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Flexibilidade total, homem x máquina

RESENHAS

Kurt Ernst Weil

Professor Titular do Departamento de Administração da Produção e de Operações Industriais da EAESP/FGV

FLEXIBILIDADE TOTAL, HOMEM x MÁQUINA

MOURA, REINALDO A., São Pauto, IMAM, 1987, 141 págs.

Trata-se de um livro que, parcialmente, ainda denuncia sua origem: uma pesquisa secundária feita no curso de Pós-Graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP), Isso não desmerece o conteúdo, mas a forma e o estilo sofreram algo com as limitações impostas ao tempo dedicado â obra. Principalmente para quem tem o prazer de conhecer o autor como brilhante pesquisador e consultor, faz falta a riqueza de experiências próprias dele.

Há falha no seqüenciamento. Por exemplo, "flexibilidade" só é definida na pág. 28, após muita discussão sobre tipos de flexibilidade. E a definição - "a capacidade para tomar novas ações para encontrar novas circunstâncias" - deveria incluir o que é faiado uma linha abaixo: "... para responder a novas circunstâncias." Pequenos pontos como este cansam o leitor atento. Para a satisfação do mesmo, temos observações sobre o tempo de inovação, que decresce constantemente. Só que "tempo de inovação" é o intervalo entre pesquisa pura (desinteressada) e o produto útil.

Após muitos anos de observação de flexibilidade, o resenhista concorda com as divisões dadas pelo autor:

- Flexibilidade de homens (quanto à definição de cargos, falta o exemplo da Toyota, comparada à G.M.: a primeira, com duas a seis "descrições de cargos" de operários; a segunda, com 50 a 100).

- Flexibilidade de máquinas - A troca de estampas ou de ferramentas em minutos e suas frações.

- Flexibilidade de carga - Para grande ou pequena quantidade, conforme o número de homens na linha.

Que uma divisão dessas leva o autor à teoria e prática de células de trabalho é evidente, como também ao J.I.T. e ao Kanban.

Como, infelizmente, a pesquisa usou fontes secundárias, salienta-se a divisão de Zelenovic, que é a base, por assim dizer, do livro presente: a divisão em fluxos discretos e contínuos da produção e "layout" de grupos de peças.

O resenhista lamenta a ausência de experiência japonesa do autor, só mencionada quase no fim do livro (págs. 125/27/28) e, principalmente, a falta de dados sobre a redução de "descrições de cargos" ("Job Descriptions") nos EUA, no Japão e no Brasil e a posição dos sindicatos operários. Para exemplificar, no Japão, há operários de linha que fazem tudo, desde pintura até usinagem, enquanto que, nos EUA e no Brasil, há "pintor", "fresador", "torneiro", etc.

A importância disso na flexibilidade não pode ser negada.

Fora disso, temos os problemas de intensidade de emprego de capital para conseguir flexibilidade, chegando o autor a afirmar que a Toyota (Japão) tem ponto de equilíbrio de 30%, o que significa quase ausência de custos fixos. Tive a idéia de quantificar a afirmação do autor, partindo da fórmula:

Pequ. =

onde

Pequ. = Ponto equilíbrio em unidades

F = Custos Fixos totais em $

b - a = Margem unitária de contribuição em $

Então, dividindo-se Pequ. por PCAP = Produção no nível da capacidade em unidades de venda, temos:

Como o autor afirma que o Pequ. da Toyota é 30% da capacidade, temos:

0,30 =

donde

0,30 (b-a) =

o que significa que 30% da margem de contribuição unitária correspondem ao custo fixo por unidade na capacidade.

Tomando (por cima) um automóvel que tem o preço, sem imposto, de Cz$ 800,000,00, e a usual participação de custo variável de 57% de material comprado e 23% de mão-de-obra, teríamos 0,2 x 800.000 = $ 160.000,00 de margem de contribuição e corresponde a somente 6% (0,3 x 0,2) de custos fixos. Uma comparação, feita pelo resenhista, com dados alemães, chegou a resultados similarmente baixos para os custos fixos (40% de mão-de-obra, 50% de material comprado e 5% de custos fixos).

Nota-se aqui um ponto sobre flexibilidade que o autor pretende desenvolver futuramente, pois ensina-se que flexibilidade de máquinas e homens sai cara em custos fixos (investimentos).

O livro trata dos seguintes assuntos, conforme seu sumário (índice):

• Flexibilidade

• SFM - Sistemas Flexíveis de Manufatura

• FSE - Fabricação Sem Estoques

• Comparação no SFM vs FSB

Para quem tenha conhecimentos elementares de procedimentos japoneses, o livro começa a se tornar valioso a partir do conceito de flexibilidade na preparação de máquinas (pág. 107). Em seguida, a partir da linha de produção em "U", das discussões sobre "layout" (pág. 113) e célula (pág. 115), chega-se à conceituação da produção flexível (pág. 120) e a sua distinção da automação (pág. 119). Nota-se que o autor está usando os seus profundos conhecimentos mais nesses capítulos finais - aliás, ele assina alguns gráficos com "autor".

Para todos, e. repito, todos os envolvidos em processos produtivos, o livro tem alto valor, pois mostra procedimentos modernos, usados pelos atuais líderes de processos de produtividade - os japoneses. Os defeitos enumerados não pesam quando o livro é usado como introdução ao estudo da engenharia da fábrica, O livro, assim, deve ser usado em cursos de administração da produção e manufatura, em cursos de graduação e pós-graduação de administração, e como introdução em cursos de engenharia de produção. Não deve ser leitura única, pois exige conhecimentos prévios de engenharia industrial. Em treinamento de executivos, o livro pode ser considerado altamente valioso, combinado, evidentemente, com filmes e transparências.

Como sempre, faz falta um índice alfabético remissivo, que dá muito trabalho se feito manualmente, mas que, com um computador, leva pouco tempo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Set 1988
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