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ISOFLAVONOIDES DA TRIBO DALBERGIEAE: UMA CONTRIBUIÇÃO QUIMIOSSISTEMÁTICA PARA A SUBFAMÍLIA PAPILIONOIDEAE

ISOFLAVONOIDS OF THE TRIBE DALBERGIEAE: A CHEMOSYSTEMATIC CONTRIBUTION TO THE SUBFAMILY PAPILIONOIDEAE

Resumo

Plants from Fabaceae family have several secondary metabolites and high biological potential. The subfamily Papilionoideae (Fabaceae) has 28 tribes, of which Dalbergieae comprises 49 genera and 1325 species. Isoflavonoids are chemotaxonomic markers of Papilionoideae and have important biological properties. This review describes the isoflavonoids and biological activities from the tribe Dalbergieae (Fabaceae-Papilionoideae) species, in the period of 1945 to 2019. A total of 240 isoflavonoids were found in 69 species and in 15 genera. Formononetin, biochanin A and medicarpin were the most frequent isoflavonoids in this tribe. Dalbergia, Machaerium, Andira and Pterocarpus genera had a high number of species with occurrence of isoflavonoids. A total of 81 isoflavanoids and 46 species showed biological activities. This suggests that more works are necessary to evaluate the potential of this tribe. The present study contributes to the taxonomic classification of genus or species in the family, subfamily or tribe, once the correlation between secondary metabolites and morphological data is an important tool for the classification, phylogeny and evolution of species. This compilation also contributes to extend and update the researched period on the occurrence of isoflavonoids in species of the tribe Dalbergieae, described in the literature in other bibliographic reviews.

Keywords:
isoflavonoids; isoflavones; Dalbergieae; Papilionoideae; Fabaceae


Keywords:
isoflavonoids; isoflavones; Dalbergieae; Papilionoideae; Fabaceae

INTRODUÇÃO

Estudos quimiossistemáticos ou quimiotaxonômicos utilizam dados químicos provenientes do metabolismo especializado ou micromolecular das plantas e podem auxiliar na identificação e classificação de espécies de difícil caracterização com o uso somente de análises morfológicas. A quimiossistemática considera o fato dos metabólitos especializados e suas vias biossintéticas serem frequentemente específicas e restritas a organismos taxonomicamente relacionados.11 Sousa, E. A.; Chaves, M. H.; Rev. Virtual Quim. 2019, 11, 1767.; Wink, M.; Botschen, F.; Gosmann, C.; Schafer, H.; Waterman, P. G.; Annu. Plant Rev. 2010, 40, 364.,22 Singh, R.; Geetanjali. Em Natural Products and Drug Discovery: An Integrated Approach; Mandal, S. C.; Mandal, V.; Konishi, T., eds.; Elsevier-Copyright: Amsterdam, 2018, cap. 6.

A grande variedade de constituintes químicos isolados de espécies vegetais em conjunto com a morfologia e dados citológicos permitem diagnosticar o histórico do organismo e as modificações sofridas em seu ambiente.33 Reynolds, T.; Phytochemistry 2007, 68, 2887.

Recentemente, um novo termo denominado quimiofenética foi proposto para descrever estudos quimiossistemáticos que não visem somente elucidar relações filogenéticas, mas também descrever a variedade de produtos naturais micro e macromoleculares de um determinado táxon.11 Sousa, E. A.; Chaves, M. H.; Rev. Virtual Quim. 2019, 11, 1767.; Wink, M.; Botschen, F.; Gosmann, C.; Schafer, H.; Waterman, P. G.; Annu. Plant Rev. 2010, 40, 364.,44 Zidorn, C.; Phytochemistry 2019, 163,147. Dessa forma, além das abordagens anatômicas, morfológicas e cariológicas já reconhecidas como de grande importância para o estabelecimento de sistemas naturais, os estudos quimiofenéticos reúnem uma combinação de dados fitoquímicos e macromoleculares e até mesmo a busca sistemática de produtos naturais raros que podem ajudar na caracterização de clados, até agora suportados apenas por dados de sequência de DNA.44 Zidorn, C.; Phytochemistry 2019, 163,147.

Plantas da família Fabaceae Lind (Leguminosae) são conhecidas pela diversidade de metabólitos secundários e por seu elevado potencial biológico.55 Pereira, R.; Souza, E. B.; Fontenelle, R. O. S.; Vasconcelos, M. A.; Santos, H. S.; Teixeira, E. H. Hoehnea 2019, 46, 1; Rocha e Silva, H.; Silva, C. C. M.; Caland-Neto, L. B.; Lopes, J. A. D.; Citó, A. M. G. L.; Chaves, M. H. Quim. Nova 2007, 30, 1877; Zaruchi, J. L.; Phytochemical Dictionary of the Leguminosae, Chapman & Hall: London, 1994. O modo de distribuição destes metabólitos pode ser usado para identificar a origem botânica e muitas vezes expressa a adaptação, regulação e evolução sofrida por um determinado táxon.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.

7 LPWG (Legume Phylogeny Working Group); Taxon 2017, 66, 44.
-88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60.

Os isoflavonoides são metabólitos secundários ou micromoleculares quase que exclusivamente restritos a subfamília Papilionoideae (Fabaceae), sendo alvo de três revisões bibliográficas compreendendo o período de 1997 a 2011.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417. Entretanto, considerando a relevância dos metabólitos secundários como instrumentos de classificação taxonômica, que a tribo Dalbergieae (Fabaceae-Papilionoideae) passou por várias modificações, especialmente, após avanços na filogenia molecular,99 Wojciechowski, M. F.; Lavin, M.; Sanderson, M. J.; Am. J. Bot. 2004, 91, 1846; Lavin, M.; Pennington, R. T.; Klitgaard, B. B.; Sprent, J. I.; Lima, H. C.; Gasson, P. E. Am. J. Bot. 2001, 88, 503. o presente trabalho teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica dos isoflavonoides e atividades biológicas de espécies desta tribo, no período de 1945 a 2019, contribuindo para ampliar e atualizar o período pesquisado sobre a ocorrência destes metabólitos nesta tribo, como também ajudar na caracterização de clados e fornecer subsídios para guiar futuras prospeções fitoquímicas que visem a descoberta de novos agentes terapêuticos.

O táxon Fabaceae

Fabaceae é considerada a terceira maior família de Angiospermas em número de espécies ficando atrás apenas de Asteraceae e Orchidaceae. É constituída por aproximadamente 36 tribos, 770 gêneros, 19.500 espécies e está distribuída em quase todos os continentes, exceto na Antártida.77 LPWG (Legume Phylogeny Working Group); Taxon 2017, 66, 44.,1010 Lewis, G. P.; Schrire, B. D.; Mackinder, B. A.; Lock, J. M. Legumes of the World, Royal Botanic Gardens, Kew: London, 2005. Essa família é a segunda em importância econômica, ficando atrás apenas da Poaceae.77 LPWG (Legume Phylogeny Working Group); Taxon 2017, 66, 44.,99 Wojciechowski, M. F.; Lavin, M.; Sanderson, M. J.; Am. J. Bot. 2004, 91, 1846; Lavin, M.; Pennington, R. T.; Klitgaard, B. B.; Sprent, J. I.; Lima, H. C.; Gasson, P. E. Am. J. Bot. 2001, 88, 503.

No Brasil, Fabaceae é constituída por 213 gêneros, 2.756 espécies, sendo 1.458 endêmicas, 53 subespécies e 731 variedades.1111 Forzza, R. C; Baumgratz, J. F. A.; Bicudo, C. E. M.; Carvalho Júnior, A. A.; Costa, A.; Costa. D. P.; Hopkins, M., Leitman, P. M.; Lohmann, L. G.; Maia, L. C.; Martinelli, G.; Menezes, M.; Morim, M. P.; Coelho, M. A. N.; Peixoto, A. L.; Pirani, J. R.; Prado, J.; Queiroz, L. P.; Souza, V. C.; Stehmann, J. R.; Sylvestre, L. S.; Walter, B. M. T.; Zappi, D.; Catálogo de plantas e fungos do Brasil, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro: Rio de Janeiro, 2010, v. 2. A classificação tradicional dividia a família Fabaceae em três subfamílias: Papilionoideae, Caesalpiniodeae e Mimosoideae, as quais podem ser diferenciadas principalmente pela prefloração das pétalas.1010 Lewis, G. P.; Schrire, B. D.; Mackinder, B. A.; Lock, J. M. Legumes of the World, Royal Botanic Gardens, Kew: London, 2005. No entanto, uma classificação mais recente baseada em estudos taxonômicos e moleculares foi endossada pelo Legume Phylogeny Working Group,77 LPWG (Legume Phylogeny Working Group); Taxon 2017, 66, 44. no qual dividiu a família Fabaceae em seis subfamílias: Papilionoideae (503 gêneros, cerca 14.000 espécies), Caesalpinioideae (148 gêneros, cerca de 4.400 espécies; incluindo os gêneros do clado Mimosoideae), Detarioideae (84 gêneros, cerca de 760 espécies), Dialioideae (17 gêneros, cerca 85 espécies), Cercidoideae (12 gêneros, cerca de 335 espécies) e Duparquetioideae (1 gênero, 1 espécie).77 LPWG (Legume Phylogeny Working Group); Taxon 2017, 66, 44.

Plantas pertencentes a Fabaceae são ricas em flavonoides, porém acumulam também outros metabólitos como alcaloides, terpenoides e esteroides.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.,1212 Hegnauer, R.; Barkmeijer, R. J. G.; Phytochemistry 1993, 34, 3.,1313 Amen, Y. M.; Marzouk, A. M.; Zaghloul, M. G.; Afifi, M. S.; Nat. Prod. Res. 2015, 29,1388. Devido sua ampla distribuição global e sua inegável importância em diversos biomas, as espécies de Fabaceae estão presentes na vida humana há milênios e são extremamente importantes do ponto de vista econômico.1414 Judd, W. S.; Campbell, C. S.; Kellog, E. A.; Stevens, P. F.; Plant Systematics: a phylogenetic approach. Sinauer Associates. Sunderland: Massachusetts, 2007. A contribuição na alimentação humana e de outros animais permitem que diversas indústrias sejam beneficiadas pelos produtos derivados de Fabaceae, como medicamentos, corantes, pesticidas, resinas, tintas, gomas e espessantes. Espécies dessa família também vêm sendo usadas para a melhoria de solos agrícolas, em função de sua grande capacidade de fixação de nitrogênio gerada pela atividade de bactérias simbiontes existentes nos nódulos radiculares.1414 Judd, W. S.; Campbell, C. S.; Kellog, E. A.; Stevens, P. F.; Plant Systematics: a phylogenetic approach. Sinauer Associates. Sunderland: Massachusetts, 2007.,1515 Souza, V. C.; Lorenzi, H. Botânica Sistemática: Guia Ilustrado para Identificação das Famílias de Angiospermas da Flora Brasileira, baseado em APG II, Plantarum: Nova Od, 2008. Muitas espécies são também utilizadas em ornamentação e paisagismo e outras são ainda organismos modelo para diversos tipos de estudo.1010 Lewis, G. P.; Schrire, B. D.; Mackinder, B. A.; Lock, J. M. Legumes of the World, Royal Botanic Gardens, Kew: London, 2005. No Brasil, é a principal família utilizada para a arborização urbana e várias de suas espécies são usadas na indústria madeireira, por fornecerem matéria prima de alta qualidade.1515 Souza, V. C.; Lorenzi, H. Botânica Sistemática: Guia Ilustrado para Identificação das Famílias de Angiospermas da Flora Brasileira, baseado em APG II, Plantarum: Nova Od, 2008.

Subfamília Papilionoideae - Tribo Dalbergieae

Papilionoideae constitui a maior subfamília de Fabaceae, distinguindo-se das outras subfamílias vegetativamente e pelos caracteres florais e do fruto, sendo considerada monofilética.77 LPWG (Legume Phylogeny Working Group); Taxon 2017, 66, 44.,1616 Wojciechowski, M. F. Em Advances in Legume Systematics; Klitgaard, B. B., Bruneau, A. eds.; Royal Botanic Gardens, Kew: London, 2003; Klitgaard, B. B.; Lavin, M. Em Legumes of the World; Lewis, G. P., Schirire, B., Mackinder, B., Lock, M., eds.; The Royal Botanical Gardens, Kew: London, 2005. Essa subfamília atualmente está representada por 28 tribos, das quais Dalbergieae compreende 49 gêneros e cerca de 1.325 espécies, com cinco gêneros pantropicais, um anfiatlântico e dois transatlânticos.1010 Lewis, G. P.; Schrire, B. D.; Mackinder, B. A.; Lock, J. M. Legumes of the World, Royal Botanic Gardens, Kew: London, 2005. Essa tribo apresenta grande diversidade na América do Sul com 38 gêneros e, no Brasil, são relatados a ocorrência de 28.1616 Wojciechowski, M. F. Em Advances in Legume Systematics; Klitgaard, B. B., Bruneau, A. eds.; Royal Botanic Gardens, Kew: London, 2003; Klitgaard, B. B.; Lavin, M. Em Legumes of the World; Lewis, G. P., Schirire, B., Mackinder, B., Lock, M., eds.; The Royal Botanical Gardens, Kew: London, 2005. Estudos filogenéticos mostram os grandes clados em que a tribo Dalbergieae está dividida: clado Adesmia, composto por 6 gêneros e cerca de 360 espécies, de distribuição principalmente neotropical; clado Pterocarpus, incluindo 22 gêneros e cerca de 200 espécies, centrado na região neotropical, com alguns componentes se expandindo para a região Pantropical; clado Dalbergia, com 17 gêneros e cerca de 700 espécies, de distribuição pantropical, centrado principalmente na África e por fim os quatro gêneros isolados Andira, Hymenolobium, Vatairea e Vataireopsis que reúnem 58 espécies de distribuição majoritariamente neotropical. Desta forma, explica-se a interessante composição atual da tribo Dalbergieae sensu lato, com representantes diversos e aparentemente bastante distantes, porém intimamente relacionados.99 Wojciechowski, M. F.; Lavin, M.; Sanderson, M. J.; Am. J. Bot. 2004, 91, 1846; Lavin, M.; Pennington, R. T.; Klitgaard, B. B.; Sprent, J. I.; Lima, H. C.; Gasson, P. E. Am. J. Bot. 2001, 88, 503.,1616 Wojciechowski, M. F. Em Advances in Legume Systematics; Klitgaard, B. B., Bruneau, A. eds.; Royal Botanic Gardens, Kew: London, 2003; Klitgaard, B. B.; Lavin, M. Em Legumes of the World; Lewis, G. P., Schirire, B., Mackinder, B., Lock, M., eds.; The Royal Botanical Gardens, Kew: London, 2005.,1717 Ferreira, J. J. S.; Oliveira, A. C. S.; Queiroz, R. T.; Silva, J. S.; Rodriguésia 2019, 70, e03502017.

Isoflavonoides

Os flavonoides são metabólitos secundários sintetizados por plantas e apresentam, de modo geral em sua estrutura, várias hidroxilas ligadas a anel aromático, por isso são chamados de compostos polifenólicos. O esqueleto básico de compostos dessa classe é oriundo de rota biossintética mista (Figura 1), sendo formado por 15 átomos de carbono dispostos em dois anéis aromáticos conectados por uma ponte de três átomos de carbono C6-C3-C6.88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60.,1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p. Estima-se a existência de cerca de 5.000 estruturas conhecidas de flavonoides que estão agrupadas, baseadas no estado oxidativo do anel C, em oito subclasses: flavanois, flavandiois, flavanonas, di-hidroflavanois, flavonas, flavonois, antocianidinas e isoflavonoides.88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60.

Figura 1
Biossíntese de isoflavonoides, adaptada da ref. 1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p.

A subclasse isoflavonoides possui cerca de 1.000 estruturas conhecidas, é encontrada em uma grande variedade de espécies de Papilionoideae, sendo considerada marcadores quimiotaxonômicos desta subfamília. Diferentemente de outros flavonoides, os isoflavonoides apresentam o anel B ligado na posição C-3 em vez de C-2, além de sofrer várias modificações estruturais que geram isoflavonoides simples, como isoflavonas, isoflavanonas, isoflavanas e isoflavanois (isoflavan-4-ol), bem como estruturas mais complexas, incluindo rotenoides, pterocarpanos e cumestanos (Figura 1).88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60.,1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p.

Os estudos iniciais com isoflavonoides concentravam-se em suas propriedades como marcadores quimiossistemáticos. Com o passar do tempo tornaram-se conhecidos por suas propriedades antifúngicas, conforme relatado para medicarpina (156) e vestitol (195), em alguns casos por fazerem parte dos mecanismos de defesa da planta e inseticidas, como também por serem considerados fitoalexinas por fitofisiologistas.1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p.,1919 Reynaud, J., Guilet, D.; Terreux, R.; Lussignol, M.; Walchshofer, N.; Nat. Prod. Res. 2005, 22, 504. As isoflavonas estão associadas a muitas atividades biológicas, incluindo tratamento da osteoporose, doenças cardiovasculares, sintomas da menopausa e prevenção do câncer.1313 Amen, Y. M.; Marzouk, A. M.; Zaghloul, M. G.; Afifi, M. S.; Nat. Prod. Res. 2015, 29,1388. Estudos indicam que o efeito protetor dos isoflavonoides pode se estender além de suas atividades antioxidantes em níveis moleculares e celulares.88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60.,1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p.

A estrutura química das isoflavonas é muito semelhante à do hormônio estrogênico animal (estradiol e testosterona), de modo que alguns compostos dessa classe possuem atividade estrogênica.2020 Umehara, K.; Nemoto, K.; Kimuima K.; Matsushita, A.; Terada, E.; Monthakantirat, O.; Eknamkul, W.; Miyase, T.; Warashina, T.; Degawa, M.; Noguchi, H.; Phytochemistry 2008, 69, 546. 2008; Umehara, K. ; Nemoto, K. ; Matsushita, A. ; Terada, E. ; Monthakantirat, O. ; Eknamkul, W. ; Miyase, T. ; Warashina, T. ; Degawa, M. ; Noguchi, H. ; J. Nat. Prod. 2009, 72, 2163. O consumo de isoflavonoides é estimulado na dieta humana, visando a proteção contra cânceres dependentes de estrogênio (câncer de mama), quando a disponibilidade do hormônio natural é restrita. Dessa forma, são empregados como suplementos dietéticos de estrogênio para a redução dos sintomas da menopausa, de forma semelhante à terapia de reposição hormonal.1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p.

ISOFLAVONOIDES DA TRIBO DALBERGIEAE

A presente revisão bibliográfica consistiu na ampliação e atualização do período pesquisado em outras revisões66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417. sobre a ocorrência dos isoflavonoides e suas propriedades biológicas relatados em espécies da tribo Dalbergieae (Fabaeceae-Papilionoideae), contribuindo para uma melhor compreensão do metabolismo micromolecular e sua ação no organismo animal, bem como ajudar na caracterização de clados e guiar futuros estudos fitoquímicos que visem a descoberta de novos agentes terapêuticos.

No período de 1945 a 2019 foram relatados 240 isoflavonoides na tribo Dalbergieae, distribuídos em 15 gêneros e 69 espécies (Tabela 1). Os isoflavonoides foram relacionados por classes: isoflavonas (1 a 125, 52,1%), isoflavanonas (126 a 155, 12,5%), pterocarpanos (156 a 182, 11,2%), rotenoides (183 a 194, 5,0%), isoflavanas, isoflavanquinonas e isoflavan-4-ois (195 a 225, 13,0%) e outros isoflavonoides (226 a 240, 6,2%). Os isoflavonoides glicosilados totalizaram 48 (20%). Os compostos de maior ocorrência são as isoflavonas formononetina (2) e biochanina A (17) e o pterocarpano medicarpina (156) presentes em 20, 19 e 16 espécies, respectivamente. Os gêneros que apresentaram maior número de espécies com ocorrência de isoflavonoides foram Dalbergia (31 espécies), Machaerium (9 espécies), Andira (6 espécies) e Pterocarpus (6 espécies). A revisão bibliográfica mostrou ainda, três trabalhos que identificaram por Cromatografia Líquida de Alta Eficiência acoplada a Espectrometria de Massas (CLAE-EM) 35 isoflavonoides, dos quais 12 eram isoflavonas, 13 isoflavanonas, 8 isoflavanas e 2 pterocarpanos. Estes compostos foram previamente isolados e relatados em outros trabalhos.2020 Umehara, K.; Nemoto, K.; Kimuima K.; Matsushita, A.; Terada, E.; Monthakantirat, O.; Eknamkul, W.; Miyase, T.; Warashina, T.; Degawa, M.; Noguchi, H.; Phytochemistry 2008, 69, 546. 2008; Umehara, K. ; Nemoto, K. ; Matsushita, A. ; Terada, E. ; Monthakantirat, O. ; Eknamkul, W. ; Miyase, T. ; Warashina, T. ; Degawa, M. ; Noguchi, H. ; J. Nat. Prod. 2009, 72, 2163.

21 Araujo, J. M. E.; Melo, L. S. M.; Araujo, E. D.; Fernandes, R. P. M.; Scher, R.; Braz. Arch. Biol. Technol. 2018, 61, e18160461.
-2222 Zhao, C.; Liu, Y.; Cong, D.; Zhang, H.; Yu, J.; Jiang, Y.; Cui, X.; Sun, J.; Biomed. Chromatogr. 2013, 27, 1621.

Tabela 1
Isoflavonoides de espécies da tribo Dalbergieae

Dalbergia parviflora apresentou o maior número de isoflavonoides, com 46 compostos isolados. Essa espécie é conhecida na Tailândia como “sak kee”, onde é utilizada na medicina tradicional como expectorante, estomacal, cardiotônico e para regular o ciclo menstrual.2020 Umehara, K.; Nemoto, K.; Kimuima K.; Matsushita, A.; Terada, E.; Monthakantirat, O.; Eknamkul, W.; Miyase, T.; Warashina, T.; Degawa, M.; Noguchi, H.; Phytochemistry 2008, 69, 546. 2008; Umehara, K. ; Nemoto, K. ; Matsushita, A. ; Terada, E. ; Monthakantirat, O. ; Eknamkul, W. ; Miyase, T. ; Warashina, T. ; Degawa, M. ; Noguchi, H. ; J. Nat. Prod. 2009, 72, 2163.,2323 Songsiang, U.; Wanich, S.; Pitchuanchom, S.; Netsopa, S.; Uanporn, K.; Yenjai, C.; Fitoterapia 2009, 80, 427. As folhas desta planta têm efeito afrodisíaco suave e o óleo do cerne (vermelho-escuro) é usado como antipirético e no tratamento de feridas crônicas.2020 Umehara, K.; Nemoto, K.; Kimuima K.; Matsushita, A.; Terada, E.; Monthakantirat, O.; Eknamkul, W.; Miyase, T.; Warashina, T.; Degawa, M.; Noguchi, H.; Phytochemistry 2008, 69, 546. 2008; Umehara, K. ; Nemoto, K. ; Matsushita, A. ; Terada, E. ; Monthakantirat, O. ; Eknamkul, W. ; Miyase, T. ; Warashina, T. ; Degawa, M. ; Noguchi, H. ; J. Nat. Prod. 2009, 72, 2163. Devido a essas propriedades, essa espécie tem sido alvo de estudos químicos e biológicos.2323 Songsiang, U.; Wanich, S.; Pitchuanchom, S.; Netsopa, S.; Uanporn, K.; Yenjai, C.; Fitoterapia 2009, 80, 427.

Isoflavonas

Isoflavonas estão presentes na natureza predominantemente como β-glicosídeos, acetil-β-glicosídeos e malonil-β-glicosídeos, todos solúveis em água. Pequenas modificações estruturais produzem significativas alterações em suas propriedades biológicas e bioquímicas. Uma das propriedades químicas mais importantes das isoflavonas é a capacidade de participar de processos redox.88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60.,140140 Mariana, A.; Marinela, P.; Rev. Roum. Chim. 2007, 52, 537.

As isoflavonas dietéticas podem ser classificadas em quatro categorias: (I) agliconas (sem ligação com açúcar): daidzeína (1), formononetina (2), genisteína (16), biochanina A (17) e gliciteina (33); (II) glicosídeos ou gliconas: daidzina, genistina, glicitina, ononina (5) e sissotrina; (III) acetilglicosídeos ou acetilgliconas: 6”- acetildaldazina, 6”-acetilgenistina e 6”-acetilglicitina; (IV) malonilglicosídeos ou malonilgliconas: 6”-malonilaldazina, 6”-malonilgenistina e 6”-malonilglicitina.88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60.

O número de isoflavonas encontrado na literatura excede o de qualquer outra subclasse de isoflavonoides.88 Sharma, V.; Ramawat, K. G. Em Natural Products; Ramawat, K. G., Mérillon, J. M., eds.; Springer-Verlag: Berlin Heidelberg, 2013, cap. 60. Na tribo Dalbergieae as isoflavonas são a subclasse de isoflavonoides mais frequentes com um total de 125 (52,1%). As isoflavonas (1 a 125) foram agrupadas com base em padrões simples de substituição no oxigênio, sendo 66 compostos com grupos metoxi e metilenodioxi, 12 com substituintes prenila e 42 derivados glicosilados.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.

As isoflavonas têm 3-fenil-4H-l-benzopiran-4-ona (3-fenilcromona) como um sistema de anel principal1313 Amen, Y. M.; Marzouk, A. M.; Zaghloul, M. G.; Afifi, M. S.; Nat. Prod. Res. 2015, 29,1388. e possuem em sua estrutura uma ligação dupla no carbono 2 do anel C (Tabela 2) e as que possuem substituição C-8 (hidroxi, metoxi ou derivados glicosidados) no anel A são relativamente incomuns, contudo, 19 compostos com esse padrão de substituição foram relatados (Tabela 2).

Tabela 2
Estruturas das isoflavonas de 1-125

Um total de 35 isoflavonas da tribo Dalbergieae (28,0%) são biologicamente ativas. As atividades biológicas mais frequentes em isoflavonas são estrogênica, citotóxica, antioxidante, antimicrobiana e antifúngica.

A atividade estrogênica foi relatada para 15 isoflavonas (2, 11, 14, 16, 17, 48, 50, 54, 57, 60, 64, 89, 92, 98 e 124) com ocorrência em 11 espécies, sendo a maioria encontrada na madeira de D. parviflora, o que indica o potencial estrogênico desta espécie.

Formononetina (2), genisteína (16), biochanina A (17), cajanina (57) e khrinona C (98) apresentaram ainda atividade antioxidante nos métodos Xantina/Xantina Oxidase (X/XO), capacidade de absorção do radical oxigênio (ORAC) e DPPH.141141 Promden, W.; Monthakantirat, O.; Umehara, K.; Noguchi, H.; De-Eknamkul, W.; Molecules 2014, 19, 2226. Essa atividade também foi relatada para daidzeína (1), isoformononetina (3) e 3’-hidroxidaidzeína (9), calicosina (10), 3'-O-metilorobol (51) e khrinona B (99).1313 Amen, Y. M.; Marzouk, A. M.; Zaghloul, M. G.; Afifi, M. S.; Nat. Prod. Res. 2015, 29,1388.,123123 Toukam, P. D.; Tagatsing, M. F.; Yamthe, L. R. T.; Baishya, G.; Barua, N. C.; Tchinda, A. T.; Mbafor, J. T.; Phytochem. Lett. 2018, 28, 69.,141141 Promden, W.; Monthakantirat, O.; Umehara, K.; Noguchi, H.; De-Eknamkul, W.; Molecules 2014, 19, 2226.

Orobol (49), obtida de D. parviflora, apresentou atividade citotóxica frente às linhagens de células de carcionoma epidemoide de cavidade oral (KB), adenocarcinoide de mama (MCF-7) e câncer de pulmão de pequenas células (NCI-H187).7878 Songsiang, U.; Hahnvajanawong, C.; Yenjai, C. Fitoterapia 2011, 82, 1169. A citotoxicidade frente às linhagens de células KB e NCI-H187 também foi exibida por 5,7,5'-trihidroxi-2',4'-dimetoxi-isoflavona (94), obtida de D. parviflora.6666 Yahara, S.; Ogata, T.; Saijo, R.; Konishi, R.; Yamahara, J.; Miyahara, K.; Nohara, T.; Chem. Pharm. Bull. 1989, 37, 979.,9696 Kaennakam, S.; Sukandar, E. R.; Rassamee, K.; Siripong, P.; Tip-Pyang, S.; Phytochem. Lett. 2019, 31, 187. Enquanto 3’-metoxidaidzeína (11), obtida de D. odorifera e D. velutina, e pseudobaptigenina (7), isolada de D. velutina, foram ativas frente à linhagem de células KB.2323 Songsiang, U.; Wanich, S.; Pitchuanchom, S.; Netsopa, S.; Uanporn, K.; Yenjai, C.; Fitoterapia 2009, 80, 427.,9696 Kaennakam, S.; Sukandar, E. R.; Rassamee, K.; Siripong, P.; Tip-Pyang, S.; Phytochem. Lett. 2019, 31, 187. 6,2’-Dimetoxi-7,4’-dihidroxi-isoflavona (58), isolada de D. vacciniifolia e 5,7-dihidroxi-4’-metoxi-6,8-diprenilisoflavona (120), obtida de O. kirkii, demonstraram citotoxicidade frente a larvas de camarão e à linhagem de célula de leucemia (CCRF-CEM), respectivamente.9494 Innocent, E.; Magadula, J. J.; Kihampa, C.; Heydenreich, M.; Nat. Prod. Commun. 2010, 5, 903.,114114 Adem, F. A.; Mbaveng, A. T.; Kuete, V.; Heydenreich, M.; Ndakala, A.; Irungu, B.; Yenesew, A.; Efferth, T.; Phytomedicine 2019, 58, 152853.

A isoflavona biochanina A (17) apresentou atividade anti-inflamatória e antimicrobiana.9090 Cook, J. T.; Olli, W. D.; Sutherland, I. O.; Gottlieb, O. R.; Phytochemistry 1978, 17, 1419.,9797 Kaennakam, S.; Siripong, P.; Tip-Pyang, S.; J. Nat. Med. 2017, 71, 310. Formononetina (2) e calicosina (10) demostraram potencial antimicrobiano, antiparasitário e antigiárdico contra Giardia intestinalis.1313 Amen, Y. M.; Marzouk, A. M.; Zaghloul, M. G.; Afifi, M. S.; Nat. Prod. Res. 2015, 29,1388.,4848 Khan, I. A.; Avery, M. A.; Burandt, C. L.; Goins, D. K.; Mikell, J. R.; Nash, T. E.; Azadegan, A.; Walker, L. A.; J. Nat. Prod. 2000, 63, 1414.,107107 Elsohly, H. N.; Joshi A. S., Nimrod, A. C.; Planta Med. 1999, 65, 490. O composto 2 possui ainda atividade larvicida frente a Aedes aegypti, repelente contra zoósporo e inibidora de agregação plaquetária.6262 Islam, T. M.; Z. Naturforsch. 2008, 63, 233.,6464 Goda, Y., Katayama, M., Ichikawa, K., Shibuya, M., Kiuchi, F., Sankawa, U.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5606.,6767 Pluempanupat, S.; Kumrungsee, N.; Pluempanupat, W.; Ngamkitpinyo, K.; Chavasiri, W.; Bullangpoti, V.; Koul, O.; Ind. Crops Prod. 2013, 44, 653.

A atividade antimalárica frente a Plasmodium falciparum é relatada para calicosina (10), genisteína (16) e 5,7,5'-trihidroxi-2',4'-dimetoxi-isoflavona (94).2323 Songsiang, U.; Wanich, S.; Pitchuanchom, S.; Netsopa, S.; Uanporn, K.; Yenjai, C.; Fitoterapia 2009, 80, 427.,3232 Kraft, C.; Jenett-Siems, K.; Siems, K.; Gupta, M. P.; Bienzle, U.; Eich, E.; J. Ethnopharmacol. 2000, 73, 131. Calicosina (10), obtida de C. sclerophyllum, apresentou também atividade leishmanicida.3838 Araujo, C. A. C.; Alegrio, L. V.; Leon, L. L.; Phytochemistry 1998, 49, 751. 5-Hidroxibowdichiona (107), obtida de D. candenatensis, e 5,7,5'-trihidroxi-2',4'-dimetoxiisoflavona (94) apresentaram atividade antimicrobiana.2323 Songsiang, U.; Wanich, S.; Pitchuanchom, S.; Netsopa, S.; Uanporn, K.; Yenjai, C.; Fitoterapia 2009, 80, 427.,4141 Hamburger, M. O.; Cordell, G. A.; J. Nat. Prod. 1987, 50, 696. Enquanto calicosina (10) e 5,7,3'-trihidroxi-4'-metoxi-8-prenilisoflavona (119), isolada de V. guianensis, exibiram potencial antifúngico frente a cepas de Candida.121121 Martinez, J.; García, C.; Durango, D.; Bol. Latinoam. Caribe Plant. Med. Aromat. 2017, 16, 14-25.,136136 Souza, R. F.; Silva, G. A.; Arruda, A. C.; Silva, M. N.; Santos, A. S.; Grisólia, D. P. A.; Silva, M. B.; Salgado, C. G.; Arruda, M. S. P.; J. Braz. Chem. Soc. 2017, 28, 1132.

Biochanina A 7-O-β-D-glicopiranosídeo (22), obtida de A. anthelmia e D. sissoo, biochanina A 7-O-β-D-apiofuranosil-(1→5)-β-D-apiofuranosil-(1→6)-β-D-glicopiranosídeo (27) e biochanina A 7-O-α-L-ramnopiranosil-(1→6)-β-D-glicopiranosídeo (28), isoladas de A. anthelmia, apresentaram atividade anti-helmíntica contra Aspiculuris tetraptera.2828 Silva, V. C.; Carvalho, M. G.; Borba, H. R.; Silva, S. L. C.; Rev. Bras. Farmacogn. 2008, 18, 573. A atividade inibitória da ativação do antígeno do vírus Epstein Barr foi relatada para formononetina (2), genisteína (16), biochanina A (17), olibergina B (75) e olibergina A (91), obtidas de D. olivari.6969 Ito, C; Itoigawa, M.; Kanematsu, T.; Ruangrungsi, N.; Mukainaka, T.; Tokuda, H.; Nishino, H.; Furukawa, H.; Phytochemistry 2003, 64, 1265.

A partir do extrato metanólico da madeira de D. odorifera foi obtida uma fração que apresentou atividade anti-hipercolesterêmica e desta foram isoladas as isoflavonas formononetina (2) e 3’-metoxidaidzeína (11).6565 Yahara, S.; Saijo, R.; Nohara, T.; Konishi, R.; Yamahara, J.; Kawasaki, T.; Miyahara, K.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5130. A atividade inibitória de α-glicosidase foi apresentada pela tectorigenina (64), obtida de D. odorifera e D. parviflora, pterosonina E (13), isolada de D. parviflora, e pelo composto 2.2222 Zhao, C.; Liu, Y.; Cong, D.; Zhang, H.; Yu, J.; Jiang, Y.; Cui, X.; Sun, J.; Biomed. Chromatogr. 2013, 27, 1621.,6161 Choi, C. W.; Choi, Y. H.; Cha, M. R.; Yoo, D. S.; Kim, Y. S.; Yon, G. H.; Hong, K. S.; Kim, Y. H.; Ryu, S. Y.; J. Agric. Food Chem. 2010, 58, 9988. Finalmente, a isoflavona 7-O-α-L-ramnopiranosiloxi-4-metoxi-5-hidroxi-isoflavona (23), obtida de P. marsupium, exibiu atividade reguladora de Glut-4 e PPAR.128128 Anandharajan, R.; Pathmanathan, K.; Shankernarayanan, N. P.; Vishwakarma, R. A.; Balakrishnan, A.; J. Ethnopharmacol. 2005, 97, 253.

Isoflavanonas

As isoflavanonas (126 a 155, 12,5%) foram a segunda maior subclasse de isoflavonoides relatados em espécies da tribo Dalbergieae. Esses metabólitos também podem ser divididos em três grupos que compreendem compostos com padrões simples de substituição em oxigênios (Tabela 3), sendo 19 contendo hidroxi, metoxi e metilenodioxi, oito com substituinte prenila, um derivado glicosilado e dois compostos mistos (prenilados e glicosilados). A estrutura das isoflavanonas é caracterizada pela ausência de ligação dupla em C-2 do anel C, presentes nas isoflavonas (Tabela 3).66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.,1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p.

Tabela 3
Estruturas das isoflavanonas de 126-155

Um total de 14 isoflavanonas (46,6%) da tribo Dalbergieae são biologicamente ativas. Dessas, 12 foram isoladas na espécie D. parviflora e as atividades mais frequentes são estrogênica, antioxidante, citotóxica e antibacteriana.

A atividade antioxidante nos ensaios X/XO, ORAC e DPPH é relatada para as isoflavononas violanona (133), isolada de D. oliveri e D. parviflora, sativanona (129) e 3’-O-metilviolanona (135), obtidas de D. parviflora e D. odorifera, 7,3'-dihidroxi-4'-metoxi-isoflavanona (127), onogenina (131), dalparvina (134), dalparvina B (137), kenusanona G (138), secundiflorol H (142) e dalparvina C (145), isoladas apenas de D. parviflora.1414 Judd, W. S.; Campbell, C. S.; Kellog, E. A.; Stevens, P. F.; Plant Systematics: a phylogenetic approach. Sinauer Associates. Sunderland: Massachusetts, 2007. Os compostos 129, 133, 137, 138 e 145 apresentaram também atividade estrogência, assim como soforol (130), obtido de D. parviflora.2020 Umehara, K.; Nemoto, K.; Kimuima K.; Matsushita, A.; Terada, E.; Monthakantirat, O.; Eknamkul, W.; Miyase, T.; Warashina, T.; Degawa, M.; Noguchi, H.; Phytochemistry 2008, 69, 546. 2008; Umehara, K. ; Nemoto, K. ; Matsushita, A. ; Terada, E. ; Monthakantirat, O. ; Eknamkul, W. ; Miyase, T. ; Warashina, T. ; Degawa, M. ; Noguchi, H. ; J. Nat. Prod. 2009, 72, 2163.

As isoflavanonas 3,5-dihidroxi-2’,7-dimetoxi-2”,2”-dimetilpirano[5”,6”:3’,4’]isoflavanona (151) e 3,4’,5-trihidroxi-2’,7-dimetoxi-3’-prenilisoflavanona (153), obtidas de D. melanoxylon, possuem elevada atividade antimicobacteriana frente a Mycobacterium tuberculosis.5151 Mutai, P.; Heydenreich, M.; Thoithi, G.; Mugumbate, G.; Chibale, K.; Yenesew, A.; Phytochem. Lett. 2013, 6, 671. O composto 153 apresentou 96% de inibição em ensaio in vitro e o estudo de docagem molecular demonstrou que ambos apresentam sítios ativos que favorecem essa atividade.5151 Mutai, P.; Heydenreich, M.; Thoithi, G.; Mugumbate, G.; Chibale, K.; Yenesew, A.; Phytochem. Lett. 2013, 6, 671. Vestitona (128), isolada de D. odorifera, foi ativa frente a Ralstonia solanacearum, bactéria responsável pela murcha bacteriana.5858 Zhao, X.; Mei, W.; Gong, M.; Zuo, W.; Bai, H.; Dai, H.; Molecules 2011, 16, 9775. Esse composto apresentou ainda atividades antifúngica frente a Fusarium oxysporum e larvicida contra Aedes aegypti.6767 Pluempanupat, S.; Kumrungsee, N.; Pluempanupat, W.; Ngamkitpinyo, K.; Chavasiri, W.; Bullangpoti, V.; Koul, O.; Ind. Crops Prod. 2013, 44, 653.,6868 Deesamer, S.; Kokpol, U.; Chavasiri, W.; Douillard, S.; Peyrot, V.; Vidal, N.; Combes, S.; Finet, J.; Tetrahedron 2007, 63, 12986.

Secundiflorol H (142), isolado de D. parviflora, e 3’-O-metilviolanona (135) apresentaram citotoxicidade frente às linhagens de células de carcionoma epidemoide de cavidade oral (KB), adenocarcinoide de mama (MCF-7) e câncer de pulmão de pequenas células (NCI-H187) e foram inativos frente a células não cancerígenas.7878 Songsiang, U.; Hahnvajanawong, C.; Yenjai, C. Fitoterapia 2011, 82, 1169. A atividade inibitória da α-glicosidase das isoflavononas 3’-O-metilviolanona (135) e sativanona (129) também é relatada.2222 Zhao, C.; Liu, Y.; Cong, D.; Zhang, H.; Yu, J.; Jiang, Y.; Cui, X.; Sun, J.; Biomed. Chromatogr. 2013, 27, 1621.

Pterocarpanos

Os pterocarpanos constituem uma das maiores subclasses de isoflavonoides de Fabaceae, presentes em muitas espécies, além de serem reconhecidos como o segundo maior grupo de isoflavonoides naturais.142142 Jimenez, L.; Alvarez, M.; Munoz, M.; Rodriguez, R.; Phytochem. Rev. 2008, 7, 125. Os pterocarpanos podem ser descritos como benzo-pirano-furano-benzenos que podem ser formados a partir de isoflavonas por acoplamento intramolecular na posição 4-cetona do anel B (Tabela 4).66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.,143143 Pistelli, L.; Noccioli, C.; Appendino, G.; Bianchi, F.; Sterner, O.; Ballero, M.; Phytochemistry 2003, 64, 595.

Tabela 4
Estruturas dos pterocarpanos de 156-182

Os pterocarpanos são reconhecidos como fitoalexinas, compostos químicos de biossíntese induzida, que se acumulam em plantas, sob condições de estresse após infecção por microorganismos como bactérias e fungos.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417. Os pterocarpanos são a terceira maior subclasse de compostos relatados na tribo Dalbergieae, representando 11,2% (156 a 182, Tabela 4). Esses metabólitos apresentam uma gama de atividades biológicas.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417. Um total de 11 pterocarpanos (40,7%) da tribo Dalbergieae são biologicamente ativos. As atividades mais frequentes são citotóxica, antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana.

O pterocarpano aracarpeno 2 (178), obtido de A. hypogaea, apresentou atividade antibacteriana.3636 Sobolev, V. S.; Neff, S. A.; Gloer, J. B.; Shabana, I.; Khan, S. I.; Tabanca, N.; Lucca, A. J.; Wedge, D. E.; Phytochemistry 2010, 71, 2099. 3,8-dihidroxi-9-metoxipterocarpano (168), obtido de D. oliveri e de D. parviflora, apresentou atividade proliferativa de pelos e citotóxica frente às linhagens de células de carcionoma epidemoide de cavidade oral (KB), adenocarcinoide de mama (MCF-7) e câncer de pulmão de pequenas células (NCI-H187).7171 Park, S. J., Nhiem, N. X., Tai, B. H., Anh, H. L. T., Oh, S. H., Sung, J. H., Van Kiem, P.; Nat. Prod. Commun. 2017, 12, 1729.,7878 Songsiang, U.; Hahnvajanawong, C.; Yenjai, C. Fitoterapia 2011, 82, 1169.

Maackiaina (177), homopterocarpina (157), medicarpina (156), vesticarpano (165) e mucronucarpano (173) apresentaram atividades citotóxica frente a linhagens de células de câncer de mama (MCF7, T47d e HS578T), antimicrobiana, antiparasitária, anti-inflamatória, antioxidante e antimitótica.1313 Amen, Y. M.; Marzouk, A. M.; Zaghloul, M. G.; Afifi, M. S.; Nat. Prod. Res. 2015, 29,1388.,106106 Seo, E. K.; Kim, N. C.; Mi, Q.; Chai, H.; Wall, M. E.; Wani, M. C.; Navarro, H. A.; Burgess, J. P.; Graham, J. G.; Cabieses, F.; Tan, G. T.; Farnsworth, N. R.; Pezzuto, J. M.; Kinghorn, A. D.; J. Nat. Prod. 2001, 64, 1483.,118118 Militão, G. C. G.; Prado, M. P.; Pessoa, C.; Moraes, M. O.; Silveira, E. R.; Lima, M. A. S.; Veloso, P. A.; Costa-Lotufo, L. V.; Machado-Santelli, G. M.; Biochimie 2014, 104, 147.

119 Militão, G. C.; Jimenez, P. C.; Wilke, D. V.; Pessoa, C.; Falcão, M. J.; Lima, M. A. S.; Silveira, E. R.; Moraes, M. O.; Costa-Lotufo, L. V.; Planta Med. 2005, 71, 683.
-120120 Falcão, M. J. C.; Pouliquem, Y. B. M.; Lima, M. A. S.; Gramosa, N. V.; Costa-Lotufo, L. V.; militão, G. C. G.; Pessoa, C.; Moraes, M. O.; Silveira, E. R.; J. Nat. Prod. 2005, 68, 423.

Homopterocarpina (157) exibiu ainda citotoxicidade em células de melanoma, cólon humano, mama e leucemia, atividade antifúngica contra Colletotrichum acutatum e Colletotrichum gloeosporioides e antiulcerogênica.120120 Falcão, M. J. C.; Pouliquem, Y. B. M.; Lima, M. A. S.; Gramosa, N. V.; Costa-Lotufo, L. V.; militão, G. C. G.; Pessoa, C.; Moraes, M. O.; Silveira, E. R.; J. Nat. Prod. 2005, 68, 423.

121 Martinez, J.; García, C.; Durango, D.; Bol. Latinoam. Caribe Plant. Med. Aromat. 2017, 16, 14-25.
-122122 Reyes-Chilpa, R.; Gómez-Garibay, F.; Moreno-Torres, G.; Jiménez-Estrada, M.; Quiroz-Vásquez, R. I.; Holzforschung 1998, 52, 459.,124124 Olaleye, M. T.; Akinmoladun, A. C.; Crown, O. O.; Ahonsi, K. E.; Adetuyi, A. O.; Asian Pac. J. Trop. Med. 2013, 200. Medicarpina (156) apresentou também atividade antifúngica, repelente contra zoósporo, larvicida contra Aedes aegypti e inibidora de agregação plaquetária.6262 Islam, T. M.; Z. Naturforsch. 2008, 63, 233.,6464 Goda, Y., Katayama, M., Ichikawa, K., Shibuya, M., Kiuchi, F., Sankawa, U.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5606.,6767 Pluempanupat, S.; Kumrungsee, N.; Pluempanupat, W.; Ngamkitpinyo, K.; Chavasiri, W.; Bullangpoti, V.; Koul, O.; Ind. Crops Prod. 2013, 44, 653.

4-Hidroxi-3-metoxi-8,9-metilenodioxipterocarpano (179), obtido de D. parviflora, foi ativo frente às linhagens de células de carcionoma epidemoide de cavidade oral (KB), adenocarcinoide de mama (MCF-7) e câncer de pulmão de pequenas células (NCI-H187),7878 Songsiang, U.; Hahnvajanawong, C.; Yenjai, C. Fitoterapia 2011, 82, 1169. enquanto 2,3,9-trimetoxipterocarpano (170), homopterocarpina (157) e vesticarpano (165), isolados de P. floribundum, apresentaram atividade citotóxica contra câncer de mama.118118 Militão, G. C. G.; Prado, M. P.; Pessoa, C.; Moraes, M. O.; Silveira, E. R.; Lima, M. A. S.; Veloso, P. A.; Costa-Lotufo, L. V.; Machado-Santelli, G. M.; Biochimie 2014, 104, 147.,120120 Falcão, M. J. C.; Pouliquem, Y. B. M.; Lima, M. A. S.; Gramosa, N. V.; Costa-Lotufo, L. V.; militão, G. C. G.; Pessoa, C.; Moraes, M. O.; Silveira, E. R.; J. Nat. Prod. 2005, 68, 423. Os pterocarpanos 165 e 170 também apresentaram atividade antimitótica.119119 Militão, G. C.; Jimenez, P. C.; Wilke, D. V.; Pessoa, C.; Falcão, M. J.; Lima, M. A. S.; Silveira, E. R.; Moraes, M. O.; Costa-Lotufo, L. V.; Planta Med. 2005, 71, 683. Metilnissolina (166), obtida de D. odorifera, apresentou atividade inibitória de agregação plaquetária, enquanto aeschinocarpina (182) e 2-metoximedicarpina (168), obtidos de A. fascicularis, apresentaram atividade citotóxica moderada e antiproliferativa frente às linhagens de células de carcinoma de próstata (DU-145) e adenocarcinoma de próstata (PC-3).2525 Caamal-Fuentes, E.; Moo-Puc, R.; Torres-Tapia, L. W.; Peraza-Sanchez, S. R.; Nat. Prod. Commun. 2013, 8, 1421.,6464 Goda, Y., Katayama, M., Ichikawa, K., Shibuya, M., Kiuchi, F., Sankawa, U.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5606.

Rotenoides

Os rotenoides da tribo Dalbergieae totalizaram 12 compostos. Esses metabólitos (183 a 194, 5,0%) constituem uma das subclasses de isoflavonoides mais importantes devido às suas propriedades inseticidas. São considerados derivados de isoflavonas pela incorporação de um átomo de carbono adicional, resultado da 2’-hidroxilação e subsequente metilação (2’-OMe) de uma isoflavona para formação do anel B do esqueleto rotenoide (Figura 2). Os rotenoides podem ser divididos em três subgrupos: desidrorotenoides (183-185), rotenoides (186, 187, 189, 191-194) e 12a-hidroxirotenoides (188 e 190).66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417. Dentre os rotenoides da tribo Dalbergieae, somente três, amorfigenina (187), dalbinol (188) e amorfigenina-β-D-glicose (189), obtidos das sementes de D. monetaria, são biologicamente ativos apresentando atividade larvicida.5353 Abe, F.; Donnelly, D. M X.; Morett, C.; Polonsky, J.; Phytochemistry 1985, 24, 1071.

Figura 2
Fórmulas estruturais dos rotenoides de 183-194

Isoflavanas

As isoflavanas da tribo Dalbergieae somaram 31 compostos (195-225, 13,0%). Estes metabólitos compõem uma das menores subclasses de isoflavonoides nas quais incluem além de isoflavanas (195-220), isoflavanquinonas (221-223) e isoflavan-4-ois (224-225). As isoflavanas são reconhecidas como fitoalexinas e apresentam estruturas que diferem das isoflavononas pela ausência da carbonila no carbono 4 do anel C (Figura 3). As isoflavanquinonas diferem das isoflavanas pela presença de carbonilas nas posições 3’ e 6’ do anel B. Os isoflavan-4-ols se diferenciam das isoflavanonas pela presença de hidroxila no carbono 4 do anel C ao invés de carbonila (Tabela 5). Um total de 26 isoflavanas (10,8%) foram relatadas na tribo Dalbergieae (Tabela 5), nas quais incluem um número significativo de estruturas com padrões simples de substituição no oxigênio (hidroxi, metoxi e metilenodioxi).66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.,1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p.

Figura 3
Fórmulas estruturais de isoflavana (220), isoflavanquinonas (221-223) e isoflavan-4-ols (224-225)

Tabela 5
Estruturas das isoflavanas de 195 - 219

Um total de 14 isoflavanas (53,8%) da tribo Dalbergieae são biologicamente ativas. As atividades mais frequentes são antioxidante, antibacteriana, antifúngica, citotóxica e antimicrobiana.

As isoflavanas vestitol (195), obtida de D. parviflora, D. odorifera, D. tonkinensis e Machaerium ssp; sativano (198), 8-demetilduartina (205) e 3′-hidroxi-8-metoxivestitol (207), isoladas de D. parviflora, bem como duartina (208), obtida de D. parviflora e Machaerium ssp, apresentaram atividade antioxidante nos ensaios X/XO, ORAC e DPPH.9292 Son, N. T.; Kamiji, M.; Huong, T. T.; Kubo, M.; Cuong, N. M.; Fukuyama, Y.; Med. Chem. Res. 2019, 28, 1441.,141141 Promden, W.; Monthakantirat, O.; Umehara, K.; Noguchi, H.; De-Eknamkul, W.; Molecules 2014, 19, 2226. Vestitol (195) também apresentou atividades antibacteriana contra Ralstonia solanacearum, inibidora de agregação plaquetária e anti-hipercolesterêmica.5858 Zhao, X.; Mei, W.; Gong, M.; Zuo, W.; Bai, H.; Dai, H.; Molecules 2011, 16, 9775.,6464 Goda, Y., Katayama, M., Ichikawa, K., Shibuya, M., Kiuchi, F., Sankawa, U.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5606.,6565 Yahara, S.; Saijo, R.; Nohara, T.; Konishi, R.; Yamahara, J.; Kawasaki, T.; Miyahara, K.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5130. Kotstrigoisoflavanol (224), obtido de K. strigosa, apresentou potencial antioxidante.105105 Awouafack, M. D.; Tchuenguem, R. T.; Ito, T.; Dzoyem, J. P.; Tane, P.; Morita, H.; Helv. Chim. Acta 2016, 99, 321.

Mucronulatol (200), obtido de D. oliveri, D. odorifera e D. parviflora, exibiu atividades antifúngica contra Fusarium oxysporum, citotóxica, antimalárica, antibacteriana, bem como anti-hipercolesterêmica e inibidora da α-glicosidase.2323 Songsiang, U.; Wanich, S.; Pitchuanchom, S.; Netsopa, S.; Uanporn, K.; Yenjai, C.; Fitoterapia 2009, 80, 427.,6161 Choi, C. W.; Choi, Y. H.; Cha, M. R.; Yoo, D. S.; Kim, Y. S.; Yon, G. H.; Hong, K. S.; Kim, Y. H.; Ryu, S. Y.; J. Agric. Food Chem. 2010, 58, 9988.,6565 Yahara, S.; Saijo, R.; Nohara, T.; Konishi, R.; Yamahara, J.; Kawasaki, T.; Miyahara, K.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5130.,6868 Deesamer, S.; Kokpol, U.; Chavasiri, W.; Douillard, S.; Peyrot, V.; Vidal, N.; Combes, S.; Finet, J.; Tetrahedron 2007, 63, 12986. 5’-Metoxivestitol (221), isolado de D. odorifera e D. oliveri e claussequinona (222), obtida de D. odorifera e D. candenatensis, apresentaram atividades anti-hipercolesterêmica, inibidora da α-glicosidase e proliferativa de pelos.6161 Choi, C. W.; Choi, Y. H.; Cha, M. R.; Yoo, D. S.; Kim, Y. S.; Yon, G. H.; Hong, K. S.; Kim, Y. H.; Ryu, S. Y.; J. Agric. Food Chem. 2010, 58, 9988.,6565 Yahara, S.; Saijo, R.; Nohara, T.; Konishi, R.; Yamahara, J.; Kawasaki, T.; Miyahara, K.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5130.,7171 Park, S. J., Nhiem, N. X., Tai, B. H., Anh, H. L. T., Oh, S. H., Sung, J. H., Van Kiem, P.; Nat. Prod. Commun. 2017, 12, 1729. O composto 222 apresentou ainda atividades antibacteriana e repelente contra zoósporos.4141 Hamburger, M. O.; Cordell, G. A.; J. Nat. Prod. 1987, 50, 696.,6262 Islam, T. M.; Z. Naturforsch. 2008, 63, 233. 3’-Hidroxi-8-metoxivestitol (207), dalvelutinano B (214) e nitidulina (216), obtidos de D. velutina, foram avaliados quanto a citotoxicidade frente às linhagens celulares de carcinoma cervical humano (HeLa), carcinoma hepatocelular (HepG-2), adenocarcinoma de cólon (HT-29), carcinoma epidermoide de cavidade oral (KB), adenocarcinoide de mama (MCF-7), sendo que os compostos 207 e 214 foram moderadamente ativos contra três linhagens, enquanto o 216 demonstrou citotoxicidade significativa frente às cinco linhagens.9797 Kaennakam, S.; Siripong, P.; Tip-Pyang, S.; J. Nat. Med. 2017, 71, 310.

Duartina (208) apresentou atividade citotóxica frente às linhagens de células carcinoma epidermoides de cavidade oral (KB) e câncer de pulmão de pequenas células (NCI-H187).2323 Songsiang, U.; Wanich, S.; Pitchuanchom, S.; Netsopa, S.; Uanporn, K.; Yenjai, C.; Fitoterapia 2009, 80, 427. 4’-O-Metilpreglabridina (210) e 4’-O-metilglabridina (211), obtidos de D. robinioides, apresentaram atividade antimicrobiana contra Staphylococcus aureas, Mycobacterium smegmatis e Candida albicans,104104 Vila, J.; Balderrama, L.; Bravo, J. L.; Almanza, G.; Codina, C.; Bastida, Connolly, J.; Phytochemistry 1998, 49, 2525. enquanto o secundiflorol G (217), obtido de A. fascicularis, apresentou atividade anticâncer significativa frente às linhagens de células de carcinoma de laringe (Hep-2), carcinoma epidermoide de cavidade oral (KB) e carcinoma cervical humano (HeLa).2424 Caamal-Fuentes, E. E; Peraza-Sánchez, S. R.; Torres-Tapia, L. W.; Moo-Puc, R. E.; Molecules 2015, 20, 13563.,144144 Castillo-Bautista, C. M.; Torres-Tapia, L. W.; Lagunas-Martínez, A.; Contreras-Ochoa, C. O.; Peraza-Sanchez, S. R.; Moo-Puc, R.; Nat. Prod. Res. 2019, 16, 1.

Outros isoflavonoides

Um total de 15 compostos (226-240, 6,2%, Figura 4) não foram incluídos nas subclasses de isoflavonoides anteriormente discutidas e são classificados como isoflav-3-enos (226 e 227), pterocarpenos (228-232), cumestonas (233-235), arilbenzofurano-3-carbaldeído (236-238), cumaronocromona (239) e isoflavonoide benzofurano (240). Os isoflav-3-enos são similares às isoflavanas, acrescido de uma ligação dupla em C-3 do anel C.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.

Figura 4
Fórmulas estruturais de outros isoflavonoides (226-240)

Os isoflav-3-enos tem um efeito promissor na inibição do NADH oxidase (tNOX) em células cancerígenas, o que por sua vez, leva à apoptose. Compostos dessa subclasse têm sido investigados contra cânceres de ovário, próstata e cervical.1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p. Entretanto, não há relato de atividade biológica para os isoflav-3-enos (226 e 227) da tribo Dalbergieae.

Os pterocarpenos apresentam estrutura derivada dos pterocarpanos com a presença de uma ligação dupla entre os carbonos 6a e 11a. Cumestonas são consideradas derivadas de isoflavonas,1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p. porém, alternativamente, também podem ser originadas de 2-hidroxi-3-arilcumarinas.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417. As cumaronocromonas constituem uma pequena subclasse de isoflavonoides e sua biossíntese, não é clara, embora seja sugerido que hidroxi-isoflavonas, que às vezes co-ocorrem com as cumaronocromonas, podem ser os seus precursores.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.,1818 Dewick, P. M.; Medicinal natural products: a biosynthetic approach. 3. ed. New York: John Wiley & Sons, 2009, 539 p. Não há um consenso sobre a origem biossintética de arilbenzofurano-3-carbaldeído. Macias et al.145145 Macias, F. A.; Simonet, A. M.; Galindo, J. C. G.; Castellano, D.; Phytochemistry 1999, 50, 35. sugerem que sejam derivados de cumestanos pela abertura de um anel, entretanto, uma análise dos padrões de substituição indica que o anel A de 2-arilbenzofuranos é derivado do chiquimato, em vez do acetato, sugerindo uma via biossintética alternativa.66 Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2013, 30, 988; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2009, 26, 776.; Veitch N.; Nat. Prod. Rep. 2007, 24, 417.

Não foram encontrados relatos de atividades biológicas para os pterocarpenos (228-232), cumestonas (233-235) e cumaronocromona (239) da tribo Dalbergieae. Os três arilbenzofurano-3-carbaldeído (236-238), obtidos das folhas de A. inermis, apresentaram atividade antiplasmódica contra Plasmodium falciparum.3131 Kraft, C.; Jenett-Siems, K.; Siems, K.; Solis, P. N.; Gupta, M. P.; Bienzle, U.; Eich, E.; Phytochemistry 2001, 58, 769. O isoflavonoide benzofurano (240), isolado da casca do caule de P. erinaceus, apresentou atividade antioxidante.123123 Toukam, P. D.; Tagatsing, M. F.; Yamthe, L. R. T.; Baishya, G.; Barua, N. C.; Tchinda, A. T.; Mbafor, J. T.; Phytochem. Lett. 2018, 28, 69.

Considerações sobre as atividades biológicas da tribo Dalbergieae

Os resultados da revisão das atividades biológicas dos isoflavonoides da tribo Dalbergieae mostraram um total de 81 compostos ativos, em 46 espécies pertencentes a 12 gêneros. Os gêneros mais estudados, do ponto de vista biológico, são Dalbergia, Machaerium, Andira e Pterocarpus com 21, 6, 6 e 4 espécies, respectivamente. Ribeiro et al.146146 Ribeiro, R. A.; Lavin, M.; Lemos-Filho, J. P.; Mendonça Filho, C. V.; Santos, F. R.; Lovato, M. B.; Syst. Bot. 2007, 32, 762. afirmam que investigações filogenéticas baseadas em dados moleculares mostraram uma relação íntima entre os gêneros Dalbergia e Machaerium os quais pertencem ao mesmo clado (Dalbergia), o que pode explicar suas similaridades em composição química e atividades biológicas. Entretanto, estes estudos apontaram ainda, uma proximidade entre os gêneros Machaerium e Aeschynomene seção Ochopodium,99 Wojciechowski, M. F.; Lavin, M.; Sanderson, M. J.; Am. J. Bot. 2004, 91, 1846; Lavin, M.; Pennington, R. T.; Klitgaard, B. B.; Sprent, J. I.; Lima, H. C.; Gasson, P. E. Am. J. Bot. 2001, 88, 503.,146146 Ribeiro, R. A.; Lavin, M.; Lemos-Filho, J. P.; Mendonça Filho, C. V.; Santos, F. R.; Lovato, M. B.; Syst. Bot. 2007, 32, 762. no entanto, os resultados não são conclusivos e não há indicativo de similaridade a partir dos dados quimiossistemáticos. Os isoflavonoides de duas espécies do gênero Dalbergia (D. parviflora e D. odorifera) apresentaram uma grande variedade de atividades biológicas, com destaque para atividade estrogênica, sobretudo atribuída às isoflavonas, relatadas em D. parviflora.

A maioria dos resultados de atividades biológicas foi obtida a partir de ensaios com compostos isolados. Dentre as 46 espécies com atividades biológicas apenas A. sensitiva, A. fluminensis, D. odorifera e V. guianensis apresentaram resultados exclusivamente com extrato bruto ou frações.2626 Ignoato, M. C.; Fabrão, R. M.; Schuquel, I. T. A.; Botelho, M. F. P.; Santin, S. M. O.; Quim. Nova 2012, 35, 2241.,2727 Arruda, R. F.; Alves-Olher, V. G.; Vandresen, F.; Schuquel, I. T. A.; Bersani-Amado, C. A.; Nakamura, C. V.; Silva, C. C.; Rev. Virtual Quim. 2018, 10, 698.,6565 Yahara, S.; Saijo, R.; Nohara, T.; Konishi, R.; Yamahara, J.; Kawasaki, T.; Miyahara, K.; Chem. Pharm. Bull. 1985, 33, 5130.,136136 Souza, R. F.; Silva, G. A.; Arruda, A. C.; Silva, M. N.; Santos, A. S.; Grisólia, D. P. A.; Silva, M. B.; Salgado, C. G.; Arruda, M. S. P.; J. Braz. Chem. Soc. 2017, 28, 1132.

137 Souza, R. F.; Silva, J. K. R.; Silva, G. A.; Arruda, A. C.; Silva, M. N.; Arruda, M. S. P.; Rev. Virtual Quim. 2015, 7, 1893.
-138138 Souza, R. F.; Marinho, V. H. S.; Silva, G. A.; Costa Jr., L. M.; Silva, J. K. R.; Bastos, G. N. T.; Arruda, A. C.; Silva, M. N.; Arruda, M. S. P.; J. Braz. Chem. Soc. 2013, 24, 1857. As atividades predominantes nos isoflavonoides foram antimicrobiana (13 espécies), estrogênica (11 espécies), citotóxica (11 espécies) e antioxidante (9 espécies). As isoflavonas (1-125, 52,1%) compõem a subclasse de isoflavonoides com maior número e variedade de atividades biológicas, seguidas pelas isoflavanonas (126-155, 12,5%), pterocarpanos (156-182, 11,2%) e isoflavanas (195-220, 10,8%). As atividades biológicas mais frequentes entre as isoflavonas foram citotóxica, estrogênica, antioxidante, osteogênica e anti-helmíntica. Esses resultados demonstram o potencial biológico da tribo Dalbergieae, bem como sugerem a necessidade de mais estudos visando a descoberta de princípios ativos, uma vez que apenas 33,75% dos compostos relatados apresentaram alguma atividade biológica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão bibliográfica dos isoflavonoides da tribo Dalbergieae (Fabaceae-Papilionoideae), no período de 1945 a 2019, mostrou a ocorrência de 240 compostos distribuídos em 69 espécies pertencentes a 15 gêneros. Os isoflavonoides glicosilados totalizaram 48 compostos que corresponde a 20%. Formononetina (2), biochanina A (17) e medicarpina (156) são os isoflavonoides que ocorrem com maior frequência na tribo. Os gêneros que apresentaram maior número de espécies com ocorrência de isoflavonoides foram Dalbergia, Machaerium, Andira e Pterocarpus, com 31, 9, 6 e 5, respectivamente.

A tribo Dalbergieae demonstrou possuir um importante potencial biológico com 46 espécies e 81 isoflavonoides bioativos, no entanto, representa apenas 33,75% dos compostos isolados e identificados, sugerindo a necessidade de mais estudos para verificar o potencial biológico dos demais compostos e espécies.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Capes, CNPq (406126/2018-6 e 302470/2018-2) e CNPq/INCTBioNat (465637/2014-0) pelo apoio financeiro e bolsa.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Out 2020
  • Data do Fascículo
    Set 2020

Histórico

  • Recebido
    28 Fev 2020
  • Aceito
    25 Maio 2020
  • Publicado
    08 Jul 2020
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