A Saúde Coletiva e a Criança com Comportamentos Externalizantes: uma revisão de literatura

Guimarães, André; Silva, Luís Augusto Vasconcelos da

doi:10.1590/S0103-73312021310424

Acessibilidade / Reportar erro

Brasil

Physis: Revista de Saúde Coletiva

Español English

Brasil

Español English

sumário « anterior atual seguinte »

Sumário

TEMA LIVRE • Physis 31 (04) • 2021 • https://doi.org/10.1590/S0103-73312021310424 copiar

A Saúde Coletiva e a Criança com Comportamentos Externalizantes: uma revisão de literatura

The Public Health and the Child Externalizing Behavior: a revision of literature

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Os comportamentos externalizantes dizem de um conjunto de reações impulsivas que, exteriorizadas por crianças (ou adolescentes), produzem conflitos e, em padrão repetitivo e persistente, são associados a síndromes psicopatológicas e transtornos. Este artigo tem o objetivo de revisão de literatura sobre o tema, nos três eixos disciplinares da Saúde Coletiva. Segue o método de revisão sistemática, com enfoque empírico e formato narrativo, tomando a ciência como prática social e levantando aspectos qualitativos de literatura produzida entre 2009 e 2019. Os conhecimentos produzidos trazem recortes importantes sobre o tema, porém, o panorama alcançado revela um distanciamento discursivo entre os eixos da epidemiologia e das ciências sociais em saúde, aproximados precariamente no eixo da política, planejamento e gestão em saúde. Os modos de considerar a criança nas pesquisas se dão com o silenciamento infantil, priorizando percepções dos adultos sobre as crianças. Chega-se a considerações sobre a importância de uma efetiva interdisciplinaridade e de uma pedagogia da transdisciplinaridade capaz de transcender o lugar das especialidades e de reconhecer a criança, com a valorização das suas práticas e saberes, como ator central do conhecimento acerca de si mesma.

Palavras-chave:
saúde mental; comportamento infantil; epidemiologia, ciências sociais; política de saúde

Estudo	Metodologia	Resultados/Considerações
I. Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil no Brasil: distribuição geográfica e perfil dos usuários (GARCIA; SANTOS; MACHADO, 2015GARCIA, G. Y. C; SANTOS, D. N.; MACHADO, D. B. Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil no Brasil: Distribuição geográfica e perfil dos usuários. Cad Saude Publica, v.31, n.12, p.2649-2654, 2015.).	Tipo: Ecológico de múltiplos grupos (quantit.) - busca apresentar um panorama descritivo de diferenças entre populações estudadas com base em dados secundários, comparando a frequência e distribuição de problemas entre diferentes grupos em um dado período.	De 2008 a 2012, a maior parte dos atendimentos nos CAPSi (29,7%) foram para transtornos relacionados a problemas de comportamento; por faixa etária, esses transtornos representaram 39% entre os usuários de 5 a 9 anos e 32% entre os de 10 a 14 anos. No mesmo período, 68,8% dos atendimentos gerais dos CAPSi foram para crianças e adolescentes do sexo masculino. Sinaliza a importância da integração da rede especializada com a atenção básica e da articulação intersetorial no território/comunidade.
	Âmbito/Local: Nacional, Brasil.
	Sujeitos/Objeto: Crianças e adolescentes de ambos os sexos com demandas de saúde mental, atendidos em Centro de Atenção Psicossocial - Infância e adolescência (CAPSi), estes pesquisados sobre distribuição nacional e perfil nosológico de atendimentos.
	Técnicas/Instrumentos: Consulta a dados de dois sistemas nacionais de informação de saúde: Autorizações de Pagamento de Serviços de Alta Complexidade (APAC) e Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).
II. Prevalence of Behavior Problems and Associated Factors in Preschool Children from the City of Salvador, State of Bahia, Brazil (SANTOS et al, 2016SANTOS, L. M.; QUEIRÓS, F. C.; BARRETO, M. L., SANTOS, D. N. Prevalence of Behavior Problems and Associated Factors in Preschool Children from the City of Salvador, State of Bahia, Brazil. Rev Bras Psiquiatr, v.38, n.1, p.46-52, 2016.).	Tipo: Transversal de prevalência (quantit.) - observa e descreve a relação fator-efeito para casos existentes de dada condição de saúde em um grupo populacional e em um recorte de tempo específico.	Indica-se a prevalência global de 23,5% para problemas comportamentais; prevalência de 25,2% para comportamentos externalizantes e de 9,7% para comportamentos internalizantes. A saúde mental materna é apresentada como um importante fator de risco para problemas comportamentais nas crianças, com destaque para as seguintes variáveis: transtorno de ansiedade, transtorno afetivo e transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Observa que a saúde mental materna é um importante fator de risco para problemas de comportamento em crianças em idade pré-escolar.
	Âmbito/Local: Nacional, município de Salvador, estado da Bahia.
	Sujeitos/Objeto: Crianças em idade pré-escolar pesquisadas sobre a prevalência de problemas de comportamento e fatores associados.
	Técnicas/Instrumentos: Aplicação de questionário sociodemográfico e do instrumento CBCL da bateria ASEBA (pais/cuidadores) para medir a frequência de problemas de comportamento nas crianças
III. Desigualdades Socioeconômicas e Saúde Mental Infantil (ASSIS, AVANCI, OLIVEIRA, 2009ASSIS, S. G.; AVANCI, J. Q.; OLIVEIRA, R. V. C. Desigualdades Socioeconômicas e Saúde Mental Infantil. Rev Saude Publica, v.43, sup.1, p.92-100, 2009.).	Tipo: Transversal de prevalência (quantitat.) - idem do anterior.	Crianças cujas famílias são monoparentais ou com a presença de padrasto/madrasta, com baixa escolaridade dos pais, em situação de extrema pobreza e com a cor de pele preta apresentaram mais problemas de comportamento e frágil competência social. Quanto mais desses fatores de risco estão presentes, mais cresce a prevalência das crianças com problemas de comportamento e competência social. Aponta a importância de políticas públicas e ações de prevenção e assistência.
	Âmbito/Local: Nacional, município de São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro.
	Sujeitos/objeto: Crianças estudantes da primeira série do ensino fundamental na rede pública de educação pesquisadas sobre a relação entre problemas de comportamento e desigualdades socioeconômicas.
	Técnicas/Instrumentos: Aplicação de questionário sociodemográfico e do instrumento CBCL da bateria ASEBA (pais/cuidadores) para medir a frequência de problemas de comportamento nas crianças.
IV. Amamentação e comportamentos externalizantes na infância e adolescência em uma coorte de nascimentos (POTON et al, 2017POTON, W. L.; SOARES, A. L. G.; MENEZES, A. M. B.; WEHRMEISTER, F. C.; GONÇALVES, H. Amamentação e comportamentos externalizantes na infância e adolescência em uma coorte de nascimentos. Rev Bras Psiquiatr, v.41, e142, 2017.).	Tipo: Longitudinal prospectivo ou de coorte (quantit.) - acompanha um grupo populacional durante um longo período e descreve a relação entre a exposição a fator(es) e seu(s) efeito(s).	As crianças que foram amamentadas por pelo menos 6 meses tiveram menor risco de hiperatividade aos 11 anos em comparação às amamentadas por menos de 1 mês. Porém, aos 4 e 15 anos, os comportamentos externalizantes avaliados não apareceram associados ao tempo de amamentação. Recomenda novos estudos longitudinais considerando outros fatores que possam influenciar sobre comportamentos externalizantes, como presença do pai no ambiente familiar, violência doméstica, qualidade da relação mãe-filho e maus-tratos.
	Âmbito/Local: Nacional, município de Pelotas, estado do Rio Grande do Sul.
	Sujeitos/Objeto: Sujeitos em desenvolvimento, pesquisados sobre a relação entre tempo de amamentação e ocorrência de comportamentos externalizantes na infância e adolescência.
	Técnicas/Instrumentos: Levantamento de dados da Coorte de Nascimentos de Pelotas (1993) com informações sociofamiliares no perinatal e no desenvolvimento dos sujeitos. Aplicação dos instrumentos para pais/cuidadores CBCL/ASEBA, aos 4 anos, e Strengths and Difficulties Questionnaire (SDQ), aos 11 e 15 anos, para medir a frequência de problemas de comportamento.
V. Childhood behaviour problems predict crime and violence in late adolescence: Brazilian and British birth cohort studies (MURRAY et al, 2015MURRAY, J.; MENEZES, A. M. B.; HICKMAN, M.; MAUGHAN, B.; GALLO, E. A. G.; MATIJASEVICH, A.; GONÇALVES, H.; ANSELMI, L.; ASSUNÇÃO, M. C. F.; BARROS, F. C.; VICTORA, C. G. Childhood behaviour problems predict crime and violence in late adolescence: Brazilian and British birth cohort studies. Soc Psychiatry Epidemiol, v.50, p.579-589, 2015.).	Tipo: Longitudinal prospectivo ou de coorte (quantit.) - idem do anterior.	A relação de problemas comportamentais na infância com crimes violentos na juventude foi mais prevalente no Brasil e, com crimes não-violentos, foram mais prevalentes na Inglaterra. As taxas de prevalência foram maiores para o sexo masculino. Problemas de comportamento e hiperatividade previram crimes não-violentos e violentos de modo semelhante nos dois países, com efeitos parcialmente explicados por fatores ambientais e de saúde perinatal. Sugere programas de prevenção à criminalidade e violência com alvo nos comportamentos infantis e riscos associados, tanto em países de baixa renda como de alta renda.
	Âmbito/Local: Internacional - Brasil e Inglaterra.
	Sujeitos/Objeto: Sujeitos em desenvolvimento pesquisados sobre a relação entre fatores ambientais, problemas de comportamento na infância e criminalidade na juventude.
	Técnicas/Instrumentos: Comparação dedados entre os estudos de coorte de nascimentos de Pelotas-RS, Brasil (1993) e de Avon, Inglaterra (1991), considerando fatores sociofamiliares no perinatal e no desenvolvimento dos sujeitos, incluindo crimes parentais. Aplicação do instrumento SDQ (pais/cuidadores) para medir a frequência de problemas de comportamento, aos 11 anos. Realização de entrevista de autorrelato, com vistas a crimes, aos 18 anos.

Estudo	Metodologia	Resultados/Considerações
XI. Articulação entre Serviços Públicos de Saúde nos Cuidados Voltados à Saúde Mental Infantojuvenil (DELFINI; REIS, 2012DELFINI, P. S. S.; REIS, A. O. A. Articulação entre Serviços Públicos de Saúde nos Cuidados Voltados à Saúde Mental Infanto-juvenil. Cad Saude Publica, v.28, n.2, p.357-366, 2012.).	Tipo: Hermenêutico, referenciado em Habermas (qualitat.) - busca a compreensão interpretativa de um tema ou objeto a partir da confluência dialética entre pesquisador e sujeito/objeto pesquisado.	A escassez de recursos humanos, a cobrança por produtividade e a ausência de capacitação dos profissionais da ESF para trabalhar com a saúde mental são obstáculos para uma articulação efetiva entre os serviços; as práticas em destaque na articulação entre as equipes da ESF e do CAPSi são o encaminhamento de casos, o apoio matricial e a parceria para casos considerados pertinentes, porém com características de desresponsabilização, prevalência do discurso biomédico e fragmentação dos cuidados. Enfatiza os problemas comuns nos dois serviços e indica a necessidades de mudanças.
	Âmbito/Local: Nacional, município de São Paulo, estado de São Paulo.
	Sujeitos/objeto: Gerentes de unidades da Estratégia Saúde da Família (ESF) e CAPSi pesquisados sobre os modos de articulação entre suas equipes de trabalhadores.
	Técnicas/Instrumentos: Entrevistas semiestruturadas com dados interpretados a partir de análise de conteúdo.
XII. Saúde Mental Infantil na Atenção Primária à Saúde: discursos de profissionais médicos (GOMES et al, 2015GOMES, F. M. A.; CINTRA, A. M. O.; RICAS, J..; VECCHIA, M. D. Saúde Mental Infantil na Atenção Primária à Saúde: discursos de profissionais médicos. Saude Soc, v.24, n.1, p.244-258, 2015.).	Tipo: De significação referenciado na Psicologia Sócio-Histórica (qualitat.) - busca apreender e interpretar os sentidos e significados sobre um tema como produto de atos de pensamento.	Núcleos de significação: (1) há limitado comprometimento com o cuidado das condições inerentes à saúde mental infantil; (2) a “família desestruturada” seria a principal determinante de psicopatologias da criança; (3) a responsabilidade pela saúde mental da criança é atribuída sobretudo à mãe; (4) o parecer do “especialista” e a prescrição de medicamento são os atos mais esperados em relação às demandas psicopatológicas da criança; (5) há fragmentação das ações de cuidado e responsabilidades no tratamento da criança, com a lógica de encaminhamentos. Aponta o cuidado integral como direito da criança; a importância da escuta dos cuidadores e da concentração de esforços para ações intersetoriais e formação dos profissionais.
	Âmbito/Local: Nacional, município de Divinópolis, estado de Minas Gerais.
	Sujeitos/Objeto: Médicos da Atenção Primária vinculados à ESF e pediatras de Unidades Básicas não vinculados à ESF, pesquisados sobre sentidos e significados produzidos acerca da saúde mental infantil.
	Técnicas/Instrumentos: Entrevistas semiestruturadas analisadas a partir de núcleos de significação.
XIII. Avaliação do Atributo Integralidade na Atenção à Saúde da Criança (DINIZA et al, 2016DINIZA, S. G. M.; DAMASCENO, S. S.; COUTINHO, S. E. D.; TOSO, B. R. G. O.; COLLET N. Avaliação do Atributo Integralidade na Atenção à Saúde da Criança. Rev Gaucha Enferm, v.37, n.4, p.1-8, 2016.).	Tipo: Avaliativo transversal (quantitat.) - busca medir um ou mais aspectos específicos, os quais se espera observar em um dado contexto.	O atributo integralidade, que se refere a ações conjugadas direcionadas à materialização da saúde, de modo a refletir nas ações profissionais diante das peculiaridades do usuário, não obteve escores satisfatórios nas dimensões de serviços disponíveis e serviços prestados. O resultado representa extensão fora da meta para um serviço de Atenção Primária à Saúde. Sugere a necessidade de reestruturação dos serviços, com a busca de articulações intersetoriais na oferta da atenção à saúde da criança e a valorização das relações entre profissionais e usuários a fim de promover uma dimensão cuidadora efetiva e integral.
	Âmbito/Local: Nacional, município de João Pessoa, estado da Paraíba.
	Sujeitos/Objeto: Pais/cuidadores de crianças atendidas na Atenção Primária com ESF, pesquisados sobre o atributo integralidade, que inclui a saúde mental.
	Técnicas/Instrumentos: Aplicação do instrumento Primary Care Assessment Tool (Instrumento de Avaliação da Atenção Primária) PCATool-Brasil, analisado com ênfase no atributo integralidade.
XIV. Estratégia Educacional em Saúde Mental para Médicos da Atenção Básica (PEREIRA; ANDRADE, 2018PEREIRA, A. A.; ANDRADE, D. C. L. Estratégia Educacional em Saúde Mental para Médicos da Atenção Básica. Rev Bras Educ Med, v.42, n.1, p.4-12, 2018.).	Tipo: Avaliativo Educacional (qualitat./quantitat.) - busca traçar um conjunto de aspectos qualitativos e/ou quantitativos referentes a determinado tema ou objeto educacional.	Os problemas de comportamento na infância e adolescência são tema prioritário para 53% dos médicos e constam no programa do curso da proposta educativa produzida no estudo, com objetivos de: diagnóstico precoce; promoção, prevenção e reabilitação psicossocial; prescrição de tratamento psicofarmacológico ou não; encaminhamento para técnicos da equipe e/ou para serviços especializados. Alguns problemas apontados na Atenção Básica são a falta de protocolos, dificuldades no trabalho em comunidade e no engajamento dos familiares de pacientes. Os docentes apontaram a baixa qualidade do ensino de saúde mental na formação geral médica. Propõe que os trabalhadores médicos da atenção básica participem da formulação de planos educacionais em saúde mental.
	Âmbito/Local: Nacional, município de Sobral, estado do Ceará.
	Sujeitos/Objeto: Médicos trabalhadores em Unidades Básicas de Saúde e docentes de Escolas de Medicina pesquisados acerca da estratégia educacional em saúde mental para médicos da Atenção Básica.
	Técnicas/Instrumentos: Revisão narrativa de literatura, aplicação de questionários e grupos focais, com dados interpretados via Epi InfoTM - programa estatístico (quantit.) e análise de conteúdo (qualit.).
XV. A Pesquisa em Prevenção em Saúde Mental no Brasil: A perspectiva de especialistas (ABREU; MURTA, 2018ABREU, S.; MURTA, S. G. A Pesquisa em Prevenção em Saúde Mental no Brasil: A perspectiva de especialistas. Psic Teor Pesq, v.34, e34413, 2018.).	Tipo: Descritivo (qualitat.) - busca traçar um conjunto de características e aspectos qualitativos referentes a determinado tema ou objeto.	Indica produção reduzida, mas crescente, sobre programas de promoção da saúde mental e desenvolvimento positivo para crianças. Indica que a produção de conhecimento sobre prevenção em saúde mental pode ser beneficiado por: a)desenvolvimento de múltiplas competências teóricas e metodológicas; b)interlocução entre campos de conhecimento; c) maior aproximação entre ensino, pesquisa e extensão, desde a graduação; d)diálogo da academia com poderes públicos para formulação de políticas em saúde mental. Sugere novos estudos que incluam gestores, formadores e trabalhadores de linha de frente na prevenção em saúde mental. Ressalta a importância de constituir planos de ação para enriquecer a produção de conhecimento sobre o tema.
	Âmbito/Local: Nacional, Brasil.
	Sujeitos/Objeto: Pesquisadores/especialistas pesquisados sobre a produção de conhecimento acerca da Prevenção em Saúde Mental.
	Técnicas/Instrumentos: Revisão narrativa de literatura e consultas aos pesquisadores/especialistas a partir da técnica Delphi, com contatos via internet e aplicação remota de instrumentos de autorrelato.

PHYSIS - Revista de Saúde Coletiva Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro - UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524 - sala 6013-E- Maracanã. 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil, Tel.: (21) 2334-0504 - ramal 268, Web: https://www.ims.uerj.br/publicacoes/physis/ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: publicacoes@ims.uerj.br

Acompanhe os números deste periódico no seu leitor de RSS

Estudo	Metodologia	Resultados/Considerações
VI. The Impending Globalization of ADHD: notes on the expansion and growth of a medicalized disorder (CONRAD; BERGEY, 2014CONRAD, P.; BERGEY, M. The Impending Globalization of ADHD: notes on the expansion and growth of a medicalized disorder. Soc Sci Med, v.122, p.31-43, 2014.).	Tipo: Revisão sócio-histórica (qualitat.) - busca recuperar os processos de construção social de um tema, categoria conceitual, fenômeno ou acontecimento no curso da história, possibilitando a apresentação e discussão de panoramas qualitativos.	A expansão da medicalização do déficit de atenção e hiperatividade para o Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Brasil se deu com algumas diferenças, porém, com a influência fundamental da psiquiatria ocidental representada no DSM e no CID, das indústrias farmacêuticas multinacionais e da internet, que disponibiliza testes de verificação de diagnóstico, bem como páginas de grupos de apoio e associações de “portadores de TDAH” e pais/cuidadores, que atuam gerando bioidentidades e compartilhamento de soluções. Indica que a globalização do TDAH pode potencializar a medicalização de outras condições de saúde mental.
	Âmbito/Local: Internacional, com ênfase nos EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Itália e Brasil.
	Sujeitos/Objeto: O TDAH, pesquisado acerca da expansão do seu diagnóstico e tratamento (medicalização) para o contexto global a partir dos EUA.
	Técnicas/Instrumentos: Análise documental referente a dados oficiais e sítios da internet e revisão de literatura com ênfase histórica.
VII. As Controvérsias Sócio-Históricas das Práticas Farmacológicas com o Metilfenidato (DOMITROVIC; CALIMAN, 2017DOMITROVIC, N.; CALIMAN, L. V. As Controvérsias Sócio-Históricas das Práticas Farmacológicas com o Metilfenidato. Psicol Soc, v.11, p.1-12, 2017).	Tipo: Revisão sócio-histórica (qualitativo) - idem do anterior.	O alto consumo do metilfenidato ancora-se à ampliação do diagnóstico do TDAH, defendida como avanço técnico frente à tese de elevado índice de sintomáticos e, rechaçada sob a tese de banalização do diagnóstico medicalizante em detrimento da atenção a questões socioculturais inerentes ao TDAH. Os discursos científicos acerca do metilfenidato refletem em debates políticos e sociais, expressando como dados controversos podem ser tomados enquanto “problemas”. Enfatiza a necessidade de sustentar discussões críticas com vistas ao progresso das políticas públicas em saúde mental para a infância e adolescência.
	Âmbito/Local: Internacional, com ênfase nos EUA e Brasil.
	Sujeitos/Objeto: O metilfenidato pesquisado acerca das práticas e sentidos produzidos no meio científico em torno da sua importância e crescente utilização como psicoestimulante no tratamento do TDAH.
	Técnicas/Instrumentos: Análise de discurso, de referencial foucaultiano, da literatura científica acerca do metilfenidato, desde a sua emergência histórica como problema sociotécnico.
VIII. Estudo sobre o Processo de Medicalização de Crianças no Campo da Saúde Mental (SANCHES; AMARANTE, 2014SANCHES, V. N. L.; AMARANTE, P. D. C. Estudo sobre o Processo de Medicalização de Crianças no Campo da Saúde Mental. Saude Debate, v.38, n.102, p.506-514, 2014.).	Tipo: Documental (qualitativo) - busca compreender as práticas relativas a determinado fenômeno ou objeto a partir de registros feitos em documentos.	É confirmada a hipótese de que o discurso biomédico e processos de medicalização tomam parte do cotidiano da vida das crianças brasileiras, de modo a se tratar como doenças questões comportamentais e/ou relacionais inerentes ao seu desenvolvimento. A queixa escolar figurou como principal fator de encaminhamento das crianças para o serviço de saúde. Evoca o potencial positivo da busca por soluções comprometidas com o amplo diálogo no cotidiano das relações comunitárias, em vez de se delegar a administração de determinados problemas a “especialistas”.
	Âmbito/Local: Nacional, município do Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro.
	Sujeitos/objeto: Crianças atendidas no serviço de saúde mental do Centro de Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz, estudadas sobre como suas práticas no dia-dia passam a ser entendidas como problemas médicos.
	Técnicas/Instrumentos: Análise do discurso foucaultiana de prontuários de atendimento.
IX. Sentidos Construídos por Educadores sobre Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade e Implicações para a Prática Educativa (LORENZI; RISSATO; SILVA, 2012LORENZI, C. G.; RISSATO, G. B.; SILVA, S. P. Sentidos Construídos por Educadores sobre Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade e Implicações para a Prática Educativa. Saude Transform Soc, v.3, n.2, p.84-95, 2012.).	Tipo: Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano (qualitat.) - busca compreender a partir das práticas do dia-dia, como são constituídas as condições de possibilidade para realidades diversas acerca de um tema ou objeto.	Os sentidos produzidos pelas professoras transitam entre a culpabilização dos pais/cuidadores pelos comportamentos das crianças e a adesão ao discurso biomédico na medicalização do comportamento infantil. Aponta fragilidade na segurança das professoras em lidar com a questão do TDAH, o que atrapalha as práticas educativas. Defende a importância de se construir espaços de diálogo entre professores para a reflexão crítica sobre o tema, de modo a transformar práticas educativas e diminuir a adesão ao discurso e às soluções biomédicas.
	Âmbito/Local: Nacional, município de pequeno porte no estado de São Paulo.
	Sujeitos/Objeto: Professores do Ensino Fundamental I, pesquisados sobre os sentidos produzidos acerca de sintomas e diagnóstico de TDAH em crianças estudantes.
	Técnicas/Instrumentos: Análise de entrevistas semiestruturadas individuais, com ênfase na associação de ideias para a produção de sentidos sobre o TDAH.
X. Comportamentos infantis problemáticos, perturbadores e não conformes: Conceitos e demandas de cuidado relacionados à agitação em crianças em Santos e Campinas, Brasil (NAKAMURA; BARBARINI, 2019NAKAMURA, E.; BARBARINI, T. Comportamentos infantis problemáticos, perturbadores e não conformes: Conceitos e demandas de cuidado relacionados à agitação em crianças em Santos e Campinas, Brasil. Saude Soc, v.28, n. 1, p.12-26, 2019.).	Tipo: De inspiração etnográfica (qualitat.) - busca o contato direto com realidades vividas no cotidiano dos sujeitos/objetos de estudo, os discursos circulantes e as instituições relacionadas.	Entendida como categoria multidimensional e vaga, associada a classes diagnósticas, como o TDAH, a “agitação” foi tomada como questão central em casos encaminhados aos SSMI. Observa-se cruzamento entre conceitos científicos e do senso comum de agitação, que implicam a banalização do diagnóstico e o estigma de disfunção biopisicológica do comportamento infantil, a partir de modelos adultos. Conclui-se destacando a necessidade de aprofundar estudos que privilegiem a visão das crianças sobre suas relações com os adultos, valorizando seus posicionamentos e sua formação identitária.
	Âmbito/Local: Nacional, municípios de Santos e Campinas, estado de São Paulo.
	Sujeitos/Objeto: Crianças de 3 a 12 anos, com problemas de comportamento, atendidas em três Serviços de Saúde Mental Infantil (SSMI), pesquisadas sobre os conceitos e demandas de cuidado relacionados às síndromes psicopatológicas atribuídas.
	Técnicas/Instrumentos: Análise documental de prontuários de atendimento, observação participante e análise de discurso a partir de entrevistas semiestruturadas individuais com profissionais de saúde, familiares e crianças.