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Desafios e oportunidades

EDITORIAL

Desafios e oportunidades

É sempre bom no início de cada ano escrever sobre os desafios e as oportunidades que esperamos para o novo período. Este não é um tema novo. Se pesquisarmos na internet encontraremos 60.100 endereços onde o mesmo se encontra registrado, trazendo prognósticos relativos às mais diversas áreas do conhecimento. Em alguns destes endereços é possível encontrar tanto textos recentes quanto antigos1. Não é surpreendente observarmos que todos têm como desejo em comum planejar um futuro no qual as principais características dos desafios estejam associadas às novas políticas do país e sincronizadas com instrumentos que possam potencializar as oportunidades. Portanto, há que se envidar esforços para identificar e entender esses desafios e os quadros conceituais nestes inseridos, para que se torne possível mensurar e avaliar os elementos que são seus determinantes.

A SBQ nos últimos anos, de forma pró-ativa, tem indicado para a comunidade e os órgãos responsáveis pelas áreas de C&T&I os macro-desafios a longo prazo, como formação de recursos humanos qualificados; desconcentração regional e combate à endogenia; combate aos gargalos institucionais; estímulo ao empreendedorismo e à interdisciplinaridade e aproximação pró-ativa da academia com a atividade econômica, etc2.

Neste primeiro editorial, pretendo enfocar alguns outros desafios que a Química brasileira, a Sociedade Brasileira de Química e a própria Química Nova têm neste novo ano. Muitos destes podem ser considerados como desdobramentos da agenda da SBQ e, portanto, mais imediatos.

Gostaria de iniciar esta digressão sobre o maior desafio que existe para a Química no Brasil, e também para a Ciência de uma forma geral, que é o do desenvolvimento da ciência e o da inovação tecnológica que possam ser traduzidos em progresso para o País e em bem-estar para a população. Na atual conjuntura mundial, considera-se que a inovação é um fator estratégico de sobrevivência e competitividade das organizações.

A pesquisa em Química foi capaz de formar, ao longo de várias décadas, uma comunidade científica bastante competente e de reputação internacional, sendo a mais produtiva de toda a região latino-americana. Esta mesma comunidade tem agora o desafio de transformar este conhecimento científico em inovação tecnológica, em geração de riquezas para o País e em competitividade estratégica para as empresas nacionais. Isso só ocorrerá se houver uma mudança de paradigma dos nossos pesquisadores. Neste aspecto, em 2005 a Química Nova contribuiu com um número suplementar especial, em conjunto com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), no qual vários membros da nossa comunidade refletiram sobre a necessidade de se trabalhar na formação do profissional da Química para que se alcancem patamares mais elevados na inovação tecnológica e no desenvolvimento científico. Os novos profissionais desta área devem estar atentos ao novo contexto mundial, no qual, além dos desafios da adoção e difusão de inovações, destacam-se a diminuição dos ciclos de vida dos produtos e processos que têm levado ao conceito de inovação perpétua. Ou seja, a obsolescência dos novos produtos é cada vez maior. Gostaria de ressaltar uma frase de um dos artigos que traduz bem o que seja este novo profissional - "mudanças devem ser introduzidas nos projetos didático-pedagógicos dos cursos para que estes ofereçam uma formação sólida em Química, mas abrangente e generalista o suficiente para que o Químico possa se desenvolver em mais de uma direção"3.

Do ponto de vista ambiental a Química tem muitos desafios. O mais urgente é o desenvolvimento de novos processos que sejam ambientalmente aceitáveis. O paradigma de rendimento químico tem que ser revisto e substituído pela economia atômica. Não é possível que o País continue produzindo produtos químicos com tecnologia do século passado. Neste aspecto, deve-se ressaltar que a diminuição da emissão de gases poluentes está na agenda de todos os países, pois os níveis atuais dos mesmos têm colocado em risco a vida neste planeta.

A SBQ também tem muitos desafios. Como entidade representante de parcela significativa dos Químicos e de outros profissionais de área afins, alguns destes são organizar, discutir, planejar, recomendar, etc as ações científicas e políticas da Química no País. Dentro destes objetivos, destaca-se a missão de manter a publicação das duas revistas científicas de Química de maior índice de impacto na América Latina (JBCS e QN) e, também, a de levá-las a aumentarem esses índices cada vez mais, o que não depende exclusivamente da SBQ. Isto só poderá ser alcançado com a participação dos membros da nossa comunidade científica, não apenas ao enviarem para publicação trabalhos de alto nível, mas também citando os artigos publicados nestas revistas. Por exemplo, observamos que alguns autores optam por citar revisões publicadas em revistas internacionais, mesmo que sejam mais antigas4, deixando de citar excelentes revisões e artigos de divulgação publicados em nossas revistas.

Os desafios anteriormente delineados têm estado em pauta por algum tempo nas agendas de diversos órgãos governamentais, universidade e ONGs, mas é sempre importante lembrar, e relembrar, da sua importância e continuidade.

Vitor F. Ferreira

Editor de QN

Referências

1. Ferreira, V. F.; Quim. Nova 2003, 26, 3.

2. de Andrade, J. B.; Pinto, A. C.; Cadore, S.; Vieira, P. C.: Zucco, C.; Pardini, V. L.; Curi, L. R. L.; Quim. Nova 2005, 28 (supl.), S7.

3. Zucco, C.; Quim. Nova 2005, 28 (supl.), S11.

4. de Andrade, J. B.; Quim. Nova 2002, 25, 891.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Fev 2006
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