Editorial
EXAME DE UM SONHO
"É difícil encontrarmos uma única razão que explique a fundação
da SBQ somente após termos visto o homem andando na Lua."
(Trecho escrito por Eduardo M. A. Peixoto no primeiro editorial
da Química Nova em janeiro de 1978).
No dia 8 de julho de 1977, na sala 056 da PUC de São Paulo foi fundada a Sociedade Brasileira de Química. Foram muitas as razões que levaram à fundação de uma nova sociedade, conforme explicitado pelo Prof. Eduardo M. A. Peixoto no primeiro editorial da Química Nova: "PUC 056 - Um Exame de Consciência". Em 2002 a SBQ faz vinte e cinco anos, fato este que é de grande alegria para todos os interessados em química do Brasil, pois demonstra o vigor desta jovem Sociedade. Porém, também é uma boa hora de examinarmos se o sonho destes pesquisadores de 1977, vários já falecidos, foi importante e contribuiu para o desenvolvimento da Química no país.
Gostaria de começar esta análise pelo artigo 2o do Estatuto da SBQ que diz: "A SBQ tem por finalidade congregar químicos ou outras pessoas que trabalham e tenham interesse em química, com a finalidade de desenvolver, divulgar e promover o desenvolvimento da pesquisa, da educação e das aplicações práticas da química, zelando pelo alto nível científico da química no País". Analisando estes princípios básicos vemos que em 25 anos, a SBQ sempre teve participação marcante no debate nacional, com propostas criativas e de vanguarda, na discussão e formulação de novos mecanismos de apoio à ciência básica. Sempre se postou de forma crítica, e também propositiva, quando faltaram recursos para bolsas, apoio financeiro para PG&C&T, a crescente exclusão dos pesquisadores doutores recém titulados dos mecanismos de fomento, aos ataques demolidores do MEC às Universidades Públicas de qualidade e, mais recentemente, ao arrocho salarial dos docentes das Universidades Públicas e das bolsas de pós-graduação. Suas reuniões anuais de alta qualidade científica cresceram significativamente, a ponto de mudar o seu local de realização de Caxambú para Poços de Caldas, mas nunca sem perder seu caráter de fórum de debates sobre as políticas científicas nacionais e de veículo de disseminação do conhecimento no país.
Suas duas revistas científicas, Química Nova e o Journal of The Brazilian Chemical Society, alcançaram grau de destaque na literatura nacional e internacional, sendo indexadas por diversas bases de dados e tendo índices de impacto 0,34 e 0,47, respectivamente. Na área educacional a Química Nova na Escola vem se consolidando como uma revista importante, principalmente, para professores e alunos do ensino médio.
Todas as publicações da SBQ foram muito importantes, não só para a divulgação dos conhecimentos científicos gerados no país, como também serviram como material didático para os professores e alunos de todas as áreas da Química. Neste aspecto, deve-se destacar com grande orgulho o fato de que primeira revista científica da SBQ - a Química Nova - também completa 25 anos em 2002. A Química Nova e a SBQ foram criadas juntas, numa espécie de simbiose. Aparentemente, é desta forma que os membros da Sociedade se identificam com a QN, que é mantida com alto padrão científico devido às suas contribuições. Após 24 volumes, ininterruptos, e aproximadamente 11.000 páginas (não incluindo o ano de 2002), pode-se dizer que esta revista já é a maior compilação de dados sobre diversos aspectos da Química produzidos e escritos originalmente no país, sendo a maior fonte de material instrucional em língua portuguesa.
Muitas outras realizações, não menos importantes, efetuadas pelas Divisões Científicas e Secretarias Regionais, deixaram de ser mencionadas apenas por uma questão de espaço, mas deve-se compartilhar com estas o sucesso destes 25 anos, pois a SBQ é um "ser coletivo" (E. M. A. Peixoto). Portanto, esta Sociedade que foi criada para desenvolver, divulgar, promover a pesquisa química de alto nível científico em todos os seus aspectos, buscando também uma maior representatividade para a área, cumpriu e está cumprindo sua missão, que não foi um caminho fácil, muito pelo contrário, foi árduo e teve a contribuição de muitos.
Algumas pessoas poderão não concordar com a opinião, talvez muito entusiástica, de que a criação da SBQ foi um dos fatos mais marcantes na comunidade científica química do país no século 20. Porém, temos a convicção de que a história demonstrará que esta Sociedade foi o instrumento responsável pelas profundas mudanças que causou na Química do Brasil, tanto nas áreas acadêmicas e educacionais, como também quanto ao empreendedorismo nacional.
As suas posições firmes, e democraticamente discutidas nas assembléias anuais, foram muito importantes para o sucesso da SBQ, porém, é extremamente importante ressaltar um outro aspecto importante mencionado pelo Prof. Fernando Galembeck em 1997, na ocasião dos 20 anos da SBQ ¾ "a SBQ foi e é representativa, mas não foi lobista. A sombra da sociedade não fez tráfico de influência, nem a defesa corporativa que fosse desvinculada de interesses maiores, da ciência ou do país (sic)".
Tudo na vida é transitório, mas as relações que desafiam o tempo, são aquelas construídas sobre a arte de conversar democraticamente e aceitar a divergência como algo natural que deve ser assimilada. No outro extremo tem-se o sonho, que é algo que deve ser preservado com muito cuidado, pois é delicado como uma nuvem de primavera. A SBQ desafiou o tempo e está sendo o sonho que abriu espaços para outros sonhos futuros, quem sabe talvez de uma sociedade mais justa e democrática.
Este editorial é dedicado a todos que compõem o "ser coletivo" da SBQ que contribuíram nestes 25 anos para o engrandecimento do sonho da SBQ e das revistas científicas nacionais com alto padrão de qualidade.
Parabéns para todos nós.
Susana I. de Córdoba de Torresi
Vera L. Pardini
Vitor F. Ferreira
Editores da Química Nova
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
31 Jul 2002 -
Data do Fascículo
Fev 2002
