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Sustentabilidade: caminho ou utopia?

RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS

Tânia Margarete Mezzomo Keinert

(CEPEAD/FACE/UFMG)

SUSTENTABILIDADE: CAMINHO OU UTOPIA? Cintia Maria Afonso. São Paulo: Annablume, 2006. 72 p. ISBN 85-7419-588-x.

A questão da sustentabilidade tem ocupado lugar importante no debate sobre desenvolvimento. Este conceito, tradicionalmente relacionado ao crescimento econômico, progresso e modernização, ganhou, com o acréscimo do adjetivo sustentável, uma nova dimensão.

A noção de desenvolvimento passa a ser enriquecida por outros componentes que a relacionam a capital humano e capital social, passando a ser medido com indicadores mais amplos, como educação, longevidade e saúde, resultando em índices mais complexos como o Índice de Desenvolvimento Humano [IDH], desenvolvido pela ONU.

Conforme sublinham Keinert e Karruz (2002), a noção de desenvolvimento pode ser entendida numa perspectiva ampla, relacionada à questão da qualidade de vida e de seus determinantes, quer sejam culturais, políticos, econômicos, sociais e até mesmo individuais.

Mesmo com todas as ambigüidades e insuficiências inerentes à expressão, Veiga (2006) defende a tese de que o desenvolvimento sustentável anuncia a utopia que tomará o lugar do socialismo.

Além deste uso mais amplo, observa-se que o uso do termo sustentável tem abrangido a própria esfera organizacional. A temática da sustentabilidade está penetrando as organizações, o que leva ao crescimento do uso de indicadores de desempenho sócio-ambiental como ferramentas de gestão.

Neste sentido, a obra Sustentabilidade: Caminho ou Utopia? dá importante contribuição para o campo da Administração, à medida que questiona tanto o uso da noção de sustentabilidade no âmbito empresarial, quanto no campo da formulação de políticas de desenvolvimento. Segundo a obra, a grande maioria das empresas tem incorporado o conceito de sustentabilidade a seu discurso sem, contudo, modificar qualquer um de seus processos de produção. Também as políticas nacionais brasileiras, orientadas por critérios de eficiência econômica, típicos do mercado, não estão conduzindo à redução das desigualdades sociais nem ao uso racional dos recursos naturais. Trata-se de obra de caráter introdutório, que oferece ao leitor subsídios importantes na discussão sobre sustentabilidade e na busca de transformação efetiva de nossa realidade.

O livro inicia conceituando sustentabilidade e as mudanças necessárias para transformar a teoria em realidade. Traça, posteriormente, um panorama histórico da evolução da noção, analisando as diretrizes mundiais e brasileiras para o futuro, com base no Protocolo de Kyoto, na Conferência Rio 92, Rio+10 e na Agenda 21. Discute, posteriormente, as transformações no processo de planejamento, tendo em vista a sustentabilidade. Por fim, é explicitada a insustentabilidade do modo de vida atual e os conflitos de interesses existentes.

Tanto empresários quanto pesquisadores do campo de administração podem beneficiar-se da leitura da obra que, escrita em linguagem clara e acessível, explicita com propriedade o distanciamento entre o discurso e as práticas efetivas, tanto empresariais quanto governamentais.

A obra destaca a necessidade de adotar-se uma postura crítica em relação às dinâmicas econômica, política e institucional vigentes, de modo a questionar aquele discurso que não pretende modificar a estrutura social, mas que coloca a sustentabilidade como novo elemento a ser facilmente agregado ao modo de vida atual. Enquanto é patente a unanimidade no discurso favorável à sustentabilidade, na prática não se adotam as medidas indispensáveis para transformar as instituições econômicas, sociais e políticas que sustentam o modo de vida atual. Tem sido possível identificar transformações superficiais e um acréscimo de restrições legais que, longe de modificar os modos de regulação da sociedade, da economia e do uso dos recursos naturais, tendem apenas a incorporar o discurso da sustentabilidade ao estilo de vida vigente para garantir que nada mude.

Para a autora, há que avaliar as dinâmicas sociais, econômicas e naturais, estabelecer uma postura crítica em relação a elas, negociar conflitos de interesses e, finalmente, transformar os critérios que dominam as políticas públicas, para que se possa finalmente pensar em verdadeiro caminho em direção à sustentabilidade. É conclusão da obra que, por enquanto, a sustentabilidade se realiza apenas como discurso.

BIBLIOGRAFIA

  • Keinert, T., & Karruz, A. P. (2002). Qualidade de vida: observatórios, experiências e metodologias São Paulo: Annablume/FAPESP.
  • Veiga, J. E. (2006). Desenvolvimento sustentável: desafio do século XXI Rio de Janeiro: Garamond Universitária.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jun 2008
  • Data do Fascículo
    Jun 2008
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