Acessibilidade / Reportar erro

Liderança e Satisfação no Esporte Escolar: Teste da Hipótese da Congruência do Modelo Multidimensional de Liderança

Leadership and Satisfaction in Young Athletes: Testing the Hypothesis of Congruence of the Multidimensional Model of Leadership

El Liderazgo y la Satisfacción en el Deporte Escolar: Probando la Hipótesis de la Congruencia del Modelo Multidimensional de Liderazgo

Resumo

O Modelo Multidimensional de Liderança tem sido a abordagem teórica mais utilizada nos estudos de liderança no esporte. Segundo a sua principal proposição, conhecida como hipótese da congruência, quando os atletas percebem que o seu treinador apresenta o comportamento que eles preferem em um determinado contexto, o desempenho e a satisfação são maximizados. Contudo, os estudos que testaram a hipótese da congruência não confirmaram a sua validade. Além disso, a maior parte das investigações utilizou amostras de atletas adultos, fato que dificulta a transferência dos resultados para outros subgrupos populacionais. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo testar a hipótese da congruência em uma amostra de atletas escolares. A amostra foi composta por 466 atletas com idade média de 16,16 (DP = 0,79), que responderam um questionário sociodemográfico, a Escala de Liderança no Esporte (versões preferência e percepção) e o Questionário de Satisfação do Atleta (versão liderança). A análise da consistência interna e análise fatorial confirmaram a validade psicométrica dos instrumentos. Os resultados das análises de regressão suportam parcialmente a hipótese de que a satisfação dos atletas é dependente da congruência entre o comportamento do treinador percebido e preferido pelos atletas.

Liderança; Satisfação; Psicologia do Esporte; Avaliação Psicológica

Abstract

The Multidimensional Model of Leadership has been the most widely used theoretical approach to studies of leadership in sport. According to its main proposition, known as the congruence hypothesis, when athletes perceive their coach shows the behavior they prefer on a given context, performance and satisfaction are maximized. However, studies that have tested the hypothesis of congruence did not confirm its validity. Furthermore, most of the research samples used adult athletes, a fact that complicates extrapolating the results to other subpopulations. In this sense, the present study aimed to test the hypothesis of congruence in a school athletes group. The sample consisted of 466 athletes, with an average age of 16.16 (SD = 0.79), who completed: a demographic questionnaire; the Leadership Scale in Sport (preference and perception versions); and the Athlete Satisfaction Questionnaire (leadership version). Analysis of the internal consistency and factor analysis confirmed the psychometric validity of instruments. The results of the regression analysis partially support the hypothesis that athletes’ satisfaction is dependent on the congruence between athletes’ preferred and perceived coaches behavior.

Leadership; Satisfaction; Sport Psychology; Psychological Assessment

Resumen

El Modelo Multidimensional de Liderazgo ha sido el abordaje teórico más utilizado en los estudios de liderazgo en el deporte. Según su principal proposición, conocida como hipótesis de congruencia, cuando los deportistas perciben que su entrenador presenta un comportamiento que ellos prefieren en un determinado contexto, el desempeño y la satisfacción son maximizados. Todavía, los estudios que probaron la hipótesis de congruencia no confirman su validez. Además, la mayoría de las investigaciones utilizó muestras de deportistas adultos, hecho que dificulta la extrapolación de los resultados para otros subgrupos poblacionales. En este sentido, este estudio se propuso probar la hipótesis de congruencia en una muestra de deportistas escolares. La muestra fue compuesta por 466 atletas con edad media de 16, 16 (DT = 0,79), que contestaron: una encuesta socio demográfica, la Escala de Liderazgo en el Deporte (versión preferencia y percepción) y la Encuesta de Satisfacción del deportista (versión liderazgo). El análisis de consistencia interna y el análisis factorial confirmaron la validez psicométrica de los instrumentos. Los resultados de los análisis de regresión soportan parcialmente la hipótesis de que la satisfacción de los atletas es dependiente de la congruencia entre el comportamiento del entrenador percibido y preferido por los deportistas.

Liderazgo; Satisfacción; Psicología del Deporte; Evaluación Psicológica

A liderança é uma atividade universal evidente nos seres humanos (Bass, 2008Bass, B. M. (2008). The bass handbook of leadership: theory, research, and managerial applications. New York, NY: Simon & Schuster.) e pode ser definida como o processo comportamental de influenciar indivíduos e grupos para alcançarem determinados objetivos (Barrow, 1977Barrow, J. (1977). The variables of leadership: a review and conceptual framework. Academy of Management Review, 2(2), 231-251. doi:10.5465/AMR.1977.4409046
https://doi.org/10.5465/AMR.1977.4409046...
). Sua importância está relacionada ao bom funcionamento e ao aumento da produtividade nas organizações. É um tema de grande interesse dos pesquisadores das ciências sociais, em especial os psicólogos da área organizacional e política (Parry, & Bryman, 2006Parry, K. W., & Bryman, A. (2006). Leadership in organizations. In S. R. Clegg, C. Hardy, T. B. Lawrence, & W. R. Nord (Eds.), The SAGE handbook of organizational studies (pp. 447-468). London: SAGE.).

Estudos sobre liderança têm sido realizados sob a perspectiva de diferentes modelos teóricos e o interesse pelo tema continua crescente (Day, & Antonakis, 2012Day, D. V., & Antonakis, J. (2012). Leadership: past, present and future. In D. V. Day, & J. Antonakis (Eds.), The nature of leadership (pp. 3-25). Thousand Oaks, CA: SAGE Publications.; Parry, & Bryman, 2006Parry, K. W., & Bryman, A. (2006). Leadership in organizations. In S. R. Clegg, C. Hardy, T. B. Lawrence, & W. R. Nord (Eds.), The SAGE handbook of organizational studies (pp. 447-468). London: SAGE.). Contudo, o contexto esportivo permanece pouco investigado (Chelladurai, 2012)Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.. Isso é surpreendente, tendo em vista que a maior parte das atividades esportivas envolve grupos ou equipes e provavelmente a relação interpessoal entre o treinador e os atletas seja a mais importante neste contexto (Jowet, 2003Jowet, S. (2003). When the “honeymoon” is over: a case study of a coach-athlete dyad in crisis. The Sport Psychologist, 17(4), 444-460.; Olympiou, Jowett & Duda, 2008Olympiou, A., Jowett, S., & Duda, J. l. (2008). The psychological interface between the coach-created motivational climate and the coach-athlete relationship in team sports. The Sport Psychologist, 22(4), 423-438. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/229096790_The_Psychological_Interface_Between_the_Coach-Created_Motivational_Climate_and_the_Coach-Athlete_Relationship_in_Team_Sports
https://www.researchgate.net/publication...
). De fato, nas equipes esportivas o treinador desempenha a função de líder e procura influenciar os atletas para alcançarem seus objetivos. Assim, o comportamento do treinador tem um impacto relevante, de natureza positiva ou negativa, no desempenho dos atletas e no seu bem-estar psicológico (Horn, Bloom, Berglund, & Packard, 2011Horn, T. S., Bloom, P., Berglund, K. M., & Packard, S. (2011). Relationship between collegiate athletes’ psychological characteristics and their preferences for different types of coaching behavior. The Sport Psychologist, 25, 190-211.). Nessa perspectiva, a liderança apresenta-se como um fenômeno de grande importância não só no esporte de alto rendimento, mas também no esporte educacional e lazer.

Até a década de 1970 as investigações foram limitadas pela ausência de um modelo teórico de liderança que contemplasse as especificidades do ambiente esportivo. Por isso, os primeiros estudos sobre a liderança no esporte foram baseados em modelos teóricos de outras áreas, especialmente aqueles provenientes da Psicologia organizacional. Segundo Chelladurai (2012)Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press., uma das primeiras iniciativas foi realizada por de Danielson, Zelhart e Drake (1975)Danielson, R. R., Zelhart Jr, P. F., & Drake, C. J. (1975). Multidimensional scaling and factor analysis of coaching behavior as perceived by high school hockey players. Research Quarterly, 46(3), 323-334., que definiram as dimensões do comportamento do líder (treinador) a partir das respostas de atletas escolares a uma versão adaptada do questionário Leadership Behavior Description Questionnaire (Halpin, & Winer, 1957Halpin, A. W., & Winer,B. J. (1957). A factorial study of the leader behavior description. In R. M. Stogdill, & A. E. Coons (Eds.), Leader behavior: its description and measurement (pp. 39-51). Columbus, OH: The Ohio State University.).

Com o crescente interesse dos pesquisadores pela análise das relações interpessoais no contexto esportivo, Chelladurai (1978)Chelladurai, P. (1978). A contingency model of leadership in athletics (doctoral dissertation). University of Waterloo, Canada. publicou a primeira versão do seu modelo específico para o esporte, denominado Modelo Multidimensional de Liderança (MML). Segundo o próprio autor , o MML foi elaborado a partir dos modelos teóricos existentes para o contexto organizacional, em especial a Teoria da Contingência, a Teoria do Path-Goal, a Teoria Reativa Adaptativa e o Modelo de Discrepância da Liderança (Chelladurai, 1984Chelladurai, P. (1984). Discrepancy between preferences and perceptions of leadership behavior and satisfaction of athletes in varying sports. Journal of Sport Psychology, 6(1), 27-41.). Posteriormente, o MML foi aprimorado (Chelladurai, 1993Chelladurai, P. (1993). Leadership. In R. N. Singer, M. Murphey, & L. K. Tennant (Eds.), Handbook of research on sport psychology (pp. 647–671). New York, NY: Macmillan., 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.) e tem sido a abordagem mais utilizada nos estudos de liderança no esporte nos últimos anos (Aoyagi, Cox, & McGuire, 2008Aoyagi, M. W., Cox, R. H., & McGuire, R. T. (2008). Organizational citizenship behavior in sport: relationships with leadership, team cohesion, and athlete satisfaction. Journal of Applied Sport Psychology, 20(1), 25-41. doi:10.1080/10413200701784858
https://doi.org/10.1080/1041320070178485...
; Horn et al., 2011)Horn, T. S., Bloom, P., Berglund, K. M., & Packard, S. (2011). Relationship between collegiate athletes’ psychological characteristics and their preferences for different types of coaching behavior. The Sport Psychologist, 25, 190-211..

O MML é uma abordagem interacional baseada em conceitos organizacionais e permite a análise do comportamento do treinador (líder), das variáveis envolvidas e dos resultados desse processo. O comportamento do líder é o componente central do modelo, representado em três estados: requerido (pela situação), preferido (pelos atletas) e atual (Figura 1).

Figura 1
Modelo Multidimensional de Liderança.

O comportamento requerido diz respeito ao tipo de comportamento esperado pelo sistema organizacional em que se encontra o treinador. Por exemplo, espera-se que o comportamento do treinador seja diferente ao dirigir com uma equipe profissional adulta e ao dirigir uma equipe amadora com atletas adolescentes. Já o comportamento preferido se refere às preferências dos membros do grupo para determinadas formas de comportamento do líder (por exemplo: instrução e orientação, suporte social e feedback). Por sua vez, o comportamento atual indica o comportamento que o treinador realmente exibe, tal como ser atencioso, autoritário ou exigente com as tarefas.

De acordo com o MML, três fatores antecedentes afetam o comportamento do líder: as características da situação, do líder e dos membros do grupo. Características situacionais dizem respeito a fatores do grupo, do esporte e da cultura que influenciam o comportamento requerido. Destacam-se os objetivos, o tipo de esporte (coletivo ou individual, amador ou profissional) e contexto social e cultural do grupo (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons., 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.). Estas características situacionais indicam alguns tipos de comportamento que o líder deveria adotar, e também aqueles que deveriam ser evitados.

As características dos membros do grupo incluem a personalidade, nível de habilidade no esporte praticado, sexo e idade. Já as características do líder incluem a sua personalidade, nível de conhecimento e experiência (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons., 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.). Observa-se na Figura 1 que tanto o comportamento requerido quanto o preferido são influenciados pelas características situacionais e pelas características dos membros do grupo. Ademais, embora o comportamento atual seja em grande parte determinado pelas características do líder, tal comportamento é também afetado pelas preferências do grupo e pelo contexto (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons., 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.).

A principal proposição do MML é que o grau de congruência entre os três estados do comportamento do líder (requerido, preferido e atual) influencia o desempenho e a satisfação dos atletas. Ou seja, a satisfação e o desempenho podem ser aumentados se o comportamento requerido pela situação, o comportamento preferido pelos membros do grupo e o comportamento atual do líder forem semelhantes. Em oposição, se há uma grande diferença entre os três estados do comportamento do líder, a satisfação e o desempenho ficam comprometidos (Andrew, 2009Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
https://www.highbeam.com/doc/1G1-2065325...
; Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons., 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.). De forma simplificada, pode-se dizer que a hipótese da congruência pressupõe que, quanto mais o treinador se comportar de acordo com as preferências dos atletas, maior será a satisfação e o desempenho.

Essa proposição sugere a necessidade do líder avaliar e regular seu comportamento de acordo com as demandas impostas pela situação e as preferências dos atletas (Chelladurai, 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.). Para isso, o líder deve utilizar os resultados do processo de liderança como referência para ajustar o seu comportamento. Nesse caso, o feedback proveniente da satisfação e desempenho atua como moderador para o ajuste do comportamento atual, conforme indicado na Figura 1. Por exemplo, se o desempenho do grupo está abaixo do esperado, o líder deve direcionar seu comportamento para a execução de tarefas que promovam o aprimoramento das capacidades dos membros do grupo. Por outro lado, se o líder percebe que há insatisfação com o envolvimento entre os componentes do grupo e o próprio líder, este deveria direcionar seu comportamento para o aprimoramento das relações interpessoais (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons., 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.).

Embora seja uma variável resultante no MML, a utilização do desempenho para a avaliação da liderança no esporte apresenta importantes limitações, em função de três aspectos: (1) são suscetíveis a fatores como o desempenho extraordinário do adversário, erro de arbitragem ou situações fortuitas (por exemplo, piso inadequado, iluminação deficiente, dificuldades relacionadas à altitude); (2) em algumas ocasiões, mesmo os perdedores da competição poderiam manifestar-se satisfeitos em relação ao esforço individual e do grupo, ao trabalho em equipe e ao treinamento que receberam, porém os índices de desempenho não são capazes de detectar isso; (3) a análise do processo de liderança apenas pelo desempenho nos jogos (vitória x derrota) é falha porque não representa toda a experiência esportiva do atleta. Os atletas investem a maior parte do tempo e esforço nos treinamentos, em relação aos períodos de disputas. Portanto, é necessário considerar as experiências advindas dos períodos de treinamento (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.; Chelladurai, & Riemer, 1997Chelladurai, P., & Riemer, H. (1997). A classification of facets of athlete satisfaction. Journal of Sport Management, 11, 133–159.).

Por tudo isso, a satisfação do atleta tem sido indicada como a variável resultante do processo de liderança mais adequada a ser medida, dentro do contexto esportivo (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons., 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.; Chelladurai, & Riemer, 1997Chelladurai, P., & Riemer, H. (1997). A classification of facets of athlete satisfaction. Journal of Sport Management, 11, 133–159.). Ela pode ser definida como um estado afetivo positivo, derivado de uma complexa avaliação das estruturas, dos processos e dos resultados associados com as experiências esportivas. Essa avaliação é baseada na discrepância entre o que o atleta deseja e o que ele percebe que está recebendo dentro dos aspectos psicológico, físico e do meio ambiente externo. Ou seja, quanto menor a disparidade entre o que é vivenciado pelo atleta e os seus padrões de exigência, maior será a satisfação com a experiência esportiva (Chelladurai, & Riemer, 1997Chelladurai, P., & Riemer, H. (1997). A classification of facets of athlete satisfaction. Journal of Sport Management, 11, 133–159.).

Especialmente após a elaboração dos modelos de liderança no esporte, a satisfação do atleta também tem recebido a atenção dos pesquisadores. Em primeiro lugar, porque para muitos treinadores a satisfação e o desempenho estão associados, já que a participação do atleta na prática esportiva é primariamente voluntária. Dessa forma, a satisfação parece ser um pré-requisito para que eles alcancem o máximo potencial (Borrego, Leitão, Alves, Silva, & Palmi, 2010Borrego, C. M. C., Leitão, J. C., Alves, J., Silva, C., & Palmi, J. (2010). Análise confirmatória do Questionário de Satisfação do Atleta: versão Portuguesa. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(1), 110-120. doi:10.1590/S0102-79722010000100014
https://doi.org/10.1590/S0102-7972201000...
; Riemer, & Chelladurai, 1998Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1998). Development of the Athlete Satisfaction Questionnaire (ASQ). Journal of Sport and Exercise Psychology, 20(2), 127–156. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume20Issue2June/DevelopmentoftheAthleteSatisfactionQuestionnaireASQ
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
). Nesse sentido, a efetividade das organizações esportivas depende de sua capacidade de satisfazer as necessidades dos atletas. Além disso, no caso dos atletas profissionais, o estudo da satisfação é tão importante quanto o da satisfação no trabalho, já que eles recebem salários e podem ser considerados funcionários da organização (clube ou equipe) (Riemer & Chelladurai, 1998)Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1998). Development of the Athlete Satisfaction Questionnaire (ASQ). Journal of Sport and Exercise Psychology, 20(2), 127–156. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume20Issue2June/DevelopmentoftheAthleteSatisfactionQuestionnaireASQ
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
.

Embora exista na literatura suporte para as proposições gerais do MML (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.), os estudos que testaram a hipótese da congruência não confirmaram sua validade. Por exemplo, Riemer e Chelladurai (1995)Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
e Andrew (2009)Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
https://www.highbeam.com/doc/1G1-2065325...
analisaram atletas de futebol americano e tenistas, respectivamente, e relataram que a hipótese da congruência foi aceita apenas parcialmente. Por outro lado, Çakioglu (2003)Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey., Lopes (2006)Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. e Riemer e Toon (2001)Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
, analisaram tenistas, jogadores de futebol e atletas de voleibol, respectivamente, e rejeitaram integralmente a hipótese da congruência. Estes autores argumentaram que os fatores situacionais influenciam a relação entre o comportamento de liderança e a satisfação. Dessa forma, a hipótese da congruência poderia não ser confirmada em alguns contextos. Ademais, a pequena amostra no estudo pode ter contribuído para a ausência de efeito da congruência (Çakioglu, 2003Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey.; Riemer, & Toon, 2001Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
).

Além disso, a maior parte das investigações utilizou amostras de atletas adultos (Chelladurai, 2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons., 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.), fato que dificulta a transferência dos resultados para outros subgrupos populacionais, como os atletas escolares. As competições esportivas estudantis acontecem em âmbito nacional desde a década de 1960 (Thompson, 2003Thompson, I. (2003). Jogos Estudantis Brasileiros – JEBs. In P. C. Lamartine (Org.), Atlas do esporte no Brasil: atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil (pp. 807-809). Rio de Janeiro, RJ: Shape.), mas nos últimos anos assumiram proporções de grandes eventos em nosso país. Por exemplo, a edição do ano 2012 das Olimpíadas Escolares contou com a participação de mais de dois milhões de estudantes de todo o país (Comitê Olímpico Brasileiro [COB], 2013Comitê Olímpico Brasileiro - COB. (2013) Acreditando nos nossos jovens... Recuperado de http://jogosescolares.cob.org.br/o-evento
http://jogosescolares.cob.org.br/o-event...
). Além do aumento do número de atletas, frequentemente as competições estudantis têm promovido jovens atletas para o esporte de alto rendimento (COB, 2013Comitê Olímpico Brasileiro - COB. (2013) Acreditando nos nossos jovens... Recuperado de http://jogosescolares.cob.org.br/o-evento
http://jogosescolares.cob.org.br/o-event...
). Essa realidade amplia a importância dos estudos sobre a interação entre treinadores e atletas no esporte escolar.

Diante do cenário exposto, o presente estudo teve como objetivo testar a hipótese da congruência, proposta pelo MML, em uma amostra de atletas escolares. Ou seja, testar se a congruência entre o comportamento preferido e percebido pelos atletas aumenta a quantidade de variância explicada da satisfação.

Método

Lócus

Os dados foram coletados na Etapa Nacional das Olimpíadas Escolares, considerada o maior evento esportivo estudantil do país. Organizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, este evento contou com a participação de 4.025 atletas, com idade entre 15 e 17 anos, representando 1.217 escolas de todos os estados do Brasil e o Distrito Federal. A Etapa Nacional das Olimpíadas Escolares reúne os atletas e equipes de escolas públicas e particulares que obtiveram o melhor desempenho nas seletivas municipais e estaduais. A partir do ano 2013 o evento passou a se chamar Jogos Escolares da Juventude, mas manteve o mesmo formato de disputa e de organização.

Participantes

Participaram do estudo 466 atletas de ambos os sexos (idade = 16,16 anos ± 0,79) que disputaram as Olimpíadas Escolares em oito modalidades (Tabela 1).

Tabela 1
Distribuição da amostra por sexo e modalidade esportiva.

Entre os atletas, 55,8% eram do sexo masculino, 62,8% estudavam em escolas públicas, 64,6% disputaram modalidades coletivas e 50,3% já haviam participado de edições anteriores das Olimpíadas Escolares. Em média, os atletas treinavam 4,17 vezes por semana (DP = 1,47), com duração de 2,28 horas cada treino (DP = 0,8). O tempo de experiência em competições esportivas variou entre quatro e 144 meses (M = 54,8 e DP = 31,5). Já o tempo de treinamento com o atual treinador variou entre quatro e 158 meses (M = 36,7 e DP =26,9).

Instrumentos

Os atletas responderam a Escala de Liderança no Esporte, o Questionário de Satisfação do Atleta e um questionário sociodemográfico (Figura 2).

Figura 2
Instrumentos respondidos pelos atletas.

Escala de Liderança no Esporte (ELE): desenvolvida por Chelladurai e Saleh (1978Chelladurai, P., & Saleh, S. D. (1978). Preferred leadership in sports. Canadian Journal Applied Sport Sciences, 3, 85-92.; 1980Chelladurai, P., & Saleh, S. D. (1980). Dimensions of leader behavior in sports: development of a leadership scale. Journal of Sport Psychology, 2(1), 34-45.) e validada no Brasil por Hernandez e Voser (2012)Hernandez, J. A. E., & Voser, R. C. (2012). Validação da escala de liderança para o esporte: versão preferência dos atletas. Psicologia: Ciência e Profissão, 32(1), 142-157. doi:10.1590/S1414-98932012000100011
https://doi.org/10.1590/S1414-9893201200...
. Foi utilizada para determinar o comportamento de liderança preferido pelos atletas (versão preferência) e o comportamento atual dos treinadores (versão percepção). Cada versão possui 40 itens distribuídos nas cinco dimensões da escala: treino e instrução, comportamento democrático, comportamento autocrático, suporte social e feedback positivo. Os itens das duas versões contêm questões idênticas, alterando-se apenas o seu tempo verbal e a frase introdutória: O meu treinador (versão percepção); Eu prefiro que meu treinador (versão preferência). As respostas aos itens da ELE são baseadas na frequência do comportamento exibido pelo treinador e indicadas em uma escala tipo Likert de cinco pontos (5 = sempre e 1 = nunca). Na versão preferência, os atletas responderam sobre as suas preferências em relação ao comportamento do seu treinador, ou seja, qual o comportamento que ele gostaria que o treinador apresentasse. Na versão percepção, os atletas responderam sobre o comportamento exibido pelo treinador, ou seja, como ele percebe o comportamento habitual do seu treinador.

Questionário de Satisfação do Atleta – Versão Liderança (QSA-L): desenvolvido por Riemer e Chelladurai (1998)Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1998). Development of the Athlete Satisfaction Questionnaire (ASQ). Journal of Sport and Exercise Psychology, 20(2), 127–156. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume20Issue2June/DevelopmentoftheAthleteSatisfactionQuestionnaireASQ
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
e validado no Brasil por Lopes, Samulski e Silva (2007)Lopes, M. C., Samulski, D. M., & Silva, L. A. (2007). Validação do questionário de satisfação do atleta: versão liderança. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 15(4), 47-56.. É composto por 14 itens que representam as quatro dimensões do questionário: desempenho da equipe, desempenho individual, treino e instrução, tratamento pessoal. Os atletas responderam o QSA-L com base na própria avaliação do nível de satisfação com a experiência esportiva. As respostas foram indicadas por meio de uma escala do tipo Likert de sete pontos (7 = extremamente e 1 = nunca).

Questionário Sociodemográfico: elaborado especialmente para este trabalho para coletar informações gerais sobre a amostra do estudo. Os atletas informaram a idade, sexo, escola, cidade e estado que representavam na competição, modalidade esportiva e alguns itens relacionados à experiência esportiva (frequência semanal de treinamento, duração de cada treinamento, tempo de experiência em competições esportivas e o tempo de treinamento com o atual treinador).

Procedimentos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal da Paraíba e respeitou as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde (Resolução no 196/96) envolvendo pesquisas com seres humano. A coleta de dados foi realizada nos hotéis onde os atletas estavam hospedados. Antes de responderem os questionários, os participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, demonstrando ciência dos objetivos, procedimentos e liberdade para deixarem de participar da pesquisa quando desejado.

Análise dos dados

Os dados coletados foram digitados e analisados no programa SPSS (versão 18). O nível de significância adotado nas análises foi de p ≤ 0,05. A fim de assegurar a validade e confiabilidade dos dados, inicialmente foi testada a adequação dos instrumentos aos participantes da pesquisa. Para isso, foi utilizada a análise fatorial exploratória (AFE) e a verificação da consistência interna pelo coeficiente alfa de Cronbach.

Para testar a hipótese da congruência entre a liderança preferida e percebida com a satisfação, os procedimentos adotados foram baseados nas sugestões de Chelladurai (2007Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.; 2012Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.) e em outros estudos similares (Andrew, 2004Andrew, D. (2004). The effect of congruence of leadership behaviors on motivation, commitment, and satisfaction of college tennis players (doctoral dissertation). Florida State University, USA.; 2009Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
https://www.highbeam.com/doc/1G1-2065325...
; Chelladurai, & Riemer, 1998Chelladurai, P., & Riemer, H. (1998). Measurement of leadership in sports. In J. L. Duda (Ed.), Advances in sport and exercise psychology measurement (pp. 227-253). Morgantown, WV: Fitness Information Technology.; Lopes, 2006Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.; Riemer, e Chelladurai, 1995Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
; Riemer, & Toon, 2001Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
). Foram realizadas cinco análises de regressão linear múltipla (método enter por blocos) para cada uma das quatro dimensões da satisfação (treino e instrução, tratamento pessoal, desempenho da equipe e desempenho individual), totalizando 20 análises. Foi inserido primeiro o valor da preferência, seguido pelo valor da percepção e do termo de interação (preferência, percepção, interação). O termo de interação foi obtido a partir da multiplicação do valor da preferência pelo valor da percepção (interação = preferência x percepção) em cada uma das cinco dimensões da liderança. A hipótese da congruência foi considerada válida se a variável interação tiver aumentado significativamente a explicação da variância na satisfação, demonstrado pelo ΔR2 (variação no coeficiente de determinação).

Resultados

Adequação dos instrumentos aos participantes

A ELE derivada da AFE confirmou parcialmente a sua estrutura original. Apenas cinco itens da escala se apresentaram em um fator diferente daquele proposto por Chelladurai e Saleh (1980)Chelladurai, P., & Saleh, S. D. (1980). Dimensions of leader behavior in sports: development of a leadership scale. Journal of Sport Psychology, 2(1), 34-45.. Já o QSA-L derivado da AFE resultou em uma estrutura idêntica à original. Ou seja, a distribuição dos itens pelos quatro fatores não diferiu daquela apresentada por Riemer e Chelladurai (1998)Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1998). Development of the Athlete Satisfaction Questionnaire (ASQ). Journal of Sport and Exercise Psychology, 20(2), 127–156. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume20Issue2June/DevelopmentoftheAthleteSatisfactionQuestionnaireASQ
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
. Já o α Cronbach variou entre 0,68 (comportamento democrático) e 0,87 (treino e instrução) para a ELE, e entre 0,74 (desempenho da equipe) e 0,86 (tratamento pessoal) para o QSA-L.

Teste da hipótese da congruência

A primeira dimensão da satisfação avaliada foi o treino e instrução (Tabela 2). Observa-se aumento significativo da variância explicada com a inserção da variável interação nas seguintes dimensões da liderança: treino e instrução, comportamento democrático e comportamento autocrático. Apenas para esses casos a hipótese da congruência foi aceita, sendo rejeitada nas outras dimensões (suporte social e feedback positivo). Dentre as dimensões da liderança, percebe-se que o treino e instrução foi o que apresentou o maior R2 e, portanto, o que mais contribuiu individualmente para a explicação da variância da satisfação com o treino e instrução.

Tabela 2
Variância da satisfação com o Treino e Instrução atribuída à liderança.

A segunda dimensão da satisfação avaliada foi o tratamento pessoal (Tabela 3). Observa-se aumento significativo da variância explicada com a inserção da variável interação apenas nas dimensões comportamento autocrático e feedback positivo. Portanto, apenas para essas dimensões a hipótese da congruência foi aceita. O treino e instrução, suporte social e feedback positivo apresentaram os maiores R2 e, assim, foram os que mais contribuíram individualmente para a explicação da variância na satisfação com tratamento pessoal.

Tabela 3
Variância da satisfação com o Tratamento Pessoal atribuída à liderança.

A terceira dimensão da satisfação a ser avaliada foi o desempenho da equipe (Tabela 4). A inserção da variável interação não provocou aumento significativo da variância explicada em nenhuma das dimensões da liderança. Portanto, não há suporte para hipótese da congruência em relação à satisfação com o desempenho da equipe.

Tabela 4
Variância da satisfação com o Desempenho da Equipe atribuída à liderança.

A quarta e última dimensão da satisfação a ser avaliada foi o desempenho individual (Tabela 5). Observa-se aumento significativo da variância explicada com a inserção da variável interação nas dimensões comportamento autocrático, suporte social e feedback positivo. Assim, para essas dimensões a hipótese da congruência foi aceita, sendo rejeitada nas demais.

Tabela 5
Variância da satisfação com o Desempenho Individual atribuída à liderança.

Estes resultados suportam parcialmente a hipótese de que a satisfação dos atletas é dependente da congruência entre a liderança percebida e preferida pelos atletas, já que a inserção do termo interação aumentou significativamente a explicação da variância na satisfação em três das quatro dimensões (treino e instrução, tratamento pessoal e desempenho individual).

Discussão

O presente estudo realizou uma série de análises de regressão para testar a hipótese de que a satisfação é dependente da congruência entre a liderança preferida e percebida pelos atletas. Esta hipótese foi confirmada para três dimensões da satisfação: treino e instrução (TI), tratamento pessoal (TP) e desempenho da individual (DI). Porém, foi rejeitada para a satisfação com o desempenho da equipe (DE).

Em relação à satisfação com o TI, a congruência entre a liderança preferida e percebida nas dimensões TI, Comportamento Democrático (CD) e Comportamento Autocrático (CA) resultaram em aumento significativo no R2. Portanto, se os atletas perceberem que estão recebendo o nível desejado desses comportamentos, sua satisfação com o treinamento e as instruções fornecidas pelo treinador será aumentada. Já na satisfação com o TP, a congruência entre a liderança preferida e percebida nas dimensões CA e Feedback Positivo (FP) resultaram em aumento significativo no R2. Portanto, se os atletas perceberem que estão recebendo o nível desejado desses comportamentos, sua satisfação com os relacionamentos interpessoais no grupo e o incentivo/reconhecimento fornecido pelo treinador será aumentada.

Por último, em relação à satisfação com o DI, a congruência entre a liderança preferida e percebida nas dimensões CA, Suporte Social (SS) e FP resultaram em aumento significativo no R2. Portanto, se os atletas perceberem que estão recebendo o nível desejado desses comportamentos, sua satisfação com o próprio desempenho será aumentada. Contudo, na satisfação com o DE, a congruência entre a liderança preferida e percebida não provocou mudança significativa no R2. Portanto, não há suporte para a hipótese da congruência em relação à satisfação do atleta com o nível de desempenho da sua equipe.

Analisando estes resultados sob o ponto de vista dos comportamentos de liderança, observa-se que todas as cinco dimensões da ELE tiveram impacto significativo na satisfação dos atletas. Ou seja, a congruência entre a liderança preferida e percebida de todas as dimensões da liderança aumentou a variância explicada de pelo menos uma dimensão da satisfação dos atletas. O CA influenciou a satisfação com o treino e instrução, com o tratamento pessoal e com o desempenho individual. Já o FP influenciou a satisfação como tratamento pessoal e o desempenho individual. Por sua vez, o TI e o CD influenciaram apenas a satisfação com treino e instrução. Por fim, o SS influenciou apenas a satisfação com o desempenho individual (Tabela 6).

Tabela 6
Dimensões da liderança que influenciaram a satisfação dos atletas, de acordo com o teste da Hipótese da Congruência.

Conforme a Tabela 6, a congruência do CA é o que mais influenciou a satisfação dos atletas. Essa é uma constatação interessante, pois, embora o comportamento autocrático seja o menos desejado pelos atletas (Rodrigues, 2014Rodrigues, V. M. (2014). Liderança do treinador e satisfação de atletas escolares (tese de doutorado). Centro de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal da Paraíba, Paraíba.), a sua congruência foi a que mais influenciou a satisfação. Portanto, o nível de CA que o treinador fornece e a percepção dos atletas sobre tal comportamento é de grande relevância para a experiência esportiva dos atletas.

Contudo, observa-se que a literatura tem apresentado resultados inconsistentes em relação à hipótese da congruência do MML. De acordo com Chelladurai e seus colaboradores (Chelladurai, & Riemer, 1998Chelladurai, P., & Riemer, H. (1998). Measurement of leadership in sports. In J. L. Duda (Ed.), Advances in sport and exercise psychology measurement (pp. 227-253). Morgantown, WV: Fitness Information Technology.; Riemer, & Chelladurai, 1995Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
; Riemer, & Toon, 2001Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
), as investigações iniciais foram realizadas de forma inadequada. Nesses estudos (Chelladurai, 1984Chelladurai, P. (1984). Discrepancy between preferences and perceptions of leadership behavior and satisfaction of athletes in varying sports. Journal of Sport Psychology, 6(1), 27-41.; Horne, & Carron, 1985Horne, T., & Carron, A. V. (1985). Compatibility in coach-athlete relationships. Journal of Sport Psychology, 7(2), 137-149. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume7Issue2June/CompatibilityinCoachAthleteRelationships
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
), os pesquisadores criaram uma variável independente híbrida, derivada da discrepância entre dois tipos de comportamento (por exemplo, subtraindo as pontuações do comportamento percebido pelo preferido). Posteriormente, essa nova variável foi associada ao desempenho e satisfação dos atletas para verificar a hipótese da congruência. Esse procedimento gerou problemas na validade e confiabilidade dos dados, assim como produziu correlações espúrias (Andrew, 2009Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
https://www.highbeam.com/doc/1G1-2065325...
; Chelladurai, & Riemer, 1998Chelladurai, P., & Riemer, H. (1998). Measurement of leadership in sports. In J. L. Duda (Ed.), Advances in sport and exercise psychology measurement (pp. 227-253). Morgantown, WV: Fitness Information Technology.; Riemer, & Chelladurai, 1995Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
). Além disso, esses estudos utilizaram uma questão única para medir a satisfação dos atletas, o que também compromete a sua validade.

Portanto, embora intuitivamente atraente, a utilização dos escores derivados da discrepância entre as variáveis mostrou-se problemática (Riemer, & Toon, 2001Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
). Uma solução para essa questão foi sugerida por Riemer e Chelladurai (1995)Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
. Segundo esses pesquisadores, Cronbach (1958 apud Riemer, & Chelladurai, 1995Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
) demonstrou que a interação entre dois componentes (por exemplo, preferência x percepção) é equivalente à diferença entre esses mesmos componentes. Assim, para evitar os problemas gerados com a utilização de escores derivados da discrepância entre duas variáveis (por exemplo, preferência – percepção), dever-se-ia testar a hipótese da congruência por meio da análise de regressão linear múltipla, com as variáveis medidas e a interação entre elas. Nesse procedimento, os componentes principais (preferência e percepção) devem ser inseridos primeiramente na regressão, seguidos pela resultante da interação entre eles (preferência x percepção). Esse procedimento permite testar se a interação aumenta a variância explicada pelos componentes principais. Dessa forma, a hipótese da congruência é considerada válida se a interação entre os termos (preferência x percepção) aumentar significativamente a quantidade de variância explicada.

Este foi o método utilizado pelo presente estudo e por outras investigações (Andrew, 2004Andrew, D. (2004). The effect of congruence of leadership behaviors on motivation, commitment, and satisfaction of college tennis players (doctoral dissertation). Florida State University, USA.; 2009Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
https://www.highbeam.com/doc/1G1-2065325...
; Çakioglu, 2003Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey.; Chelladurai, & Riemer, 1998Chelladurai, P., & Riemer, H. (1998). Measurement of leadership in sports. In J. L. Duda (Ed.), Advances in sport and exercise psychology measurement (pp. 227-253). Morgantown, WV: Fitness Information Technology.; Lopes, 2006Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.; Riemer, & Chelladurai,1995Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
; Riemer, & Toon, 2001Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
) e tem sido considerado adequado para testar a hipótese da congruência. Não obstante, ainda há inconsistência entre os resultados desses estudos. Por exemplo, Riemer e Chelladurai (1995)Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
avaliaram o impacto da congruência entre a liderança preferida e percebida na satisfação de atletas de futebol americano. Os autores relataram que a hipótese da congruência foi aceita apenas para a dimensão suporte social. Além disso, em relação às dimensões treino e instrução e feedback positivo, as percepções dos atletas foram melhores preditores da satisfação quando comparado com a preferência e a congruência. Por outro lado, Riemer e Toon (2001)Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
e Çakioglu (2003)Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey. analisaram tenistas e jogadores de futebol, respectivamente, e rejeitaram a hipótese da congruência para todas as dimensões da liderança.

Embora Riemer e Toon (2001)Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
e Çakioglu (2003)Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey. tenham utilizado os mesmos instrumentos do presente estudo (ELE e QSA-L), o contraste entre os resultados pode ser devido a diversas diferenças entre as investigações. O MML sustenta que as características situacionais e dos membros do grupo exercem influências significativas no processo de liderança. Por exemplo, já foi mostrado que a idade, a nacionalidade, o sexo e o tipo da modalidade afetam as preferências dos atletas pela liderança (Chelladurai, & Carron, 1983Chelladurai, P., & Carron, A. V. (1983). Athletic maturity and preferred leadership. Journal of Sport Psychology, 5(4), 371-380. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume5Issue4December/AthleticMaturityandPreferredLeadership
http://journals.humankinetics.com/jsep-b...
; Hernandez, & Voser, 2012Hernandez, J. A. E., & Voser, R. C. (2012). Validação da escala de liderança para o esporte: versão preferência dos atletas. Psicologia: Ciência e Profissão, 32(1), 142-157. doi:10.1590/S1414-98932012000100011
https://doi.org/10.1590/S1414-9893201200...
; Riemer, & Toon, 2001Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
). Nesse aspecto, existem diferenças importantes entre os estudos. Riemer e Toon (2001)Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
e Çakioglu (2003)Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey. analisaram atletas universitários (> 18 anos) de apenas uma modalidade esportiva (tênis e futebol, respectivamente). Já o presente estudo envolveu atletas de oito modalidades, com idades entre 15 e 17 anos. Além disso, enquanto a amostra do presente estudo foi composta por atletas brasileiros de ambos os sexos, Çakioglu (2003)Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey. analisou atletas turcos do sexo masculino e Riemer e Toon (2001)Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
analisou atletas americanos de ambos os sexos.

Andrew (2009)Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
https://www.highbeam.com/doc/1G1-2065325...
também testou a hipótese da congruência por meio da regressão linear múltipla com a interação entre os termos da liderança. Foram analisados atletas americanos de tênis com idades entre 18 e 24 anos (M = 20,01 ± 1,38 anos). Os atletas responderam o QSA-L (idêntico ao presente estudo) e uma versão modificada da escala de liderança, elaborada por Zhang, Jensen e Mann (1997)Zhang, J., Jensen, B. E., & Mann, B. L. (1997). Modification and revision of the leadership scale for sport. Journal of Sport Behavior, 20(1), 105-121.. Esse instrumento é composto por 60 itens distribuídos em seis dimensões, ao contrário da ELE que possui 40 itens e cinco dimensões. Diferentemente do presente estudo, Andrew (2009)Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
https://www.highbeam.com/doc/1G1-2065325...
encontrou que a congruência em apenas duas dimensões da liderança (treino e instrução e comportamento autocrático) causou impacto significativo na satisfação dos atletas. Dessa forma, esse pesquisador concluiu que a hipótese da congruência foi parcialmente confirmada.

O único estudo encontrado com atletas brasileiros foi Lopes (2006)Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.. Essa pesquisadora analisou atletas profissionais participantes da Superliga Feminina de Voleibol, utilizando o QSA-L e a versão modificada da escala de liderança, proposta por Zhang et al. (1997)Zhang, J., Jensen, B. E., & Mann, B. L. (1997). Modification and revision of the leadership scale for sport. Journal of Sport Behavior, 20(1), 105-121.. Assim como nos estudos de Riemer e Toon (2001)Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
e Çakioglu (2003)Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey., as análises de regressão múltipla realizadas por Lopes (2006)Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. não demonstraram mudança significativa no R2 com a inserção da variável interação. Ou seja, a congruência entre a liderança preferida e percebida não modificou a satisfação dos atletas. Portanto, a hipótese da congruência foi rejeitada para todas as dimensões da satisfação. Mais uma vez, as diferenças entre o presente estudo e Lopes (2006)Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. podem justificar a divergência nos resultados. Embora ambos tenhamos sido realizados com atletas brasileiros, Lopes (2006)Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. avaliou apenas atletas do sexo feminino na modalidade voleibol. Além disso, esta pesquisadora investigou o esporte profissional e utilizou um instrumento para liderança diferente do presente estudo.

Embora o presente estudo tenha rejeitado a hipótese da congruência para uma das quatro dimensões da satisfação, este foi o trabalho que confirmou em maior amplitude a principal proposição do MML. Todas as cinco dimensões da liderança (TI, FP, SS, CA e CD) influenciaram a satisfação dos atletas, constituindo um achado inédito na literatura. Também se diferencia nesta pesquisa o número de modalidades investigadas. Enquanto a maior parte dos estudos investigou apenas uma modalidade, o presente estudo analisou atletas de oito modalidades esportivas (quatro coletivas e quatro individuais). Portanto, para o contexto avaliado, foi demonstrado que a satisfação dos atletas é dependente da congruência entre a liderança preferida e percebida, em três das quatro dimensões da satisfação, confirmando parcialmente a hipótese da congruência.

Considerações Finais

A liderança é um fenômeno social complexo derivado das relações entre as pessoas e depende da interação dos fatores pessoais do líder, dos liderados e do contexto. Portanto, trata-se de um fenômeno interacional em que os comportamentos são aprendidos a partir da relação entre os membros do grupo e o ambiente. Nesse sentido, Riemer e Toon (2001)Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10...
sugeriram que a validade da hipótese da congruência seria uma função das condições situacionais. Dessa forma, a hipótese da congruência poderia não ser verdadeira em todas as situações ou contextos, mas seria dependente da interação dos fatores antecedentes da liderança. As pesquisas disponíveis na literatura parecem confirmar essa sugestão.

Nesse sentido, cabe destacar que o esporte escolar aqui investigado é caracterizado pela alta competitividade das equipes e por eventos organizados conforme as regras oficiais. Embora os atletas não sejam profissionais, eles buscam o alto rendimento esportivo. No presente estudo, os atletas treinavam, em média, quatro dias por semana com duração de mais de duas horas cada treino. O tempo médio de experiência em competições esportivas foi de 4,5 anos, ou seja, eles começaram a competir com aproximadamente 11 anos de idade.

Treinadores envolvidos no esporte escolar assumem a responsabilidade de desenvolverem as capacidades esportivas de seus atletas, conciliando a busca pelo melhor desempenho com o bem-estar físico, psicológico e social. Os resultados do presente estudo confirmaram que o comportamento dos treinadores tem um impacto relevante nas respostas psicológicas dos atletas (satisfação). Ao reconhecer os efeitos da liderança do treinador na satisfação dos atletas, estratégias podem ser adotadas a fim de potencializar os resultados positivos da sua experiência esportiva.

Estudos futuros poderão verificar os efeitos de variáveis pessoais e do ambiente na hipótese da congruência (por exemplo, sexo dos atletas e treinadores, nível de experiência e tipo de modalidade) e avançar nas discussões. Além disso, considerando que as relações interpessoais entre treinadores e atletas podem ter impacto significativo em ambos, sugere-se que os estudos de liderança incluam a análise da satisfação dos treinadores.

Referências

  • Andrew, D. (2004). The effect of congruence of leadership behaviors on motivation, commitment, and satisfaction of college tennis players (doctoral dissertation). Florida State University, USA.
  • Andrew, D. (2009). The impact of leadership behavior on satisfaction of college tennis players: a test of the leadership behavior congruency hypothesis of the multidimensional model of leadership. Journal of Sport Behavior, 32(3), 261-277. Recuperado de https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
    » https://www.highbeam.com/doc/1G1-206532585.html
  • Aoyagi, M. W., Cox, R. H., & McGuire, R. T. (2008). Organizational citizenship behavior in sport: relationships with leadership, team cohesion, and athlete satisfaction. Journal of Applied Sport Psychology, 20(1), 25-41. doi:10.1080/10413200701784858
    » https://doi.org/10.1080/10413200701784858
  • Barrow, J. (1977). The variables of leadership: a review and conceptual framework. Academy of Management Review, 2(2), 231-251. doi:10.5465/AMR.1977.4409046
    » https://doi.org/10.5465/AMR.1977.4409046
  • Bass, B. M. (2008). The bass handbook of leadership: theory, research, and managerial applications New York, NY: Simon & Schuster.
  • Borrego, C. M. C., Leitão, J. C., Alves, J., Silva, C., & Palmi, J. (2010). Análise confirmatória do Questionário de Satisfação do Atleta: versão Portuguesa. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(1), 110-120. doi:10.1590/S0102-79722010000100014
    » https://doi.org/10.1590/S0102-79722010000100014
  • Çakioglu, A (2003). Leadership and satisfaction in soccer: examination of congruence and players’ position (master´s thesis). Middle East Technical University, Turkey.
  • Chelladurai, P. (1978). A contingency model of leadership in athletics (doctoral dissertation). University of Waterloo, Canada.
  • Chelladurai, P. (1984). Discrepancy between preferences and perceptions of leadership behavior and satisfaction of athletes in varying sports. Journal of Sport Psychology, 6(1), 27-41.
  • Chelladurai, P. (1993). Leadership. In R. N. Singer, M. Murphey, & L. K. Tennant (Eds.), Handbook of research on sport psychology (pp. 647–671). New York, NY: Macmillan.
  • Chelladurai, P. (2012). Leadership and manifestations of sport. In S. M. Murphy (Ed.), The Oxford handbook of sport and performance psychology (pp. 328-342). New York, NY: Oxford University Press.
  • Chelladurai, P. (2007). Leadership in sports. In G. Tenenbaum, & R. C. Eklund (Eds.), Handbook of sport psychology (pp. 113-135). Hoboken, NJ: John Wiley & Sons.
  • Chelladurai, P., & Carron, A. V. (1983). Athletic maturity and preferred leadership. Journal of Sport Psychology, 5(4), 371-380. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume5Issue4December/AthleticMaturityandPreferredLeadership
    » http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume5Issue4December/AthleticMaturityandPreferredLeadership
  • Chelladurai, P., & Riemer, H. (1997). A classification of facets of athlete satisfaction. Journal of Sport Management, 11, 133–159.
  • Chelladurai, P., & Riemer, H. (1998). Measurement of leadership in sports. In J. L. Duda (Ed.), Advances in sport and exercise psychology measurement (pp. 227-253). Morgantown, WV: Fitness Information Technology.
  • Chelladurai, P., & Saleh, S. D. (1980). Dimensions of leader behavior in sports: development of a leadership scale. Journal of Sport Psychology, 2(1), 34-45.
  • Chelladurai, P., & Saleh, S. D. (1978). Preferred leadership in sports. Canadian Journal Applied Sport Sciences, 3, 85-92.
  • Comitê Olímpico Brasileiro - COB. (2013) Acreditando nos nossos jovens... Recuperado de http://jogosescolares.cob.org.br/o-evento
    » http://jogosescolares.cob.org.br/o-evento
  • Danielson, R. R., Zelhart Jr, P. F., & Drake, C. J. (1975). Multidimensional scaling and factor analysis of coaching behavior as perceived by high school hockey players. Research Quarterly, 46(3), 323-334.
  • Day, D. V., & Antonakis, J. (2012). Leadership: past, present and future. In D. V. Day, & J. Antonakis (Eds.), The nature of leadership (pp. 3-25). Thousand Oaks, CA: SAGE Publications.
  • Halpin, A. W., & Winer,B. J. (1957). A factorial study of the leader behavior description. In R. M. Stogdill, & A. E. Coons (Eds.), Leader behavior: its description and measurement (pp. 39-51). Columbus, OH: The Ohio State University.
  • Hernandez, J. A. E., & Voser, R. C. (2012). Validação da escala de liderança para o esporte: versão preferência dos atletas. Psicologia: Ciência e Profissão, 32(1), 142-157. doi:10.1590/S1414-98932012000100011
    » https://doi.org/10.1590/S1414-98932012000100011
  • Horn, T. S., Bloom, P., Berglund, K. M., & Packard, S. (2011). Relationship between collegiate athletes’ psychological characteristics and their preferences for different types of coaching behavior. The Sport Psychologist, 25, 190-211.
  • Horne, T., & Carron, A. V. (1985). Compatibility in coach-athlete relationships. Journal of Sport Psychology, 7(2), 137-149. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume7Issue2June/CompatibilityinCoachAthleteRelationships
    » http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume7Issue2June/CompatibilityinCoachAthleteRelationships
  • Jowet, S. (2003). When the “honeymoon” is over: a case study of a coach-athlete dyad in crisis. The Sport Psychologist, 17(4), 444-460.
  • Lopes, M. C. (2006). A relação do perfil de liderança dos treinadores de voleibol com a satisfação das atletas na Superliga Feminina 2004/2005 (dissertação de mestrado). Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
  • Lopes, M. C., Samulski, D. M., & Silva, L. A. (2007). Validação do questionário de satisfação do atleta: versão liderança. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, 15(4), 47-56.
  • Olympiou, A., Jowett, S., & Duda, J. l. (2008). The psychological interface between the coach-created motivational climate and the coach-athlete relationship in team sports. The Sport Psychologist, 22(4), 423-438. Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/229096790_The_Psychological_Interface_Between_the_Coach-Created_Motivational_Climate_and_the_Coach-Athlete_Relationship_in_Team_Sports
    » https://www.researchgate.net/publication/229096790_The_Psychological_Interface_Between_the_Coach-Created_Motivational_Climate_and_the_Coach-Athlete_Relationship_in_Team_Sports
  • Parry, K. W., & Bryman, A. (2006). Leadership in organizations. In S. R. Clegg, C. Hardy, T. B. Lawrence, & W. R. Nord (Eds.), The SAGE handbook of organizational studies (pp. 447-468). London: SAGE.
  • Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1998). Development of the Athlete Satisfaction Questionnaire (ASQ). Journal of Sport and Exercise Psychology, 20(2), 127–156. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume20Issue2June/DevelopmentoftheAthleteSatisfactionQuestionnaireASQ
    » http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume20Issue2June/DevelopmentoftheAthleteSatisfactionQuestionnaireASQ
  • Riemer, H. A., & Chelladurai, P. (1995). Leadership and satisfaction in athletics. Journal of Sport and Exercise Psychology, 17(3), 276-293. Recuperado de http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
    » http://journals.humankinetics.com/jsep-back-issues/JSEPVolume17Issue3September/LeadershipandSatisfactioninAthletics
  • Riemer, H. A., & Toon, K. (2001). Leadership and satisfaction in tennis: examination of congruence, gender and ability. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72(3), 243-256. doi:10.1080/02701367.2001.10608957
    » https://doi.org/10.1080/02701367.2001.10608957
  • Rodrigues, V. M. (2014). Liderança do treinador e satisfação de atletas escolares (tese de doutorado). Centro de Ciências Humanas e Letras, Universidade Federal da Paraíba, Paraíba.
  • Thompson, I. (2003). Jogos Estudantis Brasileiros – JEBs. In P. C. Lamartine (Org.), Atlas do esporte no Brasil: atlas do esporte, educação física e atividades físicas de saúde e lazer no Brasil (pp. 807-809). Rio de Janeiro, RJ: Shape.
  • Zhang, J., Jensen, B. E., & Mann, B. L. (1997). Modification and revision of the leadership scale for sport. Journal of Sport Behavior, 20(1), 105-121.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2016

Histórico

  • Recebido
    31 Out 2014
  • Revisado
    13 Nov 2015
  • Aceito
    19 Jul 2016
Conselho Federal de Psicologia SAF/SUL, Quadra 2, Bloco B, Edifício Via Office, térreo sala 105, 70070-600 Brasília - DF - Brasil, Tel.: (55 61) 2109-0100 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: revista@cfp.org.br