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A TEOLOGIA FEMINISTA LATINO-AMERICANA: NOVOS SUJEITOS E NOVAS POSTURAS EPISTEMOLÓGICAS

Latin American Feminist Theology: New Subjects and New Epistemological Postures

RESUMO

A produção teológica feminista latino-americana foi inicialmente desenvolvida a partir das vivências das mulheres, sobretudo, de suas experiências de invisibilidade, exploração, exclusão e empobrecimento e situada no horizonte da teologia da libertação. Os objetivos foram ampliados, à medida em que a sensibilidade e atenção ao cotidiano confrontam-se com o sexismo, o racismo, o fundamentalismo e o conservadorismo. O objetivo deste artigo é destacar deslocamentos epistemológicos que caracterizam a produção teológica realizada por mulheres nesse contexto, além de identificar as características dessa produção e sua contribuição para o protagonismo das mulheres no campo teológico. A participação delas na teologia tem contribuído para evidenciar a necessidade de justiça social de gênero e fortalecer a luta contra formas de discriminação e opressão presentes nas práticas religiosas e na sociedade em geral. A mulher como sujeito de produção teológica, no contexto da América Latina, tem ampliado seu método diante dos desafios que os novos contornos vivenciais tecem.

PALAVRAS-CHAVE
Teologia; Gênero; Mulheres

ABSTRACT

Latin American feminist theological production was initially developed from the experiences of women, especially their experiences of invisibility, exploitation, exclusion and impoverishment and situated within the horizon of liberation theology. The objectives have been broadened, as sensitivity and attention to everyday life are confronted with sexism, racism, fundamentalism and conservatism. The aim of this article is to highlight epistemological shifts that characterize theological production carried out by women in this context, in addition to identifying the characteristics of this production and its contribution to women’s protagonism in the theological field. Their participation in theology has contributed to highlighting the need for gender social justice and strengthening the fight against forms of discrimination and oppression present in religious practices and in society in general. Women as subjects of theological production, in the context of Latin America, have expanded their method in the face of the challenges posed by new experiential contours.

KEY WORDS
Thelogy; Gender; Women

Introdução

E DEUS ME FEZ MULHER E Deus me fez mulher, De cabelos longos, Olhos, Nariz e boca de mulher. E rugas E suaves cavidades. E me talhou por dentro, Fez de mim uma incubadora de seres humanos. Teceu delicadamente meus nervos E balanceou com cuidado O número dos meus hormônios. Compôs o meu sangue E me injetou com ele Para que irrigasse Todo meu corpo; Nasceram assim as ideias, Os sonhos, o instinto... Tudo criou suavemente A marteladas de sopros E perfurações de amor, As mil e uma coisas que me tornam mulher todos os dias Pelas que me levanto orgulhosa Todas as manhãs E bendigo meu sexo. Gioconda Belli (escritora feminista nicaraguense)

A reflexão teológica feminista latino-americana, desde seus inícios, tem feito alguns deslocamentos epistemológicos significativos, o que tem possibilitado às mulheres, inclusive dos setores populares, a serem novos sujeitos teológicos. Do ponto de vista acadêmico, a teologia esteve historicamente num pedestal e distanciada de outras áreas de conhecimento. Ela tem sido caracterizada historicamente como um saber dogmático imutável, indiscutível e eterno. Somente no limiar do século passado, novos contextos culturais e científicos levaram a teologia a uma abertura para o diálogo, sobretudo com as ciências humanas, o que possibilitou deslocamentos epistemológicos relevantes para recuperar a atividade profética do labor teológico. Lembramos aqui, especialmente, o surgimento da proposta revolucionária de produção teológica da Teologia da Libertação.

Na esteira dessas mudanças epistemológicas, é que as teólogas sentiram a necessidade de outros deslocamentos capazes de revelar o real lugar destinado às mulheres na Igreja. A perspectiva de gênero, que nasce das ciências sociais, foi reveladora do sexismo presente nas instituições e identificadora dos processos históricos e religiosos de fortalecimento do patriarcado responsável pela marginalização e invisibilidade das mulheres na Igreja.

Convém ressaltar que a perspectiva de gênero para a teologia feminista latino-americana, de acordo com Tomita (2010, p. 4)TOMITA, L. E. A teologia feminista libertadora: deslocamentos epistemológicos. Fazendo Gênro 9. Diáspora, Diversidades, Deslocamentos. Agosto de 2010. Disponível em: https://www.fg2010.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1278455084_ARQUIVO_FAZENDOGENERO.final.pdf. Acesso em: 10 out. 2023.
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, “contribuiu para revelar a experiência subalterna das mulheres nas religiões cristãs”. Embora se reconheça que a Teologia da Libertação já havia apontado a experiência humana como locus teológico, para a reflexão teológica feminista, havia a necessidade de resgatar a experiência das mulheres como o elemento epistemológico por excelência, uma vez que ela foi excluída pela teologia clássica e não era contemplada na própria Teologia da Libertação.

O presente artigo tem como objetivo destacar alguns deslocamentos epistemológicos que deram rosto à produção teológica feita por mulheres na América Latina, bem como identificar as características dessa produção e sua contribuição para o protagonismo das mulheres na produção teológica.

1 Ciência teológica e consciência feminista na Igreja

O despontar dessa ciência teológica deu-se pela abertura que a Igreja Católica assume como compromisso no Concílio Vaticano II. As inovações teológicas e as práticas introduzidas por esse Concílio e também a forma como ele foi recepcionado pelas mulheres na comunidade cristã católica foi decisivo para que a teologia pudesse contar com um novo sujeito nessa produção até então indiscutivelmente atividade dos homens, sobretudo, do clero.

Recordemos que oficialmente esse magno evento veio rejeitar as discriminações baseadas no sexo, segundo Gaudium et Spes, n. 29 (GS), afirmando a igualdade de gênero no mundo do trabalho (GS, n. 24), na cultura (GS, n. 60) e na família (GS, n. 49). Além da Constituição dogmática Gaudium et Spes (GS), o decreto Apostolicam Actuositatem (AA) reconhece o significativo trabalho das mulheres na pastoral e no apostolado na Igreja (AA, n. 9).

Nesse sentido, como analisa Maria Clara Bingemer (2020, p. 115)BINGEMER, M. C. Algumas tendências teológicas na América Latina. Ephata, Lisboa, v. 2, n. 2, p. 111-143, 30 out. 2020. Disponível em: https://revistas.ucp.pt/index.php/ephata/article/view/9536Acesso em: Acesso em: 10 out. 2023.
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, teóloga brasileira, tal evento possibilitou que a voz feminina fosse paulatinamente ecoando nos espaços eclesiais. Mas a autora lembra que a teologia feita por mulheres, no contexto latino-americano, foi sempre um fazer teológico inseparável da opção preferencial pelos pobres, distanciando-se das posturas teológicas feministas dos contextos continentais do Hemisfério Norte com uma metodologia caracterizada por sua interdisciplinaridade e ecumenicidade.

Desde seu início, a teologia feminista soube bem recorrer à categoria de gênero, fortemente explorada nas ciências sociais e que tem sido fundamental para analisar as questões das desigualdades de gênero no interior da tradição teológica ocidental. Ela vem sendo identificada como uma teoria crítica da libertação. Isso se deve ao fato de se desenvolver como uma crítica às estruturas patriarcais e opressivas fortemente implantadas tanto na teologia quanto na sociedade latino-americana.

Essa produção teológica tem se pautado no diálogo com as culturas locais, procurando fazer das experiências das mulheres a base para a reflexão e buscando um discurso teológico que faça sentido, seja transformador e libertador. Esta perspectiva apresenta diferentes abordagens, enfoques e saberes que, geralmente, compartilham um compromisso com a equidade de gênero, a justiça social. Desafia ainda as normas patriarcais e contribui para uma compreensão mais inclusiva e crítica da teologia e da religião na América Latina.

Observa-se, na cultura e nas diversas confissões religiosas, que a participação das mulheres tem sido expressiva. Contudo, no que se refere à sua contribuição nos diversos espaços eclesiais, econômicos, sociais e familiares, permanece aquém do esperado no reconhecimento de suas inserções. Torna-se cada vez mais injustificável a dominação do homem sobre a mulher ou ainda sobre a natureza. Vale ressaltar que a racionalidade iluminista e científica não conseguiu fazer face às “trevas medievais” quando se trata do progresso das relações de gênero (CANDIOTTO, 2020CANDIOTTO, J. Direitos humanos, teologia e relações de gênero. Estudos Teológicos, São Leopoldo, v. 60, n. 1, p. 55-68, jan./jun. 2020., p. 60). Ao contrário, tanto o domínio científico da natureza como o domínio do homem sobre a mulher são resquícios do predomínio do imaginário social religioso anterior aos séculos XVII e XVIII. Capra (2006, p. 38)CAPRA, F. O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente. São Paulo: Cultrix, 2006. contribui para compreendermos o porquê da dominação patriarcal:

A noção do homem como dominador da natureza e da mulher e a crença no papel superior da mente racional foi apoiada e encorajada pela tradição judaico-cristã, que adere à imagem de um deus masculino, personificação da razão suprema e fonte do poder último, que governa o mundo a partir do alto e lhe impõe sua lei divina. As leis da natureza investigadas pelos cientistas eram vistas como reflexos dessa lei divina, originada no espírito de Deus.

Nas últimas décadas, sobretudo com o advento dos movimentos de mulheres e as lutas feministas, cresce a consciência de que mulheres e homens reúnem-se na busca de relações diversas em sociedades harmônicas, equitativas e inclusivas. Essa nova consciência conduz à possibilidade da identificação dos desequilíbrios que foram construídos ao longo da história, atingindo diretamente as mulheres; permite ainda realizar mudanças na forma de refletir, nas atitudes e maneiras de se comportar nos diversos seguimentos da sociedade.

De acordo com o Dicionário crítico do feminismo a ideia da relação estreita entre as ciências e o gênero “implica que a revolução do conhecimento científico foi moldada pela existência de uma dicotomia fundamental entre o masculino e o feminino na sociedade” (HIRATA, et. al., 2009HIRATA, H; et al. (Orgs.). Dicionário Crítico do feminismo. São Paulo: Unesp, 2009., p.40). O fato a considerar é que, na maior parte da história, a pesquisa foi realizada por homens com visão de mundo ocidental e membros das classes dominantes.

O movimento feminista trouxe ressignificações à ciência, impactando-a. Como aponta Shiebinger (apud FREIRE, 2018FREIRE, A. Perspectivas de gênero nos estudos da Religião. Interações, Belo Horizonte, v. 13, n. 23, p. 115-131, 19 set. 2018. Disponível em: https://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/view/17658. Acesso em: 10 ago. 2023.
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, p. 116), “a ciência, por ser uma atividade humana, deve servir a todos, inclusive a mulheres e a feministas” (2001, p. 32). Com a participação delas neste campo alterou-se a maneira de fazer ciência, inclusive os temas a serem pesquisados foram outros.

Nas últimas décadas, a teologia tecida pelas mulheres tem sido importante para contribuir com nova consciência a respeito dos papéis sociais atribuídos ao masculino e ao feminino. O aumento das mulheres como produtoras das ciências, especificamente, enriquecendo a reflexão teológica cristã, minimiza o exercício do poder patriarcal na sociedade, nas universidades e na Igreja. O Concílio Vaticano II reconhecia nos fiéis, “tanto ao clero como aos leigos, uma justa liberdade de investigar, de pensar e de manifestar a sua opinião” (GS, n. 62).

A partir do 1º Encontro Latino-americano de Mulheres Teólogas, que aconteceu em Bogotá, Colômbia, em 1981, a produção teológica buscada pelas teólogas não era uma “uma teologia vindicativa ou excludente, mas [...] luta contra o machismo [...] no sentido de recriar uma teologia onde as mulheres e homens pudessem se expressar e em igualdade serem valorizados” (TEPEDINO, 1996TEPEDINO, A. M. Mulher e teologia na América Latina: perspectiva histórica. In: BIDEGAIN, A. M. (Org.). Mulheres: autonomia e controle religioso na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1996. , p. 201). Em tempos de sinodalidade, afirmamos com Maria Clara Bingemer: “o fato é que hoje é impossível fazer teologia em nosso continente sem levar em consideração a contribuição feminina” (2016, p. 73).

É inconteste que, no aspecto missionário da Igreja Católica, as mulheres são protagonistas da evangelização nas Comunidades Eclesiais de Base, na catequese, nas pastorais, na educação etc. (FERRARO, 2012FERRARO, A. R. Quantidade e qualidade na pesquisa em educação, na perspectiva da dialética marxista. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pp/a/8rGTrz3HTMFpBjKGkQqKQbG/?format=pdf⟨=pt. Acesso em: 1 out. 2023.
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, p. 145). Por isso, posicionar as mulheres, de maneira inferior, é injustificável e incompreensível, o que ainda contribuiu para manter as assimetrias eclesiais até hoje. A teologia feminista constitui expressão importante do inconformismo, diante daquelas práticas de poder que desautorizam o Evangelho, quando desrespeitam as relações de gênero. Retomar o caráter interativo e positivo de tais relações envolve reconhecer o percurso histórico das mulheres na prática eclesial, bem como sua expressão autêntica em relação aos princípios do Evangelho.

Ao reconhecermos a legitimação religiosa de poder, vislumbramos a possibilidade de alterar o rosto da teologia. O que torna possível essa transformação é a fonte própria da Teologia, a Revelação. Outras perspectivas são possíveis e factíveis sem prescindir de sua fonte fundamental, a Bíblia.

A teologia feminista vem descobrindo seu jeito próprio de fazer teologia. Ela utiliza uma metodologia indutiva e experiencial e, neste ponto, coincide com a Teologia da Libertação e o movimento feminista. Talvez possamos afirmar que a teologia feminista formulou uma crítica à três aspectos da racionalidade: a separação da razão do sentimento e da experiência, a consideração do conteúdo à margem da forma e a teoria refletida na prática, o que resulta na práxis. Assim, esta maneira de refletir coloca novos acenos para a racionalidade como a narração, o canto, a arte, dentre outras, antes identificadas apenas com a teoria, aproximando-se de todas as maneiras contemporâneas da teologia política e da libertação, unindo a prática e a teoria, culminando em uma práxis, o que, talvez, dificultou um pouco a aceitação desta teologia no mundo patriarcal.

Para Sílvia Regina Silva (2014, p. 143)SILVA, S. Amérique latine: théorie du «genre» et réflexion théologique. La pensée, v. 3, n. 379, p. 139-144, 2014., reconhecer a subjetividade como parte integrante da formação do conhecimento é restabelecer o papel do corpo, tanto feminino quanto masculino, no contexto da atividade teológica. Esta concepção desmistifica a ideia de um conhecimento universal e neutro, desvinculado de corporalidade. Assim, para teologia feminista latino-americana, o corpo está presente em diferentes contextos e reage à suas interpelações, como por exemplo, a violência sofrida por mulheres. Nesse caso, a reflexão teológica se expressa no corpo que se rebela diante de uma teologia baseada no sacrifício. Há uma recusa da teologia feminista defender o sofrimento, sobretudo, dos vulneráveis como caminho de salvação. Não se pode sacralizar a experiência de dor e morte quando estas são resultado de injustiças, opressão e discriminação.

Portanto, a reflexão teológica feminista contribui para superar a ideia cristã da submissão e da autonegação, recuperando a essência do cristianismo pautada em relações de fraternidade e sororidade. Assim expressa Ana Maria Tepedino,

O ponto de partida de uma Teologia feminista não seria somente a experiência de opressão, a experiência de Deus na luta pela justiça, senão também a práxis do carinho, quer dizer, criar relações fraternais que são as que deveriam existir entre homens e mulheres, entre anciãos, jovens e crianças, enfim, entre todas as pessoas

(1998, p. 61).

É preciso considerar que nas últimas décadas, foi produzido um considerável volume de elaborações teóricas e analíticas que versam sobre as relações de gênero e sua vinculação com práticas e movimentos feministas. E inegável que, nesse acervo, a contribuição da teologia feminista ocupa espaço amplo ao lado de reflexões análogas nas ciências humanas e sociais.

2 Os deslocamentos epistemológicos da produção teológica latino-americana feminista

Destacamos, inicialmente, que existe uma pluralidade epistemológica feminista. Segundo LonginoLONGINO, H. E. Epistemologia feminista. In: GRECO, J.; SOSA, E. (Org.). Compêndio de epistemologia. São Paulo: Loyola, 2008.,

Não existe uma epistemologia feminista única. O que existe é uma superabundância de ideias, aproximações e argumentos que têm em comum somente o comprometimento de seus autores com a exposição e a reversão das mulheres e do preconceito de gênero das fórmulas tradicionais

(2008, p. 513).

Neste sentido, a teologia feminista busca reconstruir em um contradiscurso ou nova linguagem, uma ciência a partir de novas vozes ou outros sujeitos. Para Sardenberg (2007, p. 10)SARDENBERG, C. M. B. Da Crítica Feminista à Ciência a uma Ciência Feminista? Estudos Feministas, v. 11, p. 1-35, 2007. Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/6875. Acesso em: 10 out. 2023.
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, “uma epistemologia feminista deve se constituir, necessariamente, através de um processo de mão dupla, ou seja, de um processo tanto de desconstrução como de construção”.

Segundo Luiza Tomita (2010, p. 3)TOMITA, L. E. A teologia feminista libertadora: deslocamentos epistemológicos. Fazendo Gênro 9. Diáspora, Diversidades, Deslocamentos. Agosto de 2010. Disponível em: https://www.fg2010.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/1278455084_ARQUIVO_FAZENDOGENERO.final.pdf. Acesso em: 10 out. 2023.
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, teóloga feminista brasileira, as teólogas da América Latina, desde os anos 80 escrevem “como um setor da própria teologia da libertação, fazendo uma opção pelos pobres. As mulheres eram um dos segmentos dos grupos marginalizados e se consideraram, a princípio, vítimas de um sistema econômico-político que gerava assimetrias”. Em seguida, as mulheres passaram a buscar as heroínas da Bíblia, tanto no Antigo como no Novo Testamento. E, logo, de acordo com Tomita (2012 p. 4)TOMITA, L. E. A teologia feminista libertadora: deslocamentos epistemológicos. Fazendo Gênero, 2012. v. 9., veio a autocrítica. Compreenderam que “a história das mulheres contemporâneas deveria ser interpretada de uma forma nova, reconstruída, enfim, com categorias epistemológicas críticas”.

Para refletir sobre a teologia feminista latino-americana, ou melhor, teologias, porque, ao longo do continente, há que considerar os diferentes e amplos enfoques que vão consolidando-se entre as teologias, os desdobramentos contextuais que estão sendo realizados tanto em perspectiva negra como indígena. Recordemos que esses países foram explorados e passaram por processos largos de dominação colonialista, principalmente, por parte de portugueses e espanhóis. Ao longo desse percurso, os povos originários foram dizimados pelos brancos europeus, pessoas escravizadas foram trazidas da África e a abolição da escravidão não deu a essas pessoas uma vida livre e digna, pois estas continuaram e o são até hoje exploradas, escravizadas, com o objetivo de gerar riqueza para poucos. Se no século XXI essa situação acontecia com esses povos, o que considerar em relação às mulheres, principalmente as indígenas e as africanas? Ainda hoje temos essa caraterística histórica presente em nosso continente Latino-Americano. As desigualdades sociais, a concentração de terras nas mãos da elite, mesmo após a “descolonização”, continua.

Em nossos discursos, reproduzimos que os portugueses descobriram o Brasil ou mesmo que os europeus descobriram nosso continente. Maria Pilar Aquino afirma “o europeu não somente “‘descobriu’ nosso continente como também ‘en-cobriu’ povos, religiões e culturas inteiras” (1997, p. 39).

Este tema não é diferente em relação às mulheres. Conforme Aquino (1997, p. 45)AQUINO, M. A teologia, a Igreja e a Mulher na América Latina. São Paulo: Paulinas, 1997. , o cristianismo hierárquico e patriarcal deixou à sombra o pensamento, os interesses e a visão de mundo das mulheres indo-americanas, das negras e mestiças. Subtraiu os povos, em específico, as mulheres, excluindo-as dos lugares de protagonismo e das diversas áreas e processos.

Atualmente, em forma de capitalismo neoliberal, temos a sensação de liberdade, entretanto, parece continuarmos sob domínios do Norte, como empresas estadunidenses, europeias e asiáticas, representadas por multinacionais com a ideia de trazer progresso, empregos, entretanto, perpetua o ciclo exploratório e dominador.

Em relação à Igreja, todo o movimento na direção dos marginalizados gerou mudanças no próprio estilo de vida eclesial. A Teologia da Libertação, segundo Bingemer (2016, p. 71)BINGEMER, M. C. Teologia Latino-Americana: raízes e ramos. Petrópolis: Vozes, 2016. , “ao colocar o serviço aos pobres no centro da Igreja não fez uma escolha sociológica e política. Isso foi uma escolha teológica, sustentada por toda a história da Igreja”, pois o Deus cristão revelou-se um Deus dos pobres, que se aproxima do clamor de seu povo, para então dar voz e visibilidade àqueles e àquelas considerados e consideradas, historicamente, invisíveis aos discursos oficiais.

Contudo, o surgimento da Teologia feminista, na América Latina, está atrelado com a “Teologia feminista do hemisfério Norte, eurocêntrico, mas segue com as características específicas da singularidade do contexto sociocultural latino-americano e suas etnias indígenas e afrodescendentes junto com os brancos vindos além-mar” (BINGEMER, 2020BINGEMER, M. C. Algumas tendências teológicas na América Latina. Ephata, Lisboa, v. 2, n. 2, p. 111-143, 30 out. 2020. Disponível em: https://revistas.ucp.pt/index.php/ephata/article/view/9536Acesso em: Acesso em: 10 out. 2023.
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, p. 123). Sem a realidade social histórica, dificilmente entenderemos qualquer pessoa ou gênero.

Embora a Teologia da Libertação tenha enfatizado a pobreza socioeconômica que atinge a população, inclusive as mulheres, a verdade é que ela não avançou satisfatoriamente em relação a estas como parceiras na elaboração desta teologia. Como afirma Tepedino sobre a perspectiva de gênero para a compreensão das relações sociais: “a contradição e o antagonismo, centrais para as relações entre os sexos, são compreendidos como relações de força que mudam continuamente” (TEPEDINO, 2001TEPEDINO, A. M. Gender and new (re-newed) Images of the Divine. Voices From The Third World, Estados Unidos da América, v. 34, n. 1, p. 84-96, 2001., p. 4).

Jaci Candiotto esclarece que homens e mulheres tornam-se tais a partir de relações socialmente construídas. Além disso, as relações de gênero apresentam-se como perspectivas importantes para a teologia porque “articulam sexo, classe e raça” (2008, p. 150), o que possibilita analisar a situação das mulheres em diferentes culturas, não se restringindo àquelas afetadas pela pobreza. Assim, a relação é o que faz deles o que são, homens e mulheres. Surge então o questionamento: qual a contribuição da hermenêutica bíblica feminista para a teologia na perspectiva das relações de gênero?

Para se falar de Deus e de sua ação na vida e no mundo, parte-se da Revelação bíblica, a experiência do povo. Embora as interpretações bíblicas tenham sido realizadas ao longo dos tempos pela perspectiva quase que exclusivamente masculina, atualmente, surgem outras perspectivas de leitura, elaborada pelas mulheres, como Elza Tamez, Ivone Richter Reimer, Aíla Pinheiro dentre outras latino-americanas que realizam esta nova hermenêutica bíblica pela ótica das mulheres. Com o documento da Pontifícia Comissão Bíblica, constatamos a prática de atualização: “Textos mais antigos foram relidos à luz de circunstâncias novas e aplicados à situação presente do Povo de Deus. Baseada sobre as mesmas convicções, a atualização continua necessariamente a ser praticada nas comunidades dos fiéis” (PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, 2004PONTIFíCIA COMISSÃO BíBLICA. A interpretação da Bíblia na Igreja. discurso de Sua Santidade o Papa João Paulo II e documento da Pontifícia Comissão Bíblica. 6. ed. São Paulo: Paulinas, 2004., p. 139).

Neste contexto, a mulher latino-americana, a partir da teologia da libertação, elabora a sua reflexão de acordo com a própria realidade. Assim como a revelação bíblica se dá na história e na experiência do seu povo, a proposta da teologia feminista é fazer teologia a partir do seu cotidiano, ou seja, da sua experiência. A chave para a interpretação é a revelação bíblica e a reflexão teológica. Com o exercício da reflexão teológica trata-se de perguntar à escritura, ao contexto histórico que lhe deu origem, à Tradição e aos ensinamentos da Igreja, à teologia em geral, ao povo de Deus e à própria realidade histórica atual, sobre a consistência da mulher como sujeito de pleno direito na igreja e na sociedade (AQUINO, 1996AQUINO, M. Nosso clamor pela vida: Teologia latino-americana a partir da perspectiva da mulher. São Paulo: Paulinas, 1996., p. 41 apud BINGEMER, 2020BINGEMER, M. C. Algumas tendências teológicas na América Latina. Ephata, Lisboa, v. 2, n. 2, p. 111-143, 30 out. 2020. Disponível em: https://revistas.ucp.pt/index.php/ephata/article/view/9536Acesso em: Acesso em: 10 out. 2023.
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, p. 123).

Implica articular criticamente a Revelação de Deus na vida ordinária das mulheres dos mais diversos contextos, percebida como história da salvação. Verifica-se, então, que a teologia feminista latino-americana é uma reflexão crítica, no contexto de fé, vivida na prática. A intenção encontra-se em resgatar a importância do papel da mulher a partir da reflexão e escrita da própria cientista mulher. Portanto, no deslocamento epistemológico realizado pela teologia feminista, busca-se combinar a mediação analítica das relações de gênero, o método hermenêutico e a estratégia da suspeição (CANDIOTTO, 2021CANDIOTTO, J. Hermenêutica Feminista da Suspeita como possibilidade de superação de epistemologias teológicas excludentes. Pistis & Praxis, Curitiba, v. 13, p. 291-306, 2021., p. 298).

A teologia feminista questiona também, de modo global o fazer teológico realizado até agora e cresce rapidamente colocando o foco em questões fundamentais para culminar em uma transformação plena da teologia tradicional.

3 Por uma teologia da diferença: desmitificar as diferenças que se transmutam em desigualdades

Com o tempo o olhar voltou-se para o pensamento teológico feminista e ressalta-se a importância do uso da categoria “gênero” advindo das ciências sociais e muito debatido no campo da história. Ela tem colaborado para o aprofundamento crítico de determinados pontos comuns a todos os movimentos feministas, sobretudo, o patriarcado e a invisibilidade da mulher. Assim, por exemplo, Joan Scott (1995, p. 23)SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil para análise histórica (1989). Disponível em: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/6875. Acesso em: 20 set. 2023.
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defende que o gênero não é uma característica inerente ao ser humano, mas sim uma construção social. Para ela a análise de gênero contribui para desvendar as estruturas de poder e perceber que as identidades de gênero são construídas culturalmente.

Nesse sentido é que na década de 90, a teologia feita por mulheres, começa a incorporar na reflexão a mediação da categoria de gênero como quadro conceptual amplo para analisar o tema das identidades, masculino e feminino e das relações de poder. Portanto, a categoria gênero contribuiu e contribui sobremaneira para desmitificar as diferenças que se transmutam em desigualdades no campo da teologia. Ela contribui para a desconstrução do mito da neutralidade científica: sua objetividade, imparcialidade, universalidade, e que são fundamentais no discurso teológico patriarcal. Olhando na perspectiva de gênero, confrontamo-nos com a tarefa de desmantelar as premissas teóricas convencionais e de erguer novos fundamentos que transcendam dualismos (SILVA, 2014SILVA, S. Amérique latine: théorie du «genre» et réflexion théologique. La pensée, v. 3, n. 379, p. 139-144, 2014., p. 140).

No fazer teológico das mulheres, existem elementos singulares, matizes e ritmos novos ou ainda desconhecidos. O aporte teológico feminista tem seu fazer próprio porque a tarefa teológica é “um logos pronunciado desde a vida e a práxis histórico eclesial das mulheres” (AZCUY, 2021AZCUY, V. R. W. El método cualitativo en la teologia feminista. La experiência de las mujeres y un dialogo com Stephanie Klien sobre su escucha. Perspectiva Teológica, Belo horizonte, v. 53, n. 3, p. 671-700, set/dez. 2021. , p. 676). Com o ponto de partida desta compreensão, fazer teologia, a partir do “meu” lugar de mulher, imprime uma marca diferente na reflexão e no discurso. Como afirma Nancy BedfordBEDFORD, N. E. Dar razón de la fe que hay en nosotras. Elementos del feminismo como mediación socio-analítica para la teología latinoamericana. Proyecto, Buenos Aires, n. 39, p. 145-161, 2001. (apud AZCUY, 2021AZCUY, V. R. W. El método cualitativo en la teologia feminista. La experiência de las mujeres y un dialogo com Stephanie Klien sobre su escucha. Perspectiva Teológica, Belo horizonte, v. 53, n. 3, p. 671-700, set/dez. 2021. , p. 675): as mulheres não são ontologicamente menos que os homens.

Elza TamezTAMEZ, E. Hermenêutica feminista latinoamericana, una mirada retrospectica. In: TEPEDINO, A. M.; AQUINO, M. P. Entre la indignación y la Esperanza: teología feminista latinoamericana. Bogotá: Indo-American Press Service Ltda., 1998., teóloga feminista mexicana, afirma a ideia sobre o lugar teológico que ocupam as mulheres:

Sabemos que a pomba do Espírito Santo voa onde quer e pousa em outros corpos distintos ao escrito. É correto assinalar que o sagrado na mulher não somente pode sair do texto escrito, como diretamente de Deus. Deus pode revelar-se diretamente a partir do corpo das mulheres, seus sofrimentos, lutas, alegrias e utopias

(1998, p. 427).

Com esse traçado do fazer teológico feminino e sua experiência como lugar privilegiado no processo hermenêutico da teologia e da leitura da Bíblia, pode-se afirmar que existe revelação divina na vida das mulheres. E, nas obras das mulheres que fazem teologia, a fazem da experiência própria como ponto de partida, ou seja, a partir delas como lugar hermenêutico.

A pergunta que fazemos neste momento é: existem diferenças ou singularidades nas metodologias teológicas entre os trabalhos das mulheres e dos homens? O elemento a considerar é um desafio em seu rigor e sistematicidade — até porque as ciências foram sendo marcadamente masculinas e patriarcais -, é o papel que o conceito e a razão ocupam na teologia feita por mulheres. Algumas mulheres afirmam que o conhecimento teológico não é algo que se comunique primária e unicamente através do conceito e da razão. Elizondo (2004ELIZONDO, F. Mujer. In: NAVARRO, M. 10 mujeres escriben teología. Estella: Verbo Divino, 2004. p. 199-223., p. 204 apud NAVARRO, 2004NAVARRO, M. 10 mujeres escriben teología. Estella: Verbo Divino, 2004., p. 204) defende que “o modo de fazer teologia das mulheres amplia a racionalidade para que inclua a experiência”. Corrobora essa reflexão o pensamento de Maria Clara Bingemer (2016, p. 77)BINGEMER, M. C. Teologia Latino-Americana: raízes e ramos. Petrópolis: Vozes, 2016. quando afirma que: “aqui começou uma etapa de publicações mais fecunda e sólida, com teólogas tentando revisitar e repensar os grandes tratados teológicos dogmáticos e a própria Bíblia, sempre partindo da experiência e dos sentimentos femininos”.

Para não se potencializar determinações de papeis sociais afirmando que quem utiliza a razão são os homens, considerando-os mais importante na construção dos saberes e as mulheres utilizam a experiência, menos importante, consideremos que o método da teologia feito por mulheres é, em geral, contextual e concreto. Parte da vida cotidiana, da experiência e teologiza as realidades vividas. Ivone Gebara explica que:

Ela começa a expressar sua experiência de Deus, de outro modo, modo que não exige que somente a razão apareça como única mediação universal do discurso teológico, mas que inclua o que é vital, através das mediações que ajudem a expressar o vivido sem esgotá-lo, em discurso que faz perceber que existe algo mais, que as palavras não conseguem dizer

(1998, p. 15).

Nesta maneira de fazer teologia, configura a linguagem que se emprega, o enfoque e as fontes marcadas por uma perspectiva interdisciplinar. Normalmente, as mulheres tendem a aplicar uma linguagem menos abstrata, opressora e colonial, utilizando assim uma nova linguagem teológica, a partir da experiência cotidiana, lugar de onde retira, também, sua fonte de reflexão.

4 Novas lentes para a leitura bíblica: a hermenêutica feminista

Como esclarecemos anteriormente, para fazer a hermenêutica de um texto, seja mulher ou homem, deve ser considerado seu lugar de fala, mesmo com todas as metodologias utilizadas. Neste sentido, admite-se um excesso de significado sobre seu significante. Assim, “nenhuma interpretação é absoluta, posto que jamais um significado esgota o significante originário” (CANDIOTTO, 2021CANDIOTTO, J. Hermenêutica Feminista da Suspeita como possibilidade de superação de epistemologias teológicas excludentes. Pistis & Praxis, Curitiba, v. 13, p. 291-306, 2021., p. 294). Afirmamos também que o ponto de partida da hermenêutica feminista é a experiência das mulheres, tendo o cotidiano como seu lugar privilegiado para a interpretação dos textos, considerando desconstruir a interpretação androcêntrica e patriarcal, compreendida como universal e neutra, num processo de descontextualização e reconstrução, ou seja, é um apelo à despatriarcalização do divino e das instituições. Segundo Ivone Gebara (1998, p. 111)GEBARA, I. Hermenéutica Bíblica Feminista. In: TEPEDINO, A. M.; AQUINO, M. P. Entre la indignación y la Esperanza. Teología Feminista Latinoamericana. Bogotá: Indo-American Press Service Ltda, 1998. na interpretação dos textos sagrados, considera-se seu caráter oculto e misterioso: “um texto nunca permite, pois, descobrir suas intenções ocultas de forma clara: ele sempre escapa das tentativas de se absolutizar sua interpretação, como se fosse a única e última possibilidade de explicar seu sentido”. Sendo assim, as características fundamentais da hermenêutica feminista encontram-se em seu caráter revelador, em seu aspecto integrador (dimensão sexual, social, econômico e cultural) e universalista. Compreende o ser humano em sua relação com todos os seres, com a terra e com o cosmos. Consideram ainda as inquietações do presente. E as características hermenêuticas são também políticas “porque tocam as bases de sustentação econômicas e os alicerces antropológicos produtores e legitimadores de injustiças” (Cf. GEBARA, 1998GEBARA, I. Hermenéutica Bíblica Feminista. In: TEPEDINO, A. M.; AQUINO, M. P. Entre la indignación y la Esperanza. Teología Feminista Latinoamericana. Bogotá: Indo-American Press Service Ltda, 1998. , p. 117).

Na produção da exegese bíblica realizada por mulheres, identifica-se a experiência do sagrado na vida cotidiana, de maneira que a análise histórico crítica, preocupada com o passado do texto e seu caráter literário, vem enriquecida pela junção de perguntas relacionadas ao caráter e processos sociais, preconceitos, discriminações e realidades invisibilizadas, dentre outras realidades marginalizadas. Apresentam também imagens femininas de Deus, aportando novas interpretações: “as questões relativas à linguagem teológica se entrelaçam com os problemas hermenêuticos na hora de revisar o modelo patriarcal para falar sobre Deus” (AZCUY, 2021AZCUY, V. R. W. El método cualitativo en la teologia feminista. La experiência de las mujeres y un dialogo com Stephanie Klien sobre su escucha. Perspectiva Teológica, Belo horizonte, v. 53, n. 3, p. 671-700, set/dez. 2021. , p. 29).

Duas chaves de leitura, que partem desta nova reflexão, são o corpo e as relações de poder. Frequentemente, as mulheres afirmam que a reflexão sobre a experiência do próprio corpo é o ponto de partida de toda reflexão em torno de uma nova antropologia teológica, que toma consciência das formas do corpo enquanto constitutivas do poder. A proposta de algumas mulheres feministas é sair de uma antropologia androcêntrica que tem um homem como medida e passar para uma antropologia humanocêntrica, que pretende captar a revelação do divino no humano integral, em que se produz justiça à revelação absoluta de Deus e convida a aprofundar o mistério da Encarnação (BINGEMER; GEBARA, 1988BINGEMER, M. C.; GEBARA, I. Maria, mulher profética: ensayo teológico a partir da mulher e da America Latina. Madrid: Paulinas, 1988., p. 49). Parte da plenitude do ser, elimina o sentido de complementaridade, onde falta algo e deve-se complementar com o outro ser, um masculino e outro feminino. Nesta perspectiva da complementariedade sempre faltará algo, pois somente o outro homem ou outra mulher poderá complementar; caso não tenha o/a outro/a a pessoa nunca será “completa”. Se partimos da relação e não da complementaridade, um/as pode/m ser dom para o/a outro/a.

De acordo com nossa reflexão (CANDIOTTO, 2021CANDIOTTO, J. Hermenêutica Feminista da Suspeita como possibilidade de superação de epistemologias teológicas excludentes. Pistis & Praxis, Curitiba, v. 13, p. 291-306, 2021., p. 304), “a hermenêutica teológica feminista evidencia uma proposta metodológica diferente, porquanto seu escopo é a recuperação de significados outros que permanecem no subsolo das demais hermenêuticas teológicas”. Seu elemento inovador está no uso da imaginação criativa que reconstrói o pré-texto (contexto) dos textos bíblicos a partir da história e da condição da mulher.

O século XX pode ser chamado de o século da suspeita feminina. Suspeita, de acordo com Gebara (2023, p. 101)GEBARA, I. Caminhos para compreender a Teologia Feminista. São Paulo: Recriar, 2023., significa “a desconfiança e a dúvida em relação às afirmações tomadas como verdades absolutas em relação aos seres humanos e ao mundo”. As mulheres suspeitam de um feminino dependente do masculino, em que o feminino é considerado passivo e o masculino, ativo. Neste sentido, poderemos ampliar a lista da suspeição feminina: o masculino criador da história e a mulher conservadora e reprodutora da vida, são papeis sociais determinantes para cada gênero e as sexualidades fixas supostamente estabelecidas pela natureza. Perguntamos com Ivone Gebara: de qual natureza estamos falando? Quem determinou estas características e seus papeis? Quem definiu os limites? E assim outra infinidade de perguntas que suscitam a partir do poder patriarcal consolidado.

A suspeita feminina atingiu a teologia, no que se refere às bases de uma antropologia religiosa, as imagens de Deus, antropologias monoteístas, as hierarquias, sendo que os homens não podem mais ser os legisladores da vida humana ou dominadores de toda a natureza. Chegamos então na suspeição do texto e do contexto, “em que a teologia feminista combina a mediação da teoria das relações de gênero, o método hermenêutico e a estratégia de suspeição” (TAMEZ, 2004TAMEZ E. La hermenêutica bíblica feminista em iberoamérica. In: Marcos, S. (ORG.). Religión y Gênero. Madrid: Trotta, 2004. p. 41-65., p. 62).

A estratégia da suspeição tem dupla função: uma negativa, que consiste em desmascarar o caráter androcêntrico, e o objetivo do opressor em buscar o que lhe convém no texto bíblico. Para este processo, são discutidas as traduções, silêncios, contradições, argumentações, prescrições do texto, bem como discursos da Bíblia sobre gênero, etnia, classe ou cultura, procurando entender os textos bíblicos como uma herança viva. Apoiadas em Teresa Mee (2000, p. 41)MELANÇON, L. Expériences des femmes et théologie. La théologie «mujerista»: une nouvelle pratique théologique. Laval théologique et philosophique, v. 56, n. 1, p. 33-46, 2000. Disponível em: https://www.erudit.org/fr/revues/ltp/2000-v56-n1-ltp2166/401272ar.pdf Acesso em: 15 jun. 2023.
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, “tal herança não legitima a opressão patriarcal, mas tem a capacidade de promover práticas libertadoras de comunidades de fé”. Assim, questionamos: não haveria outra cartografia e outra geografia simbólica possíveis e outras maneiras de expressar os sentidos de nossa existência?

Por este prisma, tomamos como ponto de partida outra compreensão de nós mesmas, considerando nossa existência cotidiana relacionada com todo o cosmos. A nossa vida se expressa através de diferentes referências e relações múltiplas. Para Ivone Gebara (2023, p. 103)GEBARA, I. Caminhos para compreender a Teologia Feminista. São Paulo: Recriar, 2023., “existe uma espécie de biocentrismo humanista”, ou seja, estamos nos libertando e reconhecendo nossa capacidade de atuação sem nos limitarmos a uma única forma de existência, abstrata e superior, acima de todas as outras. Nesta afirmação, reconhecemos ainda a perspectiva relacional e integrada do ser com o planeta, em uma relação de “alteridade”.

Assim, a hermenêutica feminista é uma maneira de se fazer teologia pelo privilégio de categorias interpretativas heurísticas, tais como: cotidiano, corporeidade, sexualidade, vida, simbolismo, alteridade, mulher, homem etc. Este fazer teológico, por partir da experiência das mulheres, não tem a pretensão da universalidade que caracteriza outras formas de teologia, nem cai na desconstrução de outras interpretações que justifiquem a prática de uma sociedade de desiguais.

Embora estejamos no século XXI, as mulheres teólogas e exegetas ainda sofrem, a partir do patriarcalismo explícito, as manifestações sutis de uma androcentrismo tácito. Reconhecendo isto, as feministas cristãs estudam os textos bíblicos e da Tradição, a partir de pelo menos três perspectivas diferentes, mas relacionáveis:

1.Ocupam-se dos textos sobre mulheres para fazer face aos famosos textos usados ‘contra’ as mulheres; 2. Ocupam-se da Bíblia de um modo geral (não dos textos sobre mulheres de um modo particular) para chegar a uma perspectiva teológica que ofereça uma crítica do patriarcado (alguns chamariam ‘perspectiva de libertação’). 3. Ocupam-se dos textos sobre mulheres para aprender da história e das narrativas de mulheres antigas e modernas que viveram em culturas patriarcais”

(SAKENFELD, 1995SAKENFELD, K. D. Usos feministas de los materiales bíblicos. In: RUSSEL, L. M. (Ed.) Interpretación bíblica feminista de la Biblia. Bilbao: Desclée de Brouwer, 1995. , p. 66).

Encontra-se neste processo investigativo a tentativa de mostrar, no conjunto dos livros sagrados e da Tradição, perspectivas diversas e paradoxais a respeito de representações culturais e sociais dos seres humanos, ressaltando as diferenças, reconhecendo a discriminação e potencializando a unidade na pluralidade.

5 A experiência da mulher em seu duplo sentido libertador

A teologia feminista tem avançado não somente nos seus aprofundamentos teóricos. Como nos lembra Louise Melançon (2000, p. 34)MELANÇON, L. Expériences des femmes et théologie. La théologie «mujerista»: une nouvelle pratique théologique. Laval théologique et philosophique, v. 56, n. 1, p. 33-46, 2000. Disponível em: https://www.erudit.org/fr/revues/ltp/2000-v56-n1-ltp2166/401272ar.pdf Acesso em: 15 jun. 2023.
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, ela abriu-se para a diversidade das mulheres e podemos acrescentar que existe hoje redes cada vez mais amplas em que partilham suas lutas teóricas, práticas e sonhos. Podemos identificar um movimento global em torno dos ideais de superação da mentalidade patriarcal que alimenta e aprofunda o sexismo e todas as formas de violência e negação dos direitos e dignidade das mulheres.

É característica das teologias feministas valorizar seus contextos de produção. As experiências dão-se em realidades diferentes, a partir do contexto dos sujeitos de fala, ou seja, sua realidade cultural, econômica, religiosa, além de outros aspectos que recortam a vida das mulheres. Para Melançon (2000, p. 36)MELANÇON, L. Expériences des femmes et théologie. La théologie «mujerista»: une nouvelle pratique théologique. Laval théologique et philosophique, v. 56, n. 1, p. 33-46, 2000. Disponível em: https://www.erudit.org/fr/revues/ltp/2000-v56-n1-ltp2166/401272ar.pdf Acesso em: 15 jun. 2023.
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, os discursos feministas no campo teológico obviamente têm suas especificidades. É consenso entre teólogas como, Mary Daly, Rosemary R. Ruether e Anne Carr, Elizabeth Johnson, que a experiência religiosa é vista como experiência de conversão.

[...] Uma saída do Egito do patriarcado, uma caminhada no deserto onde se toma consciência da alienação interiorizada, uma experiência de transformação pelo fato de se afirmar como ser plenamente humano, à imagem de Deus e do Cristo.

(p. 37, tradução nossa).

Podemos compreender então que a experiência de conversão tem sido tradicionalmente entendida como um retorno do coração e do espírito que dirige a vida em uma nova direção. Também, de acordo com Elizabeth Johnson (1995, p. 32)JOHNSON, E. Aquela que é: o mistério de Deus no trabalho teológico feminino. Petrópolis: Vozes, 1995., a experiência que as mulheres têm quando rejeitam a opressão e o sexismo e tentam novas interpretações de seu valor humano é a da conversão significativa em busca de novos horizontes. É um desvelamento, um reconhecimento de suas potencialidades e de seu valor. É um abandonar as introjeções da “insignificância feminina”. É uma experiência de recusa da opressão, de resistência ao discurso e prática de exclusão. A experiência de conversão é, pois, uma experiência de libertação.

A propósito, a conversão experimentada pelas mulheres não deve ser entendida pela maneira como a conversão é apresentada nos discursos androcêntricos, de abnegação de si. Antes, trata-se da conversão no sentido de despertar as mulheres para seu próprio valor humano, de recuperação de sua subjetividade. E, ao fazê-lo, “chega-se a uma nova experiência de Deus cuja consequência é a valorização moral positiva da corporeidade feminina e sua especificidade” (MELANÇON, 2020MELANÇON, L. Expériences des femmes et théologie. La théologie «mujerista»: une nouvelle pratique théologique. Laval théologique et philosophique, v. 56, n. 1, p. 33-46, 2000. Disponível em: https://www.erudit.org/fr/revues/ltp/2000-v56-n1-ltp2166/401272ar.pdf Acesso em: 15 jun. 2023.
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, p. 45).

Quando nos propomos a refletir a categoria da experiência das mulheres na prática teológica, é possível identificar alguns impasses. De acordo com Melançon (2020, p. 39)MELANÇON, L. Expériences des femmes et théologie. La théologie «mujerista»: une nouvelle pratique théologique. Laval théologique et philosophique, v. 56, n. 1, p. 33-46, 2000. Disponível em: https://www.erudit.org/fr/revues/ltp/2000-v56-n1-ltp2166/401272ar.pdf Acesso em: 15 jun. 2023.
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, a própria relação entre experiência e Tradição é deveras espinhosa. Como lidar com a mentalidade persistente em alguns setores no interior do cristianismo que creem ser a Tradição praticamente a norma para o discurso cristão?

Para aquelas que têm ciência do caráter androcêntrico e patriarcal presente nessa Tradição, a experiência das mulheres pode constituir-se em testemunho libertador. O tema da justiça e da libertação é central na mensagem cristã e ele pode ser princípio normativo para a teologia feminista (RUSSELL; CLARKSON, 1996RUSSELL, L.M; CLARKSON, J. S. In: GÖSSMANN, E. (Org.). Dicionário de teologia feminista. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 301-302. , p. 301-302)

Estudos recentes1 1 Consultar Neiva Furlin. Teologia Feminista: Insurgência e subjetividades. São Paulo: Loyola, 2023. atestam que atualmente são levadas em conta as diferentes experiências das mulheres nas produções teológicas e, com isso, tem-se a ampliação da compreensão do conceito de experiência e experiência religiosa. Suas referências podem variar entre o universal (a-histórico) e as narrativas locais, em que as experiências são ricas e múltiplas, tecidas no chão da histórica de cada uma. Para Melançon (2000, p. 37)MELANÇON, L. Expériences des femmes et théologie. La théologie «mujerista»: une nouvelle pratique théologique. Laval théologique et philosophique, v. 56, n. 1, p. 33-46, 2000. Disponível em: https://www.erudit.org/fr/revues/ltp/2000-v56-n1-ltp2166/401272ar.pdf Acesso em: 15 jun. 2023.
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, os resultados das produções teológicas desembocam, no primeiro caso, mais desenvolvidos e geram novas visões, porém deixando de lado o que está à margem. Em contrapartida, as teologias que levam em conta as diferenças são ouvidas, mas não vão muito longe na reformulação teológica.

A partir da reflexão apresentada por Melançon (2000, p. 37)MELANÇON, L. Expériences des femmes et théologie. La théologie «mujerista»: une nouvelle pratique théologique. Laval théologique et philosophique, v. 56, n. 1, p. 33-46, 2000. Disponível em: https://www.erudit.org/fr/revues/ltp/2000-v56-n1-ltp2166/401272ar.pdf Acesso em: 15 jun. 2023.
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, destacamos alguns aspectos a serem pontuados sobre a categoria de experiência religiosa das mulheres na teologia feminista: é importante ressaltar que via de regra as teólogas valorizam suas experiências religiosas à medida que se entendem mais como sujeito, deixando de ser derivação do humano-masculino; privilegiam a experiência de conversão vivida em um processo de libertação pessoal e social; colocam maior ênfase na ética e na prática como critérios de autenticidade; a experiência de conversão é engajadora nas lutas concretas de vida em sociedade, onde a exclusão, a marginalização e desvalorização são causadores de morte.

Como as teólogas partem de experiências pessoais, situadas culturalmente, é sintomático que componham uma teologia plural. Na atualidade, vislumbram-se novos sujeitos da teologia como a negra, a indígena, a latino-americana, a europeia, a teologia Queer dentre outras. Tal característica reforça uma teologia horizontal, superando uma teologia vertical, pois considera uma nova releitura da encarnação segundo a qual Deus que se afeta pelas dores e alegrias da humanidade.

Considerações finais

O estudo constitui um revisitar as pesquisas realizadas em torno do tema, procurando os aspectos que compõem a teologia latino-americana feminista. Em toda parte, escritoras e pesquisadoras estão descobrindo a pluralidade de multietnias, de experiências nas diferenças, na busca de uma epistemologia própria. Apesar do movimento ter iniciado na esteira das feministas do Norte, atualmente as teólogas feministas latino-americanas são lidas e pesquisadas para se compreender nosso continente.

No decorrer da reflexão, revisitamos a riqueza que tem sido o surgimento desse novo jeito de produção teológica e sua efetiva contribuição com as demais ciências, bem como para a transformação das relações humanas e para o surgimento de um aparato legal de enfrentamento ao sofrimento que as desigualdades de gênero causam às mulheres. Trata-se de uma teologia a partir da revelação que diga desde sua perspectiva, sem pretensão de universalidade, mas com intenção de nos fazer ouvir e oferecer, a partir do nosso lugar de fala, possibilidades para a reconstrução das mulheres como novos sujeitos no labor teológico.

Destaca-se no estudo a hermenêutica feminista que porquanto utiliza diversas conquistas da própria hermenêutica bíblica. Seu diferencial consiste no privilégio crítico do método da suspeição a partir do qual são questionadas e desmitificadas as características deste discurso que legitimam o status quo, valendo-se dos textos sagrados, muitas vezes, como confirmadores do patriarcalismo, ferindo profundamente a dignidade da mulher. A hermenêutica feminista, portanto, visa a ruptura com antigos modelos de compreensão do mundo e da humanidade.

É indiscutível a contribuição da teologia feminista para desconstrução destes discursos que minimizam a possibilidade da mulher tornar-se sujeito do seu próprio labor teológico. Uma vez que os textos sagrados têm sido utilizados para justificar muitas discriminações e desigualdades entre homens e mulheres, textos estes, que carregam a experiência do povo de Deus, portadores da mensagem divina e meio de libertação e transformação, tornam-se meio de alienação ou instrumentalização da mulher.

Esta hermenêutica realizada pelas próprias mulheres tem contribuído no sentido de atender as reivindicações pela valorização da diferença, do específico e da riqueza da diversidade, sem hierarquização das relações.

Se para tudo há´ um tempo (Ecl 3,1-8), na vida da mulher é tempo de arrancar o que foi plantado; é tempo de construir uma nova forma de relação baseada na reciprocidade; é tempo de jogar fora todo discurso e práticas de exclusão; é tempo de falar a verdade das realidades humanas sem manipulação dos discursos para beneficiar grupos humanos; é tempo de desconstruir a visão de Deus que impede afirmar o valor e a dignidade do ser humano, independentemente de seu gênero.

Sendo assim, quando falamos que a experiência da mulher em seu duplo sentido libertador faz com que ela possa engajar-se em outros processos libertadores, isto quer dizer que, ao vivenciar essa nova encarnação, a experiência religiosa permite postular e aderir a uma experiência diferente. É o caso do engajamento em contextos de injustiças que também necessitam de processos de libertação, a mulher constrói novas teologias a partir de sua especificidade e diversidade.

A Bíblia não pode ser reescrita. O que se pode fazer é relê-la à luz de uma realidade mais inclusiva e em consonância com o espírito do texto. A própria Bíblia nos dá critérios de releitura, especialmente na vida, obras e ensino de Jesus; mas também em textos fundamentais como aquele de Paulo quando diz que pela fé de Cristo Jesus, somos filhos e filhas de Deus, pois fomos revestidos de Cristo e, por isso, já não se distingue judeu e grego, escravo e livre, homem e mulher, porque todos sois um [uma] em Cristo Jesus (Gl 3, 26).

Siglas
  • GS  Constituição Pastoral Gaudium et Spes
  • AA  Decreto Apostolicam Actuositatem
  • 1
    Consultar Neiva Furlin. Teologia Feminista: Insurgência e subjetividades. São Paulo: Loyola, 2023FURLIN, N. Relações de Gênero e subjetividades: a docência feminina no ensino superior em teologia. Curitiba: Appris, 2021..

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    22 Jun 2023
  • Aceito
    10 Nov 2023
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