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A avaliação da pós-graduação 96/97<a NAME="top"></a>

EDITORIAL

A Avaliação da Pós-Graduação 96/97# # As opiniões expressas neste editorial são dos autores e não necessariamente aquelas da SBQ.

Mais uma vez, saiu o resultado da avaliação bienal da pós-graduação brasileira feita pela CAPES, com algumas novidades. Duas delas são a adoção de uma escala numérica de classificação (de 1 a 7) e a avaliação por programa de pós-graduação em vez de por curso. Na nova escala, nota 7 representa o nível de excelência e nota 3 o nível mínimo de desempenho aceitável; ressalte-se, entretanto, que para os cursos de mestrado a nota máxima possível é 5. A classificação de um programa com nota 1 ou 2 indica problemas que impedem funcionamento normal; programas com estas notas não poderão emitir diplomas válidos para alunos que se matricularem após a homologação da avaliação pelo Conselho Nacional de Educação.

Ao contrário do que ocorreu quando da divulgação do resultado da avaliação do biênio 94/95, desta vez a mídia deu mais destaque aos programas classificados como excelentes (23, um deles da área de Química) do que àqueles com problemas. Longas matérias foram publicadas por jornais e revistas destacando as qualidades desses programas.

Uma síntese das avaliações da área de Química de 1980 a 1995 e da evolução da pós-graduação em Química, principalmente no período 1990 a 1995, foi relatada recentemente nesta revista pelos profs. Timothy J. Brocksom e Jaílson B. de Andrade [Química Nova 1997, 20(nº especial), 29-39], os quais concluíram que o desenvolvimento da área fora significativo. Na avaliação 96/97, 38 programas da área de Química foram avaliados, sendo que 12 deles só têm curso de mestrado. As notas resultantes desta avaliação foram publicadas no Boletim da SBQ (ano XVI, nº 2, set/98, p.3). Os resultados desta avaliação são muito bons, pois 50,0% dos programas obtiveram notas maiores ou iguais a 5 (vide tabela) e os restantes ficaram com notas 3 ou 4.

Uma análise das notas atribuídas caso a caso aos programas de Química mostra, entretanto, uma clara diferença entre programas que só têm curso de mestrado e aqueles que têm cursos de mestrado e de doutorado. Nenhum programa só com curso de mestrado obteve nota 5 e eles compreendem praticamente o total dos programas com nota 3 (são 7 dos 8). Esta situação é compreensível, pois programas que só têm curso de mestrado são menos consolidados que os que já conseguiram implantar o curso de doutorado.

No resultado da avaliação, cabe destacar o fato positivo de nenhum programa da área de Química ter problemas que o impeça de funcionar, pois a nenhum foi atribuída nota 1 ou 2. Entretanto, parece que a comissão de avaliação da Química havia classificado pelo menos um programa com nota 2, pois tal consta do documento final da comissão (enviado aos programas e ora disponível na home page da CAPES). O fato de nenhum programa ter sido listado com nota 2 na síntese da avaliação divulgada pela CAPES parece ser explicável por uma outra novidade introduzida nesta avaliação: a homologação dos resultados pelo Conselho Técnico-Científico da CAPES. Em outras palavras, este conselho modificou a nota desse programa de 2 para 3.

Uma comparação das percentagens de programas de Química e no global que obtiveram as diferentes notas (vide tabela) parece indicar, à primeira vista, que as notas obtidas pelos de Química os favoreceram, já que a fração dos programas com notas iguais ou maiores que 5 é bem maior (50,0% contra 32,0% no global). Todavia, tal discrepância é explicável pelo fato da área de Química ter uma fração muito maior (68,4%) de programas que têm cursos de mestrado e doutorado do que a que ocorre no global (50,0%)*. Este fato indica, ainda, que a área de Química tem uma fração de cursos consolidados maior do que a média da pós-graduação brasileira.

Após mais esta avaliação, continua atual o que os Profs. Brocksom e de Andrade, no artigo acima referido, já afirmavam: "A área de Química em nível de pós-graduação tem se destacado pela quantidade e qualidade da oferta e demanda, e pelos resultados convencionais de produtividade alcançados ao longo dos últimos trinta anos. Nenhuma área tem oferecido tantos cursos de pós-graduação tão espalhados pelo país, e muito menos com as mesmas qualidades ...".

Em seu documento final de avaliação, a comissão da área de Química traça um perfil desejável para os programas. Entre as características estão: produção científica publicada em revista de impacto, intercâmbio científico nacional/internacional, atuação dos docentes em cursos de graduação orientando alunos de IC, bibliotecas modernas e atualizadas, estrutura curricular flexível, corpo docente constituído de 100% de doutores com experiência em orientação e produção científica adequada.

Sem dúvida esta orientação é desejável e tenta nortear os programas para que possam ser de excelência, entretanto parece-nos interessante lembrar que estes critérios podem não ser totalmente adequados para o momento. Um exemplo está nas publicações em revistas de grande impacto. Não cabe questionar a importância de publicações em tais revistas, todavia existem revistas que são muito especializadas, de excelente nível e que não estão entre aquelas de grande impacto. Além disso, este critério pode gerar um problema para as publicações nacionais, em geral de impacto menor, levando a publicação de artigos de 2ª categoria, pois aqueles de 1ª seriam enviados para as revistas de grande impacto. No momento consideramos muito importante a consolidação de revistas nacionais, e a SBQ tem envidado esforços para que isto ocorra com o J. Braz. Chem. Soc. e Quim. Nova, na divulgação de trabalhos de qualidade. Como estas revistas não estão entre as de grande impacto, no sentido mais amplo (apesar de estarem na base de dados do ISI), torna-se difícil uma política de consolidação das mesmas com a sugestão feita pela comissão de avaliação.

Finalmente, mesmo que os resultados gerais da avaliação da CAPES tenham deixado alguns programas insatisfeitos, o processo foi positivo mas deve ser aprimorado e conduzido de maneira o mais uniforme possível para que se evitem distorções entre as várias áreas.

Paulo Cezar Vieira* e Romeu C. Rocha Filho**

*Secretário Geral da SBQ;

**Membro do Conselho Consultivo da SBQ;

Professores Adjuntos do Departamento de Química

da Universidade Federal de São Carlos

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    As opiniões expressas neste editorial são dos autores e não necessariamente aquelas da SBQ.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      10 Abr 2001
    • Data do Fascículo
      Nov 1998
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