Resumo
O Projeto Cinema Perto da Gente utiliza recursos audiovisuais como disparadores de temas que buscam promover o diálogo e a reflexão, bem como fomentar a interação grupal e a troca de experiências e valores entre os profissionais, as pessoas acompanhadas e as comunidades atendidas por um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) localizado em Santos/SP. O projeto visa contribuir com a realização do trabalho social junto às famílias em situação de vulnerabilidade social, conforme preconizado pelo Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF). O presente artigo relata esta experiência e procura refletir sobre como a Psicologia, entendida como ciência e profissão, pode contribuir com seus aportes sobre a dimensão subjetiva, por meio da escuta do sofrimento sociopolítico, e como os materiais audiovisuais contribuem com este trabalho de acolhimento e construção de estratégias de enfrentamento de situações sociais críticas por parte dos sujeitos a elas submetidas. Foram exibidos filmes em cada encontro do projeto, seguidos de rodas de conversa registradas em diários de campo, analisados à luz dos autores de referência, visando contribuir com o trabalho do psicólogo na Política de Assistência Social. Os resultados apontam para a participação implicada do público atendido, incluindo a produção de um vídeo com os participantes e o reconhecimento da parceria entre o CRAS-ZOI e um projeto de extensão universitária. Tais fatores indicam a possibilidade de aprofundamento de temas do cotidiano das famílias atendidas, bem como a criação de dispositivos de cuidado com vistas a um progressivo processo de emancipação dos sujeitos e conquista de direitos sociais.
Psicologia Social; Política de Assistência Social; PAIF; Cinema; Sofrimento Sociopolítico
Abstract
The Cinema Near Us Project uses audio-visual resources such as theme triggers which seek to promote reflection and dialogue, as well as to foster a group interaction and exchange of experiences and values among professionals, the people and communities served by a Reference Center of Social Assistance (CRAS) located in Santos/SP. The project aims to contribute to the social work performed with families in socially vulnerable situations, as recommended by the Family Protection and Integral Treatment Service (PAIF). This article reports this experience and seeks to reflect on how Psychology, understood as a science and a profession, can contribute on a subjective dimension, through the listening of sociopolitical suffering, and how the audio-visual materials contribute with the work of gathering and building strategies of facing the critical social situations on behalf of the subjects submitted to them. Movies were shown in each of the project’s meetups, followed by conversations registered in field diaries, analyzed from the perspective of the referred authors, seeking to contribute with the work of the psychologists in the Policy of Social Assistance. The results point to the implied participation of the served public, including the production of a video with the participants and the recognition of the partnership between CRAZ-ZOI and a university extension project. Such factors indicate the possibility of deepening the everyday topics of the families served, as well as the creation of care devices with the objective of a progressive emancipation process of the subjects and the conquest for social rights.
Social Psychology; Policy of Social Assistance; PAIF; Cinema; Sociopolitical Suffering
Resumen
El proyecto Cine cerca de uno utiliza recursos audiovisuales como disparadores de temas que buscan promover el diálogo y la reflexión, así como fomentar la interacción grupal y el intercambio de experiencias y valores entre los profesionales, las personas acompañadas y las comunidades atendidas por un Centro de Referencia de Asistencia Social (CRAS) ubicado en Santos/SP. El proyecto pretende contribuir con la realización del trabajo social con familias en situación de vulnerabilidad social a través del PAIF (Servicio de Protección y Atendimiento Integral de Familias). El proyecto tiene como objetivo contribuir al desempeño del trabajo social con familias en situaciones de vulnerabilidad social, según lo recomendado por el Servicio de Protección y Atención Integral a la Familia (PAIF). Este artículo informa sobre esta experiencia y busca reflexionar sobre cómo la Psicología, entendida como ciencia y profesión, puede contribuir con sus aportes a la dimensión subjetiva, escuchando el sufrimiento sociopolítico y cómo los materiales audiovisuales contribuyen a este trabajo de acogida y construcción de estrategias de enfrentamiento de situaciones sociales críticas por parte de los sujetos sometidos a ellas. Se proyectaron películas en cada reunión del proyecto, seguidas de ruedas de conversación grabadas en diarios de campo, analizadas a la luz de los autores de referencia, con el objetivo de contribuir al trabajo del psicólogo en la Política de Asistencia Social. Los resultados apuntan a la participación implicada del público servido, incluida la producción de un video con los participantes y el reconocimiento de la asociación entre CRAS-ZOI y un proyecto de extensión universitaria. Dichos factores indican la posibilidad de profundizar los temas cotidianos de las familias atendidas, así como la creación de dispositivos de atención destinados a un proceso progresivo de emancipación de los sujetos y la conquista de los derechos sociales.
Psicología Social; Política de Asistencia Social; PAIF; Cine; Sufrimiento Sociopolítico
Introdução
O Projeto Cinema Perto da Gente nasceu como ideia a ser implantada dentro do Centro de Referência de Assistência Social – Zona da Orla e Intermediária (CRAS-ZOI), localizado em Santos. Ele resultou de um encontro entre a psicóloga do equipamento, uma docente e um psicólogo do curso de Psicologia da Universidade Federal de São Paulo – campus Baixada Santista (Unifesp-BS) em um Congresso no qual os profissionais discutiam a experiência do projeto de extensão “Cinema, Subjetividade e Sociedade” ( Martins, Imbrizi, & Garcia, 2015Martins, E. C., Imbrizi, J., Garcia, M. L. (2015). Cinema, subjetividade e sociedade: A sétima arte na produção de saberes (Projeto de extensão universitária). Universidade Federal de São Paulo, Santos, SP, Brasil. ; Imbrizi, & Martins, 2015Imbrizi, J. M., Martins, E. C. (2015). Narrativas de si: Contribuições do cinema para a transformação social. In Encontro Regional Abrapso São Paulo: Práxis em Psicologia Social: desafios e perspectivas . Santos, SP, Brasil, 12. ), criado para estabelecer interfaces entre a universidade e os diversos equipamentos da saúde e assistência social da Baixada Santista. Na ocasião, a psicóloga do CRAS formulou a seguinte pergunta: como utilizar a ferramenta audiovisual especificamente para trabalhar com o público atendido na Assistência Social? Reuniões foram realizadas entre os profissionais, sendo convidada uma extensionista do curso de Psicologia para acompanhar a implantação de um projeto-piloto neste equipamento. O objetivo deste artigo é relatar esta experiência, refletindo sobre como a Psicologia como ciência e profissão aporta o conhecimento acumulado sobre a dimensão subjetiva dos sujeitos, por meio da escuta do sofrimento sociopolítico ( Rosa, 2016)Rosa, M. D. (2016). A clínica psicanalítica em face da dimensão sociopolítica do sofrimento. São Paulo, SP: Escuta. decorrente de situações de exclusão e da violação de direitos sociais básicos, e como os materiais audiovisuais e as produções artísticas podem compor com as atividades exercidas pela psicóloga em um equipamento da Assistência Social. Para este relato de experiência dividimos o artigo em temas: breves considerações sobre a Psicologia e a atuação no Sistema Único de Assistência Social; a população atendida pelo CRAS-ZOI, algumas considerações sobre diagnóstico territorial e o registro e a análise das falas dos usuários que emergiram nas rodas de conversa do projeto Cinema Perto da Gente .
A Psicologia e a atuação no Sistema Único de Assistência Social – breves considerações
A partir da Constituição Federal de 1988, a Assistência Social começa a se afastar da tradição assistencialista para dar início a um processo regulatório sem precedentes no Brasil, ao reconhecê-la como política pública, direito do cidadão e dever do Estado, gerida de forma descentralizada, participativa e com controle social, por meio de uma série de dispositivos legais ( Brasil, 1993Brasil. Ministério da Previdência e Assistência Social. (1993). Lei orgânica da assistência social: “Loas”. Brasília, DF: o autor. , 2004Brasil. (2004). Política nacional de assistência social . Brasília, DF: Gráfica Brasil. , 2009Brasil. Ministério da Saúde. (2009). Orientações técnicas da proteção social básica do sistema único de assistência social SUAS . Brasília, DF: o autor. , 2013aBrasil. Ministério da Saúde. (2013a). Assistência social: Política de direitos à seguridade social (CapacitaSUAS, Caderno 1). Brasília, DF: o autor. , 2013bBrasil. Ministério da Saúde. (2013b). Assistência social: Política de direitos à seguridade social (CapacitaSUAS, Caderno 2). Brasília, DF: o autor. ; Resolução n. 109, 2009Resolução n. 109, de 11 de novembro de 2009. Aprova a tipificação nacional de serviços socioassistenciais. ).
Neste cenário, o exercício da Psicologia dentro da política de assistência social passa a se estruturar de modo distinto ao que vinha sendo realizado até então no âmbito dos serviços socioassistenciais, tanto devido a uma maior penetração neste setor quanto por conta das Orientações Técnicas e Normativas que se seguiram. Ou seja, tanto a função do psicólogo como a política de Assistência sofreram uma série de transformações, e nos últimos anos uma literatura crescente tem se debruçado sobre estas questões.
Embora nosso propósito não seja realizar uma revisão bibliográfica mais detida sobre tema tão vasto e complexo, cabe apontar que já existe uma série de pesquisas e relatos que têm se preocupado em discutir distintos aspectos deste cenário. Muitos trabalhos têm contribuído para a construção conjunta de saberes e práticas da Psicologia no âmbito da Assistência Social. Nestes trabalhos são abordadas questões como, por exemplo, aquelas relacionadas aos desafios e à identidade profissional das(os) psicólogas(os) diante do recente panorama da Assistência Social, com suas respectivas idiossincrasias e complexidades. Tal questionamento é bastante presente na literatura de comentário e podemos afirmar que se constitui ainda o fio condutor central de grande parte dos estudos sobre o tema ( Pinto, 2017Pinto, D. K. S. (2017). A possível metamorfose da Psicologia na assistência social: Um estudo das práticas e seus sentidos na cidade de São Vicente/SP (Dissertação de mestrado). Universidade Federal de São Paulo, Santos, SP, Brasil. ; Florentino & Melo, 2017Florentino, B. R. B., Melo, W. (2017). A inserção da psicologia no sistema único de assistência social: Notas introdutórias. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia , 10 (1), 3-12. ; Motta & Scarparo, 2013Motta, R. F., Scarparo, H. B. K. (2013). A psicologia na assistência social: Transitar, travessia. Psicologia & Sociedade , 25 (1), 230-239. https://doi.org/10.1590/S0102-71822013000100025
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; Senra & Guzo, 2012Senra, C. M. G., Guzzo, R. S. L. (2012). Assistência social e psicologia: Sobre as tensões e conflitos do psicólogo no cotidiano do serviço público. Psicologia & Sociedade , 24 (2), 293-299. https://doi.org/10.1590/S0102-71822012000200006
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; Costa & Cardoso, 2010Costa, A. F. D. S., Cardoso, C. L. (2010). Inserção do psicólogo em centros de referência de assistência social-CRAS. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia , 3 (2), 223-229. ; Nery, 2009)Nery, V. B. (2009). O trabalho de assistentes sociais e psicólogos na política de assistência social: Saberes e direitos em questão (Tese de doutorado). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, SP. . No entanto, há também trabalhos que, sem deixar de considerar o papel da(o) profissional psicóloga(o) nesta área, se debruçam em pontos mais específicos, como, por exemplo, as particularidades do trabalho com grupos neste contexto ( Senra, 2018Senra, C. M. G. (2018). O grupo no condomínio: Relato de experiência sobre a atuação do psicólogo no CRAS. In M. P. Cordeiro, B. Svartman, & L. V. Souza, (Orgs.), Psicologia na assistência social: Um campo de saberes e práticas (Capitulo 11, pp. 177-189). São Paulo, SP: Universidade de São Paulo. ; Souza, 2018)Souza, L. V. (2018). Contribuições construcionistas sociais para o trabalho com grupos na proteção social básica. In M. P. Cordeiro, B. Svartman, & L. V. Souza (Orgs.), Psicologia na assistência social: Um campo de saberes e práticas (Capítulo 14, pp. 226-238). São Paulo, SP: Universidade de São Paulo. , as idiossincrasias do exercício de escuta na Assistência Social ( Susin & Poli, 2016Susin, L., Poli, M. C. (2016). A intervenção clínica na assistência social: O testemunho de uma prática de construção. In C. M. Perrone, B. Conte, & E. C. Braga (Orgs.), Intervenções psicanalíticas: A trama social (pp. 190-219). Porto Alegre, RS: Criação Humana. ; Paula & Paiva, 2015)Paula, F. O. Q. D., Paiva, J. D. (2015). Possibilidades de atuação do psicanalista no centro de referência de assistência social. Vínculo , 12 (1), 41-50. ou ainda as questões envolvendo atuação interdisciplinar nesta área ( Nery, 2018Nery, V. B. (2018). Psicologia no SUAS: interdisciplinaridade nos cotidianos de trabalho. In M. P. Cordeiro, B. Svartman, & L. V. Souza (Orgs.), Psicologia na assistência social: Um campo de saberes e práticas (Capitulo 6, pp. 96-113). São Paulo, SP: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. ; Leão, Oliveira & Carvalho, 2014Leão, S. M., Oliveira, I. M. F., Carvalho, D. B. (2014). O psicólogo no campo do bem-estar social: Atuação junto às famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade e risco social no centro de referência de assistência social (CRAS). Estudos e pesquisas em psicologia , 14 (1), 264-289. ). A maioria destes trabalhos reconhece a importância dos estudos voltados às práticas concretas e relatos de experiências, com suas correspondentes dificuldades, desafios e estratégias de construção. Sendo assim, em nosso relato, pretendemos contribuir com reflexões amparadas num conjunto de experiências sobre a potência da presença e atuação do psicólogo nesta área, em especial na articulação entre suas ações e as manifestações artísticas e culturais, de modo a contribuir para a transformação das condições que geram e mantém a desigualdade social.
A população atendida pelo CRAS-ZOI e algumas considerações sobre diagnóstico territorial
O CRAS-ZOI referencia cinco mil famílias que habitam nove bairros de Santos, abarcando desde locais considerados de classe média/alta, com suas praias e jardins, até espaços mais vulneráveis economicamente, tidos como “bolsões de pobreza”. Das famílias referenciadas, 1.647 possuem Cadastro Único para programas socioassistenciais do Governo Federal, sendo que 500 são beneficiárias do Programa Bolsa Família, o que indica que se encontram em situação de pobreza (com renda per capita menor que R$ 170).
A maior parte das pessoas que procuram o equipamento de assistência social são mulheres que necessitam dos recursos do Programa Bolsa Família ou algum outro benefício eventual, como cesta básica, auxílio-transporte, auxílio-gás, entre outros. Há também grande quantidade de idosos e pessoas com deficiência em busca de acesso a alguns direitos, como, por exemplo, o Benefício de Prestação Continuada concedido a idosos acima dos 65 anos e deficientes. Outras pessoas também procuram o equipamento em virtude de variadas vulnerabilidades, como isolamento, conflitos familiares, problemas de saúde mental, entre outros. Muitos destes usuários também são acompanhados pelo Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS) do território, sendo paralelamente atendidos pela assistência social.
Muitos usuários que procuram atendimento demonstram grande dificuldade de verbalizar seus sentimentos e conflitos, evidenciando os efeitos de um amplo processo de silenciamento social ao qual são submetidos. É comum apresentarem uma posição passiva no contato com o equipamento, que pode ser entendida como reflexo das práticas exclusivamente assistencialistas que vigoraram na história desta população com o Estado. Muitos são afetados pelo desemprego, por problemas familiares, conflitos com companheiros ou ex-companheiros, bem como pelas dificuldades na criação dos filhos e acesso às políticas públicas (especialmente as de saúde e educação). Neste sentido, as principais demandas acabam se traduzindo como as de ordem objetiva, fundamentalmente aquelas relativas aos programas de transferência de renda ou benefícios eventuais.
Uma dificuldade apresentada pela equipe do equipamento consiste em trabalhar outros aspectos da política em questão, relativos aos vínculos familiares e comunitários, que usualmente ficam escamoteados nas demandas objetivas e relegados a um segundo plano. Neste ponto, o psicólogo tenta colaborar na atenção a estes aspectos, esbarrando muitas vezes em resistências, tanto da parte da equipe quanto das próprias pessoas atendidas, que mostram grande dificuldade de exteriorizar seus sentimentos e pensamentos. Carreteiro (2003)Carreteiro, T. C. (2003). Sofrimentos sociais em debate. Psicologia USP , 14 (3), 57-72. trata este processo como inserido em uma lógica da invisibilidade dos sofrimentos sociais, dado que estes não possuem espaço para serem compartilhados nas instituições nas quais o sujeito tem acesso. Os sujeitos não são convidados a exercitar modos de simbolizar seus sofrimentos, sendo paulatinamente silenciados. Neste cenário, o psicólogo pode ocupar um lugar que busca restituir espaços de escuta nos quais o sujeito pode falar e se reconhecer como protagonista de sua própria história, de modo a localizar sua trajetória impactada pela falta de recursos sociais, mas também marcada pela criação de estratégias de sobrevivência e muita potência criativa. Como nos alerta Broide e Broide (2015)Broide, J., Broide, E. (2015). A psicanálise em situações sociais críticas: Metodologias e intervenções . São Paulo, SP: Escuta. , trata-se de localizar os pontos de ancoragem do sujeito, as linhas que o ligam à vida, buscando ampliar sua rede de apoio. Nesta perspectiva, o cinema pode constituir em um dos dispositivos de cuidado utilizado pelo psicólogo para que o sujeito se implique em estratégias que possibilitem a reflexão sobre sua trajetória rumo a ampliação de seu repertório cultural e, consequentemente, rumo ao enfrentamento das situações que contribuem à violação de seus direitos.
O Projeto “Cinema Perto da Gente” e o PAIF
Dentro do trabalho social com famílias, o Projeto Cinema Perto da Gente compõe as ações do PAIF , sendo desenvolvido no CRAS-ZOI. Ele foi pensado em formato de oficina em conjunto com o processo de acolhida, com as ações comunitárias e com as ações particularizadas que materializam as ações do PAIF, principalmente no que se refere ao trabalho social de caráter continuado. O Projeto tem a finalidade de problematizar e estimular a reflexão crítica sobre o cotidiano dos usuários, promovendo o acesso às informações sobre seus direitos sociais através do dispositivo audiovisual; ou seja, ele utiliza a linguagem do cinema na tentativa de promover reflexões críticas dos participantes e, quando possível, produzir estratégias coletivas de enfrentamento dos problemas apresentados.
Os profissionais dão ênfase no trabalho em grupo e no valor dos encontros e movimentos coletivos, com vistas a sensibilizar as famílias de um território. Tais estratégias coletivas contribuem para que os usuários e profissionais envolvidos possam identificar que alguns problemas tratados por uma família podem ser muito semelhantes aos de outros núcleos familiares. Estas percepções podem contribuir para a formação de vínculos entre os usuários, propiciando o fortalecimento tanto de estratégias compartilhadas de resolução de conflitos quanto de troca de experiências. Ao mesmo tempo, o projeto de cinema foi escolhido com o intuito de enfatizar as ações nas áreas culturais e aumentar o universo informacional, proporcionando novas experiências às famílias atendidas. Ele utiliza a linguagem artística, permitindo a ampliação do repertório cultural dos participantes e dos profissionais. Sendo assim, os objetivos específicos deste projeto são: auxiliar no fortalecimento dos vínculos comunitários e familiares dos usuários que estão em atendimento no CRAS, bem como a aproximação destes com o equipamento; aumentar a participação das famílias nas atividades oferecidas pelo CRAS-ZOI, com vistas a se apropriarem do uso deste equipamento público; propiciar a melhoria do convívio entre os usuários e os técnicos do equipamento, por meio de ações que visam o fortalecimento dos laços entre os diferentes atores sociais; aumentar a capacidade do CRAS-ZOI de capilarizar suas ações no território.
Método
O trabalho se inicia com um planejamento sobre o material audiovisual a ser apresentado, tendo por base alguma temática relevante que considere uma ou mais questões centrais a serem trabalhadas com os usuários. De modo geral, foram planejados dois tipos de materiais audiovisuais por evento, sendo um curta e um longa-metragem. A escolha dos filmes ocorreu de acordo com os temas emergentes no diagnóstico do território da equipe do CRAS-ZOI. Deste modo, foram priorizados filmes com temáticas que abordassem a desigualdade social em seus diversos aspectos. A preferência por filmes nacionais (também) revelou a intenção de facilitar a participação de todos, inclusive das pessoas que não sabem ler, valorizando (também) a língua portuguesa e aspectos da cultura nacional. Trata-se, portanto, de uma escolha técnica, mas, fundamentalmente, de uma aposta ético-política.
Após a escolha do material, o equipamento inicia um processo de divulgação do evento para os usuários. O evento consiste na acolhida dos participantes em um ambiente preparado especialmente para a exibição, com decoração temática, distribuição de pipoca, refrigerante, suco e material lúdico para as crianças. Após a exibição audiovisual, são realizadas rodas de conversa, de modo a criar espaços de circulação da palavra e de saberes sobre temas sociais vinculados ao cotidiano das famílias atendidas pelo CRAS-ZOI. As rodas de conversa são registradas em diários de campo pela extensionista do curso de Psicologia.
Os encontros foram planejados para ocorrer nas últimas sextas-feiras de cada mês, com início em maio de 2016. As primeiras exibições serviram como base para avaliação dos encontros posteriores, sofrendo modificações e adaptações a cada evento, de acordo com as demandas e contribuições dos diferentes integrantes. O trabalho priorizou, portanto, a construção coletiva dos eventos após os primeiros encontros, abrindo espaço para que os participantes das atividades pudessem contribuir com ideias e sugestões.
A psicóloga do CRAS, buscando capilarizar as ações no território, apresentou este projeto mediante busca ativa em vários equipamentos do território (escolas, policlínicas, NAPS), o que resultou na ampliação da participação aos usuários do NAPS III e da Casa do Paraplégico – equipamento onde moram pessoas com deficiência física e mental. Sendo assim, abriu-se a oportunidade da presença de pessoas de diferentes faixas etárias e contextos institucionais, com atividades intergeracionais e público heterogêneo, tão raras dentro da nossa sociedade ( Silva & Grandino, 2013Silva, H. S., Grandino, P. J. (2013). Reflexões e narrativas (auto)biográficas sobre as relações intergeracionais: Resultados de uma intervenção socioeducativa com mulheres idosas. Psicologia & Sociedade , 25 (3), 559-570. https://doi.org/10.1590/S0102-71822013000300010
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). O trabalho adquire, deste modo, um caráter interinstitucional, intersetorial, na direção de estratégias de criação de trabalhos em rede.
A roda de conversa que seguiu à exibição dos materiais audiovisuais visou a livre circulação da palavra e procurou valorizar a importância de cada participante na adoção da posição de expressão de suas próprias opiniões. Sendo assim, a conversa procura articular a temática do material exposto com as experiências de vida de cada espectador, favorecendo a constituição de laços entre os presentes em torno das temáticas abordadas. O método de roda de conversa também visa favorecer a emergência das distintas singularidades, ao promover a participação de todos os participantes, em oposição às técnicas mais unidirecionais de transmissão de informações. Sentar-se em roda é estar lado a lado com o outro, por meio de partilha de semelhanças e diferenças; possibilita também o contato visual com os demais, implicando em ser olhado, percebido, e possibilitando a construção de um corpo coletivo.
Ocorreram também supervisões quinzenais entre os coordenadores do projeto de extensão, a extensionista e a psicóloga do CRAS, onde foram realizadas as seguintes tarefas: planejamentos das atividades; leituras do diário de campo da extensionista; avaliação do trabalho quanto aos seus objetivos e métodos, que incluem a preparação de materiais, a escolha dos filmes, as leituras e discussões de artigos referentes ao PAIF, a discussão sobre as práticas do psicólogo na Assistência Social. O material produzido aqui diz respeito a todas estas etapas, mas se refere principalmente às anotações nos diários de campo e suas respectivas análises em ambiente de supervisão, tendo como referência autores que discutem e tematizam o papel do psicólogo na Política de Assistência Social.
A abordagem psicanalítica e sua contribuição ao trabalho do psicólogo na Assistência Social
Muitos psicanalistas têm pensado a ação do psicólogo na Política de Assistência Social. Broide e Broide (2015)Broide, J., Broide, E. (2015). A psicanálise em situações sociais críticas: Metodologias e intervenções . São Paulo, SP: Escuta. abordam a psicanálise em situações sociais críticas e apontam para a relevância da oferta de reuniões de grupos que criem dispositivos de fala para a população em situação de vulnerabilidade social, como também a importância da criação de estratégias de “enfrentamento às fragilidades decorrentes da extrema violência” (p. 14) e exclusão em seus territórios. Trata-se de um modo de intervenção que busca identificar e fortalecer possíveis ancoragens e pontos de sustentação aos sujeitos em sua comunidade.
Rosa (2012Rosa, M. D. (2012). Psicanálise implicada: Vicissitudes das práticas clínico-políticas. Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre , (41), 29-40. , p. 30) advoga em favor da prática de uma psicanálise implicada, que é constituída “pela escuta dos sujeitos situados precariamente no campo social, [e que] permite teorizações sobre os modos como são capturados e enredados pela maquinaria do poder”. Trata-se de uma prática articulada ao contexto sociocultural de seu tempo, marcado pela exclusão social e política, causador de sofrimentos aos sujeitos afetados diariamente por situações que destituem suas subjetividades, pautadas em discursos sociais ideológicos segregadores e dicotômicos ( Rosa, 2016Rosa, M. D. (2016). A clínica psicanalítica em face da dimensão sociopolítica do sofrimento. São Paulo, SP: Escuta. ). Tal cenário exige de pesquisadores e psicólogos problematizações teórico-conceituais que se tornam essenciais para se desvendar o enredamento dos sujeitos nas artimanhas do poder e pautados em laços sociais de dominação.
Neste sentido, este trabalho propõe a adoção de processos de escuta qualificada possíveis de ocorrer na diversidade das intervenções dos equipamentos da Assistência Social. Tal prática põe à prova o modelo convencional de psicanálise, procurando resgatar o compartilhar de experiências com o outro, no qual o psicólogo ocupa um lugar específico, qual seja, o de servir como “mola ao relançamento das significações” ( Rosa, 2002Rosa, M. D. (2002). Uma escuta psicanalítica das vidas secas. Textura: Revista de Psicanálise , 2 (2), 42-46. , p. 47). Além disso, a oferta de uma escuta que “supõe romper barreiras e resgatar a experiência compartilhada com o outro deve ser uma escuta como testemunho e resgate da memória” ( Ibidem , p. 36). Em tal processo de escuta a presença do psicólogo é fundamental, sustentando e dando espaço à emergência da palavra daquele que fala. Em síntese, a psicanálise implicada no trabalho junto às políticas públicas, especialmente com sujeitos relegados à margem da sociedade, demanda que o psicólogo “ponha o corpo” e escute, criando condições para que a palavra circule, realizando intervenções com objetivo de alterar o campo simbólico, subjetivo, social e político envolvido.
Nesse sentido, o cinema pode ser entendido como possibilidade de introdução de um regime de indeterminação produtiva, ou seja, como possibilidade de deslocamento em relação às condições discursivas de reprodução social que sustentam posições de dominação. Este registro de não determinação, em que as respostas não estão dadas de antemão e que estimulam a circulação de afetos, convidam constantemente o espectador a experienciar os diferentes regimes de visibilidade apresentados na tela, de modo a vivenciar e a problematizar as distintas relações que estabelece consigo mesmo e com o mundo. Ao contrário de um método de padronização do processo de transmissão de informações e procedimentos assistenciais e de saúde, que apontam para um fechamento de significações, a aposta no recurso cinematográfico visa uma abertura para a construção singular por parte de cada espectador em relação aos saberes e afetos que o contato com o filme pode proporcionar.
A roda de conversa posterior à exibição do filme emerge não como construção de um regime de significações unitário e comum, mas como compartilhamento de diferenças, como troca de saberes e afetos proporcionados pelos contatos idiossincráticos de cada espectador diante da projeção fílmica. Neste sentido, visa estimular a superação de modelos identitários rígidos, fechados, pregnantes, muitas vezes hegemônicos e responsáveis pela alienação dos sujeitos em relação a si mesmos e a seus próprios desejos, resultando em uma acentuação do mal-estar e da culpabilização que se concentra atualmente na dimensão dos indivíduos.
Uma provocação ética, estética e política importante se relaciona com a escolha de filmes que abordam a desigualdade social no capitalismo tardio, ou seja, com as produções cinematográficas que produzem questionamentos e críticas a este modo de produção vigente e ao processo de exclusão inerente a ele. Desta forma, muitos dos protagonistas das películas são personagens submetidos a diferentes modos de destituição subjetiva, se aproximando de situações vivenciadas por alguns usuários do NAPS e da Assistência Social. Filmes como Que horas ela volta? ( Gullane, Gullane, Ivanov & Muylaert, 2015Gullane, F., Gullane, C., & Ivanov, D. (Produção)Muylaert, A. (Produção e Direção). (2015). Que horas ela volta? (DVD). São Paulo, SP: Pandora. ) e Maria Capacete ( Santos & Bezerra, 2006)Santos, V. L., & Bezerra, E. (Direção). (2006). Maria capacete (Curta metragem). Santos, SP: Querô. são exemplos desta safra cinematográfica que aborda inúmeras formas de preconceito e estigmatização, tais como o preconceito de classe, operando em detrimento da classe pobre que prolifera nos territórios brasileiros. Colocar estes temas em pauta e em xeque pode contribuir para a produção de outro tipo de discurso em relação a uma camada da população constantemente submetida a processos de invisibilidade social. Esta estratégia pode possibilitar também o questionamento de imaginários sociais veiculados pelo discurso hegemônico, como o modelo do homem cordial nacional que, pelo contrário, se mostra cada vez mais agressivo e violento em relação à camada mais pobre e frágil da cadeia socioeconômica. A aposta neste Projeto é a de que as famílias que o frequentam tenham a oportunidade de assistir filmes que questionem a invisibilidade do sofrimento e possam colocar cada um dos participantes nas rodas de conversa como sujeito de fala e de participação política ( Sampaio, Santos, Agostini, & Salvador, 2014Sampaio, J., Santos, G. C., Agostini, M., Salvador, A. S. (2014). Limites e potencialidades das rodas de conversa no cuidado em saúde: Uma experiência com jovens no sertão pernambucano. Interface: Comunicação, Saúde, Educação , 18 (2), 1299-1311. https://doi.org/10.1590/1807-57622013.0264
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). Os temas podem ser utilizados para a reflexão e o enfrentamento das situações de exclusão elencadas, como também para sugestão e reflexão sobre as políticas públicas e sociais para esta população.
Resultados
Os eventos deste primeiro ano consistiram nas seguintes exibições: Que Horas ela volta? ( Gullane, et al., 2015Gullane, F., Gullane, C., & Ivanov, D. (Produção)Muylaert, A. (Produção e Direção). (2015). Que horas ela volta? (DVD). São Paulo, SP: Pandora. ); Tarja Branca ( Rhoden, 2014Rhoden, C. (Direção). (2014). Tarja branca: A revolução que faltava (DVD). São Paulo, SP: Maria Farinha. ); Divertidamente (Rivera, Carmen & Docter, 2015); Por que Heloisa? ( Lopes, 2011)Lopes, S. (Direção). (2011). Por que Heloisa? (Curta metragem). São Paulo, SP: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo. ; As cores das flores ( Bemfica, 2010)Bemfica, M. (Direção). (2010). As cores das flores (Curta metragem). Madri: JWT. ; Episódio da Turma da Mônica ( Sousa,1997)Sousa, M. (Produção). (1997). Como atravessar a sala (DVD). São Paulo, SP: Publifolha. ; Virou o jogo: a História de Pintadas ( Villanova, 2012)Villanova, M. (Direção). (2012). Virou o jogo: A história de pintadas (Curta metragem). Salvador, BA: Icom. ; Libertar: Relatos de Guaribanas do Bolsa Família (Obeid, Pereira & Bonfim, 2016); Maria Capacete ( Santos & Bezerra, 2006)Santos, V. L., & Bezerra, E. (Direção). (2006). Maria capacete (Curta metragem). Santos, SP: Querô. ; O Xadrez das Cores ( Schiavon, 2004)Schiavon, M. (Direção). (2004). O xadrez das cores (Curta metragem). Rio de Janeiro, RJ: Midmix. ; Central do Brasil ( Cohn, Clermont-Tonnerre & Salles, 1998Cohn, A., & Clermont-Tonnerre, M. (Produção)Salles, W. (Direção). (1998). Central do Brasil (DVD). Rio de Janeiro, RJ: Europa. ).
O período de tempo de duração do projeto correspondente ao relato é de um ano, embora seja importante ressaltar que o projeto não se encerrou, prosseguindo nos meses seguintes. O número total de encontros que subsidiaram este relato foi de oito encontros, correspondentes aos meses de maio a dezembro, ou seja, com frequência mensal. A intenção de tal regularidade foi criar uma cultura de exibições e uma constância em relação à participação dos usuários. A média de participantes foi de vinte pessoas por encontro. Os usuários do NAPS e da Casa do Paraplégico eram, em sua maioria, homens. Já as famílias atendidas pelo CRAS estavam representadas em sua maioria por mulheres, sendo algumas acompanhadas pelos filhos pequenos. A faixa etária média dos participantes era de 35 a 50 anos e das crianças até 12 anos, com predominância da cor parda entre os participantes. A presença destes se manteve de maneira assídua e contínua, embora o grupo também tenha recebido novos integrantes ao longo dos encontros e algumas ausências.
Optamos por apresentar uma breve descrição dos encontros realizados nesta primeira fase do Projeto, entre maio e dezembro. Os resultados serão exibidos por meio do levantamento das temáticas que emergiram e que foram posteriormente analisadas pelos facilitadores dos grupos a partir das exibições dos filmes.
No encontro realizado em maio, a temática emergente a partir da exibição do filme Que Horas ela volta? ( Gullane et al., 2015Gullane, F., Gullane, C., & Ivanov, D. (Produção)Muylaert, A. (Produção e Direção). (2015). Que horas ela volta? (DVD). São Paulo, SP: Pandora. ) foi a discriminação social, com falas que refletiam identificações dos participantes com a personagem central do filme e que relatavam situações de discriminação vivenciadas no cotidiano. A partir dos relatos, foram realizadas importantes reflexões sobre as estruturas de humilhação social presentes no filme e no dia-a-dia dos espectadores. As pessoas refletiram sobre como a desigualdade econômica, o conflito de classes sociais e a discriminação estão relacionadas em nossa sociedade. Os presentes também conversaram sobre como o papel de cuidado em relação à criança acaba sendo relegado à mulher, contribuindo para uma sobrecarga de tarefas domésticas e laborais.
O encontro de junho foi marcado pela exibição do filme Tarja Branca: a Revolução que Faltava ( Rhoden, 2014Rhoden, C. (Direção). (2014). Tarja branca: A revolução que faltava (DVD). São Paulo, SP: Maria Farinha. ), e as falas dos participantes se voltaram de modo emocionado para a valorização do potencial lúdico da vida e das relações humanas, com destaque também para as relações entre pais e filhos. Por meio de reflexões sobre o brincar, foi possível também pensar em formas de cuidado entre pais e filhos, bem como no acolhimento das diferenças dentro das famílias. A partir das falas sobre a importância do brincar, as pessoas presentes também destacaram a relevância dos momentos de alegria e descontração da vida adulta, pensados como fundamentais para a saúde mental e qualidade de vida. Ressaltaram como estes aspectos são usualmente pouco valorizados por conta das exigências do mundo do trabalho e das novas formas de relações sociais. A presença de crianças e adultos na mesma atividade também funcionou para a valorização das trocas intergeracionais.
No mês de julho, por ser um mês de férias escolares, foi escolhida a animação Divertidamente ( Rivera et al., 2015Rivera, J. (Produtor), Carmen, R., & Docter, P. (Direção). (2015). Divertidamente (DVD). California, CA: Buena Vista. ). Embora seja um filme infanto-juvenil, foi possível identificar que a grande maioria dos presentes se envolveu com o enredo e participou da conversa que se seguiu. Foram levantadas questões relacionadas à educação emocional e importância do reconhecimento e expressão de afetos, como medo, tristeza, raiva, entre outros.
Em agosto contamos com a exibição do curta-metragem Por que Heloisa? ( Lopes, 2011Lopes, S. (Direção). (2011). Por que Heloisa? (Curta metragem). São Paulo, SP: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo. ), e do documentário Virou o jogo – a história de Pintadas ( Villanova, 2012Villanova, M. (Direção). (2012). Virou o jogo: A história de pintadas (Curta metragem). Salvador, BA: Icom. ). Após estas exibições, foi realizada uma grande roda de conversa, onde emergiram falas implicadas e com nítido envolvimento dos presentes. Os diálogos giravam em torno do reconhecimento de um processo histórico de emancipação feminina e contraposição à cultura do machismo. Houve muita participação e demonstração de indignação por parte dos presentes, com colocações no sentido de se contrapor a uma cultura que ainda desvaloriza o feminino e que contribui para a violência dirigida contra as mulheres. Houve também a presença de falas que versaram sobre a conquista de direitos da mulher e sua progressiva mudança perante as situações de desqualificação social. O filme foi elogiado pelos participantes, que falaram sobre sua importância para os dias atuais, visto que consegue trabalhar temas importantes em relação aos papéis sociais e relações de gênero. Em um grupo composto em sua maioria por mulheres, muitas delas se posicionaram por meio do que poderia ser chamado de uma positividade ética, uma reivindicação de respeito no sentido da valorização de sua condição de autonomia e de luta por direitos, por meio da crítica a aspectos de uma cultura ainda imersa no machismo.
Neste dia houve ainda uma discussão sobre a efetividade da Lei Maria da Penha. Os participantes também produziram reflexões sobre a relação machista ainda existente entre pais e filhas, relatando casos de abuso de autoridade e violência doméstica. As questões de gênero puderam emergir, como a discussão sobre a humilhação sofrida por mulheres em suas próprias casas. O grupo explicitou o quanto a mulher ainda é muitas vezes obrigada a se submeter aos mandos e desmandos de seus homens, que reproduzem as relações de dominação presentes em nossa sociedade capitalista.
O encontro de setembro contou com a exibição do curta-metragem As cores das flores ( Bemfica, 2010Bemfica, M. (Direção). (2010). As cores das flores (Curta metragem). Madri: JWT. ), que relata a história de um menino com deficiência visual. A reflexão do grupo girou em torno do reconhecimento das diferenças e da importância da garantia de direitos levando em consideração a diversidade das condições de cada cidadão. Neste encontro também foi exibido o documentário Libertar: Relatos de Guaribanas do Bolsa Família ( Obeid et al., 2016Obeid, C., Pereira M. R., & Bonfim, R. (Direção). (2016). Libertar: Relatos de guaribanas do bolsa família (Curta metragem). São Paulo, SP: Escola Superior de Publicidade e Marketing de São Paulo. ), que narra a história de mulheres moradoras do interior do Piauí beneficiadas com o programa Bolsa Família. A roda de conversa se iniciou com os relatos de mulheres que utilizam os benefícios do Bolsa Família, ainda que os contextos relatados fossem distintos aos retratados pelo filme. Ainda foi sugerido pelo grupo a realização de oficinas no CRAS que trabalhassem as possibilidades criativas de utilizar os recursos do Bolsa Família. Deste modo, foi possível perceber que a atividade contribuiu para a emergência de estratégias de enfrentamento sugeridas pelos próprios usuários, visando o melhor aproveitamento dos direitos sociais adquiridos. No final deste encontro, dois usuários do NAPS ressaltaram a importância da existência de grupos como o “Cinema Perto da Gente”, pois eles se sentem respeitados em suas singularidades, “sentem-se gente” (como um dos participantes destacou); embora com outras palavras, é possível perceber em suas afirmações a importância do direito à fala e a valorização dos espaços em que a palavra circula.
Em outubro foi exibido o documentário Maria Capacete ( Santos & Bezerra, 2006Santos, V. L., & Bezerra, E. (Direção). (2006). Maria capacete (Curta metragem). Santos, SP: Querô. ), película que retrata o cotidiano de uma moradora da periferia da cidade de São Vicente/SP, a qual, mesmo com constantes humilhações, não perde a vontade de viver. Na roda de conversa que se seguiu à exibição do filme, tivemos algumas falas significativas que retrataram a identificação com a personagem principal e a importância da valorização das pessoas, independente das condições econômicas, raciais ou de gênero. Além do respeito às diferenças, também foi apontado pelos presentes a importância de se pensar em ações mais abrangentes que possam promover a cidadania e emancipação dos sujeitos, saindo da esfera puramente individual das ações dos sujeitos isolados no campo social.
O encontro de novembro foi marcado pela exibição do curta O Xadrez das Cores ( Schiavon, 2004Schiavon, M. (Direção). (2004). O xadrez das cores (Curta metragem). Rio de Janeiro, RJ: Midmix. ), que trata da temática da discriminação racial e da consciência negra. O tema foi proposto justamente em homenagem ao Dia da Consciência Negra. Os participantes mostraram-se bastante comovidos com o curta-metragem e trouxeram diversos exemplos de discriminação racial que sofreram, como também as estratégias para lidar com estas violências. Uma participante compartilhou sua vivência sobre a denúncia em relação à discriminação sofrida numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Outros exemplos foram apresentados como forma de reação e conscientização contra o racismo, preconceito e discriminação de qualquer espécie.
Por fim, o encontro de dezembro contou com a exibição do filme Central do Brasil ( Cohn, Clermont-Tonnerre & Salles, 1998Cohn, A., & Clermont-Tonnerre, M. (Produção)Salles, W. (Direção). (1998). Central do Brasil (DVD). Rio de Janeiro, RJ: Europa. ). Neste dia, como atividade de encerramento do ano, a equipe produziu um vídeo com os participantes, ocasião em que cada participante pode expressar o sentido do grupo para si. Foi proposto que os participantes escolhessem palavras que representassem o sentido do grupo, sendo que alguns significantes trazidos foram: Ajuda, Passear, Amor, Recordação, Superação, União, Dedicação, Grupo, Educação, Saúde, Amizades, Alegria, Participação, Autonomia, Música, Mães lutadoras, Fé, Gratidão, Respeito, Paz, Oportunidade. Os significantes que emergiram traduziram a proposta de possibilitar a reflexão sobre temas do cotidiano dessas famílias, permitindo o fortalecimento de vínculos, a promoção da proteção social e o desenvolvimento de um processo de emancipação em que os sujeitos possam se reconhecer como participantes do tecido social sendo, portanto, sujeitos desejantes e atuantes em suas diferentes realidades socioculturais. Cada usuário foi chamado a ser protagonista do vídeo que foi produzido no coletivo, proposta que visou combater o silenciamento social por meio do convite à circulação da palavra.
Os diálogos que se seguiram mostraram, dentre outras questões, os caminhos da construção de um processo de sensibilização e reflexão sobre os problemas sociais, bem como a criação de estratégias de enfrentamento com vistas a um progressivo processo de emancipação e conquista de direitos. É importante destacar também o processo de capilarização do equipamento no território e o início de construção de uma rede intersetorial.
Os resultados deste projeto mostram que houve o reconhecimento da parceria entre a psicóloga do CRAS-ZOI e o projeto de extensão universitária, concretizada na participação da estudante de Psicologia, da docente e do psicólogo da Unifesp, que coordenam o Projeto de Extensão em Cinema na Universidade. Esta parceria resultou na melhoria dos dispositivos que visam dar voz aos usuários do equipamento por meio da valorização da possibilidade de enriquecimento e aprofundamento de temas do cotidiano das famílias assistidas através da metodologia audiovisual empregada.
Discussão
O presente Projeto deu início a um trabalho intersetorial com muitas possibilidades de ampliação e capilarização no território, especialmente com a Proteção Social Especial (PSE), Educação, Saúde e Cultura. Dois equipamentos reconheceram o valor da proposta, participando ativamente do trabalho realizado, sendo eles o NAPS II e a Casa do Paraplégico. Este trabalho contribuiu para a proposta de reinserção social dos usuários destes equipamentos e ampliação de vínculos dos participantes, permitindo que a formação de laços sociais seja identificada como essencial pelos participantes e relevantes em seus próprios processos de constituição subjetiva.
Quanto ao trabalho em equipe desenvolvido para a realização deste projeto, podemos afirmar que ele contou com uma crescente participação e interesse dos demais profissionais do CRAS, contribuindo para uma maior participação dos assistentes sociais nas atividades. Nos últimos encontros, houve também a participação da chefia do equipamento em algumas discussões de planejamento e entendimento dos objetivos do projeto. Entendemos que este é outro aporte da Psicologia, ou seja, contribuir para que as relações tanto com os usuários quanto com os colegas de trabalho sejam estabelecidas de modo ético, democrático e participativo. Nesta visão, nenhum profissional é tido como detentor exclusivo de um saber, sendo que através da união dos saberes, tanto eruditos quanto populares, se abre a possibilidade de uma mudança nas práticas de todos os participantes, sejam eles usuários, gestores ou demais trabalhadores.
Considerações Finais
Os encontros do Cinema Perto da Gente mostraram sua potência criativa, possibilitando a emergência de novos laços sociais, marcados pela valorização da escuta, da reflexão, do cuidado, da paciência, da alegria, da união e da tolerância. Por ser a exclusão um problema relacionado também aos modos de constituição dos laços sociais, a interferência neste fenômeno pode se dar por meio do fortalecimento dos vínculos, permitindo encontrar vetores de força para mudanças possíveis por meio de um restabelecimento progressivo de construções coletivas. Assim, entendemos que o psicólogo pode atuar em três dimensões indispensáveis e interligadas: por meio do trabalho junto às famílias, do trabalho de articulação da rede e do trabalho junto à equipe do equipamento. O projeto Cinema Perto da Gente foi pensado como um dispositivo que atua nas três esferas citadas. Cabe ressaltar que diante das dificuldades encontradas no trabalho intersetorial e interdisciplinar, constitui um desafio constante estreitar os laços no sentido de uma integração dos sentidos e das práticas dos diferentes profissionais e instituições.
O referenciamento das famílias por parte do CRAS se apresenta como um processo contínuo. Neste sentido, o Projeto foi pensado também como dispositivo permanente, que num processo dialético vai se debruçando sobre questões relevantes que dizem respeito à realidade dos usuários, na aposta de contribuir para um processo constante e progressivo de emancipação dos sujeitos envolvidos.
A Psicologia traz como contribuição as teorias e técnicas que servem como referência na compreensão dos processos de constituição subjetiva. Neste sentido, o profissional psicólogo pode contribuir na construção e execução do PAIF de variados modos, como, por exemplo: na promoção de processos relacionados à produção de subjetividades em suas relações com os laços familiares e sociais; no trabalho com os processos identificatórios e parentais; na atuação junto aos grupos, conflitos, processos de formação de vínculos; na promoção de uma escuta qualificada como método privilegiado de trabalho junto ao sofrimento humano, especialmente, neste caso, ligado ao sofrimento sociopolítico, ou seja, o sofrimento produzido pelas condições de invisibilidade a que são expostos os sujeitos.
Cabe ressaltar que as discussões disparadas neste projeto configuraram-se como importantes contribuições para a produção de saberes e a formação cultural de todos os envolvidos, abarcando: os questionamentos relativos à cultura contemporânea e à produção de subjetividades; a abertura de canais estéticos de produção de subjetividade; a ampliação da perspectiva da arte em suas relações com os movimentos sociais e com a proposta política que pensa a arte como fato da cultura. Por fim, este relato de experiência traduz o exercício de uma prática que valoriza a experiência estética do sujeito, indissociada de questões de ordem ética, epistêmica, política e existencial.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Dez 2019 -
Data do Fascículo
2019
Histórico
-
Recebido
22 Nov 2017 -
Aceito
23 Ago 2018