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A short history of technology

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

A short history of technology

Kurt E. Weil

A short history of technology

Por T. K. Derry e Trevor I. Williams. London, Oxford, New York, Oxford University Press, 1960-1973, XVIII, 782 p. Tabelas históricas, bibliografia e índice de assuntos completo, índice de nomes. Ilustrado com 353 gravuras. Brochura £ 1,90. Existe encadernado originalmente.

Os conhecimentos de administração de empresas precisam ser atualmente estendidos a áreas periféricas, para que a perspectiva global possa ser mantida. Assim, a área de tecnologia teve seus altos e baixos no ensino e na execução da administração. Ela predominava nas épocas de Taylor até possivelmente a II Guerra Mundial, sendo relegada a um segundo plano pela administração financeira, mercadológica e humano-humanística nas décadas de 50 e 60. A década de 70 trouxe-a de volta, na necessidade de proteção das fontes de energia, na urgência da melhoria do trabalho humano no ambiente, na necessidade de conservação do equilíbrio ecológico, e na importância de se estudar o seu inter-relacionamento com o governo e os processos de criatividade. O seu campo foi levado ao estudo de novos produtos e o nacionalismo sadio invadiu os laboratórios de pesquisa. Sem deixar de lado os campos administrativos, financeiros, mercadológicos e humanos, a empresa de hoje tem obrigação de se definir por uma mistura de tecnologia nacional e importada para poder acompanhar a luta pela exportação e a satisfação simultânea de um mercado interno em expansão que agora, em meados de 1973, dá sinais renovados de falta de mão-de-obra especializada.

O livro de Derry e Williams é de leitura agradabilíssima. Trata-se de um resumo da obra de cinco volumes, History of technology, da Imperial Chemical Industries da InglaterraT publicado a partir de 1949 pela Editora Clarendon Press de Oxford. Também este volume ora publicado teve o auxílio financeiro da Imperial Chemical Industries. 0 livro trata resumidamente da história da tecnologia desde o seu começo com o homem pré-histórico, terminando em 1900; somente a China e o Japão escapam ao estudo, devido à sua relativa inacessibilidade às pesquisas "ocidentais" estabelecida pelas dificuldades de língua.

O livro termina em 1900 por dois motivos: a) o significado histórico do desenvolvimento de 1900 até hoje é dificilmente verificável num prazo tão curto; b) é quase impossível, num livro dessa extensão (um volume), explicar o desenvolvimento do século XX, de indústrias complexas com tecnologia de difícil descrição.

É evidente que pode ser feita objeção aos dois argumentos, porquanto evitar avaliar o significado histórico da energia atômica ou do desenvolvimento da aviação é vergonhosa covardia, e também desde que a tecnologia moderna está atualmente ao alcance de qualquer pessoa por meio de inúmeras publicações. Mas a avaliação significa dar um juízo de valor, e isso está ainda coberto pela proximidade do fato e da vida atual de muitos pioneiros. O computador pode ser explicado, mas tal explicação significaria algo para a perspectiva histórica que o livro quer alcançar? Muito pelo contrário; assim, por exemplo, lemos sobre Santos Dumont (p. 401); "o fato que de verdade marca o fim do século XIX aconteceu em 17 de dezembro de 1903. O avião sem fuselagem de duas asas com um motor de 12 H.P. que o jovem produtor de bicicletas norte-americano Orville Wright fez voar naquele dia, foi construído por ele e seu irmão Wilbur (fig. 109). O primeiro vôo não cobriu mais de 40 m e durou 12 segundos. A imprensa americana no entanto ignorou totalmente o evento, e não foi senão em 1908 que se consagrou, na América e na Europa, a invenção dos Wrights, melhorada em anos sucessivos. Antes disso, o aviador brasileiro Alberto Santos Dumont fez o primeiro vôo na Europa num biplano, independentemente concebido, mas inferior..." Não há necessidade de se comentar o pré-julgamento e o preconceito que é ilustrado por um livro inglês de 1960/73. Assim, é melhor evitar o julgamento de assuntos pós-1900.

Sem nenhuma discussão, a divisão do livro em duas partes (antes e depois de 1750) é plenamente justificável pela Revolução Industrial (e sua mão-deobra), com a invenção e uso da máquina a vapor e a urbanização crescente. O livro absolutamente não relega para segundo plano os ramos de atividade atualmente importantes, apenas é uma ótima introdução para um estudo aprofundado do assunto abordado, o que é facilitado pela extensa bibliografia com entra das classificadas pelo ramo de atividades. As áreas tocadas são:

a) produção de alimentos;

b) produção para necessidades domésticas primitivas;

c) extração e trabalho em metais;

d) construção e edificação;

e) transporte;

f) comunicações, impressão, cartografia;

g) energia;

h) indústria química básica;

i) máquina a vapor e turbinas;

j) usinagem e seus produtos;

k) transporte moderno;

I) comunidades urbanas: drenagem, águas e esgotos;

m) estradas de ferro, túneis;

n) carvão e metais ferrosos e não ferrosos;

o) novos materiais: gás de iluminação, alcatrão da hulha, petróleo e borracha;

p) indústria química moderna: fertilizantes, corantes, explosivos, processos eletroquímicos, ácido sulfúrico, soda, etc;

q) a máquina de costurar e produtos têxteis;

r) vidro e cerâmica;

s) máquina a combustão inter na;

t) telegrafia e telefonia, luz elétrica, o motor elétrico e a geração da energia elétrica;

u) fotografia e cinema, jornal moderno, imprensa;

v) processamento e preservação de alimentos.

O que este livro faculta ao administrador que o consulta ou ao estudioso que o lê? Inicialmente aspectos inéditos da concorrência industrial de séculos passados, com segredos industriais, perdas de monopólio e luta para reter - nem sempre legal ou humanamente - a mão-de-obra especializada. O hábito de cortar os tendões dos escravos ferreiros é oriundo da Grécia antiga, mas os métodos posteriores nada deixaram a desejar quanto à eficácia. Observe-se, por exemplo, o paralelo da situação européia e da brasileira, de 1650 e 1955, respectivamente: "numa época de crescimento populacional, foi utilizada produção de ferro, aumentada na Guerra dos 30 anos, em implementos agrícolas e apetrechos domésticos. A escassez de madeira para carvão vegetal fez a indústria transportar-se de um local para outro, e de país para país, cabendo à Suécia a liderança nessa mobilização no século XVIII. Os preços subiam ininterruptamente. Na Inglaterra foi realizada pesquisa sobre a viabilidade de se substituir o carvão vegetal pelo carvão de pedra (p. 143 e segs.)." Na p. 147 é feita uma análise de armamentos em poucas linhas, e sua importância tecnológica é visível nos resultados das batalhas dos países envolvidos.

Na p. 527 encontramos a luta pelas patentes de vulcanização da borracha, entre a Goodyear e seus sucessores. Em poucas linhas é explicada a luta da Inglaterra para conseguir a borracha da Hévea do Amazonas, com prejuízo para o Brasil, mas impelida pelas necessidades de técnica de obtenção em massa.

As tabelas históricas - por sinal apresentadas com bastante clareza - são muito importantes; fatos históricos são estudados em justaposição com fatos tecnológicos em colunas referentes a diversas áreas; assim, por exemplo, de 1450 a 1750:

a) relacionamento do mundo com a Europa;

b) Itália, Espanha e Portugal;

c) Europa Central e do Norte;

d) Países Baixos;

e) França;

f) Inglaterra;

ou.de 1750 em diante, Inglaterra, Continente e América,

O livro portanto deve ser lido por quem estuda o projeto de produtos e a história da civilização, o desenvolvimento do direito internacional da proteção à invenção e a possibilidade de uma subida de nível de vida. Além disso, o livro diverte e instrui ao mesmo tempo. As ilustrações, pequenas mas claras, explicam bem e são necessárias. A tecnologia é explicada com clareza. Uma grande pequena obra.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Maio 2015
  • Data do Fascículo
    Dez 1973
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