Marte começou cedo sua vida no mundo do crime: “Quando entrei no mundo do crime, entrei por dois motivos: primeiro porque um homem tentou pegar a minha mãe à força. Eu tinha doze anos, meu pai tinha acabado de falecer. E numa terapia recente, eu percebi que eu entrei por causa disso também. Na verdade, são três: meu pai era alcoólatra, ele teve cirrose hepática e eu nunca aceitei isso. Minha mãe não aceita, até hoje, que ele era alcoólatra. Só que ele nunca deixou faltar nada para nós. Eu era um menino quando ele foi internado, eles não tiveram o cuidado de tirar eu e meus irmãozinhos de perto. Eles não lembram porque eram muito pequenos, mas eu lembro que para levar meu pai internado colocaram camisa de força e não tiveram o cuidado de me tirar do local, de me levar para outro lugar. E ele reagindo, ele não queria ir, ele chegou a cair no chão. E eu chamava pelo meu pai e essa foi a última vez que eu vi ele vivo [...] A outra [razão] foi porque eu vi meu irmão com uma sandália havaiana de uma cor sim e uma cor não. Não estou justificando, têm pessoas que tem mais força e vencem na vida e têm pessoas que precisam de mais cuidado. [...] Me vi na obrigação de cuidar dos meus irmãos. Eu tive que ser o cara que roubava, o cara que matava, o cara que tinha poder, para cuidar dos meus irmãos. Eu tive que ser o Cristo da história! Não me arrependo! Tenho consciência dos meus erros, mas eu não tinha maturidade”.
Marte foi preso pelo estupro e homicídio de uma jovem, crimes que ele afirmava não ter cometido. O caso teve grande repercussão na mídia local e nacional, quando foi apresentada uma reportagem sobre as atividades da ACUDA na qual ele aparecia recebendo terapias. Relatou ter entrado na prisão “por baixo”(sic), pelo crime que foi acusado, e que só acabou indo parar na ACUDA (e permanecendo lá) por esse mesmo motivo. Isso porque, segundo Marte e outros presos, o crime sexual é o pior crime que se pode cometer na “lei da cadeia”, sendo que muitos sofrem abusos e são estuprados, sendo excluídos da convivência dos demais: “Eu era um bandido de ponta, e eu caí com um artigo de crime sexual com homicídio. Por baixo porque é isso. Eu não odeio, eu detesto estuprador, mas me colocaram no meio, então, eu não me encaixo, eu não aceito isso, mas eu entendo. Eu vejo que eu estou sofrendo na pele o que as mesmas pessoas aqui sofrem. Então, entrar por baixo para mim é isso. Só que eu tenho uma caminhada no mundo do crime. [...] Passei uma humilhação que eu não esperava passar”.
Marte permaneceu na ACUDA, também, porque, logo nas primeiras terapias recebidas, começou a dar-se conta que tinha sido preso por um crime que não cometera, mas que foi por este mesmo motivo (tentativa de estupro da mãe que não foi confirmada), que ele matou pela primeira vez. Isso, como ele dizia, “o pegou”. Ele sonhava constantemente com suas vítimas, chegando a vê-las na sua cela. Não sentia medo, mas isso o incomodava porque fazia rever o que tinha acontecido. Sentia arrependimento e pedia perdão a elas por todo mal que lhes causara. Revelou que isso começou a acontecer depois de ter ido para a ACUDA e que sonhava, normalmente, quando recebia Reiki.
Marte contou ter casado pela primeira vez aos 16 anos, quando foi pai. Separou-se e casou novamente (com a atual esposa), tendo mais um filho. Recebia visitas regularmente da família tanto na ACUDA quanto na prisão. |
