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Logística empresarial: uma introdução à administração de transportes

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

Kurt E. Weil

Logística empresarial: uma introdução à administração de transportes

Por Reginald Uelze. São Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1974. Brochura-Bibliografia. Legislação sobre transportes, 4 anexos, 293 p. Inclui o livro Jogo de logística empresarial, de Ruppenthal, Karl, Schoeps, Wolfgang e Uelze, Reginald.

O Prof. Reginald Uelze ministra, há anos, seminários de transportes e de logística, na Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas. É uma conhecida e reconhecida autoridade no assunto. Parkinson, em um dos seus livros, mencionou o fato de que o consultor tem a função da abelha, de levar o pólen de idéias novas de empresa para empresa; ora, no caso do colega de Uelze, o pólen também veio beneficiar um sem número de alunos e participantes de seminários e cursos de logística. A experiência na prática transparece das páginas do livro de logística. Não há senões, mas para este resenhista há falta de uma extensão maior de alguns assuntos - por exemplo, a "miopia em marketing", de Theodore Leavitt, na menção da fábrica Baldwin de locomotivas a vapor (p. 60). Tais casos são tão abundantes na política das empresas envolvidas em transportes, que bem poderiam ter merecido não uma página, mas um capítulo. As falências das estradas de ferro nos Estados Unidos, o problema dos transatlânticos e superpetroleiros (tudo isso tornaria a leitura fascinante), infelizmente foram postos de lado. Um melhor desenvolvimento dos gráficos das p. 70 e 76 e um anexo sobre o aproveitamento analítico dessas curvas, por meio de processos matemáticos ou de cálculo por processamento de dados, com uma relação eventual de programas disponíveis no mundo e no Brasil, também seria interessante. É um excelente livro que, na realidade, contém dois, pois inclui um segundo sobre as instruções para o jogo de logística, apresentado anteriormente pelo Prof. Uelze em vários cursos, em diversas escolas.

O livro de logística empresarial de Ruppenthal, Schoeps e Uelze contém algo mais de 60 páginas, incluindo também o caso das lojas Mesbla S.A. e o curto caso do Recreio dos Bandeirantes Drive-in. Indubitavelmente, trata-se de uma introdução funcional e perfeita - aliás, verifica-se que a facilidade de absorção do método permitiria impedir erros grosseiros por parte de participantes do jogo. Não cabe aqui portanto criticar o livro de instruções, cuja eficácia o resenhista já comprovou, assistindo a aulas e cursos do Prof. Uelze.

A parte introdutória do livro tem os seguintes capítulos:

1. Logística, uma visão do futuro

2. A evolução dos transportes, características econômicas

3. Algumas das características tecnológicas do transporte

4. Desenvolvimento econômico e a logística

5. A função logística nas organizações

6. Decisões logísticas

7. Um caso de planejamento e controle nas empresas fornecedoras de serviços de transporte

8. A simulação em transportes e os jogos empresariais

9. Jogo

10. Exercícios

Anexos

A apresentação do livro é, sem dúvida, de um excelente livro-texto para o ensino em grau superior e pós-graduação de transportes. A não-extensão do livro em áreas que este resenhista gostaria de ver tratadas num livro de logística, é problema do autor e do editor, das limitações impostas pelo curso e pela concepção da obra. Assim, o caso que começa na p. 77 e se estende até a p. 116, poderia dar origem a capítulos teóricos sobre: Manutenção e disponibilidade versus custo dos meios de transporte.

Distribuição de equipamentos, tripulações e turmas de manutenção em transportes rodoviário, ferroviário e aeroviário. Escalação de turnos de transportes rodoviário, ferroviário e aeroviário.

O problema dos custos portuários, tarifas, tarifação e fretes no Brasil.

O autor usa a definição de logística como sendo a parte funcional que possibilita o movimento físico de bens, partindo das fontes geradoras de matéria-prima até às fábricas, das fábricas aos armazéns e dos armazéns até aos clientes (produção ao consumo), com eficiência e otimização dos resultados operacionais (p. 55). Como nem essa definição e nem as outras são universalmente aceitas, deve ser difícil encontrar algo melhor e menos complexo para ser entendido. Especialmente interessante é o quadro da classificação das técnicas e ferramentas utilizadas para a tomada de decisões nas organizações. Infelizmente o autor não desenvolveu algumas das técnicas mais raras, não tratadas em português, como por exemplo:

3.3.2 Redução exponencial, ou seja, nivelamento exponencial, para a previsão do consumo do serviço "transporte".

3.3.4 Modelos econométricos - Nesse caso a aplicação de uma matriz de insumo-produção de Leontieff teria dado uma nova dimensão ao planejamento de transportes. Realmente é possível subdividir a área de serviços da matriz em transportes - e este setor pode, por sua parte, ser subdividido em: setor de transportes urbanos; setor de transportes marítimo-fluviais, setor de transportes rodoviários, setor aeroviário e setor ferroviário.

O eventual setor de transporte para a exportação, que só dificilmente pode entrar, pois se trata muitas vezes de empresas estrangeiras, poderia ser colocado como "presumível". O resenhista gostaria muito de ver um quadro de previsão de utilização de transporte ferroviário e a previsão de quantos vagões serão necessários, diremos, em 1980, e quanto aço e ferro fundido será necessário para a sua produção, etc, excetuando-se sempre as importações. A previsão toma novas dimensões pelo uso da análise de insumo-produção (input-output).

Finalmente, a teoria de filas deveria ter sido tratada por meio de um ou mais exemplos dedicados ao transporte de cargas e de matéria-prima, e não só mencionado indiretamente como uma nova técnica quantitativa (item 5). Filas fazem a delícia do matemático de modelos e também do usuário de transportes com diversas variáveis, por exemplo: trânsito urbano, número de entregas, dia, manutenção e disponibilidade de caminhões. Mas nota-se que o autor deixou de fora itens e procedimentos explicados em outros livros, tais como os de engenharia de processos, pesquisa operacional e redes de planejamento, CPM, PERT e PERT-custo. A parte de engenharia econômica foi deixada de lado no livro, pois embora investimentos e suas análises façam parte da logística, encontram-se facilmente em outras publicações.

São especialmente louváveis e interessantes as tabelas sobre custo de transporte e capacidade por unidades de combustível, por tonelada de peso morto, ou por homem. Dessa fonte, muitos problemas serão resolvidos antes mesmo de aparecer na empresa. O desenvolvimento da política de transportes brasileiro está no anexo, que é especialmente útil. Finalmente, um imenso voto de louvor pela excelente maneira como estão classificadas a bibliografia e a legislação. Por outro lado, a editora deu uma magnífica apresentação gráfica ao livro.

Recomenda-se portanto aos cursos de administração de empresas, de engenharia de produção, de mercadologia e de engenharia de transportes. O livro deve ser usado em conjunto com a realização do jogo de empresas (Kauffmann) ou de logística (Ruppenthal, Schoeps e Uelze) e serve tanto para cursos de graduação como de pós-graduação. Não se exige, para o bom aproveitamento, nenhum treino matemático específico; no entanto, num curso pós-graduado, o estudo de eventuais casos adicionais, tornaria necessário o emprego da engenharia econômica, da pesquisa operacional e de contabilidade de custos adiantada.

Resumindo: um ótimo livro para começar o estudo da logística da revolução mercadológica, nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Ago 2013
  • Data do Fascículo
    Jun 1975
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