATIONS OF ITS NUCLEAR POLYHEDROSIS VIRUS

ABSTRACT - From 1983 to 1988 six experiments and three pilot fields were carried out at Dourados, Mato Grosso do Sul State, Brazil, aimed at controlling Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 (Lepidoptera: Noctuidae) larvae through air and land applications of its nuclear polyhedrosis virus (Ag NPV). One hundred larval equivalents (LE) of NPV were applied, with soybean oil, sugar cane molasses and water, with an Ipanema spraying plane equipped with Micronair nozzles. The oil (5.5 and 5 L ha-1) and molasses (10 L ha-1) preparations yielded 75-89% and 79-96% control, respectively. The use of aqueous formulation (3 L ha-1) didn't provide good control, but 15, 20 and 25 L ha-1 were effective (81-90%). Fifty LE applied by plane at 3 L ha-1 or by a tractor propelled atomizer (15 L ha-1) was inefficient. Fifty LE applied with a bar sprayer (134 and 150 L ha-1) provided 87-90% control. When applied by plane (15, 20 and 25 L ha-1) the control was 93-98%. Air applications of 50 LE using soybean oil (5 L ha-1) and sugar cane molasses (10 L ha-1) were efficient, providing 86-88% and 99% control, respectively. The results obtained from the pilot fields were similar to the ones obtained with the experiments.

Index terms: soybean crop, Lepidoptera, Noctuidae, Anticarsia gemmatalis, soybean oil, sugar cane molasses, Micronair nozzles, tractor propelled atomizer.

INTRODUÇÃO

Pesquisas sobre a aplicação aérea de vírus de poliedrose nuclear (VPN) têm sido realizadas visando, principalmente, ao controle de insetos-pragas de espécies vegetais perenes. Nesses estudos, as aplicações foram geralmente efetuadas com aeronaves equipadas com pulverizador de barra associado a bicos de pulverização do tipo leque (Stelzer et al., 1975, 1977; Kaupp & Cunningham, 1977; Cunningham et al., 1979; Shepherd et al., 1984) ou com equipamentos constituídos de bicos centrífugos de tela rotativa (Groot et al., 1979) e bicos de discos rotativos (Yendol et al., 1977; Wollam et al., 1978).

Em apenas um dos trabalhos consultados, os autores usaram exclusivamente água (Thompson & Steinhaus, 1950); nos demais foram usadas combinações dos seguintes materiais: água (A); corante marcador (CM); espalhante adesivo (EA); melaço (ME), constituindo, geralmente, 25% do formulado; marcador fluorescente (MF), para avaliação das características das gotículas depositadas e protetor anti-raios ultravioleta (PARU). Assim, Thompson & Steinhaus (1950) verificaram que a aplicação de 46,8 L ha-1 de suspensão aquosa constituída de 2,35x1011 corpos poliédricos de inclusão (CPI) de VPN, reduziram drasticamente a população de seu hospedeiro natural, Coslias philodice euritheme, em alfafa (Medicago sativa).

Stelzer et al. (1975, 1977) aplicaram 18,7 L ha-1 de formulados constituídos de A, ME, PARU, um adjuvante comercial destinado a formulações microbianas, 2,47x1011 e 2,47x1012 CPI de VPN de Orgyia pseudotsugata, praga de Pseudotsuga menziesii var. glauca e P. menziesii, obtendo reduções populacionais do inseto superiores a 90%.

Yendol et al. (1977) aplicaram 18,7 L ha-1 de calda composta de A, EA, ME, PARU e 2,5x1013 de um isolado de VPN do inseto alvo, Lymantria dispar, praga de Quercus alba e Quercus spp. Decorridos 23 dias da aplicação, constataram redução populacional de cerca de 58% nas parcelas tratadas e desfolhamentos variando de 54% a 75%, enquanto nas testemunhas a perda aproximou-se de 100%. Wollam et al. (1978) verificaram que a população do mesmo inseto foi reduzida entre 59% e 79% com aplicação de 18,7 L ha-1 de inseticida constituído de 2,5x1012 CPI ha-1 do seu VPN, A, EA, ME e PARU.

Stelzer et al. (1977), aplicando 9,4 L ha-1 de produto constituído de 2,5x1011 CPI de VPN de O. pseudotsugata, A e PARU, registraram controle superior a 90%, com excelente proteção às folhas de P. menziesii. Resultado semelhante foi obtido por Kaupp & Cunningham (1977) e Groot et al. (1979) em experimento visando ao controle de Neodiprion lecontei sobre Pinus resinosa.

Cunningham et al. (1979) aplicaram, sobre Choristoneura fumiferana, 9,4 L ha-1 de formulado (A, EA, ME, PARU e 7,5x1010 CPI de seu VPN), obtendo os seguintes porcentuais de controle: 33% a 92% em árvores de Abies balsamea e37% a 76% em Picea glauca. Shepherd et al. (1984) registraram 77% a 100% de infeção em O. pseudotsugata, sobre árvores de Pseudotsuga menziesii, aplicando 11,3 L ha-1 de um formulado (A, EA, ME, MF e 2,2 x1011 CPI de VPN da praga). Entretanto, Cunningham et al. (1979) constataram controle inconsistente de C. fumiferana após aplicação de 9,4 L ha-1 de um formulado oleoso emulsionável de 7,5x109 CPI de seu VPN, mas enfatizaram que tal insucesso deveu-se à idade avançada das lagartas na data da aplicação.

As promissoras possibilidades de uso do vírus de poliedrose nuclear de Anticarsia gemmatalis (VPN Ag), como inseticida microbiano, para o controle da lagarta-da-soja (Carner & Turnipseed, 1977; Moscardi, 1977), foram definitivamente consolidadas por Moscardi (1983), que demonstrou a eficiência do VPN Ag, aplicado, na forma de suspensão aquosa, com pulverizador de barra tracionado a trator. Contudo, não havia informações sobre práticas envolvendo aplicações através de aviação agrícola, para atender a demandas em áreas de grandes extensões, e com atomizador (canhão) tracionado por trator agrícola, razão pela qual objetivou-se, com este trabalho, a viabilização de técnicas que possibilitassem a utilização desses equipamentos.

MATERIAL E MÉTODOS

No período compreendido pelas safras de 1983/84 e 1987/88 foram conduzidos na região de Dourados, MS, seis experimentos com utilização de aeronave agrícola Ipanema equipada com Micronair (AU 3000 em quatro experimentos; AU 5000, nos restantes). Na amostragem de lagartas de A. gemmatalis, foi usado o método do pano (Boyer & Dumas, 1963), que abrange 2 m de fileira de plantas, fazendo-se 10 amostragens por parcela e anotando-se, separadamente, o número de lagartas pequenas (£ 1,5 cm) e grandes (³ 1,5 cm).

Para a preparação das doses de VPN Ag, uma lagarta equivalente (LE) correspondeu a uma lagarta totalmente desenvolvida, morta pelo patógeno, que, de acordo com Moscardi (1983), contém cerca de 1,3x109 corpos poliédricos de inclusão (CPI). Os porcentuais de desfolhamento referem-se à área foliar consumida pelas lagartas e os seus valores foram obtidos a partir de leituras em três folíolos por planta. Os folíolos foram coletados ao acaso, nas partes superior, média e basal da soja, num total de 30 por parcela. O delineamento estatístico constou de blocos ao acaso, com três repetições. O tamanho das parcelas foi de 25 x 150 m no primeiro experimento; 20 x 300 m no segundo e 600 x 300 m nos demais, enquanto as bordaduras laterais de cada parcela mediram entre 15-20 m.

Foram testadas duas doses de VPN Ag (50 e 100 LE ha-1) em associação com óleo de soja, melaço de cana-de-açúcar e água, que foram aplicadas em diferentes volumes por hectare. As aplicações foram realizadas através de avião agrícola. Todavia, em um dos testes, foram usados dois equipamentos, tracionados por trator agrícola: atomizador (canhão) e pulverizador de barra, que foi utilizado em mais um experimento (Tabela 1). Nas contagens pós-aplicações, iniciadas no sétimo ou oitavo dia, as lagartas doentes, que apresentaram sintomas inequívocos de infecção e sem aparentes possibilidades de continuarem alimentando-se normalmente, foram consideradas como controladas. Para efeito de avaliação, anotaram-se apenas as lagartas sem sintoma de infecção pelo patógeno. Os números originais de lagartas grandes sadias e os porcentuais de desfolhamento foram transformados em e , respectivamente, antes de serem submetidos à ANOVA. Os contrastes entre as médias foram verificados pelo teste de Duncan a 5% de probabilidade, e os porcentuais de controle, determinados pela fórmula de Abbott (1925). Detalhamentos relativos à época de realização dos experimentos, às condições em que foram executados, aos tratamentos, às cultivares, às populações iniciais da praga e aos locais encontram-se nas Tabelas 1 e 2.

Com vistas à validação dos resultados obtidos experimentalmente, foram conduzidos três campos-piloto na Fazenda Dependência, Ponta Porã, MS, na safra 1986/87. No primeiro, de 38 ha, a cv. IAC-8 encontrava-se no final da fase vegetativa e a população anterior à aplicação dos tratamentos constituiu-se de 25 lagartas pequenas e cinco grandes. Foi aplicada a dose de 100 LE ha-1 do patógeno associado a óleo de soja (5 L ha-1). No segundo campo, de 100 ha da cv. IAS-5 em início de floração, pulverizou-se o mesmo tratamento sobre uma população média de 30 lagartas pequenas e dez grandes. No terceiro, constituído de seis cultivares, o VPN Ag foi aplicado nas doses de 50 e 75 LE ha-1, via aérea, na forma de suspensões aquosas de 15 e 25 L ha-1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dois experimentos mostraram que 50 LE de VPN Ag, aplicadas com pulverizador de barra tracionado por trator agrícola, na forma de suspensões aquosas de 154 e 130 L ha-1, controlaram, respectivamente, 75% e 80% das lagartas de A. gemmatalis no oitavo dia após aplicação dos tratamentos (DAT). No décimo DAT, o controle foi de 90% e 87%, respectivamente (Tabelas 3 e 4). Tais resultados aproximam-se dos relatados por Carner & Turnipseed (1977) e Moscardi (1983). Constatou-se que o volume de líquido a ser utilizado como meio para a aplicação do inseticida biológico pode ser crítico, pois aplicações de 50 ou 100 LE, quando efetuadas com volume de calda variando entre 3 L ha-1 para avião ou 15 L ha-1 para canhão ¾ testados, inicialmente, com o objetivo de reduzir custos pela diminuição de reabastecimento ¾mostraram-se ineficientes (Tabela 3). A possível explicação para tais resultados pode estar relacionada com a rápida evaporação que sofre uma gota expelida de um Micronair ou de um canhão, sob alta pressão. Em contato com o ar atmosférico, e na presença de altas temperaturas observadas na região durante a safra de soja, as gotas diminuem rapidamente de tamanho, podendo evaporar quase totalmente, sendo carregadas pelas correntes ascendentes, ou mesmo distribuídas sobre uma área maior do que a originalmente prevista. Diante do exposto, as doses pretendidas (50 e 100 LE) provavelmente não foram depositadas sobre as plantas de soja, principalmente nos terços médio e inferior, onde se concentra a maioria das lagartas de até quarto ínstar (Ferreira & Panizzi,1978), que são as mais suscetíveis ao vírus (Moscardi, 1983), redundando em baixa mortalidade. Com base nessa hipótese, buscou-se melhorar a cobertura das plantas no experimento 2 (Tabela 4), aumentando-se o volume da aplicação aérea e alterando-se o veículo para óleo de soja (5,5 L ha-1) ou melaço (10 L ha-1), mas mantendo-se a dose de vírus em 100 LE. Todos os tratamentos com aplicação de VPN Ag foram semelhantes entre si tanto aos 7 DAT (75% a 83%) quanto nas demais datas de amostragem (71% a 87% de controle), e diferindo estatisticamente da testemunha. A melhoria na eficiência da atuação do inseticida biológico em relação ao estudo anterior evidencia-se quando é analisado o desfolhamento causado pelas lagartas, visto que as parcelas que receberam o produto por via aérea sempre mostraram-se menos desfolhadas que a testemunha, o mesmo não ocorrendo na aplicação com barra, semelhante estatisticamente à testemunha e à aplicação com avião (Tabela 4).

O sucesso na aplicação de VPN Ag por via aérea, com a adição de melaço ou óleo de soja, suscitou a necessidade de avaliação da menor dose do inseticida que efetuasse um bom controle de A. gemmatalis, o que foi concretizado mediante o experimento 3. A análise estatística mostrou não haver diferença entre as doses de 50 e 100 LE, quando aplicadas através de 5 L ha-1 de óleo de soja, evidenciando um bom controle a partir de 8 DAT (82% a 93%), o mesmo sendo observado aos 10 e 12 DAT, com porcentuais de controle variando entre 76% e 89% (Tabela 5). Prosseguindo com o estudo, no experimento 4 comparou-se a aplicação aérea com melaço (10 L ha-1) ao realizado com óleo de soja (5 L ha-1), nas doses de 50 e 100 LE. Ambos tratamentos mostraram-se estatisticamente equivalentes (Tabela 6), propiciando bom controle da lagarta-da- soja (entre 88% e 99%). Desta forma foi possível estabelecer a viabilidade de uso de 50 LE de melaço ou óleo de soja, quando aplicados por via aérea, em volumes de 10 e 5 L ha-1, respectivamente.

Como as aplicações aéreas de inseticidas são utilizadas tendo como veículo a água, tornava-se necessário verificar a eficiência do vírus da lagarta-da-soja com volumes de água superiores aos estudados no experimento 1, observando-se, porém, os parâmetros técnicos estabelecidos para as aeronaves agrícolas. Assim, no experimento 5, utilizaram-se 15, 20 e 25 L ha-1 de água para aplicar 100 LE de VPN Ag. Os resultados expostos na Tabela 7 evidenciaram que os tratamentos foram estatisticamente equivalentes, proporcionando controle eficiente da lagarta-da-soja, em especial aos 9 DAT, quando o controle variou entre 85% e 90%. Os mesmos volumes de suspensão aquosa, ao lado de outro de 10 L ha-1, mas veiculando 50 LE, foram aplicados no experimento 6. As aplicações de 15, 20 e 25 L ha-1 mantiveram o nível de eficiência, que variou de 93% a 98% nas avaliações realizadas aos 6 e 8 DAT (Tabela 8). Conforme a mesma tabela, o volume de 10 L ha-1 proporcionou controle de 92% e 96% aos 6 e 8 DAT, respectivamente, mas carece de confirmação em experimento ou de validação em termos de lavoura. Esses resultados permitiram aferir o volume mínimo de água a ser utilizado na aplicação aérea de VPN Ag, o qual, de acordo com o estudo realizado, situa-se na faixa de 15 L ha-1.

Após a obtenção desses resultados, foram realizadas aplicações em lavouras com a finalidade de validá-los. No município de Ponta Porã, a aplicação aérea de 100 LE de VPN Ag foi efetuada com o auxílio de 5 L ha-1 de óleo de soja, em duas lavouras. As amostragens realizadas indicaram que houve um controle de 90% das lagartas presentes em uma área, e de 80% em outra, aos 10 DAT (Tabela 9).

No mesmo município, na propriedade denominada Fazenda Dependência, 854 ha de soja, infestados com a lagarta-da-soja, foram submetidos a aplicações aéreas utilizando-se 50 ou 75 LE, veiculados através de 15 L ha-1 de água, além de uma aplicação de 75 LE através de 25 L ha-1. A avaliação das áreas aplicadas demonstrou que o tratamento com VPN Ag, com qualquer dose ou volume de calda utilizado, reduziu a população da lagarta-da-soja (80% a 92%) aos 10 DAT (Tabela 10).

CONCLUSÕES

1. Cinqüenta LE de VPN Ag, aplicadas com avião agrícola equipado com Micronair, na forma de suspensões aquosas de 15, 20 e 25 L ha-1, e associadas a óleo de soja (5 L ha-1) e a melaço de cana-de-açúcar (10 L ha-1), controlam eficientemente a lagarta-da-soja.

2. Suspensões aquosas de 50 LE de VPN Ag aplicadas, via atomizador (15 L ha-1) e de 50 e 100 LE, via avião agrícola equipado com Micronair (3 L ha-1), não controlam eficientemente a lagarta-da-soja.

REFERÊNCIAS

  • ABBOTT, W. A method of computing the effectiveness of an insecticide. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.18, p.265-267, 1925.
  • BOYER, W.P.; DUMAS, W. Soybean insects survey as used in Arkansas. Cooperative Economic Insect Report, Hyattsville, v.13, n.6, p.91-92, 1963.
  • CARNER, G.R.; TURNIPSEED, S.G. Potential of a nuclear polyhedrosis virus for control of the velvetbean caterpillar in soybean. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.70, n.5, p.608-610, 1977.
  • CUNNINGHAM, J.C.; HOWSE, G.M.; McPHEE, J.R.; GROOT, P. de; WHITE, M.B.E. Aerial application of spruce budworm baculovirus: replicated tests with an aqueous formulation and a trial using an oil formulation in 1978. Sault Sainte Marie : Canadian Forestry Service, 1979. 19p. (Report, FPM-X-21).
  • FERREIRA, B.S.C.; PANIZZI, A.R. Distribuição de ovos e lagartas de Anticarsia gemmatalis Hübner em plantas de soja. Anais da Sociedade Entomologica do Brasil, Jaboticabal, v.7, n.1, p.54-59, 1978.
  • GROOT, P. de; CUNNINGHAM, J.C.; McPHEE, J.R. Control of red-headed pine sawfly with a baculovirus in Ontario in 1978 and a survey of areas treated in previous years Sault Sainte Marie : Canadian Forestry Service, 1979. 14p. (Report, FPM-X-20).
  • KAUPP, W.J.; CUNNINGHAM, J.C. Aerial application of a nuclear polyhedrosis virus against the red-headed pine sawfly, Neodiprion lecontei (Fitch.). Sault Sainte Marie : Canadian Forestry Service, 1977. 26p. (Information Report, IP-4).
  • MOSCARDI, F. Control of Anticarsia gemmatalis Hübner on soybean with a baculovirus and selected insecticides and their effect on natural epizootics of the entomogenous fungus Nomuraea rileyi (Farlow) Samson Gainesville : University of Florida, 1977. 68p. M.Sc. Thesis.
  • MOSCARDI, F. Utilização de Baculovirus anticarsia para o controle da lagarta da soja, Anticarsia gemmatalis. Londrina : Embrapa-CNPSo, 1983. 21p. (Embrapa-CNPSo. Comunicado Técnico, 23).
  • SHEPHERD, R.F.; OTVOS, I.S.; CHORNEY, R.J.; CUNNINGHAM, J.C. Pest management of Douglas-firtussockmoth(Lepidoptera: Lymantriidae): prevention of an outbreak through early treatment with a nuclear polyhedrosis virus by ground and air applications. Canadian Entomologist, Otawa, v.116, p.1533-1542, 1984.
  • STELZER, M.J.; NEISESS, J.; CUNNINGHAM, J.C.; McPHEE, J.R. Field evaluation of baculovirus stocks against Douglas-fir tussock moth in British Columbia. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.70, n.2, p.243-246, 1977.
  • STELZER, M.J.; NEISESS, J.; THOMPSON, C.G. Aerial applications of a nucleopolyhedrosis virus and Bacillus thuringiensis against the Douglas-fir tussock moth. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.68, n.2, p.269-272, 1975.
  • THOMPSON, C.G.; STEINHAUS, E.A. Further tests using a polyhedrosis virus to control the alfafa caterpillar. Hilgardia, Berkeley, v.19, n.14, p.411-445, 1950.
  • WOLLAM, J.D.; YENDOL, W.G.; LEWIS, F.B. Evaluation of aerially-applied nuclear polyhedrosis virus for suppression of the gypsy moth,Lymantriadispar L. Broomall : USDA-Forest Service, 1978. 8p. (Research Paper, NE-396).
  • YENDOL, W.G.; HEDLUND, R.C.; LEWIS, F.B. Field investigation of a baculovirus of the gypsy moth. Journal of Economic Entomology, Lanham, v.70, n.5, p.598-602, 1977.
  • 1
    Aceito para publicação em 14 de maio de 1999.
    2
    Eng. Agrôn., Dr., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária do Oeste (CPAO), Caixa Postal 661, CEP 79804-970 Dourados, MS. E-mail:
    3
    Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo), Caixa Postal 231, CEP 86001-970 Londrina, PR. E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Out 2001
    • Data do Fascículo
      Mar 2000

    Histórico

    • Aceito
      14 Maio 1999
    Embrapa Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento; Pesquisa Agropecuária Brasileira Caixa Postal 040315, 70770-901 Brasília DF Brazil, Tel. +55 61 3448-1813, Fax +55 61 3340-5483 - Brasília - DF - Brazil
    E-mail: pab@embrapa.br