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ESPIRITUALIDADE ECOLÓGICA POR “UM NOVO HUMANISMO”: APORTES DE TEILHARD DE CHARDIN E DO PAPA FRANCISCO

RESUMO

Pesquisadores de diferentes áreas sustentam que a civilização tem projetos insustentáveis e que chegou a limites extremos em sua trajetória evolutiva. Um agravante, dentre outros, é a dramática crise ambiental. Considerando esta situação, a pesquisa tenciona oferecer pistas para o desabrochar de uma nova consciência planetária a ser cultivada na forma de uma espiritualidade ecológica. Daí, ser crucial conhecer, num primeiro momento, sucintamente, o teor do desequilíbrio civilizacional que a pandemia da Covid-19 pôs a descoberto. Em seguida, voltamo-nos para Teilhard de Chardin, que fala de “pontos críticos” no decorrer do processo evolutivo. Eles sinalizam para o nascimento de algo novo, tópico dois. O terceiro e o quarto tópicos dedicaremos às contribuições de Teilhard de Chardin e do Papa Francisco, respectivamente, para o aprofundamento de uma espiritualidade que responda à crise ecológica e, consequentemente, inspire um novo humanismo. Um dos resultados da pesquisa aponta para a descoberta da perspectiva mística subjacente na Laudato si’.

PALAVRAS-CHAVE
Teilhard de Chardin; Papa Francisco; Crise civilizacional; Espiritualidade ecológica; Novo humanismo

ABSTRACT

Researchers from different fields argue that civilization has unsustainable projects and has reached extreme limits in its evolutionary trajectory. One aggravating factor, among others, is the dramatic environmental crisis. Considering this situation, the research intends to offer clues for the blossoming of a new planetary consciousness to be cultivated in the form of an ecological spirituality. That’s why it’s crucial to know, at first in a succinct way, the civilizational imbalance that the Covid-19 pandemic has uncovered. Next, we turn to Teilhard de Chardin who speaks of “critical points” in the course of the evolutionary process. They signal the birth of something new, topic two. The third and fourth topics are dedicated to the contributions of Teilhard de Chardin and Pope Francis, respectively, to the deepening of a spirituality that responds to the ecological crisis and, consequently, inspires a new humanism. The most significant result of the research points to the discovery of the underlying mystical perspective in Laudato si’.

KEYWORDS
Teilhard de Chardin; Pope Francis; Crisis of Civilization; Ecological Spirituality; New humanism

Introdução

Diferentes teóricos da contemporaneidade, especificaremos alguns no primeiro tópico, sustentam que o mundo chegou a limites extremos e há claros indícios de que a humanidade está atravessando uma “mudança de era”. Um somatório de fatores parece ser indicativo de tais suspeitas: o atentado de 11 de setembro de 2001, a crise financeira de 2008, disputas geopolíticas, emergências sanitárias, dominação e exploração do meio ambiente, onipotência do poder econômico, guerras, entre outros. Esse cenário complexo e desafiador coloca-nos em alerta quanto à constatação do desequilíbrio que o homo sapiens sapiens, comprovadamente, vem causando como um homo demens e “homo degradandis1 1 NINIS, A. B.; BILIBIO, M. A. Homo sapiens, Homo demens e Homo degradandis: a psiquê humana e a crise ambiental. Psicologia e Sociedade, v. 24, n. 1, abr. 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/w99gpkHvMPQSqrc34MW5zWc/?lang=pt. Acesso em: 10 jan. 2023. . Soma-se a estas constatações as cruéis patologias identificadas pelo o filósofo sul-coreano Byng-Chul Han, que dominam o século XXI: uma “sociedade de cansaço” (2015), uma “sociedade paliativa” (2021), e que promove a “expulsão do outro” (2022).

O Papa Francisco, em sua Encíclica social Fratelli tutti, sobre a fraternidade e a amizade social (20.10.2020), arrolou “as sombras de um mundo fechado” (n. 9-52), que testificam a lógica tribal do mundo. Segundo ele, “a pandemia da Covid 19 deixou a descoberto as nossas falsas seguranças. [...] Apesar de estarmos superconectados, verificou-se uma fragmentação que tornou mais difícil resolver os problemas que nos afetam a todos” (n. 7).

Nesse movimento, é possível constatar que o quadro sanitário “forçou a humanidade a redesenhar suas categorias histórico-temporais”.2 2 VILLA, G. Vírus e filosofia: uma resenha. Instituto Humanitas Unisinos – Adital, São Leopoldo, 22 abr. 2020. Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/598236-virus-e-filosofia-uma-resenha-artigo-de-giuseppe-villa>. Acesso em: 29 abril 2020. Notoriamente, vale ressaltar que a história e o tempo, sob o olhar da fé cristã, carregam esperanças transformadoras, pois o Verbo de Deus, que estava desde o começo junto ao Pai, “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Sem dúvida, o chronos é perpassado pelo Kairós, tempo messiânico de graça, de incompreensível gravidade, incógnito e de singular atualidade. Sob a ótica teilhardiana, esse tempo marcado pela graça salvífica, podemos dizer é um “Meio Divino” (2010). A saber, é “[...] o Divino irradiando das profundezas de uma Matéria em fogo” (1976, v. 13, p. 22).

Objetivamos oferecer pistas para o desabrochar de uma nova consciência planetária que fomenta uma espiritualidade ecológica encarnada. Para tal, inicialmente, é de grande valia apresentar algumas instigantes teses que sustentam que há em curso uma “mudança de era”, uma “mutação civilizacional”. Verificar-se-á que os postulados a serem apresentados mereceriam diferentes análises. No entanto, nos limites de um artigo, tal tarefa não é factível. Teilhard de Chardin fala de “pontos críticos” que a humanidade atravessa ao longo de sua história evolutiva e que marcam a eclosão de novas realidades. E mais, ele aponta valores que o ser humano é chamado a cultivar em sua trajetória pelo “Meio Divino” e rumo ao mais-ser. O curso da investigação segue buscando oferecer elementos para uma espiritualidade que corresponda ao clamor da contemporaneidade ameaçada pela crise socioambiental, conforme denuncia o Papa Francisco. Nos tópicos três e quatro, procuramos demonstrar que os aportes de Teilhard de Chardin e do Pontífice em diálogo são destacadas contribuições para a vivência de uma espiritualidade ecológica que sirva de inspiração a “um novo humanismo”.

1 A catástrofe sanitária global: sinal de uma “mutação civilizacional”

Em 2020, o SARS-CoV-2, agente patogênico da grave doença respiratória Covid-19, alastrou-se pelo mundo. “Em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto como Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (PHEIC). Posteriormente, em 11 de março, foi declarada uma pandemia”3 3 OPAS. Organização Pan-Americana da Saúde. Organização Mundial da Saúde – Américas. OMS declara emergência de saúde pública de importância internacional por surto de novo coronavírus. 30 Jan. 2020. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/news/30-1-2020-who-declares-public-health-emergency-novel-coronavirus. Acesso em: 29 abril 2020. . O hóspede letal parou o ritmo frenético e insano de vida, e a humanidade se viu forçada a um cativeiro involuntário para sua sobrevivência. As consequências advindas da disseminação do vírus afetaram drasticamente as diversas esferas públicas, sobretudo, a população mais vulnerável. Não obstante, a esperançosa “solução” para a erradicação do vírus com o lançamento de alguns imunizantes, a crença do poder da ciência, se viu abalada, pois a comunidade científica não conseguiu frear as diferentes cepas que foram se espalhando rapidamente.

Verdade é que o tempo covídico despiu o ser humano do seu imaginário de empoderamento e dominação. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, expressou de modo contundente que “a pandemia da Covid-19 não deixou nenhum país intocado. Ela humilhou a todos nós”4 4 O SUL A Organização Mundial da Saúde informou que a pandemia do coronavírus está fora de controle na maioria dos países. Porto Alegre, 9 de julho de 2020. Disponível em: https://www.osul.com.br/a-organizacao-mundial-da-saude-informou-que-a-pandemia-do-coronavirus-esta-fora-de-controle-na-maioria-dos-paises/. Acesso em: 30 out. 2020. e “nos mostrou que chegamos a limites extremos”5 5 BERARDI, F. A ruptura antropológica e o colapso econômico global: oportunidades para recodificar as vidas. São Leopoldo: Canal Instituto Humanitas Unisinos, 25 mar. 2021. Vídeo Youtube, (1:41:30). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V0rAj8qFnVA. Acesso em: 27 mar. 2021. (BERARDI, 2021BERARDI, F. A ruptura antropológica e o colapso econômico global: oportunidades para recodificar as vidas. São Leopoldo: Canal Instituto Humanitas Unisinos, 25 mar. 2021. Vídeo Youtube, (1:41:30). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V0rAj8qFnVA. Acesso em: 27 mar. 2021.
https://www.youtube.com/watch?v=V0rAj8qF...
, 1h08min).

Leonardo Boff soma a essa afirmação a ideia de que “o coronavírus colocou de joelho as potências militaristas, cujas armas de destruição em massa (que poderiam destruir toda a vida, várias vezes) se mostraram totalmente inúteis” (2021aBOFF, L. Covid-19. A Mãe Terra contra-ataca a Humanidade: advertências da pandemia. Petrópolis: Vozes, 2021a., p. 134). Enfaticamente, disse que é preciso “redefinir um outro rumo [...] para a nossa civilização humana. Ao não o fazer, poderemos percorrer um caminho sem retorno e poderíamos pôr sob grave risco a biosfera e a nossa existência como espécie” (2021aBOFF, L. Covid-19. A Mãe Terra contra-ataca a Humanidade: advertências da pandemia. Petrópolis: Vozes, 2021a., p. 8).

Diversos pensadores debateram sobre as consequências desse microrganismo deletério sobre a população, a sociedade, a economia e já apontavam que o tempo pós-covídico não poderia ser o mesmo. Há aqueles que somando a tais constatações, apontaram para uma mudança de era, algo como que a ultrapassagem de um patamar da evolução da humanidade para outro, para uma nova ordem, posição esta que ora também defendemos sustentada pela visão científico-mística teilhardiana.

O físico Luiz Alberto Oliveira fala de uma “mutação civilizacional”6 6 OLIVEIRA, L. A. Mutação civilizacional. São Paulo: Instituto CPFL, Canal Filosófico, TV Cultura, 17 abr. 2022. Vídeo Youtube (49min54). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bKx97QYQM58. Acesso em: 10 set. 2022. . Ele não trata do assunto da catástrofe sanitária, mas vislumbra um quadro civilizatório que está fraturado em seus fundamentos e que precisa, pois, de uma “refundação”. O termo (mutação) é oriundo da biologia. Este artigo apresenta-o, sinteticamente, a partir da abordagem desenvolvida pelo cientista. O conceito diz respeito ao processo ocorrido a partir da “replicação de um membro de uma dada espécie [...]. Se a mutação ocorrida não impedir a continuidade da marcha, teremos uma inovação: o modelo anterior e o novo modelo coexistindo” (2022, min 23-24). Ao longo da história, segundo o físico, novas formas de vida surgiram a partir de errâncias, de derivas. Tendo em vista tal cenário, ele argumenta:

se estamos vivendo uma mutação estamos diante de um processo de inovação a partir do qual temos a possibilidade de configurações inteiramente novas [...]. Considera-se também que a potência de indeterminação é instauradora, criadora, indesviável. [...] Somos capazes de gestar novas ações e o novo mundo. [...] Trata-se então, a partir do diagnóstico do presente, estimarmos o valor de iniciativas éticas e políticas, pelas quais dentre os cenários possíveis identificar aqueles que são prováveis e fazer surgir aqueles que são desejáveis. [...] Assim, somos instigados a buscar os meios para a efetiva passagem rumo ao futuro desejável

(2022, min. 25-28).

“O conjunto das nossas ações têm força planetária” e determinarão o futuro da humanidade, da “casa comum”. Luiz Alberto afirma, “a civilização tem o poder de agir sobre si mesma e modificar a sua arquitetura, o seu funcionamento de modo a se adequar aos novos desafios e às circunstâncias que o seu próprio triunfo criou” (2022, min. 34-35).

As análises sociológicas de Boaventura de Sousa SantosSANTOS, B. de S. A cruel pedagogia do Vírus. Coimbra: Almedina, 2020. PDF. postulam que o novo século começou em 2020 com a pandemia do novo coronavírus. Ele assegura que é um começo inusitado. Por um lado, “se for apenas um começo de um século de pandemia intermitente, haverá nele algo de fúnebre e crepuscular, o início de um fim” (2021, p. 16). Por outro, “pode ser o começo de uma nova época, de um novo modelo civilizacional” (ibid.). Ele continua, “o que ela nos permite ver e o modo como for interpretado e avaliado determinarão o futuro da civilização em que vivemos”. (2020, não paginado). Em outras palavras, o conjunto da vida no planeta vai depender de nossas escolhas, das ações que empreenderemos no tempo pós-pandêmico.

As lições que o coronavírus deixou, segundo Edgar MorinMORIN, E. É hora de mudarmos de via: as lições do coronavirus. Colaboração de Sabah Abouessalam. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020., indicam a metamorfose que deve acontecer na humanidade.

A megacrise provocada pelo coronavíus é o sintoma brutal de uma crise da vida terrestre (ecológica), de uma crise da humanidade, que é por sua vez uma crise da modernidade, uma crise do desenvolvimento técnico, econômico, industrial, uma crise do paradigma mestre que fratura as complexidades em todas as esferas, provocando uma corrida que conduz ao abismo. Precisamos compreender então que, para poder sobreviver, a humanidade deve metamorfosear-se

(2020, p. 91, grifo do autor).

Carlos Mendoza-Álvarez fala de uma “crise global de civilização”. A palavra é cedida a ele:

a pandemia é um sintoma de uma crise mais profunda. Alguns estudiosos falam de uma crise do antropoceno, categoria que a ecologia e a geologia desenvolveram para falar do impacto da espécie humana nas eras geológica e antropocena. Portanto há um impacto positivo e negativo, sobretudo negativo do predomínio do homo sapiens e demens. [...] O ponto atual dessa discussão aponta duas causas: 1ª) a espécie humana é a responsável pela crise pandêmica, que alguns chamam da 4ª ou 5ª extinção da espécie provocada pelo homo sapiens e demens; 2ª) crise do capitoloceno, que diz respeito à concentração de riqueza, poder e hegemonia em uma parte da humanidade liderada por uma lógica do capital

(2021, min. 9:55 – min. 11:30)7 7 MENDOZA-ÁLVAREZ, C. Falar de Deus em meio ao sofrimento humano: reflexões a partir das vítimas da pandemia. São Leopoldo: Canal Instituto Humanitas Unisinos, 30 mar. 2021. Vídeo Youtube (1h31min52). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_k55CWaYdZY. Acesso em: 30 mar. 2021. .

O Papa Francisco discorrendo sobre o atual cenário pandêmico no septuagésimo quinto aniversário da ONU afirmou:

[...] a pandemia chama-nos ‘a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão [...]: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é’. Pode representar uma oportunidade real para a conversão, a transformação, para repensar o nosso modo de vida e os nossos sistemas econômicos e sociais, que estão a alargar a distância entre pobres e ricos, raiz de uma injusta distribuição dos recursos. Mas também pode ser uma possibilidade para uma “retirada defensiva” com caraterísticas individualistas e elitistas

(grifo do autor).8 8 FRANCISCO, Papa. Mensagem em vídeo do Papa Franciscopor ocasião da 75ª assembleia geral das Naçoes Unidas — 25 de setembro de 2020. Multimedia. Disponível em: <http://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/pont-messages/2020/documents/papa-francesco_20200925_videomessaggio-onu.html>. Acesso em: 02 out. 2020.

Teilhard de Chardin, com espírito profético e desinstalador, anunciou estados de crise que a humanidade se encontrava devido a ganâncias. E já assinalava que é preciso mudar a consciência. Em suas palavras:

eis que fomos conduzidos, pela lógica superior do Progresso que está em nós, em acumular bens para o uso que desejamos fazer dos mesmos. A idade das nações passou. Se não quisermos morrer, trata-se agora de sacudirmos os velhos preconceitos e de construir a Terra

(1962, v. 6, p. 46).

As perspectivas apresentadas testificam um humanismo antropocêntrico e o esgotamento de um padrão civilizacional. Crises, “pontos críticos”, na perspectiva teilhardiana, prenunciam saltos de qualidade. A visão sapiencial de um Universo cristificado, entre outros pontos, aponta para a expansão da consciência planetária, fato que pode marcar uma guinada civilizatória.

2 Teilhard de Chardin: a “Terra Mater” cristificada

O paleontólogo e místico, Pierre Teilhard de Chardin SJ (1881-1955), desenvolveu uma imponente visão de mundo articulando três componentes universais: o cósmico, o humano e o crístico (1976, v. 13, p. 21-67). Esta estrutura triádica e sacramental do Universo foi construída nos âmbitos da ciência (paleontologia, geologia, biologia), da filosofia e da teologia. O contexto profissional, há que se destacar as expedições para o Oriente e os serviços militares nas trincheiras na Primeira Guerra Mundial, também contribuiu para forjar um pensamento original, inquietante, não menos complexo.

A busca pelo “’Sentido da Consistência’, ‘Sentido Cósmico’, ‘Sentido da Terra’, ‘Sentido Humano’ e ‘Sentido Crístico” (1976, v. 13, p. 26) e a sua “insaciável necessidade de Organicidade cósmica” (1976, v. 13, p. 53) despontaram já na infância9 9 Teilhard escrevia determinados temas ou palavras com maiúsculas devido ao teor objetivo e global que eles ganharam em suas reflexões. O contato com a natureza, com os minerais, as pedras e a influência da espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus marcaram decisivamente sua visão de mundo. Essas experiências existenciais somadas às reflexões científicas conduziram-no a entrever um Polo evolutivo do Mundo, um “polo de consistência, que tinha as propriedades de uma Energia, de um Fogo que atravessava o Universo, metamorfoseando qualquer coisa” (1976, v. 13, p. 55).

A visão científico/cósmica foi desenvolvida na perspectiva ortogenética, orientação que possibilitou sua visão do Cristo cósmico, Alfa e Ômega. O argumento mais contundente desse molde pré-darwiniano, cujo expoente foi Lamarck (1744-1828), era que as “formas de vida progridem invariavelmente em direção a uma maior complexidade e perfeição” (VASCONCELOS, 2015VASCONCELOS. A. M. A extensão da cristogênese em Teilhard de Chardin: “Omnia in ipso constant” (Cl 1,17). 2015. 331 p. Tese (Doutorado em Teologia) – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte, 2015. Disponível em: https://faculdadejesuita.edu.br/wp-content/uploads/2022/05/250718-sTjfJ2X2gVfLC.pdf. Acesso em: 10 maio 2023.
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, p. 38). Esta tese foi rechaçada por Charles Darwin (1809-1882), mas convém salientar que o jesuíta francês era concorde com o papel do acaso e da seleção natural, postulados neodarwinistas.

Uma ressalva a fazer e poucas vezes considerada pelos estudiosos é o fato que a visão científica teilhardiana deve ser vista sob a lente de um geólogo e de um paleontólogo. Tais competências se limitam a “conhecer a estrutura e a evolução do mundo, por análise minuciosa dos fenômenos, os mais escondidos da natureza, mas, também, pela busca dos laços que os unem em um todo coerente e inteligível” (WILDIERS, 1959WILDIERS, N. M. Avant-propos. In: TEILHARD DE CHARDIN, P. L’avenir de l’homme. Paris: Seuil, 1959. p. 11-16. (Oeuvres de Teilhard de Chardin, 5)., v. 5, p. 13). O alvo desses cientistas é, pois, “apreender a estrutura do universo e da vida em suas dimensões históricas” (ibid.). Fato este que favorece, entre outros pontos, a possibilidade da investigação do futuro.

O cosmo é a composição da cosmogênese, biogênese, noogênese e cristogênese10 10 Para maiores detalhes dessa visão, consultar a obra principal do jesuíta francês, “O Fenômeno Humano”. . A construção cosmológica foi concebida na perspectiva ascendente e pensada na forma

de um cone evolutivo (o ponto Ômega) que, primeiramente, se projeta como um foco de convergência imanente: a Humanidade totalmente refletida sobre si mesma. Mas, examinando-o, verifica-se que esse foco, para ser sustentado, supõe por trás dele, um núcleo transcendente, — divino

(TEILHARD DE CHARDIN, 1963TEILHARD CHARDIN, P. L’Activation de l’énergie. Paris: Seuil, 1963. (Oeuvres de Teilhard de Chardin, 7)., v. 7, p. 152).

A dinâmica ascensional do universo, aqui apresentada em um apanhado panorâmico, foi vista num movimento animado, complexo e convergente. Cabe salientar que a origem do mundo não foi trabalhada, fenômeno hoje conhecido como Big Bang, pois Teilhard acreditava que o universo jamais poderia dar o espetáculo do começo absoluto. Assim, a trama do cosmo ganhou formas cada vez mais complexas, com as características da pluralidade, energia e unidade, dando origem ao surgimento e ao desenvolvimento da vida.

A cosmogênese ganhou forma com o surgimento dos átomos, moléculas, células, multicélulas. A biogênese, em continuidade à cosmogênese, deu origem aos seres vivos autônomos e mais centrados sobre eles mesmos. O movimento da noogênese marcou o surgimento do pensamento. Este patamar da cadeia evolutiva, segundo o teólogo John Haught, pesquisador dos campos da cosmologia física, biologia evolutiva, geologia e cristianismo, não é tratado pelos físicos e cosmólogos, mas postulado teilhardiano. No horizonte dessa intuição, ele afirma que “apesar de a recente emergência da noosfera constituir sem dúvida parte da história cósmica, ela, ironicamente, ainda não se converteu em temática de fundo para a cosmologia” (2010, p. 113 apud VASCONCELOS, 2015VASCONCELOS. A. M. A extensão da cristogênese em Teilhard de Chardin: “Omnia in ipso constant” (Cl 1,17). 2015. 331 p. Tese (Doutorado em Teologia) – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Belo Horizonte, 2015. Disponível em: https://faculdadejesuita.edu.br/wp-content/uploads/2022/05/250718-sTjfJ2X2gVfLC.pdf. Acesso em: 10 maio 2023.
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, p. 98, nota 201). Guardada esta devida precaução, é possível, entretanto, afirmar que essa estrutura do universo não é dirigida pelo mero acaso, mas apresenta uma coerência interna e o sentido essencial da história universal.

Teilhard explica que “do processo físico-químico da Matéria revitalizada, um ponto crítico ‘de reflexão’, desencadeou as propriedades específicas do Humano” (1976, v. 13, p. 43.45). A expressão “ponto crítico”, na dialética teilhardiana, atesta mudanças de estado, pontos de tensão, crises que sinalizam para o nascimento de algo novo e melhor. Em suas palavras: “há por toda parte pontos “críticos” ou “singulares” nos movimentos da Matéria. Por que não se apresentariam nas transformações da vida?” (1966, v. 3, p. 253). Esta posição mostra que “o mecanismo da Criação exige: a mesma dor que mata e decompõe é necessária ao ser a fim de que ele viva e se torne espírito” (1968, p. 36, grifo do autor). Entendemos também que tais pontos são rupturas. Dessa forma, acreditamos que a humanidade, para dar saltos a ordens mais elaboradas, novas consciências, precisa conceber o seu destino unificado à Terra Mater.

Ousaríamos afirmar que a humanidade está atravessando “pontos críticos” em sua trajetória evolutiva. E a pandemia da Covid-19 pode, de fato, ser o marco dessa passagem. A despeito do que se assevera, as análises dos pensadores arroladas no tópico anterior não deixam dúvida de que a civilização está sendo pressionada a se libertar do caos que a sufoca. Mais, da sua marcha desgovernada rumo ao que vislumbra ser potencial para a realização do ser humano. O neurocientista Sidarta Ribeiro sustenta que a “consciência planetária precisa se expandir para mudar de rumo”11 11 RIBEIRO, S. Futuro depende de expansão da consciência planetária, diz Sidarta Ribeiro. São Paulo: Folha de São Paulo, 7 maio 2022. Podcast. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/05/futuro-depende-de-expansao-da-consciencia-planetaria-diz-sidarta-ribeiro.shtml. Acesso em: 03 set. 2023. . Aliás, tese bem explorada por Teilhard ao trabalhar a ideia da camada pensante do Universo.

A ascensão da consciência ocasionou um movimento acelerado em direção a uma maior unificação, complexidade e convergência. Essa maturação humana complexa e evoluída alcançou o ponto crítico e final de um estado de Ultra-reflexão, o Ultra-humano (reflexão coletiva). Doravante, à cabeça da cosmogênese, o jesuíta pressentiu um “Pólo, não somente de atração, mas de consolidação, [...] sob a forma de Ponto Ômega, a consistência do Universo” (1976, v. 13, p. 49). A sua função cósmica é suscitar e manter sob a sua irradiação a reflexão no Mundo ([19--], v. 1, p. 300). Detalhe, esse Pólo já é uma anunciação divina.

O componente humano da visão teilhardiana está ligado ao cósmico. O aparecimento do “fenômeno humano” foi marcado pelo poder de pensar e refletir ([19--], v. 1, p. 359, nota 3)12 12 Estamos utilizando a tradução em português da obra “O Fenômeno Humano”, cuja tradução e notas explicativas foram feitas por José Luiz Archanjo. . A camada pensante do Universo (noos – espírito – pensamento – inteligência) “é dotada de uma grandeza viva, de dimensões planetárias. [...] À base (como em toda ‘esfera’), ubiquidade e solidariedade. Mais acima, por acréscimo, unidade orgânica de operação, [...] cobrindo a multidão desordenada dos vivos, a Unicidade humana” (1976, v. 13, p. 42). É possível entrever que essa esfera pensante aponta para realidades espirituais. O amor colaborativo entre pessoas e grupos, a união, o mais-ser. A fraternidade que é a condição inerente a uma humanidade que cresce, que se desenvolve ([19--], v. 1, p. 278, grifo do autor).

A união é o fenômeno essencial do movimento evolutivo: “tudo se move no Universo, no sentido da unificação” (1963, v. 7, p. 122). A própria ação criadora de Deus acontece unindo todas as coisas, o Filho que se uniu à finitude humana (Fl 2, 6-8). Cabe ressaltar que o sentido de unificação pode dar a impressão de uma uniformização. Contudo, diligentemente, Teilhard afirma que a

[...] união diferencia. Quanto mais as pessoas se unem, mais tornam-se o Outro, mais se acham ‘eles mesmos’ ([19--], v. 1, p. 296, grifo do autor; 2010, p. 88). Quanto mais nos associamos aos outros, mais logramos a plenitude de nossa pessoa (1959, v. 5, p. 248), mais nos ligamos ao Maior do que nós

(2010, p. 57, grifo do autor).

O caminho para a união é o amor, entendido no sentido encarnacional profundamente cristão. Esta virtude é vista como “a mais universal, a mais formidável e a mais misteriosa das energias cósmicas” (TEILHARD DE CHARDIN, 1962, v. 6, p. 40), é vivenciada pela própria atração do Cristo Ômega e no encontro com o outro. O homem deve encontrar nas diferentes realidades, o alimento que nutre a busca pelo ser-mais (1968). Este neologismo é bem explorado nos escritos teilhardianos. O primeiro sentido diz respeito à visão cósmica. Nas diferentes fases da evolução o mundo vai se tornando “mais”, vai se organizando em torno de centros novos, superiores, unificadores. É o fenômeno físico da centração. O segundo, diz respeito ao “Fenômeno espiritual” (1962, v. 6, p. 130). A centração, aqui, ganha o aspecto intelectual, moral e espiritual. Isso equivale dizer que, “para ser nós mesmos é preciso [...] sempre buscar mais ordem, mais unidade nas nossas ideias, nossos sentimentos e nossa conduta. [...] Interessar-nos pela vida interior, com sua deriva inevitável para objetos cada vez mais espirituais e elevados” (TEILHARD DE CHARDIN, 1973, v. 11, p. 130).

Em seguida, a descentração. “Apenas podemos progredir até o termo de nós mesmos saindo-nos e unindo-nos aos outros, de modo a desenvolver por esta união um aumento de consciência” (1973, v. 11, p. 131). Torna-se, portanto, aperceber-se “da emergência do amor que, sob todas as suas formas, nos instiga a associar-nos com os outros [...]. O amor, cuja função e o charme são essenciais para nos completar” (ibid.).

Ainda mais, devemos sobrecentrarmos em um Maior: “um centro de ordem superior que nos aguarda, [...] não mais somente ao lado, mas, além e acima de nós mesmos”. Em desdobramento, “não mais somente desenvolver-se a si mesmo, nem somente se dar ao outro – mas submeter e conduzir a sua vida a um maior que si mesmo. De outro modo dito, primeiro ser, em seguida, amar, e finalmente, adorar” (1973, v. 11, p. 131). Deve-se ressaltar que tal categoria, mais-ser, exclui toda atitude de dominação que o ser humano pode buscar em suas relações.

Em continuidade, o terceiro componente universal da visão teilhardiana é o crístico. Aqui, precisamos o estágio da cristogênese. A identidade hipotética do Ômega da razão ganha agora o sentido da Revelação. Assim, esse ponto é identificado com o “Cristo-Ômega”, também Alfa, porque desde sempre junto ao Pai (Col 1, 15), encarnado no “coração da matéria” e Ressuscitado dinamizando, energizando, redimindo, polarizando todas as coisas n’ELE. A luminosidade que Teilhard percebia no interior da terra, ainda quando criança, ganhou certeza. O divino com suas “propriedades de uma Energia, de um Fogo, metamorfoseia, pouco a pouco, a matéria” (1976, v. 13, p. 55). Agora, a “consistência” “do humano-divino iluminava e explodia do interior da matéria, como um coração e centro de cada elemento e realidade do universo.

A Terra Mater é cristificada. Ela gerou em seu ventre o Filho de Deus e o seu centro é o Cristo cósmico, o Cristo Evolutor. Doravante, é “carregada de Poder criativo, é um Oceano agitado pelo Espírito, Argila amassada e animada pelo Verbo encarnado” (TEILHARD DE CHARDIN, 1965TEILHARD CHARDIN, P. Écrits du temps de la guerre (1916-1919). Paris: Grasset, 1965. (Le Cahiers Rouges), p. 445). Aí, todos os seres vivos estão em inter-relação, há uma relação orgânica de todos os acontecimentos, o Universo é amorizado e tem propósito. No bojo dessa visão, o cristão é convocado a custodiá-la, a reverenciá-la, e a “considerar seus limites e alcance, [...] sentir-se irmão e irmã de todos os seres que a Terra criou junto conosco” (BOFF, 2021bBOFF, L. O doloroso parto da mãe terra: uma sociedade de fraternidade sem fronteiras e de amizade social. Petrópolis: Vozes, 2021b., p. 262). Notadamente, com seus atos, cristianizar esse meio, “no qual nos movemos, somos e existimos” (At 17, 28). Trata-se de assumir a sua vocação como “peregrino do futuro”13 13 Teilhard recebeu o título de “’peregrino do futuro’”, pois, para ele, “o mundo só tem interesse se for para frente e para cima”, “tudo que ascende converge”. Sua mente não é circular (não é o eterno retorno), mas tudo vai “adiante” com toda a força do passado”. SEQUEIROS, L. Pierre Teilhard de Chardin. Completa-se um século da redação de “A potência espiritual da Matéria”. Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 10 ago. 2019. Publicado por Religión Digital, 08-08-2019. Disponível em https://www.ihu.unisinos.br/categorias/591532-pierre-teilhard-de-chardin-completa-se-um-seculo-da-redacao-de-a-potencia-espiritual-da-materia. Acesso em: 10 set. 2023. com mais inspiração e criatividade.

O percurso feito até aqui mostrou-nos que duas articulações são vitais para “nos constituir como um ‘nós’ que habita a Casa Comum” (FT, n. 22): a tarefa de concatenar a conversão pessoal e a transformação sócio-ambiental.

Um universo que foi visto como um campo de energias divinas, efetivamente, evoca uma espiritualidade ecológica. É de suma importância destacar que Teilhard não trabalhou assuntos ecológicos, visto que em sua época tais problemáticas ainda não tinham desencadeado as graves crises e desastres socioambientais. Não obstante, sua tríplice visão da realidade cósmica, humana e divina fomenta, sem dúvida, uma espiritualidade ecológica.

3 Espiritualidade ecológica: contribuições de Teilhard de Chardin e do Papa Francisco

A humanidade vem experimentando dolorosamente os efeitos deletérios da destruição da “casa comum”. Chegar à raiz da crise causadora dessa destruição é “entender a atual realidade de nosso planeta [...] e acreditar “que há uma patologia aguda que é intrínseca ao sistema que atualmente domina e explora o mundo” (BOFF, 2022BOFF, L.; HATHAWAY, M. O Tao da Libertação: explorando a ecologia da transformação. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2022., p. 51). A despeito disso, já supomos que tal constatação nos remete de imediato para o fato do desenvolvimento e da propagação de um capitalismo global e selvagem. Comprovação que o teólogo franciscano sustenta. O declínio, todavia, como pudemos ver, seguindo Teilhard de Chardin, é, sem dúvida, oportunidade de transformação e crescimento. Leonardo Boff (2002)BOFF, L. Crise: oportunidade de crescimento. Campinas: Verus, 2002., seguindo esta trilha, afirma que a crise é um bom sintoma, pois abre possibilidades e fermenta um processo depurador. Acolhê-la, compreendê-la, atravessá-la sem fugir pode ser, de fato, “oportunidade de amadurecer e dar um salto para dentro de um horizonte mais rico de vida humana e divina” (p. 47).

A superação da crise, propõe esse autor, exige reflexão e meditação sérias, recolhimento, elementos que devem capacitar para decisão e purificação libertadoras. A que temos enfrentado atualmente tem exigido a revisão do lugar do humano no mundo e suas relações com o cosmo, a realidade, uma revisão do entendimento de poder que se tem exercido como dominação. Em meio à crise, podemos afirmar, vislumbra-se a necessidade do cultivo de uma espiritualidade capaz de responder à crise ecológica e inspirar um novo humanismo. Destacaremos neste ponto as contribuições de Teilhard de Chardin e do Papa Francisco que podem ser compreendidas em profunda correlação, pois, não se pode negar que, na base da reflexão de Francisco, encontram-se muitos elementos da mística teilhardiana.

Depois de oito anos da publicação da Laudato si’, na qual chama atenção de todos e todas para o cuidado com a casa comum, Papa Francisco dirige-se novamente a todas as pessoas de boa vontade, para alertar sobre os riscos dos desequilíbrios ambientais que se aprofundam, mas também para estimular, motivar a todos ao cuidado para o bem comum, lembrando aos fiéis católicos e aos irmãos e irmãs de outras religiões que o cuidado da vida está intrinsecamente ligado à fé. Em sua Exortação Apostólica Laudate Deum (LD), reitera a sua preocupação com a crise climática global que tem, conforme demonstram vários fatores elencados da encíclica, origem humana. O aumento da utilização de combustíveis fósseis tem acelerado o “efeito estufa e, sobretudo a partir de meados do século XX”, provocado desequilíbrios climáticos globais intensamente sentidos atualmente. Não se pode duvidar, ele insiste, dos “enormes progressos conexos com a desenfreada intervenção humana sobre a natureza nos últimos dois séculos” (LD, n. 14). A pandemia da Covid-19,

veio confirmar a estreita relação da vida humana com a dos outros seres vivos e com o ambiente, mostrando de modo particular que aquilo que acontece em qualquer parte do mundo tem repercussões sobre todo o planeta. Isto permite-me insistir sobre duas convicções que não me canso de reiterar: “tudo está interligado” e “ninguém se salva sozinho”

(LD, n. 19).

Continuamos sob o domínio do paradigma tecnocrático, denuncia o Papa, confiantes no poder da tecnologia e da economia que carrega a ideia de um crescimento infinito ou ilimitado. Sob a referência de um desenvolvimento tecnológico sem limites, “tudo o que existe deixa de ser uma dádiva que se deve apreciar, valorizar e cuidar, para se tornar um escravo, uma vítima de todo e qualquer capricho da mente humana e das suas capacidades” (LD, n. 22). O paradigma tecnocrático tem afastado o humano de uma relação harmoniosa com a natureza, da possibilidade de uma integração ao ambiente, de sorte que a inteligência e a liberdade humanas sejam fatores de enriquecimento, atuem como parte de suas forças internas e do seu equilíbrio (LD, n. 26). Faz parte do paradigma teocrático uma postura antiética disfarçada com os recursos do marketing e da informação falsa, a ilusão do máximo lucro disfarçado de racionalidade, promessas ilusórias de progresso e as ideias erradas de meritocracia.

O Pontífice lamenta que não tenhamos feito, contemporaneamente, bom uso das crises. Reafirma o que já está na Fratelli Tutti: as estratégias desenvolvidas depois da crise financeira de 2007-2008 e da pandemia da Covid-19 “têm se orientado para maior individualismo e maior liberdade para os poderosos” (LD, n. 9). O desafio, segundo ele, é redesenhar o multilateralismo. Defende um multilateralismo “a partir de baixo”, a criação de “espaços de diálogo, consulta, arbitragem, resolução de conflitos, supervisão e, em resumo, uma espécie da ‘democratização’ na esfera global, para expressar e incluir as diversas situações” (LD, n. 43).

Preocupado com a crise climática, avalia os esforços realizados a nível global pelas conferências sobre o Clima e conclui que os acordos firmados tiveram baixo nível de implementação por falta de “mecanismos de controle, revisão periódica e sanção das violações” (LD, n. 52). Sem perder a esperança “na capacidade humana de transcender seus pequenos interesses e pensar grande”, propõe atenção e empenho de todos para que a COP28 a se realizar em Dubai proponha “fórmulas vinculantes de transição energética” que sejam “eficientes, vinculantes e facilmente monitoráveis” (LD, n. 59).

Este quadro que mostra o aprofundamento da crise em dimensões planetárias e pede comprometimento de todos com o cuidado da vida clama ainda por uma conversão em termos de reconciliação com a criação que envolva um engajamento amplo de alcance social e ambiental. Uma conversão que traga uma mudança duradoura em nível pessoal e comunitário, conforme proposto na encíclica Laudato si’ (n. 218-219).

Segundo a encíclica, considerando a tradição bíblica, o humano tem a responsabilidade de conduzir a criação à sua realização plena. No parágrafo 83, tendo presente a mística teilhardiana, Francisco afirma: “A meta do caminho do universo situa-se na plenitude de Deus, que já foi alcançada por Cristo ressuscitado” (LS, n. 83). E acrescenta: “o ser humano, dotado de inteligência e amor e atraído pela plenitude de Cristo, é chamado a reconduzir todas as criaturas ao seu criador” (LS, n. 83). A partir destas considerações, pode-se dizer que o destino do mundo é ser transfigurado pela vivência de ágape. E que “a consciência dessa comunhão universal no contexto da vocação de amor para a qual o humano é chamado deve levar a uma ecologia integral, pois traz a exigência de unir à preocupação com o meio ambiente, o amor sincero pelos seres humanos e o compromisso com os problemas da sociedade (LS, n. 91)” (MARIANI, 2017MARIANI, C. M. C. B. Espiritualidade para a construção de uma Ecologia Integral. Cadernos De Fé E Cultura, Campinas, v. 2, n. 1, p. 13–22, 2017. Doi.org/10.24220/cfc.v2i1.3939. Disponível em: https://seer.sis.puc-campinas.edu.br/cadernos/article/view/3939. Acesso em: 06 nov. 2023.
https://seer.sis.puc-campinas.edu.br/cad...
, p. 21).

Teilhard é uma figura inspiradora para uma espiritualidade que cultive o respeito e a reverência para com a terra, pois o universo é um “meio divino” e deixa transparecer a presença de Deus. Percebe-se, de imediato, que tal visão sugere uma espiritualidade na qual o ser humano se abre à manifestação gratuita do Senhor da Vida na história humana, na natureza e nas relações dos ecossistemas. Destacados teólogos são unânimes em afirmar que a sua cosmovisão é inspiradora para os atuais problemas ecológicos. Efetivamente, ele via a ação do Verbo Encarnado atravessando o Universo desde os seus primórdios e, assim, atraindo, redimindo e polarizando todas as criaturas n’Ele.

Em crítica a uma espiritualidade que se opõe ao mundo e ao corpo, Teilhard defende que Deus “nos espera verdadeiramente nas coisas, visto que é nelas que Ele vem a nosso encontro” (2010, p. 14). Em virtude da poderosa Encarnação do Verbo, ele afirma, nossa alma está totalmente voltada para Deus, isto significa que Deus está no mundo e revela ao mundo com Cristo, por Cristo e em Cristo, a sua ação amorosa que atrai a si a vida em evolução. Neste universo em evolução, toda a realidade é para Deus por meio de nossa alma configurada a Cristo, o Verbo encarnado.

Antes que um novo paradigma ecológico começasse a ganhar espaço com a crise civilizacional que se instalou no fim do século XX, o jesuíta, com seu olhar de paleontólogo, já via o humano como um ser enraizado na matéria:

As raízes do nosso ser? Mas elas mergulham primeiramente no mais insondável passado. Que mistério foi o das primeiras células que um dia superanimaram o sopro de nossa alma! Que indecifrável síntese de influências sucessivas, na qual fomos para sempre incorporados! Pela matéria, em cada um de nós, é parcialmente a história inteira do mundo que se repercute. Por mais autônoma que seja nossa alma, ela é herdeira de uma existência prodigiosamente trabalhada, antes dela, pelo conjunto de todas as energias terrestres: ela encontra e reúne a vida em um nível determinado

(2010, p. 25-26).

Cada humano, ele capta, contemplando a realidade, é uma síntese única que atua na construção da obra de Deus que evolui rumo à comunhão universal: “Em cada alma, Deus ama e salva parcialmente o mundo inteiro, que esta alma resume de uma maneira particular e incomunicável” (2010, p. 27). Pela interligação matéria-alma-Cristo, tudo o que fazemos participa e colabora com o aperfeiçoamento do mundo, na medida de nossa adesão à potência criadora de Deus. Em virtude da criação e, principalmente, pela Encarnação, tudo é sagrado para quem vê em tudo a atuação salvífica de Deus envolvendo e levando o mundo a sua consumação. Tocado por esta revelação, sonha com a chegada da consciência de que o trabalho humano, qualquer que seja, é recebido e utilizado por um Centro divino do universo:

Ah! Virá o tempo em que os homens, despertados para o sentido da estreita ligação que associa todos os movimentos deste mundo no único trabalho da Encarnação, não poderão entregar-se a qualquer de suas tarefas sem a iluminação desta visão distinta de que seu trabalho, por mais elementar que ele seja, é recebido e utilizado por um Centro divino do universo

(2010, p. 34-35)!

Isto significa que é preciso despertar para o fato de que o humano, quando age, participa do projeto criador e salvador de Deus que a tudo envolve. Este processo, no entanto, acrescenta Chardin, não se dá apenas com a ação. Também quando sofre, o humano participa da divinização da criação. O mergulho no fundo de si mesmo leva a um oceano de forças que nos influenciam. A parte passiva de nossa existência está mergulhada em vasta escuridão, rica, turva e complexa, constituída por energias confusas, forças amigas favoráveis ao nosso esforço e forças inimigas que interferem em nossas tendências e nos afastam do mais-ser. São, segundo a sua denominação, “passividades de crescimento” e de “diminuição” que se encontram na descida ao mais secreto de nós mesmos. À medida que nos afastamos da superfície iluminada pela vida social, afirma, caminhamos rumo ao abismo sem fundo de onde brota a vida, realidade fontal que nos escapa, pois não se encontra sob o nosso domínio. A partir de sua própria experiência, descreve a experiência da descida que possui um inegável aspecto místico:

Então, pela primeira vez talvez de minha vida (eu, que supostamente devo meditar todos os dias!), eu tomei a lâmpada e, deixando a área aparentemente clara de minhas ocupações e de minhas relações de cada dia, desci ao mais íntimo de mim mesmo, ao abismo profundo de onde eu sinto que emana confusamente meu poder de ação. [...] A cada passo descido, um outro personagem se revelava em mim, cujo nome exato eu não podia dizer, e que não me obedecia mais. E quando precisei interromper minha exploração, por que me faltava chão sob meus passos, havia aos meus pés um abismo sem fundo de onde saía, vindo não sei de onde, a onda que ouso chamar de minha vida

(2010, p. 44, grifo do autor).

As “passividades de crescimento”, explica Teilhard, refletem a percepção da presença do próprio Deus na vida que surge em si e na matéria que lhe dá suporte. Diz respeito ao encontro com Aquele que faz participar do seu ser, modela e impulsiona ao acabamento. Estas passividades, que são vontade de ser, desejo de ser isto ou aquilo, oportunidade de realização, são carregadas de influência de Deus, influência que se manifestará como a energia organizadora do Corpo místico de Cristo. Para a comunhão com Deus, fonte de vida, continua, tem-se que reconhecê-lo nestas passividades e pedir que ele esteja nelas cada vez mais. E a partir desse reconhecimento dispor-se a colaborar com sua presença ativa. Colocando-se como aquele que ora à Deus, novamente em primeira pessoa, escreve:

Eu colaboraria com vossa delicada ação e o faria duplamente. À vossa inspiração profunda, primeiramente, que me manda ser, eu responderia pelo cuidado de nunca sufocar nem desviar nem dissipar a minha potência de amar e de agir. E, em seguida, à vossa providência envolvente que me indica a cada instante, pelos acontecimentos do dia, o passo seguinte a dar e o degrau a escalar, eu me apegaria com cuidado de não deixar escapar ocasião alguma de subir ‘em direção ao Espírito’

(2010, p. 47).

Por outro lado, sendo participantes da vida, sofremos também influências que atravancam o crescimento, as chamadas “passividades de diminuição” provocam o desvio no caminho da evolução rumo à cristificação que é a transformação por força do amor. Potências de diminuição são muitas e variadas, tem origem interna e externa. Enfrentamos uma diversidade de males físicos, mas também o mal moral, consequência do mal uso da nossa liberdade. Em virtude da ressurreição, todavia, nada mais tem força de morte. Deus, em sua luta contra o mal, integra as forças de diminuição no estabelecimento do Reino de Deus e do Meio Divino:

Deus, visto que nós nos confiamos amorosamente a Ele, sem descartar de nós as mortes parciais nem a morte final, que fazem essencialmente parte de nossa vida, as transfigura, integrando-as em um plano melhor. E a esta transformação são admitidos não somente nossos males inevitáveis, mas também nossas faltas, mesmo as mais voluntárias, unicamente sob a condição de as chorarmos

(2010, p. 55).

A Providência, para aqueles que creem no mistério da encarnação e no poder salvífico do Verbo encarnado, coração da fé cristã, acrescenta Teilhard, converte o mal em bem. Assim, quando o fracasso sofrido em nossa atividade nos desvia para objetos ou direção mais favorável; quando a experiência da perda nos lança à profundidade, a um âmbito menos material; quando no enfrentamento de situações “inteiramente desconcertantes”, as experiências de maior fracasso se tornam fator de união com Deus.

Segundo o paleontólogo, entregar-se à Providência diante das potências de diminuição retira-nos de nós mesmos, destrói nosso egoísmo e amplia nossas perspectivas humanas, assim como a espiritualização de nossos gostos e ambições promove em nós um êxtase que deve arrebatar-nos para nos subordinar a Deus. Neste sentido, “desenvolvimento e renúncia, apego e desapego, não se excluem. Pelo contrário, eles se harmonizam, como, na função de nossos pulmões, a aspiração do ar e sua aspiração” (2010, p. 69). A força inimiga, que abate e desagrega, quando aceita com fé, pode tornar-se um princípio amoroso de renovação. Neste contexto, compreende-se o sentido da Cruz:

[...] Jesus, sobre a cruz, é o símbolo e a realidade, tudo junto, do imenso labor secular que, pouco a pouco, eleva o espírito criado para conduzi-lo às profundezas do Meio Divino. Ele representa (em um sentido verdadeiro, Ele é) a criação que, sustentada por Deus, sobe as ladeiras do ser, ora agarrando-se às coisas para nelas tomar um ponto de apoio, ora arrancando-se delas para ultrapassá-las, compensando sempre por suas penas físicas o recuo trazido por suas quedas morais

(2010, p. 74).

Assim como lança luz sobre a cruz, a espiritualidade cristã, nessa perspectiva, longe que levar a uma fuga do mundo, revela a potência espiritual da matéria. Isso nos ensina o místico, por meio de seu testemunho apaixonado:

Matéria fascinante e forte, matéria que acaricias e que virilizas. Matéria que enriquece e destróis, confiante nas influências celestes que perfumam e purificam tuas águas, eu me abandono a tuas camadas potentes. A virtude do Cristo foi assimilada em ti. Por teus encantos arrebata-me, por tua seiva nutre-me, por tua resistência enrijece-me. Por teu desarraigamento, liberta-me. Por ti mesma, enfim, diviniza-me

(2010, p. 81-82, grifo do autor).

Como pudemos ver, a percepção de Teilhard de Chardin acerca da espiritualidade cristã corresponde às exigências colocadas pela crise ecológica que atravessamos na atualidade. Inspira uma vivência de fé comprometida com uma existência vivida cristicamente. O “Meio Divino” convida a olhar para a realidade para ver nela a diafania de Deus no universo, a onipresença divina que a tudo transfigura. A luz da fé nos faz ver que a realidade natural, concorda o Papa Francisco, está envolvida pelo Ressuscitado que a guia para o absoluto (LD, n. 65).

4 Espiritualidade ecológica e novo humanismo

A meta, para Francisco e para Teilhard, é a comunhão, “caminhar em comunhão e com responsabilidade”. De fato, podemos encontrar no novo humanismo proposto pelo Pontífice grande ligação com a espiritualidade ecológica que tem, em Teilhard de Chardin, uma de suas inspirações. O otimismo do paleontólogo, apaixonado pela vitalidade revelada no coração da matéria, valoriza a presença humana no mundo que ele considera a “flecha ascendente da evolução” (1956, v. 8, p. 61 — 76). Ademais e, ao mesmo tempo, vislumbra o humano descentrado dos interesses individuais e disposto a colaborar com Deus, agindo e entregando-se à Providência, que a tudo integra em seu projeto divinizador. Segundo ele, três virtudes humanas concorrem para desenvolvimento do “Meio Divino”, isto é, para que cresça a percepção da onipresença divina atuando a partir do coração da matéria: a pureza, a fé e a fidelidade.

A virtude da pureza, diferente do que se costuma interpretar, não é a ausência de falta, mas o descentramento. O impuro é o que se curva ao egoísmo e “introduz em si e em torno de si um princípio de lentidão e de divisão na unificação do universo em Deus” (TEILHARD DE CHARDIN, 2010TEILHARD CHARDIN, P. O Meio Divino: ensaio de vida interior. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2010., p. 107). Puro é o que “segundo seu lugar no mundo, procura fazer dominar, acima de uma vantagem imediata ou momentânea, a preocupação do Cristo a consumar em todas as coisas” (Ibid., p. 107). A fé evangélica, explica Teilhard, é a “convicção prática” de que o Criador continua presente e atuante a sua obra, integrando os acontecimentos em um plano superior:

Se não cremos, as vagas nos tragam, o vento sopra, o alimento nos falta, as doenças nos abatem ou nos matam, a força divina é impotente ou distante. Se, pelo contrário, nós cremos, as águas se tornam acolhedoras e doces, o pão se multiplica, os olhos se abrem, os mortos ressuscitam, a potência de Deus torna-se como que trasvasada de força e se espalha por toda a natureza

(2010, p. 110).

Se cremos, o acaso se ordena, a realidade que parece ameaçadora e irredutível, aos poucos, torna-se, a nós, acolhedora e familiar. A fé faz ver que o real não é movido por rígidos determinismos da matéria e dos grandes números, mas por “flexíveis combinações do Espírito que dão ao universo a sua consistência” (2010, p. 113).

Pela virtude da fidelidade, tornamo-nos colaboradores da obra de Deus. “A fé consagra o mundo. A fidelidade comunga-o” (2010, p. 113, grifo do autor). Na fé, o mundo, a vida, entre nossas mãos, são colocados como hóstia, “prontos a carregar-se da influência divina, quer dizer, de uma real presença do Verbo encarnado” (2010, p. 111). Na fidelidade, colocamo-nos nas mãos de Deus, unimo-nos a ele em sua ação. Deus nos chama a colaborar no eterno crescimento, numa dinâmica que implica amor e desapego:

quanto mais cremos compreendê-lo, mais Ele se revela outro. Quanto mais pensamos possui-lo, mais Ele se recua, atraindo-nos para as profundezas de si memo. Quanto mais nos aproximamos dele, por meio de todos os esforços da natureza e da graça, mais Ele aumenta, em um mesmo movimento, sua atração sobre nossas potências e sobre a receptividade dessas potências a este encanto divino

(2010, p. 115).

Ser fiel a esta dinâmica é fazer a vontade de Deus, deixar-se crescer num movimento que exige a passagem dos desejos menores aos desejos maiores, um exercício contínuo de renúncia para uma sempre maior integração na vida divina.

Entretanto, a salvação, afirma Teilhard, só se consuma solidariamente. A caridade intensifica o “Meio Divino”. A “tensão da comunhão” que faz o humano aplicar-se “a seu dever de extrair vida até das potências carregadas de morte” (2010, p. 121) conduz ao amor ao outro, que é, na sua perspectiva, o grande desafio humano. Mais do que a atração por uma simpatia pessoal, Deus convida a tomar consciência da potência espiritual de unidade que vem do Verbo encarnado: “A caridade cristã [...] não é outra coisa que a coesão mais ou menos consciente das almas, gerada por sua convergência comum in Christo Jesu” (2010, p. 120, grifo do autor).

Como se vê, a contribuição do jesuíta francês para a vivência da espiritualidade ecológica cristã é muito atual. Ela concorda com a necessidade de uma consciência nova do lugar que o humano ocupa no mundo. A tradição judaico-cristã, confirma o Papa Francisco, “defende o valor peculiar e central do ser humano no mundo”. No entanto, mediante a ameaça do paradigma tecnocrático, necessitamos superar uma compreensão de humano autônomo, onipotente e ilimitado. Devemos defender um “antropocentrismo situado” (LD, n. 67), fundado no reconhecimento da existência de uma comunhão entre todos os seres “que nos leve a um respeito sagrado, amoroso e humilde” (LD, n. 67). E mais, um novo humanismo que apele à contribuição dos distintos saberes para uma visão mais integral e integradora, que leve em conta o vínculo entre o humano em seu contexto social (familiar, laboral, urbano) e o meio ambiente, isto é, a interação entre os ecossistemas e entre os diferentes mundos de referência social (LS, n. 141).

O humanismo a ser relançado pela Igreja, afirma Francisco na carta Humana communitas (HC), “humanismo da vida”, deve estar fundado na percepção da paixão de Deus pela criatura e o seu mundo, revelada pelo seu Filho Unigênito e na consciência que “este nosso mundo é a morada terrena de nossa iniciação na vida, o lugar e o tempo no qual já podemos começar a pregustar a morada celeste à qual estamos todos destinados (2 Cor 5,1), onde viveremos em plenitude a comunhão com Deus e com todos”. Insiste na necessidade de um humanismo fraterno e solidário dos indivíduos e dos povos que deve pôr em primeiro plano a fraternidade universal semeada pela boa nova do reino de Deus, pois

Uma coisa é sentir-se obrigado a viver juntos, outra é apreciar a riqueza e a beleza das sementes de vida comum que devem ser procuradas e cultivadas em conjunto. Uma questão é resignar-se a conceber a vida como luta contra antagonistas que nunca acabam, outra, é reconhecer a família humana como sinal de vitalidade de Deus Pai e promessa de um destino comum para o resgate de todo o amor que, desde já, o mantém em vida

(HC, n. 6).

Analisando as ideias e ações de Francisco, o cientista social, Robson Sávio Reis Souza Souza (2022, p. 63)SOUZA, R. S. R. A aurora de um novo humanismo: ideias e ações do Papa Francisco. In: GUIMARÃES, J. G. M. et. al. O novo humanismo: paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco. São Paulo: Paulus, 2022. p. 33-69., afirma que a mística de Francisco ligada à ética do cuidado “se concretiza num humanismo samaritano (solidário, de cooperação entre as nações, de construção coletiva da paz, da interligação de tudo)”. Um novo humanismo que seja um projeto construído coletivamente e lastreado numa práxis. No magistério de Francisco, aponta este autor, a escuta da Palavra de Deus tem inspirado a construção de novos caminhos, novas pontes, novos pactos no campo da economia, da educação, da cultura, da política, das religiões).

Conclusão

Este artigo procurou contribuir para o aprofundamento da noção de espiritualidade ecológica que tem, na perspectiva do Papa Francisco, como uma de suas referências, os escritos espirituais de Teilhard de Chardin. Tal constatação aparece explicitamente em nota ao parágrafo 83, da Carta Encíclica Laudato si’, mais implicitamente em toda a reflexão sobre espiritualidade. Para levar a cabo a proposta, o percurso investigativo, num primeiro momento, situou a atual “crise civilizatória” na ótica de alguns autores. Eles são concordes em afirmar que a pandemia da Covid-19 pôs às claras a tal crise.

Na sequência, a cosmovião teilhardiana, triádica e sacramental, mostrou que o universo, no decorrer da sua história evolutiva atravessa “pontos críticos”, que na verdade marcam a eclosão de novas realidades. Para além de toda e qualquer crise, a perspectiva sapiencial de um universo cristificado evoca a atuação do cristão como co-criador em Cristo. E também como não dizer de toda pessoa de boa vontade que testemunha uma trajetória humana transcendente.

O curso da pesquisa seguiu para os desdobramentos das posições de Teilhard de Chardin e do Papa Francisco acerca de uma espiritualidade ecológica e do novo humanismo. Aí, vislumbramos duas perspectivas. Primeira, a percepção da dinâmica sagrada do Universo. Tal perspectiva, na ótica teilhardiana, motiva-nos a indagar sobre a participação do humano na ecologia da vida e sua responsabilidade no percurso evolutivo do universo rumo à realização da criação em Cristo. O humanismo vislumbrado em tal visão ressalta a participação colaborativa da pessoa com Deus, dispondo-se, em sua trajetória existencial, a atuar na realidade para transformá-la.

O Pontífice, segunda perspectiva, assegura que, diante do quadro da destruição da “casa comum”, é preciso o comprometimento de todos para preservá-la. E mais, para assumir tal responsabilidade, evidentemente, se requer a reconciliação com a criação que se encontra destruída por aqueles que receberam a missão do cuidado para com ela. O novo humanismo proposto por Francisco supera o antropocentrismo moderno, que relativiza o lugar do humano no mundo e sua responsabilidade para com a criação. Para tal ultrapassem, logicamente, faz-se mister assumir uma postura de reverência ante a sacralidade do mundo, pois o ser humano é parte da criação, síntese única no processo evolutivo do universo.

A significativa contribuição de ambos, ou da mística teilhardiana para a exortação de Francisco, que tem insistido na necessidade do aprofundamento de uma espiritualidade ecológica, se verifica na insistência criativa em mostrar a inter-relacionalidade radical. A interconexão de todas as coisas no Universo vem sendo percebida e assumida a partir do novo paradigma ecológico, que se anuncia no atravessamento da atual crise civilizacional, fundada no mistério da encarnação.

No decorrer desta pesquisa constatamos que o tema da ecologia integral mereceria desdobramentos. Inclusive, mostrando como a espiritualidade deve ser integral e, como tal, também ecológica. No entanto, tal temática foge do escopo aqui estabelecido. O estudo ora empreendido mostrou que a espiritualidade ecológica pode ser melhor desenvolvida através do cultivo de um “novo humanismo”. Por sua vez, “um novo humanismo” deve ter em seu fundamento uma espiritualidade ecológica. Ademais, a pesquisa pôs às claras a perspectiva mística subjacente na Laudato si’. Acreditamos, pois, ser possível sustentar que os aportes de Teilhard de Chardin e do Papa Francisco são contributos significativos para a ultrapassagem do “ponto crítico” que a humanidade atravessa em sua trajetória evolutiva.

Siglas
  • FT  Carta encíclica Fratelli tutti
  • HC  Carta Humana communitas
  • LS  Carta encíclica Laudato si’
  • LD  Exortação apostólica Laudate Deum
  • OMS  Organização Mundial da Saúde
  • 1
    NINIS, A. B.; BILIBIO, M. A. Homo sapiens, Homo demens e Homo degradandis: a psiquê humana e a crise ambiental. Psicologia e Sociedade, v. 24, n. 1, abr. 2012NINIS, A. B.; BILIBIO, M. A. Homo sapiens, Homo demens e Homo degradandis: a psiquê humana e a crise ambiental. Psicologia e Sociedade, v. 24, n. 1, abr. 2012. Doi.org/10.1590/S0102-71822012000100006. Disponível em: https://www.scielo.br/j/psoc/a/w99gpkHvMPQSqrc34MW5zWc/?lang=pt. Acesso em: 10 jan. 2023.
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  • 2
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  • 3
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  • 4
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  • 5
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  • 6
    OLIVEIRA, L. A. Mutação civilizacional. São Paulo: Instituto CPFL, Canal Filosófico, TV Cultura, 17 abr. 2022. Vídeo Youtube (49min54)OLIVEIRA, L. A. Mutação civilizacional. São Paulo: Instituto CPFL, Canal Filosófico, TV Cultura, 17 abr. 2022. Vídeo Youtube (49min54). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=bKx97QYQM58. Acesso em: 10 set. 2022.
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  • 7
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  • 8
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  • 9
    Teilhard escrevia determinados temas ou palavras com maiúsculas devido ao teor objetivo e global que eles ganharam em suas reflexões.
  • 10
    Para maiores detalhes dessa visão, consultar a obra principal do jesuíta francês, “O Fenômeno Humano”.
  • 11
    RIBEIRO, S. Futuro depende de expansão da consciência planetária, diz Sidarta Ribeiro. São Paulo: Folha de São Paulo, 7 maio 2022RIBEIRO, S. Futuro depende de expansão da consciência planetária, diz Sidarta Ribeiro. São Paulo: Folha de São Paulo, 7 maio 2022. Podcast. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2022/05/futuro-depende-de-expansao-da-consciencia-planetaria-diz-sidarta-ribeiro.shtml. Acesso em: 03 set. 2023.
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  • 12
    Estamos utilizando a tradução em português da obra “O Fenômeno Humano”, cuja tradução e notas explicativas foram feitas por José Luiz Archanjo.
  • 13
    Teilhard recebeu o título de “’peregrino do futuro’”, pois, para ele, “o mundo só tem interesse se for para frente e para cima”, “tudo que ascende converge”. Sua mente não é circular (não é o eterno retorno), mas tudo vai “adiante” com toda a força do passado”. SEQUEIROS, L. Pierre Teilhard de Chardin. Completa-se um século da redação de “A potência espiritual da Matéria”. Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 10 ago. 2019SEQUEIROS, L. Pierre Teilhard de Chardin. Completa-se um século da redação de “A potência espiritual da Matéria”. Instituto Humanitas Unisinos, São Leopoldo, 10 ago. 2019. Publicado por Religión Digital, 08 ago. 2019. Disponível em https://www.ihu.unisinos.br/categorias/591532-pierre-teilhard-de-chardin-completa-se-um-seculo-da-redacao-de-a-potencia-espiritual-da-materia. Acesso em: 10 set. 2023.
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Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jan 2024
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2023

Histórico

  • Recebido
    24 Mar 2023
  • Aceito
    10 Out 2023
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