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Luiz Carlos

HOMENAGENS AO PROF. LUIZ CARLOS NOGUEIRA, EM SUA MISSA DE SÉTIMO DIA, NA IGREJA DE SÃO GABRIEL, SÃO PAULO, EM 21 DE OUTUBRO DE 2003

Luiz Carlos

César Ades1 1 Diretor do Instituto de Psicologia - USP. Endereço eletrônico: cades@usp.br cades@usp.br

Instituto de Psicologia - USP

Poderia falar como Diretor do Instituto de Psicologia do muito que Luiz Carlos contribuiu para o Instituto. Durante muitos anos, a presença de Luiz Carlos representou um pensamento ao mesmo tempo erudito e tolerante do qual todos os que foram seus alunos e todos os seus colegas se beneficiaram.

Quero agora falar do Luiz Carlos amigo e colaborador. Faz tão pouco tempo, pouquíssimos dias, ele entrou na Diretoria, do jeito tranqüilo que era bem dele, como se dissesse: posso entrar? E aí nos sentamos uma boa parte da manhã conversando sobre a Comissão de Ética em Pesquisa, da qual ele era o coordenador, e de vários outros projetos, entre eles uma proposta dele para a criação de cursos de aprimoramento que nossos alunos poderiam cursar depois da graduação, algo como uma residência, e que os prepararia melhor e mais profundamente para o seu desempenho profissional. Sua maneira calma escondia um entusiasmo especial do qual era bom partilhar.

Ainda não consegui me resignar à idéia de que não teremos mais estes papos construtivos e que não o verei entrando como quem diz: posso entrar? Acho que fará muita falta no Instituto, além de sua competência profissional, sua qualidade como ser humano.

Pertencíamos, Luiz Carlos e eu, a áreas bem diferentes: ele um mestre da psicanálise lacaniana e eu um especialista em etologia e comportamento animal. Contudo, tínhamos uma confiança e uma admiração recíproca que nos fez amigos. Foi assim: Luiz Carlos, que sempre deu o curso de ética em psicologia, me convidou para dar uma aula, aceitou até que eu falasse da ética numa perspectiva biológica.

E, assim, nasceu um compromisso de colaboração no seu curso, do qual eu participava todos os anos. Dar esta aula era muito gratificante. Eu partia da relação ética que nos une aos animais, mas acabava sempre abordando a questão do quanto é importante aceitar o outro na sua diferença e na sua autonomia. Quando eu terminava minha exposição, (ele sempre assistia à aula), ele fazia um resumo do que tinha sido dito e tecia algumas observações que revelavam aspectos da minha mensagem dos quais eu mesmo não me tinha dado conta.

Foi muito natural que ao ser cogitada no Instituto, a possibilidade de fundarmos uma comissão de ética em pesquisa com seres humanos, eu tivesse me dirigido ao Luiz Carlos para que ele a coordenasse. Foi uma longa trajetória, posso garantir a vocês, desde a primeira proposta até a aprovação e a constituição da comissão, muita discussão, muitas críticas em Congregação e muito trabalho. Luiz Carlos preparou o regimento da comissão e o reformulou a partir das muitas sugestões que recebemos e participou do processo de escolha dos membros da comissão: os professores Dalmo Dallari, da Faculdade de Direito; Myriam Krasilchik, da Faculdade de Educação; Sérgio Adorno, do Depto. de Sociologia e do Núcleo de Violência; Paulo Lotufo, Superintendente do Hospital Universitário; Luiz Menna Barreto e Clarice Gorenstein, do Instituto de Ciências Biomédicas; Renato Queiroz, do Departamento de Antropologia; a sra. Maria Lucia de Mello Santos, indicada como representante dos usuários de Psicologia, conforme determinação da CONEP; os colegas do Instituto de Psicologia, Maria Helena Steiner, Eduardo Ottoni, Yves De La Taille e a representante dos alunos de pós-graduação, Fraulein Vidigal de Paiva. Uma comissão que, sob a coordenação calma e pacificadora de Luiz Carlos, foi muito produtiva, verificando em cada projeto a melhor maneira de manter, dentro do procedimento científico, o respeito aos participantes. A CEPH, Comissão de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, começou assim, com Luiz Carlos, da melhor maneira possível.

Acho que não foi acaso Luiz Carlos se dedicar, entre muitas outras coisas que fez, à perspectiva ética. Eu acho que esta preocupação tinha a ver com o seu senso sempre vivo de dignidade. Um senso de dignidade que todos os que o conheceram e amaram lembrarão sempre. E é assim que me lembrarei sempre dele.

Darei, no próximo semestre, a aula de sempre no curso de ética em Psicologia. Tenho certeza que sentirei, com muita força, a falta de Luiz Carlos, de sua gentileza e de sua amizade.

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    Diretor do Instituto de Psicologia - USP. Endereço eletrônico:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Jun 2005
    • Data do Fascículo
      Jun 2004
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