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O Serviço de Orientação ao Universitário da Universidade de Brasília

The Student Service Orientation from University of Brasilia

El Servicio de Orientación al Universitario de la Universidad de Brasília

O Serviço de Orientação ao Universitário (SOU) foi instituído na UnB em 1987 pelo Ato da Reitoria 640/87 (Universidade de Brasília, 1987Universidade de Brasília(1987, Dezembro). Ato da Reitoria No640/87. Brasília, DF.) com o nome de “Sistema de Orientação ao Universitário”. Idealizado por docentes da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília que contaram com o apoio da gestão do então reitor Cristóvam Buarque para sua implantação, à época se dividiu em três grandes núcleos, a saber: núcleo de orientação psicopedagógica; núcleo de informação e orientação profissional; e núcleo de orientação ao aluno estrangeiro. As atribuições, em sua maioria, eram voltadas para a orientação ao estudante e permaneceram assim mesmo após alguns anos com o Ato da Reitoria 442/90 (Universidade de Brasília, 1990Universidade de Brasília(1990, Maio). Ato da Reitoria No 442/90. Brasília, DF.) e ainda depois, com o Ato da Reitoria 769/2002 (Universidade de Brasília, 2002Universidade de Brasília(2002). Ato da Reitoria No 769/2002. Brasília, DF.) vigente até os dias atuais.

O SOU passou por várias mudanças da gestão superior bem como de sua coordenação. Isso impactava diretamente nas atividades desenvolvidas pelo Serviço, já que a cada troca surgiam novos interesses, objetivos e novas concepções, o que gerava descontinuidade das atividades desenvolvidas e por vezes inviabilizava o desenvolvimento de muitos projetos. Nessas trocas, também, o SOU passou a contar com uma estrutura física e de pessoal cada vez menor e inadequada para os objetivos propostos. Era necessário se dar prioridade ao atendimento individualizado, em especial a estudantes que já se encontravam em uma condição de baixo desempenho e poderiam ser desligados da universidade, em detrimento de ações que tivessem como foco a revisão das práticas e concepções que originavam esses problemas, de maneira a se trabalhar institucionalmente melhorias para os processos educativos que permeavam esse ambiente. Essa priorização também ocorria pela formação dos profissionais que naquele momento compunham a equipe. Uma característica impactante verificada em muitos momentos foi a falta de clareza dos membros da comunidade acadêmica a respeito da natureza do trabalho desse tipo de Serviço. Era sempre necessário justificar sua existência e esclarecer o tipo de trabalho desenvolvido, para depois poder articular com a gestão as ações a serem desenvolvidas pelo SOU. O entendimento ainda era muito ligado a uma vertente clínica de atuação e à realização de pesquisas estatísticas e demandas por resoluções de conflitos e atendimentos emergenciais individuais.

Em 2008, com o Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), temos um marco na história do Serviço, com a contratação de novos servidores. O SOU nesse período recebeu, além de psicólogos escolares, pedagogos. À época, existiam apenas quatro servidores: a coordenadora, psicóloga, um estagiário técnico de psicologia e dois técnicos em assuntos educacionais. Essa nova composição do Serviço, com profissionais de diferentes formações em psicologia (organizacional, social, clínica, escolar) e pedagogia (empresarial, alfabetização, etc.), rendeu muitas divergências quanto ao que deveria ser realizado pelo SOU, a como deveria ser realizado e por qual profissional.

As angústias vividas diariamente pelos profissionais que compunham o Serviço e as conseqüentes insatisfações foram movimentando reflexões, análises e propostas, que culminaram em um processo de reformulação do SOU e na consequente reconstrução de identidade dos profissionais envolvidos. Assim, em 2012 passaram a ocorrer encontros com toda a equipe para se discutir a natureza de trabalho do SOU, as possíveis ações/atividades a serem desenvolvidas pelo Serviço e a necessidade de revisão das normativas que institucionalizavam o trabalho. Tivemos ao final de todo esse trabalho em 2014 um produto, que atualmente é o documento utilizado para embasar a atuação do Serviço.

Documento Orientador do SOU

O Documento Orientador do SOU (2014)Serviço de Orientação ao Universitário da Universidade de Brasília(2014). Documento Orientador. Brasília, DF. teve seu texto construído coletivamente pela equipe entre os anos de 2012 e 2014 e “... o objetivo de organizar os princípios norteadores do Serviço com base em seus documentos regulamentadores, sua história e nas reflexões e experiências de seus membros.” (p.1).

A construção de tal documento se deveu a diversos encontros realizados com toda a equipe, de maneira orientada, com escolha de textos para leitura e discussão, de forma a se trabalhar as concepções dos membros do grupo sobre sua atuação, sobre o Serviço, entre outras. Isso culminou na escolha coletiva dos Documentos Embasadores para o SOU e também das concepções e perspectivas de atuação.

Assim, os documentos embasadores escolhidos pelo Serviço foram a Constituição Federal, o Plano de Desenvolvimento da Educação - PDE (Haddad, 2008Haddad, F. (2008). O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas. Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (1996)Lei Lei No 9.394. (1996). Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: Presidência da República. Recuperado: 23 ago. 2016. Disponível: Disponível: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm
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, o Programa de apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI (2007)Presidência da República (2007). Decreto N o 6.096. Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI. Recuperado: 23 ago 2016. Disponível: Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-10/2007/Decreto/D6096.htm
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e o Projeto Original da UnB constante no livro “UnB: invenção e descaminho” de Darcy Ribeiro (1978Ribeiro, D. (1978). UnB: invenção e descaminho. Coleção Depoimentos : Volume 3. Rio de Janeiro: Editora Avenir.) e o Estatuto e Regimento Geral da Universidade de Brasília (2011)Universidade de Brasília(2011, Setembro). Estatuto e Regimento Geral. Brasília, DF.. De maneira bem resumida, os documentos escolhidos foram contemplados em função: do entendimento de que o trabalho não pode estar alheio aos acontecimentos sociais, devendo se atualizar constantemente; de que a formação dada ao estudante deva ser realizada de maneira integral, de forma que permita o desenvolvimento da pessoa, a formação crítica, criativa e a construção da autonomia; a necessidade de articulação entre a universidade e a comunidade; do respeito às diretrizes do REUNI que traziam, entre outras questões, a redução das taxas de evasão, a revisão da estrutura acadêmica e a ampliação das políticas de inclusão e assistência estudantil; do modelo inovador da Universidade de Brasília, que trazia o entendimento de que cada membro da comunidade acadêmica exerce papel de educador, devendo todos ter participação ativa na construção e implantação desse projeto; da perspectiva democrática.

No Documento foi reafirmada a composição multiprofissional da equipe e indicadas as escolhas e construções do grupo como: atuação interdisciplinar; atendimento como uma via de acolhimento e escuta, compreendido como um dos momentos do trabalho, deixando de ser o principal foco; e intervenções em diferentes níveis (individual, grupal, relacional, departamental e de políticas institucionais).

Entende-se que o trabalho precisa sair, então, de uma perspectiva individualizante para o trabalho “junto”, “com”, “entre”, em parceria, levando-se em consideração os aspectos institucionais, éticos, políticos, relacionais existentes. Algumas mudanças na própria organização do trabalho foram importantes para que pudéssemos ampliar a nossa atuação, entre elas: estabelecimento de escala de atendimento, atendimento apenas por agendamento, reuniões diárias em horários fixos para tratar de assuntos diversos, inserção de assistente administrativo para ajudar na parte administrativa do setor. Parecem organizações óbvias e de fácil execução, mas exigiram muitos acordos internos e muitas revisões, inclusive de desejos e interesses pessoais, para que todos os membros compreendessem a importância e se comprometessem de forma a não quebrarem a rotina estabelecida em prol de um coletivo.

Novo momento do SOU

Nesses moldes, e como exemplificação do tipo de trabalho de que estamos falando, o SOU idealizou um projeto de acolhimento aos calouros, que foi planejado em conjunto com uma Comissão formada por membros de diversos setores da universidade e que permitiu que a universidade se repensasse e revisse seu papel na formação dos estudantes desde seu ingresso na mesma. Esse trabalho foi muito elogiado e apoiado pela gestão superior da universidade e teve uma ótima repercussão na comunidade acadêmica. Descobrimos com ele novas possibilidades de inserção do Serviço, inclusive no desenvolvimento de políticas universitárias. Sempre de maneira pensada e articulada com representantes de toda a comunidade acadêmica, de forma a se legitimar o trabalho e o mais interessante, de desenvolver o comprometimento de cada um com a comunidade e a sensação de pertencimento a ela o que gerou reflexos diretos na alegria de se trabalhar e nos bons resultados alcançados nessa atividade.

Com o avanço no entendimento de que tipo de trabalho dentro dessa nova abordagem poderia ser realizado, sentiu-se a necessidade de, além de alterações nas práticas desenvolvidas, se repensar o nome do Serviço e a própria concepção de Psicologia Escolar que, para além de atender às demandas da comunidade, propõe-se à criação de novas demandas junto a ela, numa perspectiva democrática e transformadora. Assim, teria uma práxis inventiva ou criativa, “não se limitaria a constatar, classificar ou avaliar” o já esperado, mas criaria as condições para que o processo educacional possa acontecer, o que implica na construção de conhecimentos e subjetividades que se entrelaçam (Nóbrega-Corrêa, 2011Nóbrega-Corrêa, J. R. A. (2011). Psicologia escolar e educação superior: Investigação em uma faculdade de engenharia. Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, Brasília, DF., p. 16).

O nome traz uma forte carga histórica que impede que antigas práticas, em especial o atendimento individualizado ao estudante, possam dar lugar a novos trabalhos, dentro de um novo modelo de atuação. Assim, um novo nome está sendo pensado pela equipe, com vistas a afirmar essa nova concepção de trabalho, de maneira a se privilegiar os trabalhos em parceria e de reafirmar o caráter processual e dinâmico das atividades desenvolvidas pelo Serviço, não se direcionando a nenhum membro específico da comunidade acadêmica como antes “ao universitário”, reafirmando o trabalho junto a todos os integrantes da comunidade universitária. Essa proposta de alteração de nome está em andamento junto ao Decanato de Ensino de Graduação e esperamos que junto com ela, novas formas e inventivas formas de se fazer Psicologia Escolar e Pedagogia na Educação Superior.

Referências

  • Haddad, F. (2008). O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
  • Lei Lei No 9.394. (1996). Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional Brasília: Presidência da República. Recuperado: 23 ago. 2016. Disponível: Disponível: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm
    » https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm
  • Nóbrega-Corrêa, J. R. A. (2011). Psicologia escolar e educação superior: Investigação em uma faculdade de engenharia Dissertação de Mestrado. Universidade de Brasília, Brasília, DF.
  • Presidência da República (2007). Decreto N o 6.096 Institui o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais - REUNI Recuperado: 23 ago 2016. Disponível: Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-10/2007/Decreto/D6096.htm
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  • Ribeiro, D. (1978). UnB: invenção e descaminho. Coleção Depoimentos : Volume 3. Rio de Janeiro: Editora Avenir.
  • Serviço de Orientação ao Universitário da Universidade de Brasília(2014). Documento Orientador Brasília, DF.
  • Universidade de Brasília(1987, Dezembro). Ato da Reitoria No640/87. Brasília, DF.
  • Universidade de Brasília(1990, Maio). Ato da Reitoria No 442/90. Brasília, DF.
  • Universidade de Brasília(2002). Ato da Reitoria No 769/2002. Brasília, DF.
  • Universidade de Brasília(2011, Setembro). Estatuto e Regimento Geral Brasília, DF.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Sep-Dec 2017

Histórico

  • Recebido
    05 Ago 2016
  • Aceito
    29 Nov 2016
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