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Química Nova, percepções de alguém de fora: numa encruzilhada?

EDITORIAL

Química Nova, percepções de alguém de fora: numa encruzilhada?

Em 1997 o programa SciELO (Scientific Electronic Library Online) foi lançado no Brasil pela BIREME (Centro Latino-Americano e Caribenho de Informação em Ciência da Saúde, OPS e OMS) e pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Os três maiores objetivos do programa foram: (i) publicar periódicos brasileiros de ciência na internet no modo acesso aberto, com os textos completos de seus artigos acessíveis universalmente; (ii) melhorar a qualidade destes periódicos com respeito a vários atributos, como relevância dos artigos, rigor metodológico e cuidado na apresentação; (iii) criar uma base bibliométrica/cienciométrica, provendo indicadores similares àqueles produzidos pelo ISI para estudos científicos e tecnológicos, os quais não poderiam ser realizados apenas com dados de bases internacionais. Existe uma percepção generalizada que estas metas e ferramentas contribuíram significativamente para o aprimoramento dos periódicos brasileiros.

Porém, não se pode desconsiderar que alguns periódicos brasileiros indexados pelo SciELO e que já eram previamente reconhecidos por sua qualidade, tiveram um efeito recíproco; eles auxiliaram SciELO a ganhar a reputação de um programa que atingiria suas metas. Este é o caso de Química Nova, que foi indexada no SciELO em Novembro de 2000, mas que já tinha sido previamente indexada na prestigiosa base ISI. Talvez neste caso o efeito poderia ser melhor descrito como sinergético, uma vez que a partir de 2000 o fator de impacto de Química Nova no Journal of Citation Report-ISI mais do que dobrou, alcançando 0,720 em 2006, ocupando a quinta posição em toda a coleção SciELO. A visibilidade provida por SciELO pode ter contribuído para isso. Quanto ao fator de impacto na base SciELO, Química Nova detém a décima quarta posição (0,327). Este dado é importante pois reflete a forma como a comunidade científica brasileira "enxerga" Química Nova, em contraposição e/ou complementação à visão da comunidade internacional (ISI). É importante considerar que entre os 8 periódicos SciELO que cobrem a área de química, Química Nova mantém a primeira posição de fator de impacto desta base. Finalmente, como indicador também relevante, os artigos de Química Nova ocupam a terceira posição em visitas ao site SciELO, com 3,2% das cerca de 10 milhões de visitas ao mês.

Estes números impressivos nos levam a buscar os predicados do periódico que poderiam fornecer alguma luz quanto ao que está por detrás destas conquistas. Ademais da qualidade dos artigos, assegurada por um processo de arbitragem por pares e coordenado por um corpo editorial de alta qualidade, Química Nova é muito inovadora e atraente quanto aos tópicos que cobre, com uma forte ênfase em química de poluição, química ambiental e interface microbiologia/química entre outros; todos estes tópicos são investigados através de metodologias modernas de físico-química, química analítica e catálise química, entre outros. Estas características são correlacionadas às metas originais do periódico, muito inclinado a lidar com tópicos de interesse que vão além dos muros acadêmicos e visam problemas sociais em relação aos quais a química pode ter um papel fundamental.

Química Nova tem ademais uma vocação para disseminar novidades e progressos em química entre os estudantes. Como alguém de fora eu fico a imaginar que o periódico está numa espécie de encruzilhada onde é importante se alcançar um equilíbrio entre suas metas originais e sua visibilidade internacional crescente. Embora não excludentes esta tarefa não é fácil e requer decisões de importância, como, por exemplo, a questão da língua: manter o português ou mudar para o inglês? Ou, ainda melhor, utilizar ambas as línguas, aproveitando que a versão eletrônica torna isso possível. Recentemente nós discutimos esta oportunidade num ensaio que pode ter uma conexão com este importante tema para Química Nova1.

Rogerio Meneghini

SciELO, coordenador científico

REFERÊNCIA

1. Meneghini, R.; Packer, A. L.; Is there science beyond English? EMBO Reports 2007, 8, 112-116.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Dez 2007
  • Data do Fascículo
    2007
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