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Avaliação Cognitiva Infantil nos Periódicos Científicos Brasileiros

Infant Cognitive Assessment in Brazilian Scientific Journals

Resumos

O presente estudo investigou a produção científica brasileira voltada à avaliação cognitiva infantil entre 2002 e 2012. Foram analisados 67 artigos de 25 periódicos científicos. Os resultados evidenciaram que os anos mais profícuos foram 2007 e 2008. Pesquisas provindas da região Sudeste, desenvolvidas por mulheres, em coautoria e relatos de pesquisa foram os trabalhos mais frequentes, assim como os estudos com objetivo de diagnóstico-intervenção. Verificou-se, ainda, que a avaliação cognitiva infantil foi predominantemente realizada no contexto escolar e que Desenho da Figura Humana – DFH; Matrizes Progressivas de Raven e WISC – III foram os instrumentos mais utilizados. Dada à relevância da avaliação cognitiva infantil, bem como que a revisão descrita não foi exaustiva, ressalta-se a necessidade de outras investigações, principalmente no que diz respeito à qualidade dos instrumentos empregados.

avaliação psicológica; cognição; produção cientifica


The present study investigated scientific production in Brazil focused on infant cognitive assessment between 2002 and 2012. We analyzed 67 articles from 25 journals. The results showed that the most fruitful years were 2007 and 2008. Studies emanating from the Southeast, developed by women, and co-authored research reports were the most common type of articles, as well as studies related to diagnostic intervention. It was found also that infant cognitive assessment was predominantly realized in the school context and that the Draw a Human Figure test - DHF; the Progressive Matrices from Raven and the WISC – III were the most frequently used instruments. The importance of cognitive assessment and the fact that the described review was not exhaustive, emphasize the need for further investigation, especially with regard to the quality of the instruments used.

psychological assessment; cognition; scientific production


A Cognição e as questões relativas à inteligência e às aptidões representam uma das áreas sobre a qual a Psicologia mais tem se debruçado (Almeida & Primi, 2000Almeida, L. S., & Primi, R. (2000). BPR-5- Bateria de Provas de Raciocínio: Manual Teórico. São Paulo: Casa do Psicólogo.; Campos & Nakano, 2012Campos, C. R., & Nakano, T. C. (2012). Produção Científica Sobre Avaliação da Inteligência: O Estado da Arte. Interação em Psicologia, 16(2), 271-282.). De acordo com Vieira (1996)Vieira, E. B. (1996). Manual de gerontologia: um guia teórico-prático para profissionais, cuidadores e familiares. Rio de Janeiro: Revinter. e Sternberg (2000)Sternberg, R. J. (2000). Psicologia Cognitiva (M. R. B. Osório, Trans.). Porto Alegre: Artes Médicas., a cognição pode ser considerada como um termo global empregado para descrever as habilidades cognitivas ou o funcionamento mental que implica a habilidade para sentir, pensar, perceber, lembrar, raciocinar, formar estruturas complexas de pensamento e a capacidade para produzir respostas às solicitações e aos estímulos externos.

Sendo assim, a cognição compreende um conjunto de habilidade cerebrais/mentais necessárias para a aquisição de conhecimento. Ela envolve a capacidade de reconhecimento e abstração do que se aprende, bem como a utilização do aprendizado, memória, atenção, inteligência, pensamento, criatividade, capacidade de resolução de problemas e linguagem, entre outras habilidades ou aptidões específicas, de maneira a possibilitar que o individuo reflita sobre as informações adquiridas por meio da percepção e aplique os conhecimentos construídos para responder às demandas dos mais diferentes contextos aos quais se encontra inserido (Crawford, 1994Crawford, R. (1994). Na Era do Capital Humano: o talento, a inteligência e o conhecimento como forças econômicas, seu impacto nas empresas e nas decisões de investimento. São Paulo: Atlas.; Olivier, 2003Olivier, L. de. (2003). Citações e referências a documentos eletrônicos. Retrieved from http://www.ecdlo.hpg.ig.com.br/hp/pesqcientperspectivamultidisciplinar.html.
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; Simonetti, 2012Simonetti, L. (2012). O que é Desenvolvimento cognitivo? Retrieved from http://cienciadocerebro.wordpress.com/2012/09/05/o-que-e-desenvolvimento-cognitivo/.
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).

Diante do exposto, avaliar tais habilidades adequadamente é ainda mais relevante. No entanto, apesar da importância do construto, bem como do fato de que a produção científica promove crescimento e facilita o acesso ao conhecimento em diversas áreas do conhecimento (Freitas, 1998Freitas, M. H. A. (1998). Avaliação da produção científica: considerações sobre alguns critérios. Psicologia Escolar e Educacional, 2(3), 211-228.; Pinto, Lima, & Lima, 2011Pinto, L. P., Lima, T. H., & Lima, R. C. (2011). Estudo da produção científica da revista Psico-USF de 2007 a 2011. Psico-USF, 16(3), 383-390.; Sampaio, 2008Sampaio, M. I. C. (2008). Citações a periódicos na produção científica de Psicologia. Psicologia: Ciência e Profissão, 28(3), 452-465.; Witter, 1999Witter, G. P. (1999). Leitura: textos e pesquisas.Campinas: Alínea.), nenhum estudo relativo à produção científica sobre avaliação cognitiva infantil em periódicos brasileiros foi identificado na literatura veiculada em bases de dados de teses, dissertações e artigos científicos consultada. Deve-se levar em consideração que entre os diversos meios de disseminação científica, os periódicos científicos, surgem como uma forma eficiente de superação dos problemas de recuperação e divulgação enfrentados com a literatura cinzenta, possibilitando, assim, a publicação de resultados de pesquisa em todas as áreas de conhecimento (Brotta & Castro, 2012Brotta, M. S., & Castro, P. F. (2012). Produção Científica Sobre Avaliação Psicológica em Psicologia Hospitalar. Iniciação Científica CESUMAR, 14(2), 199-211.; Castro, 2011Castro, P. F. (2011). Pesquisas em metanálise: o uso artigos na investigação científica. Anais Encontro de Serviços-Escola de Psicologia do Estado de São Paulo (pp. 97-102). Guarulhos: Universidade Guarulhos.; Volpato & Freitas, 2003Volpato, G. L., & Freitas, E. G. (2003). Desafios na publicação científica. Pesquisa de Odontologia Brasileira, 17,49-56.).

Tendo em vista a importância da produção científica, não apenas no Brasil, mas no mundo, a análise desse tipo de produção tem se tornado cada vez mais crescente. Na psicologia, a análise da produção científica vem se desenvolvendo significativamente, embora se possa considerar que os estudos específicos sobre sua produção são ainda insuficientes na literatura brasileira. De maneira geral, as pesquisas que têm se debruçado sobre a produção científica na psicologia têm revelado, por um lado, que a região Sudeste tem se firmado como o grande berço da produção do país e, por outro, que os artigos divulgados, em sua maioria, relatos de pesquisa, são escritos predominantemente por mulheres e em sistema de coautoria (Aguiar Netto, 1988Aguiar Netto, M. C. (1988). A produção do conhecimento psicológico fora do espaço acadêmico. In Conselho Federal de Psicologia (Ed.), Quem é o psicólogo brasileiro (pp.123-137). São Paulo: Edicon.; Cunha, Suehiro, Oliveira, Pacanaro, & Santos, 2009Cunha, N. B., Suehiro, A. C. B., Oliveira, E. Z., Pacanaro, S. V., & Santos, A. A. A. (2009). Produção científica da avaliação da leitura no contexto escolar. Psico (PUCRS. Online), 40(1), 17-23.; Matos, 1988Matos, M. A. (1988). Produção e formação científica em Psicologia. In Conselho Federal de Psicologia (Ed.), Quem é o psicólogo brasileiro (pp.100-122). São Paulo: Edicon.; Suehiro, Benfica, & Cardim, no preloSuehiro, A. C. B., Benfica, T. S., & Cardim, N. A. (no prelo). Produção Científica sobre o Teste Desenho da Figura Humana entre 2002 e 2012. Estudos de Psicologia (Campinas).; Suehiro, Cunha, Oliveira, & Pacanaro, 2007Suehiro, A. C. B., Cunha, N. B., & Santos, A. A. A. (2007). Avaliação da Escrita no Contexto Escolar entre 1996 e 2005. Psic (São Paulo), 8(1), 61-70.; Suehiro, Cunha, & Santos, 2007Suehiro, A. C. B., Cunha, N. B., & Santos, A. A. A. (2007). Avaliação da Escrita no Contexto Escolar entre 1996 e 2005. Psic (São Paulo), 8(1), 61-70.; Suehiro, Gaino, & Meireles, 2008Suehiro, A. C. B., Gaino, S. B., & Meireles, E. C. (2008). Produção Científica sobre o Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender entre 1999 e 2008. Psic (São Paulo), 9(1), 173-181.; Suehiro, Rueda, Oliveira, & Pacanaro, 2009Suehiro, A. C. B., Gaino, S. B., & Meireles, E. C. (2008). Produção Científica sobre o Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender entre 1999 e 2008. Psic (São Paulo), 9(1), 173-181.; Yamamoto, Souza, & Yamamoto, 1999Yamamoto, O. H., Souza, C. C., & Yamamoto, M. E. (1999). A produção científica na psicologia: uma análise dos periódicos brasileiros no período 1990-1997. Psicologia Reflexão e Crítica, 12(2), 549-565.).

Esses resultados têm sido recorrentes nos estudos desenvolvidos em áreas específicas da psicologia, como no caso da avaliação psicológica, na qual as pesquisas sobre produção científica são ainda mais restritas. Um exemplo dessa realidade pode ser verificado no estudo de Souza-Filho, Belo e Gouveia (2006)Souza-Filho, M., Belo, R., & Gouveia, V. V. (2006). Testes Psicológicos: análise da produção científica brasileira no período 2000 - 2004. Psicologia Ciência e Profissão, 26(3), 478-489.. Os autores obtiveram resultados semelhantes aos descritos na literatura sobre produção científica na psicologia quanto à região de maior produção e à autoria. A pesquisa realizada objetivou traçar o perfil da utilização dos testes psicológicos na literatura científica brasileira entre os anos de 2000 e 2004. Para tanto Souza-Filho et al. (2006)Souza-Filho, M., Belo, R., & Gouveia, V. V. (2006). Testes Psicológicos: análise da produção científica brasileira no período 2000 - 2004. Psicologia Ciência e Profissão, 26(3), 478-489. analisaram 1182 artigos de periódicos brasileiros disponíveis na base de Periódicos da Capes em fevereiro de 2005. Os principais resultados demonstraram a predominância dos artigos que não consideravam nenhum teste. Dentre os 320 que consideravam os testes psicológicos, houve uma equivalência entre aqueles que utilizavam os testes de forma direta e, portanto, os tinham como foco central do artigo e indireta como, por exemplo, quando o trabalho buscava conhecer a relação entre duas variáveis, sendo a maioria deles de natureza empírica. A maior concentração dessas produções estava situada na Região Sudeste e as menores concentrações nas regiões Nordeste e Norte, respectivamente. Em termos institucionais, as universidades mais produtivas foram as federais e privadas, sobretudo aquelas que tinham um histórico pautado pelo interesse na área da avaliação psicológica, tais como a Universidade São Francisco e a Universidade de Brasília.

A exemplo do verificado em outros estudos sobre a produção científica na psicologia, os autores evidenciaram que, também no que se refere aos testes psicológicos, houve uma maior participação feminina e múltipla na autoria dos artigos. No que diz respeito ao sexo, tais resultados reforçam a constatação de que ao longo de mais de três décadas de regulamentação da profissão de psicólogo, o predomínio marcante do sexo feminino entre os seus profissionais se faz cada vez mais presente (Bock, 2003Bock, A. (2003). Quarenta e um anos de profissão no Brasil. Retrieved from http://www.pol.org.br/publicações/matéria.
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; Castro & Yamamoto, 1998Castro, A. E. F., & Yamamoto, O. Y. (1998). A psicologia como profissão feminina: apontamentos para estudo. Estudos de Psicologia, 3(1), 147-158.; Rosas, Rosas, & Xavier, 1988Rosas, P., Rosas, A., & Xavier, I. B. (1998). Quantos e quem somos. In Conselho Federal de Psicologia (Ed.), Quem é o psicólogo brasileiro? (pp. 32-48). São Paulo: Edicon.). Considerando esses resultados, Souza-Filho et al. (2006)Souza-Filho, M., Belo, R., & Gouveia, V. V. (2006). Testes Psicológicos: análise da produção científica brasileira no período 2000 - 2004. Psicologia Ciência e Profissão, 26(3), 478-489. concluíram, de forma geral, que a utilização dos testes psicológicos no contexto da produção nacional ainda é modesta e está, em grande parte, restrita aos âmbitos acadêmicos mais intensamente dedicados ao seu estudo.

Muitas das características observadas por Souza-Filho et al. (2006)Souza-Filho, M., Belo, R., & Gouveia, V. V. (2006). Testes Psicológicos: análise da produção científica brasileira no período 2000 - 2004. Psicologia Ciência e Profissão, 26(3), 478-489. também foram evidenciadas por Oliveira et al. (2007)Oliveira, K. L., Santos, A. A. A., Noronha, A. P. P., Boruchovitch, E., Cunha, C. A., Bardagi, M. P., & Domingues, S. F. S. (2007). Produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar. Psicologia Escolar e Educacional, 11, 239-251. em seu estudo sobre a produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar de 1995 a 2004. Neste estudo os autores confirmaram o predomínio de artigos empíricos, provenientes da Região Sudeste, de autoria múltipla e feminina nos 234 artigos, de sete periódicos classificados como A Nacional pela CAPES/ANPEPP. Verificaram, ainda, um aumento significativo no número de publicações sobre o tema a partir de 2002 e, portanto, nos últimos três anos do período analisado, sendo que a revista ‘Psicologia: Reflexão e Crítica’ foi a que apresentou mais artigos publicados na área de avaliação psicológica no contexto escolar/educacional, seguida da ‘Psicologia Escolar e Educacional’ e da ‘Estudos de Psicologia’, respectivamente.

No que diz respeito aos instrumentos empregados pelos autores em suas pesquisas, verificou-se que os instrumentos psicométricos foram os mais utilizados, embora as entrevistas e a observação também tenham sido frequentes. Segundo Oliveira et al. (2007)Oliveira, K. L., Santos, A. A. A., Noronha, A. P. P., Boruchovitch, E., Cunha, C. A., Bardagi, M. P., & Domingues, S. F. S. (2007). Produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar. Psicologia Escolar e Educacional, 11, 239-251., esses resultados sugerem que, de modo geral, os pesquisadores têm aplicado técnicas que apresentam alguma fundamentação estatística para realizar sua avaliação, o que pode gerar resultados mais confiáveis. Embora as autoras não tenham informado a frequência na qual cada um dos mais de 130 instrumentos listados foi utilizado, destaca-se que entre eles encontravam-se o Dezesseis Fatores de Personalidade (16PF); a Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5); o Inventário de Habilidades Sociais (IHS); o Teste das Matrizes Progressivas de Raven Escala Especial e Geral; a Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC); o Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender e o Desenho da Figura Humana.

Do mesmo modo, ao analisarem a produção científica veiculada na revista Avaliação Psicológica entre 2002 e 2007, embora tenham verificado uma maior variabilidade de testes e/ou escalas utilizadas, Suehiro e Rueda (2009)Suehiro, A. C. B., & Rueda, F. J. M. (2009). Revista Avaliação Psicológica: um estudo da produção científica de 2002 a 2007. Avaliação Psicológica, 8(1), 131-139. constataram que os instrumentos mais empregados nos 100 artigos por eles avaliados foram o Questionário de Personalidade 16PF, a Escala de Avaliação de Dificuldades na Aprendizagem da Escrita (ADAPE), as Matrizes Progressivas Coloridas de Raven, o Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender, o Desenho da Figura Humana, a Bateria de Provas de Raciocínio (BPR-5), as Escalas de Responsividade e Exigência Parental, o Teste de Pensamento Criativo de Torrance, o Inventário Beck de Depressão (BDI), a Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ) e a Escala de Avaliação do Reconhecimento de Palavras. Ao lado disso, observaram um aumento das publicações no periódico ‘Avaliação Psicológica’ nos últimos dois anos (2006 e 2007), sendo 2007 o ano com maior número de artigos. O relato de pesquisa foi a forma mais utilizada pelos autores que se constituíram, em sua maioria, por mulheres. Novamente, houve a predominância da autoria múltipla e a região de maior produção no período de 2002 a 2007 foi o Sudeste.

Em estudos que se dedicaram especificamente à análise da produção científica acerca da avaliação de construtos relevantes, sobretudo, para o contexto escolar, tais como a leitura, escrita e autoconceito, essa realidade não tem sido diferente. A pesquisa de Suehiro, Cunha e Santos (2007)Suehiro, A. C. B., Cunha, N. B., Oliveira, E. Z., & Pacanaro, S. V. (2007). Produção Científica da Revista Psico-USF de 1996 a 2006. Psico-USF, 12(2), 327-334., por exemplo, buscou identificar a maneira como os pesquisadores da área têm avaliado a escrita no contexto escolar. Para tanto, analisaram periódicos científicos de psicologia, classificados como A Nacional, entre 1996 e 2005. Os principais resultados apontaram que o maior número de publicações se concentrou nos anos de 2003 a 2005, sendo que as produções na área foram, em sua maioria, relatos de pesquisa, com delineamento correlacional, realizadas predominantemente por instituições localizadas na Região Sudeste do país. Ao lado disso, as autoras identificaram que os artigos relacionavam a avaliação da escrita com outras variáveis como a leitura, a consciência fonológica e a consciência sintática, assim como que as avaliações foram realizadas mais frequentemente com crianças e por meio de ditado, sendo que somente 28,1% dos instrumentos utilizados apresentavam evidências de validade.

A exemplo da escrita, a maneira como a leitura tem sido avaliada foi objeto de estudo de Cunha et al. (2009)Cunha, N. B., Suehiro, A. C. B., Oliveira, E. Z., Pacanaro, S. V., & Santos, A. A. A. (2009). Produção científica da avaliação da leitura no contexto escolar. Psico (PUCRS. Online), 40(1), 17-23.. Foram analisados 33 artigos de 12 periódicos, classificados como A Nacional segundo o QUALIS da CAPES, entre 1996 e 2005. Os resultados evidenciaram um aumento das publicações nos últimos cinco anos analisados. Houve ainda, a predominância de pesquisas provindas da região Sudeste e o uso da autoria múltipla. No que se refere à formação dos autores, houve a predominância de doutores. Quanto à amostra, os alunos do ensino fundamental e os universitários foram os mais estudados, sendo que dentre os instrumentos, a técnica de Cloze foi a mais empregada.

Do mesmo modo, considerando a importância do autoconceito para a aprendizagem, Suehiro et al. (2009)Suehiro, A. C. B., Rueda, F. J. M., Oliveira, E. Z., & Pacanaro, S. V. (2009). Avaliação do Autoconceito no Contexto Escolar: Análise das publicações em periódicos brasileiros. Psicologia: Ciência e Profissão, 29(1), 18-29. visaram levantar as publicações, em periódicos científicos, dos últimos dez anos referentes à avaliação do autoconceito no contexto escolar. Os dados evidenciaram poucas publicações voltadas para a avaliação do construto. Mesmo os periódicos específicos de Psicologia escolar e educacional passaram a publicar artigos sobre o assunto somente a partir de 2005. Nas análises por Região, autoria e amostras, o Sudeste apresentou maior concentração de artigos publicados, autoria múltipla e de estudos envolvendo crianças. As referências apresentaram mais artigos e livros, com predominância da literatura internacional. Quanto aos instrumentos de avaliação, os mais utilizados foram a Escala Infantil Piers-Harris e a Escala de Autoconceito Infanto-Juvenil (EAC-IJ).

Considerando o exposto até aqui, é evidente a importância de se analisar e avaliar a produção científica, que por sua vez pode revelar o status quo da ciência e do conhecimento, nas suas áreas específicas, bem como o desenvolvimento e o aprimoramento das mesmas. Pesquisas sistemáticas sobre a produção científica de um determinado tema ou assunto são necessárias, portanto, não apenas para revelar o ‘estado da arte’ do conhecimento de um campo de estudo, mas para levantar possíveis diretrizes para novos temas de pesquisas e, inclusive, de distribuição do fomento (Witter, 1996Witter, C. (2005). Produção Científica e Educação: Análise de um periódico nacional. In G. P. Witter (Ed.), Metaciência e psicologia (pp. 137-154). Campinas: Alínea.; 1999Witter, C. (1996). Psicologia escolar: Produção científica, formação e atuação (1990-1994). (Unpublished doctoral dissertation). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.; 2005Witter, C. (2005). Produção Científica e Educação: Análise de um periódico nacional. In G. P. Witter (Ed.), Metaciência e psicologia (pp. 137-154). Campinas: Alínea.). Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo analisar a produção científica sobre Avaliação Cognitiva Infantil veiculada em periódicos científicos brasileiros, entre 2002 e 2012.

A escolha pela análise de periódicos se deu em função do fato de que embora a análise da produção científica seja considerada como essencial por diversos autores (Macedo & Menandro, 1998Macedo, L., & Menandro, P. R. M. (1998). Considerações sobre os indicadores de produção no processo de avaliação dos programas de pós-graduação em psicologia. Infocapes, 6(3), 34-38.; Meneghini, 1998Meneghini, R. (1998). Avaliação da produção científica e o projeto SciELO. Ciência da Informação, 27(2). Retrieved from http://www.scielo.br.
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; Yamamoto et al., 1999Yamamoto, O. H., Souza, C. C., & Yamamoto, M. E. (1999). A produção científica na psicologia: uma análise dos periódicos brasileiros no período 1990-1997. Psicologia Reflexão e Crítica, 12(2), 549-565., 2002Yamamoto, O. H., Menandro, P. R. M., Koller, S. H., Lo Bianco, A. C., Hutz, C. S., Bueno, J. L. O., & Guedes, M. C. (2002). Avaliação de periódicos científicos brasileiros da área de psicologia. Ciência da Informação, 31, 163-177.) e se constitua como um alvo de preocupação nos últimos anos, esses mesmos autores, em seus estudos, mostraram que a produção científica no Brasil tem sido veiculada, predominantemente, em anais de congressos e, portanto, em veículos,, na maior parte das vezes de difícil acesso às comunidades acadêmica e leiga.

Método

O estudo foi realizado em duas etapas. A primeira focalizou todos os periódicos disponibilizados no Scientific Electronic Library Online (SciELO) e nos Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC) e, a segunda, apenas aqueles nos quais foram encontrados artigos que focalizavam a Avaliação Cognitiva Infantil. Para a recuperação desses textos foram considerados os termos: “avaliação cognitiva crianças”, “avaliação inteligência crianças” e “testes inteligência crianças”. A opção por descritores mais amplos se deu em função da hipótese de que dessa forma se poderia resgatar uma maior quantidade de estudos sobre a temática em questão e não apenas estudos que avaliassem apenas uma ou outra habilidade cognitiva.

Nessa segunda etapa foram analisados os seguintes periódicos: Aletheia (publicação quadrimestral), Arquivos de Neuro-Psiquiatria (publicação mensal), Avaliação Psicológica (publicação semestral), Boletim de Psicologia (publicação trimestral), Cadernos de Pesquisa (publicação quadrimestral), Estudos de Psicologia (Campinas) (publicação trimestral), Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (publicação trimestral), Jornal de Pediatria (publicação bimensal), Paidéia (publicação quadrimestral), Pró-Fono Revista de Atualização Científica (publicação trimestral), Psicologia: Ciência e Profissão (publicação trimestral), Psicologia em Estudo - Maringá (publicação quadrimestral), Psicologia em Pesquisa (publicação semestral), Psicologia Escolar e Educacional (publicação semestral), Psicologia: Reflexão e Crítica (publicação quadrimestral), Psicologia: Teoria e Pesquisa (publicação trimestral), Psicologia: Teoria e Prática (publicação trimestral), Psicopedagogia (publicação trimestral), Psic: Revista de Psicologia da Vetor Editora (publicação semestral), Psico-USF (publicação semestral), Revista Brasileira de Educação Especial (publicação trimestral), Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (publicação bimestral), Revista Brasileira de Otorrinolagingologia (publicação bimensal), Revista Brasileira de Reumatologia (publicação bimensal), Revista CEFAC (publicação bimestral) e Revista Paulista de Pediatria (publicação não há informações no site).

Fonte

A amostra do estudo foi composta por 67 artigos, encontrados em 25 periódicos, que focalizavam a Avaliação Cognitiva Infantil entre 2002 e 2012.

Procedimentos

Os artigos foram analisados na íntegra. Para tanto, foram consideradas as seguintes categorias: quantidade de artigos publicados por revista e por ano; distribuição da produção por origem (Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, Norte, parcerias nacionais e Internacional), bem como o sexo dos autores e a natureza da autoria (individual ou múltipla); distribuição do tipo de trabalho (relato de pesquisa de campo ou manuscrito teórico); contextos nos quais a avaliação cognitiva infantil tem sido realizada (escola, clinicas, hospitais, entre outros), instrumentos utilizados na avaliação cognitiva e objetivos do estudo (diagnóstico-avaliação, intervenção ou validação da técnica utilizada).

O levantamento de todos os dados foi realizado pelos autores da pesquisa, separada e concomitantemente, para dar confiabilidade à avaliação. O índice de concordância, verificado pela correlação de Pearson, ficou acima dos 85%.

Resultados

Verificou-se primeiramente a quantidade de artigos publicados por periódico e por ano. Os periódicos com maior destaque foram: Psicologia: Reflexão e Crítica (13,45%) e Avaliação Psicológica (8,95%), seguidos por Estudos de Psicologia - Campinas (6%); Psicologia em Estudo (6%); Psico-USF (6%); Paidéia (6%); Pró-Fono Revista de Atualização Científica (6%) e Jornal de Pediatria (6%). Os anos com maior frequência de publicação foram 2004, 2007, 2008 e 2010 somando 56,7% do total de publicações. A Tabela 1 apresenta os periódicos nos quais a temática aqui focalizada foi localizada por ano e suas respectivas porcentagens.

Tabela 1
Distribuição Geral da Quantidade ee Artigos Publicados por Revista e por Ano.

No que tange a produção, levantou-se a procedência dos artigos. Foram avaliados a região, o país e as parcerias nacionais e internacionais. Consideraram-se como “parcerias” os textos elaborados entre pesquisadores de diferentes regiões do Brasil e de países distintos. Quando os estudos foram produzidos por pesquisadores de diferentes instituições, porém da mesma região, foram considerados referentes à região da qual os autores eram provenientes. A região Sudeste, com 77,7%, deteve o maior número de publicações quando comparada às demais regiões. Os resultados relativos à região e a parceria podem ser visualizados na Tabela 2.

Tabela 2
Distribuição da Produção por Região do País que Gerou a Publicação e Tipo de Parceria

Os demais resultados indicaram que os artigos foram escritos, em sua maioria, por mais de um autor (n=63; 94,0%), por pesquisadores do sexo feminino (n=169; 80,0%) e em autoria múltipla (n=63; 94,0%). Quanto à análise por tipo de trabalho, buscou-se investigar a modalidade na qual o manuscrito se enquadrava. Para tanto, consideraram-se as categorias relato de pesquisa de campo e manuscrito teórico. Os resultados demonstraram que a maior parte do material publicado e analisado se referia a relatos de pesquisa (n=65; 97,0%), enquanto os manuscritos teóricos representaram apenas 3% (n=2) do total.

Os contextos mais pesquisados foram o escolar e o hospitalar, correspondendo a 80,6% (n=54) do total da amostra considerada. Esses dados podem ser visualizados na Tabela 3 a seguir.

Tabela 3
Contextos Nos Quais A Avaliação Cognitiva Infantil Tem Sido Realizada.

No que se refere aos instrumentos empregados na avaliação cognitiva, os resultados evidenciaram uma grande variabilidade de técnicas, tais como: questionários, escalas, baterias, inventários e testes. Os instrumentos psicológicos com maior prevalência na avaliação cognitiva infantil foram: Desenho da Figura Humana – DFH; Matrizes Progressivas de Raven; WISC – III; Escala de Maturidade Mental Columbia – EMMC; Teste Gestáltico Viso-motor de Bender e Teste da Figura Humana de Goodenough. A Tabela 4 apresenta os instrumentos empregados e sua distribuição.

Tabela 4
Técnicas de Avaliação Empregadas

Dentre os objetivos dos estudos, “Diagnóstico-avaliação” (n=44; 65,7%) predomina, seguido de “Validação da técnica utilizada” (n=20; 29%) e de “intervenção” (n=3; 4,5%). Esses achados são discutidos a seguir.

Discussão

O objetivo do presente estudo foi realizar um levantamento dos trabalhos publicados sobre avaliação cognitiva infantil. Para tanto, recorreu ao levantamento dos estudos publicados, no período de 2002 a 2012, com as palavras-chave ‘avaliação cognitiva crianças’, ‘avaliação inteligência crianças’ e ‘testes inteligência crianças’ em duas bases de dados online. Isso porque se considerou que o acesso a produções em bases de dados desse tipo tem permitido uma disseminação muito mais rápida do conhecimento produzido nas diversas áreas do conhecimento, bem como que o uso de palavras-chave mais amplas poderia resgatar um número maior de estudos sobre a temática em questão.

Corroborando outros estudos como o de Oliveira et al. (2007)Oliveira, K. L., Santos, A. A. A., Noronha, A. P. P., Boruchovitch, E., Cunha, C. A., Bardagi, M. P., & Domingues, S. F. S. (2007). Produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar. Psicologia Escolar e Educacional, 11, 239-251., a Psicologia: Reflexão e Crítica aparece como o periódico científico que tem veiculado com maior frequência pesquisas relativas à produção científica em avaliação psicológica infantil. No que diz respeito ao ano de publicação, os resultados aqui obtidos vão, parcialmente, ao encontro dos de Suehiro e Rueda (2009)Suehiro, A. C. B., & Rueda, F. J. M. (2009). Revista Avaliação Psicológica: um estudo da produção científica de 2002 a 2007. Avaliação Psicológica, 8(1), 131-139., que também observaram um número significativo de publicações em 2007, sendo este o ano mais profícuo.

A região Sudeste deteve o maior número de publicações e os artigos foram escritos, em sua maioria, por mais de um autor, por pesquisadores do sexo feminino e em autoria múltipla. Tais achados são coerentes com os obtidos por diversos outros estudos que encontraram o mesmo perfil de produção (Aguiar Netto, 1988Aguiar Netto, M. C. (1988). A produção do conhecimento psicológico fora do espaço acadêmico. In Conselho Federal de Psicologia (Ed.), Quem é o psicólogo brasileiro (pp.123-137). São Paulo: Edicon.; Cunha et al., 2009Cunha, N. B., Suehiro, A. C. B., Oliveira, E. Z., Pacanaro, S. V., & Santos, A. A. A. (2009). Produção científica da avaliação da leitura no contexto escolar. Psico (PUCRS. Online), 40(1), 17-23.; Matos, 1988Matos, M. A. (1988). Produção e formação científica em Psicologia. In Conselho Federal de Psicologia (Ed.), Quem é o psicólogo brasileiro (pp.100-122). São Paulo: Edicon.; Suehiro, Cunha, Oliveira et al., 2007Suehiro, A. C. B., Cunha, N. B., Oliveira, E. Z., & Pacanaro, S. V. (2007). Produção Científica da Revista Psico-USF de 1996 a 2006. Psico-USF, 12(2), 327-334.; Suehiro, Cunha e Santos, 2007Suehiro, A. C. B., Cunha, N. B., & Santos, A. A. A. (2007). Avaliação da Escrita no Contexto Escolar entre 1996 e 2005. Psic (São Paulo), 8(1), 61-70.; Suehiro et al., 2009Suehiro, A. C. B., Rueda, F. J. M., Oliveira, E. Z., & Pacanaro, S. V. (2009). Avaliação do Autoconceito no Contexto Escolar: Análise das publicações em periódicos brasileiros. Psicologia: Ciência e Profissão, 29(1), 18-29.; Yamamoto et al., 1999Yamamoto, O. H., Souza, C. C., & Yamamoto, M. E. (1999). A produção científica na psicologia: uma análise dos periódicos brasileiros no período 1990-1997. Psicologia Reflexão e Crítica, 12(2), 549-565.), inclusive no que se refere ao sexo e à autoria múltipla. Em consonância com as pesquisas recuperadas na área (Souza-Filho et al., 2006Souza-Filho, M., Belo, R., & Gouveia, V. V. (2006). Testes Psicológicos: análise da produção científica brasileira no período 2000 - 2004. Psicologia Ciência e Profissão, 26(3), 478-489.; Suehiro, Cunha & Santos, 2007Suehiro, A. C. B., Cunha, N. B., & Santos, A. A. A. (2007). Avaliação da Escrita no Contexto Escolar entre 1996 e 2005. Psic (São Paulo), 8(1), 61-70.; Suehiro & Rueda, 2009Suehiro, A. C. B., & Rueda, F. J. M. (2009). Revista Avaliação Psicológica: um estudo da produção científica de 2002 a 2007. Avaliação Psicológica, 8(1), 131-139.; Oliveira et al., 2007Oliveira, K. L., Santos, A. A. A., Noronha, A. P. P., Boruchovitch, E., Cunha, C. A., Bardagi, M. P., & Domingues, S. F. S. (2007). Produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar. Psicologia Escolar e Educacional, 11, 239-251.; entre outros), os resultados demonstraram que a maior parte do material publicado e analisado se referia a relatos de pesquisa.

Os contextos mais pesquisados foram o escolar e o hospitalar, no entanto, não foram encontrados outros estudos que tenham investigado essa questão do contexto de forma mais ampla, embora as pesquisas de Suehiro et al. (2008)Suehiro, A. C. B., Gaino, S. B., & Meireles, E. C. (2008). Produção Científica sobre o Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender entre 1999 e 2008. Psic (São Paulo), 9(1), 173-181. e Suehiro et al. (no prelo) sobre a produção científica de testes específicos da Psicologia também tenham apontado o contexto escolar como o mais pesquisado. Em consonância com o observado por Oliveira et al. (2007)Oliveira, K. L., Santos, A. A. A., Noronha, A. P. P., Boruchovitch, E., Cunha, C. A., Bardagi, M. P., & Domingues, S. F. S. (2007). Produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar. Psicologia Escolar e Educacional, 11, 239-251., predominaram as investigações que empregaram testes em sua busca, embora somente alguns deles apresentem características psicométricas e estejam presentes na lista de instrumentos aprovados para uso profissional do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI (2012)Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos. (2012). Testes psicológicos aprovados para uso. Retrieved from http://www.pol.org.br/satepsi/sistema/admin.cfm?lista1=sim.
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, tal como verificado também por Suehiro, Cunha e Santos (2007)Suehiro, A. C. B., Cunha, N. B., & Santos, A. A. A. (2007). Avaliação da Escrita no Contexto Escolar entre 1996 e 2005. Psic (São Paulo), 8(1), 61-70.. Há que se ressaltar, no entanto, o fato de que não há a exigência de que somente instrumentos aprovados sejam utilizados em pesquisa, ao contrário, as técnicas precisam de estudos para que, algum dia, venham a apresentar tal característica.

Se por um lado esses dados demonstram que o emprego de testes tem crescido nos últimos anos e que, de modo geral, os pesquisadores têm aplicado téc¬nicas que apresentam alguma fundamentação es¬tatística para realizar sua avaliação, o que pode gerar resultados mais confiáveis. Por outro, ao se considerar que a Cognição e as questões relativas à inteligência e às aptidões representam uma das áreas sobre a qual a Psicologia mais tem se debruçado (Almeida & Primi, 2000Almeida, L. S., & Primi, R. (2000). BPR-5- Bateria de Provas de Raciocínio: Manual Teórico. São Paulo: Casa do Psicólogo.), o fato de se ter encontrado apenas 67 artigos sobre o tema, nos quais a avaliação da cognição infantil, independentemente do contexto, se deu com a utilização de 141 técnicas é assustador. Do mesmo modo, os resultados indicaram que muitos instrumentos empregados na avaliação cognitiva infantil também figuravam em pesquisas relativas à produção científica relativa a outros construtos ou periódicos da Psicologia (Oliveira et al., 2007Oliveira, K. L., Santos, A. A. A., Noronha, A. P. P., Boruchovitch, E., Cunha, C. A., Bardagi, M. P., & Domingues, S. F. S. (2007). Produção científica em avaliação psicológica no contexto escolar. Psicologia Escolar e Educacional, 11, 239-251.; Suehiro & Rueda, 2009Suehiro, A. C. B., Rueda, F. J. M., Oliveira, E. Z., & Pacanaro, S. V. (2009). Avaliação do Autoconceito no Contexto Escolar: Análise das publicações em periódicos brasileiros. Psicologia: Ciência e Profissão, 29(1), 18-29.; para citar alguns).

Cabe aqui destacar, no entanto, que com as palavras-chave empregadas, seria mesmo esperado o resgate de artigos que tratassem mais de testes psicológicos do que de outras técnicas como entrevistas ou questionários e que o pequeno número de artigos encontrados é, provavelmente, decorrente da restrição dos termos usados na busca. Nesse sentido, para uma investigação mais realista de estudos sobre a avaliação da cognição infantil, é preciso que os descritores utilizados empreguem vários termos que abordem cada uma das habilidades avaliadas.

Por fim, observou-se que, dentre os objetivos dos estudos, “Diagnóstico-avaliação” predominou, seguido de “Validação da técnica utilizada”. Apesar de poucos instrumentos empregados figurarem entre os instrumentos aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia para uso profissional e, portanto, disporem de estudos relativos às suas características psicométricas, o fato de o objetivo de validação da técnica ter sido contemplado por 29% da amostra total de estudos pode ser considerado muito positivo. Esse dado demonstra que os pesquisadores têm, mesmo que ainda de maneira restrita, se atentado para a necessidade de avaliações mais confiáveis e pautadas em parâmetros científicos. Diante do exposto, há que se ressaltar que embora se tenha empregado categorias amplamente difundidas para estudos desse porte, considera-se que pesquisas com um maior aprofundamento sobre os instrumentos e as análises realizadas, bem como dos resultados obtidos devem ser realizadas. Sendo assim, em que pese as limitações desta pesquisa, tais como o foco em apenas duas bases de dados online, os descritores amplos utilizados e a quantidade ainda restrita de estudos voltados para a avaliação psicológica e, mais especificamente, para a avaliação infantil de um dos principais construtos da psicologia, com base em descritores mais amplos, e que possibilitem maior respaldo para seus achados considera-se que estudos com um maior aprofundamento devem ser realizados levando em consideração as possibilidades de investigação citadas anteriormente. Outra possibilidade seria, considerando que a revisão aqui descrita não foi exaustiva, investigar a produção sobre avaliação cognitiva infantil no Brasil em periódicos científicos avaliados pelo sistema Qualis ou ainda em publicações de outros países, também avaliadas pelo sistema. Assim, uma comparação seria possível de forma a avaliar a qualidade das publicações dentro dos diferentes tipos de publicação e permitiria traçar um panorama histórico das publicações nacionais em comparação com outros contextos. Tais pesquisas são relevantes, não apenas por possibilitarem o desenho e o desenvolvimento da área, mas, sobretudo, por permitirem refletir sobre a qualidade da publicação brasileira, fomentando um debate acerca das peculiaridades da produção científica da Psicologia nacional, assim como de suas lacunas, contribuindo para uma melhoria da Ciência Psicológica no País.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2015

Histórico

  • Recebido
    01 Fev 2013
  • Aceito
    11 Jun 2014
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