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Editorial

EDITORIAL

Claudia Regina Furquim de Andrade

Professora Titular. Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo

Prezados Leitores:

Dentro do escopo da Fonoaudiologia Baseada em Evidências, ações como o controle da qualidade e eficácia das avaliações e dos tratamentos oferecidos à população serão, cada dia mais, acompanhados em sua fundamentação científica e em suas possibilidades de real efetividade.

O que significa esse acompanhamento? Significa que existe uma tendência mundial de aglutinação de conhecimento, ou seja, o que for produzido com base científica, será constantemente avaliado em sua procedência, método e seriedade. Esse conhecimento gerado reverte naquilo que é oferecido à população e o que for oferecido deve ter sido suficientemente avaliado.

Esse processo, hoje, tem sido direcionado pela Clinical Trials que é um diretório americano de suporte de pesquisas, que congrega pesquisadores e instituições de todo mundo; para testar o efeito experimental de drogas, equipamentos e procedimentos sobre diversas doenças e condições humanas.

O credenciamento de um ensaio clínico é gratuito e feito por meio da Web site do U.S. National Institute of Health (NHI) e foi desenvolvido pela National Library of Medicine.

Os ensaios clínicos devem ser registrados por três razões, fundamentalmente: nos EUA é uma obrigatoriedade legal; a cada dia mais será pré-requisito para publicação em qualquer periódico sério; a cada dia mais haverá a cobrança da sociedade e das instituições de fomento à pesquisa para que as informações disponíveis sobre processos de diagnóstico e tratamento de doenças sejam amplamente difundidas.

A Pró-Fono publica ensaios clínicos, exclusivamente quando acompanhados de parecer de ética da instituição onde foi realizado o estudo e com termo de consentimento para participação na pesquisa.

A Fonoaudiologia, como uma ciência autônoma, gera conhecimento a partir de pesquisas em seres humanos seguindo protocolos pré-definidos. Esses protocolos podem ser de intervenção ou observacionais. A distribuição dos vinte e sete artigos de pesquisa publicados nos três últimos números da Revista é descrita na Tabela 1.

Dos artigos de pesquisa publicados só cinco deles tratavam de procedimentos não tradicionais e referendados clinicamente. Até o momento, só uma pesquisa submetida à Revista possui o protocolo da Clinical Trials, esse artigo ainda está em processo de revisão. A partir desse Editorial, durante todo ano de 2008, os demais editoriais tratarão desse tema: ensaios clínicos em Fonoaudiologia. A partir de agosto de 2008 haverá a recomendação da Revista para que os manuscritos de pesquisa apresentem seu cadastramento no Clinical Trials.

O registro das pesquisas fonoaudiológicas na base do Clinical Trials não é obrigatório, ainda, em nenhuma parte do mundo pois, numa primeira etapa são preferenciais os registros de pesquisas com drogas e ações invasivas. Haverá o empenho da Pró-Fono Revista de Atualização Científica para que, num curto espaço de tempo, a Fonoaudiologia brasileira consolide a sua posição como ciência e participe ativamente dos processos de avaliação e controle de suas pesquisas.

Assim, a posição da Revista é:

"A Pró-Fono Revista de Atualização Científica apóia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação, a partir de 2009, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE. Para os procedimentos de cadastramento da pesquisa e do pesquisador é disponibilizado o site <http://clinicaltrials.gov/>. O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo."

Como isso, a Pró-Fono inicia uma nova fase editorial e tenho a certeza que os nossos colaboradores nos apoiarão e, conseqüentemente, apresentarão desenvolvimento, relevância social e maturidade científica.

Neste segundo Número de 2008 são apresentados dez artigos, sendo oito artigos de pesquisa, uma carta sobre pesquisa e um relato de caso.

O objetivo da pesquisa apresentada por Carvalho et al. (2008) foi verificar os aspectos metarrepresentacionais em 100 crianças de sete e oito anos, investigando as relações entre linguagem e Terapia da Mente. De acordo com os resultados obtidos, as autoras concluem que, por volta dos sete anos de idade, a maioria das crianças já adquiriu a Teoria da Mente e que a forma de interação e a presença de elementos abstratos durante a conversação podem influenciar o desempenho das crianças nas tarefas de Teoria da Mente.

O texto de Barreto e Ortiz (2008) teve como objetivo investigar se aspectos como a redução da velocidade articulatória e o acréscimo da intensidade da fala podem influenciar escores de inteligibilidade de fala. Participaram do estudo 30 falantes e 60 ouvintes. Os falantes foram gravados em três situações de fala diferentes, sendo a inteligibilidade mensurada pela transcrição realizada pelos ouvintes. Os resultados obtidos apontaram que nenhum dos aspectos pesquisados influenciaram os escores de inteligibilidade dos sujeitos avaliados, sugerindo que pistas contextuais exercem mais efeito sobre a inteligibilidade do que as informações dependentes de sinal acústico.

O estudo apresentado por Béfi-Lopes et al. (2008) teve como objetivo caracterizar a narração de histórias produzidas por crianças com distúrbio específico de linguagem (DEL) em relação ao tipo e conteúdo discursivo, comparando o desempenho destes sujeitos com crianças que apresentam desenvolvimento típico de linguagem. Os resultados indicaram que, independente do tipo de história fornecida, a dificuldade das crianças com DEL está no uso das habilidades lingüísticas necessárias na narração de histórias e não na percepção dos estados mentais dos personagens.

Um estudo sobre a queixa de tontura em idosos foi apresentado por Gonçalves et al. (2008), tendo como objetivos descrever as causas da tontura, correlacionar sintomas e alterações na prova calórica e verificar o impacto da presbivertigem nesta população. Foram revisados os prontuários de 132 pacientes com idades acima de 60 anos atendidas em um ambulatório de Otoneurologia. Os resultados indicaram que a tontura em idosos tem causa multifatorial e que a perda da função vestibular periférica pode estar relacionada à presbivertigem.

Verificar a associação entre os limiares tonais e os limiares obtidos na resposta auditiva de estado estável (RAEE) em indivíduos com diferentes graus de perda auditiva sensorial foi o objetivo do estudo apresentado por Duarte et al. (2008). Os autores sugerem que os resultados obtidos demonstraram que a RAEE é um procedimento válido para predizer o limiar tonal, principalmente nas perdas auditivas de grau mais acentuado.

Fernandes e Miilher (2008) apresentaram uma pesquisa cujo objetivo foi verificar a existência de correlações entre o perfil funcional da comunicação de crianças e adolescentes com diagnósticos psiquiátricos incluídos no espectro autístico e sua pontuação na Autistic Behavior Checklist (ABC). Participaram do estudo 117 sujeitos, crianças e adolescentes com diagnósticos incluídos no espectro autístico com idades entre 2 a 16 anos. Os resultados do estudo indicaram a existência de correlações significativas entre a pontuação na ABC e os resultados referentes ao perfil funcional da comunicação, com exceção à sub-escala de linguagem. As autoras concluem sugerindo que a aplicação da ABC não deva ser utilizada como único instrumento diagnóstico para esta população.

A pesquisa apresentada por Telles e Macedo (2008) teve como objetivo estudar, em crianças nascidas a termo, a relação entre habilidades motoras e habilidades motoras orais, desde o primeiro dia de vida até 24 meses de idade. A partir dos resultados apresentados nas diversas avaliações realizadas com as 42 crianças participantes da pesquisa, as autoras concluem que houve associação positiva entre habilidades motoras e orais, com grande variabilidade em idades entre três à 24 meses.

Jardim et al. (2008) apresentaram uma pesquisa sobre a aplicação do potencial auditivo de tronco encefálico (PEATE) como teste auxiliar na determinação de morte cerebral. O objetivo da pesquisa foi verificar a concordância entre o resultado do PEATE e o desfecho do quadro clínico em pacientes em coma Glasgow 3, por meio da análise da resposta elétrica do teste. Os resultados da pesquisa apontaram que o PEATE demonstrou ser um teste altamente específico na predição de óbito em pacientes em coma Glasgow 3, auxiliando o diagnóstico de morte cerebral.

A Carta sobre Pesquisa apresentada por Andrade et al. (2008) verificou a efetividade de um tratamento para gagueira baseado exclusivamente no uso da eletromiografia de superfície (EMGS). Os resultados apontam que, para os participantes desta pesquisa, a EMGS mostrou-se eficaz na redução da gagueira, sem a necessidade de associação com outras técnicas de promoção da fluência.

Para finalizar, Silva et al. (2008) apresentaram um relato de caso sobre a síndrome do aqueduto vestibular alargado (SAVA). O portador da síndrome é um neonato do sexo feminino que foi submetido a uma bateria de testes auditivos. De acordo com os resultados dos exames, os autores concluíram que pelos programas de triagem auditiva neonatal é possível diagnosticar precocemente a disacusia neurossensorial em portadores da SAVA.

Abraço,

Claudia

  • Andrade CRF, Sassi FC, Juste FS, Ercolin B. Modelamento da fluência com o uso da eletromiografia de superfície: estudo piloto. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):129-32.
  • Barreto SS, Ortiz KZ. Influência da velocidade articulatória e da intensidade na inteligibilidade de fala. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):87-92.
  • Béfi-Lopes DM, Bento ACP, Perissinoto J. Narração de histórias por crianças com distúrbio específico de linguagem. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):93-8.
  • Carvalho LRL,Mecca FFN, Lichtig I. Avaliação das habilidades de metarrepresentação em crianças de sete a oito anos. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):81-6.
  • Duarte JL, Alvarenga KF, Garcia TM, Costa Filho OA, Lins OG. A resposta auditiva de estado estável na avaliação auditiva: aplicação clínica. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):105-10.
  • Felipe L, Cunha LCM, Cunha FCM, Cintra MTG, Gonçalves DU. Presbivertigem como causa de tontura no idoso. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):99-104.
  • Fernandes FDM; Miilher LP. Relações entre a Autistic Behavior Checklist (ABC) e o perfil funcional da comunicação no espectro autístico. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):111-6.
  • Jardim M, Person OC, Rapoport PB. Potencial evocado auditivo de tronco encefálico como auxílio diagnóstico de morte encefálica. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):123-8.
  • Silva DPC, Montovani JC, Oliveira DT, Fioravanti MP, Tamashiro IA. Síndrome do aqueduto vestibular alargado: uma causa de disacusia neurossensorial. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):133-5.
  • Telles MS, Macedo CS. Relação entre desenvolvimento motor corporal e aquisição de habilidades orais. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 2008 abr-jun;20(2):117-22.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Jul 2008
  • Data do Fascículo
    Jun 2008
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