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A “escola de São Paulo” de psicologia social: apontamentos históricos

The social psychology school “escola de São Paulo”: historical notes

La “escola de São Paulo” de psicología social: apuntes históricos

Resumos

Tendo surgido como resposta à chamada “crise da psicologia social”, a “Escola de São Paulo” de psicologia social colocou como leitmotiv de suas práticas a transformação social. Tal posição, hoje comum na psicologia social, nem sempre foi tão explícita e é produto e síntese de uma série de rupturas e superações. Esta revisão de literatura tem por objetivo reunir um conjunto de produções teórico-bibliográficas a respeito do surgimento e desenvolvimento da “Escola de São Paulo” de psicologia social. Para tanto, foram analisados três momentos de seu desenvolvimento: inicialmente, são caracterizadas as perspectivas norte-americana e europeia de psicologia social, que marcaram a produção da área no Brasil até o fim dos anos 70; em seguida, é apresentado o que se convencionou chamar “crise da psicologia social”; e, por fim, expõe-se a proposta de superação da “crise” que emergiu na América Latina e tem como seu representante no Brasil a chamada “Escola de São Paulo”.

História recente da psicologia social; “Escola de São Paulo” de psicologia social; revisão bibliográfica


As a response to the so-called “crisis of Social Psychology”, the Social Psychology School “Escola de São Paulo” makes social makeover issue emerges as a leitmotiv for its practice. However, a so clear stand was not a pattern ever since, as it can be observed in Social Psychology nowadays; it is a product and a synthesis of several breakaways and overcomes. Thus, the purpose of reviewing this literature is to assemble a set of theoretical productions about the outbreaks and the development of the Social Psychology School “Escola de São Paulo”. To do so, three moments of its development have been chosen: the North American and European approaches in Social Psychology which highlighted the Brazilian production on this realm up to the 1970’s; then, the traditional view of “crisis of Social Psychology” is introduced; at the end, a makeover proposition to such “crisis” - that emerges in Latin America - is hereby exposed, whose Brazilian wing is the Social Psychology School “Escola de São Paulo”.

Contemporary history of social psychology; social psychology school “Escola de São Paulo”; literature review


Originada como respuesta a la llamada "crisis de la psicología social", la "Escola de São Paulo" de psicología social puso la transformación social como leitmotiv de sus prácticas. Tal posición es común hoy en la psicología social, pero no siempre fue tan explícita; es resultado y síntesis de una variedad de rupturas y superaciones. Esta revisión de literatura tiene el objetivo de reunir a un cuerpo de producciones teóricas acerca del surgimiento y desarrollo de la "Escola de São Paulo" de psicología social. Para ello, se conciben tres momentos de su desarrollo: inicialmente, se caracterizan las perspectivas estadounidense y europea de la psicología social, que marcaron la producción sobre la disciplina en Brasil hasta fines de los años 70; en seguida, se presenta lo que por convención se llamó "crisis de la psicología social"; y, por fin, se expone la propuesta de superación de la crisis que emergió en Latinoamérica, cuya representante en Brasil es la llamada "Escola de São Paulo".

Historia reciente de la psicología social; “Escola de São Paulo” de psicología social; revisión de literatura


ARTIGOS

A "escola de São Paulo" de psicologia social: apontamentos históricos

The social psychology school "escola de São Paulo": historical notes

La "escola de São Paulo" de psicología social: apuntes históricos

Bruno Peixoto CarvalhoI; Terezinha Martins dos Santos SouzaII

I Doutorando em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

II Doutora em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e Professora Adjunta do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Bruno Peixoto Carvalho, Largo do Arouche, 109, n. 305, CEP 01219-011, São Paulo-SP, Brasil. E-mail: pcarvalhobruno@gmail.com

RESUMO

Tendo surgido como resposta à chamada "crise da psicologia social", a "Escola de São Paulo" de psicologia social colocou como leitmotiv de suas práticas a transformação social. Tal posição, hoje comum na psicologia social, nem sempre foi tão explícita e é produto e síntese de uma série de rupturas e superações. Esta revisão de literatura tem por objetivo reunir um conjunto de produções teórico-bibliográficas a respeito do surgimento e desenvolvimento da "Escola de São Paulo" de psicologia social. Para tanto, foram analisados três momentos de seu desenvolvimento: inicialmente, são caracterizadas as perspectivas norte-americana e europeia de psicologia social, que marcaram a produção da área no Brasil até o fim dos anos 70; em seguida, é apresentado o que se convencionou chamar "crise da psicologia social"; e, por fim, expõe-se a proposta de superação da "crise" que emergiu na América Latina e tem como seu representante no Brasil a chamada "Escola de São Paulo".

Palavras-chave: História recente da psicologia social; "Escola de São Paulo" de psicologia social; revisão bibliográfica.

ABSTRACT

As a response to the so-called "crisis of Social Psychology", the Social Psychology School "Escola de São Paulo" makes social makeover issue emerges as a leitmotiv for its practice. However, a so clear stand was not a pattern ever since, as it can be observed in Social Psychology nowadays; it is a product and a synthesis of several breakaways and overcomes. Thus, the purpose of reviewing this literature is to assemble a set of theoretical productions about the outbreaks and the development of the Social Psychology School "Escola de São Paulo". To do so, three moments of its development have been chosen: the North American and European approaches in Social Psychology which highlighted the Brazilian production on this realm up to the 1970's; then, the traditional view of "crisis of Social Psychology" is introduced; at the end, a makeover proposition to such "crisis" – that emerges in Latin America – is hereby exposed, whose Brazilian wing is the Social Psychology School "Escola de São Paulo".

Key words: Contemporary history of social psychology; social psychology school "Escola de São Paulo"; literature review.

RESUMEN

Originada como respuesta a la llamada "crisis de la psicología social", la "Escola de São Paulo" de psicología social puso la transformación social como leitmotiv de sus prácticas. Tal posición es común hoy en la psicología social, pero no siempre fue tan explícita; es resultado y síntesis de una variedad de rupturas y superaciones. Esta revisión de literatura tiene el objetivo de reunir a un cuerpo de producciones teóricas acerca del surgimiento y desarrollo de la "Escola de São Paulo" de psicología social. Para ello, se conciben tres momentos de su desarrollo: inicialmente, se caracterizan las perspectivas estadounidense y europea de la psicología social, que marcaron la producción sobre la disciplina en Brasil hasta fines de los años 70; en seguida, se presenta lo que por convención se llamó "crisis de la psicología social"; y, por fin, se expone la propuesta de superación de la crisis que emergió en Latinoamérica, cuya representante en Brasil es la llamada "Escola de São Paulo".

Palabras-clave: Historia reciente de la psicología social; "Escola de São Paulo" de psicología social; revisión de literatura.

A "Escola de São Paulo" de Psicologia Social, inaugurada por Silvia Lane e seus orientandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), cumpriu o importante papel de empreender a crítica aos tradicionais modelos norte-americano e europeu de psicologia social e marcou a tônica das discussões nos anos 1980 a respeito do compromisso da psicologia com a transformação social. O fato de que o livro Psicologia social: o homem em movimento, publicado pela primeira vez em 1984, é ainda uma leitura presente na maioria dos programas de curso de psicologia social é, no mínimo, um indício da importância que tem esta escola de pensamento em psicologia social no cenário brasileiro e também no latino-americano.

Deste modo, esta revisão de literatura tem por objetivo reunir uma série de produções teórico-bibliográficas dispersas, tanto aquelas que dizem respeito à "Escola de São Paulo" de psicologia social propriamente dita quanto aquelas outras produções que ajudam a compreender o seu surgimento. Reunindo tais materiais, espera-se oferecer uma narrativa historiográfica que sirva como uma visão de conjunto desta perspectiva teórica em psicologia social. Tal perspectiva foi analisada, neste trabalho, em três momentos de seu desenvolvimento: inicialmente são caracterizadas as perspectivas norte-americana e europeia de psicologia social, que marcaram a produção da área no Brasil até o fim dos anos 70; em seguida é apresentado o que se convencionou chamar "crise da psicologia social"; e por fim, expõe-se a proposta de superação de tal crise, que emergiu na América Latina e tem como seu representante no Brasil a chamada "Escola de São Paulo", cujo principal expoente é Silvia Lane.

A "Escola de São Paulo" surge como resposta aos tradicionais modelos de psicologia social (modelo europeu e norte-americano) que, em dado momento, convergiram naquilo que ficou conhecido como Psicologia Social Cognitiva (Bernardes, 1998; Lane, 1981). É produto das discussões geradas em torno da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP) e da Associação Latino Americana de Psicologia Social, que seguiam impermeáveis a críticas, o que culminou na criação de associações nacionais de psicologia social (notadamente a venezuelana e a brasileira [AVEPSO e ABRAPSO]), bem como em revisões de seus conceitos fundamentais.

As críticas que Silvia Lane dirigia à psicologia social tradicional também se patenteiam nos trabalhos de seus orientandos. Era comum que os primeiros capítulos das teses e dissertações orientadas por Silvia Lane apresentassem essas revisões críticas. Dois exemplos: a) a tese defendida por Bader Sawaia, em 1979, sob o título "Ibitinga – Suas práticas econômicas e representações sociais", tem o seu primeiro capítulo dedicado às duas grandes tendências dominantes da psicologia social norte-americana: a gestalt e o behaviorismo; nela, Sawaia apresenta também o materialismo histórico-dialético como o referencial teórico-analítico que guia sua crítica e sua pesquisa; b) Antonio Ciampa, em sua dissertação defendida em 1977, intitulada "A identidade social e suas relações com a ideologia", produziu um longo capítulo em que realiza a crítica à psicologia social norte-americana, sobretudo no que se refere às teorias sobre a identidade, e apresenta a categoria ideologia em sua acepção marxiana. Estes dois exemplos são úteis no sentido de marcar que a publicação de Psicologia social: o homem em movimento não é o início da trajetória desta escola de pensamento, mas sim, uma importante síntese de um período, o seu ponto alto.

Cumpre notar que caracterizar tais produções e autores como uma escola não implica afirmar que se trate de um grupo homogêneo em suas produções, mas de uma escola que, em toda a sua diversidade, guarda como unidade um aspecto fundamental: o comprometimento com a transformação social da realidade aliado à apropriação do referencial teórico-metodológico do materialismo histórico-dialético. Outrossim, optou-se por utilizar o termo "Escola de São Paulo" porque na literatura internacional a Psicologia Social da qual se ocupa este trabalho tornou-se assim conhecida (Banchs, 1997).

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

O encontro da Psicologia Social norte-americana com a europeia deu-se em solo estadunidense quando da migração de importantes psicólogos austríacos e alemães que saíram de seus países de origem para os Estados Unidos da América (EUA), por motivos diversos, ainda antes da ascensão de Hitler ao poder na Alemanha. Tal migração tem início no fim da década de 1920 (período entreguerras) e ocorre até o ano de 1938. Muito embora a migração dos psicólogos da gestalt tenha se dado antes que Hitler chegasse ao poder, "seus efeitos completos não foram percebidos até depois da guerra." (Farr, 2004, p. 25)

Antes da Primeira Guerra Mundial, os principais centros de estudos de pós-graduação em psicologia estavam situados na Europa, sobretudo na Alemanha, de modo que estudantes norte-americanos e de diversos outros países frequentemente iam até o continente europeu realizar seus estudos de pós-graduação. Nos anos 1920, após a I Guerra Mundial, os Estados Unidos já tinham seus próprios programas de pós-graduação, o que tornava necessário tão somente aprender alemão ou outra língua europeia, e não mais viajar à Europa para estudar. Duas formas distintas de psicologia que se desenvolviam nos EUA e na Alemanha logo se encontrariam, por causa das consequências da guerra. Tratava-se do embate entre a fenomenologia incorporada na psicologia da gestalt e o positivismo em que se ancorava o behaviorismo norte-americano, que viria a produzir o modelo teórico que ficou conhecido como Psicologia Social Cognitiva.

No período entreguerras o fluxo de pesquisadores inverteu-se e importantes gestaltistas austríacos e alemães, como Heider, Kofka, Wertheimer, Lewin e Köhler, migraram para os Estados Unidos da América e assumiram cargos em importantes universidades norte-americanas. Também nesse período, após a chegada de Hitler ao poder, foi fechado o Instituto para Pesquisa Social de Frankfurt e seus mais importantes pesquisadores migraram para Nova Iorque (Bernardes, 1998).

Da mesma forma que durante a Primeira Grande Guerra Mundial presenciou-se a ascensão das pesquisas com testes psicológicos, após a Segunda Guerra viu-se florescerem os programas de pós-graduação em Psicologia Social nos Estados Unidos, nos quais se pesquisavam temas relacionados à guerra ou aos efeitos desta. Exemplo disto é a publicação da revista The American Soldier (O Soldado Americano), de 1949, em que figuravam temas como "adequação de soldados à vida no exército, avaliação da eficácia nas instruções do exército, mudança de atitudes e comunicação de massa." (Bernardes, 1998, p.26)

A The American Soldier era uma revista da Universidade de Yale que tinha no seu programa de pós-graduação o sugestivo título de "Núcleo de Pesquisa do Pós-Guerra", com temática central em comunicação e mudança de atitude. Outro programa muito importante nos EUA foi o Centro de Pesquisa em Dinâmica de Grupo do Massachussets Institute of Technology (MIT), que foi liderado e fundado por Kurt Lewin e teve papel fundamental para o desenvolvimento da Psicologia Social Cognitiva (Bernardes, 1998).

Para Bernardes (1998), o que caracteriza tal perspectiva individualista de psicologia social são os seguintes princípios para a explicação dos fenômenos sociais:

tratá-los como fenômenos naturais através de métodos experimentais, sendo que seus modelos explicativos nos remetem sempre, em última instância, a explicações centradas no indivíduo (p. 28).

Segundo Lane (1981),

Os temas de estudo continuavam sendo os mesmos; partindo ou não de sistemas teóricos da psicologia, todos se voltavam para a procura de fórmulas de ajustamento e adequação de comportamentos individuais ao contexto social (p. 76)

A psicologia social nascida do pós-guerra logo se expandiria pelo mundo. Os EUA tiveram papel determinante na reconstrução das universidades da Alemanha e do Japão, países devastados pela guerra; também fundaram a Associação Europeia de Psicólogos Sociais Experimentais, que seria muito importante para unir os psicólogos sociais europeus que se encontravam isolados uns dos outros no período pós-guerra (Farr, 2004).

Segundo Farr (2004),

No início da era moderna, a psicologia social nas universidades da América Latina foi fortemente influenciada pela forma psicológica dominante de psicologia social dos EUA... Muitos dos proeminentes professores de psicologia social nas universidades latino-americanas receberam sua formação de pós-graduação nos EUA (p. 31).

Alguns autores (Molon, 2001; Lane, 1981) apontam o ano de 1950 como aquele em que a psicologia social foi introduzida como disciplina no Brasil pelo professor Otto Klinenberg, na Universidade de São Paulo (USP). No entanto, Bomfim (2003, 2004) realizou uma análise sobre cursos de Psicologia Social ministrados no país durante a primeira metade do século XX, demonstrando que a disciplina já se apresentava no país algum tempo antes de se tornar cadeira universitária. Entre os cursos analisados pela autora supracitada destacam-se os ministrados por Raul Carlos Briquet, Arthur Ramos, Donald Pierson e Nilton Campos.

Raul Carlos Briquet ministrou seu curso na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, em 1933, e nele situa a psicologia social na intersecção entre psicologia, biologia e sociologia, apresentando o behaviorismo e gestalt, as leis da natureza humana e aprendizagem, bem como alguns subsídios da sociologia. Briquet defendia o uso da experimentação, mas também métodos como análise de biografias, autobiografias e casuística. Briquet trouxe para o seu curso também certas contribuições do materialismo histórico-dialético de Marx e da dialética hegeliana e "posicionou-se ainda, contra a censura e defendeu a possibilidade de revolução contra um governo injusto." (Bomfim, 2004, p. 33). Seu curso deu origem à publicação de Psicologia Social, em 1935, considerado por Bomfim como o primeiro livro acadêmico em Psicologia Social no Brasil.

O curso ministrado por Arthur Ramos na extinta Universidade do Distrito Federal no Rio de Janeiro, no ano de 1935, posicionava a psicologia social entre a psicologia e a sociologia, embora para ele não houvesse ainda, para esta área, objetivos e métodos suficientemente claros. Arthur Ramos considerava que à psicologia social "caberia o estudo das bases psicológicas do comportamento social, das inter-relações psicológicas dos indivíduos na vida social e da influência dos grupos sobre a personalidade." (Bomfim, 2004, p. 33). Arthur Ramos também ressaltou as contribuições do behaviorismo e da gestalt e, diferentemente de Briquet, inseriu em seu curso a psicanálise, defendendo a articulação da psicologia social com a antropologia, numa perspectiva culturalista. Como produto do curso de Arthur Ramos foi publicado, em 1936, o livro Introdução à Psicologia Social (Bomfim, 2003).

Donald Pierson realizou seu curso na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, tendo sido registrado no livro Teoria e Pesquisa em Sociologia, no ano de 1945. Pierson fora orientando de Robert Park – um dos fundadores da Escola de Chicago – o que explica a forte influência que teve a obra de George Hebert Mead em seu curso. Para Pierson, a psicologia social era um subcampo tanto da psicologia quanto da sociologia. O objetivo do seu curso fora estudar os meios pelos quais os humanos assumiriam a natureza humana e, ao mesmo tempo analisar como a pessoa resultante desse processo se incorporaria ao seu grupo social, através da aquisição de um self que a capacitaria ao controle pessoal e social e à participação de uma ação conjugada (Bomfim, 2004, p. 35).

Bomfim (2004) afirma que Pierson, em seu curso, trabalhou uma vasta bibliografia de cerca de 50 livros, onde figuravam autores como Mead, Dewey, Allport, Adler, Kofka, Jung, Freud, Levy-Bruhl, entre outros.

A despeito da vasta bibliografia do curso de Pierson, o curso de Nilton Campos, realizado no ano de 1952 na Faculdade Nacional de Ciências Econômicas, é marcado pela ausência de referências em seus registros. Cabe notar que Nilton Campos fora um dos introdutores da fenomenologia no Brasil e que seu curso foi organizado em 27 tópicos, em que se nota, além da já citada ausência de referências, também a ausência de objetivos postos para a psicologia social (Bomfim, 2004).

A razão de se apresentarem esses quatro cursos realizados no período entre 1933 e 1952 é que a literatura nacional sobre este período é escassa e geralmente o que se tem à disposição versa sobre as produções desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa, já que os trabalhos realizados neste período sugerem que a psicologia social se encontrava em um "momento de imprecisão, fragilidade e construção do campo científico" (Bomfim, 2004, p. 32). Os trabalhos de Bomfim (2003; 2004) oferecem um panorama histórico acerca da forma como se desenvolvia a psicologia social no Brasil naquele período e demonstram que, apesar da aparente diversidade dos cursos anteriormente vistos, a tônica seguia sendo a perspectiva experimentalista norte-americana, em maior ou menor grau.

O quadro descrito para a América Latina se reproduz no Brasil. A influência maior, na psicologia, foi sempre a norte-americana, através de seus centros de estudos, onde iam se aperfeiçoar cientistas e professores, ou de onde vinham professores universitários, convidados para cursos em nossas faculdades, como foi o caso do Professor Otto Klinenberg, que introduziu a Psicologia Social na Universidade de São Paulo, ainda na década de 50 (Lane, 1981, p. 80).

Os primeiros cursos superiores de Psicologia no Brasil antecederam a regulamentação da Psicologia como profissão, que ocorreu em 1962. Foram eles: o da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), em 1953; o da Universidade de São Paulo (USP), no ano de 1958; e o da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em 1962 (Molon, 2001).

No ano de 1959 foi traduzido para o português o livro Psicologia Social, do professor Otto Klinenberg - oriundo da Universidade de Columbia (EUA) e professor da disciplina de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP - e considerado livro-texto da disciplina Psicologia Social, ministrada pela professora Anita Cabral. Para Klinenberg, a psicologia deveria estudar "o comportamento social dos animais, linguagem, motivação, percepção, memória e Psicologia diferencial." (Molon, 2001)

Na USP também lecionava a professora Carolina Bori, que dava aulas de psicologia experimental e personalidade, dando ênfase aos experimentos e pesquisas realizados por Kurt Lewin e seus colaboradores. Foi aberto na PUC-SP, no início da década de 1950, um laboratório de psicofísica, dirigido pelo italiano Enzo Azzi com a ajuda da professora Aniela Ginsberg, psicóloga polonesa e graduada pela Universidade de Varsóvia, que teve, posteriormente, papel fundamental na criação do programa de Pós-graduação em Psicologia Social da PUC-SP (Molon, 2001).

Durante a década de 1960, as atividades de dinâmicas de grupo e as pesquisas sobre o caráter nacional, que já ocorriam desde os anos quarenta e cinquenta no Brasil, passaram a ser planejadas em termos de educação popular junto às camadas mais empobrecidas da população. O golpe militar de 1964 e a repressão que daí decorreu

conduziu alguns profissionais, professores e alunos dos cursos de Psicologia ao questionamento das práticas psicológicas e à busca de subsídios científicos para uma ação transformadora (Molon 2001, p. 45).

Ensaiava-se aquilo que ficaria conhecido anos depois como "a crise da Psicologia Social".

A CRISE DA PSICOLOGIA SOCIAL

Havia na perspectiva norte-americana de Psicologia Social – reproduzida também no Brasil e na América Latina, conforme já referido anteriormente – a ideia de que não se deveriam formular teorias gerais dos fenômenos psicológicos, visto que o acúmulo dos dados das diversas pesquisas experimentais é que permitiria, a posteriori, alguma generalização. Não obstante, Lane (1981) afirma:

O acúmulo de dados de pesquisas vai permitir uma análise crítica dos conhecimentos até então obtidos, constatando-se que se, um estudo afirmava a relação positiva entre duas variáveis, um outro estabelecia uma relação negativa entre elas, e um terceiro demonstrava não haver qualquer relação entre as duas (p. 77).

Para Lane, a partir da década de 1960, tal tendência começou a se mostrar inviável e iniciou-se um período de muitas críticas e questionamentos, sobretudo na França (onde se destacam as críticas feitas por Moscovici) e na Inglaterra (onde Israel e Tajfel desenvolviam sua teoria da identidade social), nos quais se denunciava o caráter ideológico desta forma de fazer ciência.

Segundo Lane (1981):

É na Europa, principalmente na França e na Inglaterra, onde surgem, no final da década de 60, as críticas mais incisivas à Psicologia Social norte-americana, denunciando o seu caráter ideológico e, portanto, mantenedor das relações sociais. Obviamente, nada poderia ser alterado nas condições de vida de qualquer sociedade, se a base fossem os conhecimentos desenvolvidos até aquele momento (p. 78).

No bojo das críticas, três eram os principais questionamentos ao modelo de ciência que se fazia até então: 1) a crítica ao modelo experimental, no sentido de que muito dificilmente se poderiam reproduzir tais experimentos em situação real; 2) o problema de interpretar os resultados das pesquisas psicossociais sem ter à disposição teorias abrangentes na área; e 3) a importância dessa ciência para os problemas com os quais se deparava o mundo, o que tornava esta crise também uma crise de relevância (Campos, 1998).

A resposta à "crise" na Europa não representou uma ruptura real com o modelo teórico norte-americano, senão o fato de se tentar atribuir à psicologia social um caráter mais social, conforme observa Jesuíno (1993). Não obstante, embora esse fosse uma psicologia menos individualista, continuava a ser uma psicologia individualista. A Psicologia Social europeia teve entre seus principais tópicos "a influência social, associada ao nome de Moscovici, e os processos intergrupo, associados ao nome de Tajfel." (Jesuíno, 1993, p. 51)

A questão que se apresentava para os psicólogos sociais europeus era, antes de tudo, a tentativa de se delimitar uma identidade europeia à psicologia social. Não havia, entretanto, um rompimento com o modelo experimental, e a Teoria das Representações Sociais, desenvolvida por Serge Moscovici, seria, na Europa, a

tentativa mais radicalizada de rompimento com a psicologia social normal e a constituição duma disciplina alternativa, estabelecendo a ligação entre a psicologia e a sociologia, entre o indivíduo e a sociedade (Jesuíno, 1993, p. 58)

Na década de 1960, na América Latina "

Viviam-se os movimentos de resistência e oposição às ditaduras militares que tinham chegado ao poder com o apoio aberto dos Estados Unidos, sufocando as reformas e reivindicações populares (Camino, 1998).

A "crise" que eclodiu na Europa a partir dos anos 1960 só seria sentida na América Latina na segunda metade dos anos 1970 (Lane, 1981; 1984a).

Segundo Freitas (2001), em meados dos anos 1960, no Brasil, alguns psicólogos começaram a atuar em bairros periféricos junto a comunidades de baixa renda, ainda no período em que as primeiras turmas de psicólogos no país estavam sendo formadas; no entanto, Andery (1984) adverte que tal atuação ainda não representava, naquele momento, uma ruptura com as teorias dominantes na psicologia social:

O exemplo acabado dessa visão é a tentativa de reprodução das clínicas psicológicas nos bairros populares, sem alterações dos procedimentos e rotinas consolidadas nas clínicas tradicionais de atendimento à burguesia. Simplificam-se os móveis, elaboram-se orçamentos de despesa e receita mais modestos mas nada se altera do que se entende ser: a relação terapeuta-cliente, técnicas de atendimento já prontas, parâmetros de julgamento e diagnóstico. (pp. 208-209)

É ainda nos anos 1960 que Silvia Lane e Alberto Andery iniciam trabalhos na periferia de São Paulo junto a seus alunos da PUC-SP (Freitas, 2001). A respeito deste período, Freitas, 2001, p. 58) diz:

Foram anos em que as manifestações populares e as reivindicações políticas, por condições de vida mais dignas e justas, estiveram presentes na maioria das metrópoles do hemisfério sul. Problemas sociais tão recorrentes hoje em nossos noticiários, já campeavam soltos nos anos 60 e 70, e as cruéis condições de vida da população, ligadas à falta de saúde, ao desemprego, à precariedade da educação e à falta de moradia, compeliam massas populares para as ruas e avenidas em busca de alternativas para a sua sobrevivência.

Considerando tais fatos, Lane (1984a) afirma que a crise da psicologia social assumiu na América Latina um caráter profundamente político. Tal caráter político é que posteriormente inseriu como questão fulcral para a Escola de São Paulo a transformação social da realidade.

Um exemplo da tensão que havia entre as práticas comunitárias e os modelos dos quais dispunha a psicologia social na época pode ser encontrado em Andery (1989). O autor relata sua experiência comunitária com uma equipe multiprofissional, ligada ao Departamento de Psicologia Social da PUC-SP, a qual atuou num bairro periférico na cidade de Osasco, do ano 1977 até 1985. O que daí decorreu foi que a equipe se organizou em duas vertentes: uma clínica e uma de viés psicoeducativo. Por fim, a vertente psicoeducativa mostrou-se, de fato, mais produtiva (Andery, 1989).

Silvia Lane começou a lecionar na PUC-SP no ano de 1965, e dizia que os textos trabalhados eram norte-americanos ou franceses, sendo a única exceção um livro de Otto Klinenberg, em português. Aos alunos da graduação Lane propunha que fossem a campo realizar trabalhos e pesquisas, e esperava com isso uma revisão crítica dos conceitos e teorias da psicologia; entretanto, antes de fazer a crítica aos conceitos e categorias da psicologia social, os alunos tentavam inserir aquilo que viam no campo dentro das teorias que conheciam. Só conseguiria mesmo realizar uma revisão crítica das teorias junto aos estudantes do Programa de pós-graduação em Psicologia Social da PUC-SP, criado em 1972 (Coelho, 2007; Guedes, 2007).

Nos anos 1970, certo avanço das práticas comunitárias indicava que era necessário superar a psicologia social tradicional também no plano teórico, e iniciava-se, assim, uma crítica sistemática aos modelos teóricos que "defendiam uma concepção harmônica, individualista e psicologizante sobre o homem e a vida social" (Freitas, 2001, p. 59)

Diferentemente da tradição europeia, os problemas que se colocaram para a psicologia social no Brasil e na América Latina implicaram numa ruptura real com a visão de humanidade e de mundo presente na psicologia social hegemônica. Além da recusa aos modelos psicologizantes, buscou-se um compromisso com a transformação social da realidade brasileira (Freitas, 2001).

Essa psicologia social, que no Brasil se desenvolvia, logo se encontraria no terreno das lutas sociais com a Educação Popular e com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs):

Tratavam-se de práticas psicológicas em comunidade fundamentadas nas experiências e produções do campo da Educação, especialmente da Educação de Adultos e Educação Popular, dentro da filosofia de Paulo Freire, e também no campo da Sociologia rural, oriundas dos trabalhos de Orlando Fals Borda, objetivando tornarem-se instrumentos necessários para a conscientização e participação políticas. (Freitas, 2001, p. 59)

Foi no Congresso da Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP), realizado no ano de 1976, em Miami (EUA), que as consequências das novas atuações da psicologia social começariam a tomar um corpo teórico e se encontrariam também com as atuações de outros psicólogos latino-americanos. Segundo Molon (2001), o Congresso de 1976 foi marcado pela ênfase na crítica teórica e metodológica. Porém, não houve a elaboração de propostas para a superação de tal situação, diferentemente do congresso seguinte, em Lima, em 1979, quando as críticas foram mais incisivas e surgiram as propostas concretas de sistematização, objetivando uma redefinição da Psicologia Social. (p. 49)

Seria no ano de 1979, com a realização do Congresso da SIP em Lima, no Peru, que as primeiras críticas assumiriam a forma de "propostas concretas de uma Psicologia Social em bases materialista-históricas e voltadas para trabalhos comunitários." (Lane, 1984a, p. 11)

No referido Congresso, foi proposta e efetivada a criação do Núcleo de Psicologia Comunitária, com a participação de pesquisadores de toda a América Latina, o qual permitiu uma troca rica de experiências e a certeza de que vivíamos na América Latina um processo de reflexão crítica sobre a psicologia e a procura de novos caminhos tanto teóricos como metodológicos para uma prática psicológica comprometida com os grandes problemas que enfrentávamos (Lane, 1994, p. 70).

Ainda no Congresso da SIP, foi proposta a criação de associações nacionais de psicólogos sociais, tendo-se como exemplo a já constituída Associação Venezuelana de Psicologia Social (AVEPSO), com o objetivo de desenvolvê-las em seus respectivos países e dar à Associação Latino-Americana de Psicologia Social (ALAPSO) um caráter democrático e representativo dos trabalhos desenvolvidos na região (Lane, 1981; Molon, 2001).

A ALAPSO tinha como presidente Aroldo Rodrigues – representante da perspectiva norte-americana de Psicologia Social, que fazia forte oposição às tendências antipositivistas dentro da associação e seguia impermeável às críticas feitas nos Congressos da SIP (Jacques et al., 1998).

É ainda no ano de 1979 que Silvia Lane e Maria do Carmo Guedes conseguem uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para realizar uma viagem pela América Latina e conhecer as experiências realizadas em diversos países da região. Viajaram para a Venezuela, a Colômbia, o México, a Nicarágua, o Equador e o Peru, além de terem feito uma passagem extraoficial e não informada ao CNPq em Cuba (Guedes, 2007).

Durante o I Encontro Brasileiro de Psicologia Social, realizado no mesmo ano do Congresso da SIP em Lima, as críticas feitas à psicologia social se acentuaram e foi criada a "Comissão Provisória Pró-formação da ABRAPSO". Em 1980, surgia oficialmente a ABRAPSO, e junto a ela, uma alternativa de superação para a psicologia social (Molon, 2001).

A história da Psicologia Social brasileira e a história da Abrapso se entrecruzam de tal forma que Lane e Bock (2003) partem da história da Abrapso para analisar a história da Psicologia Social no Brasil, por ser esta uma entidade que singulariza tal história.

UMA ALTERNATIVA DE SUPERAÇÃO

Lane (1994) atribui o processo de revisão crítica e o abandono da pretensa neutralidade do conhecimento científico à influência do Maio de 1968 na França. Entre as influências que marcaram sua revisão crítica a autora destaca: a Psicologia da Linguagem, ao possibilitar a compreensão do fenômeno da linguagem como produto histórico (aqui Lane faz o trajeto que se inicia com as escalas de diferencial semântico de Osgood, passa pelo comportamento verbal de Skinner e chega à compreensão de Vigostki a respeito da linguagem e sua importância na constituição do psiquismo); a Identidade Social, conceito desenvolvido por Ciampa, orientando seu, que concebe a identidade como metamorfose e não como algo estático, como as tradicionais teorias da personalidade; e por fim, as técnicas sobre o Processo Grupal, que possibilitaram à autora a negação da concepção do grupo como algo estável (Lane, 1994). Vale salientar que todas estas influências às quais se refere Lane aparecem em Psicologia Social: o homem em movimento.

A partir de então, o materialismo histórico ditava as discussões do período, de tal modo que a psicologia que daí surgiu ficou conhecida como Psicologia Marxista, e rompia de vez com a Psicologia Social norte-americana (Bernardes, 1998).

No primeiro capítulo de Psicologia Social: o homem em movimento, Lane (1984a) discute uma nova concepção de ser humano para a Psicologia, em que assume o compromisso com "propostas concretas de uma Psicologia social em bases materialista-históricas e voltadas para trabalhos comunitários." (Lane, 1984a. p. 11). A autora avança declarando a necessidade da compreensão de uma totalidade histórica e do poder da ideologia como tarefa a ser cumprida por esta nova perspectiva:

caberia à Psicologia Social recuperar o indivíduo na intersecção de sua história com a história de sua sociedade – apenas este conhecimento nos permitiria compreender o homem enquanto produtor da história (Lane, 1984a, p. 13).

Para Lane, era necessário compreender que a análise da ideologia como parte de uma totalidade social deve ocorrer no sentido de compreender que esta se reproduz em nível individual, "levando-o [o homem] a se relacionar de forma orgânica e reprodutora das condições de vida" (Lane, 1984b, p. 40). A compreensão de ideologia, em Lane (1984b), corresponde ao uso do construto na perspectiva marxiana.

Ainda em O homem em movimento, Lane (1984a) afirma que os sujeitos devem apossar-se dos conhecimentos que dizem respeito à produção de sua existência material e concreta, e sendo assim,

Se a psicologia apenas descrever o que é observado ou enfocar o indivíduo como causa e efeito de sua individualidade, ela terá uma ação conservadora, estatizante – ideológica – quaisquer que sejam as práticas decorrentes. Se o homem não for visto como produto e produtor, não só de sua história pessoal mas da história de sua sociedade, a Psicologia estará apenas reproduzindo as condições necessárias para impedir a emergência das contradições e a transformação social (p. 15).

Na obra anteriormente mencionada, Lane (1984b) reconhece ainda a ideologia como produto histórico que possui como finalidade manter as relações materiais de produção de uma sociedade, e o materialismo histórico é retomado como pressuposto metodológico e analítico (Lane, 1984a). Este é defendido no primeiro capítulo de Psicologia Social: o homem em movimento como a perspectiva de uma compreensão do ser humano que não prevê a dicotomia entre físico e psíquico e recupera a subjetividade enquanto materialidade concreta; é também apresentado um capítulo sobre a dialética marxista (Carone, 1984) e o tema é retomado em outros capítulos ainda sob as temáticas da ideologia e alienação (Lane, 1984b) e consciência (Codo,1984). As temáticas abordadas na obra citada não deixam dúvida de que se trata de uma alternativa que assume como pressupostos aqueles do materialismo histórico-dialético de Marx, seja pelos temas abordados seja pelo conteúdo e forma com que são abordados.

Nas palavras de Lane (1984b):

o materialismo dialético se propõe a conhecer o concreto, distinto do empírico, e produto de uma análise que, partindo do empírico, o insere num processo o qual permite detectar como são estabelecidas relações que nos levam a conhecer o indivíduo como manifestação de uma totalidade. Assim, fatos e teoria se tornam indissociáveis, tornando o processo científico necessariamente acumulativo em direção ao concreto proposto (p. 44-45).

Segundo Bock, Ferreira, Gonçalves e Furtado (2007), "o materialismo histórico e dialético permite trabalhar com a historicidade dos fenômenos e, por isso, contrapõe-se à sua naturalização. Boa parte da obra de Silvia Lane foi para desenvolver uma compreensão do psiquismo fundamentada nesses pressupostos" (p. 50).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em tendo apresentado três momentos do desenvolvimento da chamada "Escola de São Paulo" de psicologia social, este trabalho se configurou como um primeiro esforço em compreender um dos momentos da história recente da psicologia social no Brasil, tomando como objeto a "Escola de São Paulo" de Psicologia Social.

Resta ainda, conforme sustenta Antunes (2005), analisar tal momento segundo suas relações com os pressupostos teórico-metodológicos e filosóficos da "Escola de São Paulo" (em suas transformações e desenvolvimentos), bem como relacioná-los ao conjunto das relações sociais brasileiras nas quais se desenvolveu e desenvolve tal escola de pensamento em psicologia social.

Este artigo oferece uma narrativa historiográfica que diz respeito ao surgimento da "Escola de São Paulo" de Psicologia Social até os primeiros idos dos anos 1980. Os anos que se seguem à publicação de Psicologia social: o homem em movimento foram marcados pela revisão de certos pressupostos e categorias fundamentais do materialismo histórico-dialético, bem como por uma substantiva mudança naquilo que se concebia como "transformação social". Tal mudança encontra sua síntese na publicação de Novas veredas da psicologia social, livro organizado por Silvia Lane e Bader Sawaia e publicado em 1994, no qual se patenteiam as questões acima apresentadas - o que já é material para novas pesquisas e, quiçá, em breve, para uma nova publicação.

Recebido em 20/10/2009

Aceito em 27/09/2010

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  • Endereço para correspondência

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Dez 2010

    Histórico

    • Aceito
      27 Set 2010
    • Recebido
      20 Out 2009
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