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As três categorias peircianas e os três registros lacanianos

The three Peirce’s categories and the three Lacan’s registers

Resumos

A primeira parte deste artigo propõe uma comparação geral entre as categorias fenomonológicas universais de Peirce, primeiridade, secundidade e terceiridade, de um lado, e os três registros lacanianos, também chamados de categorias conceituais da realidade humana, as categorias do imaginário, real e simbólico, de outro lado. A segunda parte avança alguns passos na análise comparativa entre Peirce e Lacan, ao discutir que a lógica da terceira categoria, que é a lógica do signo, pode funcionar como um mapa de orientação para o entendimento das interações complexas que os três registros, imaginário, real e simbólico, mantêm entre si.

Fenomenologia; Peirce, Charles Sanders; Lacan, Jacques. Semiótica


The first part of this paper proposes a general comparison between Peirce’s three universal phenomenological categories of firstness, secondness, and thirdness on one hand and Lacan’s three registers, also called the conceptual categories of human reality, the categories of the imaginary, the real, and the symbolic on the other hand. The second part develops the comparative analysis between Peirce and Lacan even further, showing that the logic of the third category, which is the logic of the sign, can function as a guiding map towards the understanding of the complex interactions that the three registers, the imaginary, the real, and the simbolic, have with each other.

Phenomenology; Peirce, Charles Sanders; Lacan, Jacques; Semiotics


AS TRÊS CATEGORIAS PEIRCIANAS E OS TRÊS REGISTROS LACANIANOS

Maria Lucia Santaella Braga

Depto. de Comunicação e Semiótica

Pontifícia Universidade Católica - SP

A primeira parte deste artigo propõe uma comparação geral entre as categorias fenomonológicas universais de Peirce, primeiridade, secundidade e terceiridade, de um lado, e os três registros lacanianos, também chamados de categorias conceituais da realidade humana, as categorias do imaginário, real e simbólico, de outro lado. A segunda parte avança alguns passos na análise comparativa entre Peirce e Lacan, ao discutir que a lógica da terceira categoria, que é a lógica do signo, pode funcionar como um mapa de orientação para o entendimento das interações complexas que os três registros, imaginário, real e simbólico, mantêm entre si.

Descritores: Fenomenologia. Peirce, Charles Sanders. Lacan, Jacques. Semiótica.

Este artigo é uma extensão de um ensaio publicado mais de uma década atrás (Santaella, 1986) na revista Cruzeiro Semiótico, a revista da Associação Portuguesa de Semiótica, editada por Norma Tasca. No artigo anterior, fiz uma comparação geral entre as três categorias fenomenológicas universais de C. S. Peirce, a primeiridade, secundidade e terceiridade, e as três categorias conceituais da realidade humana, de Jacques Lacan, os registros do imaginário, real e simbólico.

Essa comparação foi encorajada por dois fatores pelo menos. O primeiro devido ao fato de que as categorias de Peirce são universais. Elas aparecem em qualquer fenômeno de qualquer espécie, a presença delas é particularmente evidente em um fenômeno de natureza triádica como são os três registros lacanianos ou a tríade freudiana da dinâmica psíquica em inconsciente, subconsciente e consciente, mais tarde redefinida como id, superego e ego.

O objetivo do presente artigo é avançar alguns passos na comparação entre Peirce e Lacan. Tenho por propósito mostrar que a lógica da categoria peirciana da terceiridade, que é a lógica do signo, pode contribuir para o entendimento das complexas interações dos três registros lacanianos do imaginário, real e simbólico.

1. As categorias universais de Peirce

Peirce levou exatamente 30 anos, de 1967 a 1897, para completar sua teoria das categorias. Estas foram originalmente apresentadas no seu ensaio de 1867 "Sobre uma nova lista de categorias" (Pierce, 1931-1958, 1.545, também publicado em Pierce, 1981, vol. 2, pp. 49-59 e Peirce, 1992, pp. 2-10). Entretanto, foi apenas em 1897 que o sistema triádico de Peirce ficou "fundamentalmente completo," quando ele "acrescentou o possível como um modo de ser, e, ao fazê-lo, desistiu da sua teoria probabilística das freqüências inspirada em Mill," renunciando, ao mesmo tempo, a qualquer resquício de nominalismo que pudesse ainda porventura haver em seu pensamento. Foi só em 1902 que Peirce adotou suas categorias, então chamadas de categorias fenomenológicas, como base geral para toda a sua doutrina lógica.

Como afirmado em 1902 (L75: B8), há três perspectivas a partir das quais as categorias deveriam ser estudadas antes de serem claramente apreendidas: (1) qualidade, (2) objeto e (3) mente. Do ponto de vista ontológico da qualidade, o ponto de vista da primeiridade, as categorias aparecem como: (1.1) qualidade ou primeiridade, isto é, o ser de uma possibilidade qualitativa positiva, por exemplo, a mera possibilidade de uma qualidade nela mesma, tal como vermelhidão, sem relação com qualquer outra coisa, antes que qualquer coisa no mundo seja vermelha. (1.2) reação ou secundidade, quer dizer, a ação de um fato atual, qualquer evento no seu aqui e agora, no seu puro acontecer, no ato em si de acontecer, o fato em si mesmo sem que se considere qualquer causalidade ou lei que possa determiná-lo, por exemplo, uma pedra que rola de uma montanha. (1.3) Mediação ou terceiridade, o ser de uma lei que governará fatos no futuro (Pierce, 1931-1958, 1.23), qualquer princípio regulador geral que governa a ocorrência de um fato real, como por exemplo, a lei de gravidade que rege o rolar da pedra da montanha.

Do ponto de vista do objeto ou secundidade, isto é, do ponto de vista do existente, as categorias são: (2.1) qualia, quer dizer, fatos de primeiridade, por exemplo, a qualidade sui generis do vermelho no céu em um certo entardecer de um outono qualquer nos pampas gaúchos. (2.2) relações, isto é, fatos de secundidade, tal como a percussão resultante da batida da pedra no chão, quando o esforço da pedra contra a resistência do solo resulta em polaridade bruta. (2.3) representação, isto é, signos ou fatos de terceiridade: a palavra "céu," uma foto ou uma pintura do céu como signos do céu.

Do ponto de vista da mente ou terceiridade, as categorias são: (3.1) sentimento ou consciência imediata, quer dizer, signos de primeiridade, por exemplo, a qualidade de sentimento vaga e indefinida que a vermelhidão do céu em um crepúsculo no outono produz em um certo observador. (3.2) sensação ou fato, quer dizer, sentido de ação e reação ou signos de secundidade, por exemplo, ser surpreendido diante de um fato inesperado. (3.3) concepção ou mente nela mesma, sentido de aprendizagem, mediação ou signos de terceiridade, por exemplo, este parágrafo que acabo de escrever e que você está lendo agora (Houser et al., 1992, p. xxvii; Peirce L75: B8; cf. Santaella, 1992, p. 75).

O tópico mais importante relativo às categorias peircianas, entretanto, está no fato de que elas são universais. Os conceitos categoriais são, portanto, extremamente gerais e abstratos. Peirce (1931-1958) afirmou que suas categorias meramente sugerem um modo de pensar: "Talvez não seja correto chamar as categorias concepções. Elas são tão intangíveis que não passam de tons ou nuanças das concepções" (1.353).

Assim, as categorias universais não substituem nem excluem a variedade infinita de outras categorias mais específicas e materiais que podem ser encontradas em todos os fenômenos. Elas são apenas noções gerais indicando o perfil lógico dentro do qual algumas classes de idéias se incluem. Desse modo, as categoria da primeiridade inclui as idéias de acaso, originalidade, espontaneidade, possibilidade, incerteza, imediaticidade, presentidade, qualidade e sentimento. Na secundidade, encontramos idéias relacionadas com polaridade, tais como força bruta, ação e reação, esforço e resistência, dependência, conflito, surpresa. Terceiridade está ligada às idéias de generalidade, continuidade, lei, crescimento, evolução, representação e mediação.

Disso se pode concluir que as categorias também estão logicamente subjacentes aos três registros psicanalíticos. Dada a generalidade lógica dessas categorias, entretanto, elas não são capazes de especificar o conteúdo desses registros, pois essa especificação só pode vir do campo da psicanálise. Conseqüentemente, a fenomenologia e a semiótica só podem fornecer o substrato lógico, sem poder indicar quais são as características específicas que a primeiridade, secundidade e terceiridade adquirem na psicanálise. A natureza dos três registros será apresentada brevemente abaixo, seguida do exame de suas correspondências com as três categorias.

2. Os três registros psicanalíticos

2.1 O Imaginário

O imaginário é basicamente o registro psíquico correspondente ao ego (ao eu) do sujeito, cujo investimento libidinal foi denominado por Freud de Narcisismo.

O eu é como Narciso: ama a si mesmo, ama a imagem de si mesmo ... que ele vê no outro. Essa imagem que ele projetou no outro e no mundo é a fonte do amor, da paixão, do desejo de reconhecimento, mas também da agressividade e da competição. (Quinet, 1995, p. 7)

Na sua "Introdução ao narcisismo," Freud (1914/1968a) já havia percebido que não existe, no início, uma unidade compatível ao eu do indivíduo, devendo esse eu ser construído. No seu texto sobre o estágio do espelho, Lacan veio dar conta exatamente dessa constituição da função do eu que Freud mencionara sem desenvolver. É bastante conhecido o fato de que, para descrever a fase do espelho, Lacan se utilizou do esquema ótico, ou melhor, de um certo uso do esquema ótico, que fosse capaz de introduzir, além da constituição do eu, também a função do sujeito na relação especular.

O estágio do espelho se refere ao período em que o bebê, na idade entre seis e dezoito meses mostra grande interesse em sua própria imagem no espelho. Lacan explicou esse interesse singular tomando como referência a idéia de Bolk de que o

lactente humano é, de fato, desde a origem, em seu nascimento, um prematuro, fisiologicamente falando. Por isso está numa situação constitutiva de desamparo; experimenta uma discordância intra-orgânica. Portanto, segundo Lacan, se a criança exulta quando se reconhece em sua forma especular, é porque a completeza da forma se antecipa com relação ao que logrou atingir; a imagem é, sem dúvida, a sua, mas ao mesmo tempo é a de um outro, pois está em déficit com relação a ela. Devido a esse intervalo, a imagem de fato captura a criança e esta se identifica com ela. Isso levou Lacan à idéia de que a alienação imaginária, quer dizer, o fato de identificar-se com a imagem de um outro, é constitutiva do eu (moi) no homem, e que o desenvolvimento do ser humano está escondido por identificações ideais. É um desenvolvimento no qual o imaginário está inscrito, e não um puro e simples desenvolvimento fisiológico. (Miller, 1977, pp. 16-17 apud Santaella & Nöth, 1998, pp. 189-190)

A constituição do eu toma lugar durante o estágio do espelho e começa com o reconhecimento da identidade próprio do eu através da imagem especular em um jogo paradoxal, de oscilação entre o eu e o outro. Senhor e servo do imaginário, o ego se projeta nas imagens em que se espelha: imaginário da natureza, do corpo, da mente, das relações sociais. Buscando por si mesmo, o ego acredita se encontrar no espelho das criaturas para se perder naquilo que não é ele. Esta situação é fundamentalmente mítica. É uma metáfora da condição humana, uma vez que estamos sempre ansiando por uma completude que não pode jamais ser encontrada, infinitamente capturada em miragens que ensaiam sentidos onde o sentido está sempre em falta.

A correspondência do imaginário com a categoria da primeiridade não é difícil de ser percebida. Qualquer identificação é imaginária em todas as ocasiões. Identificar é obliterar a distinção entre o sujeito e o objeto da identificação. É dissolver as fronteiras que poderiam distinguir e separar o ego do outro. A identificação corresponde, portanto, a um estado monádico que almeja a totalidade, completude e auto-suficiência. O imaginário é uma mônada que se alimenta da miragem do outro, uma miragem na iminência da dissipação e da perda. Ser eu, sendo, ao mesmo tempo, o outro, é idílico mas também mortífero, pois um dos polos dessa pretensa unidade está sempre à beira do desaparecimento. Tal iminência de dissipação é uma das principais características da primeiridade.

2.2. O Real

O registro psíquico do real não deve ser confundido com a noção corrente de realidade. Para Lacan, o real é aquilo que sobra como resto do imaginário e que o simbólico é incapaz de capturar. O real é o impossível, aquilo que não pode ser simbolizado e que permanece impenetrável ao sujeito do desejo para quem a realidade tem uma natureza fantasmática. Diante do real, o imaginário tergiversa e o simbólico tropeça. Real é aquilo que falta na ordem simbólica, os restos que não podem ser eliminados em toda articulação do significante, aquilo que só pode ser aproximado, jamais capturado.

Lacan veio reconhecer que, para o ser falante, não há adequação na relação entre o objeto e sua imagem, entre as partes do corpo e a imagem que se tem dele. Como a nossa imaginação desordenada pode preencher sua função? Como o imaginário e o real podem ser articulados na economia psíquica do sujeito? Esta polaridade, esta fratura entre o imaginário e o real, entre o simbólico e o real corresponde exatamente à categoria da secundidade. O real é sempre bruto e abrupto. É causação não governada pela lei do conceito. O real resiste ao simbólico porque ele insiste, en souffrance, de tocaia para tomar de assalto o simbólico.

2.3 O simbólico

O registro do simbólico é o lugar do código fundamental da linguagem. Ele é lei, estrutura regulada sem a qual não haveria cultura. Lacan chama isso de grande Outro. O Outro, grafado em maiúscula, foi adotado para mostrar que a relação entre o sujeito e o grande Outro é diferente da relação com o outro recíproco e simétrico ao eu imaginário. Miller (1987) nos fornece uma apresentação bastante clara do simbólico, no que se segue.

O outro é o grande Outro da linguagem, que está sempre já aí. É o outro do discurso universal, de tudo o que foi dito, na medida em que é pensável. Diria também que é o Outro da biblioteca de Borges, da biblioteca total. É também o Outro da verdade, esse Outro que é um terceiro em relação a todo diálogo, porque no diálogo de um com outro sempre está o que funciona como referência tanto do acordo quanto do desacordo, o Outro do pacto quanto o Outro da controvérsia. Todo mundo sabe que se deve estar de acordo para poder realizar uma controvérsia, e isso é o que faz com que os diálogos sejam tão difíceis. Deve-se estar de acordo em alguns pontos fundamentais para poder-se escutar mutuamente. ... É o Outro da palavra que é o alocutário fundamental, a direção do discurso mais além daquele a quem se dirige. A quem falo agora? Falo aos que estão aqui e falo também à coerência que tento manter. (p. 22)

A correspondência do registro simbólico com a terceiridade é óbvia. O grande Outro em todos os seus sentidos é sempre terceiridade. É lei, mediação, estrutura regulada que prescreve o sujeito.

A análise fenomenológica dos registros psicanalíticos exemplifica uma característica importante das categorias universais de Peirce. Embora essas categorias sejam onipresentes, não podendo ser claramente separadas em qualquer fenômeno dado, há sempre uma predominância de uma sobre as outras. Assim, primeiridade, secundidade e terceiridade podem ser proeminentemente percebidas no imaginário, real e simbólico respectivamente.

3. A onipresença das categorias

Uma extensão importante que pode ser derivada da correspondência das categorias fenomenológicas com os três registros baseia-se no princípio da recursividade. Se as categorias são onipresentes, o real e o simbólico devem também aparecer no registro do imaginário, o real e o imaginário devem estar presentes no registro do simbólico e o imaginário e simbólico também devem estar presentes no registro do real.

O imaginário é a categoria psicanalítica da demanda de amor, o real é a categoria da pulsão e o simbólico, do desejo. A análise da demanda de amor, de fato, revela que ela depende da linguagem, não há demanda sem linguagem, pois a demanda humana se expressa através de signos ou através daquilo que Lacan chamou de cadeia de significantes. Alienada na linguagem a demanda humana é capturada no deslocamento infinito da cadeia metonímica do desejo, na cadeia de significantes do simbólico. Ao mesmo tempo, a demanda de amor é acossada pelas vicissitudes obscuras da pulsão sexual. Apesar da predominância da demanda de amor (primeiridade) que o caracteriza, o imaginário também apresenta sua face simbólica (terceiridade) e sua face real (secundidade).

Relações triádicas homólogas também aparecem no registro do real que está sob a dominância da pulsão. Esta indica a grande distinção que separa a sexualidade animal da humana. Pulsão é uma necessidade que não pode jamais ser inteiramente satisfeita. Devido à mediação do simbólico, a mera necessidade não pode existir para o humano. O que existe em seu lugar é o curso circular sem fim da pulsão. O papel do imaginário na pulsão também se torna aparente na fantasia que acompanha a busca humana pela satisfação.

O registro do simbólico, sob o governo do desejo, não é menos triádico do que os outros três registros. Sem o estofo do imaginário, o simbólico não seria nada mais do que uma cadeia vazia, um infinito deslocamento de significantes. Sem o real do corpo, por outro lado, ele não seria nada mais do que uma maquinaria combinatória, maquinaria desencarnada feita de padrões e regras.

4. Da fenomenologia à semiótica

Outro domínio para a comparação entre Lacan e Peirce diz respeito à visão peirciana da relação entre fenomenologia e semiótica. Para Peirce, fenomenologia ou faneroscopia é uma quase-ciência. É apenas a porta de entrada para sua arquitetura filosófica. Embora as categorias sejam um ponto de partida importante para a análise de um dado fenômeno, as ferramentas analíticas não vêm delas, mas sim dos conceitos semióticos.

Isso não quer dizer que a fenomenologia e a semiótica estejam separadas. Ao contrário, elas estão indissoluvelmente atadas. Mesmo assim, suas diferenças não podem ser negligenciadas. A fenomenologia descreve o fenômeno como ele aparece. O resultado dessa descrição são as categorias universais. Ora, a terceira categoria corresponde à noção de signo. Ela é o signo. Assim, a semiótica nasce no coração da fenomenologia. A diferença está no fato de que os conceitos semióticos resultam da análise lógica e, consequentemente, constituem-se em conjuntos altamente interconectados de idéias distintivas que podem funcionar como dispositivos poderosos para o estudo de qualquer fenômeno como signo.

Disto decorre minha hipótese de que a definição do signo pode fornecer recursos adicionais para a análise dos três registros psicanalíticos. Para Peirce, o signo é uma relação indissociável de (1) um fundamento, aquilo que permite ao signo funcionar como tal, (2) um objeto, aquilo que determina o signo e que é, ao mesmo tempo, representado pelo signo e (3) um interpretante, o efeito que o signo está apto a produzir em uma mente interpretadora qualquer. Esse efeito pode ser da ordem de um pensamento, de uma mera reação, sensação ou de uma simples qualidade de sentimento.

De acordo com essa lógica triádica do signo, o imaginário, isto é, a categoria da demanda de amor, ocupa a posição lógica do fundamento do signo. O real, a categoria da pulsão sexual, ocupa a posição lógica do objeto do signo, enquanto o simbólico, a categoria do desejo, ocupa a posição lógica do interpretante. Esta análise pode ser ainda mais detalhada quando os três tipos de fundamento, os dois tipos de objeto, o objeto imediato e o dinâmico, e os três tipos de interpretante, o imediato, o dinâmico e o final, são levados em consideração para uma melhor compreensão do imaginário, real e simbólico. Entretanto, essas relações exigem pesquisas que devem ficar para o futuro.

Santaella, L. (1999) The Three Peirce’s Categories and the Three Lacan’s Registers. Psicologia USP, 10, (2), 81-91.

Abstract: The first part of this paper proposes a general comparison between Peirce’s three universal phenomenological categories of firstness, secondness, and thirdness on one hand and Lacan’s three registers, also called the conceptual categories of human reality, the categories of the imaginary, the real, and the symbolic on the other hand. The second part develops the comparative analysis between Peirce and Lacan even further, showing that the logic of the third category, which is the logic of the sign, can function as a guiding map towards the understanding of the complex interactions that the three registers, the imaginary, the real, and the simbolic, have with each other.

Index terms: Phenomenology. Peirce, Charles Sanders. Lacan, Jacques. Semiotics.

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  • Santaella, L. (1992). A assinatura das coisas. Peirce e a literatura Rio de Janeiro: Imago.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Ago 2000
  • Data do Fascículo
    1999
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