Editorial
Mais um exemplar dos Cadernos Paidéia vem a lume. O momento atual traz como marca a tentativa, vitoriosa até o momento, dos grupos ora hegemônicos no poder da República, de alterar de forma irreversível o modelo social definido pela Constituição Federal de 1988. Se naquele contexto as palavras-chave eram cidadania e solidariedade; hoje a meta é a competitividade referenciada na lógica do mercado de consumo. Dentro desta lógica, o Estado é apresentado como a fonte de todos os males e o serviço público como o exemplo de ineficiência a ser extirpado.
Nós, que pertencemos a uma instituição pública, temos sérias dúvidas quanto aos pressupostos e aos potenciais do paradigma do mercado de criar um mundo melhor para se viver. No Brasil e no mundo, os problemas centrais passam pela progressiva concentração da renda e da terra nas mãos de poucos, pelos tímidos avanços na universalização de uma educação básica de qualidade, pela drástica redução dos postos de trabalho, pelo aumento do mercado informal e pelo stress que sitia o cidadão moderno, cada vez mais atingido em sua auto-estima. Ora, boa parte destas pragas da modernidade não encontrarão sua solução no âmbito do mercado, mesmo porque ele é causa de muitas delas em seu afã de otimizar o lucro individual. Portanto, nós acreditamos que, assim como o mercado, as instituições públicas têm o seu papel na sociedade, papel este que passa exatamente por tentar neutralizar muitas das patologias desencadeadas pela lógica do mercado e que são cada vez mais evidentes em um mundo onde, a despeito do incrível incremento da produtividade social, a fome e o analfabetismo ainda estão presentes em todos os cantos do planeta.
Visando cumprir esta função social que cabe a toda universidade pública, é que trazemos ao debate um conjunto de artigos que, entre outras coisas, analisam as mudanças recentes na legislação educacional; o perfil, as expectativas e a formação dos professores; uma experiência de educação infantil pública; as relações entre as representações infantis e o desempenho escolar; o papel do pátio escolar nas interações entre as crianças; as representações dos pais sobre a escola que frequentaram e sobre a escola de seus filhos; o uso do laboratório no ensino de química, e as características estruturais de um curso de Psicologia.
Finalmente, gostaríamos de agradecer à chefia do Departamento de Psicologia e Educação, bem como à direção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP, pelo imprescindível apoio que tomou viável esta publicação.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
12 Abr 2012 -
Data do Fascículo
Ago 1996