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Modelos de diagnóstico institucional para implementação de programas de Competência em Informação em bibliotecas universitárias

Institutional diagnosis models for implementation of Information Literacy programs in academic libraries

RESUMO

O artigo relata os resultados da aplicação de dois modelos conceituais para avaliação e diagnóstico institucional de Competência em Informação em uma universidade federal brasileira: o modelo Information Literate University - ILC, de Webber e Johnston e o modelo dos Niveles de Integración de ALFIN, de Uribe Tirado. O diagnóstico foi apresentado como fase preliminar da formulação de uma estratégia para implantação de um Portal online de Competência em Informação no Sistema de Bibliotecas da UFSM. Apresenta histórico e preceitos norteadores da Competência em Informação no Brasil bem como o papel das bibliotecas universitárias. Os dois modelos são detalhados, com apresentação da metodologia de aplicação e contextualização dos resultados. Constatou-se a importância fundamental da realização de diagnóstico institucional para elaboração de estratégias eficientes para a implantação de programas de Competência em Informação em bibliotecas universitárias, uma vez que identifica as esferas de ação onde concentrar os esforços de trabalho dos bibliotecários envolvidos, as parcerias institucionais que devem ser estabelecidas, e as melhores áreas onde obter e investir recursos para implantação tanto de ações isoladas de Competência em Informação, quanto de programas mais abrangentes.

Palavras-chave:
Competência em Informação; Diagnóstico Institucional; Biblioteca Universitária

ABSTRACT

The article reports the results of application of two conceptual models for institutional diagnosis of Information Literacy in a Brazilian federal university: the Information Literate University - ILC, by Webber and Johnston, and the model of Níveles de Integración de ALFIN, by Uribe Tirado. The diagnosis was a preliminary phase in formulating a strategy for implementing an online Information Literacy portal for the UFSM Library System. It presents the history and guiding principles of Information Literacy in Brazil as well as the role of academic libraries. The two models are detailed, the method of application is presented, and the results are contextualized. It verifies the importance of carrying out an institutional diagnosis for creating efficient strategies for the implementation of Information Literacy programs in academic Libraries, as it identifies the spheres of action in which to concentrate the work efforts of the librarians involved, the institutional partnerships that must be established, and the best areas in which to obtain and invest resources for the implementation of both isolated Information Literacy activities and broader programs.

Keywords:
Information Literacy; Academic Library; Information Literacy Assessment

1 Introdução

As mudanças tecnológicas dos últimos anos, que vêm influenciando diversas áreas da sociedade, produziram grandes transformações no campo da educação, gerando a necessidade de adequar e remodelar as teorias tradicionais de aprendizagem a esse novo cenário. A adesão entusiástica das instituições ao uso das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no ensino presencial e a integração das novas modalidades do ensino à distância geraram um ambiente propício para inovações e experimentações nesse campo. Da mesma forma, essas mudanças tecnológicas alteraram irreversivelmente a forma como nos relacionamos com a informação e impuseram uma necessidade de rápida adaptação do perfil de trabalho das bibliotecas universitárias nas instituições de ensino superior.

As bibliotecas universitárias (BU) são aquelas que, inseridas no contexto do ensino superior, têm a finalidade de ser a interface entre a comunidade acadêmica (usuários) e a informação. Tradicionalmente, o objetivo principal da BU é contribuir para otimizar a busca e recuperação da informação que influi no desempenho e produtividade das comunidades acadêmicas em lides de ensino, aprendizagem e pesquisa (MACEDO; MODESTO, 1999MACEDO, Neusa Maria de; MODESTO, Fernando. Equivalências do serviço de referência convencional a novos ambientes de redes digitais em bibliotecas. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 38-54, 1999.), centralizando suas atividades na coleta, processamento e distribuição da produção intelectual nas instituições de ensino superior. Esse modelo de serviço, que por muito tempo atendeu adequadamente aos seus usuários, evoluiu rapidamente a partir da adoção de novas práticas em tecnologia da educação e o acesso livre a um grande volume de informação digital nos mais diversos suportes.

As bibliotecas universitárias foram adaptando e modernizando suas configurações funcionais e voltando-se cada vez mais à promoção da aprendizagem permanente dos usuários (MANHIQUE; VARELA, 2014MANHIQUE, Ilídio Lobato Ernesto; VARELA, Aida Varela. Competência informacional em instituições de ensino superior de Moçambique: níveis de integração em bibliotecas universitárias. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 14., 2014, Belo Horizonte. Anais [...]. Belo Horizonte: UFMG, 2014. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/332832720_Competencia_informacional_e_a_missao_em_bibliotecas_universitarias_niveis_de_integracao_em_bibliotecas_universitarias_de_Mocambique. Acesso em: 10 out. 2021.
https://www.researchgate.net/publication...
). O modelo de trabalho centrado na gestão do acervo mudou de "uma abordagem centrada em sistemas para uma abordagem centrada no usuário." (CAREGNATO, 2000CAREGNATO, Sônia Elisa. O desenvolvimento de habilidades informacionais: o papel das bibliotecas universitárias no contexto da informação digital em rede. Revista de Biblioteconomia & Comunicação, Porto Alegre, v. 8, p. 47-55, 2000. Disponível em: http://eprints.rclis.org/11663/1/artigoRBC.pdf. Acesso em: 15 out. 2021.
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, p. 48). Os estudos teóricos e conceituais de Information Literacy passaram a ganhar força, e no decorrer dos anos foram surgindo algumas iniciativas vinculadas a este movimento no Brasil.

Desde seu início, o movimento da Information Literacy no Brasil foi permeado de discussões conceituais e terminológicas, consolidando-se apenas na última década a adoção dos termos Competência em Informação e competência informacional (DUDZIAK, 2011DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Competência informacional: análise evolucionária das tendências da pesquisa e produtividade científica em âmbito mundial. Informação & Informação, Londrina, v. 15, n. 2, p. 1-22, 2011. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/7045. Acesso em: 16 set. 2021.
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php...
; TREIN; VITORINO, 2015TREIN, Juliane Marlei; VITORINO, Elizete Vieira. A evolução da temática competência informacional no Brasil: um estudo bibliográfico no período de 2006 a 2013. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 190-210, 2015. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/416. Acesso em: 21 ago. 2021.
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/v...
). Da mesma forma, apesar de haver um aumento no número de bibliotecas universitárias no Brasil oferecendo serviços para educação de usuários, poucas dessas iniciativas são integradas institucionalmente ou mesmo vinculadas a teorias e modelos conceituais para desenvolvimento de competências (URIBE TIRADO, 2012URIBE TIRADO, Alejandro. La alfabetización informacional en las bibliotecas de Brasil: visualización de los niveles de incorporación desde la información publicada en sus sitios web. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. p.134-152, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pci/a/4QGyYBW5VDHWPRrvhpyhhBc/abstract/?lang=es. Acesso em: 2 out. 2021.
https://www.scielo.br/j/pci/a/4QGyYBW5VD...
).

Muitos autores tratam de sistematizar as diretrizes, parâmetros e os modelos de avaliação para programas e ações de Competência em Informação (CoInfo), de forma a embasar e disseminar o seu uso em bibliotecas. Desses, os modelos de avaliação, apesar de sua reconhecida importância para fornecer indicadores de desempenho e dados para planejamento, implantação e manutenção de programas de CoInfo, ainda são pouco utilizados no Brasil (SANTOS; CASARIN, 2014SANTOS, Camila Araújo dos; CASARIN, Helen Castro Silva. Habilidades informacionais abordadas em instrumentos de avaliação de competência informacional. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 24, n. 3, p. 135-144, 2014. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/92010. Acesso em: 29 out. 2021.
https://brapci.inf.br/index.php/res/v/92...
).

Esse trabalho identifica os dois modelos principais para avaliação institucional de CoInfo: Information Literate University - ILC, de Webber e Johnston e o modelo de Níveles de Integración de Alfabetizacíon Informacional - ALFIN, de Uribe Tirado. A partir da análise dos dois modelos, apresenta o relato de experiência e o diagnóstico resultante da avaliação híbrida do estágio de integração de Competência em Informação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O processo de avaliação integrou o diagnóstico preliminar da Dissertação de Mestrado, com vistas a formulação de uma estratégia para implantação de um Portal online de Competência em Informação para o Sistema de Bibliotecas da UFSM.

2 Um breve histórico da Information Literacy e sua introdução no Brasil

O termo Information Literacy usado para expressar a ideia de uma capacidade dos indivíduos para lidar efetivamente com a informação disponível, apareceu pela primeira vez na literatura da área em 1974, com a publicação do relatório de Zurkovski1 1 Presidente da Information Industry Association, publicou o relatório enquanto fazia parte da National Commission on Libraries and Information Science. :

Pessoas treinadas para uso de recursos informacionais em seu trabalho podem ser chamadas de letradas informacionais. Ao formular soluções para seus problemas de informação, elas aprenderam as técnicas e desenvolveram habilidades para utilizar uma gama de ferramentas e recursos informacionais primários. (ZURKOWSKI, 1974ZURKOWSKI, Paul G. Information services environment relationships and priorities. Washington: National Commission on Libraries and Information Science, 1974. (Related Paper, No. 5). Disponível em: https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED100391.pdf. Acesso em: 29 out. 2021.
https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED100...
, p. 6, tradução nossa).

A partir de 1980, o movimento em prol da Information Literacy (IL) como papel das bibliotecas, centrado na figura do bibliotecário como promotor dessas ações, evoluiu significativamente. Em 1985, um estudo de usuários conduzido por Patricia Breivik da Biblioteca da Universidade de Colorado em Denver, E.U.A., constatou que essa seria a principal atividade educacional a ser desenvolvida nas universidades daquele momento em diante. O estudo da autora constituiu um dos primeiros passos para aproximação do trabalho dos bibliotecários, docentes e educadores nas ações conjuntas para desenvolvimento de IL (DUDZIAK, 2003DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Information Literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informação, Brasília, v. 32, n. 1, p. 23-35, 2003. Disponível em: https://revista.ibict.br/ciinf/article/view/1016. Acesso em: 24 out. 2021.
https://revista.ibict.br/ciinf/article/v...
). Esse aspecto do bibliotecário educador é particularmente importante quando falamos da biblioteca universitária.

A publicação do "Final Report of the Presidential Comitee" da American Library Association - ALA (1989) serviu de base para difusão da Information Literacy como um movimento mundial, para além dos países de língua inglesa. Iniciou-se um processo de conscientização dos bibliotecários da necessidade de facilitar de forma eficaz o acesso ao conteúdo informacional, em todos seus novos suportes. Esses profissionais deveriam voltar seus esforços "para tornar os usuários da biblioteca (agora usuários da informação) aprendizes independentes, enfatizando a integração curricular e a cooperação com a comunidade." (DUDZIAK, 2011DUDZIAK, Elisabeth Adriana. Competência informacional: análise evolucionária das tendências da pesquisa e produtividade científica em âmbito mundial. Informação & Informação, Londrina, v. 15, n. 2, p. 1-22, 2011. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/7045. Acesso em: 16 set. 2021.
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php...
, p. 7).

Para as Instituições de Ensino Superior, o marco mais importante foi a publicação no ano 2000 pela Association of College & Research Libraries (ACRL) do documento “Information Literacy Competency Standads for Higher Education2 2 Parâmetros para Competência Informacional no Ensino Superior (tradução nossa). , o qual possibilitou aos programas de IL já em andamento nas universidades, instrumentos para realizar a medição da Competência em Informação em estudantes universitários. Esse documento também consolidou e reafirmou o conceito de IL, definindo-o como um conjunto de habilidades que requer que os indivíduos reconheçam as suas necessidades de informação e saibam como localizá-la, avaliá-la e usá-la eficientemente (ACRL, 2000). Em um momento de grandes mudanças tecnológicas, quando muitas bibliotecas migraram seus catálogos para o ambiente on-line, o documento enfatiza a diversidade dos suportes e fontes de informação disponíveis e a importância de avaliar criticamente a informações obtidas em relação a autenticidade, validade e confiabilidade.

No Brasil, o surgimento das iniciativas para desenvolvimento de CoInfo está intrinsicamente ligado a adequação terminológica e tradução de Information Literacy para o português. Até hoje a tradução do termo ainda apresenta variações, uma vez que as traduções mais adequadas para “literacy” já estão consolidadas e são utilizadas com conceitos próprios e um pouco diferenciados na área de educação.

[...] o termo Information Literacy foi traduzido para o português como Desenvolvimento das Habilidades em Informação, Alfabetização Informacional, Competência Informacional e, também, como Competência em Informação. Sendo que os dois últimos têm sido mais comumente utilizados e apenas o último faz parte do catálogo de terminologia de assuntos da Biblioteca Nacional. (COELHO et al., 2014COELHO, Marilda Martins et al. Competência em informação no ambiente empresarial. In: SOUTO, Leonardo Fernandes (org.). Gestão da informação e do conhecimento: práticas e reflexões. Rio de Janeiro: Interciência, 2014. p. 117-139., p. 120).

Gasque (2010GASQUE, Kelley Cristine Gonçalves Dias. Arcabouço conceitual do letramento informacional. Ciência da Informação, Brasília, v. 39, n. 3, p. 83-92, 2010. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ci/a/9L8b38v48WBQSQVRX63BMsw/abstract/?lang=pt. Acesso em: 15 nov. 2021.
https://www.scielo.br/j/ci/a/9L8b38v48WB...
) e Siqueira e Siqueira (2012SIQUEIRA, Ivan Cláudio Pereira; SIQUEIRA, Jéssica Câmara. Information literacy: uma abordagem terminológica. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 13., 2012. Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2012. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/179210. Acesso em: 9 set. 2021.
https://brapci.inf.br/index.php/res/v/17...
) buscaram identificar na literatura e em pesquisas em Ciência da Informação, como as variações na tradução do termo Information Literacy foram utilizadas, indicando que a vinculação terminológica de cada uma delas não corresponde a uma diversidade conceitual significativa. Tem se consolidado, nos últimos anos, o uso dos termos "Competência em Informação", “Competência informacional” e o acrônimo “CoInfo” para estudos que tratam das correlações temáticas pertinentes ao termo inglês Information Literacy em bibliotecas universitárias (FAZZIONI; VIANNA; VITORINO, 2018VIANNA, Bárbara Ieger. Competência Informacional em um contexto de educação aberta: um portal de conteúdos para o Sistema de Bibliotecas da UFSM - SiB-UFSM. 2018. 142 fl. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Educacionais em Rede, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/16350. Acesso em: 20 nov. 2021.
https://repositorio.ufsm.br/handle/1/163...
). Em 2020, a FEBAB3 3 A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições criou o Grupo de Trabalho de Competência em Informação - GT CoInfo em maio de 2020. optou pelo termo “Competência em Informação” para nomear o Grupo de Trabalho designado para promover a temática a partir das ações da instituição.

3 Competência em Informação em bibliotecas universitárias no Brasil

Desde a publicação dos Standards pela ACRL (2000) vimos surgir, ao redor do mundo, muitos outros parâmetros e diretrizes para auxiliar na implementação e avaliação de programas voltados para o desenvolvimento de Competência em Informação nas universidades. Mas é ainda incipiente em bibliotecas universitárias brasileiras iniciativas para integrar institucionalmente programas macro para o desenvolvimento da CoInfo.

Grande parte das bibliotecas universitárias brasileiras já oferece vários de seus serviços tradicionais a usuários não-presenciais. Nesse contexto, há uma tendência das bibliotecas universitárias de se tornarem centros de e-learning (ACCART, 2012ACCART, Jean-Philippe. Serviço de referência: do presencial ao virtual. Brasília: Briquet de Lemos, 2012.). As iniciativas de open learning, que começaram a se difundir no Brasil por volta de 2007, também se tornaram cada vez mais plataformas para o desenvolvimento de serviços voltados aos usuários das bibliotecas universitárias.

Em 2012, Uribe Tirado (2012) realizou um estudo em larga escala, que resultou em um panorama das ações de Competência em Informação desenvolvidas em bibliotecas universitárias brasileiras. A partir do levantamento nos sites de 465 bibliotecas universitárias, o autor propôs-se a averiguar a existência de ações para promover a CoInfo nestas instituições de ensino. Os dados obtidos refletiram que apenas metade das bibliotecas realizavam ações para capacitação de usuários, e destas apenas 13% vinculavam essas ações a um conceito macro de desenvolvimento de CoInfo. Alguns estudos mais recentes já identificam um crescimento nas pesquisas e estudos de caso publicados sobre Competência em Informação (BELLUZZO, 2018BELLUZZO, Regina Célia Baptista. Competência em informação no Brasil: cenários e espectros. São Paulo: ABECIN, 2018. E-book. Disponível em: http://www.abecin.org.br. Acesso em: 30 out. 2021.
http://www.abecin.org.br...
; BORGES, 2017BORGES, Jussara. A contribuição das pesquisas em competências infocomunicacionais ao conceito de media and information literacy. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 13, n. esp., p. 27-46, 2017. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/667. Acesso em: 7 out. 2021.
https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/v...
; BRITO; VALLS, 2015BRITO, Regina Garcia; VALLS, Valéria Martin. Novas formas de aprendizagem e a mediação da informação: competências necessárias aos bibliotecários. Revista Brasileira de Educação em Ciência da Informação, São Paulo, v. 2, n. 1, p. 3-28, 2015. Disponível em: http://www.abecin.org.br/revista/index.php/rebecin/article/view/24. Acesso em: 14 out. 2021.
http://www.abecin.org.br/revista/index.p...
; ROSSI; COSTA; PINTO, 2014ROSSI, Tatiana; COSTA, Marília Damiani; PINTO, Adilson Luiz. Competências requeridas aos bibliotecários na prestação de serviços de informação em bibliotecas universitárias. Revista ACB, Florianópolis, v. 19, n. 1, p. 111-123, 2014. Disponível em: https://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/941. Acesso em: 10 nov. 2021.
https://revista.acbsc.org.br/racb/articl...
; TREIN; VITORINO, 2015TREIN, Juliane Marlei; VITORINO, Elizete Vieira. A evolução da temática competência informacional no Brasil: um estudo bibliográfico no período de 2006 a 2013. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 190-210, 2015. Disponível em: https://rbbd.febab.org.br/rbbd/article/view/416. Acesso em: 21 ago. 2021.
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), porém ainda temos um longo caminho a percorrer.

Diversos autores trataram de sintetizar e descrever os parâmetros, métodos de aplicação e modelos de avaliação de CoInfo que se desenvolveram ao longo dos anos, tornando-os mais acessíveis aos profissionais da área. Muitas das práticas documentadas de implantação em bibliotecas universitárias brasileiras foram adaptadas destes documentos teóricos. Baseando-se nos textos de Lindauer (2004LINDAUER, Bonnie Gratch. The three arenas of information literacy assessment. Reference & User Services Quarterly, Chicago, v. 44, n. 2, p. 122-129, 2004. Disponível em: https://journals.ala.org/index.php/rusq. Acesso em: 14 jun. 2021.
https://journals.ala.org/index.php/rusq...
), Walsh (2009WALSH, Andrew. Information literacy assessment: Where do we start? Journal of Librarianship and Information Science, Madison, WI, v. 41, n. 1, p. 19-28, 2009. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0961000608099896. Acesso em: 2 out. 2021.
https://journals.sagepub.com/doi/10.1177...
), Uribe Tirado (2010), Mata (2012MATA, Marta Leandro. Aspectos da avaliação da competência informacional em instituições de ensino superior. Em questão, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 141-154, 2012. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/view/22081/19795. Acesso em: 20 nov. 2021.
https://seer.ufrgs.br/EmQuestao/article/...
), Sobel e Sugimoto (2012SOBEL, Karen; SUGIMOTO, Cassidy R. Assessment of learning during library instruction: practices, prevalence, and preparation. Journal of Academic Librarianship, London, v. 38, n. 4, p. 191-204, 2012. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0099133312000729. Acesso em: 14 maio 2021.
https://www.sciencedirect.com/science/ar...
), Stordy (2015STORDY, Peter. Taxonomy of literacies. Journal of Documentation, London, v. 71, n. 3, p. 456-476, 2015. Disponível em: https://www.emerald.com/insight/content/doi/10.1108/JD-10-2013-0128/full/html. Acesso em: 30 set. 2021.
https://www.emerald.com/insight/content/...
), Pellegrini, Estácio e Vitorino (2016PELLEGRINI, Eliane; ESTÁCIO, Silvana dos Santos; VITORINO, Elizete Vieira. Instrumentos de avaliação da competência em informação. In: In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (org.). Competência em informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 155-182.) e Spudeit (2016SPUDEIT, Daniela. Programas para desenvolvimento de competências informacionais: implementação, metodologias e avaliação. In: ALVES, Fernanda Maria Melo; CORRÊA, Elisa Cristina Delfini; LUCAS, Elaine Rosangela de Oliveira (org.). Competência em Informação: políticas públicas, teoria e prática. Salvador: EDUFBA, 2016. p. 236-277.) pode-se sistematizar em três categorias as iniciativas elencadas nestas publicações:

  • a) Parâmetros, do inglês standards e frameworks, procuram estabelecer o conceito e aplicações da CoInfo, definir planos gerais para criação de programas ou ações relacionadas, bem como modelos teóricos de avaliação;

  • b) Modelos, do inglês models e guidelines, têm um caráter mais prático e são voltados para ações específicas, e muitas vezes apresentam exemplos diretamente aplicáveis; funcionam integrados aos parâmetros e descrevem ou organizam o caminho para alcançar a CoInfo;

  • c) Os modelos de avaliação e diagnóstico, do inglês evaluation e assessments, focam no processo de identificar evidências resultantes de ações de CoInfo e diagnosticar o ambiente e público-alvo destas ações. Apresentam políticas, diretrizes e modelos para diagnóstico institucional e acadêmico, bem como métodos e instrumentos para avaliação dos níveis de aprendizagem de CoInfo.

O uso de Parâmetros e modelos auxiliam o bibliotecário na implantação, desenvolvimento e avaliação de atividades de CoInfo nas Instituições de Ensino Superior. É importante para o profissional conhecê-los para poder adaptá-los de acordo com o perfil da instituição a qual a biblioteca está vinculada e da comunidade de usuários que ela pode alcançar.

4 Modelos para avaliação e diagnóstico do nível de integração institucional de CoInfo

Numa biblioteca universitária, é comum que ao se deparar com demandas para criação de ações ou programas para educação de usuários, ou de Competência em Informação, o bibliotecário inicie o processo sem um diagnóstico prévio da situação institucional. Em geral é somente após a implantação e de algumas rodadas de execução de um programa que se irá considerar estratégias de avaliação. O trabalho de avaliação e diagnóstico é retroativo, centrado na satisfação do participante, procurando identificar os pontos de melhoria e para estabelecer parcerias com outras esferas institucionais.

O projeto do Portal de CoInfo, produto da pesquisa, exigiu a adoção de uma metodologia de design instrucional, a qual prevê como ponto de partida a análise contextual, caracterização do público-alvo da ação de aprendizagem, e o levantamento de potencialidades e restrições do contexto educacional (FILATRO; CAIRO, 2015FILATRO, Andrea; CAIRO, Sabrina. Produção de conteúdos educacionais. São Paulo: Saraiva, 2015.). Para a execução da análise tornou-se necessário selecionar um modelo de avaliação de CoInfo que identificasse não o resultado de ações já existentes, e sim o perfil da instituição para a qual estava sendo projetado o portal. Da mesma forma, foi importante estabelecer um parâmetro inicial para comparação dos efeitos no ambiente institucional, pós-implantação. Dentre os modelos estudados, foram utilizados como parâmetros de análise as características desejáveis em uma "Information Literate University" de Webber e Johnston (2004WEBBER, Sheila; JOHNSTON, Bill. Perspectives on the information literate university. SCONUL Focus, London, v. 33, n. Winter, p. 33-35, 2004. Disponível em: https://www.sconul.ac.uk/sites/default/files/documents/SCONUL%20Focus%2033.pdf. Acesso em: 2 out. 2021.
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, 2006) e os quatro Níveles de integración de ALFIN de Uribe Tirado (2010, 2012).

4.1 O modelo da universidade competente em informação de Webber & Johnston

Sheila Webber e Bill Johnston (2004WEBBER, Sheila; JOHNSTON, Bill. Perspectives on the information literate university. SCONUL Focus, London, v. 33, n. Winter, p. 33-35, 2004. Disponível em: https://www.sconul.ac.uk/sites/default/files/documents/SCONUL%20Focus%2033.pdf. Acesso em: 2 out. 2021.
https://www.sconul.ac.uk/sites/default/f...
, 2006) desenvolveram o conceito da Information Literate University - ILU, traduzido como Universidade Competente em Informação - UIC, a partir de diversos estudos consolidados em uma pesquisa realizada em cinco universidades australianas. Na sua visão conceitual, há o entendimento de que a universidade deve se tornar competente em informação em todas as suas esferas: administradores, estudantes, pesquisadores, bibliotecários ou docentes. Para os autores, a gestão para a Competência em Informação oportuniza repensar todas as estruturas e comunicação internas, habilitando a instituição a funcionar como criadora de conhecimento, adaptada ao ambiente externo cada vez mais complexo da sociedade de informação (JOHNSTON, WEBBER, 2003JOHNSTON, Bill; WEBBER, Sheila. Information Literacy in Higher Education: a review and case study. Studies in Higher Education, Oxford, v.28, n.3, p.335-352, 2003. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03075070309295. Acesso em: 15 nov. 2021.
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).

A perspectiva da Universidade competente em informação compreende uma série de características, as quais avaliadas em conjunto, categorizam três níveis de Competência em Informação institucional: limiar, intermediário e embrionário. Essas características, dentro de cada um dos níveis, são identificadas em relação a cinco esferas de influência: administração central, docentes, acadêmicos, bibliotecários e abordagem de ensino e aprendizagem. As características de cada esfera são detalhadas conforme apresentadas pelos autores, em cada um dos níveis de competência.

4.1.1Nível limiar (threshold)

O nível limiar representa, para os autores, a universidade onde a integração institucional de Competência em Informação está plenamente realizada, sendo observável a partir das características de cada esfera institucional.

Na esfera da administração central, a Competência em Informação é mencionada em documentos estratégicos, como o plano de ensino e aprendizagem, ou planos de desenvolvimento institucional (PDI). A pessoa com responsabilidade de gestão de informação e serviços bibliotecários (incluindo a CoInfo) está envolvida nas decisões e é informada sobre questões estratégicas para a universidade como um todo. Um bom programa de CoInfo é usado como estratégia de captação de futuros alunos. Os bibliotecários estão envolvidos em campanhas de recrutamento e retenção de estudantes. Docentes e administradores têm uma compreensão do que é a CoInfo. O diálogo da comunidade acadêmica versa sobre “educação para a Competência em Informação” e não mais “treinamento de usuários”.

Na esfera dos docentes, orientação sobre Competência em Informação é incluída rotineiramente como parte de programas de recepção de novos professores. Bibliotecários são respeitados e trabalham com docentes no desenvolvimento de novos cursos e módulos, assim como são consultados em áreas relativas à Competência em Informação, particularmente sobre educação para CoInfo, quando são feitas alterações nos programas pedagógicos dos cursos.

Na esfera dos acadêmicos, observa-se que a CoInfo é um requisito de Pós-Graduação, já que os alunos não podem se graduar até que demonstrem que são competentes em informação. Eles entendem o que significa CoInfo e sabem em qual estágio se encontram. Além disso, os estudantes reconhecem o valor da Competência em Informação tanto como uma área de estudo na qual eles têm que se esforçar para alcançar sucesso, quanto na relevância que ela terá para suas vidas futuras.

Na esfera dos bibliotecários, há uma ideia clara do papel que o docente e o bibliotecário ocupam no processo de aprendizagem. Muitos usam o termo “Competência em Informação” no nome do seu cargo, setor, ou na descrição das suas funções, indicando esta atividade como sendo uma parte fundamental de seu trabalho.

A maioria dos bibliotecários compreende e desfruta de seu papel como educadores, e são praticantes reflexivos, desenvolvendo sua própria abordagem no ensino. Alguns têm qualificações de ensino adquiridas com o apoio da biblioteca. Existem canais formais e informais para promover o compartilhamento de experiências, assim como há discussões regulares entre bibliotecários sobre ensino, aprendizagem e avaliação. Os bibliotecários são capazes de identificar boas e más práticas de ensino entre seus colegas e docentes, e estão confiantes em suas relações. Há colaboração com serviços de tecnologia e áreas de suporte acadêmico. Todos os bibliotecários têm uma compreensão boa e holística da CoInfo e muitos mantêm-se atualizados com os desenvolvimentos no assunto.

Na esfera da abordagem de ensino/aprendizagem, docentes e bibliotecários trabalharam juntos para mapear as trilhas de aprendizagem para progressão de CoInfo, identificando os resultados esperados para cada nível de estudo. A Competência em Informação é avaliada e o trabalho avaliado conta créditos curriculares. Uma variedade de métodos de ensino, aprendizagem e avaliação é utilizada, conforme apropriado para o tópico específico.

4.1.2 Nível intermediário (intermediate)

Para Webber e Johnston, na universidade com nível intermediário, a integração institucional de Competência em Informação está em progresso, porém, apesar de compartilhar de diversas características do nível liminar, ainda necessita evoluir em todas as esferas.

Na esfera da administração central, observa-se que a Competência em Informação faz parte dos currículos de graduação, mas ou é uma parte menor, ou então não é mencionada explicitamente. O profissional responsável pelos serviços de informação e biblioteca é incluído em algumas das discussões institucionais estratégicas, mas não em todas.

Na esfera de docentes, alguns departamentos ou coordenações de cursos já trabalham com a equipe de bibliotecários para promover a incorporação significativa de conhecimento informacional e identificação de resultados de aprendizagem para a CoInfo em diferentes níveis. Alguns docentes já possuem ou já desenvolveram uma concepção holística de Competência em Informação, e veem os bibliotecários como parceiros no processo de ensino e aprendizagem de seus alunos.

Na esfera dos acadêmicos, alguns alunos já reconhecem o conceito de Competência em Informação por terem sido expostos a iniciativas no ambiente acadêmico.

Na esfera dos bibliotecários, pode existir um cargo ou uma função temporária de “coordenador de Competência em Informação”, porém sem responsabilidade de gestão sobre a maioria dos funcionários envolvidos no trabalho de CoInfo. No seu ambiente de trabalho, os bibliotecários da equipe são solicitados a refletir sobre e relatar seu trabalho com competência em informação. Alguns fazem isso com entusiasmo e outros com relutância. Há confiança em canais informais para trocar experiências e informações entre todos os profissionais envolvidos na educação para a CoInfo.

A relação entre docentes e bibliotecários é variável, podendo haver algum ressentimento dos segundos em relação aos docentes, que ainda são frequentemente vistos como analfabetos informacionais. Alguns possuem qualificações docentes e/ou desenvolveram conhecimentos/habilidades em pedagogia, o que também lhes dá confiança ao colaborar com docentes, mas são superados por bibliotecários que não confiam em suas habilidades de ensino, ou desconhecem seus limites como educadores.

Na esfera da abordagem de ensino e aprendizagem, muitas pessoas (entre docentes, administradores e bibliotecários) acham que uma abordagem genérica para a CoInfo é suficiente e desejável. A educação foi incorporada em alguns cursos, incluindo a atribuição de créditos curriculares.

A abordagem afasta-se da behaviorista, com um número crescente de sessões em que uma variedade de métodos de ensino, aprendizagem e avaliação são usados. No entanto, palestras curtas e sessões de resolução de exercícios ainda dominam. A padronização é valorizada e há uma tendência a ver apresentação de slides como sendo o principal recurso de ensino. A avaliação da CoInfo não é em geral uma atividade que vale créditos e nos poucos casos em que é creditada, a percentagem atribuída é muito pequena (por exemplo, 5% da nota da disciplina).

A Competência em Informação é ensinada majoritariamente em sessões curtas independentes, ou em encontros muito breves como parte das disciplinas de metodologia e introdução à pesquisa.

4.1.3 Nível embrionário (embryonic)

Webber e Johnston categorizam como nível embrionário a universidade que possui baixa ou nenhuma integração institucional de Competência em Informação, analisando as características desejáveis e o que pode ser observado em cada esfera.

Na esfera da administração central, Competência em Informação é entendida como “treinamento que dá às pessoas habilidades de informação”. A CoInfo não é mencionada como tal em documentos estratégicos, embora alguns documentos possam conter declarações que implicam interesse no seu desenvolvimento. A CoInfo não é algo que seja considerado relevante para o marketing da universidade.

Gestores confundem letramento digital e Competência em Informação. Nenhuma das esferas superiores considera a promoção da CoInfo como parte fundamental de sua missão institucional. A visão para o gerenciamento da biblioteca é focada nos recursos que fornece e na quantificação de uso (número de livros emprestados, artigos eletrônicos lidos etc.).

Na esfera dos docentes, estes na sua maioria não sabem definir Competência em Informação. Em ações práticas, não estão dispostos a dar mais de uma hora de seu tempo de aula para a atividades para desenvolvimento de competências e muitos nem isso.

Professores assumem que os alunos devem ter certos conhecimentos/habilidades em informação, como a capacidade de encontrar artigos relevantes ou de citar o material adequadamente, mas a maioria não discute esses conhecimentos/habilidades com os alunos em aula. Eles podem pensar que os bibliotecários estão dando apoio ou treinamento nessas áreas, mas, se questionados, admitiriam que não têm uma boa ideia do que os bibliotecários estão realmente fazendo.

A maioria dos docentes desconhece a necessidade de envolver bibliotecários no planejamento curricular ou não está disposta a isso. Os bibliotecários são percebidos, em geral, como prestadores de serviços preocupados com recursos específicos, como livros, periódicos e bases de dados.

Na esfera dos acadêmicos, a maioria dos estudantes não reconhece o conceito de Competência em Informação. É possível que alunos veteranos, que tenham sido expostos a ações da biblioteca, possam reconhecer que a CoInfo é útil, mas não se incomodam se os docentes não incluírem a temática no currículo dos cursos.

Neste nível de integração, os bibliotecários ficam na biblioteca, pois a maioria não vê a educação dos usuários como um papel fundamental do bibliotecário e alguns deles não gostam da ideia de ser educadores; há pouca discussão sobre aprendizagem, ensino e avaliação. A maioria dos bibliotecários não tem qualificação docente, e existe uma variedade dispersa de concepções de CoInfo. Muitas ações concentram-se em apenas alguns aspectos de CoInfo, como a busca, mas pode-se falar também sobre “habilidades de uso da biblioteca”.

Os bibliotecários estão preocupados com a eficiência, restrições, seu baixo status, em provar a relação custo-benefício do que estão fazendo. Poucos trabalham diretamente com docentes ou tem contato limitado (por exemplo, é solicitado que eles façam uma pequena sessão introdutória à biblioteca a cada ano) e acham que não são tratados como colegas. O setor ou o profissional gestor da biblioteca não tem uma concepção holística de CoInfo e/ou não a vê como uma questão estratégica que precisa impulsionar junto aos membros da equipe técnica.

Na esfera da abordagem de ensino e aprendizagem, a formação em CoInfo não foi incorporada na maioria dos cursos. Nas sessões de treinamento, a abordagem dominante é behaviorista (etapas lineares e pré-definidas). Não existe uma distinção clara entre avaliação da aprendizagem dos alunos e avaliação do ensino: os instrumentos de avaliação cobrem ambos. A participação dos alunos em cursos e atividades para desenvolver Competência em Informação não tem estímulo na forma de créditos acadêmicos e, nos poucos casos que conta na avaliação, a percentagem atribuída é muito pequena (por exemplo, 5% de uma nota do semestre).

A CoInfo é ensinada principalmente em sessões curtas e independentes ou em sessões muito breves dentro das disciplinas: a disponibilização de um tutorial on-line é vista como uma solução boa e suficiente para o “problema” da CoInfo.

Quando a avaliação dos alunos é considerada, há uma ênfase em questões de múltipla escolha, testes diagnósticos e compilação de bibliografias. Existe pouca adaptação da Competência em Informação para um nível ou disciplina específicos, exceto em termos de treinamento em diferentes bases de dados.

4.2 O modelo dos Níveles de Integración de ALFIN de Uribe Tirado

Alejandro Uribe Tirado (2010) elaborou, a partir da adaptação de classificações internacionais de integração de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas universidades e dos modelos de avaliação de Lindauer (2004LINDAUER, Bonnie Gratch. The three arenas of information literacy assessment. Reference & User Services Quarterly, Chicago, v. 44, n. 2, p. 122-129, 2004. Disponível em: https://journals.ala.org/index.php/rusq. Acesso em: 14 jun. 2021.
https://journals.ala.org/index.php/rusq...
) e Webber e Johnston (2006WEBBER, Sheila; JOHNSTON, Bill. Working towards the information literate university. In: WALTON, G.; POPE, A. (org.). Information Literacy: Recognising the Need. Oxford: Chandos Publishing, 2006. p. 47-58.), seu próprio modelo de diagnóstico para identificar a relação institucional de ações para desenvolvimento de CoInfo, aplicável à diferentes contextos universitários: os Níveles de integración de ALFIN (traduzido como Níveis de Integração de Competência em Informação).

Neste modelo, o autor categoriza as instituições de ensino superior de acordo com quatro níveis de incorporação da Competência em Informação: comprometidas, em crescimento, iniciantes e desconhecedoras. A categorização resulta da análise das atividades desenvolvidas no âmbito da instituição, cujas características são detalhadas a seguir.

4.2.1 Comprometidas

O autor considera que universidades neste nível são caracterizadas por possuírem ações e programas de CoInfo por mais de uma década. A Competência em Informação está definida tanto em objetivos quanto em metas concretas nos planos estratégicos da instituição, como consequência da conscientização de sua importância para a aprendizagem ao longo da vida. Também há uma vinculação da CoInfo com a geração de conhecimento, apoiado em TIC, e-learning e estratégias didáticas ativas, tendo em vista as demandas educacionais e informacionais da sociedade atual.

A CoInfo é vista como uma vantagem estratégica e diferencial para disseminar e desenvolver o posicionamento da universidade perante os diferentes públicos. É reconhecida a necessidade de que as diferentes populações da comunidade universitária (estudantes, professores, pesquisadores, funcionários e diretores) adquiram essas competências e tenham diferentes opções de capacitação.

As opções de capacitação são de natureza curricular para os alunos, e de educação continuada como requisito para progressão-atualização-promoção nas carreiras de professores, pesquisadores, funcionários e gestores. Os programas e cursos que compõem essas capacitações têm objetivos e metas de ensino e aprendizagem definidos, adotam uma diretriz padrão de CoInfo, reconhecem os diversos modelos de comportamento informacional (behaviour models of information seeking and use), além de avaliar permanentemente os resultados (quantitativos e qualitativos), garantindo a melhoria contínua de acordo com eles.

As equipes responsáveis por esses programas trabalham de forma colaborativa (bibliotecas e departamentos, bibliotecários e professores, entre outros), e recebem todo o apoio institucional na forma de recursos financeiros, tecnológicos e humanos. Isso permite otimizar esforços e recursos e apresentar as melhores e mais atualizadas possibilidades de acesso, conhecimento e uso de ferramentas e serviços especializados on-line e fontes de informação de qualidade.

4.2.2 Em crescimento

Neste nível o autor descreve as universidades que já vêm trabalhando de 3 e 10 anos com ações para o desenvolvimento de Competência em Informação. Porém, nos seus planos estratégicos, os objetivos e metas para desenvolvimento de CoInfo, com todos os seus diferentes aspectos, dificilmente estão formalizados a ponto de serem considerados como chave para o desenvolvimento institucional.

Já é possível identificar o início da conscientização sobre a transversalidade da CoInfo na formação e capacitação dos diferentes públicos que compõe a comunidade universitária, mas ainda há muitas instâncias onde não estão claras as implicações cognitivas, didáticas, informacionais, tecnológicas e comunicacionais da Competência em Informação.

Os cursos ou programas de CoInfo existentes ainda estão em processo de estruturação, definindo seus objetivos e metas de aprendizagem, e aproximando-se da realização e implementação de uma diretriz de CoInfo que considere o comportamento informacional de usuários e os referenciais teóricos da área, embora com poucas experiências por meio de e-learning e metodologias didáticas ativas. Propostas de capacitações começam a ser aceitas como parte dos currículos em alguns cursos e, em alguns departamentos, são consideradas como as competências-requisito para contratação de novos professores, pesquisadores e funcionários.

As avaliações de programas e demais ações de Competência em Informação estão centradas em dados quantitativos com alguns aspectos qualitativos, porém nem todas as melhorias são implantadas de acordo com as avaliações dos participantes.

Há um número crescente de recursos financeiros, tecnológicos e humanos, mas eles são insuficientes para as áreas responsáveis atenderem plenamente as necessidades e exigências da comunidade universitária. As possibilidades de acesso, conhecimento e uso de ferramentas e serviços especializados on-line e fontes de informação de qualidade estão aumentando, mas ainda são insuficientes para alcançar melhores resultados.

4.2.3 Iniciantes

Uribe Tirado categoriza como iniciantes as universidades que começaram as ações para o desenvolvimento de Competência em Informação há pelo menos um ano. Estas novas ações foram estabelecidas a partir da compreensão de que as formas tradicionais de “treinamento do usuário”, como cursos para o uso da biblioteca e seus recursos, não são suficientes, e que somente a partir da integração das mídias digitais e das novas metodologias de ensino e aprendizagem, serão alcançados os melhores resultados para a gestão da informação e do conhecimento, e a aprendizagem para toda a vida.

Nos documentos institucionais, por sua vez, o desenvolvimento de Competência em Informação não aparece bem definido nem formalizado entre os objetivos e estratégias, e é concebido na forma de capacitações isoladas ou disciplinas complementares, sem vinculação ao currículo dos cursos, que não apresentam exigências sobre aquisição das competências. Os novos cursos de CoInfo que vão sendo implantados são construídos com base em programas de treinamento tradicionais, em que há algum conhecimento do perfil geral dos participantes, mas não do comportamento informacional específico dos alunos.

Gradualmente estes cursos vão sendo repensados e reestruturados, tendo em vista as implicações filosóficas e operacionais do desenvolvimento de CoInfo, o que implica transpor esta concepção a cada novo treinamento. A avaliação é feita esporadicamente e visa relatar ações quantitativamente. Os recursos são escassos e utilizados principalmente em projetos-piloto que, obtendo resultados positivos, podem gerar investimentos em recursos humanos, financeiros, tecnológicos e em fontes de informação de qualidade.

4.2.4 Desconhecedoras

As universidades no nível desconhecedoras, segundo Uribe Tirado, são aquelas onde o tema da Competência em Informação não aparece ou se confunde com o do letramento ou alfabetização digital. Considera-se que este último é o suficiente e que, com o acesso aos meios digitais, os processos de aprendizagem permanente e geração de conhecimento realizam-se por si mesmos. Nos Planos Estratégicos, se algum aspecto de CoInfo for mencionado, ele será focado em uso de tecnologias, no acesso à Internet como um fim, e não um meio.

Essas universidades contam com programas tradicionais de treinamento de usuários, na maioria das vezes muito precários, o que demonstra uma concepção restrita das funções de uma biblioteca e do uso de fontes de informação de qualidade para um melhor processo de ensino-aprendizagem.

A Competência em Informação é vista, no melhor dos casos, como treinamento no uso de um determinado recurso informacional e não a ideia de capacitar para a gestão da informação e do conhecimento. Os recursos financeiros, tecnológicos e humanos dedicados a essas ações e fontes de informação de qualidade são quase nulos. Se existem programas de educação de usuários, estes não têm metas ou objetivos bem definidos e são mais o produto da inércia, a partir da concepção tradicional de treinamento de usuário.

5 Aspectos metodológicos

A pesquisa relatada neste artigo foi realizada na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com a coleta dos dados sendo executada majoritariamente dos sites institucionais, baseando-se na metodologia utilizada por Uribe Tirado (2012) em sua pesquisa nas bibliotecas brasileiras: busca nos sites institucionais por dados relativos à divulgação dos serviços de biblioteca e impactos causados nas comunidades acadêmica e externa (avaliação das iniciativas). Além da busca nos sites, realizou-se pesquisa documental de relatórios, programas pedagógicos dos cursos de graduação, instrumentos normativos e o Plano de Desenvolvimento Institucional 2016-2026 (PDI), bem como consultas informais e entrevistas com gestores e bibliotecários do Sistema de Bibliotecas da UFSM (SiB-UFSM).

O recorte temporal para a coleta dos dados foi o período de janeiro de 2015 a setembro de 2018, tendo em vista que o objetivo central do diagnóstico foi o subsidiar a construção do Portal de conteúdos para desenvolvimento de Competências Informacionais no âmbito do SiB-UFSM, produto da dissertação defendida em 2018. Porém, no decorrer da coleta dos dados, foi possível realizar o mapeamento da situação atual do ambiente, sua estrutura técnica e de recursos humanos, bem como as iniciativas de desenvolvimento de CoInfo ofertadas - objeto do diagnóstico.

5.1 A Universidade Federal de Santa Maria e o sistema de bibliotecas

Idealizada e fundada por José Mariano da Rocha Filho em 1960, a UFSM foi a primeira universidade federal criada em um município fora de uma capital brasileira, tornando o Rio Grande do Sul o primeiro estado com duas universidades federais. (BARICHELLO, 2012BARICHELLO, Eugenia. Os 50 anos da nova universidade. Santa Maria, RS: Ed. UFSM, 2012.). A UFSM está estruturada em 11 unidades universitárias, onde estão agrupados os cursos de acordo com as grandes áreas do conhecimento, e três unidades de educação básica, técnica e tecnológica. No ensino presencial, a instituição oferece 119 cursos de graduação e 95 de pós-graduação. No EAD, incorporado em 2004, oferece 13 cursos de graduação e dez de pós-graduação. No total a UFSM tem 30.330 alunos e 265 cursos.

O Sistema de Bibliotecas da UFSM é composto por 13 bibliotecas, sendo uma Biblioteca Central e 12 bibliotecas setoriais (VIANNA, 2018VIANNA, Bárbara Ieger. Competência Informacional em um contexto de educação aberta: um portal de conteúdos para o Sistema de Bibliotecas da UFSM - SiB-UFSM. 2018. 142 fl. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Tecnologias Educacionais em Rede, Centro de Educação, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2018. Disponível em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/16350. Acesso em: 20 nov. 2021.
https://repositorio.ufsm.br/handle/1/163...
). Dez bibliotecas são localizadas no campus principal em Santa Maria e uma em cada um dos campi nas cidades de Federico Westphalen, Palmeira das Missões e Cachoeira do Sul. A Biblioteca Central (BC) é a encarregada de coordenar e supervisionar as atividades de gestão e estabelecimento de políticas do SiB-UFSM.

Ao longo dos anos houve um aumento dos recursos humanos qualificados disponíveis, passando progressivamente de seis bibliotecários em 2006 a 32 em 2018, mas ainda assim a questão dos serviços de referência e atendimento aos usuários continuou aquém do necessário. Das 13 bibliotecas que compõem o SiB-UFSM apenas uma possui em sua estrutura uma divisão de referência. Este setor acumula a responsabilidade pelo planejamento de iniciativas de referência para todo o Sistema, bem como atendimento das demandas locais.

A partir de 2009, a divisão de referência central passou a organizar treinamentos mensais de bases de dados específicas (como Portal Capes e Saúde Baseada em Evidências) os quais eram oferecidos para a comunidade acadêmica em geral, e tinham a participação de bibliotecários das bibliotecas setoriais como ministrantes. Outras iniciativas isoladas também ocorreram neste período, porém com a mesma temática.

O levantamento de dados identificou que somente a partir de 2011 tiveram início atividades de capacitações planejadas, na forma de treinamentos do Portal da Capes. A terminologia utilizada na divulgação dos cursos permaneceu até 2018 sem qualquer vinculação com teorias de CoInfo, ou mesmo com aproximação de alguma abordagem pedagógica específica para educação de usuários.

5.2 Resultado do diagnóstico

A avaliação institucional da UFSM foi realizada a partir de uma adaptação dos modelos para diagnóstico de integração institucional de Competência em Informação, detalhados nos itens 4.1 e 4.2. Os dados coletados foram categorizados em três esferas de ações: administração central, sistema de bibliotecas e/ou bibliotecários e relação com ações acadêmicas de ensino/aprendizagem, apresentados no quadro 1:

Quadro 1
Diagnóstico dos níveis de integração de CoInfo na UFSM

O diagnóstico demonstrou que a UFSM se encontrava no estágio embrionário/desconhecedor de integração de práticas de CoInfo. Da análise dos documentos institucionais ficou claro que o SiB-UFSM ocupava um papel muito restrito e de pouca visibilidade no contexto do planejamento estratégico da UFSM. As únicas menções da palavra "biblioteca" no PDI referiam-se a questões de melhoria do acervo e de acessibilidade da infraestrutura dos setores.

As atividades de capacitação de usuários identificadas no âmbito do SiB-UFSM, estavam limitadas aos tópicos tradicionais de orientação bibliográfica, como pesquisa online, acesso a bases de dados e normalização de trabalhos acadêmicos. Eventualmente bibliotecários participavam em sala de aula para falar sobre estes tópicos, a convite do professor, mas não foram identificadas disciplinas específicas (ou menção nos programas de ensino) voltadas para o desenvolvimento de CoInfo. Não havia no SiB-UFSM um programa ou um planejamento concreto para o desenvolvimento de ações de CoInfo, nem padronização para a coleta de dados quantitativos, como número de ações realizadas, ministrantes e participantes; ou qualitativos, como avaliação da efetividade das ações de acordo com necessidades do público-alvo e satisfação dos participantes com o método de instrução e temática.

O resultado do diagnóstico institucional, bem como todo o processo de coleta e análise dos dados de acordo com os modelos de avaliação, trouxe reflexões importantes não somente sobre a instituição como um todo, mas também sobre o papel ocupado pelo bibliotecário na UFSM. Campello, já em 2003CAMPELLO, Bernadete. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento informacional. Ciência da Informação, Brasília, v. 32, n. 3, p. 28-37, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19021.pdf. Acesso em: 3 out. 2021.
http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19021....
, enfatizava a importância da participação ativa dos bibliotecários, ao fazer sua análise histórica da CoInfo:

O bibliotecário é a figura central no discurso da competência informacional. Os autores fazem coro na exortação à transformação pela qual ele precisa passar, se quiser envolver-se no movimento. Longas listas de atribuições são elaboradas para descrever o que o novo bibliotecário, envolvido com a aprendizagem, deve ser e fazer. Os textos relembram a competência tradicional do bibliotecário no uso da informação e da tecnologia e na identificação de necessidades informacionais dos usuários e reafirmam a convicção no seu papel - único e vital - no desenvolvimento da competência informacional, desde que assuma as mudanças e se transforme em membro ativo da comunidade escolar, deixando para trás suas características de passividade e isolamento (CAMPELLO, 2003CAMPELLO, Bernadete. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento informacional. Ciência da Informação, Brasília, v. 32, n. 3, p. 28-37, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19021.pdf. Acesso em: 3 out. 2021.
http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n3/19021....
, p. 34).

Para que qualquer iniciativa de desenvolvimento de CoInfo tenha sucesso é fundamental que o bibliotecário seja um agente ativo. O diagnóstico trouxe evidências do baixo engajamento dos profissionais da UFSM nessa esfera de atuação, bem como a pouca visibilidade institucional destes profissionais fora das atividades relativas à manutenção e à circulação de acervos. Ele mostrou ainda como a ausência de políticas institucionais para cooperação entre bibliotecários e docentes para as atividades de ensino, pesquisa e extensão afetam negativamente a implantação de programas de Competência em Informação.

É necessário que os profissionais de bibliotecas universitárias ocupem os espaços para promoção da aprendizagem na universidade, e mostrem-se como parceiros ou mesmo líderes no estabelecimento de programas para desenvolvimento de CoInfo. Conhecer e utilizar as teorias, modelos e parâmetros é fundamental para o sucesso na implantação dessas ações.

6 Considerações finais

A exploração de novas metodologias e plataformas, a incorporação de novos suportes para os meios tradicionais de acervo e a inclusão de novos modelos de negócio para acesso ao conteúdo científico de alto nível expandiram o papel já ocupado pelas bibliotecas universitárias, para outros níveis de atuação. Nos dias de hoje as bibliotecas universitárias continuam em transição e funcionam de maneira híbrida: mantêm os serviços presenciais e acervos impressos enquanto paralelamente dão acesso aos acervos digitais e criam serviços virtuais. Os recursos para a manutenção desses dois mundos, porém, vão se tornando cada vez mais escassos. Além disso, a relativa facilidade de acesso a milhares de informações pela internet, induz a pensar que as bibliotecas se tornaram supérfluas. Esse desconhecimento do papel que as bibliotecas exercem em uma Instituição de Ensino Superior inibe a percepção de que apenas ter acesso à tecnologia e a informações não é suficiente para que os indivíduos usufruam dos benefícios dela.

Para atingir o objetivo de integrar efetivamente programas de Competência em Informação nas instituições de ensino superior será necessário muito mais que os esforços individuais dos bibliotecários. A associação aos modelos teóricos e parâmetros de CoInfo, bem como o estímulo à colaboração entre bibliotecários, docentes e gestores nas ações, favorecerá todo o processo de ensino e aprendizagem na universidade. Fortalecer e expandir a atuação da biblioteca universitária, mostra-se ainda mais relevante quando se faz um paralelo entre a função da pesquisa universitária - um dos tripés básicos da atuação de uma universidade - e as habilidades almejadas num indivíduo competente em informação.

Por fim, reiteramos a importância de incluir o desenvolvimento de Competência em Informação como uma ação estratégica fundamental no projeto político-pedagógico das instituições de ensino superior. Uma das expectativas da sociedade é que a universidade esteja formando cidadãos críticos e conscientes de sua responsabilidade social. A CoInfo instrumentaliza o processo de formação de cidadãos críticos, conscientes de sua responsabilidade social e preparadas para continuar aprendendo ao longo da vida. Mas ainda é necessário conscientizar os gestores das instituições de ensino desse aspecto. E o papel de promoção e conscientização para ações institucionais efetivas a longo prazo, cabe aos bibliotecários.

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  • 1
    Presidente da Information Industry Association, publicou o relatório enquanto fazia parte da National Commission on Libraries and Information Science.
  • 2
    Parâmetros para Competência Informacional no Ensino Superior (tradução nossa).
  • 3
    A Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições criou o Grupo de Trabalho de Competência em Informação - GT CoInfo em maio de 2020.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    29 Jul 2022
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2022

Histórico

  • Recebido
    03 Dez 2021
  • Aceito
    25 Abr 2022
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