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ENTRE O CORPO E O OUTRO: UMA LEITURA LAPLANCHEANA DA VELHICE

ENTRE EL CUERPO Y EL OTRO: UNA LECTURA LAPLANCHEANA DE LA VEJEZ

RESUMO

O presente artigo propõe uma leitura psicanalítica da velhice a partir da Teoria da Sedução Generalizada, de Jean Laplanche. Para isso, recupera a noção de reforço pulsional presente em Freud, reinterpretando-a a partir da noção de apoio sistematizada por Laplanche, para pensar as modificações corporais e seus efeitos sobre a economia libidinal dos sujeitos em processo de envelhecimento. Os autores defendem a hipótese de uma possível reabertura da situação originária nesse momento da vida, levando em consideração as alterações corporais próprias ao processo de envelhecimento, bem como os significados sociais e subjetivos que atribuímos às diversas perdas e mudanças vivenciadas por velhas e velhos. São abordados também as relações da velhice com a alteridade, a passividade originária e o processo de luto. Ao final, é ressaltada a necessidade de mais estudos aprofundados sobre o tema, assinalando a significativa contribuição da psicanálise, sobretudo no que tange aos impactos psíquicos da velhice.

Palavras-chave:
Velhice; teoria da sedução generalizada; psicanálise

RESUMEN

El presente artículo propone una lectura psicoanalítica de la vejez a partir de la Teoría de la Seducción Generalizada, de Jean Laplanche. Para ello, recupera la noción de refuerzo pulsional presente en Freud, reinterpretándola a partir de la noción de apoyo sistematizada por Laplanche, para pensar las modificaciones corporales y sus efectos sobre la economía libidinal de los sujetos en proceso de envejecimiento. Los autores defienden la hipótesis de una posible reapertura de la situación originaria en ese momento de la vida, teniendo en cuenta las alteraciones corporales propias del proceso de envejecimiento, así como los significados sociales y subjetivos que atribuimos a las diversas pérdidas y cambios vivenciados por viejas y viejos. Se abordan también las relaciones de la vejez con la alteridad, la pasividad originaria y el proceso de duelo. Al final, se resalta la necesidad de más estudios en profundidad sobre el tema, señalando la significativa contribución del psicoanálisis, sobre todo en lo que se refiere a los impactos psíquicos de la vejez.

Palavras clave:
Vejez; teoría de la seducción generalizada; psicoanálisis

ABSTRACT

The present paper proposed a psychoanalytical reading of the old age based on the Jean Laplanche’s Theory of Generalized Seduction. To this end, we retake the notion of drive reinforcement, present in Freud’s theory, reinterpreting it from the notion of leaning systematized by Laplanche in order to think about corporal modifications and their effects on the libidinal economy of aging subjects. The authors defend the hypothesis of a possible reopening of the original situation in this moment of life, considering the corporal changes specific to the aging process, as well as the social and subjective meanings that we attribute to the various losses and changes experienced by the old women and men. We also discuss the several relationships between old age and otherness, original passivity and the mourning process. At the end, it is emphasized the need for further in-depth studies on this subject, signing the significant contribution of Psychoanalysis, especially about the psychical impacts in old age.

Keywords:
Old age; generalized seduction theory; psychoanalysis

Introdução

O envelhecimento4 4 Agradecemos ao Prof. Paulo de Carvalho Ribeiro, pela leitura interessada e importantes contribuições para o desenvolvimento de algumas ideias presentes neste texto. populacional é um dado concreto que mobilizou, nas últimas décadas, pesquisas e programas direcionados ao público idoso. Na psicanálise, ainda encontramos poucas referências sobre o tema. A França é um dos pioneiros no estudo psicanalítico da velhice, onde se destacam os trabalhos de Bianchi (1993Bianchi, H. (1993). O eu e o tempo: psicanálise do tempo e do envelhecimento. (J. M. J. Briant, Trad.). São Paulo: Casa do Psicólogo. (Trabalho original publicado em 1987)) e Messy (1999Messy, J. (1999). A pessoa idosa não existe: uma abordagem psicanalítica da velhice. (J. S. M. Werneck, Trad.). São Paulo, SP: Aleph. (Trabalho original publicado em 1992)). Já no Brasil, é possível localizar trabalhos consistentes desde o final da década de 90, principalmente após os anos 2000 (Goldfarb, 1997Goldfarb, D. C. (1997). Corpo, tempo e envelhecimento. (Dissertação de mestrado). Programa de Psicologia Clínica, Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, São Paulo. Recuperado de http://www.redpsicogerontologia.net/xxfiles/Livro% 20em%20PDF.pd
http://www.redpsicogerontologia.net/xxfi...
; Barbieri, 2003Barbieri, N. (2003). Trabalho com velhos: algumas reflexões iniciais. Pulsional: Revista de Psicanálise, 16(173), 18-24.; Mucida, 2004Mucida, A. (2004). O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. Belo Horizonte, MG: Autêntica., 2009Mucida, A. (2009). Escrita de uma memória que não se apaga - envelhecimento e velhice. Belo Horizonte, MG: Autêntica., 2014Mucida, A. (2014). Atendimento psicanalítico do idoso. São Paulo, SP: Zagodoni. ; Kamkhagi, 2008Kamkhagi, D. (2008). Psicanálise e velhice - sobre a clínica do envelhecer. São Paulo, SP: Via Lettera.; Genaro Junior, 2013Genaro Junior, F. (2013). Clínica do envelhecimento: concepções e casos clínicos. São Paulo, SP: Todas as Musas.; Vilhena, Novaes, & Rosa, 2014Vilhena, J., Novaes, J. V., & Rosa, C. M. (2014, Junho). A sombra de um corpo que se anuncia: corpo, imagem e envelhecimento. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 17(2), 251-264.; Cherix, 2015Cherix, K. (2015). Corpo e envelhecimento: uma perspectiva psicanalítica. Revista da SBPH, 18(1), 39-51.). Todavia, algo do que Simone de Beauvoir (1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970), p. 8) denominou de “[...] conspiração de silêncio [...]” em torno da velhice ainda se faz presente. A questão que parece se apresentar, agora, não é se falamos ou não sobre velhice, mas o que e como tem sido dito.

Nesse sentido, o presente artigo busca dar voz a um tema ainda pouco debatido quando tratamos de indivíduos envelhecidos: a sexualidade. Assim, tem como objetivo propor uma leitura do envelhecimento a partir da Teoria da Sedução Generalizada, tendo como âncora o sexual5 5 Utilizaremos a palavra sexual sempre com inicial minúscula, apesar do uso em maiúscula na edição que utilizamos, para nos referirmos ao neologismo ‘sexual’, forjado por Jean Laplanche. descrito por Laplanche (2015aLaplanche, J. (2015a). Sexual: a sexualidade ampliada no sentido Freudiano 2000-2006 (V. Dresch, M. Marques, Trad.). Porto Alegre, RS: Dublinense.): a sexualidade infantil perversa e polimorfa elucidada por Freud.

A leitura que faremos abordará, em um primeiro momento, o lugar do corpo no envelhecimento, utilizando-se do conceito de apoio sistematizado por Laplanche para compreender a noção de reforço pulsional presente em Freud e suas relações com a alteridade, as mensagens sexuais e a passividade. Em seguida, aludiremos às relações entre corpo e tempo, finalizando com considerações sobre o luto e o narcisismo, apontando a pertinência desses conceitos como operadores teóricos para o estudo do envelhecer.

O corpo que envelhece

Em O Mal-estar na civilização, Freud (1996dFreud, S. (1996d). O mal-estar na civilização. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, p. 65-148, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1929)) fala do corpo, mais precisamente de sua fragilidade, como uma das três grandes fontes de sofrimento. Por sua vez, tal sofrimento do corpo se manifesta de diferentes maneiras ao longo da vida de cada indivíduo e da história da humanidade. Não apenas via mal-estar, mas de muitas formas durante a vida, o corpo está envolvido em processos potencialmente perturbadores. No curso do envelhecimento, e, principalmente, em sua fase mais avançada, as transformações do corpo servem de estímulo para revisitar as construções narcísicas já existentes.

Partiremos da tese de que as excitações provenientes do corpo libidinizado funcionam como uma fonte pulsional. Não apenas os estímulos biológicos, mas acima de tudo, e de forma misturada, as inscrições feitas pelo outro sobre o corpo. Nossa hipótese é que a permanente retomada das construções narcísicas que se impõe desde a primeira constituição egoica, e que se confunde com o trabalho de tradução/recalque (cf. Laplanche, 1992bLaplanche, J. (1992b). Novos fundamentos para a psicanálise (C. Berliner, Trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes . (Trabalho original publicado em 1987)), adquire na velhice caráter novo e específico, porém muito dependente das primeiras traduções das mensagens enigmáticas inerentes à situação de sedução originária, tal como proposta por Laplanche. Do ponto de vista clínico, é preciso considerar a pluralidade de modos através dos quais essa reabertura das traduções narcísicas pode se dar. Qual a relação da reabertura da situação originária na velhice com as traduções anteriores?

A verdade do reforço pulsional é a sedução6 6 Essa elaboração, apesar de conter alterações, retoma o que foi desenvolvido em Santos (2016).

Ao nos propormos a desenvolver uma leitura do envelhecimento tomando o sexual como ponto de partida, faz-se necessário pensar sobre as especificidades de sua apresentação na velhice. A partir disso, buscamos recuperar a noção de ‘reforço pulsional’ proposta por Freud (1996eFreud, S. (1996e). Análise terminável e interminável. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 23, p. 223-266, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1937)) em Análise terminável e interminável e já trabalhada por Mucida (2004Mucida, A. (2004). O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. Belo Horizonte, MG: Autêntica.) e Santos (2016Santos, M. A. D. (2016). Corpo feminino, sexualidade e envelhecimento: considerações psicanalíticas. In Anais do V Congresso Nacional de Psicanálise, Direito e Literatura: leituras interdisciplinares sobre violência de gênero - o remorso de Baltazar Serapião (169-176). Belo Horizonte, MG. ) acerca do envelhecimento. É importante ressaltar que nesse mesmo texto, sendo um dos poucos em que Freud faz alusão às questões próprias à velhice, encontramos uma de suas ideias mais criticáveis a respeito do tema, a saber: a suposição de que, no caso de pessoas muito idosas, exista “[...] um esgotamento da plasticidade, da capacidade de modificação e desenvolvimento ulterior [...]” (Freud, 1996e, p. 255) e de que “[...] todos os processos mentais, relacionamentos e distribuição de forças são imutáveis, fixos e rígidos [...]” (p. 255), explicando tais características como devidas “[...] ao que se descreve como força do hábito ou exaustão da receptividade - uma espécie de entropia psíquica” (p. 255-256). Comentaremos esse ponto adiante.

Freud lança a ideia de reforço pulsional como um incremento pulsional advindo diretamente dos processos fisiológicos de mudança do corpo ao longo do tempo. Freud assim o descreve:

Duas vezes no curso do desenvolvimento individual certos instintos [pulsões] são consideravelmente reforçados: na puberdade e, nas mulheres, na menopausa [...]. Os mesmos efeitos produzidos por esses dois reforços fisiológicos do instinto [pulsão] podem ser ocasionados, de uma maneira irregular, por causas acidentais em qualquer outro período da vida. Tais reforços podem ser estabelecidos por novos traumas, frustrações forçadas ou influência colateral e mútua dos instintos [pulsões] (Freud, 1996eFreud, S. (1996e). Análise terminável e interminável. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 23, p. 223-266, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1937), p. 239, grifo nosso).

Para o autor, o reforço pulsional está atrelado ao caráter fisiológico, por isso localiza sua ocorrência na puberdade e na menopausa, momentos nos quais a variação hormonal é bastante significativa. Porém, é possível deslocar sua causa a partir da pontuação feita ao final da citação: tais reforços podem se dar através de novos traumas. É o aspecto traumático que buscamos salientar ao propormos uma leitura do processo de envelhecimento ancorada no sexual.

No intuito de fazermos trabalhar a noção de reforço pulsional, utilizaremos o conceito de apoio que Laplanche (1989Laplanche, J. (1989). Problemáticas III: a sublimação (A. Cabral, Trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1980), 1997Laplanche, J. (1992a). Traumatisme, traduction, transfert. In Laplanche, J. (1992). La révolution copernicienne inachevée (p. 255-272). Paris, FR: Aubier. (Trabalho original publicado em 1984) ) sistematizou a partir de Freud, pelo fato de o envelhecimento incitar reflexões acerca das relações entre as funções de autoconservação e a sexualidade, ao salientar as aproximações entre o psíquico e o somático.

Mas o que é o apoio? Laplanche (1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993)) o define como “[...] linha de articulação [...]” (p. 15) entre os campos da autoconservação e da sexualidade. Linha esta que, segundo ele, “[...] substitui, sem dúvida de forma vantajosa, a linha de interação da alma e do corpo” (Laplanche, 1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993), p. 26-27). Segundo o autor, o apoio estaria na origem da sexualidade, mas não somente, já que, mais do que uma linha de emergência, é descrito como uma linha de articulação. Tal consideração nos é muito cara, pois nos auxilia a pensar as relações entre sexualidade, corpo e as mudanças vivenciadas no envelhecimento.

Nas origens, o apoio seria caracterizado pela emergência da sexualidade apoiada nas funções de autoconservação, obtendo seu estatuto de sexual a partir do desvio de tais funções, após a perda do objeto da autoconservação - seio ou substituto. A origem da sexualidade seria marcada, assim, por emergência e desvio; desvio este que se apresenta como um deslocamento, que não é, no entanto, um descolamento total. A linha de articulação se mantém, fazendo com que, após a emergência e a conseguinte tomada de distância, a sexualidade venha, através de uma retroação, recobrir e apoiar as funções de autoconservação, em um movimento que Laplanche (1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993)) denominou de função vicariante da sexualidade.

Ao sistematizar e reinterpretar o apoio, Laplanche (1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993)) buscou denunciar o biologismo freudiano, que propunha uma origem endógena para a pulsão, apontando, desse modo, que sua potência estaria no fato de a autoconservação implicar, necessariamente, a ação do outro. É essa ação do outro que veiculará, como um ruído, a sexualidade infantil e inconsciente do adulto sobre o corpo do infante:

É essa parte inconsciente da mensagem do outro, veiculada no próprio comportamento da ternura, nesses Zärtlichkeiten, que vem criar ali, no seu lugar de impacto sobre o corpo e o comportamento da criança, o ponto de partida do apoio - se quisermos conservar essa palavra (Laplanche, 1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993), p. 60).

A autoconservação não seria, assim, a fonte da pulsão, como Freud (1996eFreud, S. (1996e). Análise terminável e interminável. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 23, p. 223-266, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1937)) reitera na citação sobre o fundamento fisiológico do reforço pulsional. A verdadeira relação entre autoconservação e sexualidade, para Laplanche (1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993)), está fundamentada no caráter de abertura ao outro que a autoconservação possui, tendo em vista que ela não poderia se sustentar sozinha no bebê humano. É por essa abertura que os cuidados do adulto incidem sobre a criança, misturando ternura e mensagens enigmáticas (mensagens comprometidas pela sexualidade infantil inconsciente do adulto), o que caracteriza a situação de sedução originária.

Há ainda outro aspecto que se mostra pertinente para aplicação das elaborações acerca do apoio no entendimento do que ocorre na velhice, tendo em vista a importância dos processos e mudanças corporais próprios a essa fase: ao comentar a subdivisão da sexualidade em estádios, realizada por Abraham, Laplanche (1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993)) reconhece a importância de certas maturações fisiológicas. Contudo ressalta, e eis o ponto que nos interessa, que “[...] sua importância maior [...] é precisamente que elas polarizam a atenção do adulto: seus gestos, suas mensagens, suas fantasias” (p. 62). Não seria essa a importância maior do aspecto fisiológico e corporal também ao longo da vida, o fato de convocarem a atenção do outro, o olhar do outro, os seus cuidados? Na velhice, tal realidade é atualizada de forma incisiva, fazendo com que a importância do corpo e o que ocorre nele possa operar como abertura ao outro, o que se dá de modo particular, sobre o que discorreremos na seção seguinte.

Tendo apresentado brevemente a noção de apoio, propomos a seguinte interpretação, com o intuito de relacioná-la à ideia de reforço pulsional: o envelhecimento poderia ser concebido como uma vivência que, ao evidenciar as questões fisiológicas e corporais, possibilitaria o que Freud denominou de reforço pulsional, e que entendemos como uma tentativa, do lado da sexualidade, de responder aos abalos sofridos nas funções de autoconservação, através de um movimento de retroação; de um recobrimento.

Tal interpretação, apesar de reconhecer a importância do aspecto fisiológico no reforço pulsional, localiza essa importância no disparo da sexualidade e não no aumento biológico do que poderia ser considerada uma pulsão inata. Se a biologia não é causa ou destino, é preciso, no entanto, dar um destino a ela. Dessa forma, ao recuperar a noção de reforço pulsional em Freud, buscamos enfatizar o papel das vivências corporais próprias a essa fase e suas relações com a sexualidade: assim como nas origens, a sexualidade viria a recobrir essas modificações físicas, muitas vezes caracterizadas por perdas. Esse recobrimento, por sua vez, pode se apresentar como um aumento libidinal, um excesso pulsional.

Os destinos mais organizadores ou mais desorganizadores dessa retroação do sexual sobre o campo autoconservativo seriam determinados, respectivamente, pelo aspecto narcísico e ligante, observado na função vicariante da sexualidade, ou, ao contrário, no aspecto desligante e atacante da pulsão sexual de morte, observada na vertente mais próxima da sedução e das mensagens enigmáticas.

Contudo, se não é no organismo biológico que encontramos a explicação para o reforço pulsional ou o apoio, onde podemos encontrá-la? “A sedução é a verdade do apoio” (Laplanche, 2015bLaplanche, J. (2015b). Sexualidade e apego na metapsicologia. In J. Laplanche, Sexual: a sexualidade ampliada no sentido freudiano 2000-2006 (p. 44-65, V. Dresch, M. Marques, Trad.). Porto Alegre, RS: Dublinense. (Trabalho original publicado em 1970), p. 61): é a partir dessa afirmativa que o caráter traumático pode ser trazido à cena nas reflexões acerca do envelhecimento. Se a sedução é a verdade do apoio, propomos que também o seja do reforço pulsional. É na relação com o enigma do outro que localizamos a realidade do reforço pulsional; relação que defendemos ser significativa nessa fase, podendo caracterizar a experiência do envelhecimento como uma ‘reabertura da situação originária’. É por remeter aos tempos originários da sedução que o envelhecimento se mostra tão difícil de assimilar.

Se a noção de reforço pulsional traz, em si, a ideia de um aumento de libido, é necessário que possamos compreender essa ideia, e não apenas em seu sentido quantitativo. Para isso, seguimos a indicação de Freud (1996bFreud, S. (1996b). Tipos de desencadeamento da neurose. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 12, p. 247-255, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1912)) no texto Tipos de desencadeamento da neurose, no qual aborda essa questão, relacionando-a novamente à menopausa.

Podemos supor que não se trata de uma quantidade absoluta, mas de relação entre a cota de libido em operação e a quantidade de libido com que o ego [Eu] individual é capaz de lidar - isto é, de manter sob tensão, sublimar ou empregar diretamente (Freud, 1996bFreud, S. (1996b). Tipos de desencadeamento da neurose. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 12, p. 247-255, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1912), p. 254, grifo do autor).

Fica evidente, na citação, que se trata de uma relação. Essa interpretação coloca em jogo não somente um aumento quantitativo, mas indica que as consequências psíquicas desse aumento seriam determinadas a partir da consideração do outro polo: o Eu. O que Freud (1996bFreud, S. (1996b). Tipos de desencadeamento da neurose. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 12, p. 247-255, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1912)) propõe nessa citação, assim como em Análise terminável e interminável (Freud, 1996eFreud, S. (2010). Transitoriedade. In S. Freud. Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12, p. 186-190, P. C. Souza, Trad.). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1917)), é que devemos levar em consideração tanto a força das pulsões e seu ataque interno quanto a capacidade do Eu de lidar com esse ataque, seja mantendo-o sob tensão, sublimando-o ou descarregando-o diretamente.

Propomos que esse aumento libidinal seja interpretado, tal como Laplanche (1988Laplanche, J. (1988). A pulsão e seu objeto-fonte: seu destino na transferência. In Laplanche, J. Teoria da sedução generalizada e outros ensaios (p. 72-83, D. Vasconcellos, Trad.). Porto Alegre, RS: Artes Médicas.) lê o aspecto econômico da pulsão, como exigência pulsional, ou seja, exigência de trabalho imposta ao psiquismo. Todavia, como situar essa exigência e de que modo ela é provocada? Se o aspecto fisiológico não é suficiente para explicar toda essa movimentação psíquica no envelhecimento, é preciso situar sua causa em outro lugar.

Um abalo no organismo, vindo de outro lugar e não do funcionamento autoconservador, pode fazer surgir a excitação sexual. A fonte se torna abalo exógeno, implantação de um corpo estranho. A questão da origem tende repentinamente a se inverter nessa generalização, se não há endógeno, finalmente, que não comporte um exógeno implantado (Laplanche, 1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993), p. 48, grifo do autor).

Para tanto, buscaremos entender quais as relações singulares da velhice com a alteridade.

Corpo e alteridade

Se discutimos até aqui o caráter de ataque pulsional, de alteridade interna, é preciso localizar as origens desse ataque. Se a sedução é a verdade do apoio e, como propomos, do reforço pulsional (Santos, 2016Santos, M. A. D. (2016). Corpo feminino, sexualidade e envelhecimento: considerações psicanalíticas. In Anais do V Congresso Nacional de Psicanálise, Direito e Literatura: leituras interdisciplinares sobre violência de gênero - o remorso de Baltazar Serapião (169-176). Belo Horizonte, MG. ), é preciso entender de que modo a alteridade (interna e externa) se apresenta nessa fase, já que é disso que se trata a sedução: uma relação específica com a alteridade.

Não é raro encontrar nos estudos sobre velhice a descrição de estranhamento, de surpresa e de não reconhecimento de si no processo de apreensão da velhice; ideia que fica evidente na obra escrita por Simone de Beauvoir (1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970)). Reconhecer as relações entre velhice e alteridade se mostra pertinente do ponto de vista metapsicológico, que tem sido nosso foco no presente estudo, mas tem também interesse pela consideração de seus efeitos sociais: “Antes que se abata sobre nós, a velhice é uma coisa que só concerne aos outros. Assim, pode-se compreender que a sociedade consiga impedir-nos de ver nos velhos nossos semelhantes” (Beauvoir, 1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970), p. 10).

Uma afirmativa como essa nos remete à importante contribuição feita por Laplanche (1993Laplanche, J. (1993). Da transferência: sua provocação pelo analista. Percurso, 1(10), 73-83, Recuperado de http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p10_texto12.pdf
http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p...
), em nota, em seu texto Da transferência: sua provocação pelo analista, quando alude às maneiras pelas quais a criança, mas também o adulto, lida com a alteridade do outro, isso é, “[...] o enigma sexual, provocador, traumatizante, do adulto” (p. 80). Tal enigma é marcado por uma verdadeira “[...] estrangeiridade [...]” (Laplanche, 1997aLaplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993), p. 139) e as tentativas de controlá-lo e traduzi-lo seriam caracterizadas por um duplo fechamento: aquele encontrado em toda forma de tradução e um outro, mais radical, descrito como “[...] fechamento por confinamento, por recalcamento do resíduo anamórfico das mensagens, isto é, daquilo que resistiu à simbolização” (Laplanche, 1993Laplanche, J. (1993). Da transferência: sua provocação pelo analista. Percurso, 1(10), 73-83, Recuperado de http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p10_texto12.pdf
http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p...
, p. 81). E aqui ele indica uma nota, que reproduzimos na íntegra:

Face à alteridade do outro, os métodos de defesa são invariavelmente os mesmos: tentativa de assimilação, negação da diferença, segregação, destruição. Nós os encontramos, evidentemente, nas atitudes em relação às diferenças culturais e étnicas. Mas o que falta a todas as análises do ‘racismo’ é levar em consideração a clivagem interna inerente ao outro em si mesmo: é esta alteridade interna que está na raiz da angústia face à alteridade externa; é ela que procuramos reduzir, a qualquer preço (Laplanche, 1993Laplanche, J. (1993). Da transferência: sua provocação pelo analista. Percurso, 1(10), 73-83, Recuperado de http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p10_texto12.pdf
http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p...
, p. 83, n16, grifo nosso).

Seria possível pensar, juntamente com as diferenças culturais e étnicas, em diferenças etárias e geracionais, situando a velhice como uma das categorias marcadas por essa alteridade diante da qual, frequentemente, lançamos mão das defesas descritas por Laplanche, principalmente as que envolvem segregação e destruição? Seria essa uma possível explicação para o que Beauvoir (1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970)) denominou de conspiração de silêncio em torno da velhice? Consideramos importante trazer essa hipótese para a discussão, pois nela parecemos encontrar uma explicação pertinente para a dificuldade que todos sentimos com relação à velhice, sendo ou não velhos: é a seu caráter alteritário que resistimos.

E para as velhas e os velhos, de que modo a alteridade se faz presente? Mucida (2004Mucida, A. (2004). O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. Belo Horizonte, MG: Autêntica.), em consonância com outros autores que estudam o envelhecimento, diz: “[...] velho é sempre o outro no qual não nos reconhecemos” (p. 102). É a partir de um desencontro que a percepção da velhice se dá: “A velhice é, então, sentida - mesmo sem acidente patológico - como uma espécie de doença mental em que se conhece a angústia de se escapar a si mesmo” (Beauvoir, 1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970), p. 387). Contudo, tal percepção não é suficiente para se reconhecer velho, assim como os sinais do corpo, em si, também não o são.

[...] temos que viver essa velhice que somos incapazes de realizar. E em primeiro lugar, vivemo-la no nosso corpo. Não é ele que nos vai revelá-la; mas, uma vez que sabemos que a velhice o habita, o corpo nos inquieta (Beauvoir, 1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970), p. 369).

Fonte de inquietação desde o momento do nascimento, o corpo é aquilo que não deixa o velho esquecer de sua condição. Mas se não é ele que a revela, o que o faz? “É normal, uma vez que em nós é o outro que é velho, que a revelação de nossa idade venha dos outros” (Beauvoir, 1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970), p. 353). É do outro que vem o reconhecimento da velhice, inclusive o outro do espelho. É o encontro com o enigma do outro e suas mensagens comprometidas pela sexualidade inconsciente que possui a verdadeira capacidade de produzir inquietações corporais que podem se apresentar como ataque pulsional.

As relações entre corpo e alteridade estão presentes desde as origens, pois é sobre o corpo que o outro deixará suas primeiras marcas. Sobre o corpo do bebê, em vias de se tornar unificado e reconhecido como próprio, o adulto inoculará a sua sexualidade inconsciente, produzindo o que adiante se tornará o objeto-fonte da pulsão, nossa alteridade interna. Sendo assim, parece plausível dizer, a partir das considerações feitas por Beauvoir (1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970)), que a velhice atualiza algo da situação originária, na medida em que é o outro que revela, sempre de forma enigmática, algo que passa a inquietar de dentro, sobretudo a partir do corpo. Esse caráter estrangeiro da velhice é o que faz dela um processo tão difícil de elaborar para tantas pessoas: “[...] devemos assumir uma realidade que é, indubitavelmente, nós mesmos, embora nos atinja do exterior e nos permaneça inapreensível” (Beauvoir, 1990, p. 356).

Todas essas elaborações nos permitem dizer, então, que o corpo se apresenta como o ‘grande depositário de enigmas’ que urgem por tradução; e, na velhice, por novas traduções. É como se muitas das traduções realizadas ao longo da vida não coubessem àquele corpo que já não se reconhece mais. Assim, o corpo parece veicular, ao mesmo tempo, a necessidade de tradução e a possibilidade desta, pois, muitas vezes, é através do corpo que algo da velhice pode ser apreendido e elaborado, na medida em que impõe uma exigência de trabalho à vida psíquica. Porém, se o corpo pode incitar ou veicular novas traduções, também se mostra como local privilegiado para o aparecimento daquilo que não pôde ser traduzido.

Passividade reencontrada

A velhice traz de volta o desamparo em seu sentido mais radical: aquele do Eu diante do pulsional. Queremos salientar a presença da passividade no mal-estar produzido pelo corpo envelhecido, mas não apenas por seus sinais comportamentais, haja vista o que nos ensina Laplanche: “A passividade, a atividade não se definem pela iniciativa do gesto, nem pela penetração ou por qualquer elemento comportamental. A passividade está totalmente (est toute entière) na inadequação a simbolizar o que sobrevive em nós da parte do outro” (Laplanche, 1992a, p. 263). Se dizemos que o reconhecimento da velhice se dá por meio de um desencontro, podemos compreender, a partir da citação, que este é determinado pelo ‘reencontro’ com traumático primordial do encontro com o outro. O que se reencontra na velhice é algo da inadequação a simbolizar.

O intraduzível, o recalcado que se depositará em cada sistema posterior [Laplanche cita a carta 52 e o aparelho psíquico concebido como uma sucessão de sistemas], é apenas o eco, o resíduo, deste intraduzível interno à própria mensagem. É a transcendência da situação originária - esta relação da criança a um adulto que significa que ele não sabe - que será traduzido, transportado, transferido com mais ou menos restos, mas nunca reduzido (Laplanche, 1992a, p. 269, grifo do autor, comentários entre colchetes são nossos).

Transcendência da situação originária, portanto: a todo momento estamos diante do enigma. Na velhice, o sujeito terá que se haver com o enigma do corpo. Não dizemos o enigma do próprio corpo, ou seja, os enigmas depositados no corpo por parte do outro. Ora, quais sinais são emitidos ao sujeito na velhice? O que os padrões de envelhecimento trazem de volta ao sujeito?

Desejar ser adulto, por parte da criança, tem muito a ver com ter um corpo de adulto e as qualidades que a criança ainda não tem: a força, a altura, a destreza. Um corpo que tem acesso (sexual inclusive) aos outros corpos; que possui todos os marcadores de que já não se é mais dependente de alguém. O desejo de ser velho, no entanto, parece ir contra esse narcisismo infantil atrelado à onipotência. Os ideais relacionados à velhice - a sabedoria e a paciência, por exemplo - parecem não ser suficientes para fazer desse estado um objeto de desejo tão forte quanto foi a adultez. Inclusive, muitas vezes, tais ideais se colocam do lado da tentativa de silenciar a sexualidade de velhas e velhos. É importante ter cautela ao lidarmos com discursos como esse. Uma idealização demasiada ou uma desvalorização são, ambas, lados de uma mesma moeda, e, como pontua Beauvoir (1990Beauvoir, S. (1990). A velhice (M. H. F. Martins, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira. (Trabalho original publicado em 1970)), servem como instrumento de exclusão social e, mais radicalmente, de desumanização: “De qualquer maneira, por sua virtude ou por sua abjeção, os velhos situam-se fora da humanidade. Pode-se, portanto, sem escrúpulo, recusar-lhes o mínimo julgado necessário para levar uma vida de homem [ou de mulher]” (p. 10).

Velhas e velhos encontrariam, assim, uma dupla passividade: de um lado, estaria a passividade diante do discurso dominante, que tende a silenciá-los e desumanizá-los através das alegações de perda da capacidade produtiva e reprodutiva; de outro, a passividade diante da alteridade interna, e que encontra menos recursos nos discursos sociais para auxiliar nas traduções, favorecendo o ataque interno (Santos, 2016Santos, M. A. D. (2016). Corpo feminino, sexualidade e envelhecimento: considerações psicanalíticas. In Anais do V Congresso Nacional de Psicanálise, Direito e Literatura: leituras interdisciplinares sobre violência de gênero - o remorso de Baltazar Serapião (169-176). Belo Horizonte, MG. ).

O corpo e o tempo

Laplanche (1992cLaplanche, J. (1992c). Temporalité et traduction. In J. Laplanche. La révolution copernicienne inachevée (p. 317-335). Paris, FR: Aubier . (Trabalho original publicado em 1989) ) diferencia quatro dimensões do tempo para o ser humano: (1) o tempo considerado em seu nível cosmológico, ditado pelo ritmo da rotação/translação do planeta e suas consequências; (2) a temporalidade imediata animal, que trata da percepção rítmica das coisas; (3) a temporalização, isto é, o modo através do qual o existente-humano situa-se no tempo; (4) a historicidade que tem a ver com a humanidade como um todo.

O que nos interessa dessa diferenciação proposta por Laplanche é mostrar que a passagem do tempo no humano não está imune ao pulsional. Mesmo que os tempos (1) e (2) variem muito pouco, o que importa é o efeito que o tempo (3) faz sobre os dois primeiros, que sentimos como vivência mesma do tempo.

Nosso corpo é um marcador do tempo. Seu crescimento é bastante padronizado, o que gera muitas balizas identificatórias. As fases da vida são claramente articuladas a essas mudanças que se inscrevem no corpo. Não hesitamos em colocar esse tempo do corpo entre os campos (1) e (2) propostos por Laplanche. No entanto, é a partir da capacidade psíquica de apreender o tempo - o campo (3) - que tais percepções serão traduzidas. Para se compreender isso, pensemos nessa proposta de Laplanche:

Resta para nós interpretar esta sequência: presente -> passado -> futuro à luz de uma teoria tradutiva-destradutiva da existência humana, e rearticular (rattacher) esse movimento, gerador da própria diacronia, a esse motor sincrônico que é a situação originária da sedução (Laplanche, 1992cLaplanche, J. (1992c). Temporalité et traduction. In J. Laplanche. La révolution copernicienne inachevée (p. 317-335). Paris, FR: Aubier . (Trabalho original publicado em 1989) , p. 334).

O que o autor está propondo é que nossa condição humana nos impõe uma articulação entre nosso modo de funcionamento psíquico e a percepção do tempo, que seria externo a nós mesmos. Nossa condição inicial é a do bebê que não possui os elementos necessários para traduzir o que lhe sucede. Isso o condena à temporalidade do a posteriori. Sempre deveremos retomar o que nos sucedeu para dar sentido ‘só depois’ que vivenciamos tais experiências.

As primeiras traduções das mensagens provenientes do outro, o que irá constituir o recalcamento originário, é a proto-temporalização do ser humano: “[...] uma maneira de se auto-teorizar [...] de entrar no tempo por meio da tradução, que é por sua vez um se-colocar-adiante e um deixar-para-trás” (Laplanche, 1992aLaplanche, J. (1992a). Traumatisme, traduction, transfert. In Laplanche, J. (1992). La révolution copernicienne inachevée (p. 255-272). Paris, FR: Aubier. (Trabalho original publicado em 1984) , p. 333). As traduções das mensagens enigmáticas se articulam sempre com o próprio sujeito e sua temporalidade. Poderíamos dizer que é impossível interpretar o mundo sem se colocar nele, sem situar no tempo do mundo que interpretamos.

Pensemos no tempo (4), o tempo da história compartilhada por todos, como uma fonte de mensagens que fornecem vias facilitadas para tradução do que nos sucede. As muitas narrativas sobre a velhice, o dito e o não dito, os códigos que norteiam o envelhecer: tudo isso pode servir, para o bem e/ou para o mal, para que o sujeito encontre vias de tradução para o corpo que envelhece. Nesse momento posterior da tradução, as traduções anteriores são chamadas à baila. E é justamente neste ponto que encontramos a possiblidade do conflito: quando as traduções narcísicas até então feitas não se coadunam com as traduções exigidas pelo corpo que envelhece. Aqui se torna mais clara a proposição de Freud (1996bFreud, S. (1996b). Tipos de desencadeamento da neurose. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 12, p. 247-255, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1912)) sobre o aumento de libido ser interpretado como relação entre a exigência pulsional e a capacidade do Eu de lidar com tal exigência, a partir do modelo tradutivo proposto por Laplanche. As diferenças que aparecem na clínica - o envelhecimento tranquilo e o angustiado - demonstram que não se trata apenas do atual como fonte de angústia. O encontro com o corpo que envelhece é, de fato, um reencontro com o sexual que ataca o Eu, reencontro com algo do desamparo infantil.

Luto de si mesmo e narcisismo

O que foi discutido até aqui nos leva à importância de considerar o trabalho de luto como um processo importante na velhice. Para pensar algumas de suas especificidades nesse momento da vida, citamos Freud:

Sabemos que o luto, por mais doloroso que seja, acaba naturalmente. Tendo renunciado a tudo que perdeu, ele terá consumido também a si mesmo, e nossa libido estará novamente livre - se ainda somos jovens e vigorosos - para substituir os objetos perdidos por outros novos, possivelmente tão ou mais preciosos que aqueles. [...] Superado o luto, [...]. Reconstruiremos tudo o que a guerra destruiu, e talvez em terreno mais firme e de modo mais duradouro do que antes (Freud, 2010Freud, S. (2010). Transitoriedade. In S. Freud. Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 12, p. 186-190, P. C. Souza, Trad.). São Paulo, SP: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1917), p. 188-189, grifo nosso).

É possível derivar isso que Freud diz sobre os devastadores efeitos da guerra para os efeitos - não menos mortíferos - da velhice. A observação salientada por nós, a de que o sujeito poderá substituir os objetos perdidos por outros, caso seja jovem e vigoroso, traz um problema para essa derivação. O corpo que envelhece impõe, necessariamente, um processo de luto. Sendo assim, a capacidade psíquica será testada ao máximo exatamente em seu poder de reconstruir algo ali onde a maior parte da cultura tem reafirmado o fim.

Laplanche (1992dLaplanche, J. (1992d). Le temps et l’autre. In J. Laplanche (1992). La révolution copernicienne inachevée (p. 359-384). Paris, FR: Aubier . (Trabalho original publicado em 1990)) articula fortemente o processo analítico e o luto. Ambos, segundo o autor, fazem um trabalho de desligamento da libido e seus objetos. Isso vale para o próprio Eu, tomado como objeto de investimento libidinal. É preciso, aos poucos, desligar-se das representações que sustentavam o tecido narcísico. Destecê-las é sempre um processo angustiante: como reconstruir um Eu diante da iminência do fim?

Para Laplanche (1993Laplanche, J. (1993). Da transferência: sua provocação pelo analista. Percurso, 1(10), 73-83, Recuperado de http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p10_texto12.pdf
http://revistapercurso.uol.com.br/pdfs/p...
, p. 81), “[...] não há nova tradução sem que se repasse primeiro pelas traduções antigas, para destraduzi-las em proveito de uma nova tradução”. Esse movimento de desconstrução que abra espaço para outras possíveis traduções, se apresenta de forma radical no envelhecimento e reitera a hipótese de uma reabertura da situação originária, que temos defendido ao longo desse artigo. A grande questão que se apresenta, então, é que tipos de fechamentos podem ser realizados na elaboração do processo de envelhecimento e das questões a que ele remete - perdas físicas, afetivas, do lugar social, da imagem conhecida, a aproximação da própria morte e dos entes queridos, além de outros tantos fatores a que velhas e velhos se veem submetidos?

Como encontrar traduções mais permeáveis à alteridade externa e à interna? Como acolher o estrangeiro em si, sem que seja preciso negar sua diferença, confiná-lo ou tentar destruí-lo? Esse é o trabalho de análise e também o trabalho de vida. Se o tempo já não é o mesmo do que foi na juventude, isso não deve significar, tão rapidamente, que não há tempo. Esse é, inclusive, um dos preconceitos que servem para justificar a não entrada em análise por parte de pessoas idosas: resta pouco tempo para realizar as mudanças necessárias. Se encontramos rigidez e inflexibilidade em alguns idosos, não podemos fazer como Freud (1996eFreud, S. (1996e). Análise terminável e interminável. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 23, p. 223-266, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1937)) e naturalizar como única experiência. Manter velhas e velhos no mesmo lugar, fixos, parece ter motivações sociais e também inconscientes muito precisas: é como se seu caráter alteritário, que tanto assusta, pudesse ficar localizado, controlado, estático. Não é a morte de indivíduos envelhecidos que mais assusta, mas sua capacidade de viver; inclusive, e principalmente, a sexualidade. Nesse sentido, concordamos com Mucida (2004Mucida, A. (2004). O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. Belo Horizonte, MG: Autêntica.) quando diz que a velhice incomoda porque desacomoda. Ela destraduz, descentra, reabre e nos confronta com o estrangeiro que tentamos sempre manter confinado e excluído.

Ora, não é possível, tampouco prudente, abordar todas essas questões sem levar em consideração o narcisismo. Afinal de contas, é em relação ao Eu que os ataques internos se direcionam, enquanto, por outro lado, a sua constituição como instância psíquica se dá justamente para conter essa sexualidade disruptiva: “As fronteiras do Eu são, antes de mais nada, fronteiras voltadas para o interior” (Carvalho, 2003Carvalho, M. T. M. (2003). As fronteiras do Eu na psicose - o trabalho pioneiro de Paul Federn. Psicologia em Revista, 9(13), 43-58., p. 47).

O narcisismo pode ser entendido como investimento libidinal no Eu. Através desse investimento, o Eu pode ganhar contornos e unidade, e, então, se incumbir da tarefa de tentar fazer frente à força das pulsões que o atacam constantemente. Dessa forma, o Eu pode ser entendido como o “[...] dispositivo que introduz um processo de ligação na circulação da energia libidinal, impedindo-a de escoar-se livremente” (Carvalho, 2003Carvalho, M. T. M. (2003). As fronteiras do Eu na psicose - o trabalho pioneiro de Paul Federn. Psicologia em Revista, 9(13), 43-58., p. 47). Sabemos, contudo, que tal ataque se apresenta como ameaça constante e incessante de romper tais barreiras: “Assim, até mesmo o sentimento de nosso próprio ego [Eu] está sujeito a distúrbios, e as fronteiras do ego [Eu] não são permanentes” (Freud, 1996dFreud, S. (1996d). O mal-estar na civilização. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 21, p. 65-148, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1929), p. 75).

Até aqui, nossas elaborações acerca do envelhecimento gravitaram em torno da concepção de uma exigência pulsional que, muitas vezes, apresenta-se ao sujeito como puro excesso, encontrando dificuldades ou até mesmo impossibilidade de ser simbolizada; exigência que se mostrou ligada tanto às mudanças corporais quanto ao modo peculiar de apresentação da alteridade e interpelação ao enigma sexual do outro, fazendo com que a alteridade seja sentida de maneira esmagadora, no mais profundo sentimento de estrangeiridade. De outro lado, a presença de feridas narcísicas ligadas às mudanças da imagem e do funcionamento do corpo, o lugar social do idoso e as sucessivas destraduções inevitáveis provocadas por todos esses fatores. Se aliarmos tais aspectos às questões socioeconômicas e de saúde física, não é difícil reconhecer a situação de fragilidade psíquica a que muitos velhos e velhas podem estar submetidos. Isso nos conduz à pertinência clínica de todas as construções teóricas aqui descritas: não é só em relação ao corpo físico dos indivíduos envelhecidos que devem ser direcionados os cuidados. As fragilidades emocionais e psíquicas influenciam sobremaneira a forma como cada um pode cuidar das possíveis doenças físicas que advém com a idade. Não são incomuns os casos de psicoses tardias, depressões e demais variações de adoecimento psíquico que surgem de maneira mais aparente e significativa nesse momento da vida.

É evidente que há diferentes formas de lidar com esses comprometimentos e feridas narcísicas no envelhecimento. Fatores da história individual e também sociais determinam de maneira significativa o grau de intensidade desses possíveis comprometimentos, ou, como apontou Freud (1996eFreud, S. (1996e). Análise terminável e interminável. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 23, p. 223-266, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1937)) em Análise terminável e interminável, dessas alterações do Eu. Assim como a força do trauma e das pulsões, as alterações do Eu devem entrar na equação para pensarmos não só os limites da análise, mas também possibilidades de enfrentamento dos sujeitos em cada circunstância de sua vida.

Considerações finais

Se acabamos por organizar o texto abordando o corpo como abertura ao outro e seu lugar privilegiado para a implantação de mensagens enigmáticas e o ataque pulsional, para em seguida tratar das relações da velhice com a alteridade e o tempo, finalizando com o luto e o narcisismo, não é sem razão. Tal movimento parece aludir a algo do próprio objeto a que nos propomos estudar. Algo que ocorre no corpo só pode ser apreendido a partir da relação com o outro - externo e interno. Isso ocorre menos por uma compreensão e assimilação do que por uma reabertura que provoca, no entanto, destraduções; por uma confrontação com o enigma do outro e com aquele que também nos habita.

Escolher falar sobre o narcisismo ao final repete o movimento que precisamos realizar em nossa constituição, tal como indica Laplanche (1997Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar. (Trabalho original publicado em 1993)a): diante de uma abertura, precisamos fazer um fechamento. Contudo, a velhice nos convoca, assim como a análise, a pensar em outras soluções: sustentar o enigma, encontrar traduções, que são, sim, fechamentos, porém menos rígidos, fixos. Abrir-se ao outro; ao outro em si. A esse estrangeiro interno, acolhê-lo em sua estrangeiridade: “[...] assim, é através de um esforço sempre renovado, por uma espécie de conversão incessante, que precisamos tentar nos pensar como não sendo nós mesmos, nosso próprio centro” (Laplanche, 1997aLaplanche, J. (1997a) A teoria da sedução e o problema do outro. Livro Anual de Psicanálise, 11(1), p. 139-151., p. 147). Aceitar que se é outro parece estar ligado às elaborações possíveis da velhice. Não há aqui uma semelhança importante com o trabalho de análise?

Essa semelhança nos faz interrogar sobre uma tradição, inclusive presente em Freud (1996aFreud, S. (1996a). Sobre a psicoterapia. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 7, p. 245-260. J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago. (Trabalho original publicado em 1905), 1996eFreud, S. (1996b). Tipos de desencadeamento da neurose. In S. Freud, Edição standard das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 12, p. 247-255, J. Salomão, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Imago . (Trabalho original publicado em 1912)), de contraindicar pessoas idosas para análise, ou mesmo subestimá-los quanto às capacidades de elaboração, seja por considerar rigidez de hábitos e caráter ou mesmo por julgar terem pouco tempo e energia para realizar as mudanças necessárias.

É preciso interrogar, para além do objeto, o que estaria por trás deste preconceito. Será isso motivado apenas por características próprias à velhice ou seria ela uma dificuldade da psicanálise? Tal dificuldade deve ser ultrapassada: é preciso nos colocar a trabalho e fazer trabalhar a teoria para compreender os motivos pelos quais a psicanálise colaborou com o silenciamento da velhice em sua teoria e sua prática. Silêncio que vem sendo quebrado timidamente, mas que já produz seus efeitos. Trabalhos como os Bianchi (1993Bianchi, H. (1993). O eu e o tempo: psicanálise do tempo e do envelhecimento. (J. M. J. Briant, Trad.). São Paulo: Casa do Psicólogo. (Trabalho original publicado em 1987)), Messy (1999Messy, J. (1999). A pessoa idosa não existe: uma abordagem psicanalítica da velhice. (J. S. M. Werneck, Trad.). São Paulo, SP: Aleph. (Trabalho original publicado em 1992)), Barbieri (2003Barbieri, N. (2003). Trabalho com velhos: algumas reflexões iniciais. Pulsional: Revista de Psicanálise, 16(173), 18-24.), Mucida (2004Mucida, A. (2004). O sujeito não envelhece: psicanálise e velhice. Belo Horizonte, MG: Autêntica., 2009, 2014), Kamkhagi (2008Kamkhagi, D. (2008). Psicanálise e velhice - sobre a clínica do envelhecer. São Paulo, SP: Via Lettera.), Genaro Junior (2013Genaro Junior, F. (2013). Clínica do envelhecimento: concepções e casos clínicos. São Paulo, SP: Todas as Musas.), Vilhena, Novaes e Rosa (2014Vilhena, J., Novaes, J. V., & Rosa, C. M. (2014, Junho). A sombra de um corpo que se anuncia: corpo, imagem e envelhecimento. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 17(2), 251-264.), Cherix (2015Cherix, K. (2015). Corpo e envelhecimento: uma perspectiva psicanalítica. Revista da SBPH, 18(1), 39-51.) e este artigo são apenas alguns dos exemplos desse movimento ainda discreto, mas de fundamental importância. Uma importância que tentamos demonstrar ao longo deste artigo, ao apontarmos para os profundos efeitos sobre a dinâmica psíquica de velhas e velhos, demandando destes um intenso trabalho de luto e de re-tradução, para que lhes seja possível atravessar a experiência do envelhecer sem sucumbirem ao adoecimento psíquico. Indicações que nos permitem, inclusive, olhar para os padecimentos do corpo não apenas como condições naturalizadas, mas como possíveis respostas à exigência pulsional, que pode se intensificar nesse momento marcado por destraduções significativas. Por isso, se fazem urgentes e pertinentes mais pesquisas sobre o tema. Pesquisas que respeitem as pluralidades e singularidades dessa experiência, para que possamos trazer à tona esse habitante do silêncio tão estrangeiro, apesar de conhecido, que é a velhice.

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  • 4
    Agradecemos ao Prof. Paulo de Carvalho Ribeiro, pela leitura interessada e importantes contribuições para o desenvolvimento de algumas ideias presentes neste texto.
  • 5
    Utilizaremos a palavra sexual sempre com inicial minúscula, apesar do uso em maiúscula na edição que utilizamos, para nos referirmos ao neologismo ‘sexual’, forjado por Jean Laplanche.
  • 6
    Essa elaboração, apesar de conter alterações, retoma o que foi desenvolvido em Santos (2016).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Jul 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    06 Set 2018
  • Aceito
    05 Jul 2019
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