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EDITORIAL

EDITORIAL

Claudia Regina Furquim de Andrade

Professora Titular, Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

Prezados Leitores:

Chegamos ao fim de 2007, o primeiro ano com quatro números da nossa Revista. O ano de 2007 também foi o ano de reformulações na estruturação dos artigos publicados. A Revista hoje atende com maior abrangência as peculiaridades da Fonoaudiologia brasileira. As múltiplas possibilidades terapêuticas vigentes entraram numa nova fase, a da comprovação da sua pertinência científica e da sua real eficácia. A prática baseada em evidência veio para ficar e veio para que todas as terapêuticas possam ser submetidas à comprovação. A Revista Pró-Fono está aqui para isso, para promover a ciência responsável.

Foi muito oportuna a reunião de pesquisadores internacionais sobre o tema, debatido no 15º Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia (Gramado, RS, 2006). Ainda não foi suficientemente difundido o paradigma de sustentação da prática baseada em evidências. A experiência clínica do terapeuta não cresce simplesmente pela sua atividade prática, cresce sim, pela associação das decisões clínicas fundamentadas no suporte de evidências externas - obtidas pelo background das pesquisas e dos trabalhos sistematicamente publicados sobre um determinado segmento ou patologia da comunicação humana. A chave do sucesso clínico está na associação das metas, do plano e do controle dos procedimentos clínicos às necessidades, aceitação e comprometimento do cliente.

Não é possível um gerenciamento adequado do caso sem que haja uma consideração cautelosa dos dados clínicos (médicos, odontológicos, nutricionais etc.) do paciente, sem que exista a compreensão clara da história natural subjacente à doença. Também não é possível o aconselhamento terapêutico deslocado do quadro de valores do paciente e de sua família. Não haverá resultado satisfatório, não haverá prognóstico possível, se não houver indicadores prévios que contemplem o objetivo a ser atingido, o projeto terapêutico a ser implantado e o equilíbrio com as expectativas e valores do paciente.

O meu recado de Ano Novo é esse, se o que você faz é bom, se merece ser difundido, vamos lá, mãos à obra, vamos provar que a Fonoaudiologia funciona. Vamos provar como funciona, quando funciona e para quem funciona.

Nesse Editorial de final de ano, teremos algumas palavras, em Editoriais Convidados. Palavras da Presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Doutora Fernanda Dreux Miranda Fernandes, e da Presidente da International Association of Logopedics and Phoniatrics (IALP), Doutora Mara Suzana Behlau.

Esta Revista, Volume 19, Número 4, é composta por onze textos, sendo oito Originais de Pesquisa, um Estudo de Caso, uma Carta sobre Pesquisa e um Relato de Conferência.

Cattoni et al. (2007) apresentaram um estudo cujo objetivo foi descrever as características posturais e morfológicas do sistema estomatognático de 100 crianças respiradoras orais, de acordo com a idade. Os resultados obtidos sugerem que as crianças respiradoras orais participantes deste estudo apresentaram adaptações patológicas das características posturais e morfológicas do sistema estomatognático.

O objetivo do estudo apresentado por Silva et al. (2007) foi caracterizar os potenciais evocados auditivos de longa latência (PEALL) de 21 indivíduos com Aids, comparando-os com os resultados obtidos em indivíduos não portadores da doença. Os achados mostraram que indivíduos com Aids apresentam alterações nos PEALL, sugerindo comprometimento nas áreas corticais do sistema auditivo e mostrando a importância destes testes na avaliação audiológica destes indivíduos.

O estudo apresentado por Lamônica e Ferraz (2007) procurou verificar o desempenho de oito crianças com paralisia cerebral espástica do tipo diplégica (PC-D) quanto às habilidades psicolingüísticas. Sendo a PC-D freqüentemente relacionada com a Leucomalácia Periventricular (LPV), os resultados do estudo indicaram que as crianças com PC-D e sinais sugestivos de LPV apresentaram prejuízo nas habilidades psicolingüísticas, justificando a necessidade de estudos adicionais nesta área.

Um estudo sobre a relação entre o Distúrbio Específico de Linguagem (DEL) e a memória de curto-prazo visual foi apresentado por Menezes et al. (2007), que compararam o desempenho de 20 crianças com DEL e de 29 crianças em desenvolvimento normal de linguagem em tarefas envolvendo a memória de curto-prazo visual. De acordo com os resultados, as crianças com DEL apresentaram déficits em tarefas envolvendo memória de curto-prazo visual, sendo sugerido pelas autoras a discussão deste dado tanto para a compreensão da natureza do quadro, como para os processos de intervenção fonoaudiológica.

Lucas et al. (2007) enfatizam a importância do avaliação do processamento auditivo, tanto em termos diagnósticos quanto para a elaboração do plano terapêutico. O estudo proposto pelos autores teve o objetivo de caracterizar o padrão de normalidade da pontuação em teste de triagem de processamento auditivo, aplicado em quarenta crianças, comparando estes achados com a literatura nacional. A conclusão do estudo aponta diferenças estatisticamente significantes entre os estudos analisados, mostrando a necessidade de um trabalho que avalie um maior número de crianças de regiões geográficas e sociais diferentes.

O objetivo da pesquisa apresentada por Capellini et al. (2007) foi caracterizar o desempenho em consciência fonológica, memória operacional, leitura e escrita em probandos com dislexia e de seus familiares afetados. Os resultados indicaram que as alterações em consciência fonológica, memória de trabalho, leitura e escrita têm susceptibilidade genética que, possivelmente em interação com o meio ambiente, determinam o quadro de dislexia.

O texto de Carrillo e Ortiz (2007) procurou descrever auditiva e acusticamente a voz de 42 pacientes portadores de disartria. Os resultados apontaram que na análise auditiva, a voz rouca e a soprosa foram as qualidades vocais mais presentes, seguidas de ressonância laringo-faríngea e instabilidade na emissão. Na análise acústica, encontrou-se traçado espectrográfico instável, ausência dos harmônicos superiores e presença de ruído entre os harmônicos e tempos máximos de fonação diminuídos. As autoras concluem o estudo afirmando que a análise acústica, complementar à análise perceptual-auditiva, auxilia no diagnóstico clínico das disartrias.

Andrade e Limongi (2007) apresentam uma pesquisa que teve por objetivo o estudo qualitativo e quantitativo das diferentes formas de expressões comunicativas em crianças com Síndrome de Down e a efetividade da terapia fonoaudiológica segundo o método dialético-didático, fundamentado no método clínico de Piaget. As autoras concluíram ser possível a confirmação da eficácia do método dialético-didático como processo terapêutico, a partir da evolução do desenvolvimento da linguagem apresentada pelas crianças submetidas ao método.

O estudo de caso de Elias et al. (2007) apresenta um caso de uma criança portadora da doença cerebrovascular (DCV), uma doença rara cuja evolução a curto, médio e longo prazo, segundo as autoras, tem merecido esclarecimentos. Diante disto, o objetivo deste estudo foi descrever em uma criança com DCV as manifestações audiológicas em dois momentos distintos da evolução clínica. Os resultados demonstraram que a evolução, embora favorável, mostrou-se abaixo do esperado para a idade, e que a avaliação realizada com a criança possibilitou caracterizar seu comportamento auditivo, definir seus parâmetros e a evolução do quadro audiológico.

Andrade et al. (2007) inauguram a Seção Carta sobre Pesquisa, apresentando um estudo de avaliação dos potenciais evocados auditivos pré e pós-tratamento em indivíduos gagos, tendo como objetivo investigar a relação entre a melhora da gagueira e possíveis mudanças na atividade cerebral destes indivíduos. Os resultados sugerem que, até certo ponto, diferenças no padrão de ativação inter-hemisférica podem ser medidas no pré e pós-tratamento.

Para finalizar, Fernandes (2007) apresenta, na Seção Relatos de Conferências, um trabalho sobre o modelo educacional da Fonoaudiologia (graduação e pós-graduação) no Brasil, apresentado pela autora no 27th World Congress of the International Association of Logopedics and Phoniatrics (IALP), realizado na Dinamarca, no início de agosto deste ano.

Me despeço desejando a todos um Feliz Natal e um Ano Novo, explêndido!

Abraços,

Claudia

  • Andrade CRF, Sassi FC, Matas CG, Neves IF, Martins VO. Potenciais evocados auditivos pré e pós-tratamento em indivíduos gagos: estudo piloto. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):401-5.
  • Andrade RV, Limongi, SCO. A emergência da comunicação expressiva na criança com síndrome de Down. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):387-92.
  • Capellini SA, Padula NAMR, Santos LCA, Lourenceti MD, Carrenho EH, Ribeiro LA. Desempenho em consciência fonológica, memória operacional, leitura e escrita na dislexia familial. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):374-80.
  • Carrillo L, Ortiz KZ. Análise vocal (auditiva e acústica) nas disartrias. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):381-6.
  • Cattoni DM, Fernandes FD, Di Francesco RC, Latorre MRDO. Características do sistema estomatognático de crianças respiradoras orais: enfoque antroposcópico. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez; 19(4):347-51.
  • Elias KMIF, Santos MFC, Ciasca SM, Moura-Ribeiro MVL. Processamento auditivo em criança com doença cerebrovascular. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):393-400.
  • Fernandes FDM. Emerging issues on the education of SLPs around the globe - different models: Brazil. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):406-7.
  • Lamônica DAC, Ferraz PMDP. Leucomalácia periventricular e diplegia espástica: implicações nas habilidades psicolingüísticas. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4)357-62.
  • Lucas PA , Zacare CC, Alves Filho OC, Amantini RCB, Bevilacqua MC, Zaidan E. Scan: perfil de desempenho em crianças de sete e oito anos. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):370-3.
  • Menezes CGL, Takiuchi N, Befi-Lopes DM. Memória de curto-prazo visual em crianças com distúrbio específico de linguagem. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4):363-9.
  • Silva AC, Pinto FR, Matas CG. Potenciais evocados auditivos de longa latência em adultos com HIV/Aids. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2007 out-dez;19(4)352-6.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Jan 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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