Acessibilidade / Reportar erro

O poder das organizações: a dominação das multinacionais sobre os indivíduos. Max Pagès, Michel, Michel Bonetti, Vincent de Gaulejac e Daniel Descendre

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Fernado Claúdio Prestes Motta

Professor titular no Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da EAESP/FGV

Pages Max; Bonetti Michel; Gaulejac, Vincent de & Descendre, Daniel. O poder das organizacões: a dominacão das multinadonais sobre os indivíduos. São Paulo, Atlas, 1987. 234p.

Sem dúvida, merece todo nosso entusiasmo a iniciativa da Edítora Atlas de publicar textos de análise organizacional de ordem mais crítica, afastados da linha dominante da literatura gerencíalista, em geral pobre em conteúdo e na utilidade que em princípio deveria ter.

É dentro desse quadro que o instigante L'empríse de l'organisation, de Max Pagés e colaboradores, aparece em nossa língua, podendo alcançar um público muito maior do que aquele do meio acadêmico familiarizado com a produção teórica francesa.

Num encontro feliz da psicanálise e de um marxismo sem os dogmatismos e vulgaridades comuns em muitos meios, os autores fazem uma belíssima análise do poder na empresa "hipermoderna", istoé, nas multinacionaís, a partir de uma rigorosa pesquisa de campo na "TLTX", nome que encobre uma grande empresa de tecnologia de ponta.

A análise leva à consideração de como a administração da angústia, presente na política de carreira e em outras é responsável por um processo regressivo, no qual os indívlduos vivem dominados pelo medoda perda do "amor da organização" e pela lógica desse processo.

Assim, a organização apodera-se de seus membros, realizando políticas mediadoras em quatro níveis de atuação: econômico, político, ideológico e psicológico. Oferece, em cada um desses níveis, salários e carreira, autonomia, humanismo e sedução e prazer. Em contrapartida, exige trabalho disciplinado com vistas ao lucro e à expansão, submissão ao controle burocrático e eficiência, além de ameaçar e angustiar.

Paulatinamente, as contradições de ordem mais propriamente social são convertidas em contradições psicológicas, ou seja, em confronto entre ameaça e angústia. por um lado, e sedução e prazer por outro.

Na grande empresa multinacionat macanismos diversos são postosemação no sentido de tornar os indivíduos impotentes para lutarem contra suas próprias contradições, estabelecendo uma cooperação verdadeira. Opera-se. dessa forma, uma íntrojeção dos princípios burocráticos; a organização tomada como solução para os problemas humanos.

Muito rica é a parte referente ao domínio ideológico, à nova igreja, comsua fé, seu credo, seus mandamentos, sua evangelização e a questão da deificação da organização. Na realidade, Pagés e seus colaboradores fazem um trabalho originalíssimo no campo do estudo do simbólico nas organízações, sem a despolitízação presente numa massa muito grande de trabalhos sobre cultura organízacional.

Tem-se agora a possibilidade de conhecer o original de um trabalho que foi de grande importância para muitas teses como as de Maria Tereza Leme Fleury, de Liliana Roelfsen Petrilli Segnini e do próprio autor dessa resenha, dentre muitas outras defendidas em universidades brasileiras e estrangeíras em anos recentes.

O livro conta com tradução de Maria Cecília Pereira Tavares e Sonia Símas Favatti e revisão técnica de Pedro Aníbal Drago, da EAESP-FGV e Fundap, e Norma Missae Takeuti, doutora pela Paris-Dauphine. Mais uma vez. o cuidado da Atlas leva-nos a reconhecer que há editoras preocupadas com a qualidade dos textos sobre análise organizacional.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1987
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br