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O Teste de Compreensão Emocional (TEC): Estudos Psicométricos numa População Portuguesa

The Test of Emotional Comprehension (TEC): Psychometric Studies in a Portuguese Population

Test de Comprensión Emocional (TEC): Estudios psicométricos en una población portuguesa

Resumo

O objetivo deste estudo é apresentar as vantagens e os contributos em contexto escolar do Teste de Compreensão Emocional (TEC) para a população portuguesa, desenvolvido a partir da versão brasileira, que tem por base o instrumento desenvolvido por Harris, Pons e seus colaboradores. No nosso estudo participaram 766 crianças (381 raparigas), com idades compreendidas entre 3 e 13 anos (M = 7.21, DP = 1.95), de diferentes extratos socioeconómicos. Os resultados mostram que o instrumento tem consistência interna aceitável e que é possível isolar as diferentes fases de desenvolvimento emocional propostas pelos autores. Os componentes que medem relacionam-se com diferentes variáveis importantes em contexto escolar (idade, estatuto socioeconómico, inteligência fluída), e explicam uma parte do rendimento académico e da retenção escolar.

Palavras-chave:
inteligência emocional; desenvolvimento emocional; rendimento académico; ensino fundamental; psicometria

Abstract

The aim of this study was to present the advantages and contributions of the Emotional Comprehension Test (ECT) - Brazilian version, based on the instrument developed by Harris, Pons et al., in the school context of the Portuguese population. The sample comprises 766 children (381 girls), aged between 3 to 13 years (M = 7.21, SD = 1.95), from different socioeconomic backgrounds. The results show that the instrument has acceptable internal consistency and that it is possible to identify the different stages of emotional understanding proposed by the authors. The components measured relate to different important variables in school context (age, socioeconomic status, fluid intelligence), and explain part of the academic performance and school retention.

Keywords:
emotional intelligence; emotional development; academic performance; elementary education; psychometrics

Resumen

El objetivo de este estudio fue presentar ventajas y aportes en el contexto escolar del Test de Comprensión Emocional (TEC) en la población portuguesa, desarrollado a partir de la versión brasileña, que tiene por base el instrumento desarrollado por Harris, Pons y colaboradores. En nuestro estudio participaron 766 alumnos (381 niñas) con edades comprendidas entre los 3 y 13 años (M = 7.21, DT = 1.95), de diferentes extractos socioeconómicos. Los resultados muestran que el instrumento tiene consistencia interna aceptable y que es posible separar las diferentes etapas de desarrollo emocional propuesta por los autores. Los componentes de medición se relacionan con diferentes variables importantes del contexto escolar (edad, estatuto socioeconómico, inteligencia fluida) y explican una parte del rendimiento académico y de la retención escolar.

Palabras clave:
inteligencia emocional; desarrollo emocional; rendimiento académico; Enseñanza Primaria; psicometría

A compreensão emocional (CE) é um conceito desenvolvimental, que tem sido estudado junto com o conhecimento emocional, a inteligência emocional ou regulação emocional, ora como sendo sinónimo de uns, ora como sendo uma parte de outros, ora como tendo uma individualidade própria (Djambazova-Popordanoska, 2016Djambazova-Popordanoska, S. (2016). Implications of emotion regulation on young children’s emotional wellbeing and educational achievement. Educational Review, 68(4), 497-515. doi:10.1080/00131911.2016.1144559
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; Franco & Santos, 2015Franco, M. G., & Santos, N. N. (2015). Desenvolvimento da compreensão emocional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31(3), 334-348. doi:10.1590/0102-37722015032099339348
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; Roazzi, et al., 2015Roazzi, A., Souza, B. C., & Bilsky, W. (2015). Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena. Recife: Editora Universitária da UFPE.). Em 2004, Pons, Harris, e Rosnay propuseram um paradigma de pesquisa que tem possibilitado investigar de forma mais precisa a CE em crianças considerando, simultaneamente, nove componentes que, em função do nível de desenvolvimento, podem ser agrupadas em três fases: uma fase externa (3-6 anos) que envolve a possibilidade de identificar expressões faciais que indicam uma emoção, causadas por fatores externos e a capacidade de recordar uma lembrança passada que possa causar uma emoção; uma fase mental (5-9 anos) que compreende a capacidade de compreender que as emoções são resultantes de crenças e desejos individuais, envolvendo a diferenciação entre estados reais e aparentes, o que é baseado na compreensão de representações mentais; e uma fase reflexiva (8-12 anos) que inclui a possibilidade de identificar que uma pessoa pode sentir mais do que uma emoção, a compreensão das emoções morais (como culpa) e o controle mental das emoções (Pons Harris, & Rosnay, 2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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).

Baseados na literatura experimental Pons et al., (2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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) construíram o Test of Emotion Comprehension (TEC), validando-o numa amostra de 100 crianças inglesas de três, cinco, nove e onze anos, equitativamente distribuídos por sexo em cada faixa etária. As propriedades psicométricas do TEC foram estudadas, sendo priorizada a análise de estrutura fatorial, da consistência interna do instrumento (α = .67). Também foram conduzidas análises de teste-reteste com três meses (r(18) = .84) e com13 meses (r(40) = .68), sendo controlados os efeitos de género (Pons et al., 2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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). O TEC tem sido traduzido em mais de 15 idiomas, existindo atualmente, por exemplo, versões em italiano (Albanese & Molina, 2008Albanese, O., & Molina, P. (2008). Lo sviluppo della comprensione delle emozioni e la sua valutazione. La standardizzazione italiana del Test di Comprensione delle Emozioni (TEC). Milano: Edizioni Unicopli.; Farina & Belacchi, 2014Farina, E., & Belacchi, C. (2014). The relationship between emotional competence and hostile/prosocial behavior in Albanian preschoolers: An exploratory study. School Psychology International, 35(5), 475-484. doi:10.1177/0143034313511011
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, com consistência interna de α = .79 e α = .76 respectivamente), alemão (Von Salisch, Haenel, & Freund, 2013Von Salisch, M., Haenel, M., & Freund, P. A. (2013). Emotion understanding and cognitive abilities in young children. Learning and Individual Differences, 26, 15-19. doi:10.1016/j.lindif.2013.04.001
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, com α = .61 de consistência interna), norueguês (Karstad, Kvello, Wichstrom, & Berg-Nielsen, 2014Karstad, S. B., Kvello, O., Wichstrom, L., & Berg-Nielsen, T. S. (2014). What do parents know about their children’s comprehension of emotions? Accuracy of parental estimates in a com- munity sample of pre-schoolers. Child: Care, Health and Development, 40, 346-353. doi:10.1111/cch.12071
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; consistência interna de α = .61, φ = .95), quéchua (Tenenbaum, Visscher, Pons, & Harros, 2004Tenenbaum, H., Visscher, P., Pons, F., & Harris, P. (2004). Emotional undestanding in Quechua children from an agro-pastoralist village. International Journal of Behavioral Development, 28(5), 471-478. doi: 10.1080/01650250444000225
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), chinês (Tang et al., 2018), e uma versão portuguesa realizada por Roazzi, Dias, Minervino, Roazzi e Pons (2008Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2008). Compreensão das emoções em crianças: Estudo transcultural sobre a validação do Teste de Compreensão da Emoção TEC (Test of Emotion Comprehension). Em A. Noronha, C. Machado, L. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Forma e Contextos (pp. 1781-1795). Braga: Psiquilibrios edições., 2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
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) e em Portugal (Franco, Beja, Candeias, & Santos, 2017Franco, M. G., Beja, M. J., Candeias, A., & Santos, N. (2017). Emotion understanding, Social competence and school achievement in children from primary school in Portugal. Frontiers in Psychology, 8, 1376. doi.10.3389/fpsyg.2017.01376
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, consistência interna de KR = .72; Rocha, Roazzi, et al., 2015Roazzi, A., Rocha, A. A., Candeias, A. A., Silva, A. L., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Social competence and emotional comprehension: How are they related in children? In A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 267-283). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.3374.9524
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, estabilidade da escala em três meses r = .75). Alguns desses estudos também demonstraram que os nove componentes do TEC cumprem os requisitos de uma escala de Guttman ou de Mokken, isto é, que todos os componentes formam uma escala ordinal que pode ser ordenada hierarquicamente de tal forma que a resposta correta a um componente também implica uma resposta correta aos componentes de ordem inferior (Pons et al., 2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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; Albanese & Molina, 2008Albanese, O., & Molina, P. (2008). Lo sviluppo della comprensione delle emozioni e la sua valutazione. La standardizzazione italiana del Test di Comprensione delle Emozioni (TEC). Milano: Edizioni Unicopli.). Na versão portuguesa, as dimensões do TEC também têm sido avaliadas por meio de análise fatorial confirmatório (Rocha, Roazzi, et al., 2015Rocha, A. A., Roazzi, A., Silva, A. L., Candeias, A. A., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Test of Emotion Comprehension: Exploring the underlying structure through Confirmatory Factor Analysis and Similarity Structure Analysis. Em A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 66-84). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.2457.4483
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) e de análises escalonares multidimensionais (Roazzi, Rocha et al., 2015Roazzi, A., Rocha, A. A., Candeias, A. A., Silva, A. L., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Social competence and emotional comprehension: How are they related in children? In A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 267-283). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.3374.9524
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; Rocha, Candeias, Roazzi, & Silva, 2015Rocha, A. A., Candeias, A. A., Roazzi, A., & Silva, A. L. (2015). Socially in Action-Peers (SAp): Validation by Means of Confirmatory Factor Analysis (CFA) and Similarity Structure Analysis (SSA). In A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 85-106). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.1671.0165
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; Rocha, Roazzi et al., 2015Rocha, A. A., Roazzi, A., Silva, A. L., Candeias, A. A., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Test of Emotion Comprehension: Exploring the underlying structure through Confirmatory Factor Analysis and Similarity Structure Analysis. Em A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 66-84). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.2457.4483
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) confirmando a estrutura teórica do instrumento.

Nos estudos com o TEC têm-se também encontrado correlações positivas entre o TEC e as habilidades de linguagem medidas pelo Test of Receptive Grammar, TORG (r(78) = .81) e r(76) = .52) quando os efeitos da idade e género eram controlados e também uma correlação positiva entre o TEC e a WAIS-III (r(16) = .63) (Tenenbaum et al., 2004Tenenbaum, H., Visscher, P., Pons, F., & Harris, P. (2004). Emotional undestanding in Quechua children from an agro-pastoralist village. International Journal of Behavioral Development, 28(5), 471-478. doi: 10.1080/01650250444000225
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; Albanese, Stasio, Chiacchio, Fiorilli, & Pons, 2010Albanese, O., De Stasio, S., Chicchio, C., Fiorilli, C., & Pons, F. (2010). Emotion Comprehension: The Impact of Nonverbal Intelligence. The journal of genetic psychology, 171(2), 101-115. doi:10.1080/00221320903548084
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). Por outro lado, também foram identificadas correlações com medidas não verbais de inteligência, como por exemplo a inteligência fluída avaliada pelas Coloured Progressive Matrices (Albanese et al., 2010Albanese, O., De Stasio, S., Chicchio, C., Fiorilli, C., & Pons, F. (2010). Emotion Comprehension: The Impact of Nonverbal Intelligence. The journal of genetic psychology, 171(2), 101-115. doi:10.1080/00221320903548084
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; De Stasio, Fiorilli, & Di Chiacchio, 2014De Stasio, S., Fiorilli, C., & Di Chiacchio, C. (2014). Effects of verbal ability and fluid intelligence on children’s emotion understanding. International Journal of Psychology, 49, 409-414. doi:10.1002/ijop.12032
https://doi.org/10.1002/ijop.12032...
; Von Salisch et al., 2013Von Salisch, M., Haenel, M., & Freund, P. A. (2013). Emotion understanding and cognitive abilities in young children. Learning and Individual Differences, 26, 15-19. doi:10.1016/j.lindif.2013.04.001
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). Esses estudos indicam que a idade e a habilidade verbal estão relacionadas com os componentes da fase externa do TEC, mas a inteligência não verbal apresenta um papel significativo no desenvolvimento dos componentes da fase mental (De Stasio et al., 2014De Stasio, S., Fiorilli, C., & Di Chiacchio, C. (2014). Effects of verbal ability and fluid intelligence on children’s emotion understanding. International Journal of Psychology, 49, 409-414. doi:10.1002/ijop.12032
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) ou dos resultados globais do TEC (Von Salisch et al., 2013Von Salisch, M., Haenel, M., & Freund, P. A. (2013). Emotion understanding and cognitive abilities in young children. Learning and Individual Differences, 26, 15-19. doi:10.1016/j.lindif.2013.04.001
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). Outros estudos encontraram associações entre os resultados do TEC e as dificuldades de aprendizagem (Pons et al., 2014), o rendimento académico (Franco et al., 2017Franco, M. G., Beja, M. J., Candeias, A., & Santos, N. (2017). Emotion understanding, Social competence and school achievement in children from primary school in Portugal. Frontiers in Psychology, 8, 1376. doi.10.3389/fpsyg.2017.01376
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; Silva, 2012Silva, E. P. (2012). A relação entre inteligência emocional e o rendimento escolar em crianças do 1.º ciclo do ensino básico da R.A.M. (Dissertação de Mestrado). Universidade da Madeira, Funchal, recuperado de http://hdl.handle.net/10400.13/687
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; Rocha, 2016Rocha, A. M. A. (2016). Compreensão e regulação das emoções: suas relações com a eficácia na interação social em crianças. (Tese de doutoramento). Universidade de Lisboa e Universidade de Coimbra.) e com níveis elevados de queixas somáticas e sintomas ansiosos/deprimidos (Bender, Pons, Harris, Esbjorn, & Reinholdt-Dunne, 2015Bender, P. K., Pons, F., Harris, P. L., Esbjorn, B. H., & Reinholdt-Dunne, M. L. (2015). Emotion understanding in clinically anxious children: a preliminary investigation. Frontiers of Psychology, 6, 1916. doi:103389/fpsyg.2015.01916
https://doi.org/103389/fpsyg.2015.01916...
; Gobel, Henning, Moller, & Aschersleben, 2017Gobel, A., Henning, A., Moller, C., & Aschersleben, G. (2017). The relationship between emotion comprehension and internalizing and externalizing behavior in 7- to 10-year-old children. Frontiers in Psychology, 7, 1917. doi:10.3389/fpsyg.2016.01917
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). O TEC também tem sido utilizado na avaliação de programas de treino de competências sociais e emocionais que incluem uma variedade de matérias (e.g., histórias, livros de figuras, vídeos, jogos), com a discussão dos diferentes componentes da CE (Ornaghi, Brockmeier, & Grazzani, 2014Ornaghi, V., Brockmeier, J., & Grazzani, I. (2014). Enhancing social cognition by training children in emotion understanding: a primary school study. Journal of Experimental Child Psychology, 119, 26-39. doi:10.1016/j.jecp.2013.10.005
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; Ornaghi, Grazzani, Cherubin, Conte, & Piralli, 2015Ornaghi, V., Grazzani, I., Cherubin, E., Conte, E., & Piralli, F. (2015). ‘Let’s talk about emotions’. The effect of converstional treaining on preschoolers’ emotion comprehension and prosocial orientation. Social development, 24, 166-183. doi:10.1111/sode.12091
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; Sprung, Much, Harris, Ebesutani, & Hofmann, 2015Sprung, M., Munch, H. M., Harris, P. L., Ebesutani, C., & Hoffman, S. G. (2015). Childrn’s emotion understanding: A meta-analysis of training studies, Developmental Review, 27, 41-65. doi:10.1016/j.dr.2015.05.001
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).

A versão portuguesa traduzida e validada por Roazzi et al., (2008Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2008). Compreensão das emoções em crianças: Estudo transcultural sobre a validação do Teste de Compreensão da Emoção TEC (Test of Emotion Comprehension). Em A. Noronha, C. Machado, L. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Forma e Contextos (pp. 1781-1795). Braga: Psiquilibrios edições., 2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
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) do Test of Emotion Comprehension (TEC) de Pons et al., (2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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) está dividido em blocos de histórias em ordem pré-estabelecida, com os seguintes contextos: I (reconhecimento) - o reconhecimento das emoções, baseado nas expressões faciais; II (causas externas) - compreensão das causas externas das emoções; III (desejo) - compreensão do desejo despertado; IV (crenças) - compreensão das emoções baseadas em crenças; V (lembrança) - compreensão do papel da lembrança em circunstâncias de avaliação de estados emocionais; VI (regulação) - compreensão das possibilidades de controlar as experiências emocionais; VII (ocultar) - compreensão da possibilidade de esconder um estado emocional; VIII (misto) - compreensão da existência de múltiplas ou até contraditórias (ambivalentes) respostas emocionais; IX (moralidade) - compreensão de expressões morais. Um ponto é atribuído para cada componente respondido corretamente. Cada criança poderá obter no máximo nove pontos e no mínimo zero (Roazzi et al., 2008Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2008). Compreensão das emoções em crianças: Estudo transcultural sobre a validação do Teste de Compreensão da Emoção TEC (Test of Emotion Comprehension). Em A. Noronha, C. Machado, L. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Forma e Contextos (pp. 1781-1795). Braga: Psiquilibrios edições.).

Em Portugal, existem poucos instrumentos de medida para avaliar a CE em crianças (Franco & Santos, 2015Franco, M. G., & Santos, N. N. (2015). Desenvolvimento da compreensão emocional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31(3), 334-348. doi:10.1590/0102-37722015032099339348
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). A maioria destes instrumentos limitam-se a avaliar apenas os componentes do conhecimento emocional, como por exemplo a versão portuguesa do Affect Knowledge Test (Machado et al., 2008Machado, P., Veríssimo, M., Torres, N., Peceguina, I, Santos, A. J., & Rolão, T. (2008). Relações entre o conhecimento das emoções, as competências académicas, as competências sociais e a aceitação entre pares. Análise Psicológica, 26(3), 463-478. Recuperado de http://hdl.handle.net/10400.12/70
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) e a Escala de avaliação de conhecimento emocional (EACE, de Alves, Cruz, Duarte, & Martins, 2008Alves, D., Cruz, O., Duarte, C., & Martins, R. (2008). Escala de Avaliação do conhecimento Emocional (EACE). In A.P. Noronha, C. Machado, L. S. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional Avaliação Psicológica: Formas e Contextos (CD). Braga: Psiquilibrios.). Dada a importância que a CE reveste para o indivíduo tanto do ponto de vista intrapessoal (devido à sua associação com, por exemplo, sintomas de ansiedade e depressão, e.g., Gobel et al., 2017Gobel, A., Henning, A., Moller, C., & Aschersleben, G. (2017). The relationship between emotion comprehension and internalizing and externalizing behavior in 7- to 10-year-old children. Frontiers in Psychology, 7, 1917. doi:10.3389/fpsyg.2016.01917
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) como interpessoal (por exemplo, devido a sua capacidade de predizer adequação social e comportamental, Izard et al., 2001Izard, C., Fine, S., Schultz, D., Mostow, A., Ackerman, B., & Youngstrom, E. (2001). Emotion Knowledge as a predictor of social behavior and academic competence in children at risk. Psychological Science, 12(1), 18-23. doi:10.1111/1467-9280.00304
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; Schultz, Izard, Acherman, & Youngstrom, 2001Schultz, D., Izard, C., Ackerman, B., & Youngstrom, E. (2001). Emotion knowledge in economically disadvantaged children: self-regulatory antecedents and relations to social difficulties and withdrawal. Development and Psychopathology, 13(1), 53-67. doi:10.1017/S0954579401001043
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), e sendo o TEC um dos pouco instrumentos que permitem observar outros componentes, diversos autores têm estado a estudar algumas das propriedades psicométricas do TEC adaptado para a população brasileira na versão de Roazzi et al., (2008Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2008). Compreensão das emoções em crianças: Estudo transcultural sobre a validação do Teste de Compreensão da Emoção TEC (Test of Emotion Comprehension). Em A. Noronha, C. Machado, L. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Forma e Contextos (pp. 1781-1795). Braga: Psiquilibrios edições., 2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
https://doi.org/10.13140/RG.2.1.2790.360...
), adaptada pelos mesmos para o português falado no Portugal (Dâmaso, 2011Dâmaso, P. P. (2011). Especificidade na diversidade: A compreensão emocional em crianças com dificuldades de aprendizagem (Dissertação de mestrado). ISCTE-IUL, Lisboa. Recuperado de http://hdl.handle.net/10071/4133
http://hdl.handle.net/10071/4133...
, Gameiro, 2012Gameiro, S. S. (2012). A compreensão das emoções em crianças dos 6 aos 8 anos - Estudo de adaptação portuguesa do TEC (Dissertação de mestrado). Universidade de Coimbra. Recuperado de http://hdl.handle.net/10316/22659
http://hdl.handle.net/10316/22659...
; Lima, 2012Lima, A. C. (2012). A compreensão das emoções em crianças dos 4 aos 5 anos - Estudo de adaptação portuguesa do TEC (Dissertação de mestrado). Universidade de Coimbra. Recuperado de http://hdl.handle.net/10316/23267
http://hdl.handle.net/10316/23267...
; Nunes, 2012Nunes, J. (2012). A compreensão das emoções em crianças dos 9 aos 11 anos (Dissertação de mestrado). Universidade de Coimbra. Recuperado de http://hdl.handle.net/10316/22441
http://hdl.handle.net/10316/22441...
; Roazzi, Rocha et al., 2015Roazzi, A., Rocha, A. A., Candeias, A. A., Silva, A. L., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Social competence and emotional comprehension: How are they related in children? In A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 267-283). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.3374.9524
https://doi.org/10.13140/RG.2.1.3374.952...
; Rocha, Roazzi et al., 2015Rocha, A. A., Roazzi, A., Silva, A. L., Candeias, A. A., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Test of Emotion Comprehension: Exploring the underlying structure through Confirmatory Factor Analysis and Similarity Structure Analysis. Em A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 66-84). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.2457.4483
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; Rocha, Candeias et al., 2015Rocha, A. A., Candeias, A. A., Roazzi, A., & Silva, A. L. (2015). Socially in Action-Peers (SAp): Validation by Means of Confirmatory Factor Analysis (CFA) and Similarity Structure Analysis (SSA). In A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 85-106). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.1671.0165
https://doi.org/10.13140/RG.2.1.1671.016...
). O objetivo principal deste estudo foi o de estudar as propriedades psicométricas da adaptação da versão portuguesa do Teste de Compreensão Emocional, bem como, os contributos que poderá dar para compreender algumas variáveis do contexto escolar. As perguntas que orientam esta investigação são:

  • Qual a fiabilidade e estrutura do TEC para a população portuguesa?

  • A CE pode ser um bom preditor do rendimento académico e da retenção escolar (a prática de reter o aluno no mesmo grau por mais um ano escolar)?

Método

Participantes

Neste estudo participaram 766 estudantes de 9 escolas de pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico (primeiros quatro anos do ensino fundamental em Portugal) da Região Autónoma da Madeira (sete públicas e duas do ensino privado), com idades entre os três e os 13 anos (M = 7.21, DP = 1.95; 49.7%, n = 381, do género feminino). A distribuição por anos de escolaridade foi: 27.7% do pré-escolar (n = 212), 15% do 1.º ano (n = 115), 17.6% do 2.º ano (n = 135), 15.1% do 3.º ano (n = 116) e 24.5% do 4.º ano (n = 188).

O nível socioeconómico dos alunos foi determinado a partir de um índice compósito das profissões e habilitações académicas do pai e da mãe, tomando valores entre 1 e 4 (Morais et al., 1993Morais, A., Neves, I., Medeiros, A., Peneda, D., Fernanda, F., & Antunes, H. (1993). Socialização primária e prática pedagógica (Vol. II). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.). Considerámos, assim, como estatuto baixo as famílias em que o nível socioeconómico e cultural correspondesse ao intervalo [1;2] como estatuto médio as famílias no intervalo [2;3] e como estatuto alto as famílias no intervalo [3;4]. Para 28.3% (n = 217) dos estudantes não foi possível determinar o estatuto socioeconómico, 35.2% apresentam um estatuto socioeconómico baixo (n = 270), 22.1% um estatuto médio (n = 169), e 14.4% um estatuto socioeconómico alto (n = 110).

Do total de estudantes, foi avaliada a inteligência fluida de 552 alunos (72.1% da amostra total). Estes alunos apresentavam idades entre os 4 e os 13 anos (M = 7.17, DP = 1.82, 50.7%, n = 280, do género feminino). A distribuição por ano escolar foi: 24.8% do pré-escolar (n = 137), 20.8% do 1.º ano (n = 115), 24.5% do 2.º ano (n = 135), 8.2% do 3.º ano (n = 45) e 21.7% do 4.º ano (n = 120).

Para apenas 337 alunos (43.99% da amostra total) com idades entre os 6 e os 13 anos (M = 8.21, DP = 1.42, 47.8%, n = 161, do género feminino) tivemos autorização para recolher informação sobre o rendimento académico especificamente as notas de matemática, português e estudo do meio (área para a qual concorrem conceitos e métodos das disciplinas de história, geografia e ciências da natureza). Especificamente são 20.5% alunos do 1.º ano (n = 69), 31.5% alunos do 2.º ano (n = 106), 12.5% alunos de 3.º ano (n = 42), e 35.6% alunos do 4.º ano de escolaridade (n = 120). Nestes participantes foram identificados 58 alunos (7.5% da amostra total) que foram retidos pelo menos uma vez ao longo do seu percurso escolar (isto é, repetiram um ano escolar). Estes alunos apresentam idades compreendidas entre os 8 e os 13 anos de idade (M = 10, DP = 1.08, 31.0%, n = 18, do género feminino), sendo a maioria alunos com nível socioeconómico baixo (n = 40, 69.0%) ou médio (n = 7, 12.1%), não existindo informação sobre o nível socioeconómico para 19% (n = 11) dos alunos retidos. No momento da recolha de dados, os alunos retidos encontravam-se: 1.7% no 1.º ano (n = 1), 22.4% no 2.º ano (n = 13), 27.6% no 3.º ano (n = 16) e 48.3% no 4.º ano de escolaridade (n = 28).

Instrumentos

Foi utilizada versão portuguesa traduzida por Roazzi et al., (2008Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2008). Compreensão das emoções em crianças: Estudo transcultural sobre a validação do Teste de Compreensão da Emoção TEC (Test of Emotion Comprehension). Em A. Noronha, C. Machado, L. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Forma e Contextos (pp. 1781-1795). Braga: Psiquilibrios edições., 2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
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) do Test of Emotion Comprehension (TEC), de Pons et al., (2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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), que avalia nove componentes da CE. O processo de tradução e adaptação do instrumento seguiu os critérios internacionalmente aceites para adaptação transcultural de medidas, passando-se pela etapa de tradução e retrotradução, análise semântica e a análise dos juízes (Roazzi et al., 2008Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2008). Compreensão das emoções em crianças: Estudo transcultural sobre a validação do Teste de Compreensão da Emoção TEC (Test of Emotion Comprehension). Em A. Noronha, C. Machado, L. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Forma e Contextos (pp. 1781-1795). Braga: Psiquilibrios edições., 2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
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). No estudo piloto, participaram 396 crianças do Brasil, cujos resultados foram comparados com as respostas dadas pelas crianças britânicas, italianas e quéchuas. Os resultados revelaram similaridades nas respostas das crianças brasileiras e as demais amostras. A discrepância foi maior no componente IV (crenças). Verificou-se, no entanto, similaridades com os resultados obtidos pela amostra italiana (Albanese & Molina, 2008Albanese, O., & Molina, P. (2008). Lo sviluppo della comprensione delle emozioni e la sua valutazione. La standardizzazione italiana del Test di Comprensione delle Emozioni (TEC). Milano: Edizioni Unicopli.), sendo apontada a necessidade de recodificar a cotação do componente IV (crenças), sendo aceitas duas respostas (“Feliz” e “Bem”) como corretas (Roazzi et al., 2008Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2008). Compreensão das emoções em crianças: Estudo transcultural sobre a validação do Teste de Compreensão da Emoção TEC (Test of Emotion Comprehension). Em A. Noronha, C. Machado, L. Almeida, M. Gonçalves, S. Martins & V. Ramalho (Eds.), Actas da XIII Conferência Internacional de Avaliação Psicológica: Forma e Contextos (pp. 1781-1795). Braga: Psiquilibrios edições., 2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
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).

Neste estudo, foi utilizada a versão computorizada do instrumento (Minervino, Roazzi, Dias, & Roazzi, 2010Minervino, C. M., Roazzi, A., Dias, M. G., & Roazzi, M. (2010). Versão computadorizada do teste de compreensão das emoções. In M. C. R. A. Joly, & C. T. Reppold (Eds.), Estudo de testes informatizados para a avaliação psicológica. (E-book, pp. 109-123). São Paulo: Cada do Psicólogo.). Nessa versão, as histórias são narradas por uma voz feminina enquanto surgem as ilustrações no ecrã, com a criança a responder clicando na resposta que achar correta. A cotação é feita automaticamente pela aplicação, onde um ponto foi atribuído por cada componente respondido corretamente, utilizando o sistema de cotação da versão inglesa (Pons et al., 2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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). Apenas no componente IV (crenças) a cotação foi alterada, tal como sugerido por Roazzi et al., (2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
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), sendo aceitas as respostas “Feliz” e “Bem” como corretas, uma vez que na cultura portuguesa utiliza-se o termo “estar bem” para dizer que se está feliz. Cada criança pode obter entre zero e nove pontos.

Para avaliar a inteligência fluida das crianças foi utilizada a adaptação portuguesa das Coloured Progressive Matrices (CPM, Simões, 2000Simões, M. (2000). Investigações no âmbito da aferição nacional do teste das matrizes progressivas coloridas de Raven (MPCR). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.), amplamente utilizado na população portuguesa, com elevados índices de fiabilidade (α = .80), estabilidade temporal (r = .87) e estrutura fatorial consistente (Simões, 2000Simões, M. (2000). Investigações no âmbito da aferição nacional do teste das matrizes progressivas coloridas de Raven (MPCR). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.).

Procedimentos

A colheita dos dados foi realizada na escola frequentada pelas crianças, com a devida autorização e consentimento informado dos pais, da direção da escola e das próprias crianças, seguindo os princípios éticos da investigação científica da Ordem dos Psicólogos Portugueses (Diário de República, 2011Diário da República. 2.ª Série 246/2 do dia 26 de Dezembro (2011).). A aplicação das escalas foi realizada individualmente por um psicólogo treinado no uso dos instrumentos utilizados, demorando aproximadamente 30 minutos. As crianças responderam autonomamente a versão computorizada do TEC, com a supervisão do psicólogo.

Para avaliar o rendimento académico foram recolhidas as notas atribuídas pelos professores aos alunos nas disciplinas de português, matemática e estudo do meio (história, geografia e ciências) no fim do semestre no qual foram administrados os instrumentos. Essas notas apresentam a seguinte interpretação qualitativa com a seguinte correspondência em nota brasileira (Diário da República, 2006Diário da República. 1.ª Série 133/1 do dia 12 de julho (2006).): 3 - satisfaz (4,5,6, no Brasil), 4 - satisfaz bem (7, 8, 9, no Brasil), 5 - muito bom ou excelente (10, no Brasil).

Análise de Dados

Após a colheita, os dados foram introduzidos no software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 24.0 para Windows, utilizado nas diferentes análises. Calcularam-se medidas de tendência central e de dispersão. A consistência interna foi avaliada através do coeficiente de Kuder-Richardson (KR-20) e a fiabilidade teste-reteste (9 meses) foi avaliada numa amostra de 76 participantes através do teste de correlação de Pearson (r), para a escala total, e de Cramer (V) para cada um dos componentes.

Para analisar a dificuldade dos componentes da CE medidas pelo TEC foi utilizada a prova de Cochran. Para as interrelações entre os nove componentes do TEC, efetuou-se uma Análise da Estrutura de Similaridade (SSA; Guttman, 1991Guttman, L. (1991). Louis Guttman: In memoriam - Chapters from an unfinished textbook on facet theory. Jerusalém: The Israel Academy of Sciences and Humanities.). A SSA é uma técnica estatística da família de técnicas de escalonamentos multidimensionais não paramétrica (MDS, Multidimensional Scaling; Roazzi, 1995Roazzi, A. (1995). Categorização, formação de conceitos e processos de construção de mundo: Procedimento de classificações múltiplas para o estudo de sistemas conceituais e sua forma de análise através de métodos de análise multidimensionais. Cadernos de Psicologia, 1, 1-27.; Roazzi, Souza, & Bilsky, 2015Roazzi, A., Souza, B. C., & Bilsky, W. (2015). Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena. Recife: Editora Universitária da UFPE.), que possibilita converter distâncias de natureza psicológica em distâncias euclidianas, representadas em um espaço geométrico tendo por base o referencial teórico-metodológico da Teoria das Facetas, em projeções SSA para exame das inter-relações de todas as variáveis do estudo. Sendo os componentes do TEC medidas através de escores dicotómicos, na SSA foi utilizado o coeficiente de Jaccard.

Foram efetuadas análises de regressão múltipla, utilizando o método Enter (fixed-step), para investigar se as variáveis sociodemográficas, a inteligência fluída e a CE eram preditoras do rendimento académico. A fim de determinar a adequação do modelo foram observados os resíduos estandardizados dos diferentes casos (Field, 2011Field, A. (2011). Discovering statistics using SPSS. London: Sage.). Para confirmar que não existem casos extremos que pudessem influenciar no modelo, foram observados os valores de Cook´s distance, cujos valores para serem considerados adequados devem ser inferiores a 1, e os valores de influência (Leverage), cujos valores deverão ser inferiores ao limite recomendado por Field (2011Field, A. (2011). Discovering statistics using SPSS. London: Sage.) (3(k+1)/n, onde o k é o número de preditores, e n é o tamanho da amostra).

Para determinar se os modelos podem ser generalizados à população madeirense foram observados os pressupostos de multicolinaeridade, homocedasticidade, independência dos erros e normalidade dos erros. O pressuposto da independência dos erros foi analisado através do teste de Durbin-Watson cujo valor deverá estar perto de 2. Finalmente, o pressuposto de normalidade dos erros é confirmado quando os erros apresentam uma distribuição normal (Field, 2011Field, A. (2011). Discovering statistics using SPSS. London: Sage.).

Resultados e Discussão

Estatísticas Descritivas

Neste estudo, todos os componentes do TEC (cf. Tabela 1.) apresentam valores adequados de assimetria (Sk) e curtose (Ku), sugerindo uma distribuição normal dos dados (Field, 2011Field, A. (2011). Discovering statistics using SPSS. London: Sage.). No entanto, os componentes I (reconhecimento) e II (causas externas) apresentam valores inaceitáveis devido às altas taxas de sucesso. Estes resultados eram esperados, uma vez que de acordo com o desenvolvimento da CE estas dois componentes emergem nos primeiros três anos de vida da criança (Franco & Santos, 2015Franco, M. G., & Santos, N. N. (2015). Desenvolvimento da compreensão emocional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31(3), 334-348. doi:10.1590/0102-37722015032099339348
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), pelo que existe uma elevada taxa de sucesso nesta amostra composta por crianças mais velhas. Por outro lado, Rocha, Roazzi et al., (2015Rocha, A. A., Roazzi, A., Silva, A. L., Candeias, A. A., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Test of Emotion Comprehension: Exploring the underlying structure through Confirmatory Factor Analysis and Similarity Structure Analysis. Em A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 66-84). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.2457.4483
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) defendem que, apesar de os valores destes dois componentes serem inaceitáveis do ponto de vista psicométrico, a sua utilização em crianças mais velhas permite-lhes familiarizar-se com os objetivos do teste e o seu conteúdo. As correlações totais entre os itens são relativamente baixas (cf. Tabela 1), especialmente nos componentes IV (crenças) e IX (moralidade), no entanto, a maioria encontra-se no intervalo .15 a .20, considerado adequado em medidas que avaliam características amplas, como a CE (Antony & Barlow, 2011Antony, M. M., & Barlow, D. H. (2011). Handbook of assessment and treatment planning for psychological disorders (2nd Ed.). New York, NY: Guilford Press.).

Tabela 1
Análise Descritiva dos Componentes da Compreensão Emocional

Os resultados do nosso estudo também indicam que o instrumento TEC apresenta uma consistência interna adequada (KR-20 = .72), segundo Cohen (1988Cohen, J. (1988). Statistical power analysis for the behavioral sciences (2nd ed.). Hillsdale: Erlbaum.). Esse valor de consistência interna é semelhante aos de Albanese e Molina (2008Albanese, O., & Molina, P. (2008). Lo sviluppo della comprensione delle emozioni e la sua valutazione. La standardizzazione italiana del Test di Comprensione delle Emozioni (TEC). Milano: Edizioni Unicopli.), Farina e Belacchi (2014Farina, E., & Belacchi, C. (2014). The relationship between emotional competence and hostile/prosocial behavior in Albanian preschoolers: An exploratory study. School Psychology International, 35(5), 475-484. doi:10.1177/0143034313511011
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) e Karstad, Kvello, Wichstrom e Berg-Nielsen (2014Karstad, S. B., Kvello, O., Wichstrom, L., & Berg-Nielsen, T. S. (2014). What do parents know about their children’s comprehension of emotions? Accuracy of parental estimates in a com- munity sample of pre-schoolers. Child: Care, Health and Development, 40, 346-353. doi:10.1111/cch.12071
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), apresentados na introdução. No nosso estudo, a fiabilidade teste-reteste (9 meses) foi de r(74) = .58 (p < .001), análogos aos resultados encontrados pelos autores com 13 meses de intervalo (Pons & Harris, 2005Pons, F., & Harris, P. L. (2005). Longitudinal change and longitudinal stability of individual differences in children’s emotion understanding. Cognition and Emotion, 19(8), 1158-1174. doi: 10.1080/02699930500282108
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), mas mais baixas às encontradas por Rocha, Roazzi et al., (2015Rocha, A. A., Roazzi, A., Silva, A. L., Candeias, A. A., Minervino, C. A., Roazzi, M. M., & Pons, F. (2015). Test of Emotion Comprehension: Exploring the underlying structure through Confirmatory Factor Analysis and Similarity Structure Analysis. Em A. Roazzi, B. C. de Souza, & W. Bilsky (Eds.), Facet Theory: Searching for Structure in Complex Social, Cultural and Psychological Phenomena (pp. 66-84). Recife: Editora UFPE. doi:10.13140/RG.2.1.2457.4483
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) com 3 meses de intervalo, corroborando a estabilidade temporal do instrumento.

Análise da Dificuldade dos Componentes

Os nossos resultados da comparação da proporção de acertos entre os nove componentes indicam que o grau de dificuldade é diferente entre elas (Q(8) = 1,332.09, p < .001). Os resultados das análises de contraste (comparando o número de acertos em cada par de componentes), apresentados na Tabela 2, revelam os diferentes níveis de dificuldade dos componentes. Os componentes II e I (causas externas e reconhecimento, ambos componentes da fase externa descrita por Pons et al., 2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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) apresentam o maior número de acertos e os menores níveis de dificuldade. O componente V (lembrança, também da fase externa) é significativamente mais difícil que o componente I (reconhecimento) e, significativamente, mais fácil que o componente IV (crenças, da fase mental descrita por Pons et al., 2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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). Com um nível semelhante de dificuldade estão os componentes IV (crenças), VI e VIII (regulação e misto, ambos da fase reflexiva descrita por Pons et al., (2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
https://doi.org/10.1080/1740562034400002...
), indo ao encontro do estudo de Dâmaso (2011Dâmaso, P. P. (2011). Especificidade na diversidade: A compreensão emocional em crianças com dificuldades de aprendizagem (Dissertação de mestrado). ISCTE-IUL, Lisboa. Recuperado de http://hdl.handle.net/10071/4133
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). O componente III (desejo, da fase mental) apresenta uma dificuldade semelhante aos componentes VI (regulação) e VIII (misto), mas é significativamente mais difícil que o componente IV (crenças). O componente VII (ocultar, da fase mental) é semelhante em dificuldade aos componentes III (desejo) e VIII (misto), mas apresenta maior dificuldade que o componente VI (regulação). Finalmente, o componente IX (moralidade, da fase reflexiva) apresenta uma maior dificuldade que qualquer outro componente (cf. Tabela 2).

Tabela 2
Teste de Cochran cada Par de Componentes da Compreensão Emocional

Dâmaso (2011Dâmaso, P. P. (2011). Especificidade na diversidade: A compreensão emocional em crianças com dificuldades de aprendizagem (Dissertação de mestrado). ISCTE-IUL, Lisboa. Recuperado de http://hdl.handle.net/10071/4133
http://hdl.handle.net/10071/4133...
) encontra uma organização semelhante, agrupando em dois grupos os componentes segundo os sucessos, um primeiro grupo composto (apresentados por ordem dificuldade) pelos componentes I (reconhecimento), II (causas externas), V (lembrança) e III (desejo) e um segundo grupo composto pelos componentes IV (crenças), VIII (misto), VII (ocultar), IX (moralidade) e VI (regulação). A grande diferença entre os nossos resultados e os de Dâmaso centra-se na dificuldade do componente IV (crenças) em relação ao componente III (desejo). No nosso estudo, o componente III apresenta um maior nível de dificuldade que o componente IV (crenças). No entanto, ressalte-se ainda que o estudo de Dâmaso (2011Dâmaso, P. P. (2011). Especificidade na diversidade: A compreensão emocional em crianças com dificuldades de aprendizagem (Dissertação de mestrado). ISCTE-IUL, Lisboa. Recuperado de http://hdl.handle.net/10071/4133
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) só abarca crianças com idades compreendidas entre os sete e os dez anos, enquanto o nosso estudo inclui crianças muito mais jovens.

Assim, a organização dos componentes do TEC na nossa amostra apresenta uma estrutura hierárquica coerente com os estudos noutras amostras. A semelhança dos estudos originais na amostra inglesa (Pons et al., 2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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) e os estudos em amostras italianas (Albanese & Molina, 2008Albanese, O., & Molina, P. (2008). Lo sviluppo della comprensione delle emozioni e la sua valutazione. La standardizzazione italiana del Test di Comprensione delle Emozioni (TEC). Milano: Edizioni Unicopli.), os três componentes da fase externa (I - reconhecimento; II - causas externas e V - lembrança) presentam uma maior percentagem de sucesso (cf. Tabela 1). As capacidades de reconhecer das emoções, de identificar os fatores externos que causam as emoções e de perceber que a lembrança de uma situação passada pode causar uma reação emocional, apresentam um desenvolvimento substancial entre os 4 e os 6 anos (Franco & Santos, 2015Franco, M. G., & Santos, N. N. (2015). Desenvolvimento da compreensão emocional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31(3), 334-348. doi:10.1590/0102-37722015032099339348
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), pelo que no início da escolaridade, a maioria dos alunos já consegue responder corretamente a estes componentes. Porém, quando comparados os nossos resultados com os de outras amostras (e.g., Roazzi et al., 2009Roazzi, A., Dias, M. G., Minervino, C. M., Roazzi, M., & Pons, F. (2009). Children´s comprehension of emotion: A cross-cultural investigation. In D. Elizur & E. Yaniv (Eds.), Theory Construction and Multivariate Analysis: Applications of Facet Approach (pp. 83-102). Jerusalem: FTA. doi:10.13140/RG.2.1.2790.3600
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), observamos que existe uma maior variabilidade na ordenação hierárquica dos componentes das fases mentais e reflexivas. Estes resultados indicam que nas diversas culturas ocorre alguma variação na dificuldade dos componentes, provavelmente devido as diferenças educacionais e culturais (Belachi & Faria, 2010; Tenenbaum et al., 2004Tenenbaum, H., Visscher, P., Pons, F., & Harris, P. (2004). Emotional undestanding in Quechua children from an agro-pastoralist village. International Journal of Behavioral Development, 28(5), 471-478. doi: 10.1080/01650250444000225
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) e individuais na CE que já são observáveis desde muito cedo (Pons & Harris, 2005Pons, F., & Harris, P. L. (2005). Longitudinal change and longitudinal stability of individual differences in children’s emotion understanding. Cognition and Emotion, 19(8), 1158-1174. doi: 10.1080/02699930500282108
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).

Análise da Estrutura de Similaridade

O coeficiente de alienação encontrado na análise da estrutura de similaridade no nosso estudo apresentou um valor de 0.04 que indica um excelente ajuste dos dados no espaço multidimensional da projeção, com uma partição de tipo polar (angular) dos dados, isto é, seus elementos constituem regiões cuneiformes, de forma circumplex, com limites partindo de uma origem comum.

A análise SSA está apresentada na Figura 1, observando-se a partição do campo dimensional euclidiano da projeção em uma estrutura polar que aponta para as fases da CE de Pons et al., (2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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). Em sentido horário, da direita para a esquerda, a estrutura polar apresenta uma primeira região de contiguidade conformada pelos elementos relacionados aos aspectos da fase externa das emoções, isto é, os três componentes II (causas externas), I (reconhecimento) e V (lembrança), nesta ordem. Em seguida, na parte inferior da projeção, há dois componentes da fase mental das emoções: VII (ocultar) e III (desejo); do lado esquerdo da projeção, encontram-se localizados os três componentes da fase reflexiva, isto é, VIII (misto), VI (regulação) e IX (moralidade).

Figura 1
Análise SSA (coeficiente de Jaccard) da inter-relação entre os nove componentes do TEC (3d, 1x2, Coeficiente de Alienação 0.045).

Na parte superior da projeção encontra-se ainda o item da subescala Mental IV (crenças), um tanto deslocado com os outros dois itens mentais VII (ocultar) e III (desejo). Esse deslocamento ocorreu considerando os dados obtidos por Pons et al., (2004Pons, F., Harris, P. L., & de Rosnay, M. (2004). Emotion comprehension between 3 and 11 years: Developmental periods and hierarchical organization. European Journal of Developmental Psychology, 1(2), 127-152. doi:10.1080/17405620344000022
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) em uma amostra de crianças inglesas. Pequenas diferenças na estrutura relacional entre os vários componentes têm sido observadas também em outros países, provavelmente, decorrentes de diferenças culturais entre as amostras investigadas e as faixas etárias consideradas. Por exemplo, Albanese et al., (2006Albanese, O., Grazzani, I., Molina, P., Antoniotti, C., Arati, L., Farina, E., & Pons, F. (2006). La comprensione delle emozioni nei bambini: dati preliminari del progetto italiano di validazione del Test of Emotion Comprehension. In O. Albanese, L. Lafortune, M. F. Daniel, P. A. Doudin, & F. Pons (Eds.), Competenza emotiva tra psicologia ed educazione (pp. 35-47). Milano: Franco Angeli.) observaram também uma estrutura diferente entre os nove componentes a partir da validação preliminar do TEC em língua italiana, mais especificamente, na subescala da fase externa das emoções em que foram considerados os componentes I (reconhecimento), II (causas externas), e III (desejo), na subescala da fase mental foram agrupados os componentes IV (crenças), V (lembrança) e VII (ocultar, ou distinção emoção aparente/experimentada), enfim, na subescala da fase reflexiva foram incluídos os componentes IX (moralidade), VI (regulação) e VIII (misto). Ulteriores analises com um maior número de participantes poderão delinear mais precisamente a estrutura relacional entre os nove componentes na amostra portuguesa.

Relação entre Compreensão Emocional, Rendimento Académico e Retenção Escolar

Para investigar a relação estatística entre o rendimento académico e a CE foi realizado um teste de correlação entre as notas e o valor da escala total do TEC, controlando a variável idade. As correlações entre a CE e o rendimento académico são significativas tanto para o português (r(389) = .24, p < .001); como para a matemática: (r(389) = .25, p < .001) e o estudo do meio (r(389) = .17, p = .001).

Foi utilizado o coeficiente de correlação ponto-bisserial para observar a associação entre as notas e as fases da CE (cf. tabela 3). Quando controlada a idade, foram encontradas relações pequenas, mas significativas, entre as notas de português, matemática e o estudo do meio e as fases mental e reflexiva.

Tabela 3
Correlações Parciais de Ponto-Bisserial e de Cramer entre Compreensão Emocional, Rendimento Académico e Retenção Escolar

Quando controlada a idade, foram encontradas relações pequenas, mas significativas entre as notas de português, matemática e estudo do meio nos componentes VI (regulação), VII (ocultar) e VIII (misto). O componente IV (crenças) também está relacionado com a matemática e o estudo do meio, quando considerados como corretas duas respostas. Pode inferir-se que, quanto maior a compreensão da regulação das emoções, das emoções ambivalentes e da possibilidade de esconder uma emoção melhor é o rendimento dos alunos nas disciplinas de português, matemática e estudo do meio.

No que se refere à retenção escolar, observamos que quando controlada a idade, existe uma correlação negativa (r(763) = .08, p = .034). Assim, uma melhor CE está associada aos alunos que não repetiram nenhum ano escolar. Existem, também, associações significativas negativas para a fase reflexiva (cf. Tabela 3). Pode inferir-se que a pertença à fase reflexiva está associada a uma menor retenção. Igualmente encontramos associações negativas entre os componentes III (desejo) e VIII (misto) e a retenção escolar, indicando que uma melhor compreensão da influência do desejo nas emoções e das emoções mistas pode estar associada a uma menor retenção.

Compreensão Emocional como Preditora do Rendimento Académico

Com base nos resultados das correlações, foi efetuada uma análise de regressão múltipla (método Enter) para investigar se os componentes VI (regulação), VII (ocultar) e VIII (misto) eram preditores do rendimento académico em Português, e se os componentes IV (crenças), VI (regulação), VII (ocultar) e VIII (misto) eram preditores do rendimento académico em Matemática e em Estudo do Meio.

Os resultados indicam que os melhores preditores do rendimento académico em Português são o nível socioeconómico (b = 0.344, t = 4.62, p < .001) e a inteligência fluida (b = 0.025, t = 4.03, p < .001), seguidos pela idade (b = -0.10, t = -2.21, p = .028), a compreensão do componente VI (regulação; b = 0.275, t = 2.31, p = .022), e a compreensão do componente VIII (misto; b = 0.273, t = 2.33, p = .021). Os resultados apresentados na tabela 4 indicam que quanto maior o nível socioeconómico, a inteligência fluida e a compreensão dos componentes VI (regulação) e VIII (misto), melhor o rendimento dos alunos em português. Os resultados também indicam que quanto maior a idade, pior é o rendimento dos alunos. A combinação das variáveis explica 22.1% da variância, sendo que os componentes da CE explicam 3.8% da variância no rendimento académico em português (cf. Tabela 5). Assim, parte da variabilidade dos resultados académicos dos alunos em português é explicada pelas suas capacidades de CE, da sua inteligência fluída e a sua idade.

Tabela 4
Coeficientes Estandardizados dos Modelos de Regressão Múltipla para os Preditores do Rendimento Académico
Tabela 5
Modelos de Regressão Múltipla dos Preditores do Rendimento Académico

Na matemática, os melhores preditores do rendimento académico em matemática são a inteligência fluida (b = 0.034, t = 5.06, p < .001) e a idade (b = -0.206, t = -4.37, p < .001), seguidos pelo nível socioeconómico (b = 0.342, t = 4.28, p < .001), e a compreensão do componente VIII (misto; b = 0.365, t = 2.90, p = .004). Os componentes IV (crenças), VI (regulação) e VII (ocultar) não parecem contribuir significativamente. Assim, e como apresentado na tabela 4, quanto maior a inteligência fluida, o nível socioeconómico e a compreensão das emoções mistas, melhor o rendimento dos alunos em matemática; e quanto maior a idade, pior é o rendimento dos alunos. A combinação destas variáveis explica 27.2% da variância, sendo que os componentes da CE explicam 3.2% da variância no rendimento académico em matemática (cf. Tabela 5).

Finalmente, os resultados indicam que os melhores preditores do rendimento académico em estudo do meio são a idade (b = -0.245, t = -6.14, p < .001) e o nível socioeconómico (b= 0.321, t = 4.74, p < .001), seguidos pela compreensão do componente VIII (misto; b = 0.245, t = 2.30, p = .022) e pela inteligência fluida (b= 0.012, t = 2.16, p = .032). O componente VII (ocultar) apresenta uma contribuição marginalmente significativa (b = 0.208, t = 1.92, p = .056). Dito de outra forma, quanto maior o nível socioeconómico, a compreensão do componente VIII (misto) e a inteligência fluida, melhor o rendimento dos alunos na disciplina de estudo do meio; e quanto maior a idade, pior é o rendimento dos alunos (cf. Tabela 4). As variáveis explicam 25.1% da variância, sendo que os componentes da CE explicam 3% da variância no rendimento académico em estudo do meio (cf. Tabela 5).

Todos os modelos apresentam-se como adequados e generalizáveis à população madeirense, uma vez que a amostra em estudo não apresenta casos extremos que possam influenciar o modelo e os pressupostos de multicolinearidade, independência dos erros, de homocedasticidade e de normalidade dos erros foram cumpridos.

Como vários estudos têm vindo a mostrar (Downey, Lomas, Billings, Hansen, & Stough, 2014Downey L. A., Lomas J., Billings C., Hansen K., & Stough C. (2014). Scholastic success: Fluid intelligence, personality, and emotional intelligence. Canadian Journal of School Psychology, 29, 40-53. doi:10.1177/0829573513505411
https://doi.org/10.1177/0829573513505411...
; Izard et al., 2001Izard, C., Fine, S., Schultz, D., Mostow, A., Ackerman, B., & Youngstrom, E. (2001). Emotion Knowledge as a predictor of social behavior and academic competence in children at risk. Psychological Science, 12(1), 18-23. doi:10.1111/1467-9280.00304
https://doi.org/10.1111/1467-9280.00304...
; Rhoades, Warren, Domitrovich, & Greenberg, 2011Rhoades B. L., Warren H. K., Domitrovich C. E., & Greenberg M. T. (2011). Examining the link between preschool social-emotional competence and first grade academic achievement: the role of attention skills. Early Childhood Research Quarterly, 26, 182-191. doi:10.1016/j.ecresq.2010.07.003
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; Torres, Domitrovich, & Bierman, 2015Torres, M. M., Domitrovich, C. E., & Bierman, K. L. (2015). Preschool interpersonal relationships predict kindergarten achievement: mediated by gains in emotion knowledge. Journal of Applied Developmental Psychology, 39, 44-52. doi:10.1016/j.appdev.2015.04.008
https://doi.org/10.1016/j.appdev.2015.04...
), a CE é um preditor pobre do rendimento académico. No entanto, numa meta-análise feita por Voltmer e von Salisch (2017Voltmer, K., & von Salisch, M. (2017). Three meta-analyses of children’s emotion knowledge and their school success. Learning and Individual Differences, 59, 107-118. doi:10.1016/j.lindif.2017.08.006
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), fica claro que esta relação pode ter efeitos moderados (r = .32,) e que a força da correlação depende de vários fatores, especialmente do estatuto socioeconómico do aluno, o que vai ao encontro dos nossos resultados. Outra variável que é um importante mediador entre a CE e o rendimento académico são as competências sociais (Caprara, Barbaranellu, Pastorelli, Bandura, & Zimbardo, 2000Caprara, G. V., Barbaranelli, C., Pastorelli, C., Bandura, A., & Zimbardo, P. G. (2000). Prosocial Foundations of Children’s Academic Achievement. Psychological Science, 11(4), 302-306. doi:10.1111/1467-9280.00260
https://doi.org/10.1111/1467-9280.00260...
; Denham et al., 2012Denham, S. A., Bassett, H. H., Way, E., Mincic, M., Zinsser, K., & Graling, K. (2012). Preschoolers’ emotion knowledge: Self-regulatory foundations, and predictions of early school success. Cognition and Emotion, 26(4), 667-679. doi:10.1080/02699931.2011.602049
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; Franco et al., 2017Franco, M. G., Beja, M. J., Candeias, A., & Santos, N. (2017). Emotion understanding, Social competence and school achievement in children from primary school in Portugal. Frontiers in Psychology, 8, 1376. doi.10.3389/fpsyg.2017.01376
https://doi.org/10.3389/fpsyg.2017.01376...
; Izard et al., 2001Izard, C., Fine, S., Schultz, D., Mostow, A., Ackerman, B., & Youngstrom, E. (2001). Emotion Knowledge as a predictor of social behavior and academic competence in children at risk. Psychological Science, 12(1), 18-23. doi:10.1111/1467-9280.00304
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; Oberle, Schonert-Reichl, Hertzman, & Zumbo, 2014Oberle, E., Schonert-Reichl, K. A., Hertzman, C., & Zumbo, B. D. (2014). Social - emotional competencies make the grade : Predicting academic success in early adolescence. Journal of Applied Developmental Psychology, 35(3), 138-147. doi:10.1016/j.appdev.2014.02.004
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). Na medida em que a CE permite uma melhor leitura emocional das situações (nomeadamente das relações professor-aluno) facilita o relacionamento, as atitudes e os comportamentos em sala de aula, dirigindo melhor a atenção do aluno para as tarefas e os desempenhos esperados.

Considerações Finais

O objetivo principal deste estudo foi o de estudar as propriedades psicométricas da adaptação da versão portuguesa do TEC, bem como, os contributos que poderão dar para compreender algumas variáveis do contexto escolar. Os nossos resultados permitem respaldar as muitas vantagens deste instrumento. Em primeiro lugar, o instrumento não se restringe a um ou dois aspetos da CE como o EACE ou o Affect Knowledge Test, mas permite avaliar nove componentes, todos eles bem documentados na literatura experimental (Franco & Santos, 2015Franco, M. G., & Santos, N. N. (2015). Desenvolvimento da compreensão emocional. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 31(3), 334-348. doi:10.1590/0102-37722015032099339348
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). Em segundo lugar, os nossos resultados demonstram que é um instrumento com valores aceitáveis de consistência interna e estabilidade, o que faz com que se possa continuar a aplicar este instrumento para medir a CE, com alguma confiança. Em terceiro lugar, a estrutura do TEC serve para medir três fases diferentes do desenvolvimento da CE: a fase mental, a fase externa e a fase reflexiva, sendo ainda necessário afinar os componentes do TEC que compõem cada uma dessas fases, pois uma vez mais se fez sentir a influência de possíveis fatores culturais. Pese a estas limitações, o instrumento demonstra sensibilidade suficiente para detectar diferenças individuais no desenvolvimento da CE. Em quarto lugar, a capacidade explicativa que a CE tem do rendimento académico é relevante, apesar de ser baixa e dependente de várias variáveis intermédias (e.g. idade, inteligência fluida e nível socioeconómico). Por último, a versão computadorizada é de fácil aplicação e muito atrativa para as crianças permitindo, num curto período de tempo, obter informação relevante em relação à CE das crianças.

Entre as limitações deste estudo está o cariz correlacional dos resultados é insuficiente para explicar uma relação de causalidade entre a CE e o rendimento académico. Da mesma forma, o caráter transversal do estudo impede estabelecer uma relação de ordem temporal. Futuros estudos deverão desenvolver estudos longitudinais que permitam controlar o desempenho prévio.

Tendo em conta a grande amplitude de idades das crianças deste estudo, poderá ser importante num futuro fazer uma análise do funcionamento do TEC por grupos etários, quer para verificar se há organizações diferentes dos componentes do TEC entre estes quer para mostrar se diferenças no funcionamento da CE nos diferentes grupos etários explicam diferenças no rendimento académico. Seria igualmente interessante fazer comparações com crianças de diferentes etnias e culturas.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Ago 2020
  • Data do Fascículo
    Apr-Jun 2020

Histórico

  • Recebido
    04 Jun 2018
  • Aceito
    26 Fev 2019
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