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Uma visão multidisciplinar dos transtornos de aprendizagem

Multidisciplinary view of the inconvenience of learning

RESENHA

Uma visão multidisciplinar dos transtornos de aprendizagem

Multidisciplinary view of the inconvenience of learning

Rodolfo Hipólito* * Rodolfo Hipólito é Discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista do Programa de Iniciação Científica CNPq. E-mail: rdhipolito@gmail.com

Sennyey, A., Capovilla, F. C. & Montiel, J. M. (2008). Transtornos de aprendizagem: da avaliação à reabilitação. São Paulo: Artes médicas.

O livro Transtornos de aprendizagem: da avaliação à reabilitação, organizado por Alexa Sennyey, Fernando C. Capovilla e José M. Montiel e apresentado no I Congresso multidisciplinar de transtornos de aprendizagem e reabilitação, oferece uma visão abrangente acerca dos transtornos de aprendizagem em alguns dos principais quadros de interesses de psicólogos, psiquiatras, pediatras, psicopedagogos e fonoaudiólogos. O livro aborda questões desde prevalência e etiologia dos quadros, passando por modelos teóricos, estratégias de avaliação clínica até as estratégias de intervenção.

No primeiro capítulo intitulado Transtornos de conduta e aprendizagem, Moraes explora o conceito de Transtorno de Conduta, que define como um padrão repetitivo e persistente de comportamento anti-social, com violação dos direitos das pessoas e quebra de leis e regras sociais, e sua relação com os problemas de aprendizagem. Transtornos de ansiedade na infância e adolescência, o segundo capítulo, de autoria de Pacheco, aborda os diversos transtornos de ansiedade na infância e adolescência. Discorre, ainda, sobre os fatores de risco, os recursos para avaliação e os tratamentos recomendados. No capítulo intitulado Relação entre transtorno de humor bipolar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade na infância e adolescência, Berberian, Montiel e Trevisan descrevem acerca destes transtornos, evidenciando as diferenças entre os mesmos.

Os três capítulos seguintes, Transtornos invasivos do desenvolvimento: conceituação e critérios diagnósticos; Genética dos transtornos invasivos do desenvolvimento e Avaliação neuropsicológica e intervenções nos transtornos invasivos do desenvolvimento, discorrem sobre os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TID), abordando, cada um dos capítulos, diferentes aspectos dos TID, desde sua conceituação, aspectos genéticos e procedimentos de avaliação e intervenção. Com relação à avaliação desta classe de transtornos, os autores enfatizam duas vertentes, a das funções executivas e a dos movimentos oculares. Sumariam também intervenções para melhorar a adaptação e reduzir as dificuldades e os desafios das pessoas com autismo.

No texto intitulado Avaliação da função motora fina, sensorial e perceptiva em escolares com dislexia do desenvolvimento, Capellini e Souza definem o conceito de habilidade escrita, segundo o DSM-IVR e o associam à dislexia e à disgrafia. Os quatro próximos capítulos abordam respectivamente a disgrafia e a disortografia. Em Avaliação da função cortical superior em crianças com disgrafia, Tabaquim expõe sua concepção da disgrafia como disfunção da integração sensório-motora que acarreta problemas de ordenação, sequenciação, planificação e execução da escrita. Enfatiza também a importância da psicomotricidade e da integração sensório-motora para a recuperação da escrita.

Lamônica, no texto Disortografia: desafios para o aprendizado da escola, descreve a disortografia como dificuldade do aprendizado e do desenvolvimento da habilidade da escrita, caracterizada por dificuldade em soletrar em voz alta e por escrever corretamente com erros sistemáticos de escrita que afetam a palavra, mas não seu traçado ou grafia, que tornam a escrita ininteligível, apesar de eventual preservação da forma gráfica. A autora ressalta que os erros de escrita não ocorrem necessariamente na leitura e que, assim, pode haver disortografia sem dislexia; mas sempre que há dislexia, há disortografia. Seguindo este conceito no 10º capítulo, intitulado Disortografia na dislexia, Crenitte estabelece novamente o conceito de disortografia e o relaciona com a dislexia. No texto intitulado Avaliação da criança disortográfica, Ciasca explora as causa e etiologias da disortografia, e enfoca sua avaliação, que deve levar em conta algumas especificidades. A autora enfatiza também a importância da avaliação multidisciplinar que considere múltiplos fatores dando maior amplitude e profundidade ao problema.

Em Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade: quadro clínico, neuropsicologia e tratamento psicoterápico, Alfano, Coutinho e Vianna caracterizam os tipos de TDAH e seus sintomas neuropsicológicos e avaliam as estratégias de tratamento medicamentoso e psicoterápico.

No 13º capítulo, intitulado Avaliação neuropsicológica da discalculia do desenvolvimento com o Nepsy II: avaliação neurospicológica do desenvolvimento, Argollo descreve a discalculia do desenvolvimento como um tipo de disfunção cerebral que acomete as áreas responsáveis pelo processamento matemático e se caracteriza por prejuízo específico das habilidades de matemática, atraso de desempenho esperado para a faixa etária e etiologia hereditária ou congênita. O capítulo descreve ainda a bateria Nepsy II e ilustra o uso dessa bateria para estudar o perfil neuropsicológico da discalculia do desenvolvimento. Em Avaliação da discalculia do desenvolvimento: uma questão sobre o processamento numérico e o cálculo, Santos e Silva ampliam a definição de discalculia e apresentam a "Bateria Neuropsicológica para Avaliação do Processamento Numérico e do Cálculo em Crianças", ou Zareki.

No capítulo organizado por Serafim, Jorge e Ramos, Transtorno de aprendizagem não-verbal: um desafio diagnóstico, é descrito um transtorno ainda pouco estudado e que ainda não é mencionado em manuais internacionais classificatórios das doenças mentais, como o CID e o DSM. O texto aborda as características diagnósticas do transtorno de aprendizagem não-verbal e instrumentos que avaliem esse transtorno, como o Non-verbal Learning Disabilities Scale.

Em Principais achados e implicações do maior programa do mundo em avaliação do desenvolvimento de competências lingüísticas de surdos, F. Capovilla descreve os frutos de 15 anos de pesquisa e desenvolvimento sobre a neuropsicologia do surdo brasileiro. O texto também aponta propostas de melhorias na educação brasileira, com o objetivo de proporcionar uma educação adequada a essas pessoas. No capítulo seguinte intitulado Novo dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da língua de sinais brasileira (Novo Deit-Libras), Capovilla, Raphael e Maurício descrevem o novo dicionário bem como o porquê de sua importância.

No 18º capítulo, Nomeação de sinais da libras por escolha de palavras: paragrafias quirêmicas, semânticas e ortográficas por surdos do Ensino Fundamental ao Ensino Superior, Capovilla e Mazza descrevem a hipótese de indexação do léxico ortográfico pelo léxico quirêmico e de mediação por sinalização interna na leitura e escrita alfabéticas, além de apresentarem os estudos de validade e normatização do Teste de Nomeação de Sinais por Escolha de palavras escritas (TNS-Escolha).

Em Compreendendo fenômenos de pensamento, leitura e escrita à mão livre no surdo: descobertas arqueológicas de elos perdidos e o significado de fósseis desconcertantes, Capovilla e Ameni expõem o fenômeno de paragrafias quirêmicas durante a escrita à mão livre, e descrevem um estudo que objetivava identificar esses aspectos nos surdos brasileiros. Capovilla, Sousa-Sousa, Maki, Ameni e Neves, autores do 20º capítulo, Avaliando a habilidade de leitura orofacial em surdos do ensino fundamental e comparando a eficácia relativa de modelos de legibilidade orofacial fonético-articulatório e de Dória, descrevem duas provas de leitura orofacial para alunos surdos do Ensino Fundamental, a prova de Leitura Orofacial Dória (Plof-D) e a Prova de Leitura Orofacial Fonético-Articulatório (Plof- FA).

No texto intitulado Normatização de nomeação de 2.300 figuras do dicionário de Libras com 11.700 alunos de cinco níveis (Maternal, Infantil, Fundamental Ciclo 1, Cicilo 2, e Superior) para avaliação e intervenção, Capovilla e Roberto descrevem um estudo de levantamento, seus objetivos, resultados e importância desse estudo. No capítulo seguinte, Normatização de nomeação de 2.100 figuras originais por 4.850 alunos de três níveis (maternal-infantil, Fundamental e Superior), e de testes de vocabulário auditivo de 2 a 5 anos, Capovilla, Negrão, Damázio e Souza-Souza relatam os procedimentos envolvidos na geração de banco de figuras e de normatização de sua nomeação para três faixas etárias.

O 23º capítulo, Dislexia do desenvolvimento: definição, avaliação e intervenção, A. Capovilla define o conceito de dislexia do desenvolvimento e descreve um importante recurso para sua avaliação o Teste de Competência de Leitura de Palavras e Pseudopalavras (TCLPP), o texto trata também sobre o método fônico, um recurso de intervenção para prevenção e tratamento. No capítulo seguinte, intitulado Avaliação do vocabulário receptivo em crianças do Ensino Fundamental: Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (TVIP), Trevisan, Montiel, Dias e Capovilla descrevem um estudo com crianças de 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental que forneceu dados de precisão e evidências de validade do TVIP.

Em Interface entre as neurociências e a avaliação psicológica, Montiel e Capovilla descrevem diversas áreas da neurociência chegando ao conceito de neuropsicologia e relacionando-o então ao conceito de avaliação psicológica, o texto ainda relata as dificuldades encontradas na avaliação psicológica, e as especificidades da avaliação psicológica infantil. Por fim, Muniz, Primi e Capovilla encerram o livro com seu capítulo intitulado Avaliação dinâmica: procedimento rico mas pouco usado para avaliar capacidades cognitivas. Neste texto os autores descrevem a avaliação dinâmica em oposição à avaliação estática. Em suma, a avaliação dinâmica se propõe a avaliar a capacidade de aprender do avaliando. O texto ressalta as vantagens dessa avaliação e termina com a proposta de construção de um teste dinâmico para avaliar o raciocínio indutivo em crianças.

Dessa maneira este livro consegue enfocar toda a gama dos transtornos de aprendizagem, dos mais conhecidos aos menos pesquisados, fornecendo a diversos profissionais não só o conceito desses transtornos mas, o que é mais importante, sugerindo formas de avaliação e intervenção, sempre contextualizado à realidade brasileira e subsidiado por pesquisas recentes.

Sobre o autor:

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    Rodolfo Hipólito é Discente do curso de Psicologia da Universidade São Francisco. Bolsista do Programa de Iniciação Científica CNPq. E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Mar 2009
    • Data do Fascículo
      Dez 2008
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