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Tendencias y grupos políticos en la realidad argentina

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Volia Regina Costa Kato

Tendencias y grupos políticos en la realidad argentina

Por Antonio Castagno. Editorial Universitária de Buenos Aires, 1971, 58 p.

O título deste livro (e mesmo o seu índice) sugere ao leitor uma abordagem ampla sobre a problemática da Argentina. Na verdade, seria tentativa ousada para um autor analisar, em 58 páginas, uma estrutura político-partidária complexa e em franco processo de mudança. E Antonio Castagno não faz tal análise. Sua preocupação é mais descritiva porque, segundo suas próprias palavras, "en esta primera etapa se hacía necesario presentar las cosas como son, para después analizar como resultaron en la realidad". Ele coloca-se no limite restrito de apontar, dentro das principais tendências e partidos políticos, as suas ramificações e organizações internas. Neste sentido, o livro destina-se a um público limitado de pesquisadores que podem fazer uso de seus dados.

Em primeiro lugar, dá por aceita a existência de três tendências principais até 1966, que redundaram nos três partidos tradicionais da Argentina: a corrente conservadora, a radical e a socialista. Além disso, enumera suas ramificações internas:

a) as alas conservadoras, segundo ele, definir-se-iam mais por sua liderança: Fernandez Saéns, chefiando o setor democrata do partido; Gastón Lacaze, encabeçando o Movimento de Reafirmação Conservadora; Saturnino Huici, liderando o grupo "Paroquias Independientes"; e Echenagucía, liderando o Movimento de Centro;

b) no seio da União Cívica Radical, ele distingue três ramos: a Intransigência e Renovação, de Balbin-Frondizi; a Unionista, de Ortiz e a Intransigencia Sabatinista, Em 1957, este movimento seria definido como União Cívica Radical Intransigente e União Cívica Radical do Povo. Dentro da União Cívica Radical Intransigente, uma ala seguiria a tradição do líder Além; a outra é conhecida como MIR - Movimento de Intransigência Radical.

Não menciona, entretanto, o contexto do aparecimento da União Cívica, em 1890, e, mais importante ainda, os motivos das constantes ramificações no interior desse partido. Na verdade, sua composição bastante heterogênea, agrupando os mais diversos setores descontentes e marginalizados da vida política - setores médios, burguesia comercial, parcelas da juventude universitária - foi responsável por tendências divergentes que emergiram na prática política. A Ala Intransigente, nascida com a figura eminentemente popular de Além e seguida da liderança de H. Yrigoyen, representava justamente as aspirações dos setores médios e teve sempre um peso decisivo no interior do movimento (ver aspectos mais esclarecedores na resenha sobre o Radicalismo, RAE, dez. 1973);

c) em relação ao Partido Socialista, mostra sua bifurcação em 1957; Partido Socialista Democrático e Partido Social Argentino. Este último, subdividido em outros dois; Partido Socialista Argentino (Casa do Povo) e Partido Social Argentino de Vanguarda.

Discorre ainda sobre o aparecimento do Movimento Democrata Cristão, em 1954, com duas correntes: a moderada, de Manuel Ordõnez, e a populista, de Frugoni Rey. Uma outra ala, Unidade e Fraternidade, de Salvador Busacca, surgiu como elo de ligação entre as duas; e a ala Intransigência Popular, de Horacio Sueldo, surgiu numa luta pela conquista dos votos peronistas.

Em relação ao que ele denomina de "tendências internas em 1971", aponta três subdivisões da Democracia Cristã, a diversidade de tendências no seio do movimento peronista e o processo de radicalização de alas dos partidos tradicionais até a constituição de "grupos subversivos armados".

Em sua colocação meramente descritiva, o peronismo (Movimento Nacional Justicialista) estaria marcado, ao contrário dos outros partidos, por um estado permanente de desorganização e por tendências que oscilariam de um conservadorismo a um radicalismo de esquerda. A juventude peronista teria dado o passo inicial no sentido da radicalização e o MRP (Movimento Revolucionário Peronista) seria o inspirador dos grupos subversivos armados:

FAP Forças Armadas Peronistas

FAR Forças Armadas Revolucionárias

ENR Exército Nacional Revolucionário

e o grupo: Peronismo de Bases.

Dada a importância do peronismo, assim como do radicalismo, no contexto político argentino, a mesma crítica é imposta. É pouco esclarecedor mostrar sua estrutura interna ramificada e, em grande parte, divergente. O processo de transformação deste partido, como muito bem esclarece Mônica Peralta Ramos (resenha na RAE, set./1973), só pode ser compreendido no âmbito de alianças de classes, nas diferentes fases do processo de acumulação de capital. O entendimento da fase atual de expansão capitalista fornece os elementos para compreender-se, em termos nacionais, as modificações de alianças dos atores políticos e a radicalização de alas significativas do peronismo.

Na parte final do livro, mostra a constituição dos núcleos e partidos políticos da atualidade:

1. A Hora do Povo, surgida em 1970, sob a liderança de Balbín, que pertencia á União Cívica Radical do Povo, reuniu representantes da Partido Socialista Argentino, do Movimento Nacional Justicialista, da União Cívica Radical (bloco de S. Juan), do conservadorismo popular e da democracia progressista.

2. O Encontro Nacional dos Argentinos (novembro de 1970) agrupou os partidos políticos denominados de Esquerda Nacional. Surgiu como núcleo que se propunha a uma ação conjunta no sentido de lutar pelo restabelecimento do regime democrático, pela manutenção da pluralidade dos partidos políticos e pela supremacia da Constituição. No plano econômico, a defesa da nacionalização da economia e de uma política internacional independente.

3. A Frente Cívica da Libertação Nacional, com os partidos Justicialista, Movimento de Intransigência e Desenvolvimento e Cruzada Renovadora, lança um documento propondo-se a unir as massas populares em torno de um programa antiimperialista e de recuperação nacional.

Em apêndice, o autor fornece alguns gráficos que mostram a estrutura interna da UCRP, Democracia Cristã, Peronismo e suas ramificações e ligações partidárias. Outro gráfico estabelece os elos de ligação e interdependência entre movimentos e grupos, políticos de esquerda. Ainda em anexo, apresenta o programa e diretrizes dos partidos, no que se refere à forma de governo, direitos individuais, educação, família, religião, regime econômico, riqueza nacional, serviços públicos, propriedade privada e ação gremial.

Apesar do esforço exaustivo em citar e descrever a organização partidária da Argentina, este é um livro bem limitado e, de certa forma, bastante incoerente. Vejamos porque: se, inicialmente, propõe-se a adotar uma posição "modesta" do relato puro e simples da realidade política, postergando para uma segunda fase a análise, logo a seguir adota critérios valorativos, que, como sabemos, são próprios de uma análise nada científica, para criticar o "Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo". Fornece o histórico desse movimento, do seu início (agosto de 1967), com a mensagem de 18 bispos do Terceiro Mundo (incluídos nove brasileiros e representantes africanos e asiáticos), até a sua conseqüente expansão na Argentina. Deixa transparecer sua repulsa pelo dito movimento e faz um alerta para o perigo de sacerdotes que, usando de suas atribuições, estariam influindo nas idéias e comportamento de um grande número de pessoas. A primeira mensagem oriunda desse movimento esclareceria que o objetivo imediato dos sacerdotes seria o de se colocarem à frente da realidade política e social de seus países. E em 1970 suas posições definir-se-iam mais claramente: a) repulsa ao sistema capitalista vigente em suas manifestações Imperialistas; b) adesão ao movimento revolucionário, esclarecendo não ser possível a existência de um verdadeiro socialismo na América Latina sem a tomada do poder "por autênticos revolucionários surgidos do povo e fiéis a ele". Para o autor, esses "sacerdotes politizados" estariam abusando de suas prerrogativas e tarefas docentes, explorando os descontentamentos e canalizando-os para a subversão. Portanto, realizando uma prática dissociativa e altamente maléfica.

Assim, enquanto postura metodológica e prática científica, o autor perde-se em suas próprias contradições.

Com tudo isto, é provável que o leitor, impressionado com o título, se decepcione. E com razão.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 1974
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